O livro: Milgram, S. Obedience To Authority. London: Pinter & Martin Ltd, 2005.
Indicações de como resistir melhor ao poder que as diferentes autoridades do nosso dia-a-dia exercem sobre nós (entre parêntesis as páginas de onde me inspirei) • • • • • • •
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Reduzir ou afastar os contactos pessoais com a autoridade. (63) Procurar encontrar autoridades que se contradigam o mais possível. (109-110) Obter o apoio do ou de um grupo. (119-122) Procurar conseguir o máximo de insucessos da autoridade em impôr a submissão; cada um desses insucessos enfraquece o poder a que ela se arroga e que lhe concedemos. (122) Tentar sempre diminuir a distância entre nós, que obedecemos a ordens, e aqueles que vão sofrer as consequências do que fizermos. (123) Vermo-nos sempre como responsáveis últimos pelos nossos actos, mesmo quando eles são realizados às ordens de outrém (incluindo aqueles que realizemos em desacordo com o seu conteúdo). (135) Questionar a legitimidade da autoridade em todos os seus aspectos; incluindo questionar se o lugar que ela ocupa na estrutura social é merecido ou não (por exemplo, perguntar: “Se esta pessoa não tivesse nenhuma autoridade ou poder, eu obedecer-lhe-ia?”). (140) Não esperar por uma autoridade qualquer para nos dizer o que devemos ou não fazer. (140-141) Não ficarmos impressionados com os aspectos exteriores e artificiais da autoridade, embora devamos tomar consciência deles (e rir deles, se for caso disso). (141) Sempre que possível, não sermos levados a, voluntariamente, entrar num sistema de autoridade. Se tivermos de o fazer, estarmos conscientes de que é um truque da autoridade para nos comprometer mais profundamente com a situação e termos assim mais dificuldade em nos desligarmos dela. (142) Procurar descobrir provas da ignorância e da incompetência da autoridade, principalmente quando elas se reflectem em ordens estúpidas. (143 e 212) Procurar erros e incoerências nas justificações ideológicas apresentadas pela autoridade (ou até a ausência de justificação), para não ter a sensação de que pertencemos a um movimento colectivo destinado à prossecução de um fim desejável. (144) Dessintonizar com a, fechar a receptividade à autoridade; e abrirmo-nos para as pessoas que vão sofrer as consequências das nossas acções, tornando-as psicologicamente mais próximas. (145) Questionar sempre todas as definições que a autoridade elabora sobre a situação, sobre o(s) acto(s) ou sobre o sentido das ordens que dá. (147) Assumir a responsabilidade por tudo o que se faz deve ser posto sempre à frente e acima da responsabilidade que possamos ter perante a autoridade. (147-148)
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O processo de obediência desenrola-se numa sequência de acções, em que a anterior inflencia e condiciona as seguintes. Quanto maior for o número de acções que realizarmos, mais difícil é romper com o processo. Por isso, a admissão de uma conduta errada deve sempre ser assumida o mais cedo possível. (150) Estar preparado(a): desobedecer é entrar em ruptura com uma situação social bem definida que, ainda por cima, foi aceite nesses termos por nós (como uma contratualização), pelo menos implicitamente (mas muitas vezes explicitamente). Daí o acto de desobediência ser muito difícil e embaraçoso. (152) Nunca obedecer à autoridade injusta por ter pena dela (ou pelo que lhe possa acontecer se desobedecermos). (152) Quando se considera seriamente desobedecer, surgem níveis muito elevados de tensão e de ansiedade que nos “empurram” em sentido oposto. No entanto, uma vez que se consiga quebrar essa “barreira”, praticamente toda a tensão, ansiedade e medo desaparecem (pelo menos, em alguma situações). (154) Pôr distância entre nós e as pessoas que vão sofrer as consequências do que fizermos (no espaço, no tempo ou através de barreiras físicas) neutraliza o nosso senso moral. Ou seja, com um exemplo extremo: matar uma pessoa com as nossas próprias mãos é muito mais difícil do que matar uns milhares com uma bomba lançada de um avião. Por isso, fazer o contrário: aproximarmo-nos de todas as maneiras daquelas pessoas. (158-159) Com a autoridade é fazer exactamente o contrário: aí é afastar-se. (174) Nunca evitar encarar de frente os resultados das nossas acções. (159) Evitar negar tudo o que for desagradável e que somos nós que estamos a fazer. Pormo-nos no lugar dos que são afectados pelas nossas acções e perguntarmonos honestamente como é que nos sentiríamos no lugar deles. (160) Minimizamos muitas vezes os prejuízos resultantes das nossas acções erradas, a fim de não termos de desafiar a autoridade: nunca fazer isto. (160-161) Não usar “truques” como, por exemplo, não cumprir integralmente a ordens, ou aligeirá-las, só para não ter que desafiar a autoridade. (161) Não cair na auto-ilusão de acusar a vítima de merecer o que lhe está a acontecer. (162) Expressar abertamente opiniões contrárias às da autoridade é bom se for um 1º passo para a desobediência (no caso de a autoridade persistir nas suas ordens injustas). É mau se servir apenas para baixar a tensão e a ansiedade, e podermos continuar a cumprir as ordens de consciência mais descansada. (163) O processo da desobediência desenrola-se segundo as seguintes fases: 1) Dúvida interior. 2) Exteriorização da dúvida (informa-se a autoridade). 3) Dissidência (persuade-se a autoridade a mudar). 4) Ameaça (de não mais obedecer se a situação não for mudada). 5) Desobediência. (164-165) Estar preparado(a): a desobediência é muito difícil porque se sente que se falhou, que se foi pouco sério(a) e de nenhuma confiança, e que não se foi capaz de estar à altura da tarefa. No entanto, a realidade é que assim é que nós declaramos a nossa humanidade e confirmamos, pelos actos, o nosso compromisso com os seus valores mais elevados. (165)
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Lealdade, dever, disciplina: são valores que resultam apenas de necessidades técnicas das organizações, não são imperativos morais. Não temos de ser fiéis a eles.(187) Nunca aceitar nada que contradiga aquilo que a nossa experiência pessoal nos diz, apenas para não pôr em causa a tradição, ou a convenção, ou a autoridade. (189) Quanto mais autoritárias são as pessoas, mais submissas às ordens dos outros se tornam: as experiências confirmam-no. (206) Por melhores pessoas que sejamos (ou que gostemos de pensar que somos, o que para este efeito vem a dar no mesmo), nunca subestimar o poder que têm as situações sociais de nos levarem e de nos condicionarem a obedecer e a actuar de forma contrária àquilo em que acreditamos e defendemos. (todo o livro, mas veja-se 28-32)
Rui Monteiro, Setembro de 2008
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