DOI: 10.5205/reuol.10263-91568-1-RV.1103sup201710
ISSN: 1981-8963
Silva AP da, Pirolo SM.
Percepção do homem acerca do envelhecimento.
ARTIGO ORIGINAL PERCEPÇÃO DO HOMEM ACERCA DO ENVELHECIMENTO PERCEPTION OF MAN ABOUT AGING PERCEPÇÃO DO HOMEM ACERCA DO ENVELHECIMENTO PERCEPCIÓN DEL HOMBRE ACERCA DEL ENVEJECIMIENTO Ana Paula da Silva1, Sueli Moreira Pirolo2 RESUMO Objetivo: compreender a percepção masculina acerca do processo de envelhecimento. Método: estudo descritivo, de campo, com abordagem quantitativa. O cenário de pesquisa foi o complexo hospitalar de uma faculdade de medicina. O tamanho amostral foi constituído por filtro de homogeneização quanto à faixa etária, totalizando 120 homens. Para coleta de dados, utilizou-se um instrumento estruturado. Para análise dos dados, foi utilizada a planilha do Excel 5.0 e programa Epi Info, versão 3.5.3. Domínios referentes à autopercepção receberam tratamento estatístico. Resultados: os homens evidenciam ter consciência do processo de envelhecer. Ademais, apontam comprometimento e responsabilidade no cuidar de si, contudo há uma fragilidade no reconhecimento quanto às limitações decorrentes do processo de envelhecer. Conclusão: identifica-se a necessidade de implantação de estratégias preventivas em relação a doenças e de promoção de saúde, que viabilizem intervenções satisfatórias junto ao público masculino. Além disso, identifica-se a necessidade de mais estudos que abordem esse público e a forma como ele está envelhecendo. Descritores: Percepção; Saúde do Homem; Envelhecimento. ABSTRACT Objective: to understand the masculine perception about the aging process. Method: this is a descriptive, field study, with quantitative approach. The research scenario was the hospital complex of a Medical School. The sample size consisted of a homogenization filter for the age group, totaling 120 men. For data collection, a structured instrument was used for the analysis of the data used in the Excel 5-0 worksheet and Epi-info version 3.5.3, and domains related to self-perception were treated statistically. Results: men are aware of the process of aging. They point out commitment and responsibility in caring for themselves, yet there is a fragility in recognizing the limitations arising from the aging process. Conclusion: the need to implement preventive strategies to the disease and health promotion was identified, enabling interventions satisfactory to the male population. Also, the need for more studies that support these people and the way they are aging was identified. Descriptors: Perception; Man´s Health; Aging. RESUMEN Objetivo: comprender la percepción masculina acerca del proceso de envejecimiento. Método: estudio descriptivo, de campo, con enfoque cuantitativo. El escenario de investigación fue el complejo hospitalario de una Facultad de Medicina. El tamaño de la muestra fue constituido por filtro de homogeneización sobre el grupo de edad, totalizando 120 hombres. Para recolección de datos se utilizó un instrumento estructurado. Para análisis de los datos fue utilizada la planilla de Excel 5-0 y programa Epi-info versión 3.5.3, y dominios referentes a la autopercepción recibieron tratamiento estadístico. Resultados: los hombres mostraron que tenían conciencia del proceso de envejecer. Mostraron comprometimiento y responsabilidad en el cuidar de sí, pero hay una fragilidad en el reconocimiento sobre las limitaciones decurrentes del proceso de envejecer. Conclusión: se identifica la necesidad de implantación de estrategias preventivas a la enfermedad y de promoción de salud, que viabilicen intervenciones satisfactorias junto al público masculino. Además, se identifica la necesidad de más estudios que aporten este público y la forma que está envejeciendo. Descriptores: Percepción; Salud del Hombre; Envejecimiento. 1
Enfermeira Residente em Saúde Coletiva, Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina de Marília/FAMEMA. Marília (SP). Brasil. E-mail:
[email protected]; 2Enfermeira, Professora Doutora, Faculdade de Medicina de Marília/FAMEMA. Marília (SP), Brasil. E-mail:
[email protected]
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INTRODUÇÃO A população idosa brasileira vem apresentando um acelerado crescimento, como pode ser observado pelos dados da transição demográfica e epidemiológica. Atualmente, existem 20.590.599 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, sendo que 9.156.112 milhões delas são do gênero masculino.1 Diante disso, esta investigação aborda o envelhecimento masculino, uma vez que o homem é o mais afetado quando consegue assim atingir a velhice. O envelhecimento ocorre desde as primeiras alterações morfobiológicas e psicossociais da idade adulta, estendendo-se até o declínio total e a morte. A velocidade e a intensidade de progressão do envelhecimento variam entre indivíduos, influenciadas principalmente por constituição genética, estilo de vida e fatores ambientais. É um processo natural do organismo, resultante da relação entre o eu, a mente e a sociedade, não devendo assim ser considerado como uma doença.2 Existem aspectos que interferem na maneira de olhar o envelhecimento e, consequentemente, na maneira como a pessoa vai se constituir nesse meio. Envelhecer de maneira bem-sucedida resulta do equilíbrio entre as limitações e potencialidades do indivíduo, dependendo de fatores como: história de vida e forma como cada um compreende o processo de envelhecimento e a velhice.3 Na literatura nacional, mais facilmente se encontram estudos relacionando à percepção dos idosos com seu próprio envelhecimento e sobre como podem adotar medidas dentro de sua velhice para manterem-se saudáveis.4 Para se adaptar a essa fase de vida, os próprios idosos consideram importantes itens como: saúde física, saúde social, saúde emocional, habilidades cognitivas, espiritualidade, alimentação adequada, prática de exercícios, estabilidade financeira, e consequentemente, manutenção de sua autonomia ao longo da vida.5
A população masculina apresenta uma série de fatores que influenciam no seu processo de envelhecimento, tais como: elevados índices de morbimortalidade, por causas preveníveis e evitáveis; menor expectativa de vida; menor utilização dos serviços de saúde; e comportamentos de risco, como tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas.6 Além disso, não há programas voltados especificamente para o homem adulto, o que contribui para o aumento da vulnerabilidade dessa população não assistida. Assim, o envelhecimento
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saudável é um reflexo de como o homem conduz seu viver. Quanto à utilização dos serviços de saúde, observa-se que os homens procuram com menor frequência. No entanto, quando buscam esses serviços, geralmente relacionam com práticas curativas.7 Eles não gostam de ir ao médico, propiciando que as doenças sejam diagnosticadas mais tardiamente, o que consequentemente reduz a expectativa de vida.8 Além disso, o gênero masculino se considera invulnerável, dificultando a percepção de que suas ações podem influenciar no seu futuro.9 A percepção do envelhecimento consiste em um processo funcional com alterações progressivas que avança ao longo da vida e que contribui para que o indivíduo possa refletir como atingirá essa etapa da vida de forma saudável. Nesse sentido, estudos sinalizam que a percepção do indivíduo sobre o processo de envelhecimento influencia no sucesso nessa etapa da vida. Assim, a autopercepção pode constituir-se em um indicador de uma velhice bem sucedida.11 Diante do exposto, esta investigação objetiva compreender a percepção masculina acerca do processo de envelhecimento.
MÉTODO Estudo de campo, descritivo, de abordagem quantitativa. A natureza desta investigação busca analisar os fatos como se fossem coisas exteriores; expressa a realidade, valoriza a precisão matemática e os modelos 10 estatísticos. O cenário de pesquisa foi o complexo hospitalar da Faculdade de Medicina de Marília (SP), Brasil, segundo maior empregador do município, constituindo-se por 2.300 trabalhadores. O local de trabalho é um cenário potente para ter acesso aos homens, visto que poucos deles frequentam as unidades básicas de saúde. Os sujeitos da pesquisa foram os trabalhadores do sexo masculino que aceitaram participar da pesquisa. O tamanho amostral ocorreu por filtro de homogeneização quanto à faixa etária (20 – 29; 30 – 39; 40-49; 50-59 anos), sendo que cada faixa etária constitui-se por 30 homens, com total de 120 homens, o que correspondeu a 20% dos trabalhadores masculinos dessa instituição. Foi possível assegurar o filtro de homogeneização quanto à idade. Para coleta de dados, utilizou-se um instrumento estruturado, autoaplicável, com questões de identificação e de percepção sobre o envelhecimento. Denominado de
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“Aging Perceptions Questionnaire” (APQ), esse instrumento foi desenvolvido na Irlanda, porém foi traduzido e alterado culturalmente para a língua portuguesa11, sendo aplicado como escala psicométrica. Esse instrumento identificou a autopercepção do envelhecimento a partir de oito domínios, onde sete desses avaliaram a percepção própria do indivíduo do processo de envelhecer, que são: linha do tempo, que se subdivide em cronograma, crônicas e espaço temporal cíclico, consequências positivas, consequências negativas, controle positivo, controle negativo e representações emocionais; o oitavo é o domínio de identidade, que analisa a experiência de alterações relacionadas com a saúde.12 Para análise dos dados, foi utilizada a planilha do Excel 5.0 e o programa Epi Info, versão 3.5.3. Os domínios referentes à autopercepção receberam tratamento estatístico. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Marília para avaliação e apreciação, conforme a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado com o CAAE nº 19363413.4.0000.5413. Os investigados participaram da coleta de dados mediante o esclarecimento a respeito da pesquisa, da garantia do sigilo e da livre opção de participar ou anular sua permissão em qualquer etapa do processo de pesquisa.
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RESULTADOS Quanto ao perfil sociodemográfico, foi possível assegurar o filtro de homogeneização quanto à idade. Em relação à escolaridade dos 120 homens entrevistados, houve um predomínio de homens com ensino médio completo (52,5%), seguido por 40,8% de homens com ensino superior completo. Dos entrevistados, 68,3% eram casados ou se encontravam em uma união estável. Em relação à renda, 45,8% possuíam renda mensal acima de quatro salários mínimos vigentes e apenas 0,8% ganhava um salário mínimo. A análise das experiências e das opiniões dos homens sobre o processo de envelhecimento possibilitou a identificação de aspectos referentes aos domínios da linha do tempo (cronograma, crônicas e espaço temporal); consequências positivas e consequências negativas; representações emocionais, controle positivo e controle negativo, cujos dados foram descritos nas tabelas 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Adotouse a seguinte classificação: DT (discordo totalmente), D (discordo), NC/ND (nem concordo e nem discordo), C (concordo) e CP (concordo plenamente). Por fim, o domínio de identidade, cujos dados foram descritos em tabelas que correlacionam as mudanças físicas ao processo de envelhecimento.
Tabela 1. Autopercepção do envelhecimento em relação à linha do tempo. Marília (SP), Brasil, 2014. Características % DT D NC/ND C CP Domínio - Linha do tempo Tenho consciência de estar envelhecendo o tempo todo. 4,2 10,8 10,8 48,3 25,8 Estou sempre consciente da minha idade. 1,7 5,8 5,8 59,2 27,5 Sempre me classifico como velho/a. 35,0 41,7 13,3 5,8 3,3% Estou sempre consciente do fato de que estou 5,8 7,5 11,7 54,2 20,8 envelhecendo. Sinto minha idade em tudo o que faço. 25,0 35,0 15,8 19,2 3,3 Minha experiência com o envelhecimento é cíclica: às 16,7 40 21,7 19,2 2,5 vezes piora e às vezes melhora. Minha consciência de estar envelhecendo vai e volta em 20,0 43,3 17,5 18,3 0,8 ciclos. Passo por fases em que me sinto velho/a. 24,2 44,2 10,8 17,5 3,3 Minha consciência de estar envelhecendo muda muito de 28,3 50 10,8 10,8 0,0 um dia para outro. Passo por fases em que me vejo como velho. 28,3 44,2 10,0 14,2 3,3
Quanto ao fato da consciência de estar envelhecendo o tempo todo, 48,3% dos homens relataram que concordam com esse apontamento. Em relação a estar consciente da idade em tudo o que realiza 59,2 % dos homens referiram concordar. Dos investigados, 41,7% discordaram do fato de ser classificados como velhos. Enquanto que 54,2% disseram estar conscientes do fato de estar envelhecendo.
Diante da consciência de estar envelhecendo, ir e voltar em ciclos, 43,3% dos entrevistados alegaram discordar que isso ocorra. Em relação a sentir a idade em tudo o que faz, 35% discordaram que isso aconteça. No que diz respeito a passar por fases em que se sente como velho, 44,2% revelaram não estar de acordo. No que se percebe em relação à consciência de estar envelhecendo, mudar
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muito de um dia para outro, 50% dos homens discordaram. Quando questionados sobre o fato de passar por fases em que se veem como velhos, 44,2% discordaram sobre ter pensado isso em
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momentos de sua vida. Mediante a experiência com o envelhecimento ser cíclica, às vezes melhorar ou piorar, 40% relataram discordar desse fato.
Tabela 2. Autopercepção do envelhecimento em relação às consequências positivas e negativas. Marília (SP), Brasil, 2014. Características % DT D NC/ND C CP Domínio - Consequências positivas À medida que envelheço, vou ganhando sabedoria. 1,7 5,0 5,8 54,2 32,5 À medida que envelheço, continuo crescendo como 3,3 0,8 5,0 55,0 35,8 pessoa. À medida que envelheço, aprecio mais as coisas. 3,3 5,8 15,8 45,0 29,2 Domínio - Consequências negativas Envelhecer limita as coisas que posso fazer. 5,0 21,7 16,7 42,5 13,3 Envelhecer me torna menos independente. 7,5 35,8 24,2 25,0 6,7 Envelhecer torna tudo muito mais difícil para mim. 13,3 54,2 19,2 10,8 1,7 À medida que envelheço, posso participar cada vez 14,2 55,8 12,2 15,0 2,5 menos de atividades. À medida que envelheço, já não lido tão bem com os 23,3 55,8 12,5 5,8 1,7 problemas que surgem.
Em se tratando do fato de que envelhecer proporciona sabedoria, 54,2% afirmaram estar de acordo. Considerando que envelhecer faz com que a pessoa continue a crescer como pessoa, 55% dos homens revelaram concordar. Pensando no aspecto de apreciar as coisas à medida que envelhece, 45% disseram concordar. Relativamente ao fato de que envelhecer limita as coisas a serem feitas, 42,5% dos homens afirmaram concordar que isso ocorra.
Diante do fato de que envelhecer lhe torna menos independente, 35,8% discordaram. Para a compreensão de que o envelhecimento pode tornar as coisas mais difíceis, 54,2% dos homens discordaram. Quanto ao fato de que envelhecer está relacionado a uma menor prática de atividades e na percepção de que não lida tão bem com os problemas que surgem, 55,8% dos entrevistados entoaram que discordam, respectivamente.
Tabela 3. Autopercepção do envelhecimento segundo as representações emocionais. Marília (SP), Brasil, 2014. Características % DT D NC/ND C CP Domínio - Representações emocionais Fico deprimido/a quando penso sobre como o envelhecimento pode afetar 26,7 35,8 14,2 15,0 7,5 as coisas que eu consigo fazer. Fico deprimido/a quando penso como o envelhecimento pode afetar 30,0 41,7 10,0 11,7 6,7 minha vida social. Fico deprimido/a quando penso em envelhecer. 32,5 52,5 4,2 9,2 1,7 Eu me preocupo com os efeitos que o envelhecimento pode ter sobre 21,7 38,3 14,2 23,3 2,5 meus relacionamentos com os outros. Fico bravo/a quando penso em envelhecer. 38,3 45,8 8,3 4,2 2,5
Dos entrevistados, 35,8% dos homens demonstraram discordar do fato de ficar deprimidos quando pensam como o envelhecimento pode afetar as coisas que conseguem fazer. Quanto ao resultado acerca de ficar deprimido em pensar como o envelhecimento pode afetar sua vida social, 41,7% discordaram. Ainda, segundo o resultado encontrado, 52,5% dos homens discordaram do fato de ficar deprimidos quanto pensam em envelhecer. Analisando o fato de se preocupar com os efeitos que o envelhecimento exerce sobre seus relacionamentos, 38,3% dos entrevistados referiram que discordam em relação a esse questionamento. Em relação ao fato de ficar bravos quando pensam em envelhecer, 45,8% discordaram. Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(Supl. 3):1388-97, mar., 2017
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Tabela 4. Autopercepção do envelhecimento em relação ao controle positivo e ao negativo. Marília (SP), Brasil, 2014. Características % DT D NC/ND C CP Domínio - Controle positivo A qualidade da minha vida social na velhice depende de mim. A qualidade de meus relacionamentos com os outros na velhice depende de mim. Se eu vou continuar vivendo a vida plenamente, é algo que depende de mim. À medida que vou envelhecendo, há muito que posso fazer para manter minha independência. Domínio - Controle Negativo A diminuição do ritmo de vida com a idade não é algo que eu possa controlar. A minha mobilidade ao envelhecer não depende de mim. Não tenho controle sobre a perda de vitalidade ou de entusiasmo pela vida à medida que vou envelhecendo. Não tenho controle sobre os efeitos que o envelhecimento exerce sobre minha vida social.
4,2
5,8
2,5
53,3
34,2
4,2
5,0
5,0
55,0
30,8
4,2
10,0
8,3
51,7
25,8
1,7
9,2
14,2
54,2
20,8
13,3
35,8
16,7
28,3
5,8
15,0
41,7
16,7
23,3
3,3
17,6
49,6
16,8
14,3
1,7
18,3
53,3
13,3
13,3
1,7
Dos homens, 53,3% sinalizaram que a qualidade da vida social depende de si próprios, 55% concordaram ser responsáveis pela qualidade dos relacionamentos. Quanto ao resultado sobre o fato de que viver uma vida plenamente é algo que depende de si, 51,7% relataram que concordam.
Quando analisado o fato de que a autopercepção para o ritmo de vida não é algo controlável com o avanço da idade, 35,8% dos homens discordaram. Perante a percepção de que mobilidade não depende de si, à medida que envelhece, 41,7% discordaram desse apontamento.
No sentido de que, à medida que envelhece, há muito a ser feito para manter sua independência, 54,2% dos homens concordaram.
Em relação à sua percepção de não ter controle sobre a perda de vitalidade ou de entusiasmo pela vida à medida que envelhece, 49,6% dos homens retrataram discordar.
Quanto ao fato de, ao envelhecer, depender de si para aspectos positivos, 50,8% concordaram.
Para os efeitos que o envelhecimento exerce sobre sua vida social, 53% afirmaram discordar disso.
Tabela 5. Apresenta a vivência de mudanças físicas relacionadas ao envelhecimento. Marília (SP), Brasil, 2014. Mudanças Vivenciou Relaciona com o envelhecimento* % Sim Não Sim Não Problemas com o peso 52,5 47,5 19,2 66,7 Mudanças na visão 42,5 57,5 23,3 51,7 Problemas nas costas ou hérnia de disco 28,3 71,7 13,3 65,8 Ansiedade 21,7 77,5 5,8 70,8 Problemas com o sono 20,8 79,2 7,5 70,8 Câimbras 20,0 80 6,7 69,2 Dor nas articulações 20,0 80,0 10,8 64,2 Redução do ritmo de vida 17,5 82,5 10,8 65,8 Problemas nos pés 14,2 85,8 10,0 62,5 Falta de mobilidade 13,3 85,8 9,2 62,5 Perda de força 10 90 7,5 65,0 Problemas nos ossos ou articulações 10 90 3,3 68,3 Problemas cardíacos 08,4 91,6 3,3 68,3 Perda de equilíbrio 07,5 91,7 6,7 64,2 Problemas de audição 05,0 95,0 6,7 66,7 Problemas respiratórios 05,0 95 3,3 69,2 Depressão 03,3 96,7 3,3 68,3 *Essas questões foram respondidas pelos entrevistados que vivenciaram uma mudança física.
Quanto às mudanças relacionadas à saúde, 52,5% dos entrevistados relataram problemas com o peso; desses, 19,2% relacionaram com o processo de envelhecer. 42,5% dos investigados referiram alteração na visão;
desses, 23,3 % correlacionaram tal alteração com o fato de estar envelhecendo. Em relação ao fato de apresentar problemas nas costas ou hérnia de disco, 28,3% disseram ter vivenciado esse problema, sendo que 13,3% associaram essa alteração ao
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envelhecimento. A ansiedade apareceu em 21,7% dos homens; dentre esses, 5,8% consideraram que esse fator está relacionado ao envelhecimento. Com relação ao sono, 20,8% apresentaram dificuldade, 7,5% exprimiram que isso está relacionado com as mudanças decorrentes da fisiologia do envelhecimento. Quando questionados em relação a câimbras, 20% referiram essa dificuldade, sendo que 6,7% associaram-na ao envelhecimento constante. No que se refere à dor nas articulações, 20% relataram esse sintoma. No entanto, 10,8% relataram que tal sintoma está relacionado com o decorrer do envelhecimento. Analisando a redução do ritmo de vida, 17,5% manifestaram alterações, sendo que, dessa percentagem, 10,8% relacionaram esse fator com o envelhecimento. Quanto à ocorrência de problemas nos pés, 14,2% relataram alterações, sendo que 10% relacionaram isso com alterações vivenciadas decorrentes do envelhecimento constante. Em relação à mobilidade, 13,3% apresentaram alguma dificuldade, onde 9,2% relacionaram-na ao fato de estar envelhecendo. No aspecto da perda de força, 10% relataram essa sintomática, porém 7,5% correlacionaram-na com o fato do envelhecimento. No que respeita aos problemas nos ossos e nas articulações, 10% apresentaram esses problemas, mas apenas 3,3% alegaram que esse fator está relacionado ao envelhecimento. Ponderando os problemas cardíacos, 8,4% negaram quaisquer problemas relacionados; desses, 3,3% relacionaram esse fator com o envelhecimento contínuo. Dos homens, 7,5% apresentaram perda de equilíbrio, sendo que 6,7% relacionaram isso ao envelhecimento contínuo. Analisando os problemas de audição, 5% dos homens apresentaram dificuldades, sendo que 6,7% relacionaram-nos ao envelhecimento, apresentando aqui um viés em relação à porcentagem: os que não apresentam esse problema correspondem a 95,5% dos homens. Quando questionados acerca dos problemas respiratórios, 5% apresentaram essa dificuldade, onde 3,3% desses homens correlacionaram-nos ao envelhecimento. Por fim, em relação à depressão, 3,3% dos homens relataram esse sintoma e correlacionaram-no ao fato do envelhecimento contínuo.
DISCUSSÃO A autopercepção do envelhecimento quanto à subescala linha do tempo permitiu
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compreender que os homens estão conscientes quanto ao envelhecimento e de que esse acontecimento faz parte de um processo contínuo da vida, sendo inevitável passar por esse processo de perdas ao longo do tempo. Quando se pensa numa visão consciente, delimita-se o quanto esse homem se conhece com relação ao sentido de seu viver, sua capacidade adaptativa e de controle, assim como sua organização para que atinja objetivos específicos. Portanto, o olhar consciente com o qual o homem percebe seu processo de envelhecer influencia diretamente na forma como ele vai reagir às perdas naturais desse processo, bem como na sua capacidade de conviver com as alterações advindas ao longo dos anos, que se intensificam na velhice.13 Neste estudo, identificou-se que os homens correlacionam as experiências de vida adquiridas ao envelhecimento, apontando-as como consequências positivas. Esse período é visto como algo que permite que as pessoas convivam de forma harmônica com as limitações impostas pelo decorrer dos anos e se mantenham ativas ate as fases tardias da vida, visto que isso lhes proporciona ganho intelectual e permite seu amadurecimento em relação à existência. Conforme ocorre a aproximação dessa fase, vão sendo criados momentos propícios para atingir novos objetivos, obter melhor satisfação pessoal, maior apreensão de conhecimento e sabedoria, o que, consequentemente, facilitará o alcance de metas estabelecidas, melhor relação interpessoal, novas conquistas, possibilitando que as pessoas idosas sejam motivo de respeito e referência para os mais jovens e seus familiares, como ocorre na cultura oriental.14 Alguns homens sinalizaram um olhar negativo perante as limitações que podem surgir com o avançar da idade, expressam consequências. Essa percepção possivelmente está relacionada à questão de gênero, por se considerarem invulneráveis, viris, fortes e provedores, o que nos permitiria dizer, a partir de tais observações, que ao homem caberia, então, ser sempre forte. Essa constante questão de gênero perpassa, todavia, a conduta e os hábitos produzindo comportamentos que podem resultar em descuido com o próprio corpo e pouco reconhecimento das perdas naturais do envelhecimento. Isso, certamente, reflete em sua capacidade adaptativa, dificultando um melhor enfrentamento e superação desse processo de perdas simultâneas, sejam elas de caráter físico, social ou psicológico.
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Identifica-se, nos estudos, que as maiores adversidades encontradas no envelhecimento estão ligadas à incapacidade funcional (restrição, perda de habilidades ou dificuldades), questões ligadas à dependência e à autonomia, que podem acarretar, em menor ou maior grau, limitações físicas e cognitivas, influenciando diretamente em sua capacidade adaptativa.15 Observa-se que a falta de compreensão dessas implicações por parte dos homens pode resultar em maior sofrimento no que se refere à superação das dificuldades, principalmente quando atingem idades mais avançadas. É possível, todavia, adotar medidas para manter ao máximo a autonomia e a capacidade funcional com o passar do tempo, por meio de um estilo de vida saudável e ativo (praticando esportes, adotando hábitos alimentares adequados, evitando comportamentos de risco, dentre outras medidas), ou seja, fazendo com que essas pessoas adotem ações de promoções de saúde que despertem o sentido de se cuidar e a compreensão de que estão sujeitas a alterações fisiológicas, psicológicas e sociais. Dessa forma, será possível preconizar uma velhice bem sucedida, retardando o aparecimento de sintomas característicos da idade madura, bem como as doenças. Determinados psicanalistas analisam a entrada na velhice como um período marcado por algum acontecimento, alguma perda importante para o sujeito que evidenciaria, sem nenhuma dúvida, a proximidade da finitude. Ressalta-se que, à medida que o envelhecimento é percebido, as pessoas tendem a evidenciar sintomas de tristeza mais frequentes, bem como alterações no afeto e no humor, muitas vezes mostrando sua insatisfação com essa nova etapa de vida que se aproxima a cada dia. Contudo, os homens deste estudo referiram não apresentar sintomas depressivos à medida que estão envelhecendo.16 Os homens pesquisados não perceberam o envelhecimento como uma representação emocional negativa, e esse fato possibilita que sejam adotadas medidas preventivas que consolidem esse olhar positivo. Tais percepções nos fazem refletir acerca das concepções, socialmente construídas, que possam levar a uma maior atenção, focando em orientações nos serviços de saúde para homens, de modo que eles possam atingir a maturidade com maior qualidade de vida e conscientes da realidade das perdas. Nesse sentido, os programas de saúde para esse gênero ainda não são bem estruturados. Além disso, as ações descritas estão centradas
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nos agravos crônicos degenerativos, sem articulação com a prevenção e a promoção de saúde. Dessa forma, é importante que exista uma articulação e um maior incentivo à participação dessa parcela da população nos serviços ofertados na sociedade, a fim de contribuir para um melhor bem-estar ao longo do tempo. A qualidade de vida é outro aspecto que desperta preocupação em relação aos homens, visto que eles identificam que ela depende exclusivamente de si próprios. Devese considerar que há necessidade de um controle positivo para mantê-los ativos socialmente, bem como lhes permitir que consigam manter seus relacionamentos (pela forma de viver sua vida ao longo dos anos) e reconheçam que seu envelhecimento possui aspectos positivos. Segundo a literatura, a qualidade de vida depende da percepção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do contexto de sua cultura e do sistema de valores onde vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. O conceito agrupa, de certa maneira, a saúde física de uma pessoa, seu estado psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação com características proeminentes no ambiente. Portanto, para um envelhecimento bem sucedido, deve haver um equilíbrio, bem como um controle positivo de cada um desses fatores ao longo dos anos.17 Por fim, este estudo possibilitou verificar as mudanças físicas prevalentes nos homens à medida que estão envelhecendo. O ganho de peso foi sinalizado com maior frequência. Segundo a literatura, o ganho ponderal acontece principalmente por volta dos 40 aos 60 anos, com diminuição após os 70 anos, sendo que, nos homens, a massa de gordura aumenta por década em uma proporção de 1,5%.18 Existem alguns fatores que explicam porque isso acontece: com o avanço da idade, ocorrem importantes alterações na composição corporal, favorecendo uma redução da massa magra e o aumento de gordura; além disso, surgem alterações hormonais que diminuem a atividade metabólica. Ainda, a literatura retrata que a homeostase energética é controlada por um sistema neuro-humoral que minimiza o conflito de pequenas flutuações no balanço energético, sendo que a leptina é um componente decisivo nesse controle, secretada em proporção à massa adiposa. A leptina atua nos receptores expressos no hipotálamo para originar a sensação de saciedade e regular o balanço energético.19
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Várias condições são capazes de interferir na ação da leptina. Dentre elas, destacam-se dois fatores: diminuições nas reservas energéticas do organismo e o envelhecimento, que levaria ao aumento da resistência central desse hormônio e propiciaria o ganho de peso. É importante ressaltar que existem outros fatores que também podem contribuir para o aumento do tecido adiposo, tais como a qualidade da alimentação e o estilo de vida (ser sedentário ou não), resultando conjuntamente nas alterações hormonais, em maior ou menor ganho de peso, à medida que a pessoa envelhece. Outra alteração de relevância citada pelos participantes deste estudo foi em relação à visão, que, segundo a literatura, está ligada a um dos primeiros sistemas a sofrer as consequências do processo de envelhecer, o sistema sensorial. Com o avançar da idade, a córnea vai perdendo, progressivamente, a transparência, e o cristalino, uma lente intraocular, que é normalmente transparente na infância, vai amarelecendo. A deterioração da visão ocasiona ainda: presbiopia – capacidade de acomodação “longe-perto” mais lenta e redução da acuidade visual, individualmente, à noite. Essas alterações decorrentes do processo normal podem evoluir para possíveis etiologias como catarata, glaucoma e degeneração macular. Por isso, é importantíssimo que, conforme os anos vão passando, se tenha uma preocupação com qualquer indício de déficit na visão, a qual começa a ter um declínio mais significativo a partir dos 40 anos.20 Os problemas nas costas e a hérnia de disco aparecem logo após essas duas alterações citadas. A perda da massa muscular é um indicativo marcante da perda da mobilidade e da capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo. No ser humano, o sistema neuromuscular alcança sua maturação plena entre 20 e 30 anos. Após esse período, esse sistema passa por um processo de declínio gradual. Além disso, ocorrem alterações na estrutura esquelética. Conforme a pessoa vai envelhecendo, os discos que separam as vértebras passam por varias alterações: ocorre perda de água (que é importante para absorção de choques) e alteração da densidade de minerais ósseos das vértebras, facilitando e propiciando a compressão nos discos intervertebrais, o que reduz o comprimento da coluna vertebral e favorece o aparecimento de problemas na coluna e hérnias de disco.18 Compreender que, ao longo dos anos, ocorrem mudanças e que elas fazem parte do processo de viver é importante para que o
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homem busque e adote medidas que possam contribuir no retardamento ou minimização das consequências do processo de envelhecer, bem como para que possa ter um envelhecimento da forma mais saudável possível. Pudemos perceber que os homens entendem que as mudanças ocorrem. No entanto, poucos relacionam o fato com o avançar da idade, e isso reforça a necessidade de haver um maior enfoque nas questões de promoções de saúde como forma de orientação, a fim de explicitar que tais alterações estão sim relacionadas com todos esses aspectos que envolvem o envelhecimento humano.
CONCLUSÃO A importância desta investigação consistiu em compreender a percepção masculina, gênero marcado por preconceitos e estereótipos relacionados à sua saúde, ao longo dos anos, acerca da senescência, tendo em vista que esse gênero é pouco assistido pelo setor saúde e que há necessidade de adotar medidas mais ativas de prevenção e promoção de saúde, as quais despertem nos homens um maior cuidado consigo e também os aproximem dos serviços disponíveis na rede de saúde, visto que eles são os que menos utilizam esses serviços. O método utilizado foi adequado por assegurar o êxito do objetivo, todos os homens convidados aceitaram participar da pesquisa. O questionário aplicado foi de fácil compreensão e demandou pouco tempo, não comprometendo o serviço. Quanto ao filtro de homogeneização utilizado, ele permitiu observar que não houve diferenças significativas entre as faixas etárias e os domínios. Diante disso, utilizamos o cruzamento das respostas correlacionadas à faixa etária. Contudo, foi percebido um viés no domínio de identificação em relação à alteração física de audição, pois não houve uma concordância na percentagem encontrada quando correlacionada ao envelhecimento, o que pode ser justificado por uma falta de atenção ou erro dos entrevistados no preenchimento do questionário. Ainda, foi possível perceber que os homens sinalizam ter consciência do processo de envelhecer, bem como que esse processo oferece ganhos intelectuais mediante as experiências adquiridas à medida que perpassa pelas fases de vida. Os investigados pouco ainda evidenciam sintomas depressivos. Ademais, apontam comprometimento e responsabilidade no cuidar de si, contudo há uma fragilidade no reconhecimento quanto às
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limitações decorrentes envelhecer.
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from:http://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/arti cle/view/9520
Pelos dados obtidos, fica claro que é importante um maior incentivo às práticas educativas e de inserção desses homens nas questões ligadas à sua própria saúde, principalmente nos aspectos que envolvem as limitações que podem surgir com o processo de envelhecer. Isso pode ocorrer através da idealização efetiva de estratégias ligadas à prevenção de doenças e à promoção de saúde que, se forem trabalhadas ao longo dos anos, farão com que esse gênero aceite mais facilmente as limitações naturais do processo de envelhecer, encarando a velhice de uma forma mais positiva, passando por esse processo mais facilmente e com maior qualidade de vida. No entanto, seria interessante a realização de novas pesquisas com o intuito de aprofundar aspectos alçados nessa temática, que ainda carecem de estudos na literatura nacional.
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Submissão: 14/08/2015 Aceito: 14/08/2015 Publicado: 15/03/2017 Correspondência Ana Paula da Silva Rua Monte Carmelo, 800 Bairro Fragata CEP: 17519-030 Marília (SP), Brasil
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