Histórias De Brincar

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Uma mão cheia de histórias O mágico Giró Era uma vez um pobre mágico que se chamava Giró. Parece um contra-senso: nas histórias não se ajustam bem as palavras “mágico” e “pobre”, mas aquele, apesar de ser um autêntico mágico, era de facto pobre, porque havia muito tempo que não tinha clientes. - Será possível – desesperava ele – que já não haja ninguém que precise de mim? Em tempos, tinha tantos clientes que não conseguia atender todos. Uns vinham por uma magia, outros por outra, e eu, não é por me gabar, mas entendo bem do assunto… Vou dar uma volta pelo mundo, para ver o que se passou. Se apareceu um mágico melhor do que eu, quero conhecê-lo. Dito isto, o mágico empacotou as suas coisas de mais valor – a varinha mágica, o livro dos encantamentos, dois ou três pós milagrosos – e meteu-se a caminho. Andando, andando, ao cair da noite, chegou diante de uma casinha e bateu à porta. - Quem é? - Um amigo, minha senhora, um amigo. - Ah, muito bem, entre. Vêm tão poucos amigos ver-me. Sente-se. Quer alguma coisa? - Eu não, minha senhora, não preciso de nada; talvez seja a senhora quem precise de mim. Sabe, eu sou um mágico e chamo-me Giró. - Um mágico? Que maravilha! - Um mágico, sim. Vê esta varinha? Não parece, mas é uma varinha mágica: se disser duas palavrinhas, que só eu conheço, descerá uma estrela para iluminar a sua casa… Neste momento, a senhora soltou um gritinho. - Ui, a propósito de luz, vou acendê-la. Estava aqui sozinha com os meus pensamentos e nem me tinha dado conta de que anoitecera. Perdoe-me, já está. Que dizia a respeito de luz? Mas o mágico estava demasiado estupefacto para poder continuar a conversa. Fitava a lâmpada, boquiaberto, como se a quisesse engolir. - Mas… minha senhora, como é que fez? - Como fiz? Carreguei no interruptor e a lâmpada acendeu-se. É uma grande coisa a electricidade. O mágico Giró registou na sua mente aquela palavra nova, “electricidade”, pensando que devia ser a mágica que lhe andava a fazer concorrência. Depois ganhou coragem e continuou: - Pois, minha senhora, estava eu a dizer-lhe que sou um mágico e que sei fazer uma infinidade de magias. Por exemplo, metendo um pouco deste

pozinho num copo, posso fazer com que ouça a voz de uma pessoa que esteja muito longe… - Ui – gritou de novo a senhora - fez-me lembrar que tenho de telefonar ao canalizador. Dá-me licença por um instante, não é verdade? Cá está o número. É o canalizador? Ainda bem que o encontro. Pode passar amanhã de manhã por minha casa para me arranjar a máquina de lavar? Obrigada, não se esqueça. Obrigada, boa noite. Já está. O mágico Giró teve de engolir em seco duas ou três vezes antes de recuperar a palavra. - Minha senhora, com quem estava a falar? - Com o canalizador. Não ouviu? É uma grande comodidade o telefone… O mágico também registou no seu cérebro aquela palavra: “Outro mágico de quem nunca tinha ouvido falar. Isto é que está uma concorrência…” Mas logo prosseguiu: - Escute, minha senhora, se precisa de ver alguma pessoa, que se encontra longe, como se ela estivesse aqui nesta sala, não esteja com cerimónias: trago outros pós mágicos mediante os quais… - Céus! – guinchou a senhora, interrompendo-o. – Ando mesmo distraída. Tinha-me esquecido de acender o televisor para ver o concurso de esqui. Sabe que o meu filho é campeão em descida? Vou ligá-lo já, talvez ainda não seja tarde… Pois não é, olhe que sorte. É aquele ali, é aquele o meu filho, o que está a receber todos aqueles apertos de mão. Já vi que voltou a ganhar. Não é bonito? E pensar que quase ia perdendo a transmissão. Veja, como me lembrou. Sabe que é verdadeiramente um mágico? - Sim, minha senhora, já lhe tinha dito mágico Giró. - Ah! – exclamou a senhora sem o ouvir - que grande coisa é a televisão. O pobre mágico pediu que lhe repetisse a palavra duas vezes para ter a certeza de que o seu cérebro a registava sem erros. Entretanto reflectia: “Outra mágica concorrente. Começo agora a compreender a razão por que o trabalho é tão pouco. Com todos estes mágicos em circulação…” Depois, pacientemente, voltou a oferecer os seus serviços: - Escute então, minha senhora, como lhe ia dizendo, sou um grande, um famosíssimo mágico. Entrei para ver se podia ser-lhe útil nalguma coisa. Veja, deite uma mirada, este é o livro dos encantamentos e dos esconjuros, esta é a varinha mágica… in “Histórias para brincar” de Gianni Rodari

Uma mão cheia de histórias Roteiro de trabalho

Leitura Lê a história que te distribuímos. Elaboração do final da história Discute, com os teus colegas de grupo, a conclusão adequada e redijam-na. O vosso texto deverá ter entre cinco a dez linhas. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ___________________________________________ Nome dos elementos do grupo: _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________ _______________________________

Ano e turma ____________

Uma mão cheia de histórias O mágico Giró

Primeiro final

Não é preciso dizer que o mágico Giró não conseguiu fazer negócio algum naquele dia. O mundo tinha mudado muito desde os tempos em que o percorria regularmente, como caixeiro-viajante especializado em magia. Depois da lâmpada, do telefone e do televisor, o pobre mágico descobriu cem maravilhas mais que noutros tempos teriam dado trabalho a mil mágicos e, agora, existiam em casa de gente comum, que as realizava carregando num botão. O mágico decidiu informar-se melhor sobre as coisas do mundo, e para tal comprou um monte de jornais, descobrindo assim que a concorrência não chegara ainda a muitas regiões do planeta. Havia ainda lugares sem luz eléctrica , sem telefone, sem comodidades, habitados por gente pobre que não tinha dinheiro para comprar as magias modernas. “Magnífico”, pensou o mágico, esfregando as mãos, donde logo se soltaram uma infinidade de faíscas. “Irei a esses lugares, ali ainda tenho muito que fazer, ali ainda deve haver quem sinta respeito pelos bons velhos mágicos de outros tempos.”

Segundo final

O mágico, ao ouvir a velha senhora e ao observar a sua casa e as máquinas que ela possuía, compreendeu que no mundo moderno já não havia lugar para os antigos encantamentos. “Os homens fizeram-se engenhosos”, dizia para si, “e inventaram todo o género de ardis em que nós, mágicos, nem sequer tínhamos pensado. Caro Giró, tens de te adaptar, precisas de te actualizar, como agora se chama. Dito de outra maneira: ou mudas de profissão ou vais ter uma velhice difícil.” Como não era tolo, o mágico Giró traçou o seu plano em dois ou três dias de exploração e de reflexão. Alugou um grande estabelecimento, pôs-se a vender aparelhos electrodomésticos, mesmo a prestações, e em pouco tempo transformou-se num rico comerciante. Comprou um carro, uma moradiazinha e um barco para andar à vela no lago Maggiore. Aos domingos ia passear para o lago e se não havia vento, não se importava: enfunava a vela por meio de uma pequena magia e, em poucos minutos, ia de Stresa a Canovio. Nunca instalou motor para poupar o dinheiro da gasolina.

Terceiro final

Que lição a daquele dia para o mágico Giró! Se fosse um tolo, teria desanimado, mas como não era compreendeu que as maravilhas descobertas na casa daquela senhora não eram obras de magia, antes descobertas científicas. E como tinha também muita imaginação, disse em voz alta: - Olha as coisas que os homens inventaram sem a varinha mágica, só com o cérebro e o trabalho das suas mãos. Quantas se poderão inventar ainda? Vou apresentar a minha demissão como mágico, converter-me num homem vulgar e estudar para descobrir algo de novo. Para apresentar a demissão de mágico nem sequer foi preciso escrever uma carta à sociedade dos mágicos, bastou atirar para a primeira valeta da estrada o saco com as suas ferramentas encantadas, agora inúteis. Depois encaminhou-se para a sua nova vida mais leve e contente.

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