Epístola De Maqsud

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A Epístola de Maqsud Uma Introdução às Escrituras de Bahá’u’lláh

1

Conhecem esta frase? “A Terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos” É uma das mais conhecidas citações de Bahá’úlláh E é também um dos lemas da Fé Bahá’í. Provavelmente todos os Bahá’ís conhecem esta frase.

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E estas frases? • “Sois os frutos de uma só árvore e as folhas de um mesmo ramo.” • “Se algum rei recorrer a armas contra outro, todos unidos, deverão levantar-se e impedi-lo.” • “O que passar além dos limites da moderação deixará de exercer uma influência benéfica.” • “Os estudos académicos que começam com palavras e terminam com palavras nunca tiveram e jamais terão valor algum.”

Estas frases são conhecidas para quem conhece um pouco da religião Bahá’í. Descrevem alguns dos ensinamentos estabelecidos por Bahá’u’lláh. Têm uma fonte comum: a Epístola a Maqsud. 3

Um primeiro contacto O conteúdo da Epístola de Maqsud pode ser visto como uma boa apresentação dos princípios e ensinamentos da Fé Bahá’í. A sua estrutura é adequada para um primeiro contacto com as Escrituras Bahá’ís. Antes de iniciarmos uma análise desta Epístola temos de ter presente o seguinte: Um texto sagrado possui características muito próprias. Temos de nos familiarizar com o estilo, conhecer a terminologia, e ter presente o propósito do autor, se pretendemos compreender o sentido do texto. Se não tivermos presentes essas características, corremos um sério de risco de não perceber o texto. 4

Algumas Dificuldades... As Escrituras reveladas por Bahá’u’lláh podem apresentar diversas dificuldades a um leitor. Exemplos : CONTEXTUALIZAÇÃO  Que circunstâncias rodearam a revelação do texto? Quando e onde foi revelado? Porque foi revelado? Trata-se de respostas a algum crente? (se sim, então quais as perguntas e motivações do crente?) ASSUNTOS  Podem existir vários temas principais e diversos temas secundários, referidos por vezes numa pequena frase ou metáfora, Estes últimos podem passar despercebidos. ESTILO  Sobreposição de temas e relacionamento entre estes. No meio do texto podemos encontrar invocações e orações. 5

Contextualização

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Akká, 1880

A Epístola de Maqsud

Esta epístola foi revelada em 'Akká, em 20 de Janeiro de 1882, durante o quarto exílio de Bahá'u'lláh. Alguns excertos desta epístola foram publicados ao longo do século XX. Em 1978 foi disponibilizada a sua tradução integral, primeiramente em inglês, e posteriormente noutras línguas, num volume intitulado "Epístolas de Bahá'u'lláh reveladas após o Kitab-i-Aqdas". Trata-se de um conjunto de epístolas reveladas por Bahá'u'lláh durante os últimos anos da Sua vida; nelas se esclarecem e reafirmam alguns ensinamentos anteriormente estabelecidos. 7

O destinatário foi um crente chamado Mirzá Maqsúd que vivia na Síria. Pouco se sabe sobre ele. A própria Epístola de Maqsúd acaba por ser praticamente a única fonte de informação sobre este crente. Assim, sabemos que Maqsúd vivia em Damasco e tinha escrito pelo menos duas vezes a Bahá'u'lláh. Também sabemos que ele se dedicava à poesia e que alguns dos seus poemas tinham sido recitados na presença de Bahá'u'lláh. Nesses poemas podia-se perceber o quanto ele desejava visitá-Lo pessoalmente.

Damasco, 1877

Quem foi Maqsúd? (1)

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Quem foi Maqsúd? (2) Bahá'u'lláh devia ter muita estima por Maqsúd pois afirma-lhe que Se lembrará dele e declara que Deus também se lembrará dele. Bahá'u'lláh acrescenta também que o nome de Maqsúd é muitas vezes mencionado na Sua presença. Quando a epístola foi revelada, Maqsúd preparava-se para empreender uma viagem a Mossul (Iraque) com o objectivo de divulgar a Fé Bahá’í. Bahá'u'lláh faz-lhe algumas recomendações sobre essa viagem, aconselhando-o a usar tacto e sabedoria. Bahá'u'lláh apresenta ainda alguns conselhos de ordem espiritual e material. Assim, diz-lhe que se ele ficar feliz com tudo o que lhe suceder isso será digno de louvor. Também o aconselha a arranjar uma profissão. Já no final da Epístola, Bahá'u'lláh revela também uma oração para Maqsúd. 9

Enquadramento histórico Nos anos anteriores à revelação da Epístola de Maqsúd tinham ocorrido dois eventos que lançaram muita perturbação no mundo islâmico em que se movimentava a recém-nascida comunidade Bahá’í:

• A guerra Russo-Otomana (1877-1878). • Crise do Egipto e bombardeamento de Alexandria (1882)

10

• Independência da Roménia, Servia e Montenegro, Bulgária. • Bessarábia e Kars (Rússia) • Chipre (Reino-Unido), • Bósnia-Herzgovina (Império AustroHúngaro)

Capitulação dos Turcos em Nikopol (1877)

A guerra Russo-Otomana (18771878) tem as suas raízes nos diversos massacres de cristãos em províncias Otomanas. Inicia-se com o apoio Russo aos movimentos nacionalistas nos Balcãs e termina com enormes perdas territoriais para o Império Otomano:

Perdas Territoriais Otomanas (1877)

A humilhação Otomana (1878)

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Alexandria (1882) O bombardeamento de Alexandria foi precedido por um crise política e teve como pretexto um motim onde morreram cerca de 50 Europeus. A frota britânica arrasou a cidade.

«Hoje, à hora em que escrevo, Alexandria é apenas um imenso montão de ruínas. Do bairro europeu, da famosa Praça dos Cônsules, dos hotéis, dos bancos, dos escritórios das companhias, dos caféslupanares resta apenas um confuso entulho sobre o solo, e aqui e além uma parede enegrecida que se

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Temas da Epístola Na Epístola de Maqsúd é possível identificar alguns temas centrais:

 Revelação e Religião;  A Civilização;  O Ser Humano. Também podemos identificar alguns temas secundários, a que Bahá’u’lláh dedica apenas um parágrafo ou uma linha. Os temas são intercalados uns com os outros e também com palavras dirigidas a Maqsúd, invocações ao Criador e orações. 13

Revelação e Religião

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Muitas questões sobre religião... • Para que serve a religião? • Porque é que há tantas religiões? • Porque é que as religiões têm influência positiva e negativa? • Serão as religiões compatíveis entre si? • Será possível que apenas uma religião que seja verdadeira e todas as outras sejam falsas? • Haverá alguma religião que seja a palavra final de Deus à humanidade? 15

Revelação e Religião Na Epístola de Maqsud, Bahá'u'lláh afirma a veracidade das grandes religiões mundiais e descreve-as como etapas de um processo gradual de Revelação Divina. Simultaneamente rejeita qualquer pretensão de exclusivismo ou finalidade proclamado pelo clero em qualquer religião. O fundador da Fé Bahá’í declara que Deus envia ciclicamente Mensageiros Divinos à humanidade. Esses Mensageiros - os fundadores das grandes religiões mundiais - trazem ensinamentos cujo objectivo é guiar e esclarecer os povos. E sempre que apareceu algum Mensageiro Divino, Ele foi perseguido e acusado de ser instigador da miséria e aflição entre os povos. O segundo parágrafo da Epístola a Maqsúd contém um resumo deste conceito que na terminologia Bahá’í se designa por “Revelação Progressiva". 16

Revelação e Religião “Em cada era e ciclo Ele tem, em conformidade com a Sua transcendente sabedoria, enviado um Mensageiro Divino para ressuscitar as desalentadas e esmorecidas almas, com as águas vivificadoras das Suas palavras, Aquele que é, em verdade, o Esclarecedor, o verdadeiro Intérprete, pois o homem é incapaz de compreender aquilo que emanou da Pena da Glória e que está anotado nos Seus Livros Celestiais. Os homens, em todos os tempos e sob todas as condições, têm necessidade de alguém que os possa exortar, guiar, instruir e ensinar. Por isso Ele tem enviado os Seus Mensageiros, os Seus Profetas e eleitos, a fim de dar a conhecer ao povo o desígnio divino subjacente à revelação de Livros e o aparecimento de Mensageiros, e para que cada um tomasse consciência da incumbência de Deus que está latente na realidade de cada alma.” [2]. 17

Revelação e Religião DEUS ( ... ) Bahá’u’lláh Báb Maomé Cristo Buda Zoroastro Moisés Krishna Adão

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Revelação e Religião A Epístola de Maqsúd mostra-nos quais devem ser os objectivos da religião e quais as suas potencialidades como agente transformador do mundo. Assim, segundo o fundador da religião Bahá’í, o propósito da religião é “salvaguardar dos interesses, promover a unidade da raça humano e fomentar entre os homens o espírito de amor e amizade. Não permitais que se torne fonte de dissensão e discórdia, de ódio e inimizade”[15]. Bahá'u'lláh acrescenta uma breve referência aos dirigentes religiosos, os quais devem consultar com os governantes sobre o que melhor sirva os interesse da humanidade; os dirigentes religiosos também têm o seu papel a desempenhar na reabilitação da condição humana. 19

Revelação e Religião Ao longo da evolução da humanidade, houve grandes progressos e terríveis aflições. Não se pode ignorar a capacidade da religião para orientar o progresso e mitigar os sofrimentos. Segundo Bahá'u'lláh, as Escrituras apontam o caminho para acompanhar a evolução da humanidade e resolver os seus problemas. Para ilustrar este aspecto, utiliza a metáfora “frutos da árvore da sabedoria”[27] para se referir aos ensinamentos de Deus contidos nas escrituras, e acrescenta que os povos do mundo parecem incapazes de apreciar o paladar desses frutos devido à “febre da negligência e da insensatez”[33]. 20

Revelação e Religião Segundo Bahá'u'lláh, a origem de muitos dos problemas da humanidade parece estar na incapacidade dos seres humanos para por verdadeiramente em prática os ensinamentos de qualquer religião. Quando uma pessoa põe em prática os ensinamentos de uma religião, ela transforma-se e afecta de forma positiva todos os que a rodeiam; a mera transformação política e social também defendida nesta Epístola, só por si não surtirá grandes efeitos. É necessária também uma transformação ao nível individual. Como alguém escreveu, não é possível fazer uma sociedade de ouro com pessoas de chumbo. 21

Revelação e Religião Todas as religiões possuem as suas Escrituras onde se encontram registadas palavras, ensinamentos e tradições associadas com o Manifestante ou com os primeiros crentes. Algumas dessas Escrituras são consideradas como emanações do Verbo de Deus A Epístola de Maqsúd descreve o Verbo de Deus como a força mais poderosa entre a criação: “...a sua influência penetrante é incalculável. Sempre dominou e para sempre continuará a dominar o reino da existência”[32]. Apesar de Bahá'u'lláh não Se alargar muito sobre este assunto nesta epístola, ainda assim utiliza metáforas interessantes que descrevem o poder do Verbo Divino: “...um oceano cujas riquezas são inesgotáveis”[32] “...chave mestra para o mundo inteiro”[32].

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A Civilização A paz mundial, a arte de governar e o bem-estar dos povos

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Segundo Bahá'u'lláh, a humanidade tem sido afligida por várias convulsões, e no entanto, ninguém parece ter parado para reflectir um momento sobre os motivos da intranquilidade dos povos. "Os ventos do desespero, lastimavelmente, sopram de todos os lados e aumenta dia a dia a contenda que divide o género humano“ [27]. Os seres humanos parecem estar divididos uns contra os outros e sempre dispostos ao conflito. Ao olhar para a sucessão de conflitos e barbáries, e a persistência de alguns dirigentes nesse tipo de actos, Bahá'u'lláh deixa uma lamentação: “Por quanto tempo haverá a injustiça de continuar? Até quando reinará entre os homens o caos e a confusão? Até quando haverá a discórdia de agitar a face da sociedade?” [26]

3 de Maio de 1808, Goya

A Situação da Humanidade (1)

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A Situação da Humanidade (2) Apesar do nosso planeta ter mudado muito - para melhor e para pior - desde o momento da revelação desta epístola até aos dias de hoje, estas questões não podem deixar de nos fazer pensar um pouco. Os problemas que Bahá'u'lláh aponta não são apenas os existentes na Sua época; as palavras do fundador da religião bahá’í nesta Epístola aplicam-se à história da civilização humana. Mas Bahá’u’lláh não tem uma visão fatalista. Ele afirma que o Ser Humano - enquanto criatura racional - tem todas as capacidades para resolver os seus problemas; mas, estranhamente, não parece querer fazer uso dessas capacidades para resolver esses problemas. Para responder aos problemas actuais da humanidade, Bahá’u’lláh advoga a necessidade da construção de uma Nova Ordem Mundial. 25

Uma Nova Ordem Mundial (1) A expressão “Nova Ordem Mundial” tem sido usada para descrever mudanças consideráveis e reequilíbrios de poder na política mundial. A expressão teve algum uso no final das duas Guerras Mundiais, mas foi só no final da Guerra Fria, que começou a ter um uso mais frequente. Nessa ocasião, os presidentes Americano e Soviético sentiram necessidade de definir a natureza do mundo numa era de ambicionavam ser de cooperação entre super-potências. Mais recentemente, a expressão voltou a ser usada para descrever a necessidade de soluções globais para problemas ambientais, crises económicas, e outros problemas globais como a administração de instituições mundiais (Banco Mundial, FMI, o G-20) assim como a criação de uma força de intervenção militar rápida em estados falhados. A expressão pode ainda ter uma conotação negativa e ser apresentada como sinónimo de “imperialismo” ou ditadura global («1984»). 26

Uma Nova Ordem Mundial (2) Depois de caracterizar os problemas da ordem política e social que afectam os povos da terra, Bahá’u’lláh apresenta uma fórmula para se alcançar a paz e a tranquilidade entre os povos do mundo: “Há de vir o tempo em que se compreenda universalmente a necessidade imperiosa de se convocar uma vasta assembleia de homens – assembleia essa, que a todos abranja. Os governantes e reis da terra devem forçosamente assisti-la e, participando das suas deliberações, considerar aqueles meios necessários e modos que possam lançar entre os homens os alicerces da Grande Paz do mundo. Tal paz exige que as Grandes Potências resolvam, para tranquilidade dos povos da terra, reconciliar-se plenamente entre si. Se algum rei recorrer a armas contra outro, todos unidos, deverão levantar-se e impedi-lo. Se isto for feito, as nações do mundo não mais precisarão de armamentos, excepto a fim de preservar a segurança dos seus domínios e manter a ordem interna dentro dos seus territórios. Isto assegurará a paz e o sossego de cada povo, governo e nação“ [8]. 27

Uma Nova Ordem Mundial (3) O parágrafo anterior é um dos mais citados das Escrituras Bahá’ís e contém uma fórmula que parece óbvia aos olhos de qualquer pessoa com um pouco de bom senso, nos dias de hoje. Na história recente já assistimos a algumas tentativas de pôr em prática planos semelhantes a este. A Sociedade das Nações e a Organização das Nações Unidas são os exemplos que mais rapidamente nos ocorrem. Estas duas organizações foram criadas na ressaca de Guerras Mundiais. De alguma forma, reflectem o equilíbrio político mundial da época em que foram criadas; com o passar do tempo tornaramse desajustadas às necessidades mundiais. 28

Uma Nova Ordem Mundial (4) Neste sentido, não é de admirar que hoje se exija a reforma da ONU, reclamando que seja mais equilibrada, mais interventiva, e mais representativa dos actuais equilíbrios mundiais. Uma interpretação possível das palavras de Bahá'u'lláh, leva-nos a pensar que este tipo organização mundial deveria reflectir o equilíbrio desejável entre as nações e não o equilíbrio vigente numa determinada época da história da humanidade. Conseguiremos construir uma Ordem Mundial suficientemente forte para ser globalmente aceite, e suficientemente flexível para se conseguir adaptar às mudanças que inevitavelmente ocorrem no mundo? 29

A Arte de Governar (1) Hoje fala-se muito da separação de Estado e Religião. É uma necessidade dos Estados Constitucionais modernos, depois de séculos em que houve uma religião maioritária favorecida. E frequentemente se condenam as interferências do poder secular nos assuntos religiosos, assim como as interferências dos poderes religiosos nos assuntos do Estado. Bahá'u'lláh nunca pretendeu interferir nos assuntos da Governação; na Epístola aos Reis já tinha afirmado: "Não é Nosso desejo apoderarmonos dos vossos reinos.“ 30

A Arte de Governar (2) Mas Bahá'u'lláh não se coíbe de apresentar diversos valores éticos que devem nortear os governantes. Na Epístola de Maqsúd, reis e governantes são descritos como "símbolos do poder de Deus“ [6]. Bahá’u’lláh afirma que a justiça deve ser a pedra angular dos actos de qualquer Homem de Estado. O seu objectivo deve ser “o bem-estar, a segurança e a protecção do género humano e salvaguardar vidas humanas” [12]. Bahá’u’lláh também não hesita em condenar os tiranos, e lamenta que "o tabernáculo da justiça tenha caído nas garras da tirania e opressão“[10]. 31

A Arte de Governar (3) Na Epístola de Maqsúd, Bahá'u'lláh acrescenta que os governantes devem ter uma visão mundialmente abrangente. O serviço ao Estado não pode ser feito apenas tendo como objectivo levar benefícios a um determinado povo (em detrimento de outros), beneficiar apenas um segmento da sociedade ou uma certa classe social. Bahá'u'lláh esclarece: "É homem, verdadeiramente, quem hoje se dedica ao serviço da humanidade inteira“[13]. E quanto aos nacionalismos vigentes: “Que não se vanglorie quem ama o seu próprio país, mas sim quem ama o mundo inteiro. A terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos“[13]. Os Governantes devem estar conscientes deste sentido de justiça e de serviço à humanidade para levar os povos a perceber quais os seus melhores interesses. 32

Uma língua auxiliar internacional Outro ensinamento apresentado nesta Epístola consiste na adopção de uma língua auxiliar internacional: "Aproxima-se o dia em que todos os povos terão adoptado um idioma universal e uma escrita comum. Quando isto for realizado, não importa a que cidade um homem viajar, será como se estivesse entrando em sua própria casa“ [10]. Trata-se de mais uma medida destinada a aumentar o entendimento e a concórdia entre os povos do mundo. As nações da terra devem nomear homens de sabedoria que, mediante diálogo e consulta, deverão escolher "uma língua entre as várias línguas existentes, ou criarem uma nova, a ser ensinada às crianças em todas as escolas do mundo“[9]. 33

O Ser Humano … e alguns ensinamentos éticos.

34

O Humanismo Após o séc. XV, o Renascimento e o Iluminismo, permitiram o aparecimento de várias correntes de pensamento humanista. Nestas proclamava-se a dignidade e valor de todo o ser humano, e salientava-se a importância da sua racionalidade. Erasmo de Roterdão (1469-1536), teólogo católico holandês, foi um dos expoentes máximos do humanismo renascentista. É considerado o educador dos educadores; ao longo da sua vida exortou os seus seguidores a dedicarem-se ao ensino e a fundarem escolas. Acreditava que sem educação, a civilização seria substituída pela barbárie. A educação desenvolve o ser humano e afastando-o das outras criaturas: as pessoas agem pela razão; os animais pelo instinto. Por esse motivo a razão deve ser desenvolvida através da educação.  «Os homens não nascem homens; eles tornamse homens». 35

O Ser Humano Nas Escrituras Baha’is podemos encontrar diversas confirmações da validade da perspectiva humanista e muitas referências à importância da educação no desenvolvimento do potencial humano. Na Epístola de Maqsúd, Bahá'u'lláh descreve o ser humano como um "talismã supremo"[3] e "uma mina rica em jóias de inestimável valor”[3]. Como expoente máximo da criação, o ser humano deve manifestar um "belo carácter, acções puras e uma conduta decorosa e louvável"[28]. E se o ser humano possui um estatuto elevado aos olhos de Deus, também elevados devem ser os seus esforços com vista a reabilitar o mundo e a trabalhar pelo bem-estar das nações[36]. 36

O Ser Humano Bahá'u'lláh considera que a falta de educação tem impedido os seres humanos de revelar todo o seu potencial e enfatiza que as crianças devem estudar as ciências e letras que "resultarão em vantagem para o homem, lhe assegurem o progresso e lhe elevem a condição"[17]. "Os estudos académicos que começam com palavras e terminam com palavras nunca tiveram e jamais terão valor algum"[18]. E seguidamente refere como tantos doutores da Pérsia cujos estudos nada produzem senão palavras. 37

Os Sábios À semelhança de outras epístolas, Bahá'u'lláh também aqui se refere aos "sábios e eruditos", enfatizando a sua importância na sociedade: "o homem de consumada erudição e o sábio dotado de sabedoria penetrante são os dois olhos do corpo da humanidade. Queira Deus, que a terra jamais se veja privada destas duas maiores dádivas"[24]. O seu papel na educação do povo e disseminação do conhecimento, colocaos como agentes fundamentais de regeneração social. Estes homens devem servir todos os povos da terra. 38

As Palavras Para descrever o poder das palavras humanas, Bahá'u'lláh, usa várias metáforas:

• "Uma palavra pode ser comparada

ao fogo, e outra à luz, e a influência que ambas exercem no mundo está manifesta"[31]; • "Assemelha-se uma palavra à primavera, a qual torna verdejante e florescentes os tenros arbustos do roseiral do conhecimento, assim como outra palavra é veneno mortal"[31]. Cada pessoa ao expressar-se deve fazê-lo de maneira a causar no seu ouvinte o que seja digno da condição humana. Ou seja, as palavras podem levar o homem a cometer actos louváveis ou actos indignos da sua condição. 39

Moderação A necessidade de diálogo e moderação nas actividades humanas – repetidamente defendida por tantos sábios e filósofos - é também enfatizada na Epístola de Maqsud.

«Nunca entres em excessos; deixa que a moderação te guie» (Cícero) Esta é uma recomendação não apenas para o cidadão comum, mas também para qualquer pessoa que exerça um cargo de autoridade: "O que passar além dos limites da moderação deixará de exercer uma influência benéfica"[19]. A moderação deve ser aplicada também nas palavras, juntamente com tacto e sabedoria [29, 30]

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Concluindo… Ao longo da Epístola de Maqsud, Bahá’u’lláh aborda o propósito da religião, sugere soluções para o estabelecimento da paz entre as nações, discorre sobre o valor do ser humano e apresenta diversos ensinamentos éticos. Existem outros textos do fundador da Fé Bahá’í onde se expõem outros princípios destinados à transformação humana, social e política do planeta. Estas propostas não devem ser vistos como uma panaceia; tratam-se de linhas mestras que permitem transformar um mundo de Nações numa aldeia global, justa, equilibrada e em constante progresso. Nestas propostas de Bahá’u’lláh existe um princípio que se pode resumir na frase: "Sois os frutos de uma só árvore e as folhas de um mesmo ramo“ [6]. (Gl 3, 27-28) 41

Concluindo… Fizemos uma breve análise de uma epístola de Bahá’u’lláh Identificámos diversos temas que figuram entre os princípios e ensinamentos da religião Bahá’í. Esta análise podia ser mais vasta e profunda. E certamente que outras pessoas poderão identificar outros temas e motivos de interesse nesta epístola. Espero que o esta apresentação tenha despertado a vossa curiosidade e interesse por este documento.

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Para mais informações: Marco Oliveira [email protected] http://povodebaha.blogspot.com/ http://www.bahai.pt

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A Guerra de Russo-Otomana

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