A Revolução Coperniana

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A Revolução Coperniana Marco António Oliveira

Marco Oliveira

Carl Sagan “A melhor maneira que conheço para estimular a sensibilidade religiosa, o sentimento de respeito, é, sem dúvida, olhar para cima numa noite límpida… Penso que todas as pessoas, em qualquer cultura, já tiveram esse sentimento de respeito e admiração ao olharem para o céu. Isto é visível no mundo inteiro, tanto na ciência como na religião.” 2

"Tu Me perguntaste, ademais, sobre a natureza das esferas celestes. A fim de se compreender a sua natureza, seria necessário inquirir o sentido das alusões feitas nos Livros da antiguidade às esferas celestes e aos céus, e descobrir o carácter da sua relação com este mundo físico e a influência que sobre ele exercem. Todo coração se maravilha diante de um tema tão deslumbrante e toda mente se confunde diante de seu mistério... Sabe tu, que cada estrela fixa tem seus próprios planetas, e cada planeta, suas próprias criaturas, cujo número homem algum pode calcular."

Marco Oliveira

Bahá'u'lláh

(SEB, LXXXII)

3

Astronomia Antiga 



Marco Oliveira



A observação e estudo das estrelas deve ser tão antiga quanto a espécie humana. Aristóteles e vários sábios gregos concluíram que a Terra era o centro do Universo e que todos os planetas visíveis a olho nu circulavam em torno da Terra. Noções semelhantes também surgiram na China antiga.

Aristóteles 4

Ptolomeu  

 

Marco Oliveira



(83-161 d.C.)

Grego ou Egípcio; Astrónomo, Matemático, Geógrafo e Astrólogo; Viveu no Egipto Romano: É muitas vezes confundido com os reis do Egipto; Autor de vários tratados científicos - entre os quais o Almagestum (O Grande Tratado) - que influenciaram a ciência europeia e islâmica. 5

O Sistema Geocêntrico 



Tal como Aristóteles, Ptolomeu concluiu que a Terra era o centro do Universo. O Sol, a Lua e as estrelas giravam em torno da Terra. Tudo parecia correcto: 



Marco Oliveira



Algumas estrelas pareciam mover-se em torno da Terra; A Terra parecia sólida e estável; não se movia como algumas estrelas.

Mas Ptolomeu descobriu que havia algo que não batia certo: as órbitas dos corpos celestes não eram verdadeiramente circulares… 6

Os epiciclos 





Marco Oliveira



Ptolomeu acrescentou uma correcção ao sistema geocêntrico: os epiciclos. Os corpos celestes moviam-se em círculos concêntricos em torno da Terra. A esse movimentos circulares específicos de cada planeta, Ptolomeu chamou “epiciclos”. O modelo geocêntrico com estas correcções foi aceite como válido até meados do séc. XVI. 7

Marco Oliveira

Os Corpos Celestes

Modelo geocêntrico do mundo segundo o cosmógrafo e cartógrafo português Bartolomeu Velho

8

A Astronomia Ptolomaica 







Ptolomeu manteve a teoria original e acrescentou algumas correcções. Para cada novo planeta que fosse descoberto poderse-ia acrescentar um epiciclo. E este sistema de pequenas correcções poder-se-ia prolongar indefinidamente. E se existissem pessoas noutros planetas? Não poderiam pensar que o seu planeta era o centro do universo?

Marco Oliveira

Nós é que vivemos no centro do Universo!

9

Marco Oliveira

Uns séculos mais tarde…

No final da Idade Média…

10

Copérnico (1) 







Marco Oliveira



Nasceu em 1473, na Silésia (Polónia/Alemanha). Estudou Medicina, Direito e Astronomia nas Universidades de Cracóvia, Bolonha e Pádua. Foi também cónego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrólogo e médico. Foi o primeiro Astrónomo a formular uma teoria científica heliocêntrica. Em 1514 publicou um pequeno texto onde avançava a hipótese heliocêntrica. E os rumores sobre as suas ideias espalharam-se pela Europa. 11

Copérnico (2) 





Marco Oliveira





Mais tarde preparou o livro De Revolutionibus Orbium Coelestium mas atrasou a sua publicação com receio de reacções negativas. O livro foi publicado, de forma discreta, após a sua morte (1543). Neste livro, Copérnico demonstra que a Terra não é o Centro do Universo e que o nosso planeta é um dos vários que orbitam o Sol. Isto foi uma mudança radical no conhecimento científico da época. Décadas mais tarde, Kepller e Galileu adoptariam estas ideias. 12

De Revolutionibus Orbium Coelestium





 

Marco Oliveira



O centro da Terra não é o centro do universo; é apenas centro da gravidade e da órbita lunar. As esferas orbitam em redor do Sol, e por isso o Sol é o centro do universo. A Terra é muito mais pequena que o Sol. O que aparenta ser o movimento do Sol, é, na verdade, o movimento da Terra. A Terra tem dois tipos de movimentos.

13

A Revolução Coperniana 



Marco Oliveira



Ptolomeu tinha introduzido correcções ao Geocentrismo. Copérnico propôs uma teoria totalmente nova, que é considerada hoje como início do pensamento científico moderno. Todo o sistema geocêntrico e ptolomaico começou a ser visto como antiquado e incoerente.

14

Uma nova Era na Ciência 



Marco Oliveira



A teoria heliocêntrica marca o início do progresso científico moderno. Chamam-lhe a Revolução Coperniana. Copérnico é hoje uma das mais admiradas personagens da história da ciência.

15

E na Religião…

Marco Oliveira

Como têm sido as evoluções do conhecimento religioso? E como reagem os sábios a essas mudanças?

16

Exclusivismo (1) 





Marco Oliveira



Durante muitos séculos, a esmagadora maioria das religiões considerou-se como a única, a verdadeira, a realização suprema de toda a manifestação religiosa. Cada religião apresentava-se como se fosse portadora exclusiva da verdade religiosa. As outras religiões eram ignoradas ou consideradas falsas. Esta atitude ainda prevalece hoje em diversas correntes de pensamento. 17

Exclusivismo (2) 

É uma atitude que podemos comparar aos sistemas geocêntricos.

Igreja

Marco Oliveira



ECLESIOCENTRISMO: a minha Igreja/Religião é o centro do entendimento de toda realidade. 18

Extra Ecclesiam Nulla Salus

Marco Oliveira

“Fora da Igreja não há salvação.” Durante mais de quinze séculos os cristãos acreditaram que todas as pessoas - independentemente da sua cultura ou raça - tinham de se tornar cristãos para alcançar a salvação. Há imensas declarações neste sentido. 19

Exclusivismo Católico (1) Papa Bonifácio VIII - Bula de 1302:

Marco Oliveira

“É-nos exigido pela fé que acreditemos e defendamos que existe apenas uma Igreja santa, católica e apostólica; acreditamos nela firmemente e professamo-la sem reservas; fora dela não existe nem salvação, nem remissão dos pecados…”

20

Exclusivismo Católico (2)

Marco Oliveira

O Concílio de Florença (1438-1445) declarou: “Ninguém que permaneça fora da Igreja Católica, não apenas pagãos, mas também judeus, hereges e cismáticos, pode partilhar da vida eterna; mas irão para o fogo eterno que foi preparado pelo diabo e pelos seus anjos, a menos que antes do final das suas vidas adiram à Igreja” 21

Exclusivismo Protestante (1) 

Declaração de Frankfurt (1970) 





Declarações semelhantes: 

Marco Oliveira

Desafiamos todos os não-cristãos, que pertencem a Deus na base da criação, a acreditar nele [Cristo] e a serem baptizados em seu nome, pois apenas ele é a salvação eterna que lhes foi prometida… Os aderentes das religiões não-cristãs… devem libertar-se dos seus antigos laços e falsas esperanças para serem admitidos pela fé e pelo baptismo no corpo de Cristo…



Declaração de Wheaton (1966) Congress on World Mission (Chicago, 1960) 22

Exclusivismo Protestante (2) Karl Barth, teólogo protestante suíço, opositor ao nazismo, foi considerado por Pio XII como o melhor teólogo desde S. Tomás de Aquino.

Marco Oliveira

A conversa com o Reverendo Niles, no Sri Lanka (1935): BARTH: Todas as outras religiões são falsas. NILES: Quantos hindus conheceu… BARTH: Nenhum. NILES: Então como é que sabe que a religião hindu é falsa? BARTH: À priori. Niles limitou-se a abanar a cabeça e a sorrir. 23

Marco Oliveira

Exclusivismo O exclusivismo também existe noutras religiões e correntes religiosas:  Judaísmo (“Povo Eleito”)  Cristianismo (Adventistas do 7º Dia, Mormons,…)  Islão (o povo escolhido para ser portador da palavra de Deus; a “corrupção do texto”)  Hinduísmo (é um fenómeno recente) 24

Marco Oliveira

Paradoxos do Exclusivismo 

Assim que encontramos e conhecemos pessoas de outras religiões percebemos o gigantesco paradoxo do exclusivismo religioso.



Como se pode dizer que Deus é um Deus de amor universal, Criador e Pai de toda a humanidade e simultaneamente acreditar que apenas uma religião é a correcta?



Deus dá-se a conhecer apenas a um grupo restrito?



Deus ama toda a humanidade mas apenas “salva” uma minoria? 25

Marco Oliveira

Correcções ao Exclusivismo 

Para tentar responder a estas questões foram introduzidas correcções ao Exclusivismo.



Houve uma tentativa de compreender as outras religiões, mas atribuindo-lhes sempre um papel e uma importância secundária.



É o chamado INCLUSIVISMO.

26

Inclusivismo: Pio IX “Deve-se manter, como matéria de fé, que fora da Igreja Católica ninguém pode ser salvo, que a Igreja é a única arca da salvação, e quem não entrar nela vai perecer no dilúvio. Por outro lado, deve-se igualmente ter como certo que aqueles que estão afectados pela ignorância da verdadeira religião, se for uma ignorância invencível, não assumirão qualquer culpa perante os olhos do Senhor” (1854)

Marco Oliveira

O líder da Igreja Católica manteve o dogma mas introduziu uma ligeira correcção. 27

Inclusivismo: Karl Rahner 



Marco Oliveira



“O Cristianismo não se limita a confrontar os membros de uma religião extra-cristã como um mero não-cristão, mas como alguém que pode e deve ser visto, neste e noutros aspectos como um cristão anónimo.”(1961) O conceito de cristão anónimo foi elogiado (por ser inclusivista) e criticado (por ser paternalista). Rahner procura um sentido de justiça; mas não é revolucionário. 28

Inclusivismo: Hans Kung 



Marco Oliveira



Os «não-cristãos» têm o direito e o dever de procurar Deus na sua religião até ao momento em que são confrontados com a revelação de Jesus Cristo. As pessoas de outras fés são pré-cristãos que caminham em direcção a Jesus. Mais tarde ou mais cedo devem tornar-se cristãos, mas até lá não serão condenados por causa disso. Mais uma correcção… Mas o dogma essencial mantêm-se! 29

Inclusivismo: Vaticano II

Marco Oliveira

A Igreja Católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas. (NOSTRA AETATE)

Um texto muito generoso quando comparado com as declarações dogmáticas do Vaticano II.

30

Inclusivismo Cristão 

O Cristianismo é a expressão máxima da revelação divina. Se existe alguma luz de verdade noutras religiões, ela é um reflexo da luz de Cristo.

Marco Oliveira

 

É o chamado Cristocentrismo! 31

Correcções 

O Inclusivismo Cristão é um reflexo de:   

Marco Oliveira



Progressismo … Liberalismo… Abertura de mentalidade…

… mas mantêm o dogma básico: fora da Igreja não há salvação!

32

Marco Oliveira

Epiciclo Religioso 

O Inclusivismo não é uma perspectiva revolucionária.



É uma correcção ao Exclusivismo.



… tal como os epiciclos de Ptolomeu tentavam corrigir uma teoria antiga perante a evidência da realidade.



O dogma essencial manteve-se e acrescentaram-se algumas correcções.

33

Religiões “Ptolomaicas”  



Marco Oliveira





Temos um ponto fixo: fora da Igreja não há salvação! Quando encontramos pessoas de outras religiões adicionamos um epiciclo à teoria que nos diz que apesar de serem aderentes conscientes de outras religiões, podem, mesmo assim, ser cristãos inconscientes ou implícitos. É um tipo de raciocínio que se pode manter indefinidamente! Mas quem não acreditar firmemente no dogma central perceberá o quão pouco convincente e artificial é o resultado final. Torna-se óbvio que o pensamento religioso necessita de uma REVOLUÇÃO e não de uma pequena correcção. 34

Marco Oliveira

O Cenário da Revolução no Pensamento Religioso

35

A Aldeia Global





Marco Oliveira





O mundo atravessou nas últimas décadas diversas transformações. Houve mudanças políticas profundas, as migrações acentuaram-se, a informação circula pelo planeta a grande velocidade. As sociedades deixaram de ser monolíticas e fechadas; passaram a ser multiculturais, multiétnicas, diversificadas, multireligiosas e abertas. Criaram-se condições para que sejam postos em causa alguns paradigmas do passado. 36

Pluralismo Religioso A aldeia global tornou o pluralismo religioso uma característica comum da maioria das sociedades ocidentais. Hoje há 3 atitudes típicas face ao pluralismo religioso:







Marco Oliveira





Considerar que as religiões são todas válidas; Considerar que há algumas religiões válidas; Considerar que são todas falsas. 37

Mudar de Paradigma (1) 





Marco Oliveira



Graças ao constante contacto com pessoas de outras religiões, começa-se a perceber que uma religião que ignore - ou rebaixe - outras religiões é inadequada para um mundo que vive a aldeia global. A religião tem de nos transmitir uma perspectiva global e consistente com o senso comum. Dizer que apenas uma religião tem o exclusivo da verdade equivale a dizer que a Terra é o centro do universo. As religiões que têm pretensões exclusivistas devem transformarse, pois correm o risco de serem consideradas retrógadas e ultrapassadas. 38

Mudar de Paradigma (2) 



Uma religião não pode estar voltada sobre si própria.



Uma religião tem de se abrir ao mundo.



Marco Oliveira

No centro do pensamento religioso não pode estar uma Igreja, uma comunidade, ou um Manifestante; o centro do pensamento religioso deve ser ocupado por Deus (ou uma certa ideia de Deus).

Exige-se uma transformação profunda na forma como as pessoas entendem o universo da religiões e o lugar que a sua religião ocupa nesse universo.



É necessário questionar os dogmas!



Isto equivale a uma revolução coperniana! 39

Mudança de Paradigma (3) 



Isto significa, passar do Eclesiocentrismo para o Teocentrismo… …tal como um dia passámos do geocentrismo para o heliocentrismo!

Igreja

Deus

Marco Oliveira

Cristo

40

Teocentrismo 



O teocentrismo leva-nos a falar de Unidade das Religiões. As religiões têm:    

Marco Oliveira



Uma origem comum; Uma dinâmica semelhante; Recebem todas uma luz que tem a mesma fonte. Especificidades próprias;

São muito parecidas com os planetas!

41

Unidade das Religiões 

A Unidade das Religiões implica:   





Marco Oliveira





Diálogo inter-religioso; Desenvolvimento de teologias pluralistas; Não perder a própria identidade religiosa.

Para a esmagadora maioria das religiões isto é um enorme desafio de renovação e transformação. O conceito é temido por diversas hierarquias religiosas (o relativismo!). Mas nas grandes religiões sempre existiram correntes renovadoras e correntes conservadoras. O processo é inevitável. 42

Resumindo…

Astronomia

Ideia Inicial

Correcção à Ideia

Ideia Revolucionária

Geocentrismo

Epiciclos

Heliocentrismo

Ptolomeu

Marco Oliveira

Religião

Exclusivismo (Eclesiocentrismo)

Copérnico

Inclusivismo (Cristocentrismo)

Fácil

Pluralismo (Teocentrismo)

Difícil 43

Teólogos do Pluralismo Religioso

Marco Oliveira

John Hick

Paul Knitter

44

Há muitas questões…(1) 







Marco Oliveira



Mas como pode um crente acreditar que outras religiões são tão válidas quanto a sua? Não será isso rebaixar o valor da sua própria religião? Se todas as religiões têm a mesma importância, porquê optar por uma? Temos religião «à la carte»? Podemos cair no sincretismo?

45

Há muitas questões…(2)  

Marco Oliveira



Cada religião tem uma parte da verdade? Ou será que todas as religiões têm uma perspectiva diferente sobre a mesma verdade? Se todas as religiões têm o mesmo valor, então como conciliar as religiões teístas com as religiões monistas?

46

Marco Oliveira

Bahá’u’lláh e o Pluralismo Religioso Não pode haver dúvida alguma de que os povos do mundo, de qualquer raça ou religião que sejam, derivam a sua inspiração de uma só Fonte Celestial e são súbditos de um só Deus. A diferença entre os preceitos sob os quais vivem deve ser atribuída aos diversos requisitos e exigências da época em que foram reveladas. Todos eles, exceptuando-se apenas alguns poucos que resultam da perversidade humana, foram ordenados por Deus e são um reflexo da Sua Vontade e do Seu Propósito. (SEB, CXI) 47

Marco Oliveira

Fim

FIM

48

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