Antonio Jaques de Matos
Religião para Adolescentes. 2009
Prefácio A presente obra vem a completar nossa primeira obra – Filosofia para Adolescentes – cujas aulas eram em boa parte, teóricas e, acrescentar outras áreas do conhecimento humano – Sociologia, Religião e História, áreas que, normalmente, professores de filosofia são brindados, especialmente em escolas públicas, que têm carência de professores dessas áreas. Mas, do limão, fizemos uma limonada, pois é muito útil poder mostrar aos alunos a diferença e semelhança entre Filosofia, Sociologia (Ciência social), Religião e História, quatro das principais formas que os seres humanos encontraram para exteriorizar seu pensamento. A elas poder-se-ia acrescer Arte. Procuraremos ser fiel à ordem das aulas e ao conteúdo ministrado, bem como, reações dos alunos (participação, engajamento, ou afastamento e repulsa, sim, repulsa à metodologia, algo comum, natural, fisiológico, em adolescentes) e resultados obtidos (formais, provas, trabalhos, apresentações e informais, expressões, humor, conversas paralelas). Procuraremos apresentar primeiro as aulas de filosofia, depois de Sociologia e, então, religião e História, Contudo, o leitor deve estar advertido que elas ocorreram em paralelo: em uma mesma semana, dávamos as três disciplinas para as cinco turmas de primeiros anos do Ensino Médio, pela manhã, turmas 211,212,213,214 e 215 e História à turma de terceiro ano do ensino médio, turma 431, no horário noturno. Queremos lembrar que a disciplina de História não era por nós esperada, mas nos foi oferecida e como professor ganha pouco, representava um acréscimo financeiro a mais. Acontece, porém, que não temos formação em História e um filósofo apenas toma emprestado as descobertas arqueológicas para refletir sobre conceitos abstratos. Mas, tal empresa representou um desafio interessante – em dois ou três finais-de-semana relemos um livro de história e recuperamos conhecimentos guardados uns vinte anos na memória, quando éramos adolescentes e ainda estávamos no colégio. Ainda, devo lembrar que passei neste ano de 2009 a usar um microfone portátil com uma pequena caixa de som de 7 watts na cintura e os alunos gostavam do equipamento, aliás, eles gostam de tudo que e relaciona à tecnologia e como nesta época da vida, a educação tem um gosto intragável e se dependesse da maioria deles não iriam à escola, o uso do microfone prendia a atenção deles. Chego a ponto de concluir que a pior aula dada por um professor, com microfone é ainda superior à melhor aula dada sem microfone!!
Considerações metodológicas: Quando se lida com adolescentes, deve-se considerar algumas questões: 1- Adolescentes são crianças com corpos de adultos, e, por isso, mantém a infantilidade em um grau elevado. Uma boa maneira de conquistar sua atenção e respeito é: (a) mostrar-lhes um filme daqueles que não precisam pensar muito, de ação ou romance, de preferência dublado; (b) distribuir-lhes guloseimas; (c) praticar esportes com eles. 2- Eles não suportam rotina, aulas que parecem, para eles, repetitivas, embora sejam apenas continuações, com acréscimos importantes. Por isso, eles dão valor a mudanças de ambiente: ir à sala de informática em um dia, ir ao pátio tomar sol no inverno, ir à sala de vídeo, etc. Aliás, quem não gosta? Mas, há um detalhe a considerar: quando eu entrei na faculdade de filosofia (a primeira que fiz foi de Administração) me senti mentalmente esgotado e, mais para o final do curso, não tinha mais vontade de ler um livro inteiro. Será que os adolescentes, em função do excesso de informação mais o conflito que vivenciam em famílias, geralmente, desestruturadas, não estão exaustos mentalmente? Pensei em um trabalho para um eventual pós-graduação: medir os batimentos cardíacos de professores e alunos para saber o grau de stress que vivem em suas atividades! 3- eles estão sem limites, pois vem de casa sem limites, os pais ou avós os deixam fazer o que bem entendem e sobre para o professor disciplinar, só que o professor não tem instrumentos que uma mãe ou um pai teriam, como o de puxar a orelha ou dar um tapa na cara diante de desobediência. A psicologia moderna dirá que isto é ultrapassado, mas lhes dar tudo o que desejam (adolescentrismo) não os educará para o mundo, pois o mundo não lhes dará tudo o que desejarem! Na escola onde trabalho neste momento, 2009, nem suspensão ou expulsão os alunos podem sofrer, pois o governo não quer mais evasão escolar, mas isto não resolve o problema de termos alunos indisciplinados e a única coisa que o professor pode fazer é tirar para fora da sala os mais desordeiros. Nada os agrada, os levamos para a sala de vídeo, para o laboratório de informática, excursionamos ao museu de ciências, em dias frios tomamos sol na rua, quando eles aproveitam para escapar! Parecem que eles esperam por limites: às vezes respondo com grosseria à indisciplina deles: já mandei alunos calarem a boca, outra vez, disse a um deles que deveria deixar de ser criança e virar homem, outras vezes chamei seus pais, porque –lhes disse – com os alunos não era mais possível um acordo. E quando os pais vêm à escola se horrorizam com o que os filhos fazem ou será que fingem? Dizem que em casa não são assim! O mais curioso disto tudo é que temos a impressão de que deixaram ao professor a tarefa de dar limites, mas como? Em geral, quando o aluno incomoda, tiramo-lo da sala, mas muitas escolas são proibidas de suspender ou expulsar alunos. O que é certo é que eles foram acostumados (condicionados, mesmo) a um tipo de aula, em escola pública, em que o professor deixa uma tarefa no quadro e sai da sala e, mais tarde, verificará se eles anotaram no caderno e fizeram professor curioso e com algum conhecimento amplo da vida. E é isso que devemos cobrar dos alunos, um ser completo, não um especialista, pelo menos, nesta época de formação escolar. Lembro que fui um estudante que esperava ansioso por novos conteúdos, pois, assim, poderia aprender o conhecimento que a humanidade dispunha e tinha acumulado. Tinha esperança, também, de que tal conhecimento representasse uma oportunidade de me tornar bem sucedido, mas há muitos obstáculos e nossos sonhos morrem antes de ultrapassar todos: burocracia, para abrir empresas, gastos para registrar marcas que imaginamos, recursos para implementar ideias, etc. podemos, ainda assim, escrever nossas ideias e publicá-las na internet de graça!
Um dos argumentos em defesa dos adolescentes é que a escola tecnologicamente está defasada com o restante dos equipamentos que os adolescentes estão habituados a trabalhar. Mas, experimente leva-los à sala de informática e pedir uma pesquisa a eles: lhe darão qualquer coisa que aparecer e apenas a copiarão, sem acrescentar opinião ou argumentos consistentes. Além disso, não estão habituados a uma comunicação de duas vias, mas apenas a receber informações prontas, pensadas por outras pessoas, cantores, especialmente. Solução? Os meus alunos de terceiro ano do ensino médio parecem arredios (uma aluna pediu que eu deixasse textos para que eles lessem e fizessem algum trabalho e eu respondi que não era ela que decidiria como eu daria aula, embora eu, nas aulas seguintes, tenha assimilado nas minhas aulas os trabalhos sem o constante monólogo do professor), desconfiados, agridem verbalmente (perguntam qual é a tarefa e não esperam a explicação ou se não a entendem dizem que a culpa é do professor, eximindose da mesma), expressam-se com receio e dificuldade de e têm pouca auto-estima, fruto de uma infância sem afeto? Mas quando há pontos ou notas envolvidos eles participam. Em parte, propus aulas que não os massacrassem com excesso de informação, questões difíceis de resolver ou provas que os fizessem estudar muito e memorizar a matéria - acho que conquistei algum respeito deles. Levei-os ao laboratório de informática, à sala de vídeo, ofereci-lhes pipoca para os motivar a assistir o DVD de Sócrates, só não fomos no museu de ciências, porque ele não abre à noite. Não é preciso mais rigor do que a exigência da presença e de alguma participação por parte deles para a escola cumprir atarefa primeira: ampliar a percepção (muitos a chamam de pôr a razão no controle, como se existisse um órgão sede da racionalidade, como bem questionou Popper) acostumada a percepções limitadas a seus hábitos cotidianos; reparem como um adolescente percebe detalhes que passam despercebidos pelos adultos: reparam o tipo de sapato que usamos, se a roupa está suja de respingos de lama (pois mesmo com chuva forte, eu vou de bicicleta para o colégio), a tudo que é pequeno eles prestam atenção! Não é por acaso, também, que eles, em geral, têm dificuldade de pensar em um nível abstrato, pois neste nível o particular e o singular (este, esta e isto ou aquilo, aquela, aquele) se encontram desfocados e se dá lugar ao “existe”, “alguns”, “todos”, expressões que não falam de uma pessoa, que tem um nome, veste uma certa roupa, moro na rua tal, mas de grupos maiores de pessoas até se o universo tem limite, o que compreende o conjunto de todas as coisas que existem dentro dele ou mesmo, por especulação, fora dele. 4- um dia apareceu no colégio um mágico. Precisavam ver a reação dos alunos, adolescentes que transpareceram as crianças que ainda estão neles. Hipnotizados, saíam das aulas sem pedir e quando chamava a atenção deles, não estavam nem aí. Senti uma inveja do poder do mágico de prender a atenção dos alunos. Certamente falta isso na educação ou, então, deixar que eles façam a mágica... de criar algo que saia de dentro deles mesmos! Um professor não tem a obrigação de ser um mágico, mas pelo menos a humildade de querer ser um mágico, para ver olhos brilhando na sua frente.
Nota sobre Avaliação Há casos sobre a avaliação que valem a pensa serem relembrados para servirem de ajuda a outros professores: (1) uma aluna de uma turma de pós-médio queixou-se de que a nota (50%) foi abaixo daquela que ela merecia. Eu chamei a sua atenção para o fato de que ela tinha pesquisado na internet, algo que eu aceitava, se ela pesquisasse com suas palavras e não apenas copiar as informações, nuas e curas. Depois, senti que eu poderia estar sendo injusto e ao encontrá-la, avisei que a nota tinha sido alterada para 70%, pois eu acreditava que ela tinha ficado muitas horas fazendo aquela pesquisa e o que ela me respondeu? Que sua secretária tinha feito o trabalho. Eu não aceitei esta atitude e voltei atrás na nota, a reduzindo. Aliás, aquela aluna era advogada e, provavelmente, seguia o pensador do Direito, Hanz Kelsen, para quem a lei não tem nada a ver com justiça!;
(2) outra vez um aluno disse que eu não tinha devolvido o trabalho dele, que eu devia ter perdido. Achei pouco provável isto. Então, ele escreveu outro, mas eu lhe disse que não consideraria. Mas, eu não poderia ter perdido ou guardado em outra pasta, poucos sabem o quanto um professor trabalha? De qualquer modo, segui minha intuição, ou seja, deixei que a parte do cérebro involuntária, recordasse e juntasse todas as memórias sobre aquele aluno e chegasse a um veredito: não aceitar o trabalho, pois o aluno está mentindo. (3) reconheci a dificuldade de fazer justiça quando avaliamos trabalhos dos nossos alunos, sugeri que se colocassem todos os trabalhos no quadro e que os avaliassem. Haveria, certamente, as panelinhas, grupos influentes que votariam uns nos outros; poderia o professor estabelecer critérios como pontualidade e assuntos que deveriam constar nos trabalhos, talvez esta seja a forma mais óbvia, mas não para mim. (4) quando estava no meu segundo ano de docência eu, diante de algum aluno que apresentava uma reflexão interessante, dava nota máxima do trimestre ou, ainda, quando eles apresentavam algum trabalho do interesse deles. Uma vez uma aluna disse, após eu falar sobre a teoria de Rousseau, de que os homens nascem bons e a sociedade os corrompe, que ela não concordava com isso, pois se a sociedade é feita de homens e estes nascem bons, como poderiam corromper outros homens que, também, nascem bons? Por isso, ela ganhou em uma argumentação a nota que outros levariam três meses para ganhar! Ainda acho interessante isso, mas vi que aquela aluna, depois, deixou de assistir às aulas e passou a participar muito pouco. (5) cometi muitos erros ao avaliar trabalhos: (a) uma vez disse que todos ganhariam a nota máxima em um trabalho, desde que o fizessem! Por que disse isso? O professor queria ser bem visto pela turma? É possível. Mas, depois, eu esqueci a promessa e dei notas abaixo daquela nota máxima e, aí, pelo menos uma aluna reclamou. Eu havia pedido que imaginassem o inferno à semelhança daquele imaginado por Dante Alighieri, mas ela disse que lá era um lugar nada tranqüilo e, depois, citou definições que eu tinha dado de purgatório e limbo. Eu não poderia dar nota máxima por algo que ela não tinha realizado bem. Seria o mesmo que dar nota a alguém que não tivesse feito nada ou tivesse escrito sobre outra coisa! De qualquer modo, procuro evitar uma prova e faço vários trabalhos para que se uma injustiça houver na avaliação na média dos trabalhos observaremos (a) o progresso do aluno e (b) o seu conhecimento adquirido. Nunca vi parte mais desagradável e injusta que julgar o trabalho de alguém ainda mais quando não há espaço para que julguem nosso trabalho. Um dos meios de amenizar tal injustiça é reduzir ao mínimo os trabalhos e fazer as provas com perguntas com alternativas. Uma outra metodologia que pensamos ser a melhor é deixar que os alunos julguem os trabalhos feitos por eles através da avaliação dos trabalhos de seus colegas; mas há o problema do espírito de corpo, da amizade acima da verdade... De qualquer modo, vale a pena um teste, não? Podemos expor os trabalhos no quadro e deixar que eles mesmos julguem: quem merece nota máxima, quem está na média e quem precisa refazer o trabalho. Será que há pontos negativos, nisso? Pode haver formação de grupos que apóiem uns aos outros, mas, ainda assim, o professor pode supervisionar para evitar injustiças. (6) pelo fato dos alunos não anotarem as notas que tiravam nos trabalhos me surgiu a idéia de pôr na parede da sala a lista de alunos assinalando quais tinham feito o trabalho e quais não para que eles aprendessem a se organizar e realizassem os trabalhos pendentes sem que o professor precisasse relembrá-los repetidas vezes. (7) houve episódios desagradáveis: além de ter que fazer os alunos adquirirem o hábito de parar de falar quando o professor está falando, certa vez tivemos atritos causados por brincadeiras do professor mal entendidas pelos alunos: certa vez, porque o colégio proibiu o uso de celular em aula, disse que um aluno que usava o aparelho só podia ter merda na cabeça, o que provocou um alvoroço em toda a sala, especialmente em um aluno que resolveu defender a colega, que chorava. Outra vez, pedi (brincando) que duas alunas parassem de namorar em aula e uma delas não gostou, disse que eu a tinha chamado de
lésbica e eu disse que ela precisava amadurecer, pois não entendeu que era uma brincadeira, especialmente porque na adolescência é comum brincadeiras relacionadas à sexualidade. Um outro fato consistiu em eu ter dito que iria atirar milho para algumas alunas que não paravam de conversar e elas entenderam que eu as estava chamando de promíscuas quando eu queria apenas dizer que elas estavam muito agitadas [fim].
Filosofia, Sociologia, Religião e História 1a aula introdutória: Na primeira aula, apresentamo-nos, nosso histórico, faculdade de origem, antes, dissemos que nos formamos em Administração, depois, arduamente, nos encontramos em Filosofia, depois de ter pensado em Arquitetura – formas e cores eram, para mim, um atrativo e mais do que isto, uma necessidade neurológica, porém perder tempo decidindo tipos de tecido ou embelezando a casa de “cabeças vazias”, nos afastou daquela idéia. Mostrei-lhes alguns livros que publiquei na internet, apresentei-lhes um livro específico que escrevi e que dele queria que eles imprimissem um texto que usaremos no segundo trimestre e, para motivá-los a se mover!, prometi 10 pontos (não queria realmente que fossem 10 pontos, mas saiu da boca!, oferecei como alternativa: dar 5 pontos para cada disciplina, filosofia, sociologia e religião, mas prefeririam os 10 pontos!): trata-se do texto, um resumo feito por mim na verdade, da obra “O povo brasileiro”, de Darcy Ribeiro, que sem igual, mostra a origem da sociedade brasileira, os povos que a formaram – índios, negros e europeus, a desigualdade presente desde o descobrimento, ou melhor, invasão! No restante da aula, apresentamos, então, as diferenças entre filosofia, ciências e religião e, depois, as semelhanças entre elas. Primeiramente, devemos observar que tendemos a ver as três áreas como separadas, tal como três propriedades, três terrenos que se limitam por cercas, muros, intransponíveis, mas isto não é verdade.
A melhor imagem seria a seguinte, onde as três áreas têm diferenças, mas, também, semelhanças. Embora o filósofo seja um solitário, que tenta entender o mundo, a partir de suas experiências e, também, das experiências que observa nos outros e a religião trás consigo verdades ditadas por líderes religiosos que dizem tê-las ouvido de um Deus e a Ciência (não esquecer: Sociologia representa aqui as ciências) parte da observação e testes realizados com uma quantidade de pessoas ou fatos significativos estatisticamente, isto é, um número que representa uma sociedade inteira, ainda assim, é sobre os mesmos fatos, é sobre a mesma vida, que filósofo, religioso e cientista se debruçam e sobre os quais fazem suas investigações, suas reflexões.
Diferenças:
Semelhanças:
Filosofia Ciências Religião Solitário, faz Pesquisador de Recebedor, pesquisas sobre suas grupamentos possuidor e próprias experiências humanos, a partir de divulgador de e observa as das fatos passados e verdades prontas pessoas que lhe são presentes. próximas Suas investigações tratam dos mesmos temas, como origem do universo, existência ou não de Deus e de uma alma imortal, sentido da vida, felicidade, infelicidade, conflito entre emoções e racionalidade, origem das sociedades, competição e concorrência, violência, contratos, estética, morte, condições de verificabilidade de suas teorias, bem, mal, costumes, leis, etc.
2a aula introdutória: Fizemos um exercício para observar se eles compreenderam a aula anterior: (A) Identifique nas sentenças abaixo quais são relacionadas à filosofia, às Ciências e à Religião: ( ) Dr. Zerbini, foi quem primeiro realizou um transplante de coração em humanos, no Brasil, após uma série de tentativas usando bezerros. A resposta é “Ciência”, embora apareça um homem solitário, ele na verdade, é um médico (as pistas são “Dr.” e “transplante”) e médicos trabalham em grupo com enfermeiros, auxiliares de enfermagem, anestesistas e residentes. ( ) René Descartes defendia que devemos ser céticos em um primeiro momento até que se prove a verdade de alguma afirmação. Um homem, solitário e, só por isso, já é “filosofia”. Também, ele expõe sua maneira de pensar sobre fatos a sua volta, a necessidade de cautela, a partir de experiências que ele viveu ou algumas de outras pessoas que ele observou (não há um número de observações, por isso, não é “ciência”!), antes de julgar se algo que ele pensou ou que os outros disseram, é verdadeiro ou falso. Não se duvida, aqui, do caráter dos outros, apenas se sua percepção e seus sentidos lhe deram toda a informação necessária de que ele precisa para emitir sua opinião.
( ) Em Israel, encontraram um código secreto na Bíblia, a partir de versículos, onde palavras são localizadas em linhas verticais, horizontais ou em diagonais, como, por exemplo, “Bin”, “Laden”, “atacará”, “torres”, “Gêmeas”, “2001”, antes mesmo que os eventos ocorram.
É curioso, porque aqui os alunos disseram se tratar de religião; ocorre que embora se leia a palavra Bíblia, não se trata da leitura direta do livro, mas através do uso da matemática e embora se possa duvidar de seu caráter como ciência experimental, ainda assim, quem dela se utiliza, realiza, pelo menos, experiências mentais tomando, algumas vezes, conteúdos vindos do mundo material. Uma linha reta, perfeita, é uma idealização mental, mas pode se referir a um projeto de uma nova estrada em construção, por exemplo. Trata-se, então, de uma ciência. ( ) Os Maias faziam sacrifícios com crianças e escravos que eram oferecidos ao Deus-sol para que este nunca se apagasse. Aqui, aparecem as palavras “sacrifício” e “Deus”, por isso, se trata de “religião”. Aproveitamos o exemplo para perguntar aos alunos se algo assim poderia acontecer hoje: o professor poderia ir ao jardim de infância da escola e pedir à professor que lhe desse uma criança para oferece-la em sacrifício a um Deus? Embora a idéia seja grotesca, sua proposição visa a fazer o aluno pensar: o que mudou entre as maneiras de pensar, dos Maias até nós? Não eram eles também considerados humanos? De que modo evoluímos, se evoluímos? Houve alguma mudança dentro do cérebro? ( ) Platão acreditava que existiam dois mundos, este, físico, e um outro eterno. De onde mais tiraríamos a idéia de um círculo perfeito, por exemplo, se nada no mundo material, uma maçã, a lua, é uma esfera perfeita? Aqui, se trata de “Filosofia”, pois há um indivíduo, manifestando uma teoria a partir de sua própria reflexão, ainda que tendo observado o mundo, não testou todos os objetos para saber se são, por exemplo, esferas perfeitas. Uma vez um aluno, no ano anterior, perguntou se o olho humano não poderia ser um exemplo de esfera perfeita. Pedi que ele enviasse um e-mail a um oftalmologista, porque era a pessoa que mais próxima estava de olhos, mas o aluno nunca me respondeu esta questão. Em geral, no tempo de escola não nos sobra tempo, tal é a quantidade de aulas e informações recebidas, bem como, a importância exagerada a provas escritas.
Religião Primeira aula: Apresentei-lhes um mapa, uma linha do tempo mostrando as religiões que iríamos estudar no ano.
Minha idéia inicial era a de entrarmos primeiro no estudo das religiões, mas preferi começar das questões etimológicas (o que significa religião) e das filosóficas (se Deus existe, se temos alma e se ela é imortal): O que é religião? Ela vem de “religio”, do latim, língua do norte da Itália que se popularizou na medida em que o império de Roma se expandiu pela Europa, norte da África e Oriente Médio. Há diferentes explicações para o significado de “religio”, atribuídas a intelectuais romanos: Para o orador e pensador Cícero, ela significa “relegere”, reler, pois os povos relêem os textos sagrados constantemente; Para Lactâncio, significa “religare”, pois a religião religa um povo a um Deus e ela pressupõe que houve um momento anterior em que povo e Deus estavam juntos e, por alguma razão, se separaram. Já Santo Agostinho, importante filósofo e teólogo medieval, acreditava que “religio” se referia a “religire”, cujo sentido se relacionava a busca por parte de uma sociedade humana para ser eleita como povo escolhido por um Deus. De Santo Agostinho, se pode lembrar muitas teses, como a tese, que não se encontra escrita na Bíblia, sendo uma interpretação posterior daquele pensador, de que Adão e Eva cometeram o pecado original, de terem comido do fruto da árvore do conhecimento (do bem e do mal) ou, então, sua frase “No interior do homem está a verdade” (In interiore homini habitat veritas) e, também, de tiradas bem humoradas: o que Deus fazia antes de criar o mundo? Respondeu ele: preparava o mundo para quem faz esta pergunta. Ou, ainda, seu pedido a Deus para que o tornasse livre de desejos sexuais – “Daí-me a castidade, mas não ainda”. Finalmente, Macróbio (eu brinco com os alunos: que ele era primo do micróbio, embora este último fosse um pouco menor!), para quem “religio” se referia a “relinquere”, relíquia, algo deixado pelas antigas gerações como um legado aos mais novos. Não vejamos esta aula como inútil, pois amplia o entendimento sobre religião, a valoriza como uma criação humana, respeita e tolera as gerações anteriores na sua tentativa de explicar o mundo e, à parte, oferece ao aluno um novo método de investigação, desconhecido por muitos deles, talvez a todos: a etimologia!, o estudo das origens das palavras e, como elas, os motivos porque gerações e mais gerações pensam e agem de um determinado modo específico, o que nos poupa, como detetives, ou melhor, arqueólogos, de ter que remover toneladas de terra para achar uns poucos vestígios materiais, que indicariam alguma causa para um comportamento humano.
Um exemplo que mostramos em algumas turmas: a palavra “humano”, vem de “Homini”, esta, de “homo”, que no latim vem de “humus” (em greo, significa “o mesmo”, daí homossexual, o que sente atraído por pessoas do mesmo sexo), terra, o ser que vem da terra e que dela se utiliza na sua subsistência. Uma vez perguntei à professor de grego antigo (fui um dos poucos que fez dois anos desta disciplina, embora depois a esqueci quase por completo) se “anthropos” não significava uma negação (an-) de tropos (confundi tropos com topos, de topografia, estudo do terreno, da terra), ou seja, o ser humano significaria aquele que não tem lugar fixo. Ela disse que não e eu, hoje, acho que minha idéia se opõe à interpretação milenar e, também, bíblica, de que o ser humano nasceu da terra ou da argila, soprada (e animada, de dar uma alma) por um Deus. Na mesma aula, mostrei um diagrama com as principais religiões mais antigas e, também, aquelas que surgiram a partir das primeiras, procurando mostrar-lhes o caminho que realizaremos para conhecer um pouco do fenômeno cultural chamado “religião”. Sob a ótica de um filósofo é natural que se busque, primeiro, um olhar abrangente, tentando abarcar, se fosse possível, todas ou quase todas as religiões, para, depois, estudá-las em separado, relacioná-las, identificar semelhanças e diferenças e, finalmente, definir (escrever) ou apenas propiciar o aparecimento da idéia (imagem) da religião em nossa mente.
Segunda aula: Nesta aula apresentei a teoria de David Hume sobre a origem das religiões: primeiro os povos antigos idolatravam animais e fenômenos naturais, tais como, cobras (deusa Naja, e a Vaca na Índia), crocodilos, o deus Anúbis (com cara de cachorro, no Egito, etc), a dança da chuva, dos ameríndios, o relâmpago, do deus Thor, dos nórdicos (um aluno explicou-me que era o pai de Thor que os lançava e não o Thor). Depois, os povos, menos temerosos em relação à natureza, fizeram os deuses à sua imagem, como disse Nietzsche, e tinham razão, pois, agora, enfrentavam outras tribos de homens e precisavam de um Deus que entendesse dos sentimentos humanos. Curioso, também, é o fato de que para aquele povo, só ia para o céu quem morresse em batalha, de morte violenta, as demais pessoas iam para o inferno. O que não era muito diferente para os gregos antigos: a boa morte se realizava em um ato heróico e que envolvia grande coragem.
Terceira aula: Outro ponto envolvendo as religiões: a sua função estética, sua capacidade, como escreveu Will Durant, de amenizar ou esquecer o “caráter tétrico” da morte, seu apoio às artes – pintura, escultura, músicas, arquitetura – tem relação com transformar coisas banais em coisas sagradas. As cerimônias como batismo, casamento e velório/enterro, também, são expressões desta função estética: hoje, muitos casais apenas passam a viver na casa de um deles, mas muitos ainda guardam álbuns sobre a experiência de estar em um altar, de dizer “sim” um ao outro, ainda que não acreditem mais no padre que está em frente deles! A arte, da qual a religião se utiliza, é uma ferramenta fortíssima para transpor o que Nietzsche chamou de absurdo da existência e a tentativa de dar-lhe algum significado!
Quarta aula: Pelo menos uma aluna veio até mim e disse que as aulas estavam chatas, neste formato, isto é, passar dois parágrafos com teorias antigas. Então, nesta aula, apresentei-lhes um teste que encontrei na revista Superinteressante, no qual há perguntas com “sim” ou “não” que vão levando a pessoa testada a
outras perguntas, como outros “sims” e “nãos” e, finalmente, chega à cinco conclusões que indicam que você tem características de um evangélico ou de um católico ou de um budista ou de um ateu.
Quinta aula: Falei sobre algumas teorias sobre Deus. Os alunos perderam tempo debatendo se Deus se escrevia com maiúscula ou minúscula. Em uma turma perguntei: faria diferença “unicórnio” com “u” maiúsculo ou minúsculo. Como eles crêem que Deus existe, sem questionar?? Outras teorias: por que crer em um Deus e não em muitos? A explicação é que, pela definição do que seja Deus, um ser onisciente, onipresente e onipotente, não se pode pensar que possam existir vários da mesma espécie, pois, assim, um limitaria o outro e nenhum deles teria as qualidades que imaginamos pertencerem a uma divindade. Um deus, por exemplo, não saberia o que o outro sabe ou não ocuparia todos os lugares, pous haveria lugares que estariam ocupados por outros deuses. E, finalmente, citei Orígenes (século IV dC) que disse que Deus e o universo existiam eternamente, porque se tivesse havido um momento em que o universo não existisse, então, neste momento, Deus não exerceria seu poder absoluto. Expliquei em algumas turmas que Deus não seria todo-poderoso se não tivesse sobre o que exercer o poder; uma aluna observou que Ele poderia ser poderoso, embora não exercesse tal poder. Lembrei de alguém que tivesse músculos, mas nunca tivesse levantado nada – como saber que ele poderia, se não levantou nada? Reconheço que a tese, antes forte, agora, parecia frágil! Uma outra maneira é tratar da diferença entre potência e ato: Deus antes do mundo existir tinha a capacidade, mas não a exercia e, assim, ocorreu uma mudança na essênciadivina, o que é contraditório com a noção de Deus, um ser imutável. Porém não quis entrar na questão de potência e ato...Poderia, também, ter tratado de questões como: se Deus poderia criar uma pedra que Ele não pudesse levantar, mas não me lembrava direito dos argumentos a favor e contra tal tese...que, aliás, são fáceis de encontrar na internet!
Sexta aula: Vou apresentar-lhes um vídeo sobre o “Inferno de Dante” Alighieri, mas que, por ser um documentário do Discovery Channel vai além, utilizando uma linguagem contemporânea, apresenta as diversas explicações do que seja o inferno até mesmo o ponto de vista do falecido papa João Paulo II, de que seja um estado mental, não um lugar.É um vídeo mais próximo dos adolescentes porque trata, por exemplo, de tatuadores que falam sobre as imagens satânicas que desenham e tatuam na pele como um processo de catarse, de lembrança de fatos desagradáveis, mas superados. Um aluno, evangélico, mostrou-me a visão evangélica de inferno; pedi que me lembrasse disto quando debatêssemos sobre o inferno. Esse mesmo aluno mostrou trechos da Bíblia em que Jesus levitava ou subia aos céus (isto ocorreu na aula em que eu mencionei o papel estético da religião, de embelezar a vida, quando eu lembrei os pintores renascentistas Rafael e Michelangelo com suas pinturas mostrando Jesus voando) e eu lhe disse que a Bíblia era um livro de literatura, de lendas. O que fazer? Há um documentário que mostra que a Bíblia foi escrita por escribas durante o reinado de Davi... Que época para se viver: um monte de páginas de papel encadernada e cheia de palavras escritas à tinta é prova de Deus?
Sétima aula: Continuação da exibição do filme “O inferno de Dante”. Eles continuam a mencionar que não gostam ou não conseguem ver filmes com legendas!
Vou fazer questões, quem sabe em forma de jogo dividindo a turma em dois grupos. Fiz isso no ano passado com as turmas de 2o ano do ensino médio. Uma aluna sugeriu que eu perguntasse a eles qual é a sua visão de inferno, não sei, quero mostrar a eles que anjos e demônios (anjos maus) não podem existir, pois não é possível seres só com forma, sem matéria, como pensava São Tomás de Aquino, em seu Tratado sobre os anjos.
Oitava aula: Fizemos um jogo entre os sexos masculino e feminino, onde o professor perguntava algo sobre o filme e quem acertasse ganhava um ponto e, quem vencesse o jogo, ganharia algo como 6 pontos e quem perdesse, 4 pontos, de um total, no semestre de 24 pontos. Foi muito produtivo, eles participaram, não teve conversas paralelas, mas se todo dia tivesse um jogo assim eles perderiam a curiosidade, algo normal, nós também, adultos, somos assim! Que questões fiz?
Nona aula: O trabalho final do trimestre foi sob a forma de palavras cruzadas. Perguntei-lhes: (1) palavra latina, um dos sentidos da palavra religião (religio), que significa religar o povo a seu Deus original (2) Religio vem de uma palavra latina que pode significar quando um povo reelege Deus como seu guia. (3) Religio pode, também, significar reler os textos sagrados. (4) Religio pode, ainda, significar uma tradição, uma relíquia herdada das gerações passadas. (5) Primeiros deuses da humanidade tinham forma de .... (6) Fenômeno natural,simboliza a ira divina... (aqui cabia no espaço: terremotos, maremotos, etc) (7) Depósito de lixo de Jerusalém no tempo de Jesus, simbolizou o inferno cristão. (8) Lugar para onde vão os que morreram, mas não foram batizados. (9) O inverno para os esquimós e para Dante Alighieri é .... (temperatura).
1 3 R
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9↓ F R I O
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Fiz algumas alterações em outras turmas: em vez de limbo pus purgatório, um lugar de espiação, onde as almas perdoadas vão para purificarem-se antes de encontrar Deus, perguntei que tipo de pecadores estavam no último círculo junto com Lúcifer (TRAIDORES) e, ainda, pedi que completassem com uma palavra (ESPERANÇA) a frase que, na obra de Dante, está na entrada do inferno: “Abandonem a _________quem entrar aqui”.
Décima e décima primeira aulas: Iniciei o estudo das cinco vias (provas) da existência de Deus, segundo São Tomás de Aquino. Não foi tão fácil quanto eu pensava: (1a) prova do movimento – tudo o que está em movimento não foi posto por si mesmo mas por algo anterior, ou seja, ninguém é causa de seu movimento. Ocorre que acreditamos que somos nós a causa de nosso movimento, sim! Como resolver esse conflito? Disse-lhes que se não tivesse o chão sobre o qual apoiássemos os pés não sairíamos do lugar! Uma aluna lembrou que as plantas embora fixas no solo também têm movimento e eu acrescentei que a luz do sol bate em suas folhas provoca fotossíntese, além do gás carbônico e da água que se movimentam dentro dela causando reações químicas, sintetizando alimento. Em nós o alimento digerido é o combustível que nos movimenta. (2a) prova da causa eficiente – de onde viemos? Dos nossos pais. E eles? Dos nossos avós? E eles? De uma série de outras pessoas que os antecederam... até onde? Disse-lhes que poderíamos ir até os primeiros imigrantes europeus e antes deles os homens das cavernas e, antes, os primeiros mamíferos, répteis, anfíbios, peixes... primeiras células e o sopão de ácidos que se combinaram a partir da eletricidade que originou a vida e, antes, o big bang que originou o universo, para resumir a história. Ou, então, de Adão e Eva e esses de um Deus, que seria um início de tudo o que existe e não requereria uma busca sem fim ou começo, como quando os cientistas dizem que este universo veio de outro e o outro de um outro, mais antigo. (3a) prova da necessidade – se neste mundo e universo há seres e objetos inanimados que não existiram sempre, incluindo o próprio universo, houve um momento no passado que não havia nada. Então, como veio a existir? É preciso, segundo Aquino, um ser que seja eterno. Houve um aluno que perguntou: o que havia antes de Deus, como Ele surgiu? Respondi que nós, por só conhecermos coisas que têm início e fim, pensamos que tudo deva ser assim, a regra geral. E se não formos a regra geral, mas a exceção?
(4a) prova da graduação – no mundo os seres estão em graus hierárquicos, os homens acima dos demais animais, estas acima dos vegetais e estes acima dos minerais, segundo a concepção aristotélicatomista (de Tomás de Aquino) e acima dos homens, anjos, com suas hierarquias (querubins, serafins, etc) até Deus. Pode-se entender esta prova assim: conhecemos o bem parcialmente em diversos graus e podemos inferir disto que deve haver um grau máximo de bondade ou, ainda, um grau máximo de perfeição, que só conhecemos parcialmente. Deus é o grau máximo de bondade, perfeição e inteligência, diria Aquino.
(5a) prova do governo do mundo – Aquino observava que mesmo os objetos inanimados tinham um movimento. Causado pelo quê? Ou quem, Deus. Leibniz, no século XVII, dirá o mesmo. Hoje, diremos: ora, é a força da gravidade. O que os alunos não sabem é que a ciência não tem uma resposta para a pergunta: o que é a gravidade? (5.1) Para Aristóteles, os objetos tinham em si mesmos um movimento natural (o que tinha mais terra em sua composição tendia para baixo, o que tinha mais ar, para cima, etc) (5.2) Para Issac Newton, ela era uma força de atração entre os corpos, embora ele se questionasse como ela exercia atração se havia o vazio entre os objetos. (5.3) Para Albert Einstein, os corpos com muita massa (massa, não gravidade!) deformam o espaço (vazio) a sua volta, por isso, corpos, como a lua, giram ao redor da Terra, pois, esta última, previamente, “afundou” o espaço a sua volta. Uma experiência para reproduzir a tese: pôr uma bola de boliche sobre uma cama e, em seguida, atirar uma bola de gude, esta irá se mover naquela área afundada. Não creio que esta tese resolva a questão, talvez acrescente um algo mais, a crença em que o vazio não é realmente vazio, mas há uma matéria ainda que não seja percebida nem visualmente, nem por instrumentos. E a minha dúvida reside no fato de que; “por que a Terra ou uma estrela ou um buraco negro” deformaria o espaço em apenas um plano? Não faz sentido. Um físico disse que a Terra deforma o espaço em vários planos, mas não vemos as outras dimensões. Eu e o gnomo que está aqui ao meu lado não concordamos com esta resposta, pois supõe existir o que não se tem provas, talvez apenas se encaixem bem em equações matemáticas, mas os números aceitam o que atribuímos a eles! (Nota: o gnomo não existe, é uma figura imaginário popular, objeto que serviu de apoio à minha ironia aos físicos).
Décima segunda aula: Entendemos interessante apresentar mais uma teoria a favor da existência de Deus e algumas objeções à sua inexistência: A favor: todos os povos, mesmo os mais isolados no planeta, têm a crença em uma força superior, um Deus. Teorias contra a existência de Deus, elaboradas por um autor chamado Sebatien Faure (18581942): - Como o mundo veio do nada? De onde veio a matéria? - Houve um transbordamento de Deus, supremo bem, e, assim, surgiu a matéria, que, distanciada, se resfriou e se “solidificou”? - Como um espírito pode manipular a matéria para criar um universo? - Como um ser perfeito pode criar seres imperfeitos? - Como é possível que Deus tenha estado inativo antes de criar o universo e, depois, ativo, ocorrendo aí uma mudança, algo inconcebível para um ser tido como imutável? - Se Deus não tem nenhum desejo, necessidade, por que criaria um universo? - Se Deus é a causa do universo e este o efeito, não há efeito sem uma causa, mas, também, não há causa sem efeito, assim, Deus e o universo são eternos! - Por que um Deus infinitamente bom criaria um universo onde os seres cometem maldade?
Décima terceira aula: Apresentaremos uma questão de vestibular que trata das cinco vias de São Tomás de Aquino: Vestibular 2008/2 - Universidade Federal de Uberlândia QUESTÃO 49 O texto que segue refere-se às vias da prova da existência de Deus. As cinco vias consistem em cinco grandes linhas de argumentação por meio das quais se pode provar a existência de Deus. Sua importância reside sobretudo em que supõe a possibilidade de se chegar no entendimento de Deus, ainda que de forma parcial e indireta, a partir da consideração do mundo natural, do cosmo, entendido como criação divina. MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67. A partir do texto, marque a alternativa correta. A) As cinco vias são argumentos diretos e evidentes da existência de Deus. B) Tomás de Aquino formula as cinco vias da prova da existência de Deus, utilizando, sistematicamente, as passagens bíblicas para fundamentar seus argumentos. C) As cinco vias partem de afirmações gerais e racionais sobre a existência de Deus, para chegar a conclusões sobre as coisas sensíveis, particulares e verificáveis sobre o mundo natural. D) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam a existência de Deus sob a influência do pensamento de Aristóteles, recorrendo não à Bíblia, mas, sobretudo, à Metafísica do filósofo grego.
Décima quarta aula: Pensamos em organizar grupos de alunos para que elaborassem perguntas sobre a existência ou não de Deus para serem enviadas pela internet na aula seguinte a religiões. Seria uma tarefa interessante, embora muitos religiosos dirão que não é preciso provas de que Deus exista, a Bíblia é suficiente. Tive esta experiência quando chamei o avô de um aluno indisciplinado que ficava a aula inteira conversando com os colegas, escutando música e de caderno fechado. O aluno ainda inventou que não prestava atenção em minhas aulas, porque eu tinha apresentado teorias da inexistência de Deus e ele se recusou fazer o trabalho, só que não pedi trabalho algum! Não nego (e antes me orgulho) de ter apresentado estas teorias, sim, após apresentar, também, as cinco vias de São Tomás de Aquino, a favor da existência de Deus, só que o avô daquele aluno disse que bastava a Bíblia!
Outro assunto, o criacionismo e o darwinismo, a disciplina de Biologia já havia tratado. Pensamos, também, em abordar a morte do cantor Michael Jackson junto com uma frase do escritor Luis Fernando Veríssimo que foi publicada em um jornal local (Zero Hora: 5 de julho de 2009): “”. Mas, por fim, decidimos fazer um trabalho que valia 7 pontos de um total de 30 (2o trimestre), especialmente porque não tínhamos feito trabalho algum e não queríamos ficar atrasados. Eis o trabalho: Escreva “V” (verdadeiro) ou “F” para falso para cada uma das frases abaixo: 1. ( F ) Aquino desistiu da sua prova do governo do mundo após Newton formular a lei da gravidade. [disse-lhes que Aquino viveu no séc. XIV e Newton, no XVI, mas não é preciso saber disso, basta que se saiba que Aquino formulo 5 provas, incluída a 5a, do governo das coisas, cujo exemplo mais simples é “uma pedra cai, porque não tem movimento em si mesma, mas uma força a puxa, Deus”] 2. ( V ) O fato de uma criança vir de seus pais e estes de seus pais e assim em uma série sem fim (ou sem começo), para Aquino, é um absurdo. 3. ( V ) “Todos os povos crêem em um ser superior”, por isso, esta é uma prova da existência de Deus [Deus aqui em um sentido amplo, não um Deus cristão]. 4. ( V ou F ) “O universo não pode ter vindo do nada”, é uma prova da inexistência de Deus (não necessariamente, pois de um lado, a igreja cristã defende isso, que veio do nada, mas há outro ponto de vista, que se não veio do nada, então veio de um Deus e, felizmente, meus alunos perceberam isso!) 5. ( F ) Se há mal e este está em algum grau nos homens é de se supor que exista um ser que tenha o mal em um grau máximo, segundo Aquino. [Aquino nunca defendeu isso, apenas que Deus é o grau máximo de bondade ou bem] 6. ( V ) Um ser não dá a si mesmo a causa de sua existência, assim é preciso que exista um ser que seja a causa da existência de tudo o que existe, Deus, para Aquino. 7. ( F ) “O perfeito vir do imperfeito” é uma prova da inexistência de Deus. [o certo é o imperfeito vir do perfeito...] 8. ( ) “se Deus é a causa do universo existir e este o efeito, não há causa sem efeito, mas, também, efeito sem causa”e, por isso, este é um argumento a favor da inexistência de Deus. [ou, pelo menos, da co-existência entre Deus e o universo] Nota: os alunos se espantaram pelo fato de o professor lhes dar 7 pontos por apenas copiar, mas, desse jeito, eu consegui alguns momentos de paz, atenção e participação deles, tão raros!
Décima quinta aula: Não queremos deixar de apresentar o filme “o segredo”, propondo o debate: o universo atenderia nossos objetivos? Ele é Deus? Eu, inicialmente, lhes apresentei as ideias centrais daqueles que escreveram e proferem palestras sobre o segredo, a lei da atração e o valor do pensamento positivo:
Posteriormente, pediremos aos alunos que fixem 10 grandes objetivos para suas vidas, isto os fará olhar além do dia a dia e pensar na vida inteira que terão pela frente.
Décima sexta aula: Uma descoberta interessante surgiu em minha mente: ao pedir que eles pensassem e listassem seus objetivos para a vida toda, observei que eles ou pensavam mais em si mesmos, ou havia um equilíbrio entre suas necessidades pessoais e alguma preocupação com as outras pessoas. Assim, aproveitei a oportunidade para: (a) mostrar a eles, sem citar nomes, que eles tinham objetivos parecidos entre si, mas, também, com seus pais e a música da Elis Regina que dizia que “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”, fazia sentido, embora os adolescentes achem os adultos “ridículos, ultrapassados”. (b) mostrar que ali estava um instrumento para medir o egoísmo e o altruísmo de um modo objetivo (e isto foi interessante!). por exemplo: bastaria somar quantos objetivos estavam voltados para a própria pessoa e quantos para o bem dos outros e... pronto poderíamos dizer até em um percentual o quanto que a pessoa era egoísta ou altruísta. Se 9 em cada dez objetivos eram centrados na pessoa, ela é 90% egoísta; se 4 em cada 10 objetivos eram voltados às outras pessoas, ela era 60% egoísta, bem abaixo do exemplo anterior. Observamos, também, que ninguém chegou a 100% de egoísmo, mas nem a 0% de egoísmo ou 100% de altruísmo. Com este exercício deixei de realizar um outro semelhante: eu ia pedir aos alunos que construíssem um medidor de bondade, um instrumento qualquer que fosse capaz de medir quanto uma pessoa é boa e quanto é má.
Há, também, na internet um site (The Sect of Homokaasu - The Gematriculator) em que ao digitarmos um texto, conforme o uso de certas palavras ou mesmo letras, o programa calcula o quanto somos bons. Curioso, não?
Décima sétima aula: Apresentamos aos alunos um texto, uma reportagem, publicada na revista Superinteressante, acho que de setembro de 2008, onde é relatada uma pesquisa onde se conclui que “o livre-arbítrio é uma ilusão”: cientistas da Universidade de Berlim observaram que pessoas diante de um computador, postas ali para escolher entre letras que lhe são apresentadas, pensam que o momento em que decidem é aquele em que elas pronunciam a sua escolha ou apertam um botão, mas, segundo os pesquisadores, através de um aparelho de ressonância magnética, o momento em que elas realmente decidiram foi cerca de 10 segundos antes, inconscientemente, isto é, sem ter consciência desta decisão. Pedi que os alunos resumissem o texto para ver se tinham lido e compreendido a pesquisa. Para algumas turmas, pedi, ainda, que imaginassem uma experiência pessoal e a relacionassem à pesquisa alemã; poderia ser algo como: estou diante de duas camisetas e vou escolho, às 10h, a de cor azul, mas, segundo a pesquisa da Universidade de Berlim, meu cérebro escolheu por mim, antes, às 9h50min50seg! um aluno apresentou uma tese muito interessante contra a conclusão daquele cientistas: o cérebro escolheu antes, porque esta era a escolha que já tínhamos feito antes, ou seja, o cérebro apenas tomou uma decisão automática que nós (uma alma ou um eu) tínhamos ensinado a ele!
Eu tenho uma teoria sobre o livre-arbítrio, a crença de que diante de duas ou mais alternativas podemos escolher livremente uma delas: imaginemos duas cores, azul e amarelo, se fossem vistas ao mesmo tempo por nós, como alternativas das quais escolheremos apenas uma, seria realmente possível vê-las ao mesmo tempo? Pois, o azul e o amarelo vistos ao mesmo tempo, juntos, superpostos, não dá verde?
Décimas sétima e oitava aulas: Planejamos falar sobre alma. Existe? O que é? É terna ou morre com o corpo? Para isso, apresentaremos as teses de alguns filósofos como Platão, Aristóteles e René Descartes. Mas, antes, aceitamos a sugestão de uma aluna para tratar do aborto: se é crime ou não, se pode ser feito ou não? O debate transcorreu livremente entre os alunos, uns dizendo “que se é homem e mulher para fazer um filho deve assumi-lo”, até que resolvi intervir para ajudar e perguntar: há liberdade para escolher entre fazer ou não aborto? Somos realmente livres? Outros disseram que era ilegal e eu lhes perguntei: “por que devemos seguir o que nos dizem os senadores, especialmente aqueles que estão todo dia na tv envolvidos em irregularidades?”. Seria imoral matar? E um leão não mata os filhotes de outro leão? Aí, me disseram que o leão é irracional. Então, sem entrar na definição do que é ser racional, lembramos de um pai que jogou a própria filha da janela. Agiu segundo a natureza, matando a própria filha? Para não ficarmos em um debate sem uma direção, apresentei-lhes em duas aulas teses religiosas (dogmas), filosóficas e científicas sobre o aborto: há momentos em que podemos fazer aborto sem considerá-lo uma ameaça à vida do feto? Para isso, lembramos de uma reportagem da revista superinteressante. Eis um resumo: Catolicismo A vida começa na fecundação do óvulo pelo espermatozóide.
Judaísmo Islamismo A vida começa 40 A vida começa dias após a quando Alá sopra a fecundação. alma no feto, 120 dias após a fecundação.
Budismo A vida não começa na fecundação, pois, tudo é vivo, até a água, por exemplo.
Hinduísmo A vida começa quando alma e corpo se encontram na fecundação.
Entre as observações que eu fiz, a principal foi perguntar: como estas religiões, muito antigas, vivendo no deserto, poderiam determinar o momento da fecundação? Um aluno respondeu: quando parasse a menstruação. Dissemos, sem lembrar direito, que havia um número de dias entre a menstruação e a ovulação, sem dizer da irregularidade do ciclo hormonal feminino. De qualquer modo, se tomassem a interrupção da menstruação, ainda assim, poderiam errar em duas semanas. Seria um erro fatal? Talvez, não, como veremos mais adiante no quadro sobre as teorias científicas. Na semana seguinte tivemos uma visita de uma orientadora sexual, de uma empresa farmacêutica e ela nos deu uma dica fácil sobre o uso da tabela como um dos métodos contraceptivos, embora nem sempre confiável: Se a mulher mestroa no dia 1o, por exemplo, ela observa que sua próxima menstruação será perto do dia 1o do outro mês. Então, ela subtrai 15 dias e sabe que no dia 15 do
presente mês ela ovulará e mais: saberá que 4 dias antes e 4, depois da ovulação, ela estará no período fértil, capaz de engravidar. A seguir, apresentei aos alunos algumas teses sobre em que momento se poderia fazer ou não aborto: Platão: para ele, a alma só entrava no feto na hora de seu nascimento; Papa Gregório 9o: o embrião não formado não poderia ser considerado um ser humano; Para Pio 9o: diante da dificuldade de obter um consenso entre cientistas e teólogos, ele decidiu que a vida começa na união do óvulo com o espermatozóide. Fecundação não é instantânea: a ciência descobriu que esta união não é instantânea, leva de 12 a 24 horas para se completar. E, além disso, leva até 15 dias para saber se o zigoto (óvulo + espermatozóide) originará uma vida ou duas, três ou mais vidas. Fixar-se no útero: há 50% de chance de que o zigoto não consiga se prender às paredes do útero após uma jornada que se inicia em uma das trompas. Gastrulação: somente a partir da 3a semana, quando o feto tem o tamanho de uma cabeça de alfinete, é que a ciência tem certeza do número de vidas que o zigoto originou, para alguns, neste momento surgiria um ser humano, com direito à vida. Ondas Cerebrais: para outros cientistas a vida só tem início quando o feto tem atividade cerebral. a Na 5 semana, já há neurônios, na 6a, sinapses, células nervosas que ligam um neurônio a outro, na 7,5a semana, há os primeiros reflexos a estímulos e na 8a, há um circuito de três neurônios, base para o pensamento racional. Outros cientistas, acreditam que é só na 20a semana que o feto tem vida, pois, o tálamo, parte do cérebro que centraliza as sensações, está pronto. Os defensores das teorias da 8 a ou da 20a semana crêem que só há um ser humano quando as conexões neurais estão prontas, pois, aí, adquirirão “humanidade” e “consciência de si mesmo”. Decisão judicial: Em 2004, o Supremo Tribunal Federal do Brasil, autorizou o aborto de fetos sem cérebro (anencéfalos).
Décima nona aula: A seguir, veremos algumas teorias sobre a existência ou inexistência de alma. Seus tipos, relacionadas ao funcionamento dos corpos, em homens e vegetais, às funções superiores, como percepção e memória, sua localização, etc. Demócrito: a alma como átomos esféricos, formato que possibilitaria um movimento mais rápido para entrar e sair de corpos. Heráclito: a parte da alma que tem a função de pensar é inspirada por nós quando acordamos, mas, quando dormimos, ela nos escapa, o que explicaria por que sonhamos, mas a grande contribuição (boa ou má, isto é, se levou outros pensadores a teorias equivocadas ou acertadas) de Heráclito foi pensar que a alma tem partes. Nota: em uma outra turma, que antecipamos o período por ausência de um outro professor, pedimos que eles elaborassem 10 perguntas com respostas sobre um tema livre, mas relacionado à religião. Dei o exemplo dos jogadores de futebol que rezam antes do jogo ou do recém eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que foi criticado durante a campanha, por ser filho de um muçulmano, ele poderia tender a apoiar os terroristas, um absurdo; lembrei, também, que a candidata a vice-presidente da chapa adversária, não sei o que Paulin (tal a insignificância política), era ligada à religião cristã ultraconservadora do Alasca, cujos dogmas envolvem proibição à pesquisa com células tronco (proibição com a qual toda pessoa que respeita a vida humana deveria concordar, exceto, quando se usa células tronco dos cordões umbilicais), mas ela e sua religião pensavam que Deus voltaria no Alasca! Sobre o exercício proposto, os alunos tiveram inicialmente dificuldade de entendê-lo, mas penso que ele foi útil para forçar os alunos a refletirem sobre algo que eles não tinham pensado, especialmente
porque a religião está em tudo: pense em maquiagem feminina (e, hoje, em menor grau, a masculina), embora não saibamos a origem (egípcia, ameríndia?), ela destaca as feições do rosto para produzir beleza e a beleza não faz o tempo parar? E quando o tempo para, não é algo a-temporal tal como a eternidade? E o belo não é (dizemos) algo divino? Uma verruga e a religião? Há um ditado popular que diz que não se deve apontar o dedo para uma estrela cadente, porque surgirá no dedo uma verruga! Assim, não se deve apontar para as estrelas, que os antigos pensavam que fosse um mundo eterno (supralunar) e apontar o dedo pode ser símbolo de desafio, assim, não se deve desafiar os céus ou aquilo que é eterno? Claro, eu sei que uma conclusão como esta é algo que não se deve esperar nem de alunos de faculdade..., mas, certamente, porque os educadores não estimulam tais reflexões!!
Vigésima aula: Apresentei a teoria de Platão sobre a alma: - ela está encarcerada no corpo (um aluno se opôs: disse que é o corpo que sofre o que a alma lhe faz,semelhante a tese de Demócrito: “se o corpo pudesse levar a alma ao tribunal, a acusaria de maltratalo!”); - a alma move a si mesma, o pensamento parece ser causado por si mesmo, por exemplo, assim, o que tem em si a sua própria causa é eterno; - a alma existe antes do corpo e contempla as verdades eternas quando está junto de Deus, como as verdades da matemática (a soma dos ângulos internos de um triângulo é 180o, hipotenusa ao quadrado é igual a soma do quadrado dos catetos, etc). Se a alma contempla verdades eternas é porque ela mesma é eterna. Aqui, poderia ter falado sobre a obra Mênon, na qual Platão, na voz de Sócrates, exemplifica esta tese ao perguntar a um escravo noções de matemática que a alma já trazia consigo: Qual a área de um quadrado de lado 2? 4, respondeu o escravo. E qual a área de um quadrado com o dobro do lado? 8, respondeu o escravo. Sócrates, o corrigiu: a área produzida é 16, observou que a alma do escravo sabia disso, mas não recordava bem e, acrescentou, que se dividirmos o quadrado em quatro partes e desenharmos uma diagonal em cada um deles, geramos um novo quadrado, este sim, de área 8.
- Deus é uma espécie de artesão que molda na matéria formas, como a forma humana. NOTA: Em umas das turmas, falávamos sobre a possibilidade de existirem espíritos e estes interagirem com os vivos (de carne e osso). Falei que o espiritismo defendia que há um perispírito que une matéria e espírito, mas, perguntei: o que os une ao perispírito, ele é material ou eterno? Se há nele as duas naturezas, o que as mantém coladas nele? Se parasse de correr, o que impediria minha alma de continuar em movimento? Lembrei, ainda, da imagem de água e óleo que não se misturam: assim eu via a idéia de que alma e corpo não poderiam interagir!
Falávamos, também, de um filme que passou na tevê e cuja frase: “o mal é a prova da existência de Deus” o iniciava. Um aluno disse que sem o mal não há bem e lhe perguntei se no paraíso há mal e se só houver bem, então eles não precisam existir juntos sempre! Perguntei, também, se há um mal absoluto ou se o mal é relativo como, quando o professor dá uma nota baixa achando que está fazendo o bem e o aluno vê a avaliação como um mal que lhe atingiu!
Falei, ainda, sobre a aura que os espíritas crêem ser a foto da alma. Mas, como explicar que pedras tem, também, aura quando tiramos fotos delas? Tem elas também alma e vão para o céu depois que se desagregarem ou racharem?
Vigésima primeira aula: Relembrei em uma turma as três partes da alma, segundo Platão, procurando faze-los refletir para o fato de que a partir de um exercício anterior (10 objetivos para a vida) podemos saber qual parte da alma predomina em cada pessoa: - Racional (abstrata, o pensamento sobre o pensamento, sem relação com a vida material); Irascível ( a parte relacionada à coragem, mas, em excesso, à raiva), uma parte política em nós; e, - Concupiscível (a parte que lida com os desejos do corpo, sede, fome, segurança, sexo). Lembrei dos exemplos de objetivos dados pelos próprios alunos: alguém que deseja uma casa, quer um lugar para ser feliz, (a) uma decisão racional, mas, pode querer uma casa maior que as demais, uma escolha concupiscível, (b) se quiser atrair outras pessoas para tirar delas vantagens, meros objetos ou, ainda, irascível, (c) se quiser mostrar aos outros que é melhor que as demais pessoas.
Falei, também, das partes da alma, segundo Aristóteles: - nutritiva (relativa ao crescimento dos seres, presente em plantas e animais); - sensitiva (relacionada às sensações); - racional; - imaginativa (perguntei-lhes como a imagem de uma cidade inteira poderia caber no cérebro? Seria prova de que a memória surge na alma e esta não tem limites, isto é, infinita? Um aluno disse que as imagens poderiam estar guardadas como uma série de fotos que colocamos uma ao lado da outra ou, então, lembrei-lhes que um chip de computador, embora pequeno guarda milhares ou milhões de fotos! É CURIOSO COMO PODEMOS EXPLICAR MAISFACILMENTE A NÓS MESMOS RECORRENDO A TECNOLOGIAS COMO COMPUTADORES E CÂMERAS DE VÍDEO, POR EXEMPLO!!).
Vigésima segunda aula: Nesta aula, terminamos as teorias da alma com Aristóteles e René Descartes. Para Aristóteles, a alma e o corpo não podem ocupar o mesmo lugar. A isso os alunos rebatem dizendo que a alma não é física e, por isso, poderia ela estaria junto ao corpo todo. Mas, então, voltamos à questão da aula anterior: o que liga a alma ao corpo. Se eu estiver correndo na rua e parar abruptamente, o que impedirá que a alma saia do corpo? É curioso como estes adolescentes aceitam as teorias que lhes ensinaram e as tomam como verdade. Parecem nem ouvir o que dizemos, nem argumentos os convencem. Estão surdos a eles! Voltando a Aristóteles: a alma, não podendo ocupar o mesmo lugar que o corpo (vê-se aqui que a alma é algo físico para Aristóteles, embora de uma natureza material mais sutil, como os gregos pensavam). Onde está a alma para ele? Do lado de fora! Ela é a forma do corpo. Ela é transmitida do pai para os filhos, não da mãe (para ele, a mulher é um homem deformado), ela só dá ao filho a matéria. Dei o exemplo da cicatrização, quando cresce a matéria até o limite da forma, não mais que isso. Uma lagartixa que perde o rabo, vai reconstrui-lo até formar um rabo. Como o corpo sabe até onde crescer? Genético? Para Aristóteles, se estivesse vivo, diria que há uma forma que limita a matéria, embora ele tenha dito que a alma é como um carimbo que dá forma a cera (matéria), mas onde está o carimbo?
René Descartes tem uma teoria genial: * a alma não é a fonte da vida (COMO MUITOS PENSAM AINDA HOJE) , pois, se fosse, seria culpada pela morte, porque a morte ocorre quando aquilo que causa vida (a alma, como supõe-se) deixa o corpo, o abandona.
* Outra de sua teoria consiste em tentar localizar um lugar da alma dentro do cérebro, na glândula pineal, que fica no centro do cérebro e, para ele, parecia o lugar ideal para que ali a alma, aquilo que pensa, decidisse seguir as inclinações (e paixões) que vem do corpo e lhe informam e incitam a agir. Hoje, a ciência observa que as respostas do cérebro para o corpo são muito rápidas para que pudessem ser submetidas a uma alma racional. E as pessoa que não tem a glândula? Cuja função está relacionada, sabe-se hoje, é “regular os chamados ciclos circadianos, que são os ciclos vitais (principalmente o sono quando produz melatonina, ao ser estimulada pela escuridão e inibida pela luz, hormônio que age no sistema nervoso) e no controle das atividades sexuais e de reprodução (ela tem tamanho grande na infância e diminui na puberdade)” (Wikipédia). * há, ainda, uma terceira contribuição cartesiana: os animais não têm alma, são só corpo (como uma máquina) e somente os seres humanos teriam corpo e alma (aquilo que pensa). Digo aos alunos que esta tese influenciou muito a ciência e , por isso, ainda hoje, animais são utilizados como cobaias em pesquisas científicas. Em contrapartida, fala-se muito, hoje em direitos dos animais ou, além, libertação dos animais das péssimas condições a que são submetidos, em laboratórios ou fazendas para abate.
NOTA: Há algumas questões para debate. Se a alma não é a fonte da vida, então, o que causa a vida? Minha resposta é: os alimentos que comemos, o ar que respiramos. E a consciência, é orgânica? Parece não ser. Quando as sensações entram no corpo e vão ao cérebro, ficam guardadas nos neurônios, mas deve haver um lugar em que elas sejam percebidas. Se tudo for matéria, como a matéria percebe que há outras matérias, isto é, sensações que impactam em algum lugar do cérebro? Temos uma teoria sobre a consciência: ela não parece ser orgânica, pois não se submete a certas experiências como quando prendemos a respiração (um ato voluntário de uma função que, em geral, é involuntária), mas você não pode parar de ter consciência!!
Vigésima terceira aula: A seguir, realizamos um trabalho visando revisar as teorias e aproximá-las dos alunos. Pedi, então, que eles imaginassem uma pessoa e através dela explicassem a sua alma, a partir das teorias estudadas. A maioria, contudo, apenas copiou as teorias estudadas, exceto por uns poucos bons trabalhos, como aquele que escreveu que, para Descartes, o corpo daquela pessoa imaginada é como um fantoche comandado pela alma, localizada no cérebro.
Vigésima quarta aula: Na aula seguinte, apresentamos dois vídeos, um deles para quatro dos cinco primeiros anos, “O fim da colheita” e o outro, “Um amor para recordar”, para uma turma, pois, uma aluna havia com antecedência pedido para vê-lo. Disse que não haveria problema, desde que eu o assistisse antes para saber se se tratava de um filme com temas religiosos e, por sinal, um filme muito interessante e da idade dos alunos, embora chame a atenção mais das alunas, pelo romantismo. O filme trata da historia de um garoto rebelde que se apaixona aos poucos por uma menina religiosa. Descobre, no final que ela tem leucemia e morre, mas transforma a vida dele, de rebelde em homem adulto e responsável.
O filme “O fim da colheita” foi um aluno me emprestou e, depois, lhe pedi que fizesse uma cópia para mim; eu gosto muito que eles dêem sugestões: uma vez, uma aluna me convidou para um musical, mas, tímida, não me disse que era de um grupo adventista “Mais que amigos”, outra aluna, ou melhor, seu pai, mandou-me, por ela, um livro (Os manuscritos de Jesus, de Michael Baigent) sobre uma prova de que Jesus estava vivo muitos anos depois da data de sua crucificação!
Bem, do que trata o filme “O fim da colheita”? Ele mostra um grupo de estudantes universitários cristãos apresentam suas crença em Deus a um clube de filosofia. Primeiro, um deles diz que Deus é uma força invisível que ele sente porque tem fé, mas os filósofos se opõem a essa tese pois não há como prová-la. Então, outro cristão resolve apresentar uma tese que ele encontrou na biblioteca que diz que Deus criou o mundo em sete dias e estes sete dias corresponderiam a mil anos cada. Assim, desde Adão até Cristo teriam passado 4 mil anos e de Cristo até hoje, mais 2 mil anos. Assim, o fim do mundo estaria próximo. Este filme, me parece tendencioso, pois mostra os filósofos como arrogantes, embora eles apenas queiram provas (que mal a nisso!), em nossa opinião, é útil, porque dá valor à busca de respostas, justificativas, provas, além da simples fé (além do mais como distinguir esquizofrenia de inspiração divina?). É tendencioso, também, porque parte de uma premissa questionável (duvidosa): pressupõe que cada um dos sete dias corresponde a mil anos, mas Adão foi criado no primeiro dia? Outro filme, não exibido, mas bem polêmico é “O túmulo secreto de Jesus”, que discute uma possível localização para o resto de ossadas que poderiam ser de familiares de Jesus Cristo. Embora não
tenha sobrado ossos de Cristo, se questiona se isto alteraria a crença em sua ressurreição? Muitos religiosos dizem que não, que ossos são resquícios de um corpo, apenas.
Vigésima quinta aula: Pedimos um trabalho final à turma: entrar em contato com religiões e religiosos através de e-mail ou pessoalmente e fazer a eles 5 perguntas onde conste temas estudados no último trimestre ou no ano todo: significado de religião, teorias a favor e contra a existência de Deus, teorias sobre a alma. Assim, ficariam mais próximos do mundo real e conheceriam como teorias afetam e são entendidas pelas outras pessoas [FIM].