● REGRAS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DOS TIPOS SOCIAIS – CAPÍTULO IV
A sociologia durkheimiana tem como grande influência a filosofia, até porque seu fundador foi graduado nesta disciplina, que tem com um dos princípios: a necessidade de conceituar termos. Uma propensão a considerar as definições como realidades ou, no mínimo, pensar que a dessemelhança dos tipos e das espécies está inserida na própria realidade. Na sua forma de pensar a sociologia, Durkheim coloca os problemas de conceituação e classificação em planos primordiais. Desta forma, ele produz regras para a identificação de tipos sociais, que no decorrer do texto ele substitui o termo tipo por espécie que tem o mesmo significado. O argumento por ele utilizado do por quê do uso de espécies sociais no método sociológico é porque “acham-se reunidas tanto a unidade que toda pesquisa verdadeiramente científica exige, como a diversidade que é dada nos fatos [...] e, por outro lado, as espécies diferem entre si.”1 Seguindo fielmente o método descrito pelo autor, o próximo passo é substituir os fatos vulgares, que são apenas demonstrativos e prolixos despertando definições desconfiadas, ou seja, sobra na quantidade e falha na qualidade, por fatos mais decisivos, que por si só tenham valores científicos. Estes fatos seriam da natureza da própria espécie, do modo como eles se combinam e do número dos elementos componentes, é o que Durkheim chama de morfologia social. A morfologia social, para o sociólogo francês, é o meio social interno, isto é, são os indivíduos, que possuem uma densidade moral, e as instituições, que por sua vez, possuem densidade material, sendo a morfologia social a causa do fato social, portanto. Servindo de base e permitindo ao pesquisador olhar para frente buscando perspectivas para fatos futuros. Encurtando “o trabalho científico ao substituir a multiplicidade indefinida dos indivíduos por um número restrito de tipos”2. O autor Da divisão do trabalho social sugere que utilizamos como pontapé inicial o grupo mais simples. Parte da definição que é “toda sociedade que não encerra 1
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 3. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Coleção tópicos), p. 78. 2
Ibidem, p. 81.
outras, mais simples do que ela; que não apenas está atualmente reduzida a um segmento único, mas também que não apresenta nenhum traço de uma segmentação anterior.”3 E a horda seria esse ponto de partida, pois se “justapõem à maneira de átomos” e “esse é o protoplasma do reino social”, vide os termos utilizados pelo próprio autor, salientando a influência das ciências naturais no seu método sociológico. Após a horda vem o clã, que é formada pela reunião de hordas. Por isto ele produz uma classificação das sociedades que se fundamenta no preceito de que o distinto grau de complexidade é que a fazem singular. Nesta classificação se encontram: sociedades polissegmentares simples, formadas pelo agrupamento de clãs justapostos como exemplo, as tribos iroquesas, australianas e cabiles; sociedades polissegmentares compostas, diferentes da justaposição apresentada pela anterior, aparecem reunidas em um conjunto social superior, como a confederação iroquesa; e por último, as sociedades polissegmentares duplamente compostas, que são o produto da justaposição ou união das várias sociedades do tipo anteriormente citada, como exemplo, pensamos nas sociedades gregas e romanas. O autor atenta para singularidade de cada sociedade menor inserida nesta tipologia, pois caso não mantenham uma certa individualidade serão assimiladas pela massa total. Nas últimas páginas do texto o autor justifica o uso das espécies sociais observando que há espécies sociais pelo mesmo motivo que existem espécies em biologia.4 Como escrevi previamente, muito do modo como Durkheim pensa a sociologia se deva a filosofia por ele estudada como graduando. E se refletirmos, é possível que a espécie, para voltarmos na terminologia utilizada pelo francês, de filosofia usada pelo autor seja a cartesiana, além claro da positivista. Seguindo metodicamente as regras estabelecidas o sociólogo alcançaria um status realmente científico.
3
Ibidem, p. 83-84
4
Ibidem, p. 88