No texto O tempo e os tempos na fotografia, Dante Gastaldoni, o tempo foi enfatizado dentro de seus diversos aspectos; o tempo cronológico, o tempo fragmentado e o tempo social. Na analise das obras propostas os diversos tempos podem ser relacionados. Primeiro, considerando obviamente a evolução da história da própria arte, produtos carregados da linguagem de um tempo e de sua cultura, uma memória cultural, um registro. Segundo, com certeza o mais importante, o tempo fragmentado, o que diz respeito à linguagem inerente a cada obra e a forma que as mesmas lidam com o tempo e sua fruição. Na obra de Le Gray, a fotografia Onda, de 1856, objeto próprio do estudo do texto, a foto marca o captar de um instante, o fragmento de um tempo, uma imagem síntese na paralisação de um movimento. Na obra de Gaetano Pesce, o tempo é entendido na materialização da obra, no dilatar da poltrona, na formatação da identidade da peça que se apresenta ao observador, o movimento interno como princípio estruturador da forma no temp. No trabalho de Roberth Smithson, Píer em Espiral (1970), o movimento do observador e o deslocamento do mesmo pela obra, e as perspectivas criadas por esse deslocamento e mudanças de ponto de vista, estabelecem um tempo que é o da fruição e constituição da obra. Com Monet e a Estação de Saint-Lazare (1872), o tempo é estabelecido pela leitura da obra e de sua estrutura de imagem, delicada e de atmosfera cambiante, formas instáveis e pinceladas leves e rápidas. No filme “ Entr’acte” (1924, a obra de Rene Clair se apresenta com todo um ritmo marcado pelo tempo, através do uso da câmera lenta e das seqüências desconexas das imagens mostradas. No Trenzinho (1966), escultura de Mira Schendel, o tempo é caracterizado pela fragilidade, pela transitoriedade, propostas na leveza da obra cuja gramática de materiais frágeis duram apenas o instante da observação, aborda o tempo instantâneo. Ambas as obras lidam com o tempo estabelecido entre o objeto/obra/filme apresentado e o observador. O tempo da fruição da representação e da sua ideologia, Le Gray, com o pictorialismo, na produção da imagem com qualidade artística; Pesce, com a tendência pop, voltada para o consumo imediato, Smithson, a experiência estética definida pelo deslocamento do observador na paisagem. Com Monet e o Impressionismo, a sensação difusa do tempo e do espaço; já Rene Clair, e sua ironia dadaísta dentro da visão iconoclasta; com Mira Schendel, a forma leve a brevidade das coisas e a renúncia ao peso clássico. Temos ainda em cada processo estilístico apresentado a marca social e estética, no Impressionismo, o tempo é valorizado na pintura ao ar livre, na observação da natureza e no registro da experiência contemporânea. No Dadaísmo, a contestação dos valores tradicionais da época, já problematiza o tempo vigente, e a transitoriedade é marcada na valorização da idéia ou processo metal em oposição ao produto. Com a Land Art. O tempo fica conectado a obra e sua inclusão na paisagem. Concluo com isso, que o tempo é inerente a tudo, na construção da história, na forma que está história é apresentada e principalmente no sentido e na idéia que se associam a própria história. As artes visuais e seu processo de materialização e fruição só podem assim ser estabelecidas por uma linguagem associada ao tempo. Viviane Marques