A COMPREENSÃO FILOSÓFICA DA ARTE CONTEMPORÂNEA: uma alternativa didática para o ensino de filosofia1 Marciana Zambillo*
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Introdução O presente trabalho está ligado ao projeto de pesquisa: As interconexões entre conteúdo e método: Conseqüências para o ensino de filosofia2, que visa investigar as relações entre conteúdo e método no processo de pensar a filosofia e o exercício do filosofar a fim de prescindir possíveis conseqüências para o ensino de filosofia. Buscamos analisar o ensino de filosofia, para além de sua dimensão didático-pedagógica. Nesse sentido, propomos uma melhor qualidade da atividade filosófica através da relação com outros saberes, a fim de suprir a necessidade de qualificar a reflexão sobre a didática da filosofia, dessa maneira, fez-se necessário deslocar a atenção para a relação entre filosofia e outro saber. Tendo a arte uma atitude enigmática, sedutora e intrigante, optamos por ela, esse tipo de expressão, por se encontrar na fronteira do conceito filosófico, pode Texto elaborado para o VII Simpósio Sul-Brasileiro sobre o Ensino de Filosofia: Filosofia e Sociedade. Esse trabalho é decorrente das discussões sobre filosofia da arte desenvolvidas pelas acadêmicas Marceli Andresa Becker e Marciana Zambillo, dos quinto e terceiro níveis do curso de Filosofia da UPF, respectivamente, e pelo professor orientador Dr. Gerson Luís Trombetta através do projeto de pesquisa intitulado As Interconexões entre Conteúdo e Método: conseqüências para o ensino de filosofia. 1
*
Acadêmica do Curso de Filosofia – LP da Universidade de Passo Fundo, bolsista de Iniciação Científica pelo projeto de pesquisa: As interconexões entre conteúdo e método: Conseqüências para o ensino de filosofia, sob orientação do professor Dr. Gerson Luís Trombetta Universidade de Passo Fundo. Telefone: 54 3337 1049; 54 9937 4719. Endereço: Alfredo Rocha, nº 30 / Centro / Estação - RS. *
Projeto, cuja linha de pesquisa, está integrada no Grupo de pesquisa cadastrado no CNPq (Filosofia e Educação), desse mesmo projeto tem-se o Grupo de pesquisa de Filosofia da Arte, do qual fazem parte as acadêmicas Aline Bouvié, Marceli Andresa Becker e Marciana Zambillo. Projeto orientado pelo professor Dr. Gerson Luís Trombetta. 2
ajudar a filosofia a esclarecer seus próprios temas. Tal encontro acusa-se favorável, pois torna a filosofia mais próxima dos alunos, além de criar alternativas prazerosas ao ato de discutir problemas filosóficos. O estudo das teses de Arthur Danto tem contribuído para evidenciar um novo tipo de arte no século XX, uma arte que já não se define tacitamente como no século XIX, uma arte autoconsciente, geradora de indagações. A partir do século XX a deflagração de novos conceitos, modos de produção artística, a consciência que a arte toma de si mesma e o conseqüente rumo da historicidade das obras de arte, abrem novas interrogações que a
filosofia
procurará
analisar.
Com
respeito
a
isso
são
bastante
elucidativas as contribuições de Arthur Danto. Neste artigo, pretende-se apresentar e problematizar as análises de Danto em torno da pop arte, considerada o limite do moderno na arte, com isso busca-se uma alternativa ao ensino de filosofia. O artigo está organizado em três atos: Primeiramente
tem-se
uma
breve
apresentação
de
Arthur
Danto,
posteriormente far-se-á a análise e a problemática do estatuto da obra de arte, em um terceiro momento a análise do fim da arte. I Arthur Danto: Artista, crítico e filósofo De
acordo
com
a
entrevista
concedida
por
Arthur
C.
Danto
à Natasha Degen3, o autor nasceu em Michigan, em 1924, é professor de filosofia na Universidade de Colúmbia. Não apenas sua experiência como artista em meio ao movimento expressionista na década de 1950, como também o seu espanto diante das Brillo Boxes4 em 1964, e sua proclamação do fim da arte, foram pontos marcantes para sua carreira como crítico. Após estudar arte na Universidade Estadual de Wayne, Natasha Degen é editora do Daily Princetonian, jornal da Universidade de Princeton. A Entrevista foi publicada na versão eletrônica da revista The Nation em 18 de agosto de 2005. 4 Esculturas em caixa Brillo Box, exibidas na Stable Gallery, em 1964. Criadas pelo artista norte-americano Andy Warhol. Obra sem nenhuma distinção das caixas de sabão verídicas e facilmente encontradas em qualquer supermercado da época. 3
Danto prosseguiu sua curta carreira artística em Nova Iorque, nos anos de 1950, além de estudar filosofia. O conflitante encontro entre Danto e as caixas de sabão de Andy Wahol, ocorreram na Stable Gallery, em abril de 1964. Fato que forneceu além de espanto e indignação o impulso que Danto precisava para começar a escrever sobre o novo movimento. Como era possível que caixas
de
qualquer
sabão
comuns,
supermercado
encontradas
fossem
vistas
em
como
obras de arte? Tal questão o levou a escrever The
Warhol e sua obra: Brillo Boxes, na Stable Gallery, 24 de Abril, 1964. Foto de Fred W. McDarrah.
transfiguration of the commonplace5, em 1981, depois deste, diversos livros sobre arte foram publicados pelo autor, traduzidos para o português temos: A Transfiguração do lugar comum e Após o Fim da arte: A arte contemporânea e os limites da história6. Em 1990, ganhou o prêmio de Crítica National Book Critics Circle. Danto escreve regularmente para o The Nation, desde 1984. Atualmente vive em Nova Iorque com sua esposa, a artista plástica Barbara Westman.
Título original: The Transfiguration of the Commonplace, em 1981 (A Transfiguração do Lugar-Comum, publicado no Brasil em 2005, pela editora Cosac Naify). 6 Título original: After the end of art: contemporary art and the pale of history, em 1997 (Após o fim da arte: A arte contemporânea e os limites da história, publicado no Brasil em 2006, pela editora Odysseus). 5
II Estatuto da obra de arte A arte é um fenômeno demasiado diversificado para que possa ser encontrada uma essência comum a todas as suas manifestações, o que equivale a dizer que não podemos encontrar condições necessárias e suficientes para a sua identificação, ou seja, condições que uma vez presentes nos garantam que estamos diante de obras de arte. O que há em comum, afinal, entre o teto da capela Sistina e as caixas de supermercado Brillo Box de Andy Warhol? Quase nada, ainda assim ambos são considerados obras de arte. Justamente por ser um conceito abrangente e enigmático, a arte vem sendo objeto de estudo durante toda a história da filosofia. As
realizações
contemporâneas7
e
práticas
provocam
um
artísticas conjunto
de
incertezas e ambigüidades na caracterização do estatuto ontológico de uma obra de arte. Trata-se de saber distinguir uma lata de sopa Campbell's8 que se encontre em qualquer supermercado e uma outra, com as mesmas características e qualidades, que Warhol tenha colocado numa galeria, o enigma diz respeito a como avaliar uma
Campbell's Soup Cans, de Andy Warhol, na Ferus Gallery, 1962.
linha clara de demarcação daquilo que é obra de arte, e que possui estatuto ontológico específico daquilo que não é. O problema da demarcação passa ser compartilhado entre a arte e a filosofia.
Tem-se uma atenção especial para com a arte contemporânea, pois até o século XIX, não havia problemas quanto à indiscernibilidade entre arte e produtos do cotidiano. A partir do século XX, a pop arte apresenta-se como autoconsciente, afrontando a barreira entre não-arte e arte. 8 A sopa Campbell’s, é tradicional no segmento de sopas enlatadas, um produto industrial. Em 1962, Andy Warhol expõe na Ferus Gallery as Campbell's Soup Cans, o que era apenas sopa em lata, passa a ser considerado arte. Entre as latas do supermercado e as de Warhol, não há diferenças perceptíveis, eis o enigma da arte pop, a indiscernibilidade entre obras de arte e produtos do cotidiano. 7
De acordo com Danto, para um objeto ser qualificado como obra, deverá ser interpretado: propósito segundo o qual a arte só o é enquanto fixada na
ação
semântica.
Segundo
Aita
(2006,
p.
274),
a
ênfase
na
interpretação sugere uma alteração ontológica, ou seja, a interpretação funciona como batismo, faz do objeto um signo artístico, tem a capacidade de dar uma nova identidade ao objeto. A interpretação é necessária à própria constituição da obra de arte. Podemos dizer que interpretar alguma coisa é afirmar que essa coisa é essa coisa, o que, no caso das obras de arte, seria encontrar em um objeto uma identificação artística, um traço que possa fazer com que certo objeto pertença ao mundo da arte. É esse mundo da arte que atribui qualidades às coisas e estabelece os parâmetros que nos possibilitam afirmar estarmos perante um objeto artístico, de acordo com o autor, “Ser uma obra de arte era ser um membro do mundo da arte e posicionar-se em diferentes tipos de relações com obras de arte antes que com qualquer outro tipo de coisa” (DANTO, 2006, p. 182). Contudo, ainda restam dúvidas quanto ao conceito dantoniano de mundo da arte: Quais são os critérios utilizados para designar o estatuto de obra de arte a certos objetos? Quem decide o que pode pertencer a esse mundo? O que pertence? Como é possível determinar se um objeto atravessou a barreira que o torna obra de arte? No século XX a indiscernibilidade aflora. É o princípio de um tipo de arte que não pode ser compreendida pela história da arte até então, uma história que parece mostrar uma linha quase contínua de evolução e progresso artístico. Cá estão as obras artísticas que podem até ser indiscerníveis dos objetos do cotidiano. Vamos utilizar os clássicos exemplos de Warhol, mais precisamente a Campbell's. O que diferencia a lata de sopa que contém sopa mesmo, da lata encontrada na galeria? Aparentemente não há diferenças entre uma e outra, mas então por que a lata da galeria é considerada obra de arte? Seria a galeria capaz de atribuir característica artística aos objetos que permanecem ao seu abrigo? Tal relação é mais que problemática e intrigante, é um problema
filosófico. Ora, se lata de sopa pode ser considerada obra de arte, o que impede que outros produtos industriais venham para as galerias? A exposição de Warhol levantava uma pergunta imediatamente filosófica, a saber, por que era sua lata trabalho de arte, enquanto as latas encontradas em supermercados eram meramente recipientes para sopa? Certamente as diferenças perceptíveis não mostravam a menor distinção entre arte e realidade. Danto refuta o conjunto de teorias institucionais9, até porque há muitos objetos em galerias que não são considerados arte, simplesmente fazem parte da estrutura física da galeria e não se tem notícia de nenhum indivíduo que tenha confundido tais objetos com arte. Após refutar as teorias institucionais, as substitui pela interpretação, ou seja, a linguagem própria do jogo da interpretação. Porém o conceito de interpretação e sua complexidade causam intrigas: se considerarmos a interpretação um jogo, quem pode jogar? Há diferença entre a interpretação de um sujeito comum e a de um representante do mundo da arte? Se concordarmos que há diferença entre as interpretações, estaríamos com isso dizendo que ao representante do mundo da arte está legitimada a autoridade de emissão de interpretações e ao senso comum é vedado o acesso à crítica? Ao nos depararmos com obras que extrapolaram os limites da história, o primeiro impulso é tentar interpretá-las segundo os parâmetros já estabelecidos. Podemos considerar o que aconteceu, por exemplo, com as obras mais polêmicas de Duchamp: A intenção era contestar a arte moderna, contudo o que inicialmente foi um protesto contra a arte moderna transformou-se em mais exemplos do mesmo tipo de arte. Apesar do transtorno inicial, foi possível interpretá-las como tentativas do artista de pôr em destaque objetos do cotidiano, mantendo não só o transtorno inicial, mas fazendo dele uma narrativa da própria identidade A teoria institucional enfatiza a importância da comunidade de conhecedores de arte na definição e ampliação dos limites daquilo que pode ser considerado arte, ou seja, a capacidade da instituição – galeria, crítico de arte, historiador de arte, estudiosos de arte - decidir e qualificar objetos que podem ser considerados arte, a instituição teria a competência para designar o que pode ser aceito como obra de arte. 9
das obras de arte. Porém quando não é possível vincular a obra de arte a um conteúdo semântico que fixa uma interpretação crítica passível de localização histórica no mundo da arte, conclui-se que certos objetos são meras coisas, indignas de carregar o status de arte, visto que a essência da arte não se encontra nelas. Daqui, depreendemos que um objeto só poderá ascender à categoria de obra de arte pela interpretação, ou seja, obras de arte devem vincular um conteúdo semântico, cujo conteúdo da interpretação é aquilo de que trata a obra. Nas palavras de Aita10: A primeira condição, portanto, a ser satisfeita por uma obra de arte é a sua intencionalidade: que ela deva ser sobre alguma coisa (aboutness), ou seja, deva vincular um conteúdo semântico, o que reciprocamente implica ter uma interpretação cujo conteúdo é aquilo de que trata a obra. (2006, p. 274).
III A pop arte e o fim da arte É bem verdade que a arte sempre foi motivo de inquietação para os filósofos. Seja na República de Platão onde foi tratada como mera imitação, seja na contemporaneidade, onde foi anunciado o seu fim, no ano de 1984 por Arthur Danto. Contudo o crítico não estava sugerindo que tivessem deixado de produzir obras de arte, referia-se ao fim da história da arte, nas palavras do próprio autor, “Refiro-me ao final de certa narrativa que foi desvelada na história da arte no decorrer dos séculos, e que chegou a seu fim em meio a certa liberdade de conflitos que eram inescapáveis na Era dos Manifestos.” (2006, p. 42). Durante boa parte dessa história, os artistas se empenharam na representação realista do mundo, uma arte mimética. Já com o advento do modernismo, a imitação e a aproximação do real deu lugar a figuras esboçadas, cruas, abstratas. Essa progressão linear foi interrompida no final dos anos sessenta com Virginia Aita estudou na Universidade de Colúmbia, onde conheceu Arthur Danto, sobre o qual faz seu doutoramento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Reviu e prefaciou Após o fim da Arte e outros artigos do autor. Mora atualmente em Porto Alegre e escreve sobre arte. 10
uma era pluralista, despida de determinações de movimentos e/ou escolas. De acordo com Danto: [...] o modernismo assim interpretado – como a última era da história da arte antes do fim da arte, a era em que artistas e pensadores lutavam para definir precisamente a verdade filosofia da arte, um problema que não havia sido sentido verdadeiramente na história da arte anterior, quando em certa medida se tinha como certo o conhecimento da natureza da arte, e uma atividade imposta pelo colapso do que passou a ser conhecido, a partir do grande trabalho de Thomas Kuhn em sistematizar a história da ciência, como paradigma. Na verdade, o grande paradigma tradicional das artes visuais vinha sendo a mimese, que durante alguns séculos serviu admiravelmente bem às propostas teóricas da arte. [...] O novo paradigma, supunha-se, serviria à arte futura tão adequadamente quanto o paradigma da mimese havia servido à arte passada. (2006, p. 33)
Até o século XX acreditava-se tacitamente que as obras de arte poderiam ser identificadas como tais, porém no final dos anos sessenta essa teoria já não suportava o conceito de arte, uma vez que obras de arte e produtos do cotidiano passaram a ser indiscerníveis basta analisar a lata de sopa e as caixas de sabão em pó de Warhol. Era o começo de um novo tipo de arte. A arte que nascera colada com seu conceito passa agora a afrontá-lo. Apesar de não sabermos com exatidão qual a essência da arte, sabemos que é necessário entrar em seu mundo para compreender a evolução da espiritualização das obras de arte. A questão do fim da arte está intimamente ligada ao progresso da história da arte. A partir do século XX a arte torna-se o seu próprio objeto, torna-se auto-referencial, e com isso autoconsciente. Passam a ser produzidas obras de arte que já não servem apenas para proporcionar prazer, estas, ao contrário, causam constrangimentos e inquietações a cada novo encontro, com as obras da pop arte surgem novas questões filosóficas, há uma busca incansável em tentar descobrir o verdadeiro sentido da arte. Afinal, há uma característica comum
a
todas
as
obras
de
arte,
desde
as
clássicas
até
as
contemporâneas que as classificam como tal? Para Danto, o que há é um
movimento interno e natural do mundo da arte. A arte antecipa-se ao seu tempo, dentro do próprio movimento vão se definindo as novas vanguardas, que através da interpretação são incorporadas ao mundo da arte. Em 1984, Danto anuncia o fim da arte, porém deixa claro que com isso, não sugere o fim da criação de novas artes e, sim o fim da história da arte, qualquer objeto artístico que surgisse a partir de então, seria marcado pelo autor com caráter pós-histórico11. Apesar de ter proclamado o fim da arte na década de oitenta, Danto acredita que o fim tenha chegado antes, duas décadas antes. Com o suposto fim da arte as tensões entre arte e filosofia intensificamse, pois o conceito já não é capaz de decidir por si só, quais os objetos e expressões podem compor o campo artístico, tendo-se assim, constantes tentativas de superação de limites, para aventurar-se em responder a questão que a arte põe a si mesma: O que é arte? Sair destes limites é fazer um tipo de arte que não pode ser compreendida através das teorias históricas vigentes. Quando um conjunto de obras parece sair dos limites da história, o primeiro
impulso
é
tentar
interpretá-los
segundo
os
parâmetros
estabelecidos. La Fontain de Duchamp apresenta-se claramente como um desafio, um protesto e até uma obra de arte. Porém alguns artistas da pop arte não têm a intenção de afrontar nem contestar seja o que for. É a liberdade que inspira estas obras, é o desejo de poder fazer da arte um palco para a diversidade de experiências. O que faz destes ready mades obras de arte é o desafio provocado, é a tentativa de compreensão, sendo relevante à experiência estética proporcionada através da interpretação na relação entre o objeto e o espectador. Um objeto só se torna uma obra de arte quando o contexto o permite. O fato de podermos ver o Brillo Box como arte, e como parte do mundo da arte, apesar de certo desconforto, deve-se ao progresso interno da arte. Na era pós-histórica as obras não têm de ser desta ou daquela maneira; não há limites e por isso não há exclusões. Nada fica de fora dos limites da história, porque a história não tem limites. 11
Havia um esgotamento na arte vigente até então. Talvez, se essa mesma obra fosse apresentada década antes, não fosse considerada arte, ou seja, o mundo da arte tem de estar preparado para novas experimentações estéticas. Era pós-histórica Conforme Aita (2006, p. 273), o fim da arte anunciado por Danto, é realmente o fim de uma narrativa do desenvolvimento histórico da arte, entrando em colapso na década de 1960, com o paradoxo da Brillo Box, o ready made de Warhol, indistinguível de um mero objeto, qualquer coisa poderia ser arte. Consequentemente o problema da identidade da obra de arte, igualmente filosófica.
A conclusão que Danto retira destes novos
movimentos não é a do fim da arte, o modernismo não é o fim desta, mas apenas chegou ao seu término certo tipo de teorias que definem a arte. Danto anuncia este período como o da arte pós-histórica. Com a arte póshistórica a história da arte tomava consciência da sua identidade, tornadose assim acessível, ao conceito filosófico. Há uma espécie de legitimação história da pop arte, que visa à conquista de um lugar na historicidade da arte. Tal conquista confere a objetos como os de Warhol o direito de carregar o status de obra de arte. Essa mesma conquista tem todos os objetos que conseguiram romper a fronteira da não-arte para arte. Pertencer e provar que se pertence ao mundo da arte é um problema das artes modernas e contemporâneas, pois estas já não possuem vitalidade e a verdade genuína, exige de nós uma consideração intelectual. Conforme explica Aita: [...] funda sua filosofia numa certa leitura da história da arte segundo a qual a possibilidade filosofia da questão da natureza da arte fica determinada pela sua possibilidade histórica. O seu diferencial consiste em considerar o fim da arte como nada mais que a emergência da ‘autoconsciência’, momento em que sua definição filosófica surge como questão interna da própria arte. (2006, p. 276)
A
questão
dos
pares
indiscerníveis12
era,
principalmente,
o
reconhecimento de um problema, que consistia em indicar a marca distintiva ou o traço específico da obra de arte contemporânea como sendo aquela necessidade de incluir nela mesma a questão de sua origem ou essência. Portanto, a arte contemporânea absorveu ou expeliu uma dimensão filosófica, reflexiva. Segundo o próprio Danto: Quando a questão é trazida à consciência num certo momento do desdobramento histórico da arte, atinge-se um novo nível de consciência filosófica. E isso significa duas coisas: em primeiro lugar, que tendo se alçado à esse nível de consciência, a arte deixa de ter responsabilidade pela sua definição filosófica. Essa é antes a tarefa dos filósofos da arte. Em segundo lugar, significa que não há uma aparência específica a ser assumida pelas obras de arte, uma vez que a definição filosófica da arte deve ser compatível com todo e qualquer tipo e regra de arte [...] e com um entendimento mais claro chega-se ao reconhecimento de que não há mais outra direção que a história da arte possa tomar. Ela poderá ser qualquer coisa que os aristas e benfeitores queiram que seja. (2006, p. 41).
Conclusão A arte que sempre foi motivo inquietação para os filósofos, torna-se autoconsciente no século XX. Sendo a arte contemporânea reflexiva, surge de imediato questões filosóficas quanto a sua essência. O trabalho do grupo de estudos de filosofia estética tem demonstrado que a filosofia pode auxiliar a arte no esclarecimento de sua definição de valor. Por outro lado, a arte propõe à filosofia questões ao alcance dos conceitos filosóficos para compreender o mundo. Também é preciso registrar que o encontro entre esses saberes é uma alternativa didática para o exercício de filosofar. Referências bibliográficas
Pares indiscerníveis, disse-se da existência de obras da era pop, que possuíam pares, uma vez que não eram únicas, ao contrário eram ready-mades. Consideremos os exemplos: Brillo Box de Warhol, Fountain de Duchamp. 12
DANTO, Arthur C. Após o Fim da Arte: a arte contemporânea e os limites da história. São Paulo: Odysseus Editora, 2006. ________________. A transfiguração do lugar comum. São Paulo: Cosac Naify, 2005 DEGEN, Natasha. Entrevista com Arthur Danto. Disponível
. Acesso em: 25 jan. 2007.
em:
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com a arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. McDARRAH, Fred W. Warhol e sua obra Brillo Boxes, na Stable Gallery. 1964. 1 Fotografia. WARHOL, Andy. Campbell’s soup cans. 1962. 2 Fotografia.