Literatura Brasileira

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Introdução

A LITERATURA QUE SE escreve no Brasil é já a expressão de um pensamento e sentimento que se não confundem mais com o português, e em forma que, apesar da comunidade da língua, não é mais inteiramente portuguesa. É isto absolutamente certo desde o Romantismo, que foi a nossa emancipação literária, seguindo-se naturalmente à nossa independência política. Mas o sentimento que o promoveu e principalmente o distinguiu, o espírito nativista primeiro e o nacionalista depois, esse se veio formando desde as nossas primeiras manifestações literárias, sem que a vassalagem ao pensamento e ao espírito português lograsse jamais abafá-lo. É exatamente essa persistência no tempo e no espaço de tal sentimento, manifestado literariamente, que dá à nossa literatura a unidade e lhe justifica a autonomia. A nossa literatura colonial manteve aqui tão viva quanto lhe era possível a tradição literária portuguesa. Submissa a esta e repetindo-lhe as manifestações, embora sem nenhuma excelência e antes inferiormente, animou-a todavia desde o princípio o nativo sentimento de apego à terra e afeto às suas cousas. Ainda sem propósito acabaria este sentimento por determinar manifestações literárias que em estilo diverso do da metrópole viessem a exprimir um gênio nacional que paulatinamente se diferençava. Necessariamente nasceu e desenvolveu-se a literatura no Brasil como rebento da portuguesa e seu reflexo. Nenhuma outra apreciável influência espiritual experimentou no período da sua formação, que é o colonial. Também do próprio meio em que se ia daquela formando lhe não proveio então qualquer influxo mental que pudesse contribuir para distingui-la. E como assim foi até quase acabar o século XVIII, não apresenta períodos claros e definidos da sua evolução nesse lapso. As reações que daquele meio porventura sofreu foram apenas de ordem física, a impressão da terra em seus filhos; de ordem fisiológica, os naturais efeitos dos cruzamentos que aqui produziram novos tipos étnicos; e de ordem política e social, resultantes das lutas com os holandeses e outros forasteiros, das expedições conquistadoras do sertão, dos descobrimentos das minas e conseqüente dilatação do país e aumento da sua riqueza e importância. Estas reações não bastaram para de qualquer modo infirmar a influência espiritual portuguesa e minguar-lhe os efeitos. Criaram, porém, o sentimento por onde a literatura aqui se viria a diferençar da portuguesa. As divisões até hoje

feitas no desenvolvimento da nossa literatura não parece correspondam à realidade dos fatos. Mostra-o a sua mesma variação e diversidade nos diferentes historiadores da nossa literatura, e até mesmo no principal deles, incoerente consigo mesmo. Após acurado estudo desses fatos tenho por impossível e vão assentá-los em divisões perfeitamente exatas ou dispô-los em bem distintas categorias. Fazê-lo com êxito importaria o mesmo que descobrir outros tantos aspectos diversos e característicos em uma literatura sem autonomia, atividade e riqueza bastantes para se nela passarem as alterações de inspiração, de estesia ou de estilo que discriminam e assentam os períodos literários; uma literatura que em trezentos anos da sua existência apagada e mesquinha não experimentou outras reações espirituais que as da Metrópole, servilmente seguida. Assim sendo, é evidente que os únicos períodos literários aqui verificáveis seriam os mesmos ali averiguados. Quando começava aqui a literatura, lá havia terminado, ou estava terminando, o quinhentismo, a melhor época da portuguesa. Principiava então lá o seiscentismo, prematura e rápida degradação daquele brilhante momento, cuja brevidade era aliás consoante com a da época de esplendor nacional, revendo tudo o que de ocasional e fortuito houvera nos escassos cem anos da dupla glória portuguesa. Mas, como acertadamente nota um novo crítico, "o seiscentismo não terminou em 1699, no último dia do ano, perdurou até a segunda metade do século XVIII e a Arcádia e suas imitações não encerram o século XVIII; a Arcádia de Antônio Dinis só se fundou em 1756. No segundo quartel ainda Antônio José satirizava o gongorismo, que era uma atualidade".1 O que, portanto, havia no Brasil era o seiscentismo, a escola gongórica ou espanhola, aqui amesquinhada pela imitação, e por ser, na poesia e na prosa, a balbuciante expressão de uma sociedade embrionária, sem feição nem caráter, inculta e grossa. Que o era, o mais perfuntório exame, a leitura ainda por alto dos versejadores e prosistas dessa época o mostrará irrecusavelmente. Não há descobrir-lhe diferença que os releve na inspiração, composição, forma ou estilo das obras. Sob o aspecto literário são todos genuinamente portugueses, por via de regra inferiores aos reinóis. A única exceção apresentada, a de Gregório de Matos, é impertinente. Da sua obra a só porção distinta, e estimável por outras qualidades que as propriamente literárias, é a satírica ou antes burlesca. A inspiração e feitio desta não destoa, porém, quando se tem presumido da musa gaiata portuguesa do tempo, ilustrada ou deslustrada por D. Tomás de Noronha, Cristóvão de Morais, Serrão de Castro, João Sucarelo, Diogo Camacho e quejandos, todos mais ou menos discípulos e imitadores, como o nosso patrício, do espanhol Quevedo, mas todos a ele inferiores. Como aos comuns motivos de satirizar de seus êmulos portugueses juntasse Gregório de Matos o

estímulo do seu descontentamento de colonial gorado nas suas ambições e malogrado na sua vaidade, é talvez o seu estro satírico mais rico e, para nós, muito mais interessante que o daqueles. Não é, porém, nem mais original, nem mais subido. A singularidade, mesmo a superioridade de Gregório de Matos, ainda quando bem assente, não bastaria aliás para desabonar o conceito de que o seu exemplo não prejudica a regra geral da nossa evolução literária no período colonial. Um só escritor, uma só obra, salvo proeminência excepcional e de efeitos averiguados, não anula um fato literário como o verificado. A parte séria das composições de Gregório de Matos é genuinamente do pior seiscentismo, como pela língua, estilo e outras feições o é também a sua porção satírica. De resto o seu caso ficou único e isolado, incapaz, portanto, de alterar como quer que fosse a continuidade do nosso desenvolvimento literário. E os fatos provam que em nada o alterou. Simultânea e posteriormente continuou aquele como se vinha fazendo. Somente para o fim do século XVIII é que entramos a sentir nos poetas brasileiros algo que os começa a distinguir. E só nos poetas. Distinção, porém, ainda muito escassa e limitada e também parcial. Por um ou outro poema em que se revê a influência americana, há dezenas de outros em tudo e por tudo portugueses. Os mesmos poetas do princípio do século XIX, sucessores imediatos dos mineiros e predecessores próximos dos românticos, são ainda e sobretudo seiscentistas, apenas levemente atenuados pelo arcadismo. Esta procrastinação do seiscentismo aqui, como o gongorismo que lhe era consubstancial, e é acaso congênito à gente ibérica, além do motivo geral da mais lenta evolução mental das colônias, poderia talvez explicá-lo o ter aqui vivido, se exibido e influído o mais poderoso engenho português dessa época, o Padre Antônio Vieira. A sua singular individualidade, exaltando-lhe os insignes dotes literários, supera a desprezível feição literária do período e a ampara e defende se não legitima. A corroborar-lhe a má influência, continuada pelos pregadores seus discípulos, vieram as academias literárias, focos e escolas do mais desbragado gongorismo. Somente com os primeiros românticos, entre 1836 e 1846, a poesia brasileira, retomando a trilha logo apagada da Plêiade Mineira entra já a cantar com inspiração feita dum consciente espírito nacional. Atuando na expressão principiava essa inspiração a diferençá-la da portuguesa. Desde então somente é possível descobrir traços diferenciais nas letras brasileiras. Não serão já propriamente essenciais ou formais, deixam-se, porém, perceber nos estímulos de sua inspiração, motivos da sua composição e principalmente no seu propósito. As duas únicas divisões que legitimamente se podem fazer no desenvolvimento da literatura brasileira, são, pois, as mesmas da nossa

história como povo: período colonial e período nacional. Entre os dois pode marcar-se um momento, um estádio de transição, ocupado pelos poetas da Plêiade Mineira (1769-1795) e, se quiserem, os que os seguiram até os primeiros românticos. Considerada, porém, em conjunto a obra desses mesmos não se diversifica por tal modo da poética portuguesa contemporânea, que force a invenção de uma categoria distinta para os pôr nela. No primeiro período, o colonial, toda a divisão que não seja apenas didática ou meramente cronológica, isto é, toda a divisão sistemática, parece-me arbitrária. Nenhum fato literário autoriza, por exemplo, a descobrir nela mais que algum levíssimo indício de "desenvolvimento autonômico", insuficiente em todo caso para assentar uma divisão metódica. Ao contrário, ela é em todo esse período inteira e estritamente conjunta à portuguesa. Nas condições de evolução da sociedade que aqui se formava, seria milagre que assim não fosse. De desenvolvimento e portanto de formação, pois que desenvolvimento implica formação e vice-versa, é todo o período colonial da nossa literatura, porém, apenas de desenvolvimento em quantidade e extensão, e não de atributos que a diferençassem. Certo é que na segunda metade do século XVII e princípio do XVIII, poetas brasileiros (não foram aliás mais de três), ocasionalmente, sem intenção nem insistência mostraram-se impressionados pela sua terra, cantaram-lhe as excelências naturais com exagero de apreço e entusiasmo em que é lícito perceber o abrolhar do sentimento nacional, começado a gerar-se com os sucessos da guerra holandesa. Fizeram-no aliás pouco e mediocremente. Em vez de seguir e cavar esse veio que se lhes deparava, perseveraram na poética portuguesa sua contemporânea. Seria desarrazoado, seria forçar os fatos a acomodarem-se às nossas prevenções, enxergar mostras de sentimento literário autonômico nessas singularíssimas exceções. Nem por isso são elas desinteressantes. Testemunham a influência dos aludidos sucessos no espírito dos brasileiros, onde criaram ou ativaram o sentimento nativista. Importam-nos ainda como as primeiras manifestações do impulso de louvar a terra, impulso que se tornaria logo um sestro literário nosso. A quase dois séculos de distância o verificaria Casimiro de Abreu, nos seus sentidos e conhecidos versos: Todos cantam sua terra Também vou cantar a minha

Nas débeis cordas da lira Hei de fazêla rainha.

Toma outra feição que a puramente portuguesa a nossa literatura no segundo período, o nacional. Independente e constituído, desenvolvendo-se menos adstrito à exclusiva influência da Metrópole e ao seu absorvente predomínio, entra o país a experimentar o influxo de outras e melhores culturas, sofre novos contatos e reações, que são outros tantos estímulos da sua inteligência e capacidade literária. O maior de todos, porém, não será externo, mas o mesmo sentimento nacional afinal consciente: o desvanecimento da sua independência, da sua maioridade de povo, das suas possibilidades de crescimento com as suas promissoras esperanças de futuro. Por isso a literatura imediatamente posterior à Independência é ostensivamente, intencionalmente nacionalista e patriótica. O germe nativista de que a Prosopopéia, de Bento Teixeira, ao expirar do século XVI, é já o primeiro indício, e a Ilha de Maré, de Botelho de Oliveira, no final do século XVII, um mais visível sinal, germe desenvolvido, podemos dizer nutrido, do calor bairrista de Rocha Pita, e relevado nos poetas do fim do século XVIII, completa com a primeira geração romântica a sua evolução. E resulta da índole claramente nacionalista, mais ainda, patriótica, da literatura de após a Independência. Este fato determinara-o a mesma reação literária inaugurada na Europa com o Romantismo, que em suma era sobretudo, e esta é a sua mais exata definição, uma revolta contra o que se continuava a chamar de classicismo. Tanto mais fácil foi à nova escola encontrar aqui simpatias, entusiasmos e sequazes, quanto sendo um princípio de independência e liberdade lisonjeava o nosso ardor de ambas no momento. Teve de fato alvoroçado acolhimento, como era próprio de gente nova, em pleno fervor da sua mocidade emancipada, irreflexiva e malquerente de quanto lhe recordava a sua servidão política e mental. Cumpre, todavia, não exagerar essa malevolência, que por honra dos corifeus desse nosso movimento literário nunca se desmandou nas suas reivindicações de autonomia literária, antes guardou nelas uma compostura de bom gosto. O Romantismo europeu não só influiu os poetas e escritores de todo o gênero, se não os políticos, os oradores, ainda sacros, de que é frisante

exemplo Monte Alverne, o maior deles, e os publicistas. Como na Europa, foi também aqui mais que uma escola literária, uma forma de pensamento geral. Principalmente assinalaram o nosso Romantismo: a simpatia com o índio, a intenção de o reabilitar do juízo dos conquistadores e dos nossos mesmos patrícios coloniais, o errado pressuposto dele ser o nosso antepassado histórico, o amor da natureza e da história do país, encarados ambos com sentimentos e intenções estreitamente nativistas, o conceito sentimentalista da vida, o propósito manifesto de fazer uma literatura nacional e até uma cultura brasileira. Inspirado no preconceito dos méritos do índio revelou-se este propósito em recomendações do ensino da língua tupi, em parvoinhas propostas de sua substituição ao português na adoção de apelidos indígenas ou na troca dos portugueses por estes e no encarecimento de quanto era indígena.2 Com estas feições apenas ligeiramente modificadas por novos influxos recebidos de fora ou aqui mesmo nascidos, durou o nosso Romantismo, iniciado pela terceira década do século XIX, até o meado do decênio de 1870. As últimas obras de vulto que ainda a ele, com a sua inspiração indianista, se vinculam, são o Evangelho nas Selvas, de Fagundes Varela, e as Americanas, de Machado de Assis, ambas em 1875. Pelo fim do Romantismo, esgotado como acabam todas as escolas literárias, tanto por enfraquecimento e exaustão dos seus motivos, como pela natural usura, entram a influir a mente brasileira outras correntes de pensamentos, outros critérios e até outras modas estéticas européias de além Pireneus oriundas das novas correntes espirituais, o positivismo em geral ou o novo espírito científico, o evolucionismo inglês, o materialismo de Haeckel, Moleschott, Büchner, o comtismo, a crítica de Strauss, Renan ou Taine, o socialismo integral de Proudhon, o socialismo literário de Hugo, de Quinet, de Michelet. Outras tendências e feições, criadas por estas novas formas de pensamento, se substituem ao ceticismo, ao desalento, ao satanismo, tudo também literário ou apenas sentimental de Byron, Musset e outros que tanto haviam influenciado a nossa segunda geração romântica. Verifica-se que nenhuma das correntes do pensamento europeu que aturaram no brasileiro levou menos de vinte anos a se fazer aqui sentir. E esta é a regra ainda depois que as nossas comunicações com a Europa se tornaram mais fáceis e mais freqüentes. Destas várias influências contraditórias, e até disparatadas, que todas, porém, simultaneamente atuaram o nosso pensamento, não saiu, nem podia sair, um composto único e ainda menos coerente, como até certo ponto fora no período romântico o espiritualismo cristão ou o puro sentimentalismo dos nossos

românticos, sem exceção. Sob o aspecto literário o que delas resultou foi o rompimento, mais ou menos intencional, mais ou menos estrepitoso, mais ou menos peremptório, com o Romantismo. De tal rotura se não gerou, entretanto, um movimento com bastante ressalto, caráter ou homogeneidade que possamos defini-lo com um apelido idôneo. O que se lhe tem dado, como as divisões e subdivisões nele feitas, afigura-se-me inconseqüente com os fatos literários bem apreciados. Não ignoro, e menos contesto, a importância e valia das classificações para compendiar a explicação dos fatos literários. Mas não basta não ignorá-lo ou praticá-las a torto e a direito para podermos alardear filosofia de história literária. Aquele valor e importância só a têm as classificações perfeitas em que quase nada ou mesmo nada fica ao arbítrio do crítico, mas tudo obedece lógica e naturalmente a um justo critério bem estabelecido. Sem isso, que é dificílimo em todas as literaturas e é positivamente impossível em a nossa, tais classificações tanto podem inculcar uma digna tendência filosófica, como uma supina presunção. O que principalmente distinguiu e afeiçoou este nosso movimento espiritual ou mais propriamente literário posterior ao Romantismo foi o pensamento científico e filosófico triunfante por meados do século XIX — caracterizado pelo preconceito da infalibilidade da ciência e por uma exagerada opinião da sua importância. Esse pensamento, aqui como em toda a parte, recebeu a denominação pouco precisa, mas em suma bastante significativa, de pensamento moderno. Aqui produziu ele maior e mais raciocinado desapego às crenças tradicionais religiosas ou políticas, gerou o acatolicismo ou o agnosticismo em grande número de espíritos e o republicanismo ainda em maior número. Não chegou, porém, a criar manifestação literária alguma bastante considerável e homogênea, e suficientemente distinta, para a podermos nomear com exatidão segundo os seus particulares caracteres literários. Para sair da dificuldade sem, por iludi-la, cair no erro de dar a esta fase da nossa literatura algum apelido desapropositado, parece que o meio mais seguro é lhe verificar a inspiração ou idéia geral e motriz, e consoante ela denominá-la. Era esta declaradamente seguir em arte como em filosofia, e ainda em política, as idéias modernas, o racionalismo científico, o positivismo filosófico, o transformismo e o evolucionismo como um critério geral do pensamento, o liberalismo político, que levava de um lado ao republicanismo, de outro, com duvidosa coerência, ao socialismo. O "pensamento moderno", e a sua competente apologia, foram aqui um tema literário repetido até o fastio e sob esta denominação ou a ainda mais vaga de "idéia nova" se reuniam desencontrados conceitos, sentimentos e aspirações. Dava-lhes, todavia, unidade bastante para ao menos exteriormente os caracterizar.

Não sendo possível descobrir-lhes com toda a certeza o acento predominante, a feição literária essencial e por evitar a impertinência e vaidade das tentativas já feitas para grupar em categorias definidas autores e obras desta última fase da nossa evolução literária, parece mais prudente crismá-la segundo o seu principal estímulo mental — a sua superstição das idéias modernas — e chamar-lhe de modernismo.3 Efetivamente é a influência cosmopolita e onímoda dessas idéias e dominante em a nossa literatura nessa fase e, salvo exceções individuais pouco relevantes, não mais o nacionalismo romântico. Tornase a poesia — e a poesia foi sempre em cópia e qualidade a porção mais considerável da nossa literatura — menos subjetiva, menos ingênua e sentimentalista, e a diminuição destas suas qualidades acaso, sob o aspecto da emoção, amesquinhou o nosso lirismo. Ao invés ganhou ele em dons verbais de expressão e em virtudes de forma e métrica. A mesma forma aperfeiçoou-se com qualidades de composição e temperança. Nota-se mais o aparecimento em toda a nossa literatura de requisitos de que carecia, e que faltaram sempre à antiga literatura portuguesa, o gosto, o interesse, a capacidade das idéias gerais, preocupações mais largamente humanas e sociais, em vez de pura sentimentalidade e do estreito nacionalismo romântico. Alguns dos principais representantes desta última fase da nossa evolução literária são, sem prejuízo do seu brasileirismo de raiz, cosmopolitas ou universais. Tais são Castro Alves, Tobias Barreto, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Eduardo Prado. Antes da República, ou por espírito de oposição ao império católico, ou por influência desse pensamento moderno, eram os intelectuais brasileiros quase todos livres-pensadores, ou pelo menos espíritos de um larguíssimo liberalismo, que roçava pelo livre-pensamento. Este liberalismo foi, aliás, a feição conspícua do espírito brasileiro e da vida pública brasileira durante todo o reinado de D. Pedro II. Com a República, que não podia falhar à índole ditatorial e despótica do republicanismo latino e aos efeitos da sua educação pelo jacobinismo francês, atenuou-se essa feição e minguou na política, como na inteligência nacional, aquele espírito liberal. Uma escola literária não morre de todo porque outra a substitui, como uma religião não desaparece inteiramente porque outra a suplanta. Também não acontece que um movimento ou manifestação coletiva de ordem intelectual, uma época literária ou artística, seja sempre conforme com o seu princípio e conserve inteira a sua fisionomia e caráter. É, pois, óbvio que aqui, como sucedeu na Europa, ficaram germes ou antes restos do Romantismo, como neste haviam ficado do classicismo. Misturados com o "cientificismo" do momento ou influídos

por ele, esses remanescente do Romantismo confundiram-se na corrente geral daquele originada, produzindo com outros estímulos e impulsos supervenientes algumas feições diversas na fisionomia literária desta fase. Nenhuma, porém, tão distinta que force a discriminação. A dificuldade geralmente verificada desta discriminação sobe de ponto aqui, onde por inópia da tradição intelectual o nosso pensamento, de si mofino e incerto obedece servil e canhestramente a todos os ventos que nele vêm soprar, e não assume jamais modalidade formal e distinta. Sob o aspecto filosófico o que é possível notar no pensamento brasileiro, quanto é lícito deste falar, é, mais talvez que a sua pobreza, a sua informidade. Esta é também a mais saliente feição da nossa literatura dos anos de 70 para cá. Disfarça-as a ambas, ou as atenua, o íntimo sentimento comum do nosso lirismo, ainda em a nossa prosa manifesto, a sensibilidade fácil, a carência, não obstante o seu ar de melancolia, de profundeza e seriedade, a sensualidade levada até a lascívia, o gosto da retórica e do reluzente. Acrescentem-se como característicos mentais a petulância intelectual substituindo o estudo e a meditação pela improvisação e invencionice, a leviandade em aceitar inspirações desencontradas e a facilidade de entusiasmos irrefletidos por novidades estéticas, filosóficas ou literárias. À falta de outras qualidades, estas emprestam ao nosso pensamento e à sua expressão literária a forma de que, por míngua de melhores virtudes, se reveste. Aquelas revelam mais sentimentalismo que raciocínio, mais impulsos emotivos que consciência esclarecida ou alumiado entendimento, revendo também as deficiências da nossa cultura. Mas por ora, e a despeito da mencionada reação do espírito científico e do pensamento moderno dele inspirado, somos assim, e a nossa literatura, que é a melhor expressão de nós mesmos, claramente mostra que somos assim. Literatura é arte literária. Somente o escrito com o propósito ou a intuição dessa arte, isto é, com os artifícios de invenção e de composição que a constituem é, a meu ver, literatura. Assim pensando, quiçá erradamente, pois não me presumo de infalível, sistematicamente excluo da história da literatura brasileira quanto a esta luz se não deva considerar literatura. Esta é neste livro sinônimo de boas ou belas letras, conforme a vernácula noção clássica. Nem se me dá da pseudonovidade germânica que no vocábulo literatura compreende tudo o que se escreve num país, poesia lírica e economia política, romance e direito público, teatro e artigos de jornal e até o que se não escreve, discursos parlamentares, cantigas e histórias populares, enfim autores e obras de todo o gênero.4

Não se me impõe o conceito com tal grau de certeza que eu me não atreva a opor-lhe a minha heresia, quero dizer a minha humilde opinião. Com o mais recente e um dos mais justamente apreciados historiadores da literatura francesa, o Sr. G. Lanson, estou que "a literatura destinase a nos causar um prazer intelectual, conjunto ao exercício de nossas faculdades intelectuais, e do qual lucrem estas mais forças, ductilidade e riqueza. É assim a literatura um instrumento de cultura interior; tal o seu verdadeiro ofício. Possui a superior excelência de habituar-nos a tomar gosto pelas idéias. Faz com que encontremos num emprego o nosso pensamento, simultaneamente um prazer, um repouso, uma renovação. Descansa das tarefas profissionais e sobreleva o espírito aos conhecimentos, aos interesses, aos preconceitos de ofício; ela "humaniza" os especialistas. Mais do que nunca precisam hoje os espíritos de têmpera filosófica; os estudos técnicos de filosofia, porém, nem a todos são acessíveis. É a literatura, no mais nobre sentido do termo, uma vulgarização da filosofia: mediante ela são as nossas sociedades atravessadas por todas as grandes correntes filosóficas determinantes do progresso ou ao menos das mudanças sociais; é ela quem mantém nas almas, sem isso deprimidas pela necessidade de viver e afogadas nas preocupações materiais, a ânsia das altas questões que dominam a vida e lhe dão um sentido ou um alvo. Para muitos dos nossos contemporâneos sumiu-se-lhes a religião, anda longe a ciência; da literatura somente lhes advém os estímulos que os arrancam ao egoísmo estreito ou ao mister embrutecedor".5 Não se poderia definir com mais cabal justeza, nem com mais elegante simplicidade, a literatura e sua importância. Muitos dos escritores brasileiros, tanto do período colonial como do nacional, conquanto sem qualificações propriamente literárias, tiveram todavia uma influência qualquer em a nossa cultura, a fomentaram ou de algum modo a revelam. Bem mereceram, pois, da nossa literatura. Erro fora não os admitisse sequer como subsidiários, a história dessa literatura. É também principalmente como tais que merecem consideradas obras, aliás por outros títulos notáveis, como a de Gabriel Soares ou os Diálogos das Grandezas do Brasil. Os portugueses que no Brasil escreveram, embora do Brasil e de cousas brasileiras, não pertencem à nossa literatura nacional, e só abusivamente pode a história destas ocupar-se deles. O mesmo sucede com outros estrangeiros que aqui fizeram literatura como o hispano-americano Santiago Nunes Ribeiro, o espanhol Pascoal, ou os franceses Emile Adet e Louis Bourgain. Aqueles pelo caráter e estilo de suas letras eram, como os mesmos brasileiros natos, portugueses, e como o eram igualmente de nascimento e forçosamente de sentimento — que este se não naturaliza — como quaisquer outros estrangeiros, não cabem nesta

história. No seu primeiro período ela é a dos escritores portugueses nascidos no Brasil, no segundo dos autores brasileiros de nascimento e atividade literária. Os portugueses que para cá vieram fazer literatura após a Independência, Castilhos, Zaluares, Novais e outros, nem pela nacionalidade ou sentimento, nem pela língua ou estilo, não pertencem à nossa literatura, onde legitimamente não se lhes abre lugar. São por todas as suas feições portugueses. Assim, os brasileiros que, alheandose inteiramente do Brasil, em Portugal exerceram toda a sua atividade literária, como o infeliz e engenhoso Antônio José e o preclaro Alexandre de Gusmão, também não cabem nela. Tudo autoriza a crer que Antônio José e Alexandre de Gusmão não teriam sido literariamente o que foram se houvessem ficado no Brasil. Foi, pois, Portugal, a sua pátria literária, como o Brasil foi a pátria literária de Gonzaga. Não existe literatura de que apenas há notícia nos repertórios bibliográficos ou quejandos livros de erudição e consulta. Uma literatura, e às modernas de após a imprensa me refiro, só existe pelas obras que vivem, pelo livro lido, de valor efetivo e permanente e não momentâneo e contingente. A literatura brasileira (como aliás sua mãe, a portuguesa) é uma literatura de livros na máxima parte mortos, e sobretudo de nomes, nomes em penca, insignificantes, sem alguma relação positiva com as obras. Estas, raríssimas são, até entre os letrados, os que ainda as versam. Não pode haver maior argumento da sua desvalia. Por um mau patriotismo, sentimento funesto a toda a história, que necessariamente vicia, e também por vaidade de erudição, presumiram os nossos historiadores literários avultar e valorizar o seu assunto, ou o seu próprio conhecimento dele, com fartos róis de autores e obras, acompanhados de elogios desmarcados e impertinentes qualificativos. Não obstante o pregão patriótico, tais nomes e obras continuaram desconhecidos eles e elas não lidas. Não quero cair no mesmo engano de supor que a crítica ou a história literária têm faculdades para dar vida e mérito ao que de si não tem. Igualmente não desejo continuar a fazer da história da nossa literatura um cemitério, enchendo-a de autores de todo mortos, alguns ao nascer. No período colonial haverá esta forçosamente de ocupar-se de sujeitos e obras de escasso ou até nenhum valor literário, como são quase todas as dessa época. Não sendo, porém, esse o único da obra literária, nem o ponto de vista estético e só de que podemos fazer a história literária, cumpre do ponto de vista histórico, o mais legítimo no caso, apreciar autores e livros que, ainda àquela luz medíocres, têm qualquer importância como iniciadores, precursores, inspiradores ou até simples indículos de movimentos ou momentos literários. É justamente naquele período de formação, o mais insignificante sob o aspecto estético, mas não o menos importante do

ponto de vista histórico, que mais numerosos se nos depararão obras e indivíduos de todo mofinos. Temos, porém, de contar com eles, pois nessa formação atuaram sequer com o seu exemplo e ajudaram a manter a tradição literária da raça. No segundo período da constituição da literatura a que, sem maior impropriedade, já podemos chamar de nacional, cumpre-nos ser ainda mais escassos em admitir tipos de insuficiente representação literária. Cabe excluir-lhe da história, que deve ser a da literatura viva, indivíduos e obras que virtudes de ideação ou de expressão não assinalaram bastante para poderem continuar estimados além do seu tempo. Obras que apenas o acompanharam, sem nele influírem ou se distinguirem, ou que nem ao menos lhe representam dignamente o espírito e capacidade, ou ainda que não sejam a expressão de uma conspícua personalidade, apenas terão lugar à margem da literatura e da sua história. Parece um critério, não infalível mas seguro, de escolha, a mesma escolha feita pela opinião mais esclarecida dos contemporâneos, confirmada pelo juízo da posteridade. Raríssimo é que esta seleção, mesmo no Brasil, onde é lícito ter por menos alumiada a opinião pública, não seja ao cabo justa, e só os que lhe resistem são dignos da história literária. Não pode esta, a pretexto de opiniões pessoais de quem a escreve, desatender à seleção natural que o senso comum opera nas literaturas. Cumpre-lhe antes acatá-la se não tem argumentos incontestáveis a opor-lhe. Em que pese à nossa pretensão de letrados, são os eleitos daquela opinião os que cabem na história da literatura, que não queira invadir o domínio da bibliografia nem merecer o reproche de simplesmente impressionista. A história da literatura brasileira é, no meu conceito, a história do que da nossa atividade literária sobrevive na nossa memória coletiva de nação. Como não cabem nela os nomes que não lograram viver além do seu tempo também não cabem nomes que por mais ilustres que regionalmente sejam não conseguiram, ultrapassando as raias das suas províncias, fazerem-se nacionais. Este conceito presidiu à redação desta história, embora com a largueza que as condições peculiares à nossa evolução literária impunham. Ainda nela entram muitos nomes que podiam sem inconveniente ser omitidos, pois de fato bem pouco ou quase nada representam. Porém uma seleção mais rigorosa é trabalho para o futuro. Os elementos biográficos, necessários à melhor compreensão do autor e da sua época literária, como outros dados cronológicos, são da maior importância para bem situar nestas obras e autores e indicar-lhes a ação e reação. A história literária deve, porém, antes ser a história daquelas do que destes. Obras e não livros, movimentos e manifestações literárias sérias e conseqüentes, e não modas e rodas

literárias, eiva das literaturas contemporâneas, são, a meu ver, o imediato objeto da história da literatura. Um livro pode constituir uma obra,6 vinte podem não fazê-la. São obras e não livros, escritores e não meros autores que fazem e ilustram uma literatura. Em a nossa deparam-se-nos a cada passo sujeitos que sem vocação nem engenho literário, embora não de todo sem entendimento ou estro, produziram, geralmente em moços, um livro, um ou mais poemas ou outra pequena e não repetida obra literária. Outros até a repetem em maior número de volumes. Mais que a vocação que não tinham, moveu-os a vaidade, a presunção da notoriedade que a autoria dá ou quejando passageiro estímulo. No reinado de D. Pedro II, monarca amador de letras e caroável aos letrados, por lhe armar à benevolência e patrocínio, foi comum fingirem-se muitos de amantes daquelas e as praticarem, mesmo assiduamente, mais porventura do que lhes pedia a vocação ou consentia o talento. Alguma vez foi esse labor sincero, se bem que efeito de uma inspiração circunstancial e momentânea, que se não repetindo descobre-lhe a insuficiência. Tais autores esporádicos, amadores sem engenho nem capacidade literária, e tais obras casuais, produtos de uma inspiração fortuita ou interesseira, não pertencem à literatura e menos à sua história. Seja qual for o nosso parecer sobre o valor da obra literária, isolada ou em relação com o seu meio e tempo, prevalece a noção do senso comum que em todo caso ela precisa de virtudes de pensamento e de expressão com que logre a estima e agrado geral. A que não as tiver é obra de nascença morta. As qualidades de expressão, porém, não são apenas atributos de forma sob o aspecto gramatical ou estilístico, senão virtudes mais singulares e subidas de íntima conexão entre o pensamento e o seu enunciado. Não é escritor senão o que tem alguma cousa interessante do domínio das idéias a exprimir e sabe exprimi-la por escrito, de modo a lhe aumentar o interesse, a torná-lo permanente e a dar aos leitores o prazer intelectual que a obra literária deve produzir. Confesso haver hesitado na exposição da marcha da nossa literatura, se pelos gêneros literários, poesia épica, lírica ou dramática, história, romance, eloqüência e que tais, consagrados pela retórica e pelo uso, ou se apenas cronologicamente, conforme a seqüência natural dos fatos literários. Ative-me afinal a este último alvitre menos por julgá-lo em absoluto o melhor que por se me antolhar o mais consentâneo com a evolução de uma literatura, como a nossa, em que os fatos literários, mormente no período de sua formação, não são tais e tantos que lhes permitam a exposição e estudo conforme determinadas categorias. Nesse período e ainda no seguinte aqueles diferentes gêneros não

apresentam bastante matéria à história, sem perigo desta derramar-se ociosamente. Ao contrário expor esses fatos na ordem e segundo as circunstâncias em que eles se passam, as condições que os determinam e condicionam e as feições características que afetam, parece fará mais inteligível a nossa evolução literária com a vantagem de guardar maior respeito ao princípio da última unidade da literatura. Nesta, como na arte e na ciência, é conspícua a função do fator individual. Um escritor não pode ser bem entendido na sua obra e ação senão visto em conjunto, e não repartido conforme os gêneros diversos em que provou o engenho. Refugi também à praxe das citações mais ou menos extensas dos autores tratados, limitando-as a raros exemplos, quando absolutamente indispensáveis à justificação de algum conceito. É possível, e até provável, que mais de um deste livro se encontre e ajuste, com os de outrem. Apesar da diversidade proverbial dos gostos e da variedade das determinantes das nossas opiniões, não é infinita a capacidade de variação em assuntos dos quais o gosto individual não é mais o único juiz. Forçosamente hão de algumas vezes as nossas opiniões coincidir com alheias. O importante é que as minhas eu as tenha feito com estudo próprio e direto dos fatos e monumentos literários e isso protesto ter sempre feito. Muito presumido e tolo seria o escritor, máxime o historiador literário, que supusesse não dizer senão cousa de todo originais e inéditas ou poder evitar os infalíveis encontros de opiniões: Il faut être ignorant comme un maître d’école Pour se flatter de dire une seule parole Que personne ici-bas n’ait pu dire avant vous. Por motivos óbvios de discrição literária não se quisera este livro ocupar senão de mortos. Esta norma, porém, era quase impossível segui-la na última fase da nossa literatura, vivendo ainda, como felizmente vivem, alguns dos principais representantes dos movimentos literários nela ocorridos; calar-lhes os nomes seria deixar suspensa a história desses movimentos. Ainda assim apenas ocasionalmente, por amor de completar ou esclarecer a exposição, se dirá de vivos. Tal o espírito em que após mais de vinte e cinco anos de estudo da nossa literatura empreendo escrever-lhe a história. Não me anima, em toda a sinceridade o digo, a presunção de encher nenhuma lacuna nem de prevalecer contra o que do assunto há escrito, certamente com maior cabedal de saber e mais talento. Não há matéria que dispense novos estudos. Existe sempre, em qualquer uma, lugar para outros labores.

Não desconheço o que devo aos meus beneméritos predecessores desde Varnhagen até o Sr. Sílvio Romero. Pela cópia, valia e influência de sua obra de investigação da nossa história literária, é aquele o verdadeiro fundador da história da nossa literatura. Depois dele esta, em que pese à ingrata presunção em contrário, não fez mais que repeti-lo, ampliando-o. Cronologicamente, não o ignoro, o precederam, Cunha Barbosa, Norberto Silva, Gonçalves de Magalhães, Pereira da Silva, Bouterwek, Sismonde de Sismondi e Ferdinand Denis.* Nenhum, porém, fez investigações originais ou estudos acurados e alguns apenas se ocuparam da nossa literatura ocasional e episodicamente. E todos, repito, até o advento de Varnhagen, a fizeram superficialmente, apenas repetindo parcas noções hauridas em noticiadores portugueses, divagando retoricamente a respeito, sem nenhum ou com escasso conhecimento pessoal da obra literária aqui feita. Decididamente o primeiro que o teve cabal foi Varnhagen. Prestante e estimável como recolta de documentos da poesia brasileira, que sem ele se teriam talvez perdido, tem somenos mérito como informação histórica o Parnaso Brasileiro, do Cônego Januário da Cunha Barbosa. Pereira da Silva nenhuma confiança e pouca estima merece como historiador literário. Nunca investigou seriamente coisa alguma e está cheio de erros de fato e de apreciação já no seu tempo indesculpáveis. Magalhães apenas mostrou a sua ignorância do assunto, que não estudou, limitando-se a uma amplificação retórica. Depois de Varnhagen é Norberto Silva o mais operoso, o mais seguro dos primitivos estudiosos da nossa literatura, cuja história projetou escrever. As suas numerosas contribuições para ela, infelizmente na maior parte avulsas e dispersas em prefácios, revistas e jornais, são geralmente relevantes. Aproveitando inteligentemente o trabalho destes e de outras fontes de informação e as notícias e esclarecimentos pessoais de Magalhães e Porto Alegre, o austríaco Fernando Wolf publicou (Berlim, 1863) a sua ainda hoje muito estimável Histoire de la Littérature Brésilienne, a primeira narrativa sistemática e exposição completa, até aquela data, da nossa atividade literária, compreendendo o Romantismo. Trouxe-a até os nossos dias o Sr. Dr. Sílvio Romero numa obra que quaisquer que sejam os seus defeitos não é menos um distinto testemunho da nossa cultura literária no último quartel do século passado. A História da Literatura Brasileira do Sr. Dr. Sílvio Romero é sobretudo valiosa por ser o primeiro quadro completo não só da nossa literatura mas de quase todo o nosso trabalho intelectual e cultura geral, pelas idéias gerais e vistas filosóficas que na história da nossa literatura introduziu, e também pela influência excitante e estimulante que exerceu em a nossa atividade literária de 1880 para cá.

Com diverso conceito do que é literatura, e sem fazer praça de filosofia ou estética sistemática, aponta esta apenas a fornecer aos que porventura se interessem pelo assunto uma noção tão exata e tão clara quanto em meu poder estiver, do nosso progresso literário, correlacionado com a nossa evolução nacional. E foi feita, repito-o desenganadamente, no estudo direto das fontes, que neste caso são as mesmas obras literárias, todas por mim lidas e estudadas, como aliás rigorosamente me cumpria. Rio, 4 de dezembro de 1912. José Veríssimo, em História da Literatura Brasileira

Origens

O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levandose em conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico orienta no sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as diferenças entre a literatura dos dois países, os historiadores acabaram enaltecendo o processo da formação literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e temáticas. A outra vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano, influindo na composição da obra literária. Em outras palavras, considerando que a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das relações humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original Em resumo: estabelecer a autonomia literária é descobrir os momentos em que as formas e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida, desde o seu nascedouro, de acordo com os estilos correspondentes às suas diversas fases, do Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da contemporaneidade. Duas eras - A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias ou estilos de época. A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano do descobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), o

Setecentismo (de 1768 a 1808) e o período de Transição (de 1808 a 1836). A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de 1836 a 1881), o Realismo (de 1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a 1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A partir daí, o que está em estudo é a contemporaneidade da literatura brasileira.

O Quinhentismo

Esta expressão é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Não se pode falar em uma literatura "do" Brasil, como característica do país naquele período, mas sim em literatura "no" Brasil - uma literatura ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções do homem europeu. No Quinhentismo, o que se demonstrava era o momento histórico vivido pela Península Ibérica, que abrangia uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas, como principais manifestações literárias no século XVI. Quem produzia literatura naquele período estava com os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc.), enquanto a literatura dos jesuítas se preocupava com o trabalho de catequese. Com exceção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro somente em 1549. A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de sua gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário A principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical.

Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo etc.) O melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de Caminha. Sua "Carta ao El Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil", além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã Literatura jesuíta - Conseqüência da Contra-Reforma, a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia. Não se pode comentar, no entanto, a literatura dos jesuítas sem referências ao que o padre José de Anchieta representa para o Quinhentismo brasileiro. Chamado pelos índios de "Grande Piahy" (supremo pajé branco), Anchieta veio para o Brasil em 1553 e, no ano seguinte, fundou um colégio no planalto paulista, a partir do qual surgiu a cidade de São Paulo. Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de Anchieta deixou uma fabulosa herança literária: a primeira gramática do tupi-guarani, insuperável cartilha para o ensino da língua dos nativos; várias poesias no estilo do verso medieval; e diversos autos, segundo o modelo deixado pelo poeta português Gil Vicente, que agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas, sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o anjo e o diabo.

O Barroco

O Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico "Prosopopéia", de Bento Teixeira, que introduz

definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do XVIII. Embora o Barroco brasileiro seja datado de 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro "Obras", de Cláudio Manuel da Costa, o movimento academicista ganha corpo a partir de 1724, com a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos. Este fato assinala a decadência dos valores defendidos pelo Barroco e a ascensão do movimento árcade.O termo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos de 1600 e início dos anos de 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da época. Antes do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da poesia barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos anos seguintes ao domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha a responsável pela unificação dos reinos da região, o principal foco irradiador do novo estilo poético. O quadro brasileiro se completa no século XVII, com a presença cada vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência da cana-de-açúcar Uma das principais referências do barroco brasileiro é Gregório de Matos Guerra, poeta baiano que cultivou com a mesma beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista (o cultismo é marcado pela linguagem rebuscada, extravagante, enquanto o conceptismo caracteriza-se pelo jogo de idéias, de conceitos. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o segundo segue um raciocínio lógico, racionalista) Na poesia lírica e religiosa, Gregório de Matos deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito (como de hábito na época) entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mundana. Contradição que o situava com perfeição na escola barroca do Brasil. Antônio Vieira - Se por um lado, Gregório de Matos mexeu com as estruturas morais e a tolerância de muita gente - como o administrador português, o próprio rei, o clero e os costumes da própria sociedade baiana do século XVII - por outro, ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o "impiedoso" Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes para os padrões da época.

Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por defender o monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender os índios). Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. A obra do Padre Antônio Vieira pode ser dividida em três tipos de trabalhos: Profecias, Cartas e Sermões. As Profecias constam de três obras: "História do futuro", "Esperanças de Portugal" e "Clavis Prophetarum". Nelas se notam o sebastianismo e as esperanças de que Portugal se tornaria o "quinto império do Mundo". Segundo ele, tal fato estaria escrito na Bíblia. Aqui ele demonstra bem seu estilo alegórico de interpretação bíblica (uma característica quase que constante de religiosos brasileiros íntimos da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um nacionalismo megalomaníaco e servidão incomum. O grosso da produção literária do Padre Antônio Vieira está nas cerca de 500 cartas. Elas versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia, transformando-se em importantes documentos históricos. O melhor de sua obra, no entanto, está nos 200 sermões. De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o pregador português joga com as idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos de retórica dos jesuítas. Um dos seus principais trabalhos é o "Sermão da Sexagésima", pregado na capela Real de Lisboa, em 1655. A obra também ficou conhecida como "A palavra de Deus". Polêmico, este sermão resume a arte de pregar. Com ele, Vieira procurou atingir seus adversários católicos, os gongóricos dominicanos, analisando no sermão "Por que não frutificava a Palavra de Deus na terra", atribuindo-lhes culpa.

O Arcadismo

O Arcadismo no Brasil começa no ano de 1768, com dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de "Obras", de Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista, por sinal,

desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que, com suas medidas político-administrativas, permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil. No início do século XVIII dá-se a decadência do pensamento barroco, para a qual vários fatores colaboraram, entre eles o cansaço do público com o exagero da expressão barroca e da chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença e atinge em meados do século um estágio estacionário (e até decadente), perdendo terreno para o subjetivismo burguês; o problema da ascensão burguesa superou o problema religioso; surgem as primeiras arcádias, que procuram a pureza e a simplicidade das formas clássicas; os burgueses, como forma de combate ao poder monárquico, começam a cultuar o "bom selvagem", em oposição ao homem corrompido pela sociedade. Gosto burguês - Assim, a burguesia atinge uma posição de domínio no campo econômico e passa a lutar pelo poder político, então em mãos da monarquia. Isso se reflete claramente no campo social e das artes: a antiga arte cerimonial das cortes cede lugar ao poder do gosto burguês. Pode-se dizer que a falta de substitutos para o Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos, mortos nos últimos cinco anos do século XVII, foi também um aspecto motivador do surgimento do Arcadismo no Brasil. De qualquer forma, suas características no país seguem a linha européia: a volta aos padrões clássicos da Antigüidade e do Renascimento; a simplicidade; a poesia bucólica, pastoril; o fingimento poético e o uso de pseudônimos. Quanto ao aspecto formal, a escola é marcada pelo soneto, os versos decassílabos, a rima optativa e a tradição da poesia épica. O Arcadismo tem como principais nomes: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, José de Santa Rita Durão e Basílio da Gama.

O Romantismo

O Romantismo se inicia no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a "Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e saudades".

Em 1822, Dom Pedro I concretiza um movimento que se fazia sentir, de forma mais imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A partir desse momento, o novo país necessita inserir-se no modelo moderno, acompanhando as nações independentes da Europa e América. A imagem do português conquistador deveria ser varrida. Há a necessidade de auto-afirmação da pátria que se formava. O ciclo da mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra, onde buscam soluções para os problemas brasileiros. O Brasil de então nem chegava perto da formação social dos países industrializados da Europa (burguesia/proletariado). A estrutura social do passado próximo (aristocracia/escravo) ainda prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador José de Nicola, "o ser burguês ainda não era uma posição econômica e social, mas mero estado de espírito, norma de comportamento". Marco final - Nesse período, Gonçalves de Magalhães viajava pela Europa. Em 1836, ele funda a revista Niterói, da qual circularam apenas dois números, em Paris. Nela, ele publica o "Ensaio sobre a história da literatura brasileira", considerado o nosso primeiro manifesto romântico. Essa escola literária só teve seu marco final no ano de 1881, quando foram lançados os primeiros romances de tendência naturalista e realista, como "O mulato", de Aluízio Azevedo, e "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. Manifestações do movimento realista, aliás, já vinham ocorrendo bem antes do início da decadência do Romantismo, como, por exemplo, o liderado por Tobias Barreto desde 1870, na Escola de Recife. O Romantismo, como se sabe, define-se como modismo nas letras universais a partir dos últimos 25 anos do século XVIII. A segunda metade daquele século, com a industrialização modificando as antigas relações econômicas, leva a Europa a uma nova composição do quadro político e social, que tanto influenciaria os tempos modernos. Daí a importância que os modernistas deram à Revolução Francesa, tão exaltada por Gonçalves de Magalhães. Em seu "Discurso sobre a história da literatura do Brasil", ele diz: "...Eis aqui como o Brasil deixou de ser colônia e foi depois elevado à categoria de Reino Unido. Sem a Revolução Francesa, que tanto esclareceu os povos, esse passo tão cedo se não daria...". A classe social delineia-se em duas classes distintas e antagônicas, embora atuassem paralelas durante a Revolução Francesa: a classe dominante, agora representada pela burguesia capitalista industrial, e a classe dominada, representada pelo proletariado. O Romantismo foi uma

escola burguesa de caráter ideológico, a favor da classe dominante. Daí porque o nacionalismo, o sentimentalismo, o subjetivismo e o irracionalismo - características marcantes do Romantismo inicial - não podem ser analisados isoladamente, sem se fazer menção à sua carga ideológica. Novas influências - No Brasil, o momento histórico em que ocorre o Romantismo tem que ser visto a partir das últimas produções árcades, caracterizadas pela sátira política de Gonzaga e Silva Alvarenga. Com a chegada da Corte, o Rio de Janeiro passa por um processo de urbanização, tornando-se um campo propício à divulgação das novas influências européias. A colônia caminhava no rumo da independência. Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza pátria. Na realidade, características já cultivadas na Europa, e que se encaixaram perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e econômicas. De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado, como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abolição da escravatura. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo. No final do Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transformações econômicas, políticas e sociais levam a uma literatura mais próxima da realidade; a poesia reflete as grandes agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai, o ideal de República. É a decadência do regime monárquico e o aparecimento da poesia social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o Realismo. O Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela nitidamente uma evolução no comportamento dos autores românticos. A comparação entre os primeiros e os últimos representantes dessa escola mostra traços peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si. No caso brasileiro, por exemplo, há uma distância considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves. Daí a necessidade de se dividir o Romantismo em fases ou gerações. No romantismo brasileiro podemos reconhecer três gerações: geração nacionalista ou indianista; geração do "mal do século" e a "geração condoreira".

A primeira (nacionalista ou indianista) é marcada pela exaltação da natureza, volta ao passado histórico, medievalismo, criação do herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação "geração indianista". O sentimentalismo e a religiosidade são outras características presentes. Entre os principais autores, destacam-se Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto. Egocentrismo - A segunda (do "mal do século", também chamada de geração byroniana, de Lord Byron) é impregnada de egocentrismo, negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante. Seu tema preferido é a fuga da realidade, que se manifesta na idealização da infância, nas virgens sonhadas e na exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela. A geração condoreira, caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como geração hugoana. O termo condoreirismo é conseqüência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade. Duas outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a prosa e o teatro romântico. José de Nicola demonstrou quais as explicações para o aparecimento e desenvolvimento do romance no Brasil: "A importação ou simples tradução de romances europeus; a urbanização do Rio de Janeiro, transformado, então, em Corte, criando uma sociedade consumidora representada pela aristocracia rural, profissionais liberais, jovens estudantes, todos em busca de entretenimento; o espírito nacionalista em conseqüência da independência política a exigir uma "cor local" para os enredos; o jornalismo vivendo o seu primeiro grande impulso e a divulgação em massa de folhetins; o avanço do teatro nacional". Os romances respondiam às exigências daquele público leitor; giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens, apresentando personagens idealizados pela imaginação e ideologia românticas com os quais o leitor se identificava, vivendo uma realidade que lhe convinha. Algumas poucas obras, porém, fugiram desse esquema, como "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, e até "Inocência", do Visconde de Taunay.

Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance brasileiro foi "O filho do pescador", publicado em 1843, de autoria de Teixeira de Souza (1812-1881). Mas se tratava de um romance sentimentalóide, de trama confusa e que não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria na literatura brasileira. Por esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor, justamente por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às suas expectativas, convencionou-se adotar o romance "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro. Dentro das características básicas da prosa romântica, destacam-se, além de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar. Almeida, por sinal, com as "Memórias de um Sargento de Milícias" realizou uma obra totalmente inovadora para sua época, exatamente quando Macedo dominava o ambiente literário. As peripécias de um sargento descritas por ele podem ser consideradas como o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro, pois abandona a visão da burguesia urbana, para retratar o povo com toda a sua simplicidade. "Casamento" - José de Alencar, por sua vez, aparece na literatura brasileira como o consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais. Ele defendia o "casamento" entre o nativo e o europeu colonizador, numa troca de favores: uns ofereciam a natureza virgem, um solo esplêndido; outros a cultura. Da soma desses fatores resultaria um Brasil independente. "O guarani" é o melhor exemplo, ao se observar a relação do principal personagem da obra, o índio Peri, com a família de D. Antônio de Mariz. Este jogo de interesses entre o índio e o europeu, proposto por Alencar, aparece também em "Iracema" (um anagrama da palavra América), na relação da índia com o português Martim. Moacir, filho de Iracema e Martim, é o primeiro brasileiro fruto desse casamento. José de Alencar diversificou tanto sua obra que tornou possível uma classificação por modalidades: romances urbanos ou de costumes (retratando a sociedade carioca de sua época - o Rio do II Reinado); romances históricos (dois, na verdade, voltados para o período colonial brasileiro - "As minas de prata" e "A guerra dos mascates"); romances regionais ("O sertanejo" e "O gaúcho" são as duas obras regionais de Alencar); romances rurais ( como "Til" e "O tronco do ipê"; e romances

indianistas, que trouxeram maior popularidade para o escritor, como "O Guarani", "Iracema" e "Ubirajara".

Realismo e Naturalismo

"O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houve de mau na nossa sociedade." Ao cunhar este conceito, Eça de Queiroz sintetizou a visão de vida que os autores da escola realista tinham do homem durante e logo após o declínio do Romantismo. Este estilo de época teve uma prévia: os românticos Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto, embora fizessem uma poesia romântica na forma e na expressão, utilizavam temas voltados para a realidade político-social da época (final da década de 1860). Da mesma forma, algumas produções do romance romântico já apontavam para um novo estilo na literatura brasileira, como algumas obras de Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Começava-se o abandono do Romantismo enquanto surgiam os primeiros sinais do Realismo. Na década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Silvio Romero e outros, aproximando-se das idéias européias ligadas ao positivismo, ao evolucionismo e, principalmente, à filosofia. São os ideais do Realismo que encontravam ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob o signo do abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia. No Brasil, considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um ano fértil para a literatura brasileira, com a publicação de dois romances fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluízio Azevedo publica "O mulato", considerado o primeiro romance naturalista do Brasil; Machado de Assis publica "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o primeiro romance realista de nossa literatura. Na divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado data final do Realismo é 1893, com a publicação de "Missal"

e "Broquéis", ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa - com os romances realistas e naturalistas - e na poesia, com o Parnasianismo "Príncipe dos poetas" - Da mesma forma, o início do Simbolismo, em 1893, não representou o fim do Realismo, porque obras realistas foram publicadas posteriormente a essa data, como "Dom Casmurro", de Machado de Assis, em 1900, e "Esaú e Jacó", do mesmo autor, em 1904. Olavo Bilac, chamado "príncipe dos poetas", obteve esta distinção em 1907. A Academia Brasileira de Letras, templo do Realismo, também foi inaugurada posteriormente à data-marco do fim do Realismo: 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do século XIX e nos primeiros do século XX, três estéticas se desenvolvem paralelamente: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte Moderna. O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo, o avanço científico leva a novas descobertas nos campos da física e da química. O capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais, aumentando a massa operária urbana, e formando uma população marginalizada, que não partilha dos benefícios do progresso industrial, mas, pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho. O Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico quanto no político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com profundas diferenças materiais, se comparadas às da Europa. A campanha abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/1870) tem como conseqüência o pensamento republicano (o Partido Republicano foi fundado no ano em que essa guerra terminou); a Monarquia vive uma vertiginosa decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou uma nova realidade: o fim da mão-de-obra escrava e sua substituição pela mão-de-obra assalariada, então representada pelas levas de imigrantes europeus que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, o que originou uma nova economia voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista. Raul Pompéia, Machado de Assis e Aluízio Azevedo transformaram-se nos principais representantes da escola realista no Brasil. Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos,

assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como nos romances "O mulato", "O cortiço" e "O Ateneu". Eles negam a burguesia a partir da família. A expressão Realismo é uma denominação genérica da escola literária, que abriga três tendências distintas: "romance realista", "romance naturalista" e "poesia parnasiana". O romance realista foi exaustivamente cultivado no Brasil por Machado de Assis. Trata-se de uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. Para se ter uma idéia, os cinco romances da fase realista de Machado de Assis apresentam nomes próprios em seus títulos ("Brás Cubas"; "Quincas Borba"; "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó"; e "Aires"). Isto revela uma clara preocupação com o indivíduo. O romance realista analisa a sociedade por cima. Em outras palavras: seus personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista é documental, retrato de uma época.

Naturalismo

O romance naturalista, por sua vez, foi cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo e Júlio Ribeiro. Aqui, Raul Pompéia também pode ser incluído, mas seu caso é muito particular, pois seu romance "O Ateneu" ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social, a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. Os títulos das obras naturalistas apresentam quase sempre a mesma preocupação: "O mulato", "O cortiço", "Casa de pensão", "O Ateneu". O Naturalismo apresenta romances experimentais. A influência de Charles Darwin se faz sentir na máxima segundo a qual o homem é um animal; portanto antes de usar a razão deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da classe dominante. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto do Naturalismo. Em conseqüência, esses romances são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos como o homossexualismo - tanto o masculino ("O Ateneu"), quanto o feminino ("O cortiço").

O Parnasianismo A poesia parnasiana preocupa-se com a forma e a objetividade, com seus sonetos alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a trindade parnasiana O Parnasianismo é a manifestação poética do Realismo, dizem alguns estudiosos da literatura brasileira, embora ideologicamente não mantenha todos os pontos de contato com os romancistas realistas e naturalistas. Seus poetas estavam à margem das grandes transformações do final do século XIX e início do século XX. Culto à forma - A nova estética se manifesta a partir do final da década de 1870, prolongando-se até a Semana de Arte Moderna. Em alguns casos chegou a ultrapassar o ano de 1922 (não considerando, é claro, o neoparnasianismo). Objetividade temática e culto da forma: eis a receita. A forma fixa representada pelos sonetos; a métrica dos versos alexandrinos perfeitos; a rima rica, rara e perfeita. Isto tudo como negação da poesia romântica dos versos livres e brancos. Em suma, é o endeusamento da forma.

O Simbolismo

É comum, entre críticos e historiadores, afirmar-se que o Brasil não teve momento típico para o Simbolismo, sendo essa escola literária a mais européia, dentre as que contaram com seguidores nacionais, no confronto com as demais. Por isso, foi chamada de "produto de importação". O Simbolismo no Brasil começa em 1893 com a publicação de dois livros: "Missal" (prosa) e "Broquéis" (poesia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna. O início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da escola anterior, o Realismo, pois no final do século XIX e início do século XX tem-se três tendências que caminham paralelas: Realismo, Simbolismo e pré-Modernismo, com o aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira, entre eles Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Foi a Semana de Arte Moderna que pôs fim a

todas as estéticas anteriores e traçou, de forma definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil. Transição - O Simbolismo, em termos genéricos, reflete um momento histórico extremamente complexo, que marcaria a transição para o século XX e a definição de um novo mundo, consolidado a partir da segunda década deste século. As últimas manifestações simbolistas e as primeiras produções modernistas são contemporâneas da primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa. Neste contexto de conflitos e insatisfações mundiais (que motivou o surgimento do Simbolismo), era natural que se imaginasse a falta de motivos para o Brasil desenvolver uma escola de época como essa. Mas é interessante notar que as origens do Simbolismo brasileiro se deram em uma região marginalizada pela elite cultural e política: o Sul - a que mais sofreu com a oposição à recém-nascida República, ainda impregnada de conceitos, teorias e práticas militares. A República de então não era a que se desejava. E o Rio Grande do Sul, onde a insatisfação foi mais intensa, transformou-se em palco de lutas sangrentas iniciadas em 1893, o mesmo ano do início do Simbolismo. A Revolução Federalista (1893 a 1895), que começou como uma disputa regional, ganhou dimensão nacional ao se opor ao governo de Floriano Peixoto, gerando cenas de extrema violência e crueldade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além disso, surgiu a Revolta da Armada, movimento rebelde que exigiu a renúncia de Floriano, combatendo, sobretudo, a Marinha brasileira. Ao conseguir esmagar os revoltosos, o presidente consegue consolidar a República. Esse ambiente provavelmente representou a origem do Simbolismo, marcado por frutrações, angústias, falta de perspectivas, rejeitando o fato e privilegiando o sujeito. E isto é relevante pois a principal característica desse estilo de época foi justamente a negação do Realismo e suas manifestações. A nova estética nega o cientificismo, o materialismo e o racionalismo. E valoriza as manifestações metafísicas e espirituais, ou seja, o extremo oposto do Naturalismo e do Parnasianismo. "Dante Negro" - Impossível referir-se ao Simbolismo sem reverenciar seus dois grandes expoentes: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães. Aliás, não seria exagero afirmar que ambos foram o próprio Simbolismo. Especialmente o primeiro, chamado, então, de "cisne negro" ou "Dante negro". Figura mais importante do Simbolismo brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa estética no Brasil. Como poeta,

teve apenas um volume publicado em vida: "Broquéis" (os dois outros volumes de poesia são póstumos). Teve uma carreira muito rápida, apesar de ser considerado um dos maiores nomes do Simbolismo universal. Sua obra apresenta uma evolução importante: na medida em que abandona o subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais universalizantes - sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do homem negro (observações pessoais, pois era filho de escravos), mas evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano. Já Alphonsus de Guimarães preferiu manter-se fiel a um "triângulo" que caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o mais místico poeta de nossa literatura. O amor pela noiva, morta às vésperas do casamento, e sua profunda religiosidade e devoção por Nossa Senhora geraram, e não poderia ser diferente, um misticismo que beirava o exagero. Um exemplo é o "Setenário das dores de Nossa Senhora", em que ele atesta sua devoção pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um único meio de atingir a sublimação e se aproximar de Constança - a noiva morta - e da Virgem. Daí o amor aparecer sempre espiritualizado. A própria decisão de se isolar na cidade mineira de Mariana, que ele próprio considerou sua "torre de marfim", é uma postura simbolista. O Pré-Modernismo

O que se convencionou chamar de pré-Modernismo no Brasil não constitui uma escola literária. Pré-Modernismo é, na verdade, um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária, que caractertiza os primeiros vinte anos deste século. Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos literários - desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura política, e outros com propostas realmente inovadoras. É grande a lista dos autores que pertenceram ao pré-Modernismo, mas, indiscutivelmente, merecem destaque: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Assim, pode-se dizer que essa escola começou em 1902, com a publicação de dois livros: "Os sertões", de Euclides da Cunha, e "Canaã", de Graça Aranha, e se estende até o ano de 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.

Apesar de o pré-Modernismo não constituir uma escola literária, apresentando individualidades muito fortes, com estilos às vezes antagônicos - como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e Lima Barreto - percebe-se alguns pontos comuns entre as principais obras pré-modernistas: a) eram obras inovadoras, que apresentavam ruptura com o passado, com o academicismo; b) primavam pela denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário, herdado do Romantismo e do Parnasianismo. O grande tema do pré-Modernismo é o Brasil nãooficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios; c) acentuavam o regionalismo, com o qual os autores acabam montando um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste nas obras de Euclides da Cunha, o Vale do Rio Paraíba e o interior paulista nos textos de Monteiro Lobato, o Espírito Santo, retratado por Graça Aranha, ou o subúrbio carioca, temática quase que invariável na obra de Lima Barreto; d)difundiram os tipos humanos marginalizados, que tiveram ampliado o seu perfil, até então desconhecido, ou desprezado, quando conhecido - o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, o mulato; e) traçaram uma ligação entre os fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos, aproximando a ficção da realidade. Esses escritores acabaram produzindo uma redescoberta do Brasil, mais próxima da realidade, e pavimentaram o caminho para o período literário seguinte, o Modernismo, iniciado em 1922, que acentuou de vez a ruptura com o que até então se conhecia como literatura brasileira.

A Semana de Arte Moderna

O Modernismo, como tendência literária, ou estilo de época, teve seu prenúncio com a realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Idealizada por um grupo de artistas, a Semana pretendia colocar a cultura brasileira a par das correntes de vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de consciência da realidade brasileira. O Movimento não deve ser visto apenas do ponto de vista artístico, como recomendam os historiadores e críticos especializados em história da literatura brasileira, mas também como um movimento político e social. O país estava dividido entre o rural e o urbano. Mas o bloco urbano não era homogêneo. As principais cidades brasileiras, em

particular São Paulo, conheciam uma rápida transformação como conseqüência do processo industrial. A primeira Guerra Mundial foi a responsável pelo primeiro surto de industrialização e conseqüente urbanização. O Brasil contava com 3.358 indústrias em 1907. Em 1920, esse número pulou para 13.336. Isso significou o surgimento de uma burguesia industrial cada dia mais forte, mas marginalizada pela política econômica do governo federal, voltada para a produção e exportação do café. Imigrantes - Ao lado disso, o número de imigrantes europeus crescia consideravelmente, especialmente os italianos, distribuindo-se entre as zonas produtoras de café e as zonas urbanas, onde estavam as indústrias. De 1903 a 1914, o Brasil recebeu nada menos que 1,5 milhão de imigrantes. Nos centros urbanos criou-se uma faixa considerável de população espremida pelos barões do café e pela alta burguesia, de um lado, e pelo operariado, de outro. Surge a pequena burguesia, formada por funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais e militares, entre outros, criando u’a massa politicamente "barulhenta" e reivindicatória. A falta de homogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do comportamento do operariado. Os imigrantes de origem européia trazem suas experiências de luta de classes. Em geral esses trabalhadores eram anarquistas e suas ações resultavam, quase sempre, em greves e tensões sociais de toda sorte, entre 1905 e 1917. Um ano depois, quando ocorreu a Revolução Russa, os artigos na imprensa a esse respeito tornaram-se cada vez mais comuns. O Partido Comunista seria fundado em 1922. Desde então, ocorreria o declínio da influência anarquista no movimento operário. Desta forma, circulavam pela cidade de São Paulo, numa mesma calçada, um barão do café, um operário anarquista, um padre, um burguês, um nordestino, um professor, um negro, um comerciante, um advogado, um militar, etc., formando, de fato, uma "paulicéia desvairada" (título de célebre obra de Mário de Andrade). Esse desfile inusitado e variado de tipos humanos serviu de palco ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inovadora a romper com as velhas estruturas literárias vigentes no país.

O Modernismo - (primeira fase)

O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico desta primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor. Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, à pesquisa das fontes quinhentistas, à procura de uma língua brasileira (a língua falada pelo povo nas ruas), às paródias, numa tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras, e à valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É o tempo dos manifestos nacionalistas do "Pau-Brasil" (o Manifesto do Pau-Brasil, escrito por Oswald de Andrade em 1924, propõe uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira) e da "Antropofagia"(01) dentro da linha comandada por Oswald de Andrade. Mas havia também os manifestos do Verde-Amarelismo e o do Grupo da Anta, que trazem a semente do nacionalismo fascista comandado por Plínio Salgado. No final da década de 20, a postura nacionalista apresenta duas vertentes distintas: de um lado, um nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira e identificado politicamente com as esquerdas; de outro, o nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes políticas de extrema direita. Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo, que continuariam a produzir nas décadas seguintes, destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.

O Modernismo - (segunda fase)

O período de 1930 a 1945 registrou a estréia de alguns dos nomes mais significativos do romance brasileiro. Refletindo o mesmo momento histórico(02) e apresentando as mesmas preocupações dos poetas da década de 30 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes), a segunda fase do Modernismo apresenta autores como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo, que

produzem uma literatura de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora. Efeitos da crise - Na década de 30, o país passava por grandes transformações, fortemente marcadas pela revolução de 30 e pelo questionamento das oligarquias tradicionais. Não havia como não sentir os efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológicos que levavam a posições mais definidas e engajadas. Tudo isso, formou um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo um elevado grau de tensão nas relações do indivíduo com o mundo. Nessa busca do homem brasileiro "espalhado nos mais distantes recantos de nossa terra", no dizer de José Lins do Rego, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social. Destaque especial merecem os escritores nordestinos que vivenciam a passagem de um Nordeste medieval para uma nova realidade capitalista e imperialista. E nesse aspecto, o baiano Jorge Amado é um dos melhores representantes do romance brasileiro, quando retrata o drama da economia cacaueira, desde a conquista e uso da terra até a passagem de seus produtos para as mãos dos exportadores. Mas também não se pode esquecer de José Lins do Rego, com as suas regiões de cana, os banguês e os engenhos sendo devorados pelas modernas usinas. O primeiro romance representativo do regionalismo nordestino, que teve seu ponto de partida no Manifesto Regionalista de 1926 (este manifesto, elaborado pelo Centro Regionalista do Nordeste, procura desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste dentro dos novos valores modernistas. Propõe trabalhar em prol dos interesses da região nos seus aspectos diversos - sociais, econômicos e Culturais) foi "A bagaceira", de José Américo de Almeida, publicado em 1928. Verdadeiro marco na história literária do Brasil, sua importância deve-se mais à temática (a seca, os retirantes, o engenho), e ao caráter social do romance, do que aos valores estéticos.

Pós-Modernismo

O Pós-Modernismo se insere no contexto dos extraordinários fenômenos sociais e políticos de 1945. Foi o ano que assistiu o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Era Atômica com as explosões de Hiroshima e Nagasaki. O mundo passa a acreditar numa paz duradoura. Cria-se a Organização das Nações Unidas (ONU) e, em seguida, publica-se a Declaração dos Direitos do Homem. Mas, logo depois, inicia-se a Guerra Fria. Paralelamente a tudo isso, o Brasil vive o fim da ditadura de Getúlio Vargas. O país inicia um processo de redemocratização. Convoca-se uma eleição geral e os partidos são legalizados. Apesar disso, abre-se um novo tempo de perseguições políticas, ilegalidades e exílios. A literatura brasileira também passa por profundas alterações, com algumas manifestações representando muitos passos adiante; outras, um retrocesso. O jornal "O Tempo", excelente crítico literário, encarrega-se de fazer a seleção. Intimismo - A prosa, tanto nos romances como nos contos, aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de 30 em busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com a produção fantástica de João Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil Central. Na poesia, ganha corpo, a partir de 1945, uma geração de poetas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 1922. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista "Orfeu", cujo primeiro número é lançado na "Primavera de 1947" e que afirma, entre outras coisas, que "uma geração só começa a existir no dia em que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente no dia em que deixam de acreditar nela." Essa geração de escritores negou a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras "brincadeiras" modernistas. Os poetas de 45 partem para uma poesia mais equilibrada e séria, distante do que eles chamavam de "primarismo desabonador" de Mário de Andrade e Oswald

de Andrade. A preocupação primordial era quanto ao restabelecimento da forma artística e bela; os modelos voltam a ser os mestres do Parnasianismo e do Simbolismo. Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado, entre outros poetas, por Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos e Darcy Damasceno. O final dos anos 40, no entanto, revelou um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado esteticamente a qualquer grupo e aprofundador das experiências modernistas anteriores: ninguém menos que João Cabral de Melo Neto. Contemporâneos a ele, e com alguns pontos de contato com sua obra, destacam-se Ferreira Gullar e Mauro Mota.

A produção contemporânea

Produção contemporânea deve ser entendida como as obras e movimentos literários surgidos nas décadas de 60 e 70 e que refletiram um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura. Seu período mais crítico ocorreu entre os anos de 1968 e 1978, durante a vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Tanto que, logo após a extinção do ato, verificou-se uma progressiva normalização no país. As adversidades políticas, no entanto, não mergulharam o país numa calmaria cultural. Ao contrário, as décadas de 60 e 70 assistiram a uma produção cultural bastante intensa em todos os setores. Na poesia, percebe-se a preocupação em manter uma temática social, um texto participante, com a permanência de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, ao lado de outros poetas que ainda aparavam as arestas em suas produções. Visual - O início da década de 60 apresentou alguns grupos em luta contra o que chamaram "esquemas analítico-discursivos da sintaxe tradicional". Ao mesmo tempo, esses grupos buscavam soluções no aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade das palavras e nos recursos gráficos. O sintoma mais importante desse movimento foi o surgimento da Poesia Concreta e da Poesia Práxis. Paralelamente,

surgia a poesia "marginal", que se desenvolve fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção de livros. No romance, ao lado da última produção de Jorge Amado e Érico Veríssimo, e das obras "lacriminosas"de José Mauro de Vasconcelos ("Meu pé de Laranja-Lima", "Barro Blanco"), de muito sucesso junto ao grande público, tem se mantido o regionalismo de Mário Palmério, Bernardo Élis, Antônio Callado, Josué Montello e José Cândido de Carvalho. Entre os intimistas, destacam-se Osman Lins, Autran Dourado e Lygia Fagundes Telles, Na prosa, as duas décadas citadas assistiram à consagração das narrativas curtas (crônica e conto). O desenvolvimento da crônica está intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na grande imprensa. Hoje, por exemplo, não há um grande jornal que não inclua em suas páginas crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Luís Fernando Veríssimo e Lourenço Diaféria, entre outros. Deve-se fazer uma menção especial a Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), que, com suas bem humoradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na década de 60, tem servido de mestre a muitos cronistas. O conto, por outro lado, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em qualidade quanto em quantidade. Entre os contistas mais significativos, destacamse Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem Fonseca, Domingos Pellegrini Jr. e João Antônio. -------------------------------01 - "Revista de Antropofagia", publicação semanal que reunia o grupo mais nacionalista da primeira fase do Modernismo. Teve 26 números, publicados entre maio de 1928 e agosto de 1929. 02 - Queda da Bolsa de Nova York, colapso no sistema financeiro internacional, a Grande Depressão - paralisação de fábricas, ruptura nas relações comerciais, falências bancárias, altíssimo índice de desemprego, fome e miséria generalizadas - gerando a intervenção do Estado na organização econômica, com agravamento das questões sociais.

A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO BRASIL Principais autores e Obras

QUINHENTISMO

Literatura informativa de origem ibérica

- Ambrósio Fernandes Brandão - Diálogo das grandezas do Brasil - Gabriel Soares de Sousa (1540?-1591) - Tratado descritivo do Brasil - Pero Lopes e Sousa - Diário de navegação - Pero de Magalhães Gândavo - Tratado da Terra do Brasil, História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Frei Vicente de Salvador(1564-1639) - História da Custódia do Brasil

Literatura informativa de autores não-ibéricos

- André de Thevet - As singularidades da França Antártica - Antonil (Giovanni Antonio Andreoni, 1650-1716?) - Cultura e opulência do Brasil

- Hans Staden - Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil - Jean de Lery - História de uma viagem feita à terra do Brasil

Literatura dos Catequistas

- Fernão Cardim - Tratado da Terra e da gente do Brasil - José de Anchieta (1534-1597) - Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões: De gentis Mendis de Saa; De Beata Virgine dei Matre Maria; Arte da gramática da lingua mais usada na costa do Brasil; e os autos: Auto da pregação universal; Na festa de São Lourenço; Na visitação de Santa Isabel - Manuel da Nóbrega - Cartas do Brasil; Diálogo sobre a conversão do gentio

BARROCO

- Bento Teixeira (1561-1600) - Prosopopéia - Gregório de Matos Guerra (1623-1696) - Poesia sacra; Poesia lírica; Poesia satírica (2 volumes); Últimas - Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) - Música do Parnaso - Frei Manuel de Santa Maria Itaparica (1704-?) - Descrição da Cidade da Ilha de Itaparica; Estáquidos - Padre Antônio Vieira (1608-1697) - Obra composta de sermões (15 volumes), cartas e profecias (as principais: Sermão pelo bom sucesso das almas de Portugal contra as de Holanda; Sermão da sexagésima; Sermão da primeira dominga da Quaresma; Sermão de Santo Antônio aos peixes; e as profecias: Histórias do futuro e Clavis prophetarum

ARCADISMO

- Alvarenga Peixoto (1748-1793) - Enéias no Lácio e obra poética esparsa - Basílio da Gama (1740-1795) - O Uraguai - Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) - Obras; Vila Rica; Fábula do Ribeirão do Carmo - Santa Rita Durão (1722-1784) - Caramuru - Silva Alvarenga (1749-1814) - Obras poéticas; Glaura; O desertor - Sousa Caldas (1762-1814) - Obra esparsa (poemas, traduções, cartas) - Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) - Marília de Dirceu; Cartas Chilenas; Tratado de Direito Natural

ROMANTISMO - (Poesia)

Primeira geração - Gonçalves Dias - (1823-1864) - Primeiros cantos; Segundos cantos; Terceiros Cantos; Os timbiras; Sextilhas de Frei Antão (Poesia); Leonor de Mendonça; Beatriz Cenci; Patkull (teatro); Brasil e Oceania; Dicionário de lingua tupi - Gonçalves de Magalhães - (1811-1882) - Poesias; Suspiros poéticos e saudades; A confederação dos Tamoios (poesia) Amância (novela); Antônio José ou O poeta e a inquisição; Olgiato (teatro) - Manuel de Araújo Porto Alegre - (1806-1879) - Brasilianas; Colombo

Segunda geração - Álvares de Azevedo - (1831-1852) - Lira dos vinte anos; O conde Lopo (poesia); Noite na Taverna; O livro de Fra Gondicario (prosa); Macário (teato) - Cassimiro de Abreu - (1839-1860) - As primaveras (poesia); Camões e o Jaú (teatro) - Fagundes Varela (1841-1875) - Vozes da América; Estandarte Auriverde; Cantos do Ermo e da Cidade; Cantos religiosos; Diário de Lázaro; Anchieta ou O evangelho nas selvas - Junqueira Freire - (1832-1855) - Inspirações do claustro

Terceira geração - Castro Alves (1847-1871) - Espumas flutuantes; Os escravos; A cachoeira de Paulo Afonso; Hinos do Equador (poesia); Gonzaga ou A revolução de Minas (teatro) - Sousândrade (Joaquim de Sousa Andrade, 1833-1902) - Obras poéticas; Harpa selvagem; Guesa errante - Tobias Barreto (1837-1889) - Dias e noites

ROMANTISMO (Prosa)

- Bernardo Guimarães - (1825-1884) - O ermitão de Muquém; Lendas e romances; O garimpeiro; O seminarista; O índio Afonso; A escrava Isaura; O pão de ouro; Rosaura, a enjeitada; Jupira (romances); Cantos da solidão (poesia)

- Franklin Távora - (1842-1888) - A trindade Maldita; Os índios do Jaguaribe; A casa de palha; Um casamento no arrabalde; O cabeleira; O matuto; Lourenço. - Joaquim Manuel de Macedo - (1820-1882) - A moreninha; O moço loiro; Os dois amores; Rosa, Vicentina; A carteira do meu tio; A luneta mágica; As vítimas algozes, Nina; A Namoradeira; Mulheres de matilha; Um noivo e duas noivas. - José de Alencar - (1829-1877) - Cinco minutos; A viuvinha; Sonhos D’ouro; Encarnação; Senhora; Diva; Lucila; A pata da gazela (romances urbanos); As minas de prata; A guerra dos mascates; Alfarrábios (romances históricos); O sertanejo; O gaúcho (romances regionalistas); Til; O tronco do Ipê (romances rurais); Iracema; O guarani; Ubirajara (romances indianistas); A noite de São João, O crédito; Demônio familiar; Verso e reverso; As asas de um anjo; Mãe; O jesuíta (teatro) - Manuel Antônio de Almeida - (1831-1861) - Memórias de um sargento de milícias - Visconde de Taunay (Alfredo D’Escragnolle Taunay - 1843-1899) - Inocência; A retirada da Laguna; Lágrimas do coração; Histórias brasileiras - Teixeira de Souza (1812-1861) - Os filhos do pescador; Tardes de um pintor

ROMANTISMO (Teatro)

- Martins Pena (1815-1848) - O juiz de paz na roça; O cinto acusador; A família e a festa da roça; Os dois ou O inglês maquinista; Judas em Sábado de Aleluia; O diletante; O noviço; As casadas solteiras; O cigano; Os ciúmes de um pedestre; O usuário; A barriga do meu tio; As desgraças de uma criança - Paulo Eiró (1836-1871) - Sangue limpo

REALISMO

- Artur Azevedo (1855-1908) - Amor por anexins; A pelo do lobo; O dote; A princesa dos cajueiros; O liberato; A mascote na roça; O tribofe; Revelação de um segredo; A fantasia; A capital Federal (teatro) - Machado de Assis - (1839-1908) - Primeira fase: Ressurreição; A mão e a luva; Helena; Iaiá Garcia (romances); Contos fluminenses; Histórias da meia-noite (contos); Crisálidas; Falenas; Americanas (poesia); Segunda fase: Memórias póstumas de Brás Cubas; Dom Casmurro; Esaú e Jacó (romances); Várias histórias; Páginas recolhidas; Relíquias de Casa Velha (contos); Ocidentais (poesia); Hoje avental, amanhã luva; Desencantos; O caminho da porta; Quase ministro; os deuses de casaca; Uma ode de Anacreonte; Tu, só tu, puro amor; Não consultes médico (teatro). Póstumas: Contos recolhidos; Contos esparsos; Histórias sem data; Contos avulsos; Contos esquecidos; Contos e Crônicas; Crônicas de Lélio; Outras relíquias; Novas relíquias; A semana; Crítica teatral; Crítica literária Raul Pompéia - (1863-1895) - O Ateneu; Uma tragédia no Amazonas; Agonia; As jóias da Coroa (romances); microscópicos (contos); Canções sem metro (poesia)

NATURALISMO

- Adolfo Caminha - (1867-1897) - A normalista; O bom crioulo; Tentação (romances); Judith; Lágrimas de um crente (contos); Cartas literárias (crítica) - Aluisio Azevedo - (1857-1913) - Uma lágrima de mulher; O mulato; Mistérios da Tijuca; Casa de pensão, O cortiço; A mortalha de Alzira; Memórias de um condenado; Filomena Borges; O homem; O coruja; O livro de uma sogra (romances); Demônios (contos); O bom negro (crônicas). - Domingos Olímpio (1850-1906) - Luzia-homem

- Inglês de Sousa - (1853-1918) - O cacaulista; Histórias de um pescador; O coronel sangrado; O missionário (romances); Cenas da vida Amazônica (contos) - Júlio Ribeiro - (1845-1890) - A carne; Padre Belchior de Pontes - Manuel de Oliveira Paiva - (1861-1892) - Dona Guidinha do Poço; A afilhada

PARNASIANISMO

- Alberto de Oliveira (1857-1937) - Canções românticas; Meridionais; Sonetos e poemas; Poesias escolhidas; Versos e rimas - Francisca Júlia - (1874-1920) - Mármores; Esfinges - Olavo Bilac (1865-1918) - Panóplias; Sarças de fogo; Via láctea; poesias infantis; Alma inquieta; Tarde (poesia); Crônicas e novelas (prosa); e tratados de literatura - Raimundo Correia (1859-1911) - Primeiros sonhos; Sinfonias; Versos e versões; Aleluia; Poesias - Vicente de Carvalho - (1866-1924) - Relicário; Rosa, rosa de amor

SIMBOLISMO

- Alphonsus de Guimarães - (1870-1921) - Septenário das dores de Nossa Senhora; Dona mística; Kyriale; Pauvre lyre; Pastoral aos crentes do amor e da morte; Escada de Jacó; Pulves; Câmara ardente; Salmos da noite

- Cruz e Sousa - (1863-1898) - - Broquéis; Missal; Faróis; Evocação; Últimos sonetos

PRÉ-MODERNISMO

- Augusto dos Anjos (1884-1914) - Eu (poesia) - Coelho Neto (1864-1934) - A capital federal; O rajá de pendjab; O morto; O paraíso; Tormenta, Esfinge (romances); Rapsódias; Baladilhas; Álbum de Calibã; Vida Mundana; Contos da Vida e da Morte (contos) - Euclides da Cunha - (1866-1909) - Os sertões; Contrastes e confrontos; Peru versus bolívia; À margem da história; Canudos - diário de uma expedição (ensaios históricos) - Graça Aranha - (1868-1931) - Canaã; A viagem maravilhosa (romances); Malazarte (teatro); A estrela da vida; Espírito moderno; Futurismo (ensaios) - Lima Barreto - (1881-1922) - Recordações do escrivão Isaías Caminha; Triste fim de Policarpo Quaresma; Numa e a Ninfa; Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá; Bagatelas; Os Bruzundangas; Clara dos Anjos (romances); Coisas do Reino de Jambom (sátira); Feiras de Mafuás; Vida urbana; Marginália (artigos e crônicas); Diário Íntimo; Cemitério dos vivos (memórias); Impressões de leitura (crítica) - Monteiro Lobato (1882-1948) - Urupês; Cidades mortas; Negrinha; O macaco que se fez homem; O presidente negro; Idéias de Jeca Tatu (prosa); Reinações de Narizinho; O paço do Visconde; As caçadas de Pedrinho (literatura infantil) - Raul de Leoni - (1895-1926) - Luz mediterrânea (poesia)

MODERNISMO - Primeira Fase

- Antônio de Alcântara Machado - (1901-1935) - Pathé Baby; Brás, Bexiga e Barra Funda; Laranja da China; Mana Maria; Cavaquinho e Saxofone (prosa) - Cassiano Ricardo - (1895-1974) - Dentro da Noite; A frauta de Pã; Martim-Cererê; Deixa estar, Jacaré; O sangue das horas; Jeremias semChorar (poesia) - Guilherme de Almeida - (1890-1969) - Nós; Messidor; Livro de horas de Sóror Dolorosa; A frauta que eu perdi; A flor que foi um homem; Raça (poesia) - Juó Bananère (Alexandre Ribeiro Marcondes Machado - 1892-1933) La divina increnca (poesia) - Manuel Bandeira (1886-1968) - Cinza das horas; Carnaval; O ritmo dissoluto; Libertinagem; Lira dos cinquent'anos; Estrela da manhã; Mafuá do malungo; Opus 10; Estrela da tarde; Estrela da vida inteira (poesia); Crônicas da província do Brasil; Itinerário de Passárgada; Frauta de papel (prosa) - Mário de Andrade - (1893-1945) - Há uma gota de sangue em cada poema; Paulicéia desvairada; Losango cáqui; Clã do jabuti; Remate de males; Lira paulistana (poesia); Macunaíma (rapsódia); Amar, verbo intransitivo (romance); Belazarte; Contos novos (contos); A escrava que não é Isaura; Música, doce música; Namoros com a medicina; O empalhador de passarinho; Aspectos da literatura brasileira; O baile das quatro artes (ensaios); Os filhos da Candinha (crônicas) - Menotti Del Picchia (1892-1988) - Juca Mulato; Moisés; Chuva de pedras (poesia); O homem e a morte; Salomé; A tormenta (romances) - Oswald de Andrade - (1890-1954) - Pau-Brasil; Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade; Cântico dos Cânticos para flauta e violão (poesia); Serafim Ponte Grande; Os condenados; A estrela de absinto; A escada vermelha; Memórias sentimentais de João Miramar; Marco zero (2 volumes) (romances); O homem e o cavalo; A morta; O rei da vela (teatro); Um homem sem profissão 1: sob as ordens de mamãe (memórias) - Plínio Salgado (1901-1975) - O estrangeiro; O cavaleiro de Itararé (romances) - Raul Bopp - (1898-1984) - Cobra Norato; Urucungo (poesia)

- Ronald de Carvalho - (1893-1935) - Toda a América; Epigramas irônicos e sentimentais; Luz gloriosa e sonetos (poesia)

MODERNISMO (Segunda fase - Poesia)

- Augusto Frederico Schmidt - (1906-1965) - Navio perdido; Pássaro cego; Desaparição da amada; Canto da noite; Estrela solitária - Carlos Drummond de Andrade - (1902-1987) - Alguma poesia; Brejo das Almas; Sentimento do mundo; A rosa do povo; Claro enigma; Viola de bolso; Fazendeiro do ar; Viola de bolso novamente encordoada; Lição de coisas; Versiprosa; Boitempo; Reunião; As impurezas do branco; Menino antigo; O marginal Clorindo Gato; Corpo (poesia); Confissões de Minas; O gerente; Contos de aprendiz (prosa) - Cecília Meireles - (1901-1964) - Espectros; Nunca mais; Metal rosicler; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; Romanceiro da Inconfidência; Solombra; Ou isto ou aquilo (poesia); Giroflê, giroflá; Escolha seu sonho (prosa) - Jorge de Lima - (1895-1953) - XIV alexandrinos; O mundo do menino impossível; Tempo e eternidade (com Murilo Mendes); Quatro poemas negros; A túnica inconsútil; Livro de sonetos; Anunciação; Encontro de Mira-Celi; Invenção de Orfeu (poesia); Salomão e as mulheres; Calunga; Guerra dentro do beco (prosa). - Murilo Mendes (1901-1975) - História do Brasil; A poesia em pânico; O visionário; As metamorfoses; Mundo enigma; Poesia liberdade; Contemplação de ouro preto (poesia); O discípulo dos Emaús; A idade do serrote; Poliedro (prosa) - Vinícius de Morais - (1913-1980) - O caminho para a distância; Forma e exegese; Ariana, a mulher; Cinco elegias; Para viver um grande amor (poesia); Orfeu da Conceição (teatro)

MODERNISMO (Segunda fase - Prosa)

- Cornélio Pena (1896-1958) - Fronteira; Repouso; A menina morta - Cyro dos Anjos (1906) - O amanuense Belmiro; Abdias; A montanha - Érico Veríssimo (1905-1975) - Clarissa; Música ao longe; Um lugar ao sol; Olhai os lírios do campo; O resto é silêncio; Noite; O tempo e o vento (O continente, O retrato e O Arquipélago); O senhor embaixador; Incidente em Antares - Graciliano Ramos (1892-1953) - Angústia; Caetés; São Bernardo; Vidas secas; Infância; Insônia; Memórias do Cárcere; Viagem - Jorge Amado (1912) - O país do carnaval; Cacau; suor; Capitães de Areia; Jubiabá; Seara vermelha; Terras do sem-fim; São Jorge dos ilhéus; O cavaleiro da esperança; Gabriela, cravo e canela; Os pastores da noite; Dona Flor e seus dois maridos; Tenda dos milagres; Tieta do agreste, Tereza Batista cansada de guerra; Tocaia grande; O sumiço da santa - José Américo de Almeida - (1887-1980) - A bagaceira; O boqueirão; Coiteiros - José Lins do Rego - (1901-1957) - Menino de Engenho; Doidinho; Bangüê; O moleque Ricardo; Usina; Pedra Bonita; Fogo morto; Riacho doce; Pureza; Água mãe; Euridice - Lúcio Cardoso - (1913-1968) - Maleita; Mãos vazias; O desconhecido; Crônica da casa assassinada; O viajante - Marques Rebelo - (1907-1973) - Oscarina; Marafa; A estrela sobe; O espelho partido - Otávio de Faria - (1908-1980) - Tragédia burguesa - Patrícia Galvão (1910-1962) - Parque industrial; A famosa revista (em parceria com Geraldo Ferraz) - Rachel de Queiroz (1910) - O Quinze; João Miguel; Caminho de Pedras; As três Marias (romances); Lampião; A beata Maria do Egito (teatro)

PÓS-MODERNISMO

- Ariano Suassuna - (1927) Auto da compadecida; A pena e a lei; O santo e a porca (teatro) - Clarice Lispector (1925-1977) - Perto do coração Selvagem; O lustre; A maçã no escuro; Laços de família; A legião estrangeira; A paixão segundo G. H.; Água viva; A via crucis do corpo; A hora da estrela; Um sopro de vida - Ferreira Gullar (1930) - A luta corporal; João Boa-Morte; Dentro da noite veloz; Cabra marcado para morrer; Poema sujo (poesia) - Geir Campos (1924) - Rosa dos rumos; Canto claro; Operário do canto (poesia) - Guimarães Rosa - (1908-1967) - Sagarana; Corpo de Baile; Grande Sertão: veredas; Primeiras estórias; Tutaméia; Terceiras estórias; Estas estórias - João Cabral de Melo Neto (1920) - Pedra do sono; O engenheiro; Psicologia da composição; Fábula de Anfion e Antiode; O cão sem plumas; O rio; Morte e Vida Severina; Uma faca só lâmina; Quaderna; A educação pela pedra; Auto do frade; Agrestes; Crime de la Calle relator - Jorge Andrade (1922-1984) - A moratória; Vereda da salvação; A escada; Os ossos do barão; Senhora da boca do lixo; Rasto atrás; Milagre na cela (teatro) - Lêdo Ivo - (1924) - O caminho sem aventura; A morte do Brasil; Ninho de cobra; As alianças; O sobrinho do general; A noite misteriosa (poesia); Use a passagem subterrânea (conto) - Mauro Mota - (1912-1984) - Canto ao meio; Elegias (poesia)

- Nelson Rodrigues - (1912-1980) - Vestido de noiva; Perdoa-me por me traíres; Álbum de família; Os sete gatinhos; Viúva porém honesta; Bonitinha mas ordinária; A falecida; Boca de ouro; Beijo no asfalto; Toda nudez será castigada; A serpente (teatro); O casamento (romance) - Péricles Eugênio da Silva Ramos - (1919) - Sol sem tempo; Lamentação floral (poesia)

PRODUÇÕES CONTEMPORÂNEAS

- Adélia Prado (1936) - Bagagem; O coração disparado; Terra de Santa Cruz (poesia); Cacos para um vitral; Os componentes da banda (prosa) - Antônio Callado - (1917) - A madona de cedro; Quarup; Reflexos do baile (prosa) - Augusto Boal - (1931) - Revolução na América do Sul (teatro); Jane Spitfire (prosa) - Augusto de Campos (1931) - O rei menos o reino; Caleidoscópio; Poemóbiles; Poetamenos; Poesia completa; Ovonovelo; Linguaviagem; Antologia \noigrandes (poesia) - Autran Dourado (1926) - A barca dos shomens; Ópera dos mortos; O risco do bordado; Os sinos da agonia; Armas e corações - Bernardo Élis - O tronco; Veranico de janeiro (prosa) - Caio Fernando de Abreu - (1948) - Morangos mofados; Triângulo das águas (prosa) - Carlos Heitor Cony - (1926) - O ventre; Tijolo de segurança; Antes, o verão (prosa) - Chico Buarque de Holanda - (1944) - Fazenda Modelo (prosa); Calabar (teatro, em parceria com Ruy Guerra); Gota D’água (teatro, em parceria com Paulo Pontes); Ópera do malandro (teatro)

- Dalton Trevisan - (1925) - O vampiro de Curitiba; Desastres do amor; Guerra conjugal; A trombeta do anjo vingador; Lincha tarado; Cemitério de elefantes (contos) - Décio Pignatari (1927) - O carrossel; Rumo a Nausicaa; Poesia pois é poesia; O rosto da memória - Dias Gomes - (1922) - O pagador de promessas; O rei de Ramos; O santo inquérito; Vargas (teatro); Odorico, o bem amado (prosa) - Domingos Pellegrini Jr. (1949) - Os meninos; Paixões; As sete pragas; Os meninos crescem (contos) - Eduardo Alves da Costa - (1936) - Poesia viva; Salamargo (poesia); Fátima e o velho; Chongas (prosa) - Edla Van Steen - Antes do amanhecer; Cio; Memórias do medo; Corações mordidos (prosa) - Esdras do Nascimento (1934) - Solidão em família; Tiro na memória; Engenharia do casamento; Paixão bem temperada; Variante Gotemburgo; Os jogos da madrugada (prosa) - Fernando Sabino (1923) - O encontro marcado; O grande mentecapto; O homem nu; Deixa o Alfredo falar!; O gato sou eu (prosa) - Geraldo Ferraz (1906-1979) - Doramundo; KM 63 (prosa) - Gianfrancesco Guarnieri (1934) - Eles não usam black-tie; Gimba; Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes (em parceria com Augusto Boal); Marta Saré; Um grito parado no ar; Ponto de partida (teatro) - Haroldo de Campos (1929) - Auto do Possesso; O âmago do ômega; Servidão de passagem; Xadrez de estrelas; Poemas em noites grandes; Galáxias (poesia) - Hilda Hilst (1930) - Balada de Alzira; Ode fragmentária; Sete cantos do poeta para o anjo; Cantares de pedra e predileção (poesia) - Ignácio de Loyola Brandão (1937) - Depois do sol; Bebel que a cidade comeu; Pega eles, silêncio; Zero; Cães danados; Cadeiras proibidas; Dentes ao sol; Não verás país nenhum; É gol; Cabeças de 2ª feira; O verde violentou o muro; O beijo não vem da boca (prosa)

- João Ubaldo Ribeiro (1941) - Sargento Getúlio; Vila Real; Viva o povo brasileiro (prosa) - José Cândido de Carvalho - (1914) - O coronel e o lobisomem (romance) - José Lino Grünewald (1931) - Um e dois (poesia) - José J. Veiga (1915) - A Hora dos Ruminantes; Os Cavalinhos de Platiplanto; Sombras de reis barbudos (prosa) - José Mauro de Vasconcelos (1920-1984) - Rosinha, Minha Canoa; Barro Blanco; As confissões de Frei Abóbora; O meu pé de laranja-lima; Rua descalça (prosa) - José Paulo Paes (1916) - Poemas reunidos; Anatomia da musa (poesia) - Josué Montello (1917) - Janelas fechadas; A luz da estrela morta; A décima noite; Os tambores de São Luiz (prosa) - Lourenço Diaféria - (1933) - Um gato na terra do tamborim; A morte sem colete (prosa) - Luiz Fernando Veríssimo (1936) - Amor brasileiro; Pega pra Capitu; A mesa voadora; Humor de 7 cabeças; Ed Mort; Sexo na cabeça; O analista de Bagé; O gigolô das palavras; A velhinha de Taubaté; O popular; A mãe de Freud; A mulher do Silva (prosa) - Luiz Villela - (1943) - Tremor de terra; Tarde da noite (contos) - Lia Luft (1938) - As parceiras; A asa esquerda do anjo; Reunião de família; O quarto fechado (prosa); O lado fatal (poesia) - Lygia Fagundes Telles - (1923) - Ciranda de pedra; Verão no aquário; O jardim selvagem; As meninas; Seminário dos ratos; A disciplina do amor (prosa) - Márcio Souza - (1946) - Galvez, Imperador do Acre; Mad Maria; A resistível ascensão de Boto Tucuxi; A condolência (prosa) - Marina Colassanti (1937) - Eu sozinha; E por falar de amor; A nova mulher; Mulher daqui pra frente; Zooilógico; A morada do ser; Contos de amor rasgados; Uma idéia toda azul (prosa)

- Mário Chamie - (1933) - Lavra-lavra; Indústria; Now tomorrow mau; Planoplenário (poesia) - Mário Palmério (1916) - Vila dos Confins; Chapadão do Bugre (prosa) - Mário Quintana (1906) - Rua dos cataventos; Sapato florido; O aprendiz de feiticeiro; Apontamentos de história sobrenatural; Canções; Caderno H (poesia) - Mauro Gama (1938) - Anticorpo; Corpo verbal (poesia) - Millôr Fernandes - (1924) - Computa, computador, computa; Trinta anos de mim mesmo; Fábulas fabulosas; Compozissõis infãtis; Que país é este? (prosa) - Moacyr Scliar - (1916) - O pirotécnico Zacarias; O convidado (prosa) - Nélida Piñon - (1935) - A casa da paixão; Sala de armas; A república dos sonhos (prosa) - Oduvaldo Vianna Filho - (1936-1974) - Chapetuba futebol Clube; Corpo a corpo; Rasga coração; Papa Highirte (teatro) - Osman Lins - (1924-1978) - Nove novena; O fiel e a pedra; Avalovara; A rainha dos cárceres da Grécia - Paulo Leminski - (1944-1989) - Caprichos e relaxos (poesia); Catatau (prosa) - Paulo Mendes Campos (1922) - A palavra escrita; O domingo azul do mar; O cego de Ipanema; Trinca de copas; O cronista do morro (prosa) - Pedro Nava (1903-1984) - Baú de Ossos; Balão cativo; O círio perfeito (prosa) - Plínio Marcos - (1935) - Dois perdidos numa noite suja; Navalha na carne. Abajur lilás (teatro) - Renata Pallottini (1931) - A casa; A faca e a pedra; Noite afora (poesia) - Ricardo Ramos (1929) - Tempo de espera; Os desertos; Toada para surdos; As fúrias; O sobrevivente (prosa)

- Ronaldo Azeredo (1937) - Mínimo múltiplo comum (poesia) - Rubem Braga - (1913) - O homem rouco; Ai de ti, Copacabana! (prosa) - Rubem Fonseca (1925) - A coleira do cão; Lúcia McCartney; Feliz ano novo; O caso Morel; O cobrador; A grande arte; Os prisioneiros; Bufo e Spallanzani (prosa) - Samuel Rawett - (1929-1984) - Contos do imigrante; Os sete sonhos; O terreno de uma polegada quadrada (prosa) - Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto, 1923-1968) - Tia Zulmira e eu; Primo Altamirando e elas; Rosamundo e os outros; Febeapá - Festival de Besteiras que assola o país (2 volumes); As cariocas (prosa) - Thiago de Mello (1926) - Narciso cego; Vento geral; Faz escuro mas eu canto porque a manhã vai chegar (poesia).

Principais datas da literatura brasileira ANO

FATO

CONSEQÜÊNCIA

1500

Carta de Pero Vaz de Caminha

Primeira manifestação da literatura informativa

1549

Cartas do jesuíta Manoel da Nóbrega

Primeira manifestação da literatura dos jesuítas

1601

Bento Teixeira publica camoniana, "Prosopopéia".

Introdução do Brasil na poesia

1633

Estréia do Padre Antônio Vieira nos púlpitos da Bahia

1705

Publicação de "Música do Parnaso" de Manoel Botelho de Oliveira

Primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil.

1768

Fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica,

Início do Arcadismo

Minas Gerais. Publicação das "Obras", de Cláudio Manuel da Costa 1808

Chegada da Família Real ao Rio Início do período de de Janeiro transição

1836

Lançamento da Revista"Niterói", em Paris. Publicação do livro "Suspiros Poéticos e Saudades", de Gonçalves de Magalhães.

1843

Gonçalves Dias escreve, em Coimbra, a Canção do exílio

1857

José de Alencar publica o romance indianista "O Guarani"

1868

Castro Alves escreve, em São Paulo, suas principais poesias sociais, entre elas: "Estrofes do solitário", "Navio negreiro", "Vozes d'África"

1870

Tobias Barreto lidera movimento de realistas

Primeiras manifestações na Escola de Recife

1881

Publicação de "O mulato", de Aluízio de Azevedo

Primeiro romance naturalista do Brasil

1881

Publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Primeiro romance realista do Brasil e início do Realismo

1893

Publicação de Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de Cruz e Souza

Início do Simbolismo

1902

Publicação de "Os Sertões", de Euclides da Cunha

Início do PréModernismo

1917

Menotti del Picchia publica "Juca Mulato"; Manuel Bandeira publica "Cinzas das horas"; Mário de Andrade publica "Há uma gota de sangue em cada poema"; Anita Malfatti faz sua

Início do Romantismo

primeira exposição de pinturas; Monteiro Lobato critica a pintora e os jovens que a defendem são os mesmos que, posteriormente, participariam da Semana de Arte Moderna 1922

Realização da Semana de Arte Moderna, com três espetáculos no Teatro Municipal de São Paulo em 13, 15 e 17 de fevereiro. Mário de Andrade recebe intensa vaia ao declamar poesias de seu livro "Paulicéia desvairada"

1930

Publicação de "Alguma Poesia", Segunda geração do de Carlos Drummond de Modernismo Andrade

1945

A Geração de 45

Terceira geração do Modernismo

Relação dos membros da Academia Brasileira de Letras Cadeira

Ocupante

30

Nélida Piñon (Presidente)

18

Arnaldo Niskier (Secretário-Geral)

24

Sábato Magaldi (PrimeiroSecretário)

02

Tarcísio Padilha (SegundoSecretário)

25

Alberto Venâncio Filho (Tesoureiro)

31

Geraldo França de Lima (Diretor da Biblioteca)

40

Evaristo de Moraes Filho (Diretor do

Arquivo) 36

João de Scantimburgo (Diretor da Revista Brasileira)

27

Eduardo Portella (Diretor dos Anais)

Membros efetivos 33

Afrânio Coutinho

17

Antônio Houaiss

08

Antônio Olinto

32

Ariano Suassuna

20

Aurélio de Lyra Tavares

06

Barbosa Lima Sobrinho

01

Bernardo Élis

35

Cândido Mendes de Almeida

09

Carlos Chagas Filho

04

Carlos Nejar

11

Celso Furtado

21

Dias Gomes

15

Padre Fernando Bastos de Ávila

03

Herberto Sales

22

Ivo Pitanguy

37

João Cabral de Melo Neto

34

João Ubaldo Ribeiro

23

Jorge Amado

38

José Sarney

29

Josué Montello

10

Ledo Ivo

v

12

Dom Lucas Moreira Neves

16

Lygia Fagundes Telles

19

Marcos Almir Madeira

26

Marcos Vinícius Vilaça

14

Miguel Reale

28

Oscar Dias Corrêa

05

Rachel de Queiroz

39

Roberto Marinho

07

Sérgio Corrêa da Costa

13

Sérgio Paulo Rouanet

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