Judeus-sugar

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A ILHA DA MADEIRA E A EXPANSÃO DA CULTURA E COMÉRCIO DO AÇÚCAR NO ATLÂNTICO

ALBERTO VIEIRA A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo eco sistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo quem quer que seja que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha. Aqui a Madeira manteve uma posição relevante, por ter sido a primeira área do espaço atlântico a receber a nova cultura, e, por isso mesmo, foi aqui que se definiram os primeiros contornos da realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. Foi na Madeira que a cana-de-açúcar iniciou a diáspora atlântica. Aqui surgiram os primeiros contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho de água) e políticoeconómicos (trilogia rural) que materializaram a civilização do açúcar. Por tudo isto torna-se imprescindível a análise da situação madeirense, caso estejamos interessados em definir, exaustivamente, a civilização do açúcar no mundo atlântico. A Europa sempre se prontificou a apelidar as ilhas de acordo com a oferta de produtos ao seu mercado. O açúcar ficou como epíteto da Madeira e de algumas das Canárias, onde a cultura foi a varinha de condão que transformou a economia e vivência das populações. Também do outro lado do oceano elas se identificam com o açúcar, uma vez que serviram de ponte à passagem do Mediterrâneo para o Atlântico. Daqui resulta a relevância que assume o estudo do caso particular madeirense, quando se pretende fazer a reconstituição da rota do açúcar. A Madeira é o ponto de partida, por dois tipos de razões. Primeiro, porque foi pioneira na exploração da cultura e, depois, na expansão ao espaço exterior próximo ou longínquo, incluído as Canárias. A cana sacarina, ao contrário do que sucedeu com os demais produtos e culturas (vinha, cereais), não se resumiu apenas à intervenção no processo económico. Ela foi marcada por especificidades capazes de moldarem a sociedade, que dela se serviu para firmar a sua dimensão económica. A importância que o sector comercial lhe atribuía conduziu a uma posição de cultura dominadora de todo (ou quase todo) o espaço agrícola disponível, capaz também de estabelecer os contornos de uma nova realidade social. Foi precisamente esta tendência envolvente que levou a Historiografia a definir o período da afirmação como o Ciclo do Açúcar. Aqui não estávamos perante uma aplicação da teoria dos ciclos económicos, mas pretendia-se subordinar esta tendência para a afirmação da cultura na vida económica e social com o conceito. A omnipresença da cultura, as múltiplas implicações nos espaços que foi cultivada levou alguns investigadores a estabelecer um novo modelo de análise: os ciclos de produção assentes na monocultura. A presença do açúcar na Madeira enquadra-se na tradição Mediterrânea da sua valorização comercial. Aliás, foi na Sicília que o infante D. Henrique viu o exemplo para a transformação económica da ilha, mandando vir socas de cana e mestres de engenho. Os canaviais existiam aí desde o século X. Note-se que Cadamosto,

conhecedor desta ilha, estabelece uma comparação entre as duas ilhas quanto à riqueza e processo económico. Em 1478 temos referência a James Timor, valenciano, mestre de açúcar na ilha dedicado também ao comércio do produto. O mesmo surge em 1494 como proprietário de canaviais no Funchal1. Note-se que a mesma cana havia chegado a esta região a partir do mesmo destino2. Tenha-se em conta ainda as relações existentes entre ambas as áreas sob o domínio da coroa de Aragão e Portugal, resultantes do casamento de D. Duarte com Leonor de Aragão A cana-de-açúcar na primeira experiência além Europa demonstrou as possibilidades de rápido desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Gaspar Frutuoso testemunha isso mesmo ao referir que "esta planta multiplicou de maneira na terra, que he o assucar della o melhor que agora se sabe no mundo, o qual com o benefício que se lhe faz tem enriquecido muitos mercadores forasteiros e boa parte dos moradores da terra". Tal evidência catalizou as atenções do capital estrangeiro e nacional que apostou no seu crescimento e promoção o que favoreceu a rápida afirmação. O açúcar foi fundamental para a vida económica da ilha. A riqueza cumulou os proprietários e a arraia-miúda, sendo um factor de progresso social. Com ele ergueram-se igrejas - a Sé do Funchal é um exemplo disso -, amplos palácios que se rechearam de obras de arte de importação, testemunhos evidentes estão no actual Museu de Arte Sacra. A arte flamenga na ilha é um dom do açúcar. O progresso sócio-económico da ilha, o protagonismo na expansão atlântica -- nos descobrimentos e defesa das praças africanas -- só foi conseguido à custa da elevada riqueza acumulada pelos madeirenses. Todos, sem diferença de condição social, fruíram desta riqueza. Até a opulência e luxúria da própria coroa, lá longe no reino, foi conseguida, por algum tempo, com o açúcar que a coroa arrecadava na ilha. A moenda e o consequente processo de transformação da guarapa em açúcar, mel, álcool ou aguardente projectaram as áreas produtoras de canaviais para a linha da frente das inovações técnicas, no sentido de corresponderem às cada vez maiores exigências. A madeira e o metal foram a matéria-prima que deram forma a capacidade inventiva dos senhores de canaviais e engenhos. Na moenda da cana utilizaram-se vários meios técnicos comuns ao mundo mediterrânico. A disponibilidade de recursos hídricos conduziu à generalização do engenho de água. Na Madeira, o primeiro particular que temos conhecimento foi o de Diogo de Teive em 1452. E este terá sido o primeiro engenho que se veio juntar ao lagar do infante O infante, donatário da ilha, detinha a o exclusivo destas infra-estruturas e quem quisessem segui-lo deveria ter autorização sua. Esta infra-estrutura resultou apenas nas áreas onde era possível dispor da força motriz da água, ficando nos demais espaços reduzido apenas ao uso da força animal ou humana. Os últimos eram conhecidos como trapiches ou almanjaras. O infante D. Fernando em 1468 refere as estruturas diferenciando os engenhos de água, alçapremas e trapiches de besta. Até à generalização dos engenhos de cilindros horizontais no século XVII, a infra estrutura para espremer as canas era composta do engenho ou trapiche e da alçaprema.

1 . Virginia Rau, O Açúcar da Madeira nos fins do século XV. Problemas de Produção e Comércio, Funchal, 1962, p.23. 2 .Ferran Garcia-Oliver, Dossier: Sucre I creixement económic a la baixa edat mitjama, Afers, Fulls de recerca i pensament, vol. XIV, nº.32, Catarroja, 1999, 167-194;

Não conhecemos qualquer dado que permita esclarecer os aspectos técnicos deste engenho. Apenas se sabe, segundo Giulio Landi, que na década de trinta do século XVI funcionava um com o sistema semelhante ao usado no fabrico de azeite: "Os lugares onde com enorme actividade e habilidade se fabrica o açúcar estão em grandes herdades, e o processo é o seguinte: primeiramente, depois que as canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos, põem-nos debaixo de uma mó movida a água, a qual triturando e esmagando a cana, extrai-lhes todo o suco". Na ilha de São Miguel a cultura da cana está inegavelmente ligada aos madeirenses. A eles se deveu o transplante das socas e da tecnologia. Gaspar Frutuoso conta que em Ponta Delgada Bastião Pires contratou o madeirense Fernão Vaz, Ao qual deu ordem como se fez um engenho de besta, como de pastel, mas o assento da mó diferente, porque era de uma pedra grande e mui cavada, a maneira de gamela e furada pelo fundo, por onde o sumo das canas, que dentro nela se moiam, ia por debaixo do chão, por uma calle ou bica, sair fora do andaimo da besta que moia, e assim fez fazer também um fuso e caixa para espremer o bagaço, e uma fornalha com uma caldeira em cima, a maior que então se achou, onde cozia aquela calda, e cozida a deitava em uma tacha e ao outro dia fazia o mesmo, até que fez cópia de melado para se poder fazer assuqre.(...)com sua pouca ciência e menos experiência, saiu aquele assuqre assim tão bom e tão fino.3 Uma das questões polémicas prende-se com a evolução da tecnologia usada para espremer a cana. O aparecimento e generalização dos cilindros horizontais e depois verticais é um processo controverso que tem ocupado os especialistas nos últimos anos sem se conseguir alcançar qualquer consenso. O primitivo trapettum era já usado na Roma antiga para triturar azeitonas e sumagre, sendo, segundo Plínio, inventado por Aristreu, Deus dos Pastore4. Mas este tornou-se um meio pouco eficaz com a generalização da produção e comércio no decurso do século XVI, sendo substituído pelo engenho de cilindros. É aqui que as opiniões divergem. São várias as hipóteses para a origem do sistema, sendo a mais antiga a que aponta a evolução como uma descoberta mediterrânica. Dois textos clássicos para o estudo do açúcar - F. O. Von Lippmann5 e Noel Derr6- atribuíram a descoberta a Pietro Speciale, prefeito da Sicília, um importante proprietário siciliano que fez testamento em 14747. Esta tese foi rebatida por Moacyr Soares Pereira(1955) e Gil Methodio de Maranhão(1953), que demonstram a falta de fundamento da tese siciliana. Alguma Historiografia castelhana atribui esta invenção a Gonzalo de Veloza, vizinho da ilha de La Palma casado com a jovem madeirense, Luísa Bettencourt que em 1518 é referido como haber inventado un ingenio para azúcar8 na ilha de S. Domingos. Todavia, nos últimos anos os estudos sobre a história do açúcar no Oriente, nomeadamente na Índia e China, reforçaram a ideia de que o sistema de moagem da cana por cilindros tem aqui a sua origem. Por outro lado os estudos sobre a História 3 4.

. Gaspar Frutuoso, Livro Quarto das Saudades da Terra, vol.II, Ponta Delgada, 1981, p.211. São vários os estudos sobre o tema. Veja_se:Frederick C. GJESSING, The tower windmill for guindering sugar cane, Virgin Islands, 1977; MORENO

FRAGINALS, El ingenio, La Habana, 1978; Marie Clarie AMOURE, Jean Vienne BEREN(eds), La Production du vin et de l huile en Mediterranée, Paris, 1993, pp.477/481 e 540 e segs. 5. História do Açúcar, 2 vols., Rio de Janeiro, 1952. 6. The History of Sugar, 2 vols. Londres, 1940_50. 7. Cf. Carmelo Trasselli, Storia dello zuchero siciliano, Caltamissetta-roma, 1982. A tese foi defendida com base nos textos Pietro Panzano(opusculum de autore, primordiis et progressu felicis urbis Panonri, 1471) e Gaspar Vaccaro Panebianco(Sul richiamo della canna zucherina in sicilia e sulle ragioni che lo exigono, Lipomi, 1826), que conforme a publicação por Moacyr Soares Pereira(1955) dos textos é evidente a falta de fundamento. 8 . RIO MORENO, Justo L. del, Los inicios de la agricultura europea en el Nuevo Mundo, (1492-1542), Sevilla, 1991, p.306

da Ciência revelam que o sistema de cilindros era conhecido na Europa sendo usado em diversas actividades industriais. A mais antiga informação refere-se ao uso na China e Índia para descaroçar o algodão, fabrico de papel, e que terá chegado à Europa a partir de meados do século XV. David Ferreira Gouveia9 apresenta esta evolução do sistema de moagem da cana como resultado do invento do madeirense Diogo de Teive, patenteado em 1452. Outros apontam para a origem chinesa. O engenho de três eixos surge mais tarde no Brasil sendo considerado também uma invenção portuguesa, inegavelmente ligada aos madeirenses aí radicados. Note-se que a primeira referência aos eixos para o engenho datam já do último quartel do século XV. Entretanto em 1477 Álvaro Lopes tem autorização do capitão do Funchal para que "faça hum enjenho de fazer açúcar que seja de moo ou d'alçapremas, ou doutra arte...o qual enjenho será d'augoa com sua casa e casa de caldeiras..."10. Depois, em 1485, D. Manuel isentava da dízima "quaesquer teyxos que forem necesarios para eyxos esteos cassas latadas dos enjenhos e tapumes..."11. Em 1505 Valentim Fernandes refere que o pau branco era usado no fabrico de "eixos e parafusos pera os enjenhos de açúcar". A isto associa-se o inventário do engenho de António Teixeira, no Porto da Cruz em que são referidos como aprestos: rodas eixos, prensas, fornalhas espeques (...)12. Noutro documento de 1546 refere-se a existência deste tipo de engenho nas fazendas de Manuel Damil em Câmara de Lobos, foreiras ao convento de Santa Clara, pois o mesmo declara que aquelle anno mandou fazer a roda nova por ser velha a que estava e não aproveitar para servir e os eixos servirem hum anno...13 Por fim tenha-se em conta que os primeiros engenhos construídos no Brasil, mais propriamente em S. Vicente, são de eixos e que estes foram feitos por destros carpinteiros madeirenses que acompanharam o governador Mem de Sá. A tudo isto deverá juntar-se o facto de que foi a partir da Madeira que se generalizou o consumo do açúcar, sendo necessário para isso uma produção em larga escala. A pressão do mercado europeu conduziu a uma rápida afirmação da cultura na segunda metade do século XVI, situação que só seria possível de alimentar com o recurso a inovações tecnológicas capazes de atenderem a tais solicitações. A evolução para o sistema de cilindros não reverte no melhor aproveitamento do suco da cana, mas sim vantagens acrescentadas para a rapidez no processo de esmagamento. A situação da Madeira a partir de meados do século XV é de incremento da cultura à qual se aliam as inovações tecnológicas de que certamente o engenho de Diogo de Teive foi o primeiro exemplo. Se estas referências forem indício dos engenhos de cilindros quer dizer que é na Madeira que encontrámos a mais antiga referência desta tecnologia no espaço atlântico e será a partir daqui que a mesma se difundiu no espaço Atlântico. Os madeirenses estiveram ligados à promoção da cultura e construção dos primeiros engenhos açucareiros nas ilhas Canárias, dos Açores, S. Tomé, e Brasil, chegando mesmo ao norte de África, situação que foi interditada pela coroa em 1537. Por outro lado a sua origem não poderá associar-se a uma influência directa da Índia ou 9.

GOUVEIA, David Ferreira, O Açúcar da Madeira. A manufactura açucareira madeirense (1420-1550), in Atlântico, IV, 1985, 260-272

10.

ANTT, Convento de Santa Clara, maço 13, nº. 1, 4 Julho 1477.

11.

AHM, Vol. XV, p. 150, Apontamentos de D. Manuel de 22 de Fevereiro.

12.

A. ARTUR, "Apontamentos históricos de Machico", in DAHM, nº 1, pp. 8_9. A dúvida está na data a atribuir ao inventário, que está anexo ao seu

testamento de 7 de Setembro de 1535, ou de 13 de Setembro de 1495, data do testamento de Isabel de Vasconcelos sua esposa. 13

. ANTT, convento de Santa Clara, nº.12, 21 de Janeiro de 1546.

da China, onde estiveram muitos madeirenses, uma vez que as primeiras referências são anteriores à primeira viagem de Vasco da Gama. A EXPANSÃO DO AÇÚCAR NO ESPAÇO ATLÂNTICO O açúcar da Madeira ganhou fama ao nível do mercado europeu. A qualidade diferenciava-o dos demais e fê-lo manter-se como o preferido de muitos consumidores europeus. Um testemunho disso surge-nos com Francisco Pyrard de Laval: "Não se fale em França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S. Tomé, mas este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha da Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na de S. Tomé"14. O aparecimento de açúcar de outras ilhas ou do Novo Mundo veio gerar uma concorrência desenfreada. O avanço do açúcar para sul ao encontro do habitat que veio gerar o boom da sua produção, deu-se nos anos imediatos ao descobrimento das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé. Mas, só nesta última, pela disponibilidade de água e madeiras, os canaviais encontraram condições adequadas de cultivo e afirmação. Em 1485 a coroa recomendava a João de Paiva que procedesse à plantação de cana do açúcar, referindo-se para o fabrico do açúcar a presença de "muitos mestres da ilha da Madeira". No século XVI a concorrência do açúcar das Canárias e S. Tomé apertou o cerco ao açúcar madeirense provocando a reacção dos agricultores madeirenses. Em 1527 os lavradores de cana reuniram-se na vereação para reclamar junto da coroa face ao prejuízo causado pelo progressivo desenvolvimento da cultura em S. Tomé. O mais significativo da situação do novo mercado produtor de açúcar é que o madeirense encontra-se indissociavelmente ligado a ele. Na verdade, a Madeira foi o ponto de partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as possibilidades de rentabilização e de abertura de novo mercado para o açúcar. Também o íncola foi capaz de agarrar esta opção, tornando-se no obreiro da sua difusão no mundo Atlântico. A tradição anota que foi a partir da Madeira que o açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e que os técnicos madeirenses foram responsáveis pela sua implantação. O primeiro exemplo é Rui Gonçalves da Câmara, quando em 1472 comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na expedição de posse da sua capitania fez-se acompanhar de canas da Lombada, que entretanto vendera a João Esmeraldo, e dos operários para a tornar produtiva. A estes seguiram-se outros que corporizaram diversas tentativas frustradas para fazer vingar a cana de açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e Terceira15. Em sentido contrário avançou o açúcar em 1483, quando o governador D. Pedro de Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas Canárias16. De novo a Madeira surge disponibilizar as socas de cana para que aí surgissem os canaviais. Todavia, o mais significativo é a forte presença portuguesa no processo de conquista e adequação do novo espaço a economia de mercado17. Os portugueses, em especial os madeirenses, surgem com frequência nas ilhas ligando-se ao processo de arroteamento das terras, como colonos que recebiam datas de terras na condição de 14. Viagem de Francisco Pyrard de Laval, Vol. I, Porto, 1944, p. 228. 15. Gaspar FRUTUOSO, Livro Quarto das Saudades da Terra, Vol. II, pp. 59, 209-212; V. M. GODINHO, Os Decobrimentos e a Economia Mundial., Vol. IV, F. Carreiro da COSTA, "A cultura da cana-de-açúcar nos Açores. Algumas notas para a sua História" in Boletim da Comissão Reguladora do Comércio de cereais dos Açores, n1 10, 1949, 15-31. 16. Conquista de la Isla de Gran Canaria, La Laguna, 1933, p. 40. 17. José PÉREZ VIDAL, Los Portugueses en Canarias. Portuguesismos, Las Palmas, 1991; Felipe FERNANDEZ-ARMESTO, ob. cit., 14-19.

trabalhadores especializados a soldada18, ou de operários especializados que construíam engenhos e os colocam em movimento. Colombo abriu as portas ao Novo Mundo e traçou o rumo da expansão da cana de açúcar no Novo Mundo. A cultura não lhe era alheia, pois o navegador tinha no curriculum algumas actividades ligadas ao comércio do açúcar na Madeira. O navegador, antes da relação afectiva ao arquipélago, foi, a exemplo de muitos genoveses, mercador do açúcar madeirense. Em 1478 encontrava-se no Funchal ao serviço de Paolo di Negro para conduzir a Génova 2400 arrobas a Ludovico Centurione. Com esta viagem e, depois da larga estância do navegador na ilha, Colombo ficou conhecedor da dinâmica e importância do açúcar da Madeira. Em Janeiro de 1494, aquando da preparação da segunda viagem, o navegador sugeriu aos reis católicos o embarque de 50 pipas de mel e 10 caixas de açúcar da Madeira para uso das tripulações, apontando o período que decorre até a Abril como o melhor momento para o adquirir19. A isto podemos somar a passagem do navegador pelo Funchal no decurso da terceira viagem em Junho de 149820. É muito provável a presença de socas de canas da Madeira na bagagem dos agricultores que o acompanharam. Neste momento a cultura dos canaviais havia adquirido o seu apogeu na ilha mantendo-se uma importante franja de canaviais ao longo da vertente sul. A tradição anota que as primeiras socas de cana enviadas para o Novo Mundo saíram de La Gomera. Todavia, a cultura encontrava-se aí em expansão, enquanto na Madeira estava já consolidada. Por outro lado estão ainda por descobrir as razões que conduziram Colombo, no decurso da terceira viagem, a fazer um desvio da rota para escalar o Funchal. Na verdade, a Madeira foi a primeira área do Atlântico onde se cultivou a cana-de-açúcar que, depois, partiu à conquista das ilhas (Açores, Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Antilhas) e continente americano. Por isso mesmo o conhecimento do caso madeirense assume primordial importância no contexto da História e geografia açucareira dos séculos XV a XVII. Em princípios do século XVI deram-se os primeiros passos no arroteamento das terras de Vera Cruz, mais tarde o Brasil. Mais uma vez, é notada a presença dos canaviais e dos madeirenses como os seus obreiros. A coroa insistiu junto dos madeirenses no sentido de criarem as infra estruturas necessárias ao incremento da cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa contou com a participação dos madeirenses. Em 1515 a coroa solicitava os bons ofícios de alguém que pudesse erguer no Brasil o primeiro engenho. Em ofício à casa da Índia reclamava-se “um homem pratico capaz de ir ao Brasil dar principio a um engenho de açúcar”. Em 1555 foi construído pelo madeirense João Velosa um engenho a expensas da Fazenda Real. O engenho de S. Jorge dos Erasmos, na Ilha de S. Vicente, foi feito com a mão engenhosa madeirense21. Esta aposta da coroa na rentabilização do solo brasileiro através dos canaviais levou-a condicionar a fuga de mão-de-obra especializada, que 18. Pedro MARTINEZ GALINDO, Protocolos de Rodrigo Fernandez (1520-1526). Primera parte, La Laguna, 1982, pp. 67, 84-90; Guilhermo CAMACHO Y PÉREZ GALDOS, "El cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) in Anuario de Estudios Atlanticos, n1 7, 1961, 35-38; Maria LUISA FABRELLAS, "La producción de azúcar en Tenerife" in Revista de História, n1 100, 1952, 454/475. 19. Cristóbal COLÓN, Textos y documentos completos, Madrid, 1984, p. 160. 20. Fray Bartolomé de las CASAS, Historia de las Indias, Vol. I, México, 1986, p. 497. 21

. Cf. Revista USP, nº.41, 1989. Sobre a presença madeirense no Brasil veja-se Maria L. Santos, Os Madeirenses na Colonização do Brasil, Funchal, 1999.

então se fazia na Madeira. Assim, em 1537 os carpinteiros de engenho da ilha estavam proibidos de ir à terra dos mouros. Com tais condicionantes e colocados perante o paulatino decréscimo da produção açucareira na ilha, muitos madeirenses foram forçados a ir ao encontro dos canaviais brasileiros. Em Pernambuco e na Baía, entre os oficiais e proprietários de engenho, pressente-se a presença madeirense. Alguns destes madeirenses se tornaram em importantes proprietários de engenho como foi o caso de Mem de Sá ou de João Fernandes Vieira, o libertador de Pernambuco22. O COMÉRCIO ATLÂNTICO E O AÇÚCAR. O desenvolvimento sócioeconómico do mundo insular articula-se de modo directo, com as solicitações de economia euro-atlântica: primeiro região periférica do centro de negócios europeus, ajustaram o seu desenvolvimento económico às necessidades do mercado europeu e às carências alimentares europeias, depois, mercado consumidor das manufacturas de produção continental em condições vantajosas de troca para o velho continente e, finalmente, intervém como intermediário nas ligações entre o Novo e Velho Mundo. Note-se que, a partir de princípios do século XVI, 0 Mediterrâneo Atlântico definese como centro de contacto e apoio ao comércio africano, Índico e americano. A tudo isto acresce que os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular entrecruzam-se no processo de ocupação e valorização económica das novas sociedades e economias insulares. Esta componente peninsular é reforçada com a participação da burguesia mediterrânica, atraída por novos mercados e pela fácil e rápida expansão dos seus negócios. Por isso, um grupo de italianos, mais ou menos ligados às grandes sociedades comerciais mediterrânicas, participa activamente no processo de reconhecimento, conquista e ocupação do novo espaço atlântico. Com efeito, eles interessaram-se pela conquista do arquipélago canário, expedições portuguesas de exploração geográfica e o comércio ao longo da costa ocidental africana. A sua penetração no mundo insular ficou assim facilitada o que os levou a alcançar uma posição muito importante na sociedade e economia insulares. O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro surgiu apenas numa óptica da nova economia, afirmando-se como gerador de novas riquezas adequadas a um aproveitamento comercial. Assim, o comércio foi o denominador comum para os produtos a introduzir, sendo valorizados os activadores da nova economia de mercado. Aqui, a cana de açúcar e o cobiçado produto final, o açúcar, detém uma posição cimeira. A Madeira foi no começo o mais importante entreposto. Os descobrimentos aliamse ao comércio e, por isso, desde meados do século XV, manteve-se um trato assíduo com o reino, activado com as madeiras, urzela, trigo e, depois, com o açúcar e o vinho. Este movimento alargou-se às cidades nórdicas e mediterrânicas, com o aparecimento de estrangeiros interessados no comércio do açúcar. O regime do comércio do açúcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo opinião de Vitorino Magalhães Godinho, “vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida pela intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em relação com uma escápula de outra banda”. Deste modo o comércio apenas se manteve em regime livre até 1469, altura em que a baixa do

22

. José Antônio Gonsalves de Mello, João Fernandes Vieira. Mestre de Campo do Terço de Infantaria, Lisboa, 2000.

preço veio condicionar a intervenção do senhorio, que estipulou o seu exclusivo aos mercadores de Lisboa. Ao madeirense, habituado a negociar com os estrangeiros, isto não agradou. Mesmo assim o Infante D. Fernando decidiu em 1471 estabelecer o monopólio a uma companhia formada por Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem. Desta decisão resultou um aceso conflito entre a vereação e os referidos contratadores. Passados vinte e um anos a ilha debatia-se ainda com uma conjuntura difícil no comércio açucareiro, pelo que a coroa retomou em 1488 e 1495 a pretensão do monopólio, mas apenas conseguiu impor um conjunto de medidas regulamentadoras da cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496. Esta política, definida no sentido da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez num fracasso, pelo que em 1498 foi tentada uma nova solução, com o estabelecimento de um contingente de cento e vinte mil arrobas para exportação, distribuídas por diversas escápulas europeias. Estabilizada a produção e definidos os mercados do açúcar, a economia madeirense não necessitava de tão rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca acabou com algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no entanto, até 1508 o regime de contrato para a sua venda, pois só nesta data foi revogada toda a legislação anterior, ficando o seu trato em regime de total liberdade. Assim o definiu o foral da capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar que “Os ditos açúcares se poderão carregar para o Levante e Poente e pera todas outras partes que os mercadores e pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum”. A Madeira atraiu a primeira vaga de mercadores forasteiros, mercê da prioridade atribuída à cultura dos canaviais no processo de ocupação. Só o impediram as ordenanças limitativas da sua residência na ilha. Em meados do século XV a coroa facultou a entrada e fixação de italianos, flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcar. Mas, o impacto e a influência destes foi lesivo para os mercadores nacionais e coroa, pelo que se foi necessário impedir que os mesmos pudessem “asy soltamente trautar todos”, pelo que o senhorio proibiu a sua permanência na ilha como vizinhos. A questão foi levada às cortes de Coimbra de 1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino contra o monopólio de facto, dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar, propondo a sua exploração nesse regime a partir de Lisboa. O monarca comprometido com esta posição vantajosa dos estrangeiros, mercê dos privilégios que lhes concedera actuou de modo ambíguo procurando salvaguardar os compromissos anteriormente assumidos e as solicitações dos moradores do reino ao estabelecer limitações à sua residência no reino e fazendo-a depender de licenças especiais. Quanto à Madeira foi a impossibilidade da sua vizinhança sem licença expressa da coroa e a interditação da revenda no mercado local. A Câmara, por seu turno, baseada nestas ordenações e no desejo expresso dos seus moradores ordenara a sua saída até Setembro de 1480, no que foi impedida pelo senhorio. Somente em 1489 foi reconhecida a utilidade da presença dos mercadores estrangeiros na ilha, ordenando D. João II ao duque D. Manuel, então Duque de Beja, que os estrangeiros fossem considerados como “naturaes e vizinhos de nossos regnos”. Na década de noventa, de novo, os problemas do mercado açucareiro conduziram ao ressurgimento desta política xenófoba. Os estrangeiros passaram a dispor de três ou quatro meses, entre Abril e meados de Setembro, para comerciar os seus produtos,

não podendo ter loja e feitor na cidade. Somente em 1493 D. Manuel reconheceu o prejuízo que as referidas medidas causavam à economia madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revogou todas interdições anteriormente impostas. As facilidades concedidas à estadia destes forasteiros conduziram à sua assiduidade bem como à fixação e intervenção na estrutura fundiária e administrativa. A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira foi dominada pela presença de italianos, flamengos e franceses, que surgem no Funchal atraídos pelo tão solicitado “ouro branco”. Os primeiros e de entre eles os florentinos e genoveses foram, desde meados do século XV, os principais agentes do comércio do açúcar alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário, possível por meio da compra e laços matrimoniais. Na década de setenta, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o comércio do açúcar, sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão. No último quartel do século juntaram-se Cristóvão Colombo, João António Cesare, Bartolomeu Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luís Dória. A este grupo seguiu-se, em princípios do século XVI, outro mais numeroso que alicerçou a comunidade italiana residente, destacando-se, aqui, Lourenço Cattaneo, João Rodrigues Castigliano, Chirio Cattano, Sebastião Centurione, Luca Salvago, Giovanni e Lucano Spinola. O estrangeiro para manter a amplitude de operações comerciais nas ilhas contava com um grupo de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão Bocollo, Matia Minardi, Capella e Capellani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogell. Note-se que o grupo inicial é, na sua maioria, constituído por italianos, ligados ao comércio do açúcar, e que os segundos pertencem a algumas famílias mais influentes da ilha. Os mercadores-banqueiros de Florença destacaram-se nas transacções comerciais e financeiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde usufruíam uma posição privilegiada junto da coroa, controlaram uma extensa rede de negócios que abrange a Madeira e as principais praças europeias: primeiro conseguiram da Fazenda Real o quase exclusivo do comércio do açúcar resultantes dos direitos reais por contrato directo a que se seguiu o exclusivo dos contingentes estabelecidos pela coroa em 1498. Assim, tivemos Bartolomeu Marchioni, Lucas Giraldi e Benedito Morelli com uma intervenção marcante no trato do açúcar, na primeira metade do século XVI. A manutenção desta rede de negócios foi assegurada pela acção directa dos mercadores, dos seus procuradores ou agentes subestabelecidos. Benedito Morelli em 1509-1510 tinha na ilha, como agentes para o recebimento do açúcar dos quartos, Simão Acciaiuolli, João de Augusta, Benoco Amador Cristóvão Bocollo e António Leonardo. Marchioni em 1507-1509 fazia-se representar em operações idênticas por Feducho Lamoroto. João Francisco Affaitati, cremonês, agente em Lisboa de uma das mais importantes companhias comerciais da época, participou activamente neste comércio entre 1502 e 1526, por meio de contratos de compra e venda dos açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521 e 1529) e pagamentos em açúcar a troco de pimenta. O mesmo actuou, ainda, em sociedade com Jerónimo Sernigi, João Jaconde, Francisco Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo para o efeito como feitores e procuradores na ilha, Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão Bocollo, Capela de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell. A penetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito acentuada. O usufruto de privilégios reais, o relacionamento familiar favoreceram a

sua mistura com a aristocracia terratenente e administrativa. A sua intervenção é notada na estrutura administrativa, abrangendo os domínios mais elementares do governo, como a vereação e as repartições da fazenda, todas com intervenção directa na economia açucareira. São maioritariamente proprietários e mercadores de açúcar. Instalaram-se nas terras de melhor e maior produção e tornaram-se nos mais importantes proprietários de canaviais. Assim, sucedeu com Rafael Cattano, Luís Dória, João e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, João Antão, João Florença e Simão Acciaiuolli e Benoco Amatori. Também, os franceses e flamengos, a exemplo dos italianos, surgem na ilha, desde finais do século XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar. No entanto, não se enraizaram na sociedade insular, mantendo uma condição errante. O seu interesse é única e exclusivamente a aquisição do açúcar a troco dos seus artefactos, alheandose da realidade produtiva e administrativa. O caso de João Esmeraldo é a excepção. Os franceses afirmaram-se pelas operações de troca em torno do açúcar, enquanto os flamengos mantiveram uma posição subalterna e mesmo como grupo interveniente no mercado madeirense. Os franceses tiveram uma presença muito activa no comércio do açúcar, na primeira metade do século XVI. Eles surgem com frequência nas comarcas do Funchal, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde adquiram grandes quantidades de açúcar que transportavam aos portos franceses nas suas embarcações. Neste trato evidenciaram-se mestre António, Archelem, António Coyros, António Caradas e Francisco Lido. Os últimos aliavam à Madeira a rede de negócios das Canárias, que surge como ramificação das praças nórdicas e andaluzas. As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados ao mercado europeu, quer por carregação directa, quer ainda, por negócio livre ou a troco de pimenta. Este açúcar era arrendado por mercadores ou sociedades comerciais, sedeados em Lisboa, sendo de destacar a actuação dos italianos, como João Francisco Affaitati e Lucas Salvago. As operações comerciais em torno do açúcar, no período de 1501 e 1504, estiveram centralizadas em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de Lisboa, controlaram esse trato por meio de uma complicada rede de feitores ou procuradores. A sua intervenção, que se apresentava dominante nos três primeiros decénios do século, decresceu de forma acentuada na última década. Isto atesta que os mercadores estrangeiros, em face da conjuntura de instabilidade do mercado açucareiro madeirense nos primeiros trinta anos abandonaram o seu comércio fazendo-o substituir pelo de outras origens. A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com as principais praças europeias sendo seguida da portuguesa e da castelhana. Os mercadores nórdicos não apresentam uma posição de relevo nestas operações. Isto demonstra, mais uma vez, que a rota e mercado flamengo mantiveram-se sob o controlo da nossa feitoria. No período que decorre de 1490 a 1550, verifica-se que os italianos detiveram o exclusivo do comércio na primeira década e uma posição dominante nas duas seguintes, sendo substituídos pelos portugueses na década de trinta, e também por castelhanos e franceses. Ainda, no grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma tendência concentracionista, pois apenas os cinco principais detêm 71% do açúcar transaccionado. Todos eles apresentam valores superiores a dez mil arrobas, enquanto nos nacionais apenas um tem mais de 1080 arrobas. João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da sucursal em Lisboa da companhia Affaitati, uma das principais dessa praça, surge no período de

1502 a 1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo transaccionado sete vezes mais açúcar que todos os portugueses. Durante este período, arrematou em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liorne, Roma e Veneza. Conjuntamente com Jerónimo Sernigi, João Jaconde e Francisco Cornivelli conseguiu a venda do açúcar dos direitos (1512-1518, 1520-1521, 1529) e actuou em operações diversas de compra directa de açúcar e da sua troca por pimenta ou dívidas. Para manter esta amplitude de actividades comerciais contava na ilha com um grupo numeroso de feitores ou procuradores. Por outro lado aceitou procuração de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha. A rede de negócios funchalense, em torno do trato do açúcar, foi criada e incentivada pelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí aportou depois da reconfortante e vantajosa escala em Lisboa. Ele controlou as principais sociedades intervenientes no comércio açucareiro, não obstante ter morada em Lisboa, Flandres ou Génova. O seu domínio atinge, não só, as sociedades criadas no exterior com intervenção na ilha, mas também, o grupo de agentes ou feitores e procuradores substabelecidos no Funchal. A escolha é criteriosa: primeiro os familiares, depois os compatrícios enraizados na sociedade e só, depois, os madeirenses ou nacionais. A dimensão das principais casas intervenientes no trato açucareiro madeirense pode ser definida a partir do número de representantes. E aqui destacam-se Baptista Morelli, B. Marchioni, Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e Pero de Mimença. Os Welsers e Claaes actuaram na praça do Funchal por intermédio de agente estabelecido em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que depois substabeleceram feitores residentes no Funchal. O primeiro tinha, em princípios do século XVI, como interlocutores no Funchal João de Augusta, Bono Bronoxe, Jorge Emdorfor, Jácome Holzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid. Estes procuradores e feitores, na condição de interlocutores dos mercadores europeus não se ligavam apenas a uma sociedade, pois alargavam a sua acção a um grupo numeroso de societários. A COMUNIDADE SEFARDITA DA MADEIRA E O AÇÚCAR NO ATLÂNTICO. No Portugal dos séculos XV e XVI a presença de comunidade sefardita era importante detendo um papel destacado na economia e finanças23. Note-se que judeu era sinónimo de negociante24. O despoletar do processo dos descobrimentos atlânticos e os consequentes mercados e rotas comerciais fez com que a sua atenção estivesse para aí virada assumindo idêntico protagonismo25. Neste contexto, a Madeira, porque assumir um papel evidente em todo o processo, será o primeiro pólo de atracção desta comunidade. As perspectivas eram promissoras, pois o lançamento em meados do século XV da cultura açucareira transformou a Madeira num dos principais mercados atlânticos. A atracção principal era o açúcar que tinha mercado no Mediterrâneo e norte da Europa. E por ele a Madeira acolheu, primeiro judeus, genoveses e venezianos e, depois, flamengos e franceses. Com o açúcar estavam encontrados os ingredientes fáceis para atrair os agiotas da finança e comércio internacional.

23

. A Bibliografia é extensa, apenas destacamos os textos de Maria José Ferro Tavares. Vide Bibliografia no final. 24 . cf. José G. Salvador, Os Cristãos-novos e o comércio no Atlântico meridional, S. Paulo, 1978, 149; António José Saraiva, Inquisição e Cristãos Novos, Lisboa, 1994, 134-135. 25 . Vide Maria José Ferro Tavares, os judeus na época dos descobrimentos, Lisboa, 1995.

Um dos factos comprovativos do interesse da comunidade sefardita pelo açúcar revela-se em meados do século XVI em que a crise da produção madeirense fez alargar a diáspora a novos mercados mais promissores como Pernambuco no Brasil. Para a comunidade judaica a Madeira foi o primeiro alvo da expansão europeia que os levou depois aos quatro cantos do Novo Mundo, acompanhando o rasto do açúcar e do tráfico dos escravos no espaço atlântico. Perante isto importa conhecer qual o papel que estes assumiram neste primeiro poiso da diáspora atlântica. Até ao estabelecimento do tribunal de inquisição em Portugal (1536) não é fácil identificar a comunidade judaica na documentação. Todavia a sua presença fazia-se sentir de forma evidente em múltiplos domínios de sociedade e economia portuguesa. A evidente xenofobia, testemunhada pela documentação, fazia com estes procurassem iludir as suas crenças religiosas, apagando todo o rasto possível. Apenas com a instituição do tribunal do santo ofício foi possível estabelecer o rasto do grupo deste convertidos ao cristianismo, e por isso considerados cristãos-novos26. A Madeira não foge à regra de modo que a xenofobia é uma das armas entre a concorrência das diversas sociedades mercantis. Na década de sessenta o principal alvo dos madeirenses era os judeus e genoveses que monopolizavam o comércio do açúcar. Deste modo os moradores reclamaram em 1461 perante o infante D. Fernando no sentido de proibir a sua actividade na ilha, como compradores de açúcar ou arrendadores dos direitos27. É fácil encontrar os judeus em ligação estreita aos genoveses, controlando parte significativa do comércio rendoso gerado pelos novos espaços atlânticos. E deste modo a sua presença nas ilhas é evidente desde os inícios de sua ocupação. Difícil é encontrar o rasto da sua presença, pois tal como nos diz José Gonçalves Salvador28 “muitos vão para as ilhas e se acobertam sob a capa de cristãos”. Os judeus estão envolvidos em todas as actividades, todavia, como nos refere Maria José Ferro Tavares, “a actividade mercantil e a ocupação principal”. E dentro destas parecem ter uma predilecção especial pelos negócios baseados no açúcar. Pelo menos é a opinião de José Gonçalves Salvado29, que é peremptório em afirmar que “os hebreus sefarditas aparecem identificados com as actividades ligadas ao açúcar primeiro nas ilhas adjacentes a Portugal e depois nas demais possessões”. A estratégia dos judeus para o domínio do mercado açucareiro do espaço atlântico passa por uma estreita aliança com os mercadores flamengos e italianos nomeadamente os genoveses. Esta aliança fora já denunciada nas Cortes de 147172, mas continuará a progredir nos decénios seguintes. No caso do comércio do açúcar da Madeira é comum encontrar-se esta forma de actuação. Assim quando o comércio do açúcar estava sujeito a um monopólio da Coroa, mandado a sociedades estes surgem aliados aos Lema, Lomellini e Marchione. No caso do monopólio do comércio do açúcar com a Flandres é uma sociedade entre os Leme e Abravanel que controla o processo. Já para as cidades italianas são Moisés Latam e Guedelha Palaçam que se associam a B. Marchione.

26

. Para a Madeira não existe estudo completo sobre a inquisição como é o caso de Paulo Braga, A Inquisição nos Açores, P.D., 1997. 27 . AHM, Vol. XV, 1972, 14-15, 3 de Agosto de 1461. 28 . Os cristãos novos e o comércio Atlântico Meridional, S. Paulo, 1978, 246. 29 . Os magnatas do Tráfico Negreiro, S. P., 1981, 87.

De acordo com o livro de estimos do açúcar do Funchal em 149430 é evidente a presença de judeus, como Isaac Abeacar, Moisés Benagaçam e David de Negro nas transacções açucareiras, achando na ilha através de procuradores italianos como era o caso de Dinis Sernige, Lucas César, Sisto Lomellini. Ainda segundo V. Rau os judeus junto com outros estrangeiros, aqui dominados pelos genoveses, dominavam em 1494 as transacções açucareiras com 11.373 arrobas, o equivalente a 64% do total em causa31. Esta posição não está longe da realidade desta e posterior centúria, uma vez que os dados por nós apurados entre 1490 e 1550 apontam de novo para esta esmagadora presença dos mercadores italianos com 80% das operações comerciais do açúcar madeirense32. Não obstante ser visível as operações de judeus e cristãos novos no Funchal, apenas foi possível identificar os seguintes mercadores com este rótulo: MERCADOR

DATAS

Vicente Afonso Fernão Álvares Luís Álvares Francisco Fernandes Cea Gaspar Fernandes Manuel Gonçalves

1569-91 1555-66 1591 1591 1509-94 15541570 1560-02 1591 1594-617 1530-86

Gaspar Lopes Homem Niculau Nunes Álvaro Nunes António Pereira Diogo Lopes Pereira Diogo Rodrigues, o velho Duarte Rodrigues Manuel Rodrigues Francisco Roiz Tavira João Roiz Tavira Rodrigo de Veiga Francisco Roiz Vitória33

Açúcar arrobas

Obs.

211

Natural de Olivença vizinho de Santa Cruz Loja Rua dos Mercadores

240 Natural de Guimarães Natural de Ponte Lima

Natural de Braga, feitor da alfândega e rendeiro Vizinho de Nossa Senhora do Calhau

1585-94 1509-94 1594 1576-626 1568-626 1594 1591

157,5 158

Natural da ilha residente em Lisboa

Os aferidores mais importantes da religiosidade dos madeirenses são, sem dúvida, os testemunhos exarados, primeiro nos diversos livros das visitações e depois nos processos perante o Santo Ofício. A inquisição exercia a actividade através do tribunal de Lisboa, a quem pertencia todo o espaço atlântico. A acção do tribunal nestas paragens não era permanente e fazia-se através de visitadores aí enviados. Na Madeira e nos açores realizaram-se três visitas: em 1575 por Marcos Teixeira, em 1591-93 por Jerónimo Teixeira Cabral e em 1618-19 por Francisco Cardoso Tornéo, mas só é conhecida a documentação das duas últimas. Nas ilhas foi evidente a conivência das autoridades com a presença da comunidade judaica, o que resultou em facilidades à sua fixação quando perseguidos no reino. Em finais do século dezasseis foram arrolados 94 cristãos novos, mas em 1618 o seu número não passou de 5, quando sabemos que em 1620 eram 58 os judeus que pagava a taxa. A presença da comunidade judaica era evidente. Os judeus, 30

. Publ. V. Rau, O açúcar na Madeira, Funchal, 1962. . Ob.cit., p. 24 32 . O Comércio Inter-Insular, Funchal, 1987, 130. 33 . é o único com o designativo de judeus, os demais são cristãos-novos. 31

maioritariamente comerciantes, estavam ligados, desde o inicio, ao sistema de trocas nas ilhas, sendo os principais animadores do relacionamento e comércio a longa distância. A criação do tribunal do Santo Ofício em Lisboa conduziu a que avançassem no Atlântico: primeiro nas ilhas e depois no Brasil. Tal diáspora fez-se de acordo com os vectores da economia atlântica pelo que deixavam atrás um rasto evidente na sua rede de negócios. O açúcar foi sem dúvida um dos principais móbeis da sua actividade, quer nas ilhas, quer no Brasil. O relacionamento destes espaços com os portos nórdicos conduziu a uma maior permeabilidade às ideias protestantes, o que gerou inúmeras cuidados por parte do clero e do Santo Ofício. A incidência do comércio da Madeira no açúcar, pastel e vinho conduziu ao estabelecimento de contactos assíduos com os portos da Flandres e Inglaterra, que não era bem visto pelo tribunal. Isto deverá ter favorecido a presença de uma importante comunidade, o que veio a avolumar as preocupações dos inquisidores. As perseguições movidas pelo Santo Ofício conduziram a que muitos destes judeus se refugiassem nas ilhas Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e, finalmente o Brasil. A juntar a isto está a crise da produção açucareira madeirense em contrastante com a promissora cultura nas terras brasileiras que conduziu a que a diáspora se alargasse até aqui. E de novo os judeus estarão ligados à produção açucareira34. CONCLUSÃO. A Madeira assumiu um papel fundamental na expansão do açúcar no espaço Atlântico e na definição das principais rotas e mercados do produto. O ensaio da cultura na ilha provou as suas elevadas possibilidades económicas no novo espaço, fruindo de terrenos férteis e de novas condições, como o recurso massivo à escravatura, que propiciaram a produção e comércio em larga escala. Foi na Madeira que o açúcar iniciou uma nova fase de fulgor que animou a economia atlântica. Os madeirenses podem ser com propriedade definidos como os seus arautos da expansão atlântica, mas foram os genoveses e venezianos que nos legaram o mercado. A eles juntam-se os judeus que fugidos da Inquisição acompanham o processo de avanço da cultura para o Sul e Ocidente. BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA GERAL: BETHENCOURT, Francisco, Inquisições Portugal, Espanha e Itália, Lisboa, 1994. CASSUTO, Alfonso, Elementos para a historia dos judeus portugueses de Hamburgo, [S.l.: s.n., 19--]. COELHO, António Borges, Clérigos, mercadores, «judeus» e fidalgos: questionar a história 2, Lisboa: Caminho, imp. 1994. 34

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