J. R. R

  • November 2019
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DÚVENDOR - UM TRIBUTO A TOLKIEN

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Ambarkanta

Sobre a Forma do Mundo

Nota do Tradutor: O texto abaixo foi traduzido da série HoME (history of middle earth), publicada e editada por Cristopher Tolkien, filho do professor Tolkien. Os contos desta série são, na verdade, um grande apanhado de textos e histórias que Tolkien desenvolveu ao longo dos anos, mas que nunca teve oportunidade (ou mesmo vontade) de publicar. Algumas destas informações são arcaicas, e podem entrar em conflito com as histórias publicadas em suas edições oficiais. Sobre a Forma do Mundo: Ao redor de todo o Mundo estão as Ilurambar [1], ou as Muralhas do Mundo. Elas são como gelo, vidro e aço, estando acima de toda a imaginação dos Filhos da Terra, frias, transparentes e duras. Elas não podem ser vistas, nem podem ser transpostas, exceto pela Porta da Noite. Dentro destas muralhas a Terra está situada: acima, abaixo e em todos os lados está Vaiya, o Oceano Envolvente. Mas ele é mais como o mar abaixo da Terra e mais como o ar acima dela. Em Vaiya abaixo da Terra mora Ulmo. Acima da Terra situa-se o Ar, que é chamado Vista, e sustenta pássaros e nuvens. Por esse motivo ele é chamado acima Fanyamar, ou Casa de Nuvens; e abaixo Aiwenórë ou Terra dos Pássaros. Mas este ar situa-se apenas sobre a Terra-média e os Mares Interiores, e seus limites são as Montanhas de Valinor no Oeste e as Muralhas do Sol no Leste. Por este motivo as nuvens raramente chegam a Valinor, e os pássaros mortais não passam para além dos picos de suas montanhas. Mas no Sul, onde há principalmente frio e escuridão, e a Terra-média extende-se próxima às Muralhas do Mundo, Vaiya, Vista e Ilmen sopram juntos e confundem-se mutuamente. Ilmen é aquele ar que, sendo límpido e puro, é impregnado de luz, embora não a emane. Ilmen fica acima de Vista, e não é grande em profundidade, porém é mais profundo no Oeste e no Leste, e menor no Norte e no Sul. Em Valinor o ar é Ilmen, mas Vista sopra ocasionalmente, especialmente em Casadelfos, parte da qual está na base oriental das Montanhas; e se Valinor é obscurecida e seu ar não é purificado pela luz do Reino Abençoado, ele toma a forma de sombras e névoas cinzentas. Mas Ilmen e Vista misturar-se-ão como sendo um só, porém Ilmen é respirado pelos Deuses, e purificado pela passagem dos astros; pois em Ilmen Varda decretou o curso das estrelas, e mais tarde do Sol e da Lua. De Vista não há como sair nem como fugir, exceto para os servos de Manwë, ou para aqueles aos quais ele concede poderes como os de seu povo, que podem sustentar-se em Ilmen ou mesmo em Vaiya superior, que é muito tênue e frio. De Vista pode-se descer para a Terra-média. De Ilmen, pode-se descer para Valinor. Ora, a terra de Valinor estende-se quase até Vaiya, que é mais estreito no Oeste e Leste do Mundo, mas mais profundo no Norte e no Sul. As costas ocidentais de Valinor não estão, portanto, muito longe das Muralhas do Mundo. Contudo, há um abismo que separa Valinor de Vaiya, e ele é preenchido por Ilmen, e por este caminho pode-se descer de Ilmen acima da terra para as regiões inferiores, às raizes da Terra, e para as cavernas e grutas que estão nas fundações das terras e mares. Lá é o lugar de permanência de Ulmo. De lá originam-se as águas da Terra-média. Pois estas águas são compostas por Ilmen, Vaiya e Ambar (que significa Terra), uma vez que Ulmo funde Ilmen e Vaiya e envia-os através dos veios do Mundo para purificar e renovar os mares e rios, os lagos e as fontes da Terra-média. E as águas correntes possuem assim a memória das profundezas e das alturas, e guardam um pouco da sabedoria e música de Ulmo, e da luz dos astros do céu.

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Nas regiões de Ulmo as estrelas algumas vezes estão escondidas, e lá a Lua freqüentemente vaga e não é vista da Terra-média. Mas o Sol não se demora lá. Ela [2] passa sob a terra às pressas, a fim de que a noite não se prolongue e o mal se fortaleça; ela é puxada através do Vaiya inferior pelos servos de Ulmo, sendo aquecida e preenchida com vida. Assim os dias são medidos pelas rotas do Sol, que navega de Leste a Oeste através do Ilmen inferior, ocultando as estrelas; ela passa sobre o centro da Terra-média sem se deter, e muda seu curso em direção ao norte ou para o sul, não caprichosamente, mas devido à rota e à estação. E quando ela ergue-se acima das Muralhas do Sol é a Aurora, e quando mergulha atrás das Montanhas de Valinor, é o Anoitecer. Mas os dias em Valinor são diferentes dos da Terra-média. Pois lá a hora de maior luz é o Anoitecer. Então o Sol desce e repousa por algum tempo na Terra Abençoada, deitando-se no seio de Vaiya. E quando ela penetra em Vaiya, o mesmo torna-se ardente e fulgura com um fogo róseo, e por um longo tempo ilumina aquela terra. Mas a medida em que ela passa em direção ao Leste o fulgor desvanece, e Valinor é privada de luz, e é iluminada apenas pelas estrelas; e então os Deuses muito se lamentam pela morte de Laurelin. Ao amanhecer, a escuridão é profunda em Valinor, e as sombras de suas montanhas estendem-se pesadamente sobre as mansões dos Deuses. Mas a Lua não se demora em Valinor, e passa rapidamente sobre ela para mergulhar no abismo de Ilmen, pois ele sempre persegue o Sol, e raramente a alcança, quando então é consumido e obscurecido em sua chama. Mas às vezes acontece de ele chegar sobre Valinor antes de o Sol ter partido, e então desce e encontra sua amada, e Valinor é preenchida com uma luz mesclada tal qual prata e ouro; e os Deuses sorriem lembrando-se da fusão da Laurelin e Silpion há muito tempo atrás. A Terra de Valinor inclina-se para baixo a partir do sopé das Montanhas, e sua costa ocidental está no nível do fundo dos mares interiores. E não longe dali, como foi dito, estão as Muralhas do Mundo; e no sentido oposto à costa mais ocidental no centro de Valinor está Ando Lómen, a Porta da Noite Eterna que penetra as Muralhas e abre-se para o Vazio. Pois o Mundo encontra-se em meio a Kúma, o Vazio, a Noite sem forma ou tempo. Mas ninguém pode ultrapassar o abismo e a região de Vaiya e chegar àquela Porta, exceto unicamente os grandes Valar. E eles fizeram aquela porta quando Melko foi sobrepujado e colocado na Escuridão Exterior; e ela é guardada por Eärendel.[3] A Terra-média situa-se no meio do Mundo, e é composta de terra e água; sua superfície é o centro do mundo, das fronteiras do Vaiya superior aos confins do inferior. Antigamente assim era a sua forma. Era mais elevada no centro, decaindo de cada lado em vastos vales, mas ergue-se novamente no Leste e Oeste, mais uma vez decaindo para o abismo em suas bordas. Os dois vales eram preenchidos com a água primordial, e as costas destes antigos mares eram no Oeste as regiões montanhosas mais ocidentais e a borda da grande terra, e no Leste as regiões montanhosas e a borda da grande terra sobre o outro lado. Mas ao Norte e ao Sul ela não decaía, e podia-se ir por terra do extremo Sul do abismo de Ilmen ao extremo Norte do mesmo. Os mares antigos, portanto, situam-se em canais, e suas águas não vertiam para o Leste ou Oeste; mas eles não possuíam costas tanto ao Norte como ao Sul, vertiam para o abismo, e suas cachoeiras tornavam-se gelo e pontes de gelo por causa do frio; de forma que o abismo de Ilmen era aqui fechado e pontificado, e o gelo estendia-se ao Vaiya, e até as Muralhas do Mundo. Ora, é dito que os Valar, entrando no Mundo, desceram primeiro sobre a Terra-média no seu centro, exceto Melko, que desceu no Norte distante. Mas os Valar pegaram uma porção de terra e criaram uma ilha, consagrando-a, e a colocaram no Mar Ocidental e permaneceram nela, enquanto estavam ocupados na exploração e na primeira disposição do Mundo. Como é contado, eles desejaram criar lamparinas, e Melko ofereceu-se para desenvolver uma nova substância de grande força e beleza para seus pilares. Ele levantou estes grandes pilares ao norte e ao sul do centro da Terra, mesmo assim mais perto dele do que o abismo; os Deuses colocaram lamparinas sobre eles, e a Terra teve luz durante algum tempo. Mas os pilares foram criados com falsidade, sendo talhados em gelo; eles derreteram e as lamparinas caíram em ruína, e sua luz foi derramada. Mas o derretimento do gelo criou dois

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pequenos mares interiores, ao norte e sul do centro da Terra, e havia uma terra setentrional, uma terra central e uma terra meridional. Então os Valar retiraram-se para o Oeste e abandonaram a ilha; sobre a região montanhosa na margem ocidental do Mar do Oeste, eles elevaram grandes montanhas, e atrás delas criaram a terra de Valinor. Mas as montanhas de Valinor curvam-se para trás, e Valinor é mais ampla no centro da Terra, onde as montanhas andam ao lado do mar; e ao norte e ao sul, as montanhas nivelam-se em direção ao abismo. Há duas regiões da Terra Ocidental que não pertencem à Terra-média e, apesar disso, são exteriores às montanhas: elas são sombrias e vazias. A situada ao Norte é Eruman, e aquela ao Sul é Arvalin;[4] há apenas um desfiladeiro estreito entre elas e as extremidades da Terra-média, mas este desfiladeiro é preenchido com gelo. Para sua proteção posterior, os Valar empurraram a Terra-média no seu centro e compromiram-na em direção ao leste, de forma que ela foi encurvada, e o grande mar do Oeste é muito amplo no centro, a mais vasta de todas as águas da Terra. A forma da Terra no Leste era muito semelhante àquela no Oeste, exceto pelo estreitamento do Mar Oriental, e o deslocamento da terra naquela direção. E além do Mar Oriental situa-se a Terra Oriental, da qual pouco sabemos, e é chamada a Terra do Sol; ela possui montanhas, menores do que as de Valinor, mas ainda assim muito grandes, que são as Muralhas do Sol. Em razão da queda da terra, estas montanhas não podem ser vistas, exceto pelos pássaros que voam às maiores altitudes, através dos mares que as divide das costas da Terra-média. E o afastamento da terra também ocasionou o aparecimento de montanhas em quatro direções, duas na Terra do Norte e duas na Terra do Sul; aquelas no Norte eram as Montanhas Azuis no lado ocidental, e as Montanhas Vermelhas no lado oriental; e no Sul eram as Montanhas Cinzentas e as Amarelas. Porém Melko fortificou o Norte e lá ergueu as Torres Setentrionais, que também são chamadas de Montanhas de Ferro, e elas voltavam-se para o sul. E na terra central havia as Montanhas de Vento, pois lá um vento fortemente soprava vindo do Leste antes do Sol; e Hildórien, a terra onde os Homens primeiro despertaram, situa-se entre estas montanhas e o Mar Oriental. Mas Kuiviénen [5], onde Oromë encontrou os Elfos, está ao Norte junto às águas de Helkar. Mas a simetria da antiga Terra foi mudada e partida na primeira Batalha dos Deuses, quando Valinor marchou contra Utumno, que era a fortaleza de Melko, e Melko foi acorrentado. Então o mar de Helkar (que era a lâmpada setentrional) tornou-se um mar interior ou grande lago, mas o mar de Ringil [6] (que era a lâmpada meridional) tornou-se um grande mar fluindo de norte a leste e unindo por canais tanto o Mar Ocidental como o Oriental. E a Terra foi novamente partida na segunda batalha, quando Melko foi mais uma vez deposto, e ela modificou-se ainda mais pela a deterioração e o passar de muitas eras. Mas a maior mudança ocorreu quando a Forma Primordial foi destruída, e a Terra foi arredondada e separada de Valinor. Isto aconteceu nos dias do ataque dos Númenoreanos sobre a terra dos Deuses, como é contado nas Histórias. E desde aquele tempo o mundo tem esquecido as coisas que haviam anteriormente, e os nomes e as lembranças das terras e águas de antigamente pereceram. Clike e veja um mapa élfico em cores Clike e veja um mapa élfico em preto-e-branco [1] O presente texto pertence aos primórdios da mitologia tolkieniana, sendo escrito por volta de 1930. Muito foi modificado pelo próprio Tolkien (alguns pontos mais de uma vez) antes da publicação do Silmarillion, em 1977, editado por seu filho Christopher. Muitos nomes foram deixados de lado, outros sofreram alterações, como é o caso de Ilurambar, forma primitiva de Eärambar. (N. do T.) [2] No decorrer do texto, Tolkien refere-se ocasionalmente ao sol como "ela" e à lua como "ele", por ambos serem conduzidos por seus respectivos maiar: Arien (a maia do sol), e Tilion (o maia da lua). (N. do T.) [3] Formas primitivas de Melkor e Eärendil respectivamente. (N. do T.) [4] Formas primitivas de Araman e Avathar respectivamente. (N. do T.) [5] Forma primitiva de Cuiviénen. (N. do T.) [6] Formas primitivas de Illuin e Ormal respectivamente. (N. do T.)

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