IRA Insuficiência Renal Aguda ICBAS/HGSA Serviço de Medicina B
Fátima Farinha
IRA – Insuficiência Renal Aguda Plano de exposição:
Introdução Etiologia e fisiopatologia Manifestações clínicas e diagnóstico diferencial Complicações Resumo
Introdução
IRA – Insuficiência Renal Aguda
Introdução
Definição “Síndrome caracterizado por um declínio rápido da taxa
de filtração glomerular (horas a dias), retenção de produtos de excreção nitrogenados, alteração do volume de líquido extracelular e alterações da homeostase electrolítica e do equilíbrio ácido básico.” ACUTE RENAL FAILURE - Hugh R. Brady, Barry M. Brenner In HARRISON'S PRINCIPLES OF INTERNAL MEDICINE - 15TH EDITION
IRA
↓ TFG ↑ ureia e creatinina ↑ volémia alterações electrolíticas acidose metabólica
IRA – Insuficiência Renal Aguda
Introdução
Epidemiologia
“ A IRA complica cerca de 5% das admissões hospitalares e até cerca de 30% nas admissões das Unidades de Cuidados Intensivos” ACUTE RENAL FAILURE - Hugh R. Brady, Barry M. Brenner In HARRISON'S PRINCIPLES OF INTERNAL MEDICINE - 15TH EDITION
IRA – a maioria dos casos é reversível
H.G.S.A. ???
Rim tem enorme capacidade de recuperar da perda quase total da função!
Contudo, a IRA está associada a mortalidade e morbilidade hospitalares significativas
Devido, em grande parte, à natureza grave da doença que precipita a IRA!
IRA – Insuficiência Renal Aguda
Classificação
A IRA pode complicar uma ampla variedade de doenças:
Doenças que causam hipoperfusão renal, sem comprometer a integridade do parênquima renal
→ IRA pré-renal ou azotemia pré-renal → ~55%
Doenças que envolvem directamente o parênquima renal
→ IRA renal intrínseca ou azotemia renal → ~40%
Doenças associadas a obstrução do trato urinário
Introdução
→ IRA pós-renal ou azotemia pós-renal → ~5%
IRA
IRA pré-renal (55%) IRA renal intrínseca (40%) IRA pós-renal (5%)
IRA – Insuficiência Renal Aguda
Introdução
Manifestação
Oligúria (débito urinário <400ml/dia)
Manifestação clínica frequente mas não invariável (~50%)
Em geral, a IRA é assintomática, e o diagnóstico é estabelecido quando a monitorização bioquímica de pacientes hospitalizados revela um aumento recente nas concentrações sanguíneas de:
Ureia e Creatinina. Valores de referência: ureia: 3.6-7.1 mmol/l ou 10-20 mg/dl creatinina: <133 μmol/l ou <1.5 mg/dl
Etiologia e fisiopatologia
I - IRA pré-renal
IRA pré-renal
Forma mais comum de IRA (~55%) Resposta fisiológica à hipoperfusão renal leve a moderada
Rapidamente reversível com a restauração do fluxo sanguíneo renal e da pressão de ultrafiltração glomerular
Não há lesão do parênquima renal Pode complicar qualquer doença capaz de induzir:
hipovolémia, Hipoperfusão baixo débito cardíaco, renal vasodilatação sistémica ou vasoconstrição intra-renal selectiva
Ir para IRA renal intrínseca
Etiologia e fisiopatologia
Fisiopatologia da Hipovolémia
Hipovolémia → leva a queda da pressão arterial sistémica média → detectada pela redução do estiramento dos barorreceptores arteriais (ex: seio carotídeo) e cardíacos. Barorreceptores activados → desencadeiam uma série de respostas neurais e humorais → restauração do volume sanguíneo e pressão arterial. Respostas neurais e humorais incluem:
Activação do Sistema Nervoso Simpático (ex: norepinefrina) Activação do Sistema renina-angiotensina-aldosterona angiotensina II) Libertação de arginina-vasopressina (AVP ou ADH)
Norepinefrina+angiotensinaII+AVP →
(ex:
preservação da função cardíaca
e cerebral:
Estimulando a vasoconstrição de leitos vasculares “não essenciais” músculo e baço)
Inibindo a perda de sal através das glândulas sudoríparas Estimulando a sede e o desejo de ingerir sal Promovendo a retenção renal de sal e água
(ex:
Fisiopatologia da Hipovolémia
A perfusão glomerular, a pressão de ultrafiltração e a taxa de filtração são preservadas durante a hipoperfusão leve por vários mecanismos compensatórios:
Vasodilatação arteriolar das arteríolas aferentes
Pela angiotensina II
Desta forma:
Pelos receptores de estiramento das arteríolas aferentes em resposta a < da pressão de perfusão Biossíntese de proteínas vasodilatadoras (ex: prostagl E2 e prostaciclina)
Constrição das arteríolas eferentes
Etiologia e fisiopatologia
Pressão intraglomerular é mantida Fracção de filtração aumenta Taxa de filtração glomerular (TFG) é mantida
Nos estados de hipoperfusão mais graves → respostas compensatórias insuficientes → queda da TFG → IRA pré-renal !! • Idosos
!
• Doenças que afectam a integridade das arteríolas aferentes (ex: diabetes) • Fármacos (ex: inib. da COX; AINE; IECAS; bloq. dos recept. da voltar para IRA pré-renal
II - IRA renal intrínseca
Etiologia e fisiopatologia
IRA renal intrínseca
Pode complicar diversas doenças que afectam o parênquima renal:
Doenças dos grandes vasos renais Doenças da microcirculação renal e dos glomérulos IRA isquémica e nefrotóxica (a maioria) Inflamação tubulointersticial
A maioria dos casos de IRA renal intrínseca é desencadeada por:
isquemia (IRA isquémica) ou por nefrotoxinas (IRA nefrotóxica)
→ lesões que classicamente induzem Necrose Tubular Aguda (NTA)
!
A IRA pré-renal e a IRA renal intrínseca fazem parte de um espectro de manifestações de hipoperfusão renal.
Fisiopatologia da IRA Isquémica
Etiologia e fisiopatologia
Diferença entre a IRA isquémica e a IRA pré-renal:
Hipoperfusão induz lesão isquémica das céluas parenquimatosas renais, em particular do epitélio tubular
Ocorre recuperação em 1-2 semanas após normalização da perfusão renal, visto que exige reparo e regeneração das células renais. Se a isquemia for extrema → necrose cortical bilateral e I.R. Irreversível
IRA isquémica é + frequente em doentes submetidos a:
cirurgia CV major ou com traumatismo grave, hemorragia, sépsis e/ou deplecção de volume
Fisiopatologia da IRA Isquémica
Etiologia e fisiopatologia
Evolução da IRA isquémica caracteriza-se por 3 fases:
1- fase de início (horas a dias) – período inicial da hipoperfusão renal
TFG ↓, devido a
2- fase de manutenção (1-2 semanas) – lesão das células renais
Queda do fluxo sanguíneo renal → Pressão de ultrafiltração glomerular reduzida Cilindros com células epiteliais e restos necróticos derivados do epit. Tubular isquémico → fluxo de filtrado glomerular obstruído Extravasamento retrógrado do filtrado glomerular através do epit. Tubular lesionado
TFG mantida no valor mínimo (5-10 ml/min) Débito urinário é mínimo Complicações urémicas
3- fase de recuperação
Reparo e regeneração das células parenquimatosas renais Retorno gradual da TFG a níveis pré-mórbidos
Etiologia e fisiopatologia
Fisiopatologia da IRA pré-renal e IRA intrínseca isquémica
Fisiopatologia da IRA nefrotóxica
Etiologia e fisiopatologia
Mecanismos de lesão nefrotóxica Vasoconstrição intra-renal (evento central na IRA) por:
Agentes de contraste radiológicos (nefropatia por agentes de contraste) Ciclosporina e tacrolimus → induzem: queda do fluxo sanguíneo renal e ↓ da TFG, sedimento urinário benigno e baixa excreção fraccionada de sódio
Toxicidade directa sobre células epit. Tubulares e/ou obstr. Intratub.: IRA induzida por antibióticos
IRA induzida por antineoplásicos
Aciclovir, Foscarnet, aminoglicosídeos, anfoterina B e pentamidina Cisplatina, carboplatina, etc
Nefrotoxinas exógenas:
Cálcio, mioglobina, hemoglobina, urato, oxalato, cadeias leves do mieloma.
Etiologia e fisiopatologia
Fisiopatologia da IRA isquémica e nefrotóxica
Patologia da IRA isquémica e nefrotóxica
Características patológicas da IRA isquémica:
Necrose irregular e focal do epit. Tubul. com:
descolamento da sua membrana basal e oclusão da luz tubular por cilindros compostos de: células epiteliais íntegras ou em degeneração, restos celulares, mucoproteína de Tamm-Horsfall e pigmentos.
A necrose é mais evidente na parte recta dos túbulos proximais, mas também pode afectar o ramos ascendente da ansa de Henle
Características patológicas da IRA nefrotóxica:
Necrose das células tubulares é menos proeminente. Alterações morfológicas mais evidentes nas partes contorcida e recta dos túbulos proximais.
III - IRA pós-renal
Etiologia e fisiopatologia
IRA pós-renal
Obstrução do trato urinário responsável por < de 5% dos casos de IRA Um único rim é suficiente para excretar os resíduos nitrogenados gerados diariamente. Assim, a IRA secundária a obstrução exige que a obstrução ao fluxo urinário ocorra:
entre o meato uretral externo e o colo vesical, obstrução ureteral bilateral ou obstrução ureteral unilateral em paciente com rim único funcionante
A obstrução do colo vesical é a mais frequente
Doença prostática Bexiga neurogénica Tratamento com anticolinérgicos
Manifestações diferencial
clínicas
Avaliação clínica
Exame de urina
Índices de insuficiência renal
Achados laboratoriais
Achados radiológicos
e
diagnóstico
Avaliação clínica
1º Determinar se o declínio da TFG é agudo ou crónico
Fácil de estabelecer a existência de processo agudo qd a análise dos dados laboratoriais revela ↑ recente dos níveis sanguíneos de ureia e creatinina
Contudo: os valores prévios nem sempre estão disponíveis!!!
Achados que sugerem IR crónica:
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Anemia, neuropatia, evidências radiológicas de osteodistrofia renal ou rins pequenos e fibróticos.
2º Após estabelecido o diagnóstico de IRA:
1º Identificar a causa da IRA 2º Eliminar o factor agressor desencadeante (ex: nefrotoxina) e/ou instituir tratamento específico da doença 3º Prevenir e tratar as complicações urémicas
Avaliação clínica – IRA pré-renal
Sintomas
Hipotensão ortostática Taquicardia Redução da pressão venosa jugular Diminuição do turgor cutâneo Mucosas secas Redução da sudorese axilar
Rever registos médicos pesquisando:
Sede Hipotensão ortostática
Sinais
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Queda progressiva do débito urinário e peso corporal Instituíção recente de tratamento com AINE, IECA ou bloqueadores dos receptores da angiotensina II
Exame físico pode revelar
Estigmas de hepatomegalia crónica e hipertensão portal, insuficiência cardíaca avançada, sépsis ou outras causas de redução do volume sanguíneo arterial “efectivo”
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Avaliação clínica – IRA renal intrínseca
IRA renal intrínseca devida a isquemia
Tende a ocorrer após hipoperfusão renal grave, complicando o choque hipovolémico ou séptico ou após cirurgia major.
IRA renal intrínseca devida a nefrotoxicidade
Revisão cuidadosa dos registos medicamentosos e radiológicos, procurando exposição recente a nefrotóxicos ou agentes de contraste radiológicos ou toxinas exógenas Tende a ocorrer após hipoperfusão renal grave, complicando o choque hipovolémico ou séptico ou após cirurgia major.
Avaliação clínica – IRA pós-renal
Sintomas e sinais
Dor suprapúbica ou no flanco
Sugere obstrução ureteral aguda
Nictúria, poaquiúria, hesitação (com endurecimento da próstata ao toque rectal)
Devido à distensão da bexiga e do sistema colector renal e da cápsula, respectivamente.
Dor em cólica no flanco que irradia para a virilha
ou
Doença prostática provável Bexiga neurogénica
Diagnóstico definitivo:
aumento
Pacientes tratados com anticolinérgicos ou sinais físicos de disfunção autonómica
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Exames radiológicos Rápida melhora da função renal após alívio da obstrução
Exame de urina
Anúria
Obstrução intermitente
Poliúria, devido ao comprometimento mecanismos de concentração da urina
Obstrução completa do trato urinário, mas pode complicar os casos raros de IRA pré-renal ou renal intrínseca!
Amplas flutuações no débito urinário
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Obstrução parcial do trato urinário
Sedimento urinário
dos
Índices de insuficiência renal
Índices de insuficiência renal
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Análise bioquímica e sanguínea
Útil para diferenciar a IRA pré-renal da renal intrínseca
Particular interesse da Excreção Fraccionada de sódio (FENa ) - relacciona a depuração de sódio com a de creatinina O Na+ sofre intensa reabsorção do filtrado glomerular em doentes com IRA pré-renal, na tentativa de restaurar o volume intravascular, mas não em pacientes com IRA renal intrínseca (isquémica ou nefrotóxica) devido à lesão das células epiteliais tubulares. A creatinina não é absorvida em qualquer das situações → assim, normalmente:
IRA pré-renal – FENa < 1% (frequentemente < 0.1%) IRA renal intrínseca – FENa > 1%
Excepções FENa :
!
•Diuréticos, bicarbonatúria, insuf. Renal crónica preexistente complicada por perda de sal ou insuficiência supra-renal.
Índices urinários diagnósticos: IRA pré-renal vs IRA intrínseca
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Achados laboratoriais
Creatinina sérica Potassémia Fosfatémia Calcémia Uricémia Creatinocinase Enzimas intracelulares
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Avaliação laboratorial
Função renal: critérios para IRA
Creatinina sérica aumenta >0.3 em 2 dias seguidos ou Creatinina sérica aumenta >0.5 mg/dl ou Creatinina sérica aumenta >50% acima da linha de base ou TFG calculada diminui >50% abaixo da linha de base
Excreção Fraccional de Sódio (FENa)
Requer amostra de urina prévia a fluídos IV, diuréticos FENa >1%: Necrose tubular aguda FENa <1%: IRA Pré-renal
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Rins continuam com capacidade para concentrar urina
Contagem sanguínea completa (CBC)
Trombocitopenia na Púrpura Eosinofilia na doença intersticial
Avaliação laboratorial
(cont.)
Urianálises com exame do sedimento urinário
Densidade urinária IRA pré-renal: densidade urinária >1.020 IRA intrínseca: densidade urinária 1.010 - 1.020 Doença vascular Eritrocitúria muitas vezes presente Glomerulonefrite Eritrocitúria Resíduos granulares Proteinúria Nefrite Intersticial Piúria Eosinófilos Leicócitos e eosinófilos Nefrite por hipersensibilidade a drogas eosinófilos Necrose tubular Resíduos granulares pigmentados Células tubulares epiteliais Resíduos granulares Falência pré-renal Resíduos hialinos
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Avaliação laboratorial
Testes autoimunes para doença glomerular
(cont.)
Antinuclear Antibody (ANA) Antineutrophil Cytoplasmic Antibody Antiglomerular basement membrane antibody
Biópsia renal percutânea
Indicada para doença glomerular ou intersticial
Manifestações Clínicas e diagnóstico diferencial
Complicações da IRA
A IRA :
Complicações
Compromete a excreção renal de Na+, K+ e água Afecta a homeostase dos catiões divalentes Afecta os mecanismos de acidificação da urina
Complicações frequentes
Sobrecarga de volume intravascular (hipervolémia) Hiponatrémia (↓ Na+) Hiperpotassémia (↑ K+ ) Hiperfosfatémia (↑ PO42- ) Hipocalcémia (↓ Ca2+) Hipermagnesiémia (↑ Mg2+) Acidose metabólica (acúmulo de ácidos endógenos) Outros:
Anemia, ↑ tempo de sangramento, leucocitose, infecção (50-90% dos casos – responsável por até 75% das mortes), complicações cardiopulmonares, hemorragia digestiva,…
Complicações da IRA
Complicações
Hipervolémia
Consequência inevitável de:
Excreção diminuida de sal e água em indivíduos oligúricos ou anúricos.
Sinais/sintomas:
Aumento do peso corporal, crepitações pulmonares bibasais, elevação da pressão venosa jugular, edema postural
!
Expansão contínua do volume: edema pulmonar potencial/ fatal.
pacientes tratados com múltiplos fármacos intravenosos e nutrição parenteral → administração excessiva de água → hiperosmolaridade/hiponatrémia → edema cerebral e crises convulsivas
Classificação e principais causas de IRA
Resumo
Classificação e principais causas de IRA
Resumo
Classificação e principais causas de IRA
Resumo
Resumo
Manifestações clínicas, achados urinários e outros testes
Resumo
Manifestações clínicas, achados urinários e outros testes
Resumo
Manifestações clínicas, achados urinários e outros testes
Resumo
Manifestações clínicas, achados urinários e outros testes
Algoritmo
Algoritmo para o diagnóstico e tratamento da Insuficiência Renal Aguda
Resumo
Resultados e prognósticos a longo prazo
Taxa de mortalidade em pacientes com IRA~50%
Mortalidade devida a sequelas da doença primária que provocou IRA e não devido à própria IRA.
Oligúria (<400ml/dia) + elevação da creatinina sérica acima de 3mg/dl→prognóstico sombrio Taxas de mortalidade mais altas em:
60% morte após traumatismo ou grande cirurgia 30% em pacientes com IRA nefrotóxica
Idosos e debilitados Falência de múltiplos orgãos
A maioria dos doentes que sobrevivem a um episódio de IRA recupera uma função renal suficiente para levar uma vida normal.
Bibliografia
Braunwald et al.; Harrison, “Medicina Interna”; McGrawHill Pesquisa na internet
…the end.