Aula 03 Temática: Método Científico
Até o momento, vimos que a ciência é um empreendimento histórico, apenas parcialmente cumulativo e cujo progresso se dá de maneira errática, com becos sem saída e desvios não previstos. É necessário que você guarde esta descrição, pois ela será retomada na Unidade final do curso. Por agora, entretanto, deveremos tratar com um pouco mais de profundidade a questão do método científico. A física, a química e, atualmente, a biologia têm sido os principais baluartes da superioridade da ciência em relação a outros tipos de conhecimento. Estas disciplinas têm alcançado resultados surpreendentes, no que diz respeito a mudanças na vida da população em geral. Em aproximadamente um século, o crescimento da expectativa de vida da população (praticamente dobrou!) do mundo ocidental pode ser em parte creditada aos desenvolvimentos científicos, especialmente destas disciplinas. Mas o que diferencia este tipo de conhecimento dos demais? Esta questão voltará a ser abordada na Unidade IV deste curso; neste momento, basta dizer que, implícita ou explicitamente, presume-se que o diferencial deste conhecimento é sue método, um modo de fazer, uma “receita” que, caso seja seguida, leva a conhecimentos e resultados confiáveis. Investigações pioneiras sobre o “método científico” foram conduzidas por Francis Bacon (1561 – 1626). De forma simplificada, podemos descrever algumas das premissas e pressuposições centrais que Bacon identificou no desenvolvimento da atividade científica e da natureza da ciência: a) A ciência começa por observações: Bacon propôs que a etapa inicial da investigação científica deveria consistir na elaboração, com base na experiência, de catálogos de observações dos mais variados fenômenos. b) As observações são neutras: Não se deve inicialmente julgar ou buscar explicar os fenômenos, apenas descrevê-los por meio da observação, sem qualquer antecipação especulativa, sem qualquer diretriz teórica. A mente do cientista deve estar limpa de todas as idéias que adquiriu dos seus educadores, dos teólogos, dos filósofos, dos cientistas; ele não deve ter nada em vista, a não ser a observação pura. UNIMES VIRTUAL 16
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c) Indução: As leis científicas são obtidas a partir do conjunto das observações por meio de um processo supostamente seguro e objetivo, chamado indução, que consiste na obtenção de proposições gerais (as leis científicas) a partir de proposições particulares (as observações). A lei é, então, uma generalização da experiência. Estas premissas parecem ser corretas, talvez até óbvias. Ou não? Ao longo deste curso veremos que estas foram e continuam a ser contestadas, por diversas correntes de filósofos e cientistas. Neste momento, gostaria apenas de tecer alguns comentários a respeito da primeira delas: a idéia de que a ciência começa por observações. Se analisarmos com um pouco mais de calma esta concepção de origem claramente empirista, logo perceberemos que a premissa é impossível de ser realizada. É impossível observar qualquer fenômeno sem recorrer a alguma concepção teórica! Se não tivermos alguma diretriz para observar os fenômenos, não saberemos quais aspectos deveremos observar e quais deveremos descartar. A própria atividade da observação seria interminável, já que teríamos que considerar uma quantidade potencialmente infinita de fatores. Quando um cientista vai a campo ou ao laboratório, ele tem alguma idéia, ainda que seja provisória, sobre o que deverá ser controlado, sobre quais variáveis ele deseja verificar, sobre quais tipos de dados ele deseja obter, etc. Esta importante discussão será retomada na Unidade V deste curso, quando perceberemos que diferentes concepções sobre o papel da observação na ciência levarão a diferentes concepções sobre esta última. Esta foi a última aula da Unidade introdutória do curso. Você deve agora ler o resumo da unidade e fazer os exercícios tanto para avaliar seu progresso quanto para fixar os conceitos principais da Unidade, que serão revisados ao longo de nossa jornada.
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