Entrevista Com Ney Campello

  • June 2020
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Entrevista

NEY JORGE CAMPELLO AVANA CAVALCANTE RUAN MELO

“A Bahia para os próximos 20 anos” O secretário fala quais são os projetos do Governo Estadual para a Copa do Mundo, além do que já está em andamento e das perspectivas de lucros

N

o dia 10 de setembro de 2009 o ex – vereador, Ney Jorge Campello, assumiu a Secretaria Extraordinária para Assuntos da Copa do Mundo na Bahia (SECOPE). Desde esse dia, ele exerce a função de planejar e promover ações voltadas para a Copa de 2014. Nesta entrevista, o secretário diz como a SECOPE está organizando Mundial com relação a investimentos em construções , além dos projetos de mobilidade urbana, turismo e segurança. Aos 50 anos e com uma trajetória de vida marcada pelo Mestrado em Administração pela Universidade Federal da Bahia, e de ter trabalhado como Professor Universitário e Secretário de Educação em Salvador, Ney Campello afirma que projeta o desenvolvimento da Bahia para além de 2014.

Temos que ver a Copa como um veículo de transformação da realidade social, política e econômica do país





Por que criar uma Secretaria específica para cuidar de assuntos da Copa na Bahia? A razão para a criação da Secretaria responde a um propósito de integrar e articular as ações de preparações para a Copa no âmbito do próprio Governo, e também na relação do Governo com outros entes e parceiros que estão para além das fronteiras do Governo, a exemplo da prefeitura e das organizações esportivas, FIFA, CBF, Ministério Público, segurança. Salvador está preparada para ser uma das sedes da Copa? Veja I 13 DE OUTUBRO, 2009 I 17

Entrevista

NEY JORGE CAMPELLO

Temos um enorme desafio em preparar Salvador para receber de forma satisfatória a Copa de 2014. Pituaçu é a prova que a cidade tem competência para receber eventos dessa natureza. É o caso do jogo Brasil e Chili, que foi um jogo da maior relevância e reuniu 38 mil pessoas em um período que aconteceram episódios de violência na cidade. Porém, um evento como o de 2014 vai requerer um conjunto de maiores providências que vão desde a construção de um novo estádio. O que significa para Salvador ser cenário de jogos de uma copa, no que diz respeito à visibilidade internacional?Um evento como esse propicia uma visibilidade internacional, uma atratividade muito grande do interesse do capital estrangeiro pelo nosso país. A copa pode consolidar a cidade de Salvador e o Estado da Bahia como destino internacional para o turismo e ambiente de negócio. A intenção é assegurar essa projeção de mais turistas e aproveitar essa oportunidade, pois precisamos usar a Copa como um evento que possibilite a atração de investimento, para superarmos problemas estruturais, como saúde e educação. Quais os projetos da SECOPE para o desenvolvimento da mobilidade urbana em Salvador?Primeiramente, descongestionar a Paralela, que hoje é o ponto mais crítico de transporte da cidade. Está em discussão uma intervenção através da criação de uma via expressa, que vai se integrar com o transporte ferroviário e Veja I 13 DE OUTUBRO, 2009 I 18

A copa pode consolidar a cidade de Salvador e o estado da Bahia como destino internacional para o turismo e ambiente de negócio





que facilitará o acesso ao litoral norte e aos hotéis. A ideia é a criação de uma via expressa que destrave a BA (estrada do coco) que corta Lauro Freitas. A previsão de gastos para a primeira intervenção, que vai de Lauro de Freitas até o estádio, é de algo em torno 1.2 bilhão de dólares. Já o metrô é uma “perna” desse sistema integrado metropolitano multimodal de transporte que vai ser feito para Copa. Também estamos em processo de negociação para a construção da segunda pista do aeroporto. Quais as propostas do Governo da Bahia para atender toda a demanda de turistas em 2014? O que nós vamos fazer será uma modernização do nosso parque hoteleiro, com a busca de linhas de financiamento que já estão em curso através da Secretaria de Turismo. Trabalharemos na qualificação de pessoas, pois precisamos melhorar o atendimento nos hotéis,

aeroportos e dos próprios taxistas. Como a SECOPE pretende estruturar a segurança para o mundial de 2014? Precisamos de um plano preventivo que integre, sobretudo, Secretaria de Segurança, Polícia Militar do Estado da Bahia e Ministério Público, para a articulação de um plano de segurança da Copa. Isso entrará em discussão. Já entrei em contato com o promotor Lidivaldo Britto e com comando da Polícia Militar. Em breve faremos uma reunião como um grupo de trabalho para começarmos a discutir o plano de segurança para que isso não fique para as vésperas da Copa. Quanto ao meio ambiente, quais são as propostas ligadas a essa área?Já existe no projeto do estádio da Fonte Nova algumas ações de preocupação com a demolição. Serão utilizadas técnicas de demolição assistida que preservarão o entorno do estádio. A segunda preocupação é com a destinação dos resíduos. Eles serão aproveitados e acabarão virando uma camada de materiais que ajudarão na edificação do estádio ou serão aproveitados por pedreiras em Salvador. E terceiro, o estádio já prevê na sua cobertura em membranas o uso de placas fotovoltaicas para a captação de energia solar, transformando a energia solar em eletricidade, que não dá plena autonomia, mas reduz o uso da energia elétrica do estádio. Ainda tem um plano para o uso e reuso da água, em que é utilizado o próprio equipamento para a captação de água de chuva.

Entrevista

NEY JORGE CAMPELLO

Para o senhor, um país com grande carência em saúde e educação, investir tanto em uma Copa do mundo é a melhor atitude a se tomar? Uma coisa não se opõe a outra. Se pensarmos que temos que vencer etapas anteriores para que possamos investir em outras ações, nós não investiremos nunca. Nós brasileiros, precisamos ter uma visão de largo alcance. Nós não podemos pensar em resolver do ponto de vista da escala histórica e econômica o problema do Brasil do feudalismo para chegarmos a um país moderno. Temos que ver a Copa como um veículo de transformação de realidade social, política e econômica do país. O que acontecerá com o estádio da Fonte Nova? Em março de 2010 ele será demolido e em 2012 estará pronto. O investimento para a construção da nova Fonte Nova varia entre 550 e 650 milhões de reais. Esta variação se dá por conta da possibilidade de isenções tributárias que reduziriam os custos. Isso a câmara de Salvador já aprovou a redução de INSS, IPTU para a cidade, falta agora o Estado, que já tomou decisão no conselho fazendário, isentar os impostos federais. Diante dos investimentos empregados na construção do estádio ou na mobilidade urbana, já se sabe como serão pagos as linhas de crédito? O investimento em mobilidade será financiado pelo Governo Federal. Os municípios quitarão com a sua própria capacidade de obtenção de lucros e, assim,

É articular o evento pensando em Salvador 2014, Rio de Janeiro 2016 e Bahia 2030, porque é pensar a Bahia para os próximos 20 anos





licitarão obras. Em relação ao estádio, a ideia é de uma concessão administrativa. Esta concessão tem o propósito de licitar o estádio através da criação de uma SPE (sociedade de propósito específico), em que a empresa entra em parceria com o Estado captando recursos. Além disso, outra parte será financiada pelo BNDSS a juros subsidiados.

Em relação à estrutura do próprio estádio da Fonte Nova, de que forma ela possibilitará uma contrapartida financeira? A quitação dos custos com equipamento passa pelo equacionamento de jogos de futebol e com outros eventos. Precisam acontecer 56 jogos, mais 4 eventos de caráter nacional ou internacional de grandes shows, além de outras visitações ao estádio. Outro fator que vai ajudar no equacionamento das receitas, será a licitação do entorno do estádio com os equipamentos do

shopping e com as salas comerciais. Quais os benefícios que a Bahia terá em sediar jogos de uma Copa do Mundo? A Copa do Mundo, além de um evento esportivo, se constitui em uma janela de oportunidades, tanto do ponto de vista econômico quanto social. Pretendemos fazer com que além do êxito na realização do evento esportivo, consigamos resultados que perdurem, com legados que possam sobreviver ao pós-Copa e que representem para o futuro do Estado da Bahia melhores condições na qualidade de vida. José Roberto Bernasconi, presidente do sindicato das empresas de arquitetura e engenharia consultiva, disse que devido à falta de planejamento, o Panamericano do Rio de Janeiro não se beneficiou dos investimentos do Governo. O que se espera de diferente na Bahia para 2014? Que a SECOPA assegurará que investimentos públicos tenham uma visão de longo prazo, garantindo que a Copa não seja um sucesso apenas durante os 30 dias. É articular o evento pensando em Salvador 2014, Rio de Janeiro 2016 e Bahia 2030, porque é pensar a Bahia para os próximos 20 anos. É preciso pensar em um plano de mobilidade antes e depois da Copa, ter cuidado para que os investimentos não constituam equipamentos que se tornem obsoletos, que só gerem custos para o Estado e pensar em um ambiente de negócios bem articulado, que facilite e consolide a economia. Veja I 13 DE OUTUBRO, 2009 I 19

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