Dossier Psicologia

  • December 2019
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Hélder Paixão

Dossier

Relações Interpessoais 1. Relações Interpessoais: Um conceito no Contexto Pedagógico. 2. Atracção Interpessoal.

3. Agressão 4. Síntese Geral (link) 5. O Efeito da Personalidade no Relacionamento Interpessoal

1

Hélder Paixão Entende-se por relações interpessoais o conjunto de procedimentos que, facilitando a comunicação e a linguagem, estabelece laços sólidos nas relações humanas. É uma linha de ação que visa, sobre bases emocionais e psicopedagógicas, criar um clima favorável à empresa (escola) e garantir, por uma visão sistêmica e integração de todo pessoal, uma colaboração confiante e pertinente. Cada pessoa é, e sempre será, um verdadeiro universo de individualidade; suas ações, seus motivos, seus sentimentos constituem paradigma único. Se não bastasse essa extrema singularidade ser modelada por uma fantástica constelação de neurônios que jamais se duplica de forma inteiramente igual em pessoas diferentes, cada um é portador de um código biológico, uma história particular de vida e um volume imenso de circunstâncias que evoluíram e evoluem de forma dinâmica, tornando-o absolutamente incomparável. Mesmo que um determinado vocábulo possa, por exemplo, possuir o mesmo sentido para duas pessoas diferentes, a intensidade com que cada um o acolhe jamais será absolutamente igual. Ninguém pode jamais sentir a saudade que sentimos, experimentar a felicidade que vivemos, sofrer a angústia da perda que sofremos e porque assim somos, constituímos figura impar, ser singular no imenso espaço que emoldura nossa passagem pelo tempo. Esta originalidade de cada um dificulta a comunicação interpessoal e com ela todo esquema de relações humanas que envolve o segredo do “conviver”. Essa manifesta singularidade humana está presente em qualquer família, em um escritório, na risonha mesa de um bar, na escolha de companheiros, nos partidos políticos e, naturalmente, na sala dos professores e em toda sala de aula. O estudo das relações interpessoais busca examinar os fatores condicionantes das relações humanas e face aos mesmos sugerir procedimentos que amenizam a angústia da singularidade de cada um e dinamiza a solidariedade entre todos que buscam conviver com harmonia. Talvez, por esse motivo, o professor tão extraordinário nos cuidados com sua formação profissional, não perceba de imediato que essa formação abre espaço também para que descubra

Hélder Paixão meios de transformar contatos em convívios, colegas em companheiros, que segundo o sentido etimológico dessa palavra, ao viverem juntos necessitam sempre aprender maneiras de “dividirem o pão”. Para isso, pois, é importante o domínio de alguns procedimentos que podem facilitar as relações humanas. Antes, entretanto, de se avançar por essas sugestões, é importante que se responda a quatro perguntas que estruturam todo conjunto de motivos para se aprender ou não as práticas que aprimoram as relações interpessoais. Por quê aprender relações interpessoais no contexto didático pedagógico ? Quando desenvolver as estratégias ações, projetos que aprimorem as relações interpessoais ? Como agir para que as mesmas tenham sua eficiência avaliada ? Que requisitos são essenciais para sua incorporação à prática pedagógica do professor? Por quê aprender relações interpessoais no contexto didático-pedagógico ? Quando a concepção de escola pressupunha - se é que algum dia efetivamente pressupôs - que sua única razão de existir era a de transmitir informações segundo planos sistemáticos e garantir às novas gerações o domínio da herança cultural acumulada e o papel do professor restringia-se especificamente a exposição desses conteúdos, era possível pensar que alunos e professores habitassem mundos diferentes que se cruzavam com objetivos claramente distintos; alguns de dizer, outros de ouvir. A escola ao assumir, entretanto, um papel “educativo” e, portanto, ao usar a herança cultural a ser passada como instrumento para desenvolver competências, aguçar sensibilidades, ensinar a aprender, animar inteligências, desenvolver múltiplas linguagens, capacitar para viver e, assim, “transformar” o ser humano; as relações interpessoais passaram a ganhar dimensão imprescindível. Os laços entre alunos e professores se estreitaram e na imensa proximidade desse imprescindível afeto, tornou-se importante descobrir ações, estratégias, procedimentos sistêmicos, reflexões integradores que necessitam ir muito além de um singelo “sou seu professor e gosto muito de você”. Não mais existe espaço para sala de aula em cuja porta

Hélder Paixão edifica-se o simbólico cabide onde, ao entrar, o aluno ali deixa pendurado as suas emoções, posto que lá dentro valerá apenas pela lição que faz, atenção com que ouve e nota que tira. Quando desenvolver as estratégias, ações, projetos que aprimorem as relações interpessoais? Absolutamente não é fácil responder essa questão. As relações que envolvem alunos e professores, professores e professores, professores e pais e ainda muitos outros “atores” do universo escolar, são marcadas pelo imprevisível e, como assim são, nem sempre é possível antecipar o uso de uma ação ou estratégia que atue como sensibilizadora das relações interpessoais. Muitas vezes, ao começar o dia, não imaginávamos que ao entrar nesta ou naquela sala iríamos deparar com situações inesperadas, circunstâncias especificas que nos impunha uma “mudança de rota” em nome do apelo para uma reflexão sobre relações interpessoais. Mas, mesmo considerando a importância das mesmas para uso eventual em circunstâncias imprevisíveis e inimaginadas, é essencial que o profissional encarregado de fazê-lo mostrese extremamente preparado e com aguda sensibilidade para perceber o oportunismo do momento e para domínio das estratégias de execução. Além desse uso eventual, não poucas escolas brasileiras já incluíram com sucesso um projecto de relações interpessoais muitas vezes rotulado com títulos diferentes que vão desde “alfabetização emocional” até o nome explícito – e nesse sentido, ainda que não tenham abdicado de usos eventuais em circunstâncias específicas, propiciam ao aluno actividades programadas e portanto iluminadas por objectivos claros, recursos materiais e humanos previamente organizados, temas estruturados segundo os anseios da entidade e das famílias, estratégias definidas através de uma programação dinâmica e progressiva e sistemas de avaliação consistentes.

Hélder Paixão

2 Viver em sociedade significa não viver só, o que implica, por isso mesmo, conviver e interagir com o nosso semelhante. Ou seja, viver em sociedade gere as chamadas relações interpessoais, estas emergentes da atracção, positiva ou negativa, que um sujeito sente por outro. Atracção positiva quando queremos ou desejamos o bem-estar do outro. Atracção negativa quando queremos ou desejamos o mal-estar do outro. Os relacionamentos entre os sujeitos visam, sobretudo, o bem-estar pessoal e o dos outros. Mas para que os relacionamentos sejam salutares e equilibrados, há que primeiro conhecermo-nos a nós próprios. Lugar comum ou não, é um facto de que quanto melhor nos conhecermos, melhor lidaremos com os outros, pois que assim evitaremos, certamente, não fazer aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós (Confúcio).

Atracção Os teóricos explicam a atracção interpessoal sob duas perspectivas: a comportamental (concreta) e a emocional (abstracta).

-

A atracção enquanto comportamento revela-se através das acções

físicas que um sujeito tem para com o outro que pretende atrair, como por exemplo: estar presente nos mesmos espaços geográficos que o sujeito alvo se encontra. -

A atracção enquanto emoção revela-se pelo conjunto de

sentimentos positivos e/ou negativos que um sujeito experimenta ao interagir com o outro, como por exemplo: a sensação de bem-estar, de conforto, admiração, quando junto do sujeito alvo, e/ou, no sentido inverso, de malestar, de incomodo.

Hélder Paixão

Os comportamentos variam consoante as normas sociais e culturais de cada comunidade humana. Concordando com os teóricos, acrescento ainda que a atracção comportamental e emocional também depende da personalidade e do carácter de cada sujeito. Isto, porque pessoalmente diferencio ambos os conceitos. Considero o carácter como sendo o “genes” (a essência) com o qual nascemos e a personalidade a moldagem desses genes. Posto de outra forma, o carácter é mutável sem nunca deixar de ser aquilo que é, de facto. Metaforicamente falando, poderei dizer que o carácter é o diamante bruto e a personalidade o diamante polido. Factores de atracção interpessoal Não obstante as diferenças existentes nas formas de nos relacionarmos uns com os outros: -

Relação entre pais e filhos;

-

Relação entre amantes;

-

Relação entre colegas de trabalho;

-

Relação entre amigos, etc.

existe, contudo, um conjunto de factores comuns que nos levam a aproximarmo-nos deste ou daquele sujeito ou grupo, sendo eles: -

Proximidade física;

-

Afiliação;

-

Beleza;

-

Semelhanças interpessoais;

-

Reciprocidade.

Proximidade física/geográfica – quanto maior for a proximidade espacial entre os sujeitos, maior serão os laços de amizade, simpatia, intimidade que se estabelecem entre eles. Contudo, e porque para tudo há um oposto, poderá acontecer o inverso, ou seja,

o

contacto

frequente

poderá

originar

saturação,

enfado

e

subsequentemente conflitos, inimizades e, portanto, a busca do afastamento do sujeito que nos incomoda. Um dos exemplos mais comuns é a saturação que surge entre os casais há muito (ou não) casados.

Hélder Paixão Afiliação – o sujeito procura a afiliação (integração numa qualquer comunidade de vivências comuns), porque deseja ou necessita de partilhar sentimentos, ideias, experiências, etc., com o outro, ou ainda por medos ou receios incontroláveis, como o medo da solidão ou da rejeição. Beleza – a atracção interpessoal é medida pela beleza exterior e não tanto pela beleza interior. Segundo os teóricos, esta atracção pelo aspecto físico, ou pela boa aparência exterior, como sinal do que “é belo é bom”, exalta-se na camada social mais jovem. Eu acrescento que esta realidade – ser e parecer – cada vez mais se estende a todas as camadas etárias e sociais, o materialismo. Similaridades interpessoais – é mais fácil estabelecer-se relações interpessoais com sujeitos com os quais tenhamos opiniões, crenças, valores, ideologias e pontos de vista comuns. Por exemplo, um benfiquista tende a procurar outro que partilhe do mesmo clubismo e não um opositor ao seu clube. Reciprocidade – “gostar de quem gosta de nós”. O sujeito procura afecto, conforto, alento, etc., no outro, para satisfazer, sobretudo, as suas carências emocionais.

3 A agressividade é a forma mais comum que o sujeito tem de reagir, não só perante as suas frustrações, os seus complexos, impotências físicas e emocionais, mas também quando agredido física, emocional e psicologicamente por outrem. A agressividade faz parte do mundo animal racional e irracional, sendo que no animal irracional este comportamento deriva do instinto natural pela sobrevivência, enquanto que no Homem, que também reage naturalmente por instinto, muitas das vezes agride premeditadamente. As formas mais usuais de agressão física são: o bater, o lutar, o homicídio, etc., e as verbais que podem ser, por vezes, muito mais agressivas do que as físicas, como, por exemplo, o insulto, a ofensa, o praguejar, maledicência, etc.. Formas de agressão

Hélder Paixão Segundo os teoristas, a agressão pode ser sistematizada em função de dois critérios: −

o do objecto a que se dirige (alvo)



e o da forma como se expressa (“ferramenta”)

Alvo ou objecto a que se dirige É do conhecimento geral que nem sempre o agressor liberta a sua ira directamente contra a fonte/causa da sua ira ou frustração. Com base neste princípio, tomemos como exemplo a criança que destrói os seus brinquedos ou outros objectos “à mão de semear”, após a mãe a ter proibido de fazer algo que ela queria fazer, ou ainda, o empregado incompatibilizado com o patrão, que não podendo reagir franca e abertamente, sob pena de poder vir a perder o emprego, manifesta-se mais tarde junto da família e/ou companheiros. Nestes casos o agressor transfere a sua ira ou frustração junto daqueles que à partida não lhe retribuirão na mesma moeda. Quanto ao alvo existem três tipos de agressividade: −

Directa



Indirecta ou deslocada



Auto-agressão

Agressão directa – dirigida contra a fonte de frustração, i.e., aquela em que o sujeito agride directamente o alvo causador da sua ira ou frustração. Agressão indirecta ou deslocada – dirigida contra um alvo alheio à frustração, i.e., aquela em que o sujeito agride indirectamente o alvo causador da sua ira ou frustração, transferindo-a/deslocando-a para as pessoas que lhe são mais íntimas. Auto-agressão – dirigida contra si próprio, quando em casos extremos, a agressão deslocada passa a auto-agressão, Ou seja, quando o sujeito é

Hélder Paixão simultaneamente o agressor e o agredido, manifestando-se através de comportamentos variados, como por exemplo: sentimentos de culpa e remorsos, automutilação e suicídio.

4 http://www.pdfcoke.com/doc/10976390/RELACOESINTERPESSOAIS 5 O Efeito da Personalidade no Relacionamento Interpessoal

Já reparou que certas pessoas têm conflitos quase todos os dias, enquanto que outras são conciliadoras, diplomatas e amadas pela maioria? Já reparou que algumas pessoas são acessíveis, enquanto que outras são frias e distantes? Isto acontece porque somos todos diferentes, ou seja, temos traços de personalidade diferentes.

Poder-se-á definir personalidade como “conjunto de padrões comportamentais (incluindo pensamentos e emoções) que caracterizam a maneira de cada indivíduo se adaptar às situações da sua vida”. Por sua vez, chama-se traço de personalidade a todo o aspecto particular de um indivíduo que o distingue dos outros.

Tipos de personalidade

Personalidade Passiva Caracteriza-se pela incapacidade de exprimir os seus pensamentos e emoções. Estas pessoas têm tendência a não manifestar claramente os seus desejos nem comunicar as suas necessidades, optando por ficar à espera que os outros façam as coisas por eles. Por exemplo, um funcionário em vez de pedir um aumento ao patrão fica à espera que o patrão lhe

Hélder Paixão ofereça um aumento. Quando ocorre um conflito, tendem a ignorar ou a fingir que nada aconteceu. Assim sendo manter-se na expectativa e a falta de iniciativa são características da personalidade passiva.

Em suma,  Comunica uma mensagem de inferioridade: ao sermos passivos permitimos que os desejos, necessidades e direitos dos outros sejam mais importantes que os nossos.  Alguém que se comporte de forma passiva perde, ao mesmo tempo que permite aos outros ganhar.  Seguir este caminho leva a ser-se uma vítima e não um vencedor. Personalidade Agressiva

É oposta à personalidade passiva. As suas reacções são extremas e a sua maneira de chegar aos seus fins é o afrontamento, a agressão directa, a cólera e a humilhação. São pessoas de uma intransigência excessiva e de uma rigidez desarmante.

Em suma,  Comunica sempre um impressão de superioridade e de falta de respeito.  Ao sermos agressivos colocámos sempre os nossos desejos e direito acima dos outros, violando os direitos dos outros.  As pessoas agressivas podem ganhar, ao assegurar-se que os outros perdem.

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