Hélder Paixão
Dossier
Intimidade, Amor e Amizade 1. Intimidade 2. Amizade 3. Amor
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Hélder Paixão
A definição intimidade é complexa uma vez que seus significados variam de relacionamento para relacionamento, e dentro de um mesmo relacionamento ao longo do tempo. Em alguns relacionamentos, a intimidade está ligada ao sexo e sentimentos de afeto podem estar conectados ou serem confundidos com sentimentos sexuais. Em outros relacionamentos, a intimidade tem mais a ver com momentos divididos pelos indivíduos do que interações sexuais. De qualquer forma, a intimidade está ligada com sentimentos de afeto entre parceiros em um relaciomento. Esta não é uma definição precisa, mas mesmo sem ser específico, parece que a intimidade e relacionamentos saudáveis andam de mãos dadas. Certamente a intimidade é um ingrediente básico em qualquer relacionamento com algum significado: a base da amizade e uma das fundações do amor. As principais formas de intimidade são a intimidade emocional e a intimidade física. A intimidade intelectual, familiaridade com a cultura e os interesses de uma pessoa, é comum entre amigos. Membros de grupos religiosos ou filosóficos também percebem uma "intimidade espiritual" em sua comunidade. A intimidade também pode ser identificada como o conhecimento profundo de alguém, conhecendo os vários aspectos ou sabendo como esse alguém responderia em diferentes situações, por causa das muitas experiências em comum. Na intimidade existem tês dimensões:
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a dimensão pessoal- que abrange as vivências, a história pessoal, a comunicação e os estados humoristicos das pessoas, ou seja, tudo o que se refere ao ser humano comos er individual.
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a dimensão relacional- relacionada com os envolvimentos interpessoais, a relação, ou seja, tudo o que existe um contacto com outro ojecto ou pessoa.
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a dimensão universal - não se encontra fixa, pois a intimidade varia consoante o contexto espacial, temporal, ou histórico.
Hélder Paixão Grande parte da vitalidade de uma amizade reside no respeito pelas diferenças, não apenas em desfrutar das semelhanças. (James Fredericks)
Ter amizade é uma coisa muito nobre, muito grande. Mas a amizade deve levar a ter actuações leais na vida, porque o amigo não pode ser um cúmplice. É-se cúmplice para cometer delitos, coisas vergonhosas. A amizade é para realizar, com outros, coisas boas boas a favor de outras pessoas. Se não, não é verdadeira amizade. (Josemaría Escrivá)
A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro. (Platão)
A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas. (Bacon) Ao longo dos meus artigos, tenho falado sobre diversas abordagens da amizade. No entanto, apesar do desenvolvimento do meu tema ao longo dos artigos que publiquei no meu blog, penso que não defini claramente o que é a amizade, apesar de todos nós, em princípio, conhecermos este vocábulo e o associarmos à sua significação e conotação. Segundo o meu ponto de vista, a amizade é uma relação que se estabelece com as pessoas que, no nosso quotidiano se encontram mais próximas de nós, ou melhor, as pessoas, normalmente com a mesma idade que nós com quem estabelecemos contactos mais directos, impessoais e afectivos. Os amigos são aquelas pessoas pelas quais sentimos um grande carinho, aqueles a quem confiamos plenamente os nossos segredos mais íntimos e profundos, e a quem recorremos nos bons, mas também nos momentos maus da nossa vida, quando necessitamos de um ombro amigo onde chorar e desabafar os nossos problemas. Os amigos são aqueles que estão sempre prontos para nos ajudar nestes momentos difíceis e que não esperam que os procuremos quando nos sentimos
Hélder Paixão sozinhos, mas antes vêm ao nosso encontro sem que precisemos de lhes pedir auxílio. Numa amizade, devemos dar sempre aquilo que podemos dar, sem com isso esperar algo em troca, a não ser carinho e atenção. É esta a minha definição do que é um verdadeiro amigo, uma amizade consistente e duradoura. No entanto deixo o desafio a quem quiser comentar esta definição, concordar ou discordar dela e até, eventualmente, acrescentar alguma coisa, uma vez que devido à complexidade e subjectividade do conceito (uma vez que apesar do conceito ser universal, cada um de nós forma o seu próprio conceito de amizade e de amigo),
3 A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação. Fala-se do amor das mais diversas formas: amor físico, amor platônico, amor materno, amor a Deus, amor a vida. É o tipo de amor que tem relação com o caráter da própria pessoa e a motiva a amar (no sentido de querer bem e agir em prol). As muitas dificuldades que essa diversidade de termos oferece, em conjunto à suposta unidade de significado, ocorrem não só nos idiomas modernos, mas também no grego e no latim. O grego possui outras palavras para amor, cada qual denotando um sentido específico. No latim encontramos amor, dilectio, charitas, bem como Eros, quando se refere ao amor personificado numa deidade. Amar também tem o sentido de gostar muito, sendo assim possível amar qualquer ser vivo ou objeto. Diferentemente do conceito de amor platônico, quando se fala do amor em Platão estamos nos referindo ao pensamento deste filósofo sobre o amor. A noção de amor é central no pensamento platônico. Em seus diálogos, Sócrates dizia que o amor era a única coisa que ele podia entender e falar com conhecimento de causa. Platão compara-o a uma caçada (comparação aplicada também ao ato de conhecer) e distinguia três tipos de amor: o amor terreno, do corpo; o amor da alma, celestial (que leva ao conhecimento e o produz); e outro que é a mistura dos dois. Em todo caso o amor, em Platão, é o desejo por algo que não se possui. A temática do amor é comum a quase todos os filósofos gregos, entendido como um princípio que governa a união dos elementos naturais e como
Hélder Paixão princípio de relação entre os seres humanos. Depois de Platão, entretanto, só os platônicos e os neoplatônicos consideraram o amor um conceito fundamental. Em Plutarco o amor é a aspiração daquilo que carece de forma (ou só a tem minimamente) às formas puras e, em última instância, à Forma Pura do Bem. Em "As Enéadas", Plotino trata do amor da alma à inteligência; e na sua Epistola ad Marcelam, Porfírio menciona os quatro princípios de Deus: a fé, a verdade, o amor e a esperança. No pensamento neoplatônico, o conceito de amor tem um significado fundamentalmente metafísico ou metafísico-religioso.