Dificuldade? De Aprendizagem?

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PRISCILA LEONEL PASQUALINI

DIFICULDADES? DE APRENDIZAGEM?

FLORIANÓPOLIS 2008

PRISCILA LEONEL PASQUALINI

DIFICULDADES? DE APRENDIZAGEM?

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Psicopedagogia Escolar e Clínica da Associação Catarinense de Ensino como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista, sob orientação da Profª Marise Siqueira Carneiro da Fontoura, Msc.

FLORIANÓPOLIS 2008

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PRISCILA LEONEL PASQUALINI

DIFICULDADES? DE APRENDIZAGEM?

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Psicopedagogia Escolar e Clínica da Associação Catarinense de Ensino para obtenção do grau de Especialista e aprovada pelos seguintes professores:

FLORIANÓPOLIS 2008

3 RESUMO A presente monografia tem como objetivo apresentar o trabalho desenvolvido no Hospital Infantil Joana de Gusmão, com crianças. Estas, pacientes que já tiveram alta e apresentam dificuldades escolares e de aprendizagem. Assim como apoio e orientações às famílias e as escolas destes pacientes. Apresenta também, a observação, o acompanhamento e desenvolvimento de atividades e trabalhos pedagógicos e psicopedagógicos realizado com uma destas criança.

Palavras-chave: Dificuldade de Aprendizagem, Psicoprdagogia, Educação, Criança, Família, Escola.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................5 2. HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO: HISTÓRICO E PROGRAMAS.......6 2.1. Programa de Dificuldade de Aprendizagem .........................................................8 2.1.1 Histórico ..............................................................................................................8 2.1.2 Objetivos do Programa de Dificuldade de Aprendizagem ..................................9 3. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.................................................................11

4. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS DE 6 A 15 ANOS DE IDADE: UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA....................................................................17 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................19 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................20

5 1. INTRODUÇÃO

O Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) é uma instituição muito conhecida na cidade de Florianópolis/SC, por atender exclusivamente crianças e adolescentes e ter características próprias que o diferem significativamente de um hospital convencional. A começar pelo espaço construído decorado com motivos voltados ao público infantil e com temas específícos, de acordo com as datas comemorativas. Os uniformes dos funcionários também são diferentes; em geral, coloridos ou enfeitados.

Apesar de todo o esforço dos profissionais, o sofrimento é inevitável. Mas o hospital deve ser um espaço de vida. Dentre os projetos desenvolvidos no HIJG para garantir o atendimento humanizado e de qualidade, está a seção de pedagogia com seus programas:

Classe Hospitalar , Ambulatório de Dificuldades de

Aprendizagem, Estimulação Essencial e Recreação.

Houve a escolha de um paciente em especial para a observação e o acompanhamento, isso foi feito pelo fato de poder ter um conhecimento mais aprofundado, em suas dificuldades, os métodos e estratégias utilizadas em seu tratamento.

Este trabalho aborda o histórico e os programas do HIJG, em especial o Programa de Dificuldades de Aprendizagem e a minha experiência prática.

6 2. HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO: HISTÓRICO E PROGRAMAS

O Hospital Infantil Joana de Gusmão - HIJG foi inaugurado em 13 de março de 1979. Seu nome é uma homenagem à beata Joana de Gusmão, nascida em São Paulo, mas que viveu um período de sua vida nas proximidades da Lagoa da Conceição, bairro do município de Florianópolis, e deu atendimento às crianças da comunidade. É uma instituição pública estadual, com 22.000 m² de área construída. Atualmente conta com 144 leitos, cerca de mil funcionários e faz aproximadamente 7.300 internações, 59.300 atendimentos ambulatoriais e 93.700 atendimentos emergenciais ao ano.

O espaço físico está dividido em unidades de internação de acordo com as especialidades atendidas (algumas identificadas por letras): • A (adolescentes); • B (ortopedia, pós-operatório e outras); • C (cardiologia e nutrologia); • D (nefrologia e pneumologia); • E (neurologia); • Berçário; • Emergência Interna; • Isolamento; • Oncologia; • UTI geral; • UTI neonatal.

As especialidades atendidas são: Cardiologia, Cirurgias (Pediatria Geral, Plástica, Oftalmologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia e Urologia), Desnutrição,

7 Gastroenterologia,

Nefrologia,

Neurocirurgia,

Neurologia,

Queimaduras,

Pneumologia e Terapia Intensiva.

O HIJG atende crianças e jovens de O a 14 anos e as internações são feitas através de emergência ou do ambulatório. O atendimento ambulatória! acontece com agendamento de consultas a partir do encaminhamento dos médicos dos postos de saúde do Estado. Existem ainda os atendimentos do tipo hospital-dia para o atendimento de pacientes soro-positivo e tratamento quimioterápico.

O hospital atua como um pólo de referência para patologias de maior complexidade e também como hospital geral pediátrico na região da Grande Florianópolis.

Além das especialidades médicas, o HIJG oferece aos seus pacientes os serviços de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia, Pedagogia, Nutrição e Serviço Social. Este último presta apoio às famílias que necessitam de roupas e materiais para higiene pessoal, entre outros, durante o período de internação. Conta ainda com um serviço de voluntariado que tem, entre outras atividades, angariar fundos que são revertidos em brinquedos e materiais diversos. As voluntárias são também responsáveis pela decoração do hospital que muda a cada época do ano, de acordo com as datas comemorativas. Algumas dedicam tempo à interação social com as crianças e seus acompanhantes.

O trabalho de cunho pedagógico foi instaurado no HIJG ainda na década de 1980, em razão da necessidade de atividades na área de Estimulação Precoce e, desde então, vem conquistando espaço. Atualmente existe, no hospital, uma Seção de Pedagogia, composta por nove profissionais, entre pedagogas, professoras de outras licenciaturas e um grupo variado de estagiários. A Seção é responsável por diversas atividades estruturadas na forma de quatro programas de trabalho:

8 Estimulação Essencial, Programa de Dificuldade de Aprendizagem, Recreação e a Classe Hospitalar.

2.1. PROGRAMA DE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM 2.1.1 Histórico

Surgiu para suprir a necessidade de algumas crianças do Programa de Estimulação Essencial que, mesmo com acompanhamento e atendimento pedagógico, apresentavam dificuldades ao ingressarem no ensino regular. As intervenções decorrentes desse atendimento exigiam do pedagogo um olhar direcionado para as questões escolares sem, contudo, perder o foco clínico, ou seja, a história da criança.

Em 1991, o atendimento no ambulatório se intensificou com a solicitação da área médica para que se efetuasse um trabalho integrado. A preocupação com o desenvolvimento escolar das crianças atendidas no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) internadas ou em consulta ambulatorial deixou de ser uma preocupação restrita ao profissional da educação para tomar-se alvo também dos profissionais da saúde, que compreendem o ser humano numa perspectiva biopsico-social. Por isso, a interdisciplinaridade passou a ser necessária no tratamento clínico.

No início, o atendimento ao escolar com dificuldade de aprendizagem era especificamente dado às crianças com um histórico de desnutrição por uma psicopedagoga que atuou neste ambulatório até 2002 com escolares que possuíam dificuldades de aprendizagem. Posteriormente, outros encaminhamentos foram

9 feitos, tanto internos quanto das escolas, pela necessidade de ampliação e reestruturação no atendimento.

Mesmo priorizando o atendimento às crianças que passaram por hospitalização, o

Programa de Dificuldades de Aprendizagem – D.A. passou a

abranger uma clientela encaminhada por outros setores (ambulatórios médicos, escolas, conselhos tutelares etc...).

Em 2003, foi implantado o projeto "Ressignificando o Saber", tendo como eixo as propostas teóricas de Alicia Fernandez (que já era a base teórica utilizada no programa), além dos de Reuaven Feuerstein (Israel), que propõem um Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI e Panlexia (método italiano adaptado no Brasil para atendimento de crianças e adolescentes com dislexia).

Em 2004, iniciaram alguns contatos com instituições que ofereciam atendimentos alternativos - artes, esportes, informática, teatro para uma possível parceria com o Hospital Infantil. Em parceria com Escolinha de Artes de Florianópolis (FCC), foi elaborado o projeto "Desenvolvendo Competências através da Arte", que tem como objetivo propiciar o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética do educando, visando ao resgate da auto-estima, autonomia e autoria.

2.1.2. Objetivos do Programa de Dificuldades de Aprendizagem

O Programa de D.A., no HIJG, mantém um espaço estruturado para atender escolares que apresentam defasagens no seu processo de apropriação do

10 conhecimento. Busca identificar as causas e fatores que levam os educandos a não aprender, por meio de avaliações e intervenções psicopedagógicas, levando-os a descobrir sua própria modalidade de aprendizagem, resgatando a vontade e o prazer de aprender. Ao adquirir autonomia, o educando passa a acreditar em si, nas suas criações e a sentir-se digno de se apropriar do conhecimento, elevando, de modo significativo, sua auto-estima.

Tem como objetivos: • Identificar os fatores e as causas que impedem os escolares de se apropriarem do conhecimento escolar; • buscar estratégias de intervenção que auxiliem no processo de aprendizagem; • orientar famílias e escolas sobre os tipos e características das dificuldades de aprendizagem e como lidar com elas; • articular ações integradas com municípios do Estado para a descentralização do serviço de apoio aos indivíduos com D.A.; • promover convênios com instituições públicas e privadas, buscando atendimento extra curriculares (natação, atletismo, informática, escola de futebol, de arte, entre outros.); • abrir campo de estágio e pesquisa para estudantes de pedagogia e psicopedagogia.

11 3. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Moojen (1999) afirma que, ao lado do pequeno grupo de crianças que apresenta

Transtornos

de

Aprendizagem

decorrente

de

imaturidade

do

desenvolvimento, existe um grupo muito maior de crianças que apresenta baixo rendimento escolar em decorrência de fatores isolados ou em interação. As alterações apresentadas por esse contingente maior de alunos poderiam ser designado como “dificuldades de aprendizagem”. Participariam dessa conceituação os atrasos no desempenho escolar por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de exigência da escola, ou seja, alterações evolutivas normais que foram consideradas no passado como alterações patológicas.

Pain (1981, citado por Rubinstein, 1996) considera a dificuldade para aprender como um sintoma, que cumpre uma função positiva tão integrativa como o aprender, e que pode ser determinado por:

1. Fatores orgânicos: relacionados com aspectos do funcionamento anatômico, como o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central;

2. Fatores específicos: relacionados à dificuldades específicas do indivíduo, os quais não são passíveis de constatação orgânica, mas que se manifestam na área da linguagem ou na organização espacial e temporal, dentre outros;

12 3. Fatores psicógenos: é necessário que se faça a distinção entre dificuldades de aprendizagem decorrentes de um sintoma ou de uma inibição. Quando relacionado ao um sintoma, o não aprender possui um significado inconsciente; quando relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego, ocorrendo uma diminuição das funções cognitivas que acaba por acarretar os problemas para aprender;

4. Fatores ambientais: relacionados às condições objetivas ambientais que podem favorecer ou não a aprendizagem do indivíduo.

Fernández (1991) também considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. A dificuldade para aprender, segundo a autora, seria o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de aprendizagem de um indivíduo e, a fim de ilustrar essa condição, utiliza o termo inteligência aprisionada.

Para a autora, a origem das dificuldades ou problemas de aprendizagem não se relaciona apenas à estrutura individual da criança, mas também à estrutura familiar a que a criança está vinculada. As dificuldades de aprendizagem estariam relacionadas às seguintes causas:

1. Causas externas à estrutura familiar e individual: originariam o problema de aprendizagem reativo, o qual afeta o aprender mas não aprisiona a inteligência e, geralmente, surge do confronto entre o aluno e a instituição;

2. Causas internas à estrutura familiar e individual: originariam o problema considerado como sintoma e inibição, afetando a dinâmica de articulações

13 necessárias entre organismo, corpo, inteligência e desejo, causando o desejo inconsciente de não conhecer e, portanto, de não aprender;

3. Modalidades de pensamento derivadas de uma estrutura psicótica, as quais ocorrem em menor número de casos;

4. Fatores de deficiência orgânica: em casos mais raros.

A aprendizagem e seus desvios, para Fernández, compreendem não somente a elaboração objetivante, como também a elaboração subjetivante, as quais estão relacionadas às experiências pessoais, aos intercâmbios afetivos e emocionais, recordações e fantasias (Miranda, 2000).

De modo geral, as crianças com dificuldades de aprendizagem e de comportamento são descritas como menos envolvidas com as tarefas escolares do que os seus colegas sem dificuldades.

As crianças que apresentam pobre desempenho escolar e atribuem isso à incompetência pessoal apresentam sentimentos de vergonha, dúvidas sobre si mesmas, baixa estima e distanciamento das demandas da aprendizagem, caracterizando problemas emocionais e comportamentos internalizados, como é um problema que afeta pouco as pessoas ao seu redor, este comportamento acaba sendo banalizado, sem a devida atenção e importância. A timidez é considerada comportamento internalizado, aqueles expressos “para dentro”, como depressão, medo etc. Aquelas que atribuem os problemas escolares à influência externa de pessoas hostis experimentam sentimentos de raiva, distanciamento das demandas acadêmicas, expressando hostilidade em relação aos outros. Relatam ainda que os sentimentos de frustração, inferioridade, raiva e agressividade diante do fracasso

14 escolar podem resultar também em problemas comportamentais. Esses relatos são próprios e também são observados pela família e pelos profissionais que fazem os atendimentos.

A experiência escolar tem papel crucial na formação das auto-percepções das crianças. Com isso, as que possuem dificuldades de aprendizagem apresentam um risco elevado de terem um autoconceito negativo em relação ao seu desempenho na escola.

Outro ponto destacado, são os problemas de socialização, elas têm menos habilidades sociais que seus colegas sem dificuldades de aprendizagem, e que estas persistem ao longo da vida escolar. Crianças que apresentam associação de dificuldades de aprendizagem com problemas de comportamento tendem a experimentar dificuldades em suas auto-percepções, apresentando autoconceito mais baixo e locus de controle1 predominantemente externo, atribuindo, a estes, o sucesso o fracasso a fatores internos.

As crianças com dificuldades comportamentais além de dificuldades de aprendizagem podem apresentar um autoconceito mais negativo do que aquelas com apenas dificuldades de aprendizagem. Este autoconceito mais negativo se justifica pelo fato de essas crianças receberem um feedback negativo do ambiente, não só em relação ao domínio acadêmico, mas também em relação ao domínio social. Os estudantes no início da escolarização que apresentam a concomitância de dificuldades de aprendizagem e desordens comportamentais tendem a apresentar um declínio no progresso acadêmico, aumentando os comportamentos maladaptativos ao longo do tempo.

1 O locus de controle é abordado por Rotter, como uma forma para explicar diferenças na personalidade, quanto às crenças que as pessoas possuem sobre a fonte de reforço, se ele advém do seu próprio comportamento ou por forças externas.

15 A crença de que as dificuldades comportamentais prejudicam o autoconceito das crianças requer uma análise mais detalhada do contexto de inserção social destas. O comportamento pouco adaptado ao ambiente e com características anti-sociais pode estar associado à popularidade da criança, sendo as manifestações de agressividade reconhecidas como presentes por pais, professores e por elas mesmas. Tal associação de comportamento anti-social e popularidade pode tornar estas, resistentes à mudar seu comportamento na adolescência, uma vez que este se encontra associado ao prestígio social. Desse modo, o que seria um suposto problema de ajustamento para os pais e professores pode não ser assim considerado pela criança e por seus pares.

O

autoconceito

positivo

não

foi

essencialmente

associado

com

ajustamento comportamental adequado, aos padrões da scociendade, e o negativo, não necessariamente implicou pobre ajustamento no comportamento. Na presença de autoconceito positivo consistente com avaliações externas de competência social e

acadêmica,

as

crianças

podem

ser

consideradas

bem-ajustadas

ao

comportamento. Estas, com autoconceito positivo em discrepância com as avaliações externas podem ter imaturidade cognitiva para perceber seu real desempenho, ou ainda este pode estar desempenhando uma função protetora, numa tentativa da criança de se perceber como “boa”, apesar de suas falhas acadêmicas e sociais, o que pode estar protegendo-a de um feedback negativo do meio.

A presença de autoconceito negativo coerente com avaliações externas mostrou-se sugestiva de risco nos domínios acadêmico e social. A presença deste, em discrepância com as avaliações externas, sugere que estas crianças são excessivamente autocríticas ou mantêm altos padrões de exigência, embora não sejam mal-ajustadas ao comportamento considerado normal, na avaliação de outros.

A relação entre autoconceito e ajustamento é mais bem explicada pela

16 consistência ou discrepância entre as auto-avaliações e avaliações externas.

Ressalta-se a importância de instrumentar as intervenções junto a estas crianças com recursos que promovam o autoconceito, de modo a potencializar os resultados quanto ao desempenho acadêmico.

17 4. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS DE 6 A 15 ANOS DE IDADE: UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA

No primeiro dia, na sala do Programa de Dificuldades de Aprendizagem, apenas a professora Lucimara se encontrava, que me recebeu com toda atenção e passou algumas informações pertinentes ao período de pesquisa.

A sala, pequena, mas muito aconchegante, colorida, com fotos e desenhos na parede. Logo, as crianças começaram a chegar, inclusive Saulo2, alegres e contentes por estarem lá. Nenhum deles achou estranho a presença da pesquisadora, pois já estão acostumados a ter sempre pessoas novas para auxilialos.

Saulo, paciente que não consegue escrever; ao copiar, faz trocas e omissões de letras, não reconhece os números, é muito inseguro na própria fala, não compreende as solicitações mais simples. Muitas vezes, parece não escutar, é desatento, não possui noção espacial e temporal, é dependente de ajuda para realizar qualquer tarefa.

Inicialmente, foi utilizado o jogo das figuras, onde procuramos observar o grau de conhecimento simbólico, ou seja, reconhecimento das letras. As crianças tinham que procurar as letras que formavam as figuras escolhidas. Saulo não conseguiu realizar a tarefa, ficava mexendo mas letras, não querendo que percebêssemos que estava com dificuldade. A interação com os outros foi muito forte e divertida, contudo, ele não conseguiu realizar a atividade. Pediu para brincar de “pega varetas”, saindo-se muito bem, percebemos que não há, a princípio, problemas motores. 2 Nome fictício, Tem 7 anos e estuda na 2ª série de uma escola pública de SC.

18 No encontro seguinte, pedimos que desenhassem algo que lembrasse uma festa junina. Saulo fez um lindo desenho de uma fogueira, que foi copiada de um outro colega, pois estava com dificuldade em saber o que havia nas festas juninas. Com isto, pudemos observar o grau de conhecimento e cultural dele.

Após o desenho, as professoras formaram palavras que apareciam nos desenhos com o alfabeto em MDF e as crianças copiavam. Esta atividade foi completada por Saulo, mas muito devagar, com muita dificuldade. Com a cópia, estimulamos a motricidade e a memória.

Pedimos a ele que fizesse um desenho de sua casa e da sua família. Ele fez uma casa muito grande, com uma escada que levava ao quarto dele, longe dos outros membros da família. Ele apresenta a realidade em que vive, mora com a avó, tem pouco contato com os pais, pois eles tem problemas químicos.

No dia da festa junina que preparamos, cada um trouxe uma guloseima. Pedimos que eles ficassem sentados no tapete, em frente ao quadro branco, e falassem uma comida típica de festa junina. Eles soletravam e a professora escrevia no quadro. Ganhavam pontos para cada palavra soletrada corretamente. Saulo ficou sentado mais atrás, se escondendo, pois não conseguiu entender o que foi proposto. Sentamos junto a ele, mostramos, com a ajuda de revistas, algumas figuras e formamos algumas palavras. Ele ficou muito contente, pediu para fazer mais

e

também mostrou muita vontade de aprender, mas possui problemas com a falta de atenção e compreensão.

Foi solicitada a realização dos testes de processamento auditivo e neurológico que, até o momento, não haviam sido realizados. Por isso, não foi possível um diagnóstico final.

19 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Saber buscar, aplicar, compartilhar conhecimentos são alguns dos vários objetivos que fazem parte de nossas vidas e este estudo fez parte disso tudo. Em meio àquele ambiente, foi possível aprender mais sobre a profissão de psicopedagogo, assim como fazer grandes amigos que ajudaram na condução de um bom trabalho. Acredito que este trabalho foi de extrema valia para minha prática, pois o conhecimento adquirido, foi enorme. Poder observar como as estas crianças são tratadas, acompanhadas, quais são as metodologias utilizadas para cada caso é maravilhoso.

20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política de Educação Especial, livro 1. Brasília: MEC/SESP,1994.

CECCIM, R. B. e FONSECA, E. S. Classe Hospitalar: buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional à crianças e ao adolescente hospitalizados. Integração (21): 31-40, 1999.

CECCIM, R.B. Classe Hospitalar: encontros da educação e da saúde no ambiente hospitalar. Pátio, 3(10), ago/out, 1999.

FERNÁNDEZ. A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991

FONSECA,

E. S. e CECCIM, R. B. Atendimento pedagógico-educacional

hospitalar: promoção do desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança hospitalizada. Temas sobre desenvolvimento 7(42): 24-36, 1999.

FONSECA, E.S. Mais forte que a doença. Revista Nova Escola, 120, março de 1999a.

FONTES, R. O desafio da educação no hospital. Presença Pedagógica, 11(64): 21-29, jul/ago 2005.

21 MIRANDA, M. I. Crianças com problemas de aprendizagem na alfabetização: contribuições da teoria piagetiana. Araraquara, SP: JM Editora, 2000

MOOJEN, S. Dificuldades ou transtornos de aprendizagem? In: Rubinstein, E. (Org.). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999

ROTTER, J. Generalized expectancies for internal versus extenal control of reinforcement. Psychological Monographs, 80 (Whole No. 609), 1966.

RUBISTEIN, E. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996

SILVA, Lucimara Maia da. Dificuldade de Aprendizagem. Florianópolis, Seção de Pedagogia do HIJG,2006.

STEVANATO, Indira Siqueira. Autoconceito de crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 1, p. 67-76, jan./jun. 2003.

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