ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 2. COMENTÁRIO 2.1. CAPÍTULO 30 2.1.1. Número 54 – A percepção da Verdade no julgamento do espírito 2.1.2. Número 55 – A harmonia exige a Unidade 2.1.3. Número 56 – Acima de nossos juízos: a Lei imutável 2.2. CAPÍTULO 31 2.2.1. Número 57 – Acima da razão: só Deus 2.2.2. Número 58 – A Verdade: o julgamento do Verbo 3. CONCLUSÃO 4. BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Durante o semestre de Inverno da Licenciatura em Ciências Religiosas, dentro do âmbito das várias disciplinas que compõe o seu currículo, têm sido estudadas diversas temáticas que abordam o relacionamento entre Filosofia e Teologia. No âmbito da avaliação da disciplina de História da Filosofia I, é-me dada a oportunidade de comentar uma das obras de Santo Agostinho, De vera religione ou A verdadeira religião. Este comentário será dividido de acordo com os capítulos em questão e subdividido pelos números de cada capítulo. De seguida, fica uma pequena introdução à obra e ao destinatário da mesma. Esta obra, que data do ano 390 d.C., é dedicada a Romanius (um benfeitor que permitiu a Agostinho estudar em Cartago) e é-lhe enviada em conjunto com uma epístola1. O objectivo de Agostinho nesta obra é a conversão de Romanius do Maniqueísmo ao Cristianismo, e divide-se em quatro partes: introdução, duas secções doutrinárias e uma conclusão. O grande cerne da obra, as duas secções doutrinárias, podem ser divididas nos capítulos 11 a 23 (nos quais Agostinho argumenta contra a questão do problema do mal, tal como defendido pelo Maniqueísmo) e nos capítulos 24 a 54 (onde o autor faz a distinção entre razão e fé).2 É ainda n’A verdadeira religião que podemos ler uma base fundamental do desenvolvimento teológico que Santo Agostinho vai protagonizar em obras posteriores, como Sobre o Génesis contra os maniqueus ou Sobre o livre arbítrio3 (no combate ao Maniqueísmo), como numa das suas mais conhecidas obras A Trindade.
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- J.H.S. BURLEIGH, Augustine: Earlier Writings, Westminster John Knox Press, Louisville, 2006, 222. - http://augnet.org/default.asp?ipageid=1361 3 - G. REALE, D. ANTISERI, História da Filosofia: 2 – Patrística e Escolástica, Paulus, São Paulo, 2003, 85. 2
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CAPÍTULO 30 Número 54 – A percepção da Verdade no julgamento do espírito Como neoplatónico, Agostinho introduz aqui a alma racional, conceito proveniente no Platonismo, mas reformulado pelo autor. Da perspectiva agostiniana, o ser humano é composto por uma alma racional que não está aprisionada num corpo mortal (como em Platão), mas que usa esse mesmo corpo mortal e material4. Conforme assinala o autor, se o homem discernir apenas por si só, então nada lhe é superior. Assim sendo, a alma não seria aperfeiçoável ou mutável, não necessitaria de ser instruída para tal, uma vez que ao que é perfeito, não se pode acrescentar nada. No entanto, a alma racional é passível de ser instruída (logo, não perfeita), isto é, apreende conceitos e verdades imutáveis que a levam a crescer em conhecimento. Essa apreensão é feita por meio do raciocínio, conforme Agostinho indica, muito provavelmente por influência do Cepticismo no seu pensamento. A alma racional necessita de ser instruída, de modo a poder fazer juízos de modo correcto. Para Agostinho, o conhecimento oriundo das sensações não é propriamente negativo, mas revelase inferior em valor ao conhecimento obtido pela via do pensamento. O autor questiona o que há de extraordinário em ter o conhecimento prático para produzir boa massa para aplicar em pedras, apontando que esse tipo de percepção está próximo da razão e da verdade, mas não as supera, uma vez que é algo adquirido pela via dos sentidos naturais e não do elemento racional. Tal acontece, devido à Teoria da Iluminação (elemento central no pensamento racional agostiniano), na qual Santo Agostinho reformula o pensamento platónico da Teoria da Remeniscência.
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- http://www.counterbalance.org/neuro/greek-frame.html
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Número 55 – A harmonia exige a Unidade Neste ponto, Agostinho vai fazer notar duas teorias reformuladas e adaptadas do platonismo: a Teoria da Iluminação e a Teoria da Participação. Recorrendo à Teoria da Participação, Agostinho faz notar que a harmonia que assegura integridade e beleza é universal. E essa mesma harmonia é no entanto algo mutável (Agostinho refere que todo o corpo muda, passando de um aspecto para outro5), pelo que para poder ser universal, tem que estar intimamente ligada a algo que seja estável e imutável, algo maior. É aqui que Santo Agostinho faz então a conexão entre Deus como primeira Unidade e aquilo que é apreendido pelo ser humano. Tal acontece não através dos sentidos (novamente, somos confrontados com uma diminuição da importância do sensorial) mas sim através do que o espírito apreende com recurso ao intelecto. E para que o espírito humano o possa fazer, existe então a revelação de Deus, por meio da iluminação dos olhos da alma6 que nutre o intelecto humano. Deus ilumina a mente humana, para que possa perceber o facto de ser imagem d’Ele e por conseguinte procede d’Ele. Assim, as características divinas estão presentes no ser humano por participação, de modo a que o ser humano pode então contemplar por meio da razão o mundo e as coisas que o rodeiam.
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- a verdadeira religião p.80 - Costa Freitas p.21 e 24
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Número 56 – Acima de nossos juízos: a Lei imutável Para que algo sensível (seja produto da natureza ou do ser humano) possa existir, necessita de tempo e lugar; mas as noções de igualdade e unidade só podem ser reconhecidas através do espírito, que raciocina sobre o que os sentidos apreendem. Estas duas noções imateriais, não se confinam em tempo e espaço, ao contrário do que é sensível e material. Santo Agostinho aponta então que é devido à existência de uma lei única e imutável, não limitada pelas noções de tempo e espaço, que podemos julgar todas as coisas. Essa lei, aponta para uma ausência de início e fim, assim como para uma ausência de limitação de espaço, apenas ao alcance de Deus. Aliás, a contingência agostiniana faz notar a existência de Deus por meio de opostos. Assim, o autor serve-se de alguns exemplos conflitantes para fazer apologia à existência de alguém superior ao Homem. Entre outros, Agostinho demonstra que a mutabilidade exige imutabilidade, o que é passível de erro necessita do que é perfeito78. Em suma, porque existe uma lei imutável e inerrante não contida pelos limites do espaço/tempo, porque o nosso espírito (que a pode contemplar) é mutável e passível de errar, torna-se claro que algo essa lei tem que estar forçosamente cima do nosso espírito e que só pode ser a própria Verdade.
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- 30, 56 - http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=244&cat=3&pagina=1
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CAPÍTULO 31 Número 57 – Acima da razão: só Deus Neste trecho, Santo Agostinho parte da conclusão do ponto anterior, para assim afirmar claramente Deus como natureza imutável, primeira essência e primeira Sabedoria. No entanto, aqui existe uma clarificação da capacidade humana de emitir juízos. O Homem por si só, não tem essa capacidade, que só lhe é possível face a participar da natureza imutável de Deus.
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Número 58 – A Verdade: o julgamento do Verbo
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
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