Psicologia aplicada às organizações Profª Maria Angela – 2009
CONFLITO, FRUSTRAÇÃO E AJUSTAMENTO ( resenha- cap. 13 – Psicologia Geral – Elaine Maria Braghirolli – Editora Vozes)
A personalidade, à medida que se desenvolve, enfrenta uma série de problemas e situações novas às quais se deve adaptar ou com as quais deve conviver. Estes problemas geram estados psicológicos conhecidos com o nome de conflitos, frustrações e ansiedades. Os conflitos, as frustrações e as ansiedades estão presentes na vida de todo e qualquer ser humano. Até determinado grau, esses problemas são inerentes à vida e indicam até normalidade. Independentemente de quem somos e da quantidade e qualidade de nossas energias psíquicas, haverá sempre motivos não satisfeitos, barreiras a superar, escolhas a fazer, adiamentos a tolerar e objetos e situações a temer. Ajustamento designa precisamente a tarefa realizada pela personalidade para superar esses problemas e/ ou conviver com os mesmos. CONFLITO Estamos diante de um conflito quando há dois motivos incompatíveis querendo assumir a direção de nosso comportamento. Denomina-se conflito o estado psicológico decorrente da situação em que a pessoa é motivada, ao mesmo tempo, para dois comportamentos incompatíveis. Se a pessoa pudesse atender aos dois motivos, não haveria conflito.O conflito nasce precisamente da necessidade de se fazer uma escolha , uma opção. A satisfação de um motivo leva automaticamente ao bloqueio e frustração do outro. Kurt Lewin define conflito como sendo o resultado da oposição de duas forças igualmente fortes. FRUSTRAÇÃO Fala-se muito em frustração. Às vezes, quando queremos nos referir a alguém pejorativamente, dizemos que é um frustrado. Mas o que significa frustração? Entende-se por frustração o estado emocional que acompanha a interrupção de um comportamento motivado. Outros preferem não fazer menção a estados internos definindo frustração como a pura e simples interrupção no curso de um comportamento. Do exposto, deduzimos que todos sofrem frustrações e, neste sentido, somos todos frustrados. Ninguém pode evitar por completo as frustrações uma vez que nem todas as nossas necessidades e desejos são satisfeitos. A saúde mental não depende de enfrentarmos ou não enfrentarmos frustrações. Depende sim, da forma como as enfrentamos. A quantidade de frustrações também parece ser significativo: tanto a ausência de frustrações (superproteção) como o excesso, são desaconselhados. Donde provem as frustrações? As fontes são muitas Há obstáculos internos e externos, limitações provenientes de situações ambientais e pessoais. Alguém pode sentir-se frustrado por causa da chuva que prejudicou suas férias na praia ou no campo. Mais grave seria a frustração causada pelo incêndio que
destruiu a casa, pela morte que levou o ente querido. No caso da chuva, certamente haverá outras oportunidades de férias, mas será impossível recuperar a pessoa amada que morreu. Os meios de comunicação, especialmente a propaganda, ajudam a criar frustrações na medida em que apresentam modelos fisicamente muito superiores a média geral, difíceis de serem imitados quer no aspecto físico, quer no status sócio econômico de que desfrutam, privilégio de uma minoria. As frustrações mais dolorosas provém das limitações estritamente pessoais, especialmente as que tem implicações sociais como a reprovação num vestibular, a perda do emprego por desempenho inadequado, o fracasso amoroso. Nestes casos é mais difícil descarregar a responsabilidade nos outros ou nas circunstâncias. Estas situações acabam atingindo duramente o auto conceito, provocando sentimento de inadequação e inferioridade. Elas se agravam significativamente quando o indivíduo não sabe avaliar suas qualidades e defeitos, não tem uma visão real de sua personalidade e acaba estabelecendo metas irreais que fatalmente nunca serão atingidas. Há também os que estabelecem seus objetivos muito aquém de suas possibilidades e passam a vida inteira se lamentando de sua situação. O que fazemos quando frustrados? Como reagimos? Quais as respostas às frustrações? Uma das primeiras respostas à frustração é a inquietação. A pessoa começa a movimentar-se mais, anda de uma lado para outro, fuma e conversa mais do que o normal,... Por mais estranho que possa parecer, a pessoa frustrada pode responder com apatia. Esta situação mostra como duas pessoas, ou a mesma pessoa em situações diferentes, podem responder ao mesmo estímulo de formas diversas e até contrárias. Assim alguém frustrado pode demonstrar inquietação, agredir ou ficar apático. Por quê? Parece ser uma questão de aprendizagem. Aprendemos a responder desta ou daquela maneira. A tendência geral, diante da frustração é reagir e resistir. ANSIEDADE Ansiedade é um estágio psíquico muito semelhante ao medo. Este, caracteriza-se por ser uma reação de defesa do organismo diante de um perigo real. O medo é a reação do organismo que busca manter sua integridade física ou psíquica. Já a ansiedade é um medo vago, sem fundamento lógico, irracional ou desproporcional ao objeto causador. A ansiedade é um estado afetivo, caracterizado por sentimento de apreensão, inquietude. Pode ser também sensação de impotência para fazer algo ou tudo. As pessoas tomadas pela ansiedade, com freqüência sentem medo de um perigo vago e desconhecido, mas para elas inevitável. A ansiedade é um sinal de alarme dirigido ao EU. Serve para advertir a presença do perigo, de um impulso ou idéia inadmissível, para que o EU possa responder com medidas adequadas ou mobilizar suas defesas. Conflitos e frustrações podem ser fonte de ansiedade.
MECANISMOS DE DEFESA Já vimos que o indivíduo frustrado pode reagir com inquietação, agressão, apatia, fantasia e regressão. Mas há outras formas de se tentar resolver os problemas ligados aos conflitos, frustrações e ansiedades. São os mecanismos de defesa. São assim chamados, porque visam proteger a autoestima do indivíduo e eliminar o excesso de tensão e ansiedade. Os mecanismos de defesa do ego, na denominação de Freud, são recursos ardilosos pelos quais o EU se defende dos perigos instintivos e das emoções violentas (impulsos inconscientes) que ameaçam o seu equilíbrio. Graças aos mecanismos de defesa, conseguimos manter o equilíbrio entre conflitos internos e o ego. Quando estes mecanismos não são, por qualquer motivo, adequados para diminuir a angústia ou a ansiedade, podem ocorrer transformações violentas no comportamento. A principal função dos mecanismos de defesa é ajudar-nos a manter a ansiedade e a tensão em níveis que não sejam tão dolorosos para nós. Os mecanismos não resolvem os problemas criados pela ansiedade, mas nos dão a possibilidade de nos sentir melhor, mesmo que seja apenas momentaneamente. AJUSTAMENTO Por que alguns conseguem ser ajustados e outros não? Depende bastante da correta utilização dos vários mecanismos que nos auxiliam na solução de problemas psíquicos. A vida de cada um terá certamente muitos conflitos, frustrações e ansiedades. O homem tem que usar todas as suas faculdades para enfrentar, superar ou conviver com os problemas. Por que não conseguimos resolver nossos problemas pelo uso da razão? Embora nossos problemas pessoais sejam muito semelhantes a qualquer outro problema, há algumas diferenças. Primeiramente, quando se trata de assuntos pessoais o envolvimento emocional nos rouba a objetividade. Em segundo lugar há muitos aspectos inconscientes em nosso comportamento. Há, consequentemente, muitos dados desconhecidos por nós mesmos. Os mecanismos de defesa podem ajudar no ajustamento porque: 1- Através de seu uso diminui a tensão. 2- Os mecanismos de defesa nos possibilitam novas experiências que poderão nos ensinar novas formas de ajustamento. 3- Os mecanismos podem nos ajudar a descobrir as verdadeiras causas de nosso comportamento. 4- Muitas das atividades em que nos engajamos através dos mecanismos de defesa, são atividades construtivas e úteis. Quando alguém pode ser considerado ajustado? Não é fácil dizer se alguém é ou não ajustado. Tudo depende do conceito que temos de ajustamento e dos critérios utilizados. E os conceitos e critérios utilizados variam bastante, dependendo do lugar e da época. Abraham Maslow, que dedicou a vida inteira ao estudo da personalidade normal e ajustada, propôs que o indivíduo com saúde mental caracterizar-se-ia por ser mais espontâneo e comunicativo. Menos bloqueado, menos critico de si mesmo, mais aberto e honesto, mais facilmente expressa seus pensamentos e opiniões sem medo do ridículo. É intelectualmente flexível. Não teme o mistério e
o desconhecido, ao contrário é atraído para ele. Conserva características próprias da criança como a vivacidade e inocência, o que, juntamente com uma inteligência adulta, torna-o pessoa muito especial. A personalidade ajustada é a que se adapta confortavelmente a sua sociedade. Isto não significa necessariamente que seja uma pessoa saudável e feliz. Pessoas saudáveis são as que se mantém em contato com o seu EU real, totalmente conscientes dos valores, necessidades, sentimentos e compromissos a que se ajustam. Pessoas saudáveis estão centradas no presente, são independentes e abertas, demonstram alguma forma de criatividade intelectual, são intelectualmente flexíveis e são algo aventureiros e espontâneos e emocionalmente comunicativos. Podemos dizer que a pessoa normal manifesta comportamentos que se caracterizam por: 1- Manutenção de boa saúde física; 2- Conhecimento o mais amplo possível e aceitação de si mesmo; 3- Conhecimento e aceitação dos outros; 4- Relacionamento de confiança com outras pessoas; 5- Participação social efetiva; 6- Ocupação profissional realizadora e criativa. “A pessoa é feliz, saudável e criativa à medida em que vive o momento presente. Não gasta suas energias para lamentar o passado, nem para preocupar-se com o futuro”. ************************************************************** Questões: 1- É possível evitar por completo os conflitos, as frustrações e as ansiedades? Por que? 2- O que é um conflito? 3- Cite três situações particularmente conflitivas para o homem contemporâneo? 4- Que é frustração e quais as principais fontes de frustração? 5- Como o ser humano reage, quando frustrado? 6- O que é ansiedade e qual sua origem? 7- Qual o papel dos mecanismos de defesa? 8- Como se caracteriza uma pessoa ajustada ou normal?