artigos de janeiro de 2007
a autoridade religiosa do mal olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 29 de janeiro de 2007
neste momento, a diretoria da peta � people for the ethical treatment of animals, empombad�ssima ong que em nome dos direitos dos animais diz horrores das pessoas que comem carne, usam casacos de pele ou v�o ao circo � est� sendo processada pela matan�a de milhares de gatos e cachorros. funcion�rios da organiza��o recolheram os bichos em dep�sitos p�blicos, dizendo que iam arranjar fam�lias para adot�-los. o pessoal dos dep�sitos nem pensou em duvidar dos agentes de uma institui��o famosa e politicamente correta. dias depois os homens da peta foram surpreendidos jogando os cad�veres de 14.400 animais num terreno baldio, em sacos de lixo. leia a hist�ria completa em www.petakillsanimals.com. tamb�m neste momento os remanescentes do khmer vermelho, a organiza��o genocida liderada pelo famigerado pol-pot, est�o sendo julgados por um tribunal em phnom penh, camboja, depois de tudo o que a bondosa onu fez para livr�-los de t�o desumano constrangimento. esses terroristas chegaram ao poder com a ajuda de milh�es de jovens militantes americanos e europeus que, manipulados por uma rede de organiza��es esquerdistas e um ex�rcito de pop stars das artes e letras, marcharam �pela paz� nos anos 60 sob lindos pretextos idealistas e humanit�rios, for�ando os eua a desistir de uma guerra vitoriosa, sair do vietn� do sul e deixar o caminho livre para que os comunistas armados pela china invadissem esse pa�s e o vizinho camboja. resultado final do massacre: tr�s milh�es de civis mortos, mais de tr�s vezes o total das v�timas da guerra. leia a hist�ria completa em mark moyar, triumph forsaken. the vietnam war, 1954-1965 (cambridge university press, 2006). o paralelo entre a matan�a de animais e a de seres humanos n�o � fortuito: em ambos os casos um discurso atraente, condensado em slogans de grande impacto repetidos ad nauseam pela m�dia, recobriu com o manto do prest�gio moral uma gangue de sociopatas assassinos, criminalizando os que se opunham a seus planos macabros e transformando cidad�os inocentes em c�mplices daquilo que existe de pior no mundo. o fundo ideol�gico, nas duas ocasi�es, � o mesmo: a invers�o revolucion�ria dos sentimentos morais, a imposi��o do mal em nome do bem. educado nos princ�pios do relativismo, que entrou na moda quando eu era adolescente (embora os adolescentes de hoje acreditem ser os primeiros a tomar conhecimento dele), demorei muito para descobrir por experi�ncia � e tive enorme dificuldade de admitir � que no mundo h� pessoas muito boas e pessoas muito m�s, separadas por um abismo irredut�vel. hoje em dia, quem quer que proclame em voz alta a exist�ncia dessa diferen�a que salta aos olhos na vida di�ria � imediatamente acusado de �manique�smo�. mas isso n�o � sen�o uma invers�o a mais, pois o manique�smo, historicamente, consiste em equalizar o bem e o mal como princ�pios, neutralizando a diferen�a de valor que os separa. e eu n�o sou covarde o bastante para me abster de dizer as coisas como as vejo, s� por medo de uma rotula��o pejorativa cuja falsidade j� se revela na pr�pria sem�ntica do termo. mais doloroso ainda, por�m, foi descobrir que todos os mestres-pensadores e
l�deres pol�ticos que encarnavam os ideais pomposamente alardeados pela milit�ncia intelectual esquerdista � todos, sem exce��o -- pertenciam inequivocamente � segunda categoria. quem quer que estude as vidas de cada um deles descobrir� que voltaire, diderot, jean-jacques rousseau, sade, karl marx, tolstoy, bertolt brecht, l�nin, st�lin, fidel castro, che guevara, mao dzedong, bertrand russel, jean-paul sartre, max horkheimer, theodor adorno, georg luk�cs, antonio gramsci, lillian hellman, michel foucault, louis althuser, norman mailer, noam chomsky e tutti quanti foram indiv�duos s�dicos, obsessivamente mentirosos, aproveitadores c�nicos, vaidosos at� � dem�ncia, desprovidos de qualquer sentimento moral superior e de qualquer boa inten��o por mais m�nima que fosse, exceto, talvez, no sentido de usar as palavras mais nobres para nomear os atos mais torpes. muitos cometeram assassinatos pessoalmente, sem jamais demonstrar remorso. outros foram estupradores ou exploradores de mulheres, opressores vis de seus empregados, agressores de suas esposas e filhos. outros, orgulhosamente ped�filos. em suma, o pante�o dos �dolos do esquerdismo universal era uma galeria de deformidades morais de fazer inveja � lista de vil�es da literatura universal. de fato, n�o se encontrar� entre os personagens de shakespeare, balzac, dostoi�vsti e demais cl�ssicos nenhum que se compare, em mal�cia e crueldade, a um st�lin, a um hitler ou a um mao dzedong. um dos motivos da crise permanente do g�nero �romance� no s�culo xx foi, precisamente, o fato de que a maldade real ultrapassou a imagina��o dos ficcionistas. em contrapartida, os representantes das correntes opostas, conservadoras ou reacion�rias, conforme fui descobrindo com ainda maior surpresa, eram quase invariavelmente seres humanos de alta qualidade moral, atestada n�o s� na idoneidade do seu trabalho intelectual, onde nada se encontrar� das fraudes monstruosas perpetradas por um voltaire, um diderot ou um karl marx, mas tamb�m nas circunst�ncias do cotidiano e nos testes mais rigorosos da exist�ncia. dificilmente se encontrar� algum cap�tulo vergonhoso na biografia de pascal, de leibniz, de bossuet, de donoso cort�s, de joseph de maistre, de john henry newman, de edmund burke, de vladimir soloviev, de nikolai berdiaev, de alexis de tocqueville, de edmund husserl, de ludwig von mises, de benjamin disraeli, de russel kirk, de xavier zubiri, de louis lavelle, de garrigou-lagrange, de joseph mar�chal, de victor frankl, de marcel de corte e de tantos outros. ao contr�rio, essas vidas transbordavam de exemplos de grandeza, generosidade, coragem e humildade. e mesmo aqueles que reconhecidamente pecaram, como dostoi�vski, winston churchill, charles de gaule, ronald reagan ou maurice barr�s, jamais ostentaram orgulho disso como um rousseau ou um brecht, nem muito menos trataram de encobrir suas vergonhas com uma engenhosa teia de mentiras autolisonjeiras como o fizeram voltaire e diderot. para levar a compara��o at� suas �ltimas conseq��ncias, at� os mais not�rios ditadores reacion�rios, franco, salazar e pinochet, com todos os crimes pol�ticos que cometeram, mantiveram em suas vidas pessoais um padr�o de moralidade incomparavelmente mais elevado que o dos tiranos revolucion�rios. pelo menos n�o mandavam matar seus mais pr�ximos amigos e companheiros de luta, como stalin, hitler e fidel castro, nem estupravam garotas menores de idade como o fazia mao dzedong. por favor, n�o me entendam mal. h�, � claro, um bom n�mero de patifes entre os escritores e sobretudo os pol�ticos de direita, e os descobriremos facilmente se alargarmos o espectro em exame para abranger os de m�dio e pequeno porte. mas, numa compara��o entre os personagens maximamente influentes dos dois campos, n�o � poss�vel deixar de notar a superioridade moral dos direitistas e a aus�ncia completa de um s� tipo moralmente bom entre os esquerdistas: s�o todos maus, sem exce��o. � medida que fui acumulando leituras e o conhecimento das biografias dos autores lidos, n�o tive mais como escapar da conclus�o: era imposs�vel que o estofo moral desses dois grupos n�o se refletisse de algum modo nas suas id�ias. id�ias, afinal, n�o s�o formas plat�nicas pairando em abstrato na eternidade. s�o atos da intelig�ncia humana, s�o rea��es de pessoas de carne e osso a situa��es concretas
e s�o tamb�m express�es de seus desejos, temores e ambi��es. havia, por outro lado, o teste evang�lico: os frutos. as id�ias dos grandes gurus revolucion�rios n�o tinham produzido por toda parte sen�o devasta��o e morte em propor��es jamais vistas ao longo de toda a hist�ria anterior e nem de longe compar�veis a qualquer malef�cio que pudesse algum dia ter resultado das id�ias conservadoras. s� a revolu��o francesa matou em um ano dez vezes mais gente do que a inquisi��o espanhola em quatro s�culos. feitas as contas � e, ad argumentandum, at� mesmo excluindo o nazismo da tradi��o revolucion�ria a que ele inequivocamente pertence --, os regimes inspirados nas id�ias desses gurus superaram, em n�mero absoluto de v�timas, n�o s� o total dos mortic�nios anteriormente ocorridos em todas as civiliza��es conhecidas, mas tamb�m as taxas de �bitos registradas em todas as epidemias, terremotos e furac�es do s�culo xx. mesmo considerado s� do ponto de vista quantitativo, o �ideal revolucion�rio�, enfim, foi o maior flagelo que j� se abateu sobre a esp�cie humana. mesmo que olh�ssemos os pensadores reacion�rios s� pelo mal que possam ter provocado volunt�ria ou involuntariamente, seus feitos, no conjunto, n�o poderiam jamais competir, nem de longe, com essa pletora c�smica do sangrento e do macabro que � o curriculum vitae dos mestres da revolu��o. se id�ias nascidas de almas disformes proliferaram em conseq��ncias nefastas, seria absolutamente imbecil teimar em ver nisso um mero ac�mulo de coincid�ncias, que teria de ser ele pr�prio a coincid�ncia das coincid�ncias, o mais inexplic�vel mist�rio da hist�ria humana. � claro que n�o tem sentido refutar id�ias alegando a m� qualidade humana de seus autores. elas t�m de ser examinadas em si mesmas e submetidas ao teste da realidade, n�o da moral. mas tamb�m n�o tem sentido confundir o exame cr�tico da consist�ncia e veracidade f�tica das id�ias com a compreens�o do seu significado hist�rico, do papel que exercem no desenrolar dos acontecimentos. neste �ltimo caso, a simples afirma��o em si mesma �bvia de que as m�s inten��es de homens perversos produzem geralmente efeitos malignos � amplamente confirmada pelos exemplos citados, e essa confirma��o pouco ou nada tem a ver, logicamente, com o problema de se essas inten��es se realizaram por meio de erros filos�ficocient�ficos ou de verdades colocadas a servi�o do mal. dito de outro modo, a condena��o radical que as obras desses homens merecem desde o ponto de vista moral � independente da cr�tica l�gica da veracidade ou falsidade parcial ou total das suas teorias, e esta � independente daquela. estou avisando isto porque sei que infalivelmente aparecer�o os espertinhos de sempre, alegando que estou refutando teorias por meio de argumentos ad hominem � alega��o que passa longe do assunto que estou discutindo aqui. mas, por outro lado, tudo isso n�o quer dizer que, fora de qualquer inten��o de julgamento moral, aquelas id�ias j� n�o tenham sido bastante examinadas desde o ponto de vista l�gico-cr�tico, nem que tenham se sa�do muito bem no exame. teorias como o �contrato social� de rousseau, a �mais-valia� de marx, a �consci�ncia poss�vel� de luk�cs, a �personalidade autorit�ria� de max horkheimer, etc., j� viraram poeira at�mica no laborat�rio cr�tico e hoje s� sobrevivem como cap�tulos exemplares na hist�ria da pseudoci�ncia universal. n�o � preciso nenhum argumento ad hominem para dar cabo do que j� est� morto. o que � quase inevit�vel � que a vis�o de tamanha mis�ria intelectual somada � baixeza moral das inten��es e � natureza catastr�fica dos efeitos acabe por suscitar a pergunta: como foi poss�vel que id�ias t�o inconsistentes, t�o maldosas e t�o desastradas tenham adquirido a autoridade moral de que ainda desfrutam nos setores nominalmente mais cultos da popula��o? a resposta � longa e s� posso aqui fornec�-la em abreviatura.
a origem do fen�meno remonta � muta��o do senso hist�rico sobrevinda por ocasi�o das revolu��es messi�nicas das quais falei no artigo anterior. at� ent�o a estrutura do tempo hist�rico era geralmente compreendida, no ocidente, segundo a distin��o agostiniana das �duas cidades�. para agostinho, s� a hist�ria espiritual da humanidade � a hist�ria da cria��o, da queda e da reden��o � tinha verdadeira unidade e sentido. esse sentido, por�m, se realizava no ju�zo final, num supratempo localizado para al�m da hist�ria material: o nexo unificador da hist�ria estava na meta-hist�ria. por baixo da narrativa espiritual, por�m, desenrolava-se a hist�ria social, pol�tica e econ�mica da humanidade. essa hist�ria adquiria algum sentido na medida em que se articulava, ainda que de maneira amb�gua e problem�tica, com a hist�ria da reden��o. mas, considerada em si mesma e isoladamente, n�o tinha forma, unidade nem sentido: era a sucess�o ca�tica dos imp�rios e das castas, dos esfor�os e derrotas, dos sofrimentos e desvarios da humanidade na sua luta intermin�vel pelo p�o, pelo abrigo, pela seguran�a e, sobretudo, pelo poder. essa aus�ncia de unidade � um fato empiricamente comprov�vel: civiliza��es inteiras nasceram, cresceram e morreram sem ter qualquer contato entre si, deixando vest�gios que s� vieram a ser desenterrados depois de mil�nios, saltando sobre muitas civiliza��es e culturas intermedi�rias. ademais, a continuidade hist�rica n�o acompanha automaticamente a sucess�o biol�gica das gera��es. depende da transmiss�o cultural, que � t�nue em si mesma e freq�entemente interrompida pelas guerras, pelas invas�es, pelas cat�strofes naturais e pelo simples esquecimento. o fio da hist�ria puramente humana n�o � cont�nuo: � escandido pela morte. da� que, at� hoje, todas as tentativas de �filosofia da hist�ria�, ambicionando reunir numa vis�o unificada e num sentido de totalidade o conjunto da experi�ncia humana na terra, tenham falhado miseravelmente. chega a ser tragic�mico que o reconhecimento desse fracasso, na segunda metade do s�culo xx, tenha provocado tanto estupor e desespero. agostinho, no s�culo v, j� havia demonstrado que toda vis�o totalizante da hist�ria material est� condenada de antem�o, no m�nimo porque a hist�ria ainda n�o acabou e ningu�m, de dentro dela, pode enxerg�-la como um todo ou fech�-la num esquema l�gico acabado. cada novo �fim da hist�ria�, anunciado orgulhosamente pelos fil�sofos, � s� mais um cap�tulo da hist�ria que prossegue e o desmente. de tudo o que estudei a respeito, a conclus�o � inevit�vel: agostinho tinha uma vis�o muito mais realista do processo hist�rico do que vico, hegel, karl marx, comte e tutti quanti. se descontarmos algumas obras mais recentes que beberam abundantemente em agostinho (por exemplo as de christopher dawson e eric voegelin), a cidade de deus ainda � o melhor livro de filosofia da hist�ria. aconteceu que, entre os s�culos xiv e xvii, o surgimento dos imp�rios nacionais rompeu o equil�brio medieval e espalhou por toda parte a ambi��o dos ganhos f�ceis, a corrup��o, a imoralidade, as guerras, o banditismo e a desordem. desesperados, e imbu�dos do que lhes parecia a melhor das inten��es, v�rios monges, pregadores e te�logos acharam que estava na hora de acabar com a bagun�a e implantar, � for�a, o reino de deus na terra. notem que a pr�pria igreja nunca tivera ambi��o t�o alta, limitando-se a cultivar os jardins da cidade de deus no meio da confus�o e sofrimento da cidade dos homens, dando a deus o que era de deus e no m�ximo fornecendo alguma ajudinha espiritual a c�sar para que cuidasse do que era de c�sar. a separa��o dos poderes entre igreja e imp�rio foi a base mesma do consenso medieval, que se esboroou no instante em que cada pequeno c�sar quis ter seu pr�prio imp�rio e at� sua pr�pria igreja. em resposta ao desmoronamento da ordem crist�, a ambi��o de muitos l�deres e pensadores religiosos subiu ainda mais alto que a dos c�sares: acima do emaranhado de novos reinos devia erguer-se, no prazo mais breve poss�vel, o reino mundial de cristo, a nova ordem mundial, novus ordo seclorum, express�o que remonta a um desses reformadores radicais, o pedagogo jo�o amos comenius (1592-1670). entre eles havia s�bios e loucos, santos e criminosos, organizadores geniais e desorganizadores furibundos. no conjunto, sua
a��o consistiu em tomar nas pr�prias m�os o chicote da justi�a divina e tentar apressar o ju�zo final. e t�o longe estava o mundo da perfei��o a que aspiravam, que n�o viram outro meio de alcan�ar o seu ideal num prazo aceit�vel sen�o pela viol�ncia e por uma anarquia ainda mais completa do que aquela contra a qual reagiam. a reforma luterana, sobrevindo no rastro dessa avalanche, foi no fim das contas o contra-movimento que deteve a revolu��o e permitiu que o cristianismo sobrevivesse em algumas das �reas onde ele ame�ava reduzir-se, com quatro s�culos de anteced�ncia, a uma esp�cie de teologia da liberta��o, com padres enfurecidos pregando a revolu��o permanente e a matan�a geral dos ricos. mas, por toda parte em torno, as sementes da revolta continuaram germinando, condensando-se em novas formula��es ideol�gicas e espoucando aqui e ali em mortic�nios ocasionais, at� que viesse a explos�o maior de 1789 na fran�a. toda essa formid�vel sucess�o de efeitos pol�tico-sociais, no entanto, foi nada em compara��o com a marca indel�vel que o advento do messianismo deixou na imagina��o e na cultura dos povos europeus. num relance, o eixo vertical da hist�ria tinha virado de cabe�a para baixo. a transfigura��o geral do mundo, o advento do reino de justi�a que a b�blia e agostinho situavam num supratempo espiritual para al�m da hist�ria, tinha sido puxado para dentro da hist�ria, tornando-se, na imagina��o dos revolucion�rios, o cap�tulo seguinte na sucess�o dos tempos, a ser produzido � for�a pela a��o social e pol�tica. mas o fim dos tempos, reduzindo-se a uma fra��o do tempo destinada a passar e desaparecer como qualquer outra, conservava, pelo conte�do ideal que a esperan�a revolucion�ria nele projetava, o prest�gio da eternidade. era como se aquele fragmento especial do tempo estivesse destinado a congelar-se, a ser arrebatado para al�m do mundo da gera��o e corrup��o, como um quadro que fixasse para sempre a imagem do instante. a eternidade enquanto tal, presen�a simult�nea de todos os momentos, como a definia bo�cio, a eternidade que abarcava o tempo e da qual, segundo agostinho, o tempo constitu�a a imagem m�vel, desparecera da imagina��o ocidental, substitu�da pela aspira��o imposs�vel do instante perp�tuo, cristalizado no ar. essa mudan�a foi uma ruptura total e radical da cultura europ�ia com a estrutura do tempo, o que vale dizer: com a estrutura da realidade. precisamente na �poca em que o progresso das ci�ncias naturais come�ava a fornecer observa��es e medi��es mais precisas dos dados materiais em torno, a intelig�ncia se tornava incapaz de articul�-los com a ordem do real. da� o contraste pat�tico entre a qualidade crescente da investiga��o cient�fica e a prolifera��o de filosofias pueris, montadas em cima de contradi��es e impossibilidades patentes, e t�o pretensiosas nas suas ambi��es quanto ing�nuas e desprovidas do menor senso cr�tico ao lan�ar os alicerces de barro de suas constru��es supostamente eternas. o mito do instante perp�tuo est� por baixo da �paz eterna� de kant, do �fim da hist�ria� de hegel, da �democracia plebiscit�ria� de rousseau, da �lei dos tr�s estados� de comte, da ideologia cientificista-materialista do �progresso� e, � claro, da teoria marxista da hist�ria como luta de classes destinada a desembocar no esplendor do mil�nio prolet�rio. mas estar por baixo significa estar invis�vel. nenhuma dessas concep��es filos�ficas examina criticamente o instante perp�tuo. se o examinasse, veria que era uma bobagem sem par. ele n�o � um �conte�do� dessas filosofias: � a premissa inquestionada, intoc�vel, em cima da qual se erguem, inconscientes da sua presen�a, como castelos constru�dos sobre um buraco sem fundo. assim, toda a viv�ncia moderna do tempo hist�rico foi determinada pela autoridade onipresente e invis�vel de um ilogismo cretino. protegido ao mesmo tempo pelo manto sacral da sua origem religiosa, o mito do apocalipse intratemporal ganhava ainda mais for�a por se tornar, atrav�s das ideologias do progresso e da revolu��o, o instrumento por excel�ncia para destruir a religi�o estabelecida. substitu�da a eternidade pela imagem hipn�tica do instante perp�tuo, na mesma medida deus e o ju�zo final j� n�o podiam ser concebidos sen�o atrav�s da expectativa messi�nica da �justi�a social� a ser implantada no mundo por meio do genoc�dio sistem�tico.
foi assim que a ideologia dos mais descarados e brutais se elevou �s alturas, n�o digo de uma religi�o, mas da pr�pria autoridade divina. essa mudan�a afetou t�o profundamente a imagina��o ocidental, que nem a pr�pria religi�o escapou da sua influ�ncia. a confus�o entre eternidade e instante perp�tuo, paramentada como �teologia da hist�ria�, perpassa todo o pensamento cat�lico que levou ao conc�lio vaticano ii e, atrav�s dele, agindo desde dentro em parceria com os inimigos de fora, destruiu o que p�de da autoridade da igreja. hoje em dia, bilh�es de pessoas no mundo, independentemente de suas cren�as e ideologias, j� n�o podem conceber o bem sen�o sob a forma de uma sociedade futura, o pecado sen�o como opsi��o ao advento dessa sociedade, a eternidade sen�o como algum tipo de �justi�a social� (as concep��es variam) a ser alcan�ada no instante perp�tuo do s�culo seguinte, do mil�nio seguinte ou sabe-se l� quando. como, por�m, os instantes passam e o futuro jamais chega porque continua futuro por defini��o, ningu�m pode olhar para tr�s e confessar os pecados e crimes hediondos que cometeu para alcan��-lo. o culto invis�vel do instante perp�tuo n�o apenas absolve por decreto t�cito as matan�as, os genoc�dios, o horror e a desumanidade dos regimes revolucion�rios, mas d� a todos os ativistas do mundo a licen�a para continuar oprimindo e matando indefinidamente, sempre em nome das lindezas hipot�ticas de um futuro imposs�vel. essa � a for�a, intrinsecamente anti-humana e diab�lica, que faz as multid�es servirem ao mal em nome do bem.
desprezo merecido olavo de carvalho jornal do brasil, 25 de janeiro de 2007
a ningu�m o movimento comunista despreza mais do que ao capitalista que primeiro lhe presta servi�os e depois o critica. tudo o que o sr. hugo ch�vez disse de o globo � absurdo, mas, de certo modo, merecido. vinte anos lambendo os p�s de intelectuais comunistas, achincalhando os militares brasileiros, mitificando che guevara e fidel castro, demonizando os eua, patrocinando a ascens�o do lulismo e ocultando a viol�ncia esquerdista no mundo n�o asseguram a essa organiza��o de m�dia sen�o o direito de continuar fazendo a mesma coisa dia ap�s dia, docilmente, at� � humilha��o final. a tarimba no exerc�cio da subservi�ncia n�o autoriza ningu�m a bater pezinho, de repente, s� porque a doce imagem do ideal esquerdista saiu da sua embalagem de sonhos e se encarnou na roubalheira petista ou na figura grotesca e amea�adora do sr. ch�vez. o comunismo � assim. os luminares glob�sticos tinham a obriga��o de saber disso. o falecido dr. roberto n�o cansou de avis�-los. em v�o. o globo fez como aquela mocinha que se engra�ou para cima do mike tyson, subiu at� o apartamento do brutamontes, se agarrou com ele na cama e, na hora h, come�ou a se fazer de virgem pudica. pensem o que quiserem, a senhorita vai sempre acabar alardeando virgindade na delegacia, de olho roxo. os insultos de hugo ch�vez e a galera gritando "rasga! rasga" s�o o pr�mio que o imp�rio midi�tico dos marinhos leva por bajular os inimigos e boicotar os amigos. n�o, n�o celebro esse acontecimento, que prenunciei vezes sem fim. schadenfreude -- alegrar-se com a desgra�a dos outros -- n�o � um dos meus v�cios. espero apenas
que o epis�dio sirva de li��o para os demais empres�rios de m�dia. ningu�m afaga o comunismo impunemente. comunistas n�o aceitam submiss�o pela metade, murismo, negaceios. � tudo ou nada. se voc� d� e toma, eles acabam com a sua ra�a. at� a igreja cat�lica perdeu credibilidade e fi�is depois daquela orgia de afagos � esquerda no conc�lio vaticano ii. o globo, a folha e demais jornais brasileiros n�o t�m mais prote��o divina do que o papa. ontem ele era a encarna��o m�xima da autoridade moral no mundo. hoje leva pito de qualquer mu�ulmano enrag�, e baixa a cabe�a. a m�dia brasileira n�o vai se sair melhor. o destampat�rio de hugo ch�vez � s� o come�o. e que ningu�m espere socorro de s�o lulinha. ele n�o � besta de se voltar contra o foro de s�o paulo s� para defender aliados de ontem, dos quais precisa cada dia menos. *** por falar nisso, h� d�cadas o economista cubano armando lago, com uns poucos auxiliares e sem as verbas milion�rias que alimentam a ind�stria da autopiedade comunista, vem fazendo o levantamento detalhado e criterioso das v�timas do regime castrista. elas n�o s�o menos de cem mil em cuba e trezentos mil em outros pa�ses � peru, col�mbia e angola, principalmente. perto disso, o abominado pinochet � Madre teresa de calcut� e os nossos "anos de chumbo" s�o o di�rio da poliana. um resumo da pesquisa encontra-se no document�rio "arquivo cuba". vejam em http://www.youtube.com/watch?v=ag5xahp-03a. no jornal nacional � que n�o vai passar.
a vingan�a da in�pcia olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 23 de janeiro de 2007
aviso chocante a uma na��o estupefata: o a craseado n�o � nenhuma monstruosidade abomin�vel, � apenas o feminino da contra��o "ao". � o equivalente de "aa", onde o primeiro "a" significa a preposi��o "a" (ou "para") e o segundo o artigo definido "a". quem quer que leve mais de dois segundos para entender isso e mais de tr�s para aprender a aplic�-lo corretamente � um retardado mental incapacitado para o exerc�cio da cidadania adulta. deve ser imediatamente destitu�do de qualquer fun��o p�blica e entregue aos cuidados do inss antes que fa�a alguma besteira perigosa. infelizmente, no brasil, a quase totalidade dos parlamentares e governadores de estado se inclui nessa classifica��o junto com o sr. presidente da rep�blica e uma infinidade de jornalistas, professores universit�rios, oficiais de alta patente, ju�zes de direito, empres�rios e doutores em geral. o acento grave destina-se a indicar uma contra��o preposicional que sem ele teria de ser adivinhada. acreditar que pessoas incapazes de perceber essa contra��o com a ajuda do acento haveriam de apreend�-la mais facilmente sem ele � uma esp�cie de otimismo �s avessas, bem caracter�stica de bo�ais inaptos para imaginar mesmo as hip�teses mais simples e �bvias da vida. aqueles que se confessam humilhados pela crase n�o atinam com os abismos de humilha��o e confus�o a que a aus�ncia dela os
jogaria perante uma frase como: "n�o envie � pol�cia." suprimam o acento grave e me digam se algo n�o deve ser enviado � pol�cia ou se a pol�cia n�o deve ser enviada a algum lugar. nem o parlamento inteiro, reunido em sess�o extraordin�ria permanente e empanturrado de jetons, poderia tirar essa d�vida. isso n�o quer dizer que a proposta de aboli��o da crase n�o tenha nenhum sentido. ela tem um profundo sentido pol�tico, tanto que prov�m do mesmo partido que advoga a substitui��o dos exames vestibulares por sorteios, onde o acesso ao ensino superior ser� aberto igualitariamente aos capacitados e aos incapacitados, compensando por meio da a��o estatal a injusta distribui��o do qi entre os cidad�os. ainda do mesmo partido provieram id�ias como o sal�rio m�nimo vital�cio, pago desde o ber�o talvez como compensa��o pelo destino cruel de nascer brasileiro, e a "poupan�a fraterna", que nivelar� por baixo os ganhos de todos, instaurando a distribui��o igualit�ria da pobreza. a inspira��o comum de todos esses projetos de lei � o �dio radical dos complexados, burros, pregui�osos e incapazes �s pessoas normais, saud�veis, diligentes e estudiosas. � o ressentimento da in�pcia contra a capacidade, � a vingan�a do dem�rito contra o m�rito. isso faz muito sentido, faz sentido at� demais: � a raz�o de ser do pr�prio pt.
o mist�rio da kgb mental brasileira olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 22 de janeiro de 2007
trinta anos atr�s, nenhum intelectual, pol�tico ou l�der empresarial brasileiro seria cretino o bastante para aceitar a m�dia popular como sua principal fonte de informa��es. a base da nossa dieta de fatos eram os livros, as revistas especializadas, as investiga��es diretas em arquivos e documentos. os jornais eram apenas artigo de consumo, material secund�rio de valor relativo ou duvidoso. r�dio s� servia para a previs�o do tempo. televis�o era para empregadinhas dom�sticas. no m�nimo, havia sempre a diferen�a entre informa��o genu�na e sua vers�o pasteurizada para o gosto do pov�o. hoje, fico besta de ver a confian�a total, a credulidade be�cia com que homens letrados de primeiro escal�o tomam os jornais e a tv como base de sua vis�o do mundo, chegando a p�r em d�vida qualquer dado de fonte prim�ria que n�o tenha sido referendado pela folha ou pelo jornal nacional. uma vez, discutindo com um militar de alta patente que, para c�mulo, tinha sido oficial de informa��es, lhe perguntei se tinha lido tais ou quais livros, b�sicos para o assunto que est�vamos debatendo. n�o, ele n�o lera nenhum. �ent�o de onde o senhor tira suas informa��es?�, perguntei. e ele, com a cara mais bisonha: �eu leio jornal, uai.� uai digo eu. sou mesmo o remanescente de uma ra�a extinta. n�o � � toa que o meu nome, de origem norueguesa, quer dizer �sobrevivente�. com freq��ncia sinto que j� morri, que minha alma atravessou os mundos, que voltei do al�m e estou tentando conversar com indiozinhos rec�m-nascidos, ainda perdidos no seu acanhado ambiente terrestre, persuadidos de que a floresta � o cosmos. quando voc� abre a se��o de opini�es de um jornal, ou mesmo a parte cultural, n�o
encontra nada ali que n�o seja a tradu��o, em id�ias � ou arremedos de id�ias --, do universo de fatos que consta das p�ginas noticiosas do mesmo jornal; e, quando l� as not�cias, elas confirmam essas mesmas opini�es. nas universidades, nas entrevistas de tv, nos debates do parlamento, nada se ouve que n�o seja a amplia��o, ou melhor, o incha�o vegetativo desse material. � tudo uma redund�ncia perfeita, circular, fechada, repetitiva e e eternamente autof�gica. qualquer novidade aut�ntica, qualquer elemento de fora que ali se introduza � expelido por um batalh�o de anticorpos que o devolvem �s trevas da inexist�ncia. ningu�m sabe de nada que os outros j� n�o saibam. ningu�m diz nada que os outros j� n�o tenham dito ou estejam ansiosos para dizer. curiosamente, para quem vive dentro dessa atmosfera, a rarefa��o mesma do seu conte�do � fonte de uma tremenda sensa��o de seguran�a. a ignor�ncia geral confirma as ignor�ncias individuais, que por sua vez a confirmam de volta, produzindo uma impress�o de generalizada onissapi�ncia. da� esse fen�meno impressionante, tipicamente brasileiro, do qual n�o se encontra similar no mundo: o intelectual acad�mico radicalmente apedeuta, semi-analfabeto, ignorante at� do idioma, que � consultado sobre mil e um assuntos, faz disc�pulos e se torna uma refer�ncia indispens�vel, um ma�tre � penser, um guru. � claro que as coisas se passam de modo diverso nos eua. aqui as revistas de opini�o e an�lise s�o tantas que at� os comentaristas de tv t�m de se manter mais ou menos no n�vel delas ou ser desmoralizados pelo primeiro entrevistado. e mesmo os pol�ticos que t�m interesse em refor�ar o prest�gio da grande m�dia para ser em troca refor�ados por ela sabem que � tudo um teatro. uma coisa � gostar de aparecer no new york times, outra coisa � tomar decis�es com base no que ele publica. e a fiscaliza��o em cima da grande m�dia � t�o cerrada, que ningu�m acima do n�vel m�dio da popula��o vai acreditar no que sai num jornal ou notici�rio de tv sem primeiro conferir a palavra dele com a de seus respectivos sites de media watch. o decr�scimo irrefre�vel na tiragem dos grandes jornais, paralelo ao crescimento do jornalismo eletr�nico, n�o reflete s� uma mudan�a tecnol�gica, mas a prefer�ncia inevit�vel dada ao meio que permite a mais r�pida compara��o de uma variedade de fontes e suas respectivas an�lises. na tela do computador voc� pode ler uma not�cia em quinze vers�es diferentes em quest�o de minutos. nem mesmo a televis�o permite isso: os notici�rios televisivos n�o s�o sincronizados, e quando o s�o voc� n�o pode assistir a v�rios deles ao mesmo tempo sem perder nada. no computador voc� vai e volta entre dez, vinte, trinta p�ginas de not�cias, captando rapidamente a pluralidade das vers�es e dos enfoques. da� a tend�ncia da m�dia impressa de apostar cada vez mais nos artigos longos, de an�lise, cuja leitura � mais f�cil no papel do que na tela (o que n�o impede que sejam tamb�m reproduzidos simultaneamente na internet), ou ent�o nas colunas di�rias, ou semidi�rias, onde o leitor se acostuma � voz e ao tom dos seus articulistas preferidos (digo voz porque muitas colunas s�o lidas tamb�m no r�dio). e esses colunistas s�o em geral �timos, dominadores perfeitos da l�ngua inglesa, escritores na acep��o plena do termo, sempre trazendo alguma novidade que pelo menos infunde vida na discuss�o geral. no brasil, ao contr�rio, estes artigos de p�gina inteira do di�rio do com�rcio s�o exce��es not�veis. no geral predomina cada vez mais o jornalismo em p�lulas, fragmentos minimalistas comprimidos nas dimens�es apropriadas a um p�blico para o qual a leitura � um supl�cio (e do qual o modelo supremo, declarado e confesso, � o pr�prio presidente da rep�blica). nesse recinto ex�guo, n�o h� espa�o para voc� provar nada � o m�ximo que se pode � resumir uma opini�o solta, isolada, desprovida da menor justifica��o: acho isto, acho aquilo, gosto de tal coisa, odeio tal outra. e ponto final. a id�ia de demonstra��o, de investiga��o, de prova e contraprova, j� desapareceu da cabe�a do p�blico ao ponto de qualquer tentativa de argumento mais longo parecer embroma��o ou pedantismo. quando se contesta alguma coisa, s�o apenas prefer�ncias, um �adoro� oposto a um �abomino� ou viceversa, ou ent�o pontos de detalhe, sem relev�ncia para a discuss�o central. ali�s n�o h� nenhuma discuss�o central. o que h� � apenas troca de afei��es e
desafei��es na periferia do mundo. o pior � que, quando tento explicar isso aos americanos, eles n�o entendem. eles s� concebem duas coisas: ou uma m�dia amputada, manietada e uniformizada pela censura oficial, ou a profus�o variada de pontos-de-vista que se v� numa democracia normal. n�o atinam que num pa�s possa haver tantos jornais, tantas revistas, tantos canais de tv, tantas universidades, tantos sites de jornalismo eletr�nico, e nenhuma discuss�o efetiva. quando digo que no brasil n�o s� a opini�o divergente � marginalizada, mas as provas que fundamentam a diverg�ncia s�o expulsas da discuss�o, eles me perguntam se h� uma kgb controlando tudo. quando informo que n�o, eles j� n�o sabem mais do que estou falando. o puro poder da burrice, a ditadura espont�nea da ignor�ncia auto-satisfeita, est� aqu�m da sua imagina��o. a kgb mental brasileira n�o pode existir no mundo conhecido: s� no planeta brasil. � um mist�rio c�smico incompreens�vel. a folha de s. paulo � um gordo panfleto pr�-comunista, mentiroso at� � alucina��o. s� leio essa porcaria para avaliar diariamente os progressos da mendacidade nacional, o crescimento canceroso da sem-vergonhice intelectual brasileira. quando esse jornal choraminga que seus direitos foram violados por agentes do governo, ele se esquece de todos os servi�os que ele pr�prio vem prestando � instala��o de uma ditadura comunista no pa�s, mediante a difama��o incessante de todo anticomunismo e a omiss�o sistem�tica de not�cias que possam levar o leitor a perceber as coisas com suas devidas propor��es. o sr. ot�vio frias filho parece querer o comunismo para todo mundo e o capitalismo s� para ele. talvez ache poss�vel tornar comunista o brasil inteiro e conservar uma ilha de liberdade de mercado na alameda bar�o de limeira. v�rias vezes por semana, seu jornal feito por e para meninos p�-de-arroz vem com algum novo esc�ndalo antimilitar ou antiamericano. sempre e invariavelmente � mentira. ou � mentira substantiva, altera��o material dos fatos, ou � mentira qualitativa, isto �, modifica��o das propor��es e perspectivas. neste �ltimo caso est� a not�cia alardeada naquele tom de indigna��o que j� se tornou no brasil a carteirinha oficial do sindicato dos virtuosos: �documentos secretos da diplomacia americana s� agora revelados mostram que o governo richard nixon (1969-74) sabia da tortura no brasil em 1973-74. o embaixador dos eua em bras�lia, john crimmins, sugeriu que nixon n�o cortasse cr�ditos ao brasil como retalia��o aos abusos. isso poderia atrapalhar a estrat�gia de �influenciar a pol�tica brasileira� e a venda de armas ao pa�s. o embaixador... recomendou que o governo nixon n�o usasse contra o governo brasileiro o art. 32 da lei de assist�ncia ao estrangeiro, embora o pr�prio relat�rio reconhecesse que isso era legalmente poss�vel. por essa regra, os eua poderiam cortar cr�ditos financeiros ao brasil em retalia��o a supostos abusos contra direitos humanos... a press�o americana contr�ria aos abusos s� passou a ocorrer na administra��o de jimmy carter (1977-1981).� [cf. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1401200706.htm .] quer dizer: o malvado governo americano poderia amarrar as m�os dos torturadores brasileiros, mas se recusou a faz�-lo porque estava mais interessado em ganhar dinheiro vendendo armas para eles. para come�ar, a folha assume como verdade objetiva os n�meros fornecidos pelas entidades pr�-comunistas (376 mortos), mas atribui aos �cr�ticos dos grupos de esquerda� a contagem das v�timas do terrorismo. e fornece o n�mero total dos comunistas mortos ao longo de todo o tempo da ditadura, mas p�ra a contagem de suas v�timas em 1974, obtendo 119 cad�veres. na lista dos esquerdistas, n�o faz a distin��o entre os que morreram em tiroteios, em acidentes ou assassinados nas
pris�es, dando portanto a impress�o de que todos foram objetos inermes da viol�ncia estatal. ao falar das v�timas dos comunistas, nem de longe menciona casos como o do tenente alberto mendes j�nior e dos militantes condenados como �traidores�, que morreram amarrados. a impress�o que fica � que jovens idealistas de esquerda lutavam nas ruas, de peito aberto, enquanto o governo covarde, escondido em por�es sinistros, se ocupava sobretudo de maltratar gente desarmada. isso n�o � jornalismo: � novela da globo, � constru��o ficcional, � mito. como invariavelmente acontece, as institui��es fornecedoras de dados sobre os mortos da ditadura s�o apresentadas como entidades religiosas, culturais ou de direitos humanos, sem qualquer alus�o � sua identidade ideol�gica mesmo quando s�o abertamente partid�rias e militantes, ao passo que as fontes de informa��es sobre v�timas do terrorismo s�o mostradas pela cor ideol�gica, mesmo quando n�o t�m nenhuma atividade pol�tica. o leitor sai acreditando que tudo o que se diz contra a ditadura vem de fontes neutras, imparciais e id�neas, ao passo que toda acusa��o aos comunistas vem com a marca do vi�s ideol�gico. � a exata invers�o da realidade. a avalia��o quantitativa tamb�m � sempre errada. � luz do senso das propor��es, 376 baixas ao longo de vinte anos de combates com um governo militar num pa�s de extens�es continentais s�o um n�mero incrivelmente modesto, n�o s� em compara��o com qualquer guerrilha do mundo, mas em compara��o com a repress�o cubana � popula��o desarmada. fidel castro matava essa quantidade de pessoas a cada dois meses, ali�s com a ajuda dos terroristas brasileiros, que nunca viram nisso nada de mau. n�o conv�m esquecer que a ditadura nacional n�o fez mais de dois mil prisioneiros pol�ticos ao longo de duas d�cadas, enquanto cuba, com uma popula��o muito menor que a do brasil, chegou a ter cem mil simultaneamente. antes de fingir esc�ndalo ante os n�meros da repress�o no brasil, a folha deveria considerar a alternativa que os terroristas ofereciam. a alternativa democr�tica inexistia. a luta era entre a ditadura mais sanguin�ria do continente, que financiava e coordenava as guerrilhas desde havana, e um governo autorit�rio improvisado para deter, com a menor viol�ncia poss�vel, a ascens�o comunista decidida a matar um n�mero ilimitado de pessoas �hasta la victoria siempre�. a mat�ria tamb�m n�o fornece os pontos de compara��o necess�rios para dar aos fatos a sua significa��o devida. os eua jamais cortaram cr�ditos para a urss ou a china, onde os prisioneiros desarmados que sofriam tortura e homic�dio estatal se contavam aos milh�es. por que deveria faz�-lo no caso de um pa�s onde as supostas v�timas n�o passavam de algumas dezenas, sendo a quase totalidade deles terroristas surpreendidos em plena a��o homicida? a perspectiva hist�rica dos fatos tamb�m � totalmente falsificada. a impress�o transmitida ao leitor � que o governo de washington, controlador onipotente da ditadura brasileira, n�o fez o que podia para refrear a viol�ncia de seus pausmandados locais, prontos a ceder � primeira amea�a de san��es comerciais. na verdade, o prest�gio americano ante o governo de bras�lia estava num dos pontos mais baixos da sua hist�ria. por iniciativa do chanceler azeredo da silveira, um esquerdista hist�rico, os altos postos do itamaraty foram todos preenchidos por simpatizantes comunistas � logo apelidados significativamente de �barbudinhos� pelos seus colegas, numa alus�o direta � pletora de barbas por fazer na elite revolucion�ria cubana. o presidente geisel, ansioso por marcar uma diferen�a, tendia nitidamente a uma politica terceiromundista e anti-americana, aproximandose da china, dando prefer�ncia � Alemanha como fornecedora de materiais para a constru��o da malfadada usina nuclear de angra dos reis e, para c�mulo, fornecendo armas e dinheiro para ajudar cuba a invadir angola � a decis�o mais hostil aos eua j� tomada por um presidente brasileiro antes ou depois disso, perto da qual as bravatas �nacionalistas� de j�nio quadros e jo�o goulart se reduzem a meros puns diplom�ticos. san��es comerciais, �quela altura, soariam como provoca��es
intoler�veis. longe de refrear a viol�ncia estatal, s� criariam ainda mais hostilidade para com os eua. nenhum governo do mundo correria esse risco para defender algumas d�zias de indiv�duos, ali�s seus inimigos. a impress�o de esc�ndalo moral que a folha quer criar em torno das mensagens do embaixador crimmins � inteiramente for�ada e artificiosa. quanto � venda de armas para o brasil, que a folha apresenta como o motivo interesseiro por tr�s da decis�o americana de n�o interferir na situa��o local, � preciso ser muito idiota para acreditar que ela tivesse grande valor comercial para os eua, ao ponto de determinar decis�es diplom�ticas por mero desejo de dinheiro. esse com�rcio era importante porque, �quela altura, era o �ltimo ponto de contato onde o governo americano e os militares brasileiros tinham interesses comuns, sendo absolutamente necess�rio preserv�-lo como base para uma poss�vel reconstru��o das boas rela��es entre os dois pa�ses. qualquer embaixador com qi superior a 12 recomendaria a seu governo o que crimmins recomendou a nixon. tentar enxergar a� motivos de cobi�a � mal�cia pueril, o equivalente folh�stico da intelig�ncia. e jimmy carter n�o pressionou as autoridades brasileira por estar sinceramente preocupado com os direitos humanos. ele sempre foi um protetor de ditadores comunistas sanguin�rios. o que ele quis impedir foi a total derrota da guerrilha latino-americana, que, gra�as a ele, sobreviveu ao per�odo de repress�o e floresceu ilimitadamente nas d�cadas seguintes, acabando por criar a maior for�a militar latino-americana e elevar-se � condi��o de dominadora monopol�stica do tr�fico de drogas no continente com a ajuda do plano col�mbia de bill clinton.
li��o repetida olavo de carvalho jornal do brasil, 18 de janeiro de 2007
se voc�s ainda t�m d�vidas de que existe neste pa�s um poderoso e bem armado esquema revolucion�rio, subordinado ao foro de s�o paulo, associado �s farc, protegido pelo governo federal e pronto para dominar num instante vastas parcelas do territ�rio nacional, leiam o of�cio n�mero 052/p2/2006 enviado pela brigada militar do rio grande do sul � 3�. vara da comarca de carazinho em 18 de maio de 2006. entre os munic�pios ga�chos de palmeira das miss�es, ira�, nonoa�, encruzilhada natalino, pont�o e passo fundo, h� 31 acampamentos do mst, articulados uns com os outros como uma rede de vasos comunicantes. com t�cnicas aprendidas da guerrilha colombiana, h� anos eles mant�m a popula��o local sob a constante amea�a de roubos e invas�es, mas de h� muito a coisa j� passou da etapa das a��es avulsas. segundo a brigada militar, �o arrojado plano estrat�gico do mst, sob a orienta��o de operadores estrangeiros, � adotar nessa rica e produtiva regi�o o m�todo de controle territorial branco t�o lucrativamente usado pelas farc na col�mbia�. o primeiro passo seria dominar a zona entre as rodovias rs-324 e br-386, avan�ando depois at� � fronteira com o uruguai e adquirindo o controle total do tr�fego rodovi�rio nessa �rea.
perigo id�ntico vai crescendo em outras regi�es. um estudo feito pelo advogado paulista c�ndido prunes, mapeando criteriosamente os acampamentos do mst no nordeste do pa�s, mostrou que as zonas ocupadas n�o s�o predominantemente locais de plantio, mas �reas estrat�gicas � beira das rodovias. mas, desde que existem guerras e revolu��es, a f�rmula da sua prepara��o � a mesma: robustecer os meios de ataque e enfraquecer as defesas do advers�rio. esta segunda parte consiste basicamente em priv�-lo das informa��es que ele necessitaria para articular a resist�ncia e aliment�-lo, ao contr�rio, de mentiras sedutoras que o induzam � passividade suicida ante o desenlace sangrento que se aproxima. os planos revolucion�rios do mst seriam inofensivos perante uma sociedade consciente do perigo comunista e organizada para enfrent�-lo. a sociedade brasileira n�o � nada disso. mantida em estado de aliena��o e ignor�ncia, ela acredita que o comunismo morreu, que o foro de s�o paulo � �teoria da conspira��o� e que as nossas institui��es s�o indestrut�veis. os �formadores de opini�o� que a estupidificaram para torn�-la indefesa s�o colaboradores ativos da revolu��o em marcha. aplanando o caminho para a trag�dia, criaram toda uma cultura da rendi��o, onde qualquer veleidade de anticomunismo � condenada como crime hediondo ou pelo menos sintoma de doen�a mental. tiraram da v�tima o desejo de resistir. foi a li��o que aprenderam de antonio gramsci e do pr�prio l�nin. mas quem escreveu a conclus�o deste artigo foi winston churchill, meio s�culo atr�s: �a incapacidade de previs�o, a falta de vontade para agir quando a a��o deveria ser simples e efetiva, a escassez de pensamento claro, a confus�o de opini�es at� o momento em que o salve-se quem puder soa o seu gongo estridente � tais s�o os tra�os que constituem a infind�vel repeti��o da hist�ria.�
o foro de s�o paulo, vers�o anest�sica olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 15 de janeiro de 2007
depois de esconder por dezesseis anos a exist�ncia da mais poderosa entidade pol�tica latino-americana, a m�dia chique deste pa�s, vencida pela irrefre�vel divulga��o dos fatos na internet, trata agora de disfar�ar, como pode, o mais torpe e criminoso vexame jornal�stico de todos os tempos. o expediente que usa para isso � ainda mais depravado: caluniar, difamar, sujar a reputa��o daqueles poucos que honraram os deveres do jornalismo enquanto ela n�o se ocupava sen�o de prostituir-se, vendendo sil�ncio em troca de verbas estatais de propaganda. envergonhada de si mesma, ela n�o tem nem a dignidade de citar nominalmente essas honrosas exce��es. designa-as impessoalmente, fingindo superioridade, mediante pejorativos gen�ricos. o mais comum � �radicais de direita�. encontro-o de novo no artigo �os limites de uma onda esquerdista�, assinado por c�sar fel�cio no jornal valor no �ltimo dia 12. o autor � uma nulidade absoluta, e eu jamais comentaria uma s� linha da sua
fabrica��o se as nulidades n�o se tivessem tornado, num jornalismo de oculta��o, os profissionais mais necess�rios e bem cotados. por favor, n�o me acusem de ca�ar mosquitos. compreendam o meu drama: nas presentes circunst�ncias, a recusa de falar de nulidades me deixaria totalmente desprovido de material nacional para esta coluna. a primeira coisa que tenho a dizer a esse moleque � bem simples: radical de direita � a v�. Antigamente chamava-se por esse qualificativo o sujeito que advogasse a matan�a sistem�tica de comunistas como os comunistas advogam e praticam a matan�a sistem�tica de popula��es inteiras. hoje em dia, para ser carimbado como tal, basta voc� ser contra o aborto ou o casamento gay. basta voc� achar que o foro de s�o paulo existe e � perigoso. basta voc� fazer as contas e notar que centenas de prisioneiros morreram de tortura na guantanamo cubana e nenhum na americana. basta voc� apelar � matem�tica elementar e concluir que a guerra do iraque matou muito menos gente do que o regime de saddam hussein sob os olhos complacentes da onu. se voc� incorre em qualquer desses pecados mortais, l� vem o r�tulo infamante grudar-se na sua pessoa indelevelmente, como marca de escravo fuj�o ou ferrete de gado. e n�o vem por via de nenhum jornaleco de partido, de nenhum panfleto petista. vem pela folha de s�o paulo, pelo globo, pelo estad�o, pelo jornal valor � os �rg�os da burguesia reacion�ria, segundo o site oficial do pt. que � que posso concluir disso, objetivamente, sen�o que a esquerda radical conseguiu impor � grande m�dia a sua escala de mensura��o ideol�gica e o correspondente vocabul�rio, agora aceitos como opini�o centrista, equilibrada, mainstream, enquanto as opini�es que eram da pr�pria grande m�dia ontem ou anteontem j� n�o podem ser exibidas ante o p�blico porque se tornaram politicamente incorretas? ser� extremismo de direita concluir que o eixo, o centro, se deslocou vertiginosamente para a esquerda, criminalizando tudo o que esteja � direita dele pr�prio? ser� extremismo de direita concluir que a �nica direita admitida como decente na m�dia chique � o tucanismo � abortista, gayzista, quotista racial, desarmamentista, politicamente corret�ssimo, padrinho do mst e filiado � internacional socialista, al�m de bettista e boffista, quando n�o abertamente anticrist�o? ser� extremismo direitista notar que o tra�o mais saliente dessa direita bem comportadinha � a abstin�ncia radical de qualquer veleidade anticomunista? ser� extremismo de direita entender que esse fen�meno � a manifesta��o literal e exata da hegemonia tal como definida por antonio gramsci? ser� extremismo de direita concluir que o establishment midi�tico deste pa�s �, no seu conjunto, um �rg�o da esquerda militante mesmo nos seus momentos de superficial irrita��o antipetista, quando jamais proferiu contra o partido dominante uma s� cr�tica que n�o viesse de dentro da esquerda mesma e que n�o fosse previamente expurgada de qualquer vest�gio de conte�do ideol�gico direitista? qualquer pessoa intelectualmente honesta sabe que um ju�zo de fato n�o pode ser derrubado mediante rotula��o infamante. tem de ser impugnado pelo desmentido dos fatos. se quiser rotul�-lo, fa�a-o depois de provar que � falso. n�o antes. n�o em substitui��o ao desmentido. ora, o tal fel�cio, em vez de desmentido, fornece uma brutal confirma��o. vejam s�: �o grupo que se re�ne a partir de hoje em san salvador... atende pelo nome de �foro de s�o paulo� e nasceu sob o patroc�nio do pt, em 1990. os encontros anuais n�o costumam chamar muita aten��o, a n�o ser de certos radicais de direita no brasil.� ora, como � poss�vel que encontros esquerdistas anuais repetidos ao longo de uma
d�cada e meia, com centenas de participantes, entre os quais v�rios chefes de estado, n�o chamem aten��o exceto de radicais de direita? ningu�m na esquerda prestou aten��o ao foro de s�o paulo? o sr. lula fez um discurso presidencial inteiro a respeito sem prestar a m�nima aten��o � entidade da qual falava? antes disso, quando presidia pessoalmente as sess�es da entidade at� 2002, n�o lhes prestou nenhuma aten��o? entrava em transe hipn�tico e balbuciava mensagens do al�m, sem se lembrar de nada ao despertar? os jornalistas de esquerda que, �s dezenas, compareceram aos debates, foram l� por pura desaten��o, dormiram durante as assembl�ias e voltaram para casa sem coisa nenhuma para contar? o sr. bernardo kucinsky, um dos fundadores da entidade, que emocionado assistiu ao nascimento dela num encontro entre fidel castro e lula, n�o prestou a m�nima aten��o �quele momento supremo da sua vida de militante esquerdista? pago com dinheiro p�blico para relatar aos eleitores os atos presidenciais, calou-se por mera distra��o, e tamb�m por mera distra��o guardou os fatos para cont�-los depois no seu livro de mem�rias, onde s� os colocou porque n�o tinham a m�nima import�ncia? ora, menino bobo, voc� n�o sabe a diferen�a entre a desaten��o e a aten��o extrema acompanhada de um prop�sito deliberado de ocultar? que voc� seja desprovido do senso da verdade, v� l�. sem isso n�o se sobe no jornalismo brasileiro. mas ser� que voc� precisa tamb�m desprover-se do senso do rid�culo ao ponto de tentar minimizar a import�ncia do foro e logo em seguida, citando documento oficial da entidade, alardear que � na primeira reuni�o do grupo, em 1990, os integrantes estavam no governo em um �nico pa�s: cuba. hoje desfrutam o poder na venezuela, brasil, bol�via, nicar�gua, argentina, chile, uruguai e equador�? voc� acha mesmo que a organiza��o que planejou e dirigiu a mais espetacular e avassaladora expans�o esquerdista j� observada no continente � um nada, um nadinha, no qual s� radicais de direita ou te�ricos da conspira��o poderiam enxergar alguma coisa? na verdade, o pr�prio fel�cio enxerga ali alguma coisa. ele cita o documento oficial: �passamos a controlar uma cota de poder, mas as outras cotas continuam sob controle das classes dominantes. os chamados mercados, as grandes empresas de comunica��o, os setores da alta burocracia do estado, os comandos centrais das for�as armadas, os poderes legislativo e judici�rio, al�m da influ�ncia dos governos estrangeiros, competem com o poder que possu�mos.� ou seja: a entidade que j� domina os governos de nove pa�ses n�o admite, n�o suporta, n�o tolera que parcela alguma de poder, por mais m�nima que seja, esteja fora de suas m�os. nem mesmo as empresas de comunica��o e o judici�rio, sem cuja liberdade a democracia n�o sobrevive um s� minuto. com a maior naturalidade, como se fosse uma heran�a divina inerente � sua ess�ncia, o foro de s�o paulo, com a aprova��o risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente. fel�cio l� esse documento assim: �os limites a um poder absoluto parecem incomodar os participantes do encontro.� parecem, apenas parecem. quem ficaria alarmado com apar�ncias, sen�o radicais de direita? afinal, eles vivem enxergando comunistas embaixo da cama, n�o � mesmo? para tranq�ilizar a popula��o, fel�cio trata de lhe mostrar que no foro n�o h� socialismo nenhum, apenas o bom e velho populismo nacionalista, t�o difamado pelos agentes do imperialismo. �um mesmo discurso estava presente na oposi��o a per�n e a get�lio nos anos 40 e 50. reapareceu, quase igual, no tipo de ataque recebido ano passado por lopez obrador no m�xico e evo morales na bol�via.� a circunst�ncia de que, ludibriados por milhares de fel�cios, at� membros da oposi��o temam dar nome aos bois, preferindo falar de �populismo� em vez de comunismo, � usada como prova de que o foro n�o � uma organiza��o comunista. o fato � que as id�ias e as pessoas dos velhos populistas jamais aparecem citadas
nos documentos do foro como exemplos a ser imitados. ao contr�rio, os apelos � tradi��o revolucion�ria comunista ressurgem a cada linha, com todos os seus her�is e s�mbolos, com todos os cacoetes ling��sticos medonhos do jarg�o marxistaleninista mais t�pico e obstinado, acompanhados da declara��o expl�cita, infindavelmente repetida, de que a meta � o socialismo. mas, decerto, todos os participantes do foro, todos aqueles tarimbados militantes revolucion�rios treinados em cuba, na china e na antiga urss, est�o equivocados quanto � sua pr�pria ideologia e metas. eles apenas pensam que s�o comunistas, socialistas, marxistas. fel�cio � quem, penetrando com seus olhos de raios-x no fundo das almas deles, sabe que n�o s�o nada disso. s�o getulistas que se ignoram. a prova? ele n�o se recusa a fornec�-la. � esta: �antes de ser uma verdadeira marcha ao socialismo, a ofensiva de ch�vez... sugere a coroa��o de um processo de concentra��o de poder �. entenderam a l�gica profunda? se � concentra��o de poder, n�o � socialismo. pena que ningu�m avisou disso marx, l�nin, stalin, mao, fidel e che guevara. todos eles sempre entenderam, ao contr�rio, que a concentra��o de poder � a �nica via para o socialismo, � a ess�ncia mesma do processo revolucion�rio. mas talvez estivessem enganados, tanto quanto a turminha do foro. quem entende do neg�cio � C�sar fel�cio. no tempo em que havia jornalismo no brasil, um sujeito como esse n�o seria designado para cobrir nem partida de futebol de bot�o. hoje ele � uma esp�cie de modelo, reproduzido �s centenas em todas as reda��es. o resultado � �bvio. fa�a um teste. segundo pesquisa da folha de s�o paulo, a opini�o majorit�ria dos brasileiros � acentuadamente conservadora. � contra o casamento gay, contra o aborto, contra as quotas raciais, contra o desarmamento civil. � contra tudo o que os fel�cios amam. � at� a favor da pena de morte para crimes hediondos. e confia infinitamente mais nas for�as armadas do que na classe jornal�stica que as difama sem cessar. quantos jornalistas, nas reda��es das empresas jornal�sticas de grande porte, se alinham com essa opini�o majorit�ria? n�o fiz nenhuma enquete, mas, por experi�ncia pessoal, afirmo: poucos ou nenhum. a leitura di�ria dos jornais confirma isso da maneira mais patente. a opini�o p�blica brasileira n�o � refletida nem representada pela grande m�dia. n�o tem direito a voz, a n�o ser por exce��o rar�ssima concedida a algum colaborador ocasional s� para depois ser exibida como exemplo de aberra��o extremista, felizmente compensada pela pletora de articulistas serenos, normais e equilibrados que igualam george w. bush a hitler e abu-ghraib a auschwitz. a id�ia mesma de que uma m�dia s� pode ser equilibrada quando reflete proporcionalmente a divis�o das correntes de opini�o no pa�s j� desapareceu por completo da mem�ria nacional. o simples ato de enunci�-la tornou-se prova de direitismo radical. resultado: a elite microsc�pica de tagarelas esquerdistas que domina as reda��es (n�o mais de duas mil pessoas) se permite tomar a sua pr�pria opini�o como medida da normalidade humana, condenando como patol�gicas e virtualmente criminosas as prefer�ncias gerais da na��o. quem se coloca em tais alturas est� automaticamente liberado de prestar quaisquer satisfa��es � realidade. n�o quer conhec�-la, quer transform�-la. para transform�la, n�o � preciso mostrar os fatos �s pessoas: � preciso aliment�-las de cren�as imbecis que as induzam a se comportar da maneira mais adequada para favorecer a transforma��o. da classe empresarial que l� o jornal valor, que � que se espera? que permane�a idiotizada e passiva, embriagada de falsa seguran�a, incapaz de mobilizar-se em tempo para se opor � onda revolucion�ria que vai submergindo o continente. foi para isso que os fel�cios lhe negaram por dezesseis anos o conhecimento do foro de s�o paulo. � para isso que, hoje, n�o podendo mais levar adiante a opera��o-sumi�o, apelam � opera��o-anestesia, chamando-a, cinicamente, de jornalismo. e s�o pagos para fazer isso pelos pr�prios empres�rios de m�dia,
aqueles mesmos cujas empresas o foro de s�o paulo promete calar ou expropriar junto com todos os demais instrumentos de exerc�cio da liberdade, num futuro mais breve do que todos imaginam.
p. s. � mal saiu postal mensagens wycliff entre os ter escrito nada nome dele estava pe�o desculpas a
o artigo da semana passada, come�aram a chover na minha caixa de amigos protestantes que reclamavam de eu haver inclu�do john pioneiros das ideologias revolucion�rias. eu n�o me lembrava de de john wycliff, mas, quando fui ver, notei, horrorizado, que o mesmo l�, em lugar do de john knox, este sim um revolucion�rio. todos por essa distra��o lament�vel.
o brasil de bento xvi olavo de carvalho jornal do brasil, 11 de janeiro de 2007
sua santidade bento xvi afirma que no brasil reina a democracia e que o nosso governo est� seriamente empenhado em combater a corrup��o e o narcotr�fico. se essas coisas fossem senten�as doutrinais proferidas ex cathedra , os cat�licos brasileiros estariam na dif�cil conting�ncia de ter de dizer am�m a falsidades �bvias. felizmente, s�o apenas declara��es � m�dia, opini�es pessoais do fil�sofo alem�o joseph ratzinger. n�o imp�em aos fi�is sen�o o dever de admitir que est�o erradas. a democracia brasileira � um grotesco simulacro inventado para encobrir a exclus�o sistem�tica de toda oposi��o ideol�gica. a corrup��o tornou-se lei e autoridade. a viol�ncia criminosa chega � taxa de 50 mil homic�dios por ano, a mais alta do universo. o partido governante continua amigo da narcoguerrilha colombiana, fornecedora de coca�na ao mercado nacional e s�cia das quadrilhas de assassinos que aterrorizam a popula��o do rio e de s�o paulo. o jornalismo chique, com unanimidade admir�vel, vai cumprindo sua obriga��o rotineira de fazer de conta que tudo o que acontece � coincid�ncia, mera coincid�ncia. enquanto isso, a soberania nacional est� sendo negociada entre dois esquemas multinacionais de poder sem que a popula��o receba a menor informa��o a respeito. o primeiro deles � o cfr, council on foreign relations , empenhado em criar um governo mundial por meio de integra��es parciais como por exemplo a north american commonwealth , que fundir� numa pasta indistinta os eua, o m�xico e o canad� no prazo m�ximo de dez anos. o segundo � o projeto da futura uni�o das rep�blicas socialistas latino-americanas, em pleno curso de implementa��o atrav�s das assembl�ias e grupos de trabalho do foro de s�o paulo, dos quais o povo tamb�m n�o tem not�cia. os dois esquemas s�o convergentes. a divis�o aparente entre os dois partidos que monopolizam o espa�o pol�tico brasileiro n�o passa de uma express�o local dessa unidade dual mais vasta. o bra�o nacional do cfr, o centro brasileiro de rela��es internacionais (cebri), fundado em 1998 com amplo suporte financeiro do minist�rio das rela��es exteriores e de v�rias megaempresas estatais e privadas, tem como presidente de honra o senhor fernando henrique cardoso e como conselheiro o senhor marco aur�lio garcia, hd auxiliar do presidente lula e secret�rio-executivo do foro de s�o paulo. o cebri � o ponto focal da c
oincidentia oppositorum que nos governa em nome do foro e do cfr. nas elei��es, o povo � convidado a escolher seus governantes com base em dados sobre as tarifas de �nibus, a exporta��o de frangos e a distribui��o estatal de camisinhas. nem uma palavra sobre os fatores maiores que decidem os destinos da na��o. a democracia brasileira � um cen�rio de aliena��o surrealista no qual o dever moral n�mero um dos formadores da opini�o p�blica � prestar falso testemunho. se bento xvi involuntariamente refor�a a boa consci�ncia com que se dedicam � tarefa, isso n�o santifica nem um pouco o estado de coisas. o pa�s que o papa vai visitar em maio n�o � bem aquele que ele imagina.
tr�s notinhas olavo de carvalho di�rio do com�rcio (editorial), 9 de janeiro de 2007
na tv, 90% do conte�do se constitui de entretenimento e 10% de pseudoconhecimento. na universidade � o inverso. ningu�m pode negar que h� uma diferen�a radical entre a m�dia popular e as universidades brasileiras. naquela, incluindo jornais, revistas, filmes, programas de tv e sites da internet, o conte�do se constitui de noventa por cento de entretenimento idiota e dez por cento de pseudoconhecimento. nas universidades a propor��o � exatamente inversa. confirmo isso, mais uma vez, lendo o artigo que a profa. jeanne-marie gagnebin publicou na folha sobre o processo telles x ustra e comparando-o com o curr�culo da autora. neste, logo ap�s uma impressionante lista de t�tulos acad�micos, vem uma lista de dezoito teses acad�micas orientadas pela referida. clicando os links de cada uma, podemos ler os seus resumos, cujos tamanhos variam de duas a dez linhas. n�o h� um s� deles no qual n�o apare�a pelo menos um erro de portugu�s. isso d� a medida do que se pode encontrar nos textos integrais das teses respectivas e fornece uma boa ilustra��o quantitativa do fato de que nas universidades brasileiras se pode chegar a chefe de departamento escrevendo get�lio com lh como o faz o marqu�s de sader. j� a profa. gagnebin, que melhor faria se ficasse quietinha em casa em vez de aprovar teses escritas em portugu�s subginasiano, sai dando li��es de moral ao pa�s e diz querer a verdade sobre os �anos de chumbo�. quer nada. se quisesse, pediria uma investiga��o em regra da colabora��o entre os terroristas brasileiros e o servi�o secreto cubano, a entidade mais assassina que j� existiu no continente. para cada brasileiro armado ou desarmado que foi morto pela ditadura nacional, pelo menos cinq�enta cubanos foram assassinados nos c�rceres de fidel castro com a sol�cita cumplicidade moral de brasileiros auto-exilados em cuba. an�ncios que o governo trabalhista de sua majestade acaba de proibir na tev� brit�nica em hor�rio acess�vel �s crian�as: queijo cheddar, flocos de farelo de trigo, queijo camembert, bolinhos com cobertura de a��car, mingau de aveia, maionese, cereais de gr�os variados, creme semidesnatado, nuggets de galinha, waffles, iogurte grego, presunto, ling�i�as, bacon, pat�s variados, amendoins e creme de amendoim, castanhas de caju, pistache, uvas-passas, groselha, chips de batatinha, azeite de oliva, manteiga, pizza, hamb�rguers, ketchup, chocolate, molho ingl�s, coca-cola (e similares) e soda limonada. o que seria das criancinhas
se n�o houvesse burocratas zelosos para proteg�-las contra o pecado da gula? mas � c� entre n�s -- voc�s j� viram, na inglaterra ou no brasil, alguma camisinha com aviso governamental de que sexo anal pode dar c�ncer do reto? ah, isso n�o! perigoso mesmo � mingau de aveia. o cr�tico daniel piza, cujo nome parece estar incompleto e j� corrigi para daniel piza nabolla, ficou ofendid�ssimo com a minha afirma��o de que n�o tem sentido falar de uma guerra em bloco oriente x ocidente porque �o ocidente revolucion�rio, ateu e materialista est� do lado dos terroristas�. contra isso ele alega que ele pr�prio � ateu e materialista sem por isto ser um f� de bin laden. v�rios leitores do seu blog repetem o argumento, cada um deles gabando-se ser o fulminante exemplum in contrarium que dar� cabo da minha teoria. desde logo, � claro que n�o escrevo para analfabetos funcionais, que onde est� escrito o ocidente revolucion�rio, ateu e materialista l�em cada ateu tomado individualmente. no entender desses imbecis, n�o pode ter havido nenhuma guerra entre os eua e a alemanha, j� que havia americanos a favor da alemanha e alem�es a favor dos eua. mas a burrice obstinada desses sujeitos n�o se contenta de ler errado. l� a menos: onde voc� escreve ateu, materialista e revolucion�rio, eles s� l�em os dois primeiros adjetivos, ignorando ou fingindo ignorar que o terceiro est� l� para deixar subentendido que os ateus materialistas n�o-revolucion�rios n�o se incluem necessariamente no enunciado geral, isto �, que seus exemplos individuais triunfantemente brandidos contra o meu argumento j� estavam impugnados nele de antem�o, com a condi��o de que fosse lido por pessoas alfabetizadas.
o inimigo � um s� olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 8 de janeiro de 2007
o marxismo n�o come�ou com marx e n�o nasceu de nenhum estudo cient�fico da economia. tudo o que karl marx viria a pensar e dizer � com exce��o do pretexto materialista-dial�tico e das estat�sticas que ele falsificou dos c�lebres blue books do parlamento brit�nico � j� estava nas doutrinas dos heresiarcas messi�nicos desde o s�culo xiv. tudo: a luta de classes, a revolu��o, a socializa��o dos meios de produ��o, a ditadura do proletariado, a miss�o da vanguarda revolucion�ria. at� as id�ias de l�nin e de gramsci j� est�o ali claramente antecipadas. john knox, john huss, thomas m�nzer e outros �profetas� das origens da modernidade n�o s�o apenas precursores do movimento revolucion�rio mundial: s�o seus criadores. as homenagens entre amb�guas e reticentes que lhes s�o prestadas de tempos em tempos por tal ou qual intelectual esquerdista s� servem para inflar as contribui��es da esquerda mais recente, diminuindo a daqueles pais fundadores mediante o artif�cio de jog�-los para tr�s numa s�rie hist�rica supostamente ascendente em cujo topo se encontra sempre, � claro, o autor da homenagem. a id�ia central da revolu��o messi�nica pode-se resumir em quatro pontos: (i) a humanidade pecadora n�o ser� salva por nosso senhor jesus cristo, mas por ela
mesma; (ii) o m�todo para alcan�ar a reden��o consiste em matar ou pelo menos subjugar todos os maus, isto �, os ricos; (iii) os pobres s�o inocentes e puros, mas n�o entendem seu lugar no projeto da salva��o e por isso t�m de colocar-se sob as ordens de uma elite dirigente, os �santos�; (iv) o mortic�nio redentor gerar� n�o somente a melhor distribui��o das riquezas, mas a elimina��o do mal e do pecado, o advento de uma nova humanidade. uma heresia n�o � �outra religi�o�: �, por defini��o, uma oposi��o interna, nascida de dentro do pr�prio cristianismo, em geral mediante algum enxerto ex�tico que distorce completamente a mensagem origin�ria e lhe d� os sentidos mais estapaf�rdios que se pode imaginar. (1) n�o � de estranhar, pois, que a evolu��o subseq�ente do movimento revolucion�rio fosse marcada por uma permanente tens�o entre a f� her�tica e a nega��o de toda f�, entre o pseudocristianismo e o anticristianismo, entre a ambi��o de destruir o cristianismo e o desejo de conservar algo dele para poder parasitar a sua autoridade. esse jogo dial�tico confunde o observador leigo, que iludido pelas diferen�as aparentes perde de vista a unidade profunda do movimento revolucion�rio e acaba n�o raro servindo a uma das suas subcorrentes acreditando piamente servir a um prop�sito contrarevolucion�rio, conservador ou at� mesmo crist�o ou judaico no sentido estrito dos termos. extinta a epidemia das revolu��es messi�nicas, a segunda onda do movimento revolucion�rio assume a forma do anticristianismo e antijuda�smo expl�citos. os iluministas do s�culo xviii n�o s� pregaram abertamente a elimina��o dessas duas f�s tradicionais, mas n�o hesitaram em inventar contra elas as mentiras mais aberrantes, achando isso lindo e divertindo-se a valer. as pol�micas anticrist�s de hoje em dia parecem at� primores de polidez quando comparadas � virul�ncia da invencionice setecentista (2). cada vez mais parece confirmar-se a tese do abade antonin barruel, exposta na sua histoire du jacobinisme (1798) , de um plano urdido entre voltaire, d�alembert, diderot e o imperador frederico ii da pr�ssia para uma vasta campanha de difama��o destinada a cobrir a igreja de inf�mia por todos os meios inescrupulosos dispon�veis. o caso de diderot � particularmente ilustrativo. em a religiosa ele conta a hist�ria de uma pobre mo�a mantida num convento contra a vontade. a imagem abomin�vel das freirinhas prisioneiras, posta em circula��o por ele e por outros iluministas muito antes da publica��o p�stuma do livro em 1796, tornou-se um s�mbolo condensado de todos os crimes que o furor da propaganda anticrist� atribu�a � Igreja. na voragem da revolu��o de 1789, o s�mbolo transfigurou-se em cren�a literal. muitos dos revolucion�rios que invadiam conventos, matando monges e freiras a granel, juravam piamente estar fazendo isso para libertar as virgens encarceradas que, segundo imaginavam, deviam superlotar os por�es dos claustros. quando oitenta abadias, monast�rios e casas de religiosas de paris j� tinham sido invadidos e muito sangue derramado, a assembl�ia constituinte, perplexa, recebeu a not�cia de que por toda parte as freiras e novi�as tinham sido un�nimes em proclamar a fidelidade ao seu estado, mesmo quando j� iam subindo a escada da guilhotina. tal era o esp�rito das �prisioneiras�. diderot, embora morresse cinco anos antes da revolu��o, n�o pode no entanto ser facilmente desculpado pelos efeitos criminosos de um �dio que ele instigou conscientemente. n�o o pode, sobretudo, porque ele sempre esteve informado de que n�o havia e n�o podia haver nenhuma prisioneira nos conventos, de que todas as freiras estavam ali por vontade pr�pria, inclusive aquela em que ele se inspirou para escrever o romance, a irm� Delamarre, do convento de longchamps. foi tudo uma falsifica��o premeditada. durante muito tempo, o mundo inteiro acreditou na vers�o de diderot, que afirmava ter em seu poder a documenta��o completa do caso delamarre. de fato, o dossi�
estava nas m�os dele, mas desapareceu logo depois de publicado o romance. reencontrado em 1954 pelo pesquisador george may, sua leitura mostra que diderot estava ciente dos seguintes fatos: 1) em paris havia quatro tribunais, eclesi�sticos e civis, para julgar solicita��es de dispensa da carreira mon�stica, e a regra geral era atender a todos os pedidos. 2) a sele��o das monjas era rigoros�ssima. o empenho da igreja era livrar-se das falsas voca��es, e n�o ret�-las � for�a. 3) exatamente ao contr�rio de uma prisioneira do convento, a irm� Delamarre era a porteira, tinha as chaves e podia entrar e sair quando quisesse. 4) o �nico processo aberto pela srta. delamarre era uma pend�ncia de esp�lio com uma parente. para receber a heran�a, um t�tulo nobili�rquico, a freira tinha de deixar a ordem religiosa. mas logo depois, tendo desistido de disputar o legado, ela voltou alegremente ao convento. diderot sabia de tudo isso, e a correspond�ncia entre ele e seu amigo jacob grimm mostra que o romancista �estourava de rir� (sic), com a falsifica��o meticulosa que ia armando em torno da hist�ria. divertia-se n�o s� com a alegria feroz de caluniar, mas chegava ao requinte de uma crueldade mental muito mais direta. ao marqu�s de croismarre, crist�o piedoso que entre l�grimas lhe escrevia preocupado com a sorte da mo�a, diderot respondia com invencionices inquietantes, enfatizando os sofrimentos da infeliz no claustro e degustando at� o fim o prazer de manter angustiado o pobre homem. n�o espanta que diderot fosse o escritor predileto de karl marx, outro sociopata s�dico. outros documentos encontrados por georges may, posteriores ao falecimento de diderot, mostram que a irm� Delamarre morreu trinta anos depois do romancista, ainda como porteira do convento, ap�s ter enfrentado bravamente, ao lado de suas irm�s, os comiss�rios da revolu��o. a �nica opress�o que ela sofrera viera pelas m�os dos inimigos da igreja. (3) se eu fosse enumerar e analisar todas as mentiras inventadas pelos iluministas contra os crist�os e os judeus, um ano inteiro de edi��es do di�rio do com�rcio n�o bastaria para comport�-las. mas o fato � que essas mentiras atravessaram os s�culos, impregnaram-se profundamente na imagina��o popular, ressurgindo sob novas e variadas formas e servindo para legitimar o massacre dos crist�os na r�ssia e dos judeus na alemanha. intelectuais e artistas de grande prest�gio n�o hesitam em colaborar com esse crime hediondo. tudo sobre o caso delamarre j� era arquiconhecido dos historiadores quando, em 1970, o filme de jean-luc godard, la religieuse, renovou o efeito do s�mbolo odioso inventado por diderot. mas � voltando ao argumento central --, o advento dos jacobinos ao poder ocasionou a mudan�a de p�lo da tens�o dial�tica: da propaganda anticrist� passou-se ao esfor�o aberto de criar um simulacro de cristianismo para consumo das multid�es revolucion�rias. a ret�rica do terror imita de perto a dos pseudoprofetas messi�nicos: a id�ia do apocalipse terreno, a condena��o radical do capitalismo, a purifica��o do universo pela matan�a dos ricos, a miss�o privilegiada dos �santos�, o retorno da humanidade a uma era de pureza origin�ria � tudo a� ressurge, mas agora com o contrato social de rousseau como texto sagrado em vez dos evangelhos. cada vez mais a imita��o caricatural do ethos crist�o adquire autonomia, desligando-se do sentido patente da mensagem de cristo e parasitando sentimentos morais profundamente arraigados na popula��o crist� para torn�-los instrumentos de legitima��o do terrorismo estatal, sob a inspira��o � como escreveu thomas carlyle � �do quinto e novo evangelista, jean jacques, conclamando
todos e cada um a que emendassem a exist�ncia pervertida do mundo�. luciano pellicani, no seu estudo sobre revolutionary apocalypse. the ideological roots of terrorism (london, praeger, 2006), que pretendo comentar em detalhe numa das pr�ximas colunas, observa: �assim a elite revolucion�ria, agindo na base do diagn�stico-terapia dos males do mundo contido na �verdadeira filosofia', vem a assumir o papel t�pico do paracleto na tradi��o gn�stica: s� ele sabe o que � bom para a cidade.� fundada nessa autoridade onissapiente, a salva��o tem de assumir a forma do mortic�nio redentor. robespierre deixa isso bem claro: �o governo popular... � ao mesmo tempo virtude e terror. o terror nada mais � que a justi�a severa e inflex�vel. � portanto uma emana��o da virtude.� pellicani conclui: �esse conceito da reden��o da humanidade exige uma sociedade organizada como se fosse um convento militarizado.� a f�rmula ressurgir� nos padres-guerrilheiros da teologia da liberta��o e nos projetos mais recentes do �arcebispo� hugo ch�vez. mas, muito antes disso, o p�ndulo da revolu��o oscilar� uma vez mais para o outro lado. findo o ciclo jacobino, com o advento do imp�rio napole�nico, da restaura��o e da democracia burguesa, as novas f�rmulas da ideologia revolucion�ria, com marx e bakunin, fazem um upgrade do anticristianismo, transfigurando-o em ate�smo militante. karl marx professa �odiar todos os deuses� e define o ate�smo como �a nega��o de deus, por meio da qual se afirma a exist�ncia do homem�. deus, para o marxismo, inspirado nesse ponto em feuerbach, surge da auto-aliena��o dos poderes do homem projetados num c�u metaf�sico � como se o homem tivesse criado o c�u e a terra e depois se esquecido disso, transferindo as honras para uma entidade inexistente: teoria suficientemente idiota para parecer sedutora a milh�es de intelectuais. com a ascens�o do ate�smo, multiplicam-se as matan�as de padres e crentes em medida jamais sonhada pelo pr�prio robesp�erre. entre a guerra civil mexicana (1857) e o in�cio da ii guerra mundial (1939), n�o menos de vinte milh�es de crist�os morreram em persegui��es religiosas destinadas, segundo l�nin, a �varrer o cristianismo da face da terra�. e o massacre dos judeus nem havia come�ado ainda. mas talvez o ate�smo n�o seja o tra�o mais aut�ntico dessa etapa do movimento revolucion�rio. tanto marx quanto bakunin tomaram parte, reconhecidamente, em rituais sat�nicos (leiam richard wurmbrand, marx and satan, living sacrifice book company, 1986, jamais contestado). e pelo menos na it�lia a apologia de satan�s tornou-se expl�cita com o poeta giosue carducci, um dos maiores inspiradores do movimento revolucion�rio local: salute, o satana o ribellione o forza vindice de la ragione! (4) qualquer que seja o caso, o impacto das matan�as acabou por incomodar os pr�prios revolucion�rios, que, nos anos 30, j� estavam pensando em algum meio de contorn�la. antonio gramsci, nos �cadernos do c�rcere�, ensina que a igreja n�o deve ser combatida, mas esvaziada de seu conte�do espiritual e usada como caixa de resson�ncia da propaganda comunista. o sucesso obtido posteriormente nesse empreendimento pode-se medir por dois fatos: 1) a influ�ncia avassaladora que os comunistas conseguiram exercer desde dentro e desde fora sobre o conc�lio vaticano ii, dividindo a igreja cat�lica e ocasionando
a maior evas�o de fi�is em dois mil�nios de catolicismo. (5) 2) o conselho mundial das igrejas, a maior organiza��o protestante do mundo, que congrega centenas de igrejas em todos os pa�ses, nominalmente para objetivos �ecum�nicos�, � notoriamente uma entidade pr�-comunista, que ap�ia e subsidia movimentos revolucion�rios terroristas. (6) os v�rios conselhos nacionais das igrejas s�o entidades independentes, mas pelo menos o dos eua � ainda mais abertamente pr�-comunista do que o mundial. (7) paralelamente e em estreita associa��o informal com os esfor�os comunistas, veiose desenvolvendo, desde os fins do s�culo xix, um movimento mundial destinado a criar a maior confus�o religiosa poss�vel atrav�s da propaganda ocultista em massa e da revivesc�ncia for�ada do gnosticismo. fen�menos como o surto de orientalismo pseudom�stico da nova era, o culto das drogas como �via de ilumina��o interior�, a onda de experimentos ps�quicos perigosos que partiu de esalem (ca) e se espalhou pelo mundo, a prolifera��o de seitas empenhadas em escravizar seus disc�pulos atrav�s de pr�ticas mentais destrutivas, podem ser apresentados ao p�blico como uma converg�ncia espont�nea de tend�ncias ou como uma fatalidade hist�rica impessoal ditada pelo �esp�rito do tempo�, mas basta pesquisar um pouco as fontes para descobrir que se trata de uma iniciativa unit�ria, organizada e bilionariamente financiada pelas mesmas for�as auto-incumbidas de transformar a onu em governo mundial at� no m�ximo o fim da pr�xima d�cada. (8) a oscila��o dial�tica e pendular do movimento revolucion�rio entre a anti-religi�o e a pseudo-religi�o, somada � multiplicidade alucinante das correntes que o alimentam, desorienta a quase totalidade do p�blico. a �nsia de tomar posi��o, infindavelmente alimentada pela m�dia e pelo sistema escolar, leva muita gente a apoiar movimentos e id�ias cuja liga��o com a corrente central n�o parece evidente � primeira vista. quantos crist�os conservadores, querendo salvar a igreja, n�o aderiram a id�ias antijudaicas, por imaginar que a revolu��o era essencialmente obra de judeus? quantos intelectuais judeus n�o se filiaram a partidos revolucion�rios, sem notar que com isso cavavam a sepultura do seu povo? quantos protestantes, confundindo o catolicismo com a sua contrafa��o revolucion�ria, n�o acham que o melhor que t�m a fazer � destruir a igreja cat�lica? quantos cat�licos, embriagados de pureza doutrinal n�o v�em o americanismo como um inimigo, movendo portanto guerra contra a �nica na��o que criou uma s�ntese funcional de cultura crist�, economia pr�spera e democracia pol�tica? quantos adeptos da democracia capitalista n�o se inspiram em id�ias iluministas por lhes parecerem equilibradas e racionais, sem saber que, pelo seu conceito redutivista da raz�o, elas cont�m em seu bojo a semente do irracionalismo revolucion�rio rom�ntico, e sobretudo sem notar que o iluminismo, com toda a sua apar�ncia elegante e educadinha, criou a primeira campanha de difama��o anticrist� organizada, pondo em circula��o mentiras escabrosas que at� hoje milh�es de idiotas repetem como papagaios em todo o mundo? quantos defensores das posi��es liberais em economia n�o acreditam poder concili�-las com um ate�smo militante que, corroendo os fundamentos espirituais e morais do capitalismo, o convidam a transformar-se precisamente na �idolatria do mercado� que a propaganda comunista o acusa de ser, e assim ajudam a transferir aos revolucion�rios, bem como aos radicais isl�micos, o monop�lio da autoridade moral? escolhendo o inimigo conforme as fei��es mais salientes que se oponham �s suas prefer�ncias subjetivas, todas essas pessoas n�o fazem sen�o botar lenha na fogueira da tens�o dial�tica da qual o movimento revolucion�rio mundial se alimenta e se fortalece. na verdade o inimigo � um s�. N�o se pode combat�-lo eficazmente sem apreender sua unidade por tr�s da variedade alucinante das suas vers�es, encarna��es e apar�ncias. algumas d�cadas atr�s, essa unidade era dif�cil de enxergar, pois n�o havia documenta��o suficiente para prov�-la. hoje suas provas s�o t�o abundantes, que continuar a ignor�-la come�a a se tornar uma esp�cie de cumplicidade criminosa. (9)
notas (1) o amor apaixonado que muitos intelectuais de hoje em dia t�m por essas aberra��es revela n�o somente seu �dio ao cristianismo, seu desejo de extermin�-lo por todos os meios poss�veis, mas uma falta de intelig�ncia que raia o monstruoso. bart d. ehrman, o badalado autor de the lost gospel of judas iscariot. a new look at betrayer and betrayed (oxford university press, 2006), por exemplo, n�o � sen�o um fan�tico gn�stico travestido de erudito universit�rio, apto a realizar pesquisas filol�gicas em v�rias l�nguas antigas mas incapaz de atinar com as contradi��es mais pueris do seu pr�prio texto. para esse tipo de estudioso, empenhado em impugnar os evangelhos originais com base em textos gn�sticos escritos dois s�culos depois deles, est�o sempre abertas as c�tedras universit�rias, a nbc, o history channel, o national geographic e a m�dia chique inteira, pela simples raz�o de que essas institui��es s�o financiadas e dirigidas pelo mesmo n�cleo de bilion�rios empenhados em fabricar uma religi�o bi�nica para substituir o cristianismo no terceiro mil�nio (v. nota 8). (2) vejam, sobre isso, paul hazard, la pens�e europ�enne au xviiie. si�cle (paris, boivin, 1946), um cl�ssico da hist�ria das id�ias. (3) sobre o epis�dio, leiam jean dumont, la r�volution fran�aise ou les prodiges du sacril�ge, paris, criterion, 1984. (4) �salve, � Satan�s, � rebeli�o, � for�a vingadora da raz�o!� da ode �a satana�, que os conhecedores do italiano podem ler em http://digilander.libero.it/interactivearchive/carducci_satana.htm. (5) v. ricardo de la cierva, las puertas del infierno. la historia de la iglesia jam�s contada, madridejos (toledo), f�nix, 1995, e la hoz y la cruz. auge y ca�da del marxismo y la teolog�a de la liberaci�n, id., ibid., 1996. (6) v. bernard smith, the fraudulent gospel. politics and the world council of churches, london, the foreign affairs publishing co., 1977. (7) confira em c. gregg singer, unholy alliance. the definitive history of the national council of churches and its leftist policies - from 1908 to the present, em http://www.freebooks.com/docs/39be_47e.htm. (8) v. extensa documenta��o sobre isto em lee penn, false dawn. the united religions initiative, globalism and the quest for a one-world religion, hillsdale, ny, sophia perennis, 2004. (9) a quest�o do lugar ocupado pelo islamismo no processo aqui descrito requer um exame em separado, que ser� feito num dos pr�ximos artigos. ou�a o programa de olavo de carvalho, true outspeak, hoje �s 20h00 (hora de bras�lia) em http://www.blogtalkradio.com/olavo .
a volta do doutor segadas
olavo de carvalho jornal do brasil, 4 de janeiro de 2007
no brasil, o sujeito possuir uma erudi��o superior � considerado uma aberra��o, uma falha de car�ter, uma doen�a. cada um tem de ler apenas o pouco que seus colegas leram, nem uma linha a mais. se passar disso, ofende e humilha a corpora��o, sendo automaticamente condenado por delito de �pedantismo�. para redimir-se, deve provar genuflexa humildade ante seus detratores, retribuindo a difama��o com favores servis como otto maria carpeaux retribuiu aos comunistas. pode tamb�m compensar a indecente pletora de conhecimentos com demonstra��es de mod�stia populista, escrevendo sobre samba, futebol, comida ou sexo, para mostrar que erudito tamb�m � gente. mas isso nem sempre funciona. jos� Guilherme merquior jamais foi perdoado, pois n�o fez uma coisa nem a outra. gilberto freyre tentou a segunda, mas j� era tarde: nenhum populismo, est�tico ou l�dico, poderia jamais absolver o pecado mortal da ades�o ao movimento de 1964. qualquer que seja o caso, o excesso de leituras pode ser perdoado em vida, mas sempre restar� uma n�doa p�stuma. comentando o segundo volume dos ensaios reunidos de carpeaux(topbooks), muitos resenhistas se mostram irritados com a erudi��o do genial ensa�sta e historiador liter�rio, s� a desculpando quando encontram, com mal disfar�ado al�vio, algum defeito que a seus olhos o reduza a dimens�es mais humanas. de passagem, observo: neste pa�s � proibido escrever sobre os grandes homens com respeito genu�no e admira��o humilde. um ar de superioridade, pelo menos de intimidade desrespeitosa, � absolutamente necess�rio � boa auto-imagem do cr�tico, bem como � sua reputa��o. curiosamente, a erudi��o em detalhes irrelevantes de ordem folcl�rica, hist�rica ou filol�gica, n�o ofende a ningu�m. � at� um m�rito. o que o sujeito n�o pode � mostrar um conhecimento extensivo das obras maiores, um obsceno dom�nio dos problemas essenciais em v�rias �reas do pensamento ou das ci�ncias. em qualquer discuss�o p�blica, a familiaridade com o status quaestionis � n�o somente desnecess�ria como inconveniente. um bom sujeito consente em ignorar tudo o que seus colegas de universidade e m�dia ignoram, de modo a n�o peg�-los jamais de surpresa. se voc� diz algo que eles n�o sabem, isto prova que voc� � um ignorante, um amador enxerido. ou ent�o � um louco que anda vendo coisas. por�m o mais grave de tudo, o absolutamente intoler�vel, � ser erudito sem o correspondente diploma. a rec�proca n�o � verdadeira. diploma sem conhecimento � normal e decente. voc� pode at� escrever get�lio com lh e continuar chefe de departamento universit�rio. o que n�o pode � estudar muito sem ser bacharel ou doutor. isso exp�e voc� ao desprezo das pessoas de bem, como o doutor segadas do triste fim de policarpo quaresma, indignado ao ver as estantes do vizinho carregadas de livros: �se n�o era formado, para que? pedantismo!� o romance de lima barreto saiu em 1916. por volta dos anos 50, o brasil parecia ter mudado. meio s�culo depois, milhares de segadas est�o de volta a seus postos, mais empombados do que nunca. � o pogr�fo, como diria o sr. presidente.