artigos de fevereiro de 2007
diagn�stico da situa��o olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 22 de fevereiro de 2007
os militares ditos "nacionalistas", que ali�s n�o s�o muitos, acusam-me de tach�los de comunistas e de n�o compreender suas elevadas inten��es patri�ticas. ao contr�rio. sei que n�o s�o comunistas. s�o anticomunistas, entusiastas do capitalismo de estado, anti-americanos por c�lculo e n�o por ideologia. e compreendo perfeitamente bem suas inten��es. discuti-as muitas vezes com o remoto mas influente mentor do grupo, o falecido general carlos de meira mattos, meu amigo, intelig�ncia brilhante, e lhe expus francamente minha discord�ncia, ent�o ainda nebulosa e mal fundamentada. o que sonham � aproveitar-se da onda esquerdista, ajudando-a a precipitar uma situa��o virtual de guerra contra os eua que elevaria �s nuvens o poder das for�as armadas, facilitando a derrubada dos esquerdistas e a instaura��o de um governo nasserista de salva��o nacional. o plano n�o � comunista: � apenas louco. trata-se de matar o pa�s para disputar a posse do cad�ver. uma situa��o de guerra ou mesmo de pr�-guerra na am�rica latina � tudo o que os globalistas precisam para colocar a �rea sob interven��o da onu. a soberania nacional desapareceria em segundos, a amaz�nia seria internacionalizada por automatismo. os militares nacionalistas iriam para a cadeia e os comunistas voltariam ao poder como her�is da democracia, sob os aplausos da comunidade internacional e da m�dia chique. o plano � furado porque sua base te�rica � a metodologia errada da escola superior de guerra, cujo conceito fundamental de "poder nacional" s� reconhece como sujeitos agentes da hist�ria os estados e os governos. estados e governos n�o s�o sujeitos da a��o hist�rica: s�o seus instrumentos. sujeitos hist�ricos s�o entidades mais permanentes e est�veis, cuja a��o se estende para al�m da dura��o dos estados e governos. sujeitos da hist�ria s�o as castas religiosas, as dinastias mon�rquicas e olig�rquicas e as seitas gn�sticas transfiguradas em movimentos ideol�gicos de massa. sua a��o atravessa os s�culos passando por cima do prazo de vida dos estados e do horizonte de vis�o de seus governantes. o atual espet�culo do mundo � a disputa entre quatro sujeitos da hist�ria: as religi�es crist� e judaica, com suas concep��es tradicionais da civiliza��o, o movimento revolucion�rio mundial, a oligarquia globalista e o expansionismo isl�mico. estes tr�s t�m rela��es amb�guas entre si; ora s�o aliados, ora concorrentes. os crist�os e judeus est�o sozinhos contra todos, mal articulados em movimentos conservadores que s� t�m express�o nos eua. mas neles repousa a �nica esperan�a de preservar a civiliza��o e impedir a dissolu��o das soberanias nacionais. a mera contraposi��o de nacionalismo e globalismo � estreita e provinciana demais para dar conta do quadro. ela falseia a realidade e eleva a planos de a��o
insensatos, condenados ao fracasso. o obst�culo que separa de mim aqueles militares n�o � ideol�gico: � a ciumeira de intelectos atrofiados contra o estudioso que enxerga mais que eles. se pusessem a p�tria acima de seus egos, estariam me ouvindo em vez de me jogar pedras.
os brasileiros e os outros olavo de carvalho jornal do brasil, 22 de fevereiro de 2007
vou resumir aqui algumas teses que tenho defendido em artigos e confer�ncias. n�o s�o opini�es soltas nem express�es emocionais de prefer�ncias pol�ticas. s�o o resultado de mais de vinte anos de estudos sobre a distribui��o do poder no mundo e sobre as possibilidades que o nosso pa�s tem de preservar sua soberania nas pr�ximas d�cadas. 1. as for�as que visam � cria��o do governo mundial s�o as mesmas que tentam diluir a soberania dos eua numa �north american commonwealth�, fundindo os eua, o m�xico e o canad�. s�o as mesmas que interferem na amaz�nia, violando a nossa soberania territorial. s�o as mesmas que subsidiam e ap�iam a esquerda do terceiro mundo, o politicamente correto e a destrui��o da civiliza��o judaico-crist�. s�o as mesmas que, dominando a grande m�dia de nova york e washington (mas ainda em desvantagem no r�dio e na internet), se esfor�am para deter a a��o militar americana contra o terrorismo internacional. 2. nos eua trava-se uma luta feroz entre esse esquema mundialista e a resist�ncia conservadora, empenhada em preservar n�o s� a soberania americana mas uma ordem internacional constitu�da de na��es independentes. 3. o destino do mundo depende do desenlace dessa luta. se a maior das na��es n�o preservar sua soberania, as demais ser�o dissolvidas com um simples memorando do secret�rio-geral da onu. 4. ataques aos eua n�o ferem em nada o esquema de poder global mas apenas a na��o americana. em conseq��ncia, fortalecem esse esquema. 5. a luta dos conservadores americanos � a nossa luta. se eles perderem, o brasil perder� muito mais. no brasil ningu�m sabe disso porque nada do que eles dizem ou fazem chega at� a�. nossa m�dia � caudat�ria do new york times e do washington post, house organs da elite globalista. praticamente tudo o que voc�s l�em sobre os eua vem pr�-moldado pela esquerda chique internacional. 6. quem acha que as ambi��es globalistas e o interesse nacional dos eua s�o a mesma coisa est� maluco, ignora o assunto ou est� mentindo. ou ent�o os conservadores americanos � que n�o sabem de si pr�prios e t�m de tomar aulas na escola superior de guerra. podem me chamar de american�filo, de agente da cia, de vendido ao departamento de estado, de comunista enrustido, do que quiserem. essa fofocagem miser�vel n�o mudar� em nada a natureza da guerra e a identidade do verdadeiro inimigo. acabo de
resumir uma coisa e a outra com a maior clareza. do diagn�stico resulta, por pura l�gica, o sentido da a��o a empreender. quem for brasileiro, que me siga. os demais podem passar no caixa do mr-8 e embolsar sua quota do �oil for food�. *** ouvi dizer, de fontes variadas, que alguns militares ditos �nacionalistas� est�o falando o diabo a meu respeito em grupos de discuss�o na internet. como n�o � decente que oficiais das nossas for�as armadas sejam covardes e maricas o bastante para fazer intrigas pelas costas da v�tima em vez de lhe falar francamente de homem para homem, forne�o aqui aos interessados o meu endere�o de e-mail:
[email protected].
a ditadura anest�sica olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 19 de fevereiro de 2007
apesar do subt�tulo the european left in the new millennium , o livro de paul edward gottfried, the strange death of marxism (university of missouri press, 2005) fornece uma descri��o da esquerda contempor�nea que se aplica tamb�m �s suas vententes norte-americana e latino-americana. n�o vejo como discordar da sua tese central, de que o objetivo da esquerda hoje em dia � "um gerenciamento pol�tico que no fim se aproxima do controle total, mas com uma necessidade cada vez menor de empregar a for�a f�sica". vemos isso todos os dias no palco da tragicom�dia nacional. por toda parte a rede de controles vai se estendendo, lenta e inexoravelmente, abrangendo desde a economia at� os �ltimos recintos da vida privada, ao mesmo tempo que os mecanismos formais da democracia continuam em vigor, apenas sem a m�nima possibilidade de ser usados contra a m�quina ideol�gica que nos esmaga. caracteristicamente, a rede n�o � toda estatal. como preconizava gramsci, est� espalhada pela sociedade civil, que se transforma assim na corda com que ela pr�pria se enforca. ongs, escolas p�blicas e privadas, casas editoras e a grande m�dia fazem a sua parte, submetendo-se docilmente �s categorias de pensamento impostas pelo establishment , t�o abrangentes e onipresentes que a mera possibilidade de conhecer alguma coisa para fora de seus limites se tornou inconceb�vel, e pequenas diverg�ncias dentro do acordo geral t�m de ser convocadas �s pressas para dar a impress�o de que existe ainda uma oposi��o ideol�gica, uma "direita". e a pr�pria direita - ou aquilo que ainda leva esse nome - se apressa em legitimar o monop�lio esquerdista da verdade, do bem e da virtude, proclamando que ser direitista � mesmo uma inf�mia, que o m�ximo de anti-esquerdismo admiss�vel � o "centro". � direita do centro, estende-se a imensid�o do nada. � medida que a recorda��o mesma do que fosse a direita desaparece da mem�ria popular, a parte amputada cessa automaticamente de doer e mesmo as obje��es eventuais contra o novo estado de coisas s� podem se expressar na linguagem do esquerdismo, refor�ando o sistema geral de cren�as no instante mesmo em que protestam contra algum de seus aspectos em particular. a ditadura ben�vola do esquerdismo consensual � uma cirurgia auto-anest�sica.
nessas circunst�ncias, a viol�ncia estatal � mesmo desnecess�ria. em troca da obedi�ncia completa, o bondoso esquerdismo triunfante concede-nos o direito de viver. mas mesmo esse direito � limitado. a viol�ncia estatal n�o desapareceu: apenas transformou-se em viol�ncia indireta. para manter a popula��o num estado de terror perp�tuo basta a criminalidade livre de entraves, estimulada por organiza��es pr�ximas do partido governante, ao qual as massas e at� as elites, ignorantes disso, acorrem em busca de socorro, fechando pelas duas pontas, legal e ilegal, oficial e extra-oficial, o quadro da onipot�ncia. � a perfeita consuma��o, por novos meios, da cl�ssica estrat�gia comunista da "press�o de baixo" articulada com a "press�o de cima". as hordas de delinq�entes desempenham aqui o papel que na europa e nos eua cabe aos imigrantes ilegais: s�o o ex�rcito de reserva mediante cuja amea�a a esquerda mant�m sob r�dea curta as veleidades de toda oposi��o "direitista" poss�vel. o r�tulo geral de "esquerda p�s-marxista", usado por gottlieb, � talvez um tanto prematuro, por duas raz�es. primeira: o reinado da esquerda assim chamada n�o � uma situa��o totalmente nova e imprevista, mas a consuma��o exata dos planos de antonio gramsci e o resultado da aplica��o sistem�tica da sua estrat�gia voltada a tranformar a ideologia esquerdista na "autoridade onipresente e invis�vel de um imperativo categ�rico, de um mandamento divino" ( sic). segunda: os te�ricos esquerdistas principais de hoje em dia, antonio negri, istvan meszaros, immanuel wallerstein e at� o ex�tico slavoj zizek continuam filiados � tradi��o marxista, e n�o somente em nome, mas nas categorias gerais do seu pensamento. tamb�m n�o � prudente ignorar o surto de neo-marxismo asi�tico, cuja influ�ncia sobre a esquerda europ�ia e americana j� come�a a se fazer sentir (v. toni e. barlow, ed., new asian marxisms, durham, duke university press, 2002). afinal, como creio ter explicado claramente algum tempo atr�s, � imposs�vel definir o marxismo como uma teoria, como uma filosofia, como um programa de a��o pol�tica e at� como uma ideologia: o marxismo � uma cultura, no sentido antropol�gico do termo. sua unidade n�o reside em nenhum corpo de doutrina, mas no apego ritual da comunidade a um conjunto de s�mbolos que expressam a sua identidade e o seu anseio de subsist�ncia eterna, e que por isso mesmo sobrevivem intactos n�o s� �s varia��es doutrinais mais extravagantes e contradit�rias mas a sucessivos e aparentemente devastadores choques de realidade (v. a s�rie de artigos http://www.olavodecarvalho.org/semana/031218jt.htm , http://www.olavodecarvalho.org/semana/040101jt.htm e http://www.olavodecarvalho.org/semana/040108jt.htm ). mais exatamente, o marxismo � uma subcultura dentro da "cultura da revolu��o mundial", ou, como prefere cham�-la j. l. talmon, da "religi�o da revolu��o", cuja origem expliquei brevemente em artigos anteriores. ao lado do anarquismo (do qual prometo falar outro dia), ele � a terceira dessas subculturas. o iluminismo foi a primeira, a rebeli�o rom�ntica a segunda. enquanto subsistir a cultura da revolu��o, nenhuma dessas subculturas desaparecer� para sempre. extinta a sua vig�ncia hist�rica mais espetaculosa, subsistem como camadas profundas do subconsciente, prontas a vir de novo � tona ao primeiro sinal de debilita��o da camada mais recente e superficial. a cultura da revolu��o revigora-se por meio dessas peri�dicas irrup��es do passado. quando o marxismo sovi�tico come�ou a fazer �gua, ap�s o relat�rio kruschev de 1956, a "new left" dos anos 60, irm� siamesa da "new age", foi buscar alento num renouveau rom�ntico e irracionalista, calcado n�o somente no romantismo origin�rio oitocentista mas no modernismo pr�nazista dos anos 20 com seu apelo � "natureza", ao culto do corpo e da juventude, ao orientalismo e indigenismo "multiculturais", ao pan-sexualismo e � "experi�ncia iluminadora" das drogas. como a mitologia da "new age" ainda est� viva e atuante, constituindo mesmo a for�a inspiradora por tr�s de todo o globalismo ecol�gico, abortista, gay e feminista, n�o era a ela que nos anos 80 a cultura da revolu��o podia pedir
socorro ap�s o segundo abalo sofrido pela subcultura marxista com a glasnost e a seq��ncia de autodissolu��es do movimento comunista que culminou na queda do muro de berlim e na auto-supress�o da urss. desta vez o apelo foi a uma camada mais antiga do mito revolucion�rio: o iluminismo. da noite para o dia, esquerdistas desiludidos retiravam do ba� os fantasmas de voltaire e diderot, faziam discursos grandiloq�entes em nome da "raz�o" e batiam no peito anunciando, em vez do socialismo cient�fico, o advento global das "luzes". no brasil, o mais patente sintoma disso foi o sucesso obtido na esquerda pelos livros de s�rgio paulo rouanet, as raz�es do iluminismo (1987) e o espectador noturno. a revolu��o francesa atrav�s de r�tif de la bretonne (1988). apenas trinta anos antes, ningu�m na esquerda falava dos philosophes sen�o com aquela emp�fia com que marx os reduzia a precursores "burgueses" da revolu��o prolet�ria. agora, com o comunismo sovi�tico dissolvendo-se a olhos vistos, as f�rmulas grandiosas e ocas do iluminismo eram mais que uma t�bua de salva��o: eram uma inje��o de otimismo no corpo debilitado da religi�o revolucion�ria, amea�ada de morte pr�xima pelo "fim da hist�ria" que francis fukuyama anunciava triunfalmente. pode-se notar, en passant, que, assim como os anos 60 apelaram ao romantismo em suas duas vers�es, a origin�ria oitocentista e a modernista, a ressurrei��o iluminista n�o se socorreu somente dos voltaires e diderots, mas do seu herdeiro tardio, o cientificismo-evolucionismo da segunda metade do s�culo xix. de repente, os velhos preconceitos cientificistas de ernest haeckel e ludwig b�chner, que pareciam mortos e enterrados desde as an�lises implac�veis que lhes concederam as escolas fenomenol�gica, existencialista e culturalista nas primeiras d�cadas do s�culo xx, ressurgiam com toda a for�a, prevalecendo-se da prodigiosa ignor�ncia filos�fica das novas gera��es. o evolucionismo, em particular, afirmava-se de novo n�o s� como �nica teoria v�lida para explicar a variedade das esp�cies animais (reprimindo os cr�ticos por meio do boicote profissional, de legisla��es restritivas e de campanhas difamat�rias), mas como princ�pio explicativo universal, capaz n�o s� de abranger desde os protozo�rios at� as esferas mais elevadas da religi�o, da arte e do pensamento, mas de substituir as religi�es tradicionais como base �nica e suficiente da moral e da civiliza��o. e isso justamente no momento em que a contribui��o do darwinismo para as ideologias nazista e comunista, longamente negada pelos gr�o-sacerdotes do culto evolucionista, aparecia finalmente como um fato hist�rico bem comprovado (v. o dvd de richard weikart, darwin's deadly legacy. the chilling impact of darwin's theory of evolution, em www.wnd.com). na esteira do cientificismo, o anticristianismo militante, que o comunismo sovi�tico havia abandonado em favor de uma pol�tica de infiltra��o e corros�o interna das igrejas, ressurge com virul�ncia inaudita t�o logo o pretexto do "di�logo" com os crist�os perde sua raz�o de ser. e ressurge pelas m�os de quem? n�o dos esquerdistas radicais, mas dos liberais iluministas, a retaguarda salvadora da revolu��o. nenhuma das tr�s camadas da religi�o da revolu��o - iluminismo-cientificismo, romantismo-modernismo, marxismo-anarquismo - poder� jamais ser considerada extinta enquanto a pr�pria religi�o da revolu��o continuar viva. a todo momento, cada uma delas pode ser trazida de novo � tona para refor�ar a f� vacilante dos revolucion�rios, abalada pelo choque de realidade ou pela constata��o de seus pr�prios crimes, infinitamente mais graves do que todos os males que o culto da revolu��o professou eliminar. o marxismo s� morrer� quando o pr�prio sentimento de unidade da tradi��o revolucion�ria internacional se dissolver nas brumas do tempo.
barb�rie mental
olavo de carvalho jornal do brasil, 15 de fevereiro de 2007
outro dia, em discuss�o na internet, um rapaz que de vez em quando escreve artigos pol�ticos assegurou que todos os santos e profetas da cristandade s� queriam poder e dinheiro, que jesus nasceu de um adult�rio e que os judeus s�o um povo de ladr�es. fingindo n�o notar o quanto essas afirma��es eram ofensivas e at� pass�veis de processo criminal, o indiv�duo ainda teve o desplante de se fazer de donzela magoada quando lhe respondi com os poucos palavr�es que me ocorreram no momento, aos quais eu acrescentaria ainda uma d�zia depois de refletir mais demoradamente na conduta do referido e medir a extens�o da sua canalhice. para completar, o sujeito se dispensava de oferecer qualquer prova das tr�s acusa��es al�m do fato de que as lera em voltaire, e em seguida jogava sobre os crist�os e judeus o encargo de refut�-las com fatos e argumentos, proclamando que seriam culpados de desonestidade intelectual se n�o o fizessem. como se pode responder educadamente a um ataque preconceituoso e odiento refor�ado por uma c�nica invers�o do �nus da prova? os palavr�es, segundo entendo, foram inventados precisamente para as situa��es em que uma resposta delicada seria cumplicidade com o intoler�vel. por incr�vel que pare�a, alguns estudantes correram em socorro do insolente, consolando-o dos maus tratos sofridos da parte de seu desbocado opositor, t�o carente de �argumentos�. no brasil de hoje � assim: qualquer acusa��o cretina jogada ao ar sem o menor respaldo se arroga a dignidade intelectual de um �argumento� e exige resposta cort�s daqueles cujos sentimentos acaba de ferir da maneira mais impiedosa e crua. incitando a repulsa e ao mesmo tempo sufocando sua express�o, esse ardil prende o interlocutor numa camisa-de-for�a verbal, usando maliciosamente as regras mesmas do debate educado como pe�as de uma armadilha psicol�gica maliciosa e s�dica. � um truque inventado pela propaganda nazista e comunista, mas, �n�fte pa�f�, tornou-se procedimento usual nas discuss�es p�blicas hoje em dia. o epis�dio, irrevelante em si, � bastante significativo do presente estado de barb�rie intelectual. falar em �crise cultural�, nessas circunst�ncias, � eufemismo. na �poca em que um sociopata adolescente pode fazer em peda�os o corpo de um menino e ainda ser defendido como v�tima do capitalismo, o discernimento elementar do certo e do errado j� se tornou uma opera��o complexa demais para os c�rebros dos brasileiros. nas pequenas como nas grandes quest�es, vigora a mesma estupidez grandiloq�ente, a mesma brutalidade mental ornada de belos pretextos. *** por falar nisso, o general andrade nery reagiu ao meu artigo da semana passada espalhando pela internet um protesto furibundo, repleto de auto-elogios grotescos e desconversas pat�ticas. minha pergunta continua sem resposta: desde que come�ou a onda de indeniza��es a terroristas, o general, no meio da sua constante prega��o anti-americana t�o doce aos ouvidos da esquerda, disse uma s� palavra em favor das fam�lias de v�timas do terrorismo? ou evitou esse assunto desagrad�vel, para n�o dividir o front chavista?
a palavra das farc olavo de carvalho 14 de fevereiro de 2007
meu caro alcides lemos, da reda��o deste di�rio, me pergunta por e-mail se n�o vou escrever meu editorial desta semana. n�o, n�o vou escrev�-lo. pelo menos n�o vou escrev�-lo inteiro. a comiss�o internacional das farc, for�as armadas revolucion�rias da col�mbia, j� escreveu a maior parte dele, na sauda��o que enviou � Xiii reuni�o do foro de s�o paulo, em salvador. o texto completo da sauda��o encontra-se na edi��o portuguesa do pravda, o jornal oficial do partido comunista russo (http://port.pravda.ru/mundo/15168farcsaudacao-0). � uma preciosidade. por mais que eu argumentasse, n�o conseguiria fornecer uma prova t�o clara daquilo que venho afirmando h� anos: (1) que toda a pol�tica do pt est� enquadrada numa estrat�gia de revolu��o continental que re�ne, num s� front, partidos legais e organiza��es criminosas; (2) que o foro de s�o paulo, a organiza��o incumbida de formular e implementar essa estrat�gia, � o continuador natural do empreendimento de domina��o mundial comunista. nestas breves linhas, o comando das farc, de boca pr�pria, coloca as coisas na sua devida perspectiva hist�rica: �em 1990 j� se via vir abaixo o campo socialista, todas as suas estruturas fraquejavam como castelo de cartas, os inimigos do socialismo festejavam a mais n�o poder, se cunhavam teorias como a do fim da hist�ria, muitos revolucion�rios no mundo observavam at�nitos e sem conhecer o que havia falhado para que ocorresse semelhante cat�strofe. �a utopia se dissipava, a desesperan�a se apoderou de muit�ssimos dirigentes que haviam dedicado toda sua vida � luta por conquistar um mundo melhor, idealizando-o com o modelo de socialismo desenvolvido da uni�o sovi�tica. ao derrubar-se esse modelo, para muitos se acabou a motiva��o de luta e s� ficamos uns poucos sonhadores... �...� nesse preciso momento que o pt lan�a a formid�vel proposta de criar o foro de s�o paulo, trincheira onde n�s pud�ssemos encontrar os revolucion�rios de diferentes tend�ncias, de diferentes manifesta��es de luta e de partidos no governo, concretamente o caso cubano. essa iniciativa, que encontrou r�pida acolhida, foi uma t�bua de salva��o e uma esperan�a de que tudo n�o estava perdido. quanta raz�o havia, transcorreram 16 anos e o panorama pol�tico � hoje totalmente diferente.� sabendo-se que as farc t�m uma participa��o direta na gera��o da viol�ncia que faz 50 mil homic�dios por ano no brasil, � evidente que o governo petista n�o quer e n�o pode fazer nada para dar fim a esse descalabro, pois faz�-lo implicaria pisar no calo de um de seus mais queridos e poderosos aliados continentais. o ideal m�ximo do pt � resgatar o movimento comunista dos escombros da extinta urss. ele n�o h� de trair esse ideal s� para salvar as vidas de uns quantos milhares de brasileiros.
o tempo dos assassinos olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 12 de fevereiro de 2007
a coluna de hoje, data venia dos am�veis leitores, ser� toda dedicada �quelas criaturas mimosas que, na �tica brasileira vigente, representam a ep�tome das virtudes humanas: os comunistas. comecemos com uma declara��o c�lebre de hayd�e santamaria, �cone da revolu��o cubana. a frase circula pela internet num cartaz de propaganda comunista atribu�do falsamente � Petrobras, mas, se foi escolhida numa tentativa muito safada de sujar a reputa��o da empresa, � porque seu conte�do � significativo em si mesmo, e � ele que me interessa aqui, n�o o cartaz. a frase �: "para mim, ser comunista n�o � militar num partido, � ter uma atitude ante a vida." qual atitude, precisamente? a pr�pria hayd�e responde, na mesma carta que cont�m a declara��o usada pelos fals�rios (http://www.rebelion.org/argentina/040521haydee.htm): "creo que hay que hacer un gran esfuerzo para ser violenta, para ir a la guerra, pero hay que ser violenta e ir a la guerra si hay necesidad." o paralelo com o c�lebre "no perder la ternura jam�s" � inevit�vel. faz parte da liturgia comunista o mantra de que os comunistas s� matam por obriga��o moral, a contragosto. pela l�gica da normalidade humana, quem mata a contragosto tenta reduzir ao m�nimo o n�mero de v�timas. isso contrasta de maneira acachapante com o fato de que os comunistas s�o os campe�es inquestionados do mortic�nio universal, inclusive na am�rica latina, onde os feitos de fidel castro superam incalculavelmente os de seus mais execrados inimigos direitistas. mas, como se conclui facilmente do que expliquei em artigos anteriores, o movimento revolucion�rio moderno n�o poderia ter-se originado por invers�o do cristianismo sem absorver e inverter tamb�m os seus crit�rios morais. o ethos comunista, que as duas senten�as de hayd�e santamaria (e a apologia guevariana do guerrilheiro como "eficiente e fria m�quina de matar") exemplificam t�o claramente, � a perfeita invers�o do bem e do mal. antonio gramsci j� propunha a substitui��o do calend�rio lit�rgico da igreja por um novo pante�o de santos, onde os assassinos a servi�o da revolu��o ocupariam os lugares dos m�rtires crist�os. o m�todo para realizar a invers�o � uma tortuosa dial�tica que faz da trucul�ncia revolucion�ria a express�o m�xima do bem e da santidade. essa dial�tica emerge diretamente da invers�o de tempo e eternidade que aqui expliquei. na medida em que identificam o bem eterno com o futuro que prometem, os comunistas est�o livres para matar e torturar no presente sem poder ser julgados por ele. de outro lado, como o futuro � indeterminado e s� os pr�prios comunistas podem oficializar o seu advento quando ele chegar, o acerto de contas com a moral fica para o dia de s�o nunca. enquanto isso, os comunistas deitam e rolam nas del�cias da auto-indulg�ncia, matando, torturando, arrasando pa�ses inteiros, reduzindo multid�es a uma mis�ria
indescrit�vel e, nos intervalos, retorcendo-se em trejeitos de indigna��o contra o pecaminoso capitalismo. os representantes do presente maligno n�o podem julg�-los, e os do futuro maravilhoso julgam em causa pr�pria, prevalecendo-se do direito de adiar o julgamento at� o dia da perfei��o final, inating�vel por defini��o. logo, seus crimes n�o lhes podem ser imputados e recaem fatalmente sobre seus inimigos, isto �, suas v�timas. da� que tenham tanto mais intensa impress�o de santidade quanto mais lavam suas m�os no sangue dos outros. eles nunca s�o culpados pelos seus pr�prios atos. puros e santos, s�o for�ados pelo maldito capitalismo a violar sua bondosa inclina��o natural e sair matando pessoas, como se fossem assassinos. esse sacrif�cio lhes d�i tanto, que quando matam sentem que s�o eles pr�prios as v�timas, em vez de autores do crime. da� o �dio redobrado que sentem pelo falecido que, perfidadamente, os obrigou a tortur�-lo e mat�-lo. da�, mais ainda, a necessidade que sentem de continuar a mat�-lo em ef�gie eternamente, xingando-o e difamando-o a cada oportunidade e negando clem�ncia at� mesmo a seus descendentes. na rom�nia de ceaucescu o ex-ministro da economia, mihail manoilescu, foi condenado � morte e executado simbolicamente cinco anos depois de ter morrido na cadeia. mat�-lo uma vez s� n�o bastava. s�o delicadezas da alma comunista que escapam aos cora��es insens�veis dos reacion�rios. ser comunista � ser um assassino cheio de ternura por si mesmo e de �dio eterno, inextingu�vel, �s suas v�timas. escravos fuj�es gra�a salgueiro, minha amiga e editora do admir�vel blog nota latina (www.notalatina.blogspot.com), me chama a aten��o para mais um detalhe maravilhoso na entrevista do professor-assassino jo�o carlos kfouri quartim de moraes que j� comentei aqui e tamb�m no jornal do brasil (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/070206dce.html e http://www.olavodecarvalho.org/semana/070208jb.html). fazendo ironia com os fazendeiros do imp�rio que julgavam a escravatura uma institui��o ben�vola, afirma o elemento: "os escravos, teimando em n�o compreender as motiva��es filantr�picas de seus propriet�rios, fugiam em massa das senzalas e das planta��es". bem, os escravos brasileiros n�o s�o as �nicas pessoas incompreensivas que fugiram de seus benfeitores. seis milh�es de cubanos escapuliram de cuba, expondo-se ao risco de morrer afogados ou de ser comidos pelos tubar�es caso n�o fossem metralhados antes pela pol�cia de fidel castro. seu exemplo abomin�vel foi seguido por dois milh�es de vietnamitas que fugiram da generosidade vietcongue em barquinhos, jangadas e at� b�ias de borracha. algumas dezenas de milhares de alem�es mal agradecidos saltaram o muro de berlim para expor-se aos horrores do capitalismo na parte oeste da cidade. o fluxo de refugiados da pol�nia, da r�ssia, da hungria, da china e de outros templos da bondade comunista jamais cessou de superlotar as ruas de nova york, paris e londres e at� de s�o paulo, dando testemunho onipresente da ingratid�o humana. e eu mesmo, c�nico e indiferente � ternura que jorra do cora��o do prof. kfouri, fugi para os eua antes que desse na veneta filantr�pica do indigitado a id�ia de constituir �s pressas mais um tribunal revolucion�rio e me mandar para o belel�u como fez com o capit�o charles chandler. hist�ria invertida uma evid�ncia moral que deveria ser �bvia � primeira vista � que, se todo militante nazista � c�mplice moral do holocausto, todo militante comunista � c�mplice moral da matan�a de cem milh�es de v�timas dos regimes sovi�tico, chin�s, cubano etc. no caso dos terroristas brasileiros, sua participa��o no esquema genocida internacional montado por fidel castro (n�o menos de quinhentos mil mortos no total) foi algo mais do que moral: foi cumplicidade material, atrav�s da
ajuda que receberam dele e dos inumer�veis servi�os que lhe prestaram. desde logo, o fato de que a guerrilha nacional agisse sob a orienta��o da olas, organizaci�n Latino-americana de solidariedad, � mais que suficiente para provar que ela n�o foi uma iniciativa nacional independente e sim a consecu��o local de planos estrat�gicos tra�ados pessoalmente por fidel castro. assim como h� uma diferen�a entre o vago simpatizante nazista da fran�a ou da holanda e o militante efetivo que no exterior cumpria as ordens emanadas da chancelaria em berlim, a mesma diferen�a existe entre o mero esquerdista subjetivo e os nossos guerrilheiros. como bra�os armados de fidel castro, eles ajudaram a matar cada cubano que morreu de tortura ou de fome nos c�rceres da ilha e cada v�tima das guerrilhas que o ditador do caribe espalhou pelo continente latino-americano e pela �frica. se compararmos a imensid�o desses feitos macabros com a trucul�ncia modesta da ditadura que os combateu, a superioridade moral desta �ltima se tornar� demasiado evidente. por isso a historiografia de propaganda esquerdista que forjou a imagem desse per�odo na mem�ria nacional � t�o enf�tica em assinalar os crimes da ditadura e t�o omissa em descrever as conex�es da guerrilha local com o esquema estrat�gico cubano e continental. mesmo quando fala da opera��o condor, a articula��o de governos militares para o combate �s guerrilhas, ela busca sempre dar a impress�o de que se tratava de uma conspira��o transnacional armada contra her�icas resist�ncias locais, e n�o de um arranjo feito �s pressas para enfrentar um esquema revolucion�rio internacional muito mais antigo, organizado e abrangente. a olas, afinal, tinha agentes em todo o mundo e conex�es muito fortes na m�dia internacional, enquanto os generais latino-americanos mal tinham alguns oficiais de rela��es p�blicas, canhestros e mal treinados, para tentar balbuciar explica��es diante de rep�rteres maliciosos, intoxicados de preven��o esquerdista, quando n�o militantes comunistas eles pr�prios. � por isso que a hist�ria da inger�ncia dos eua na situa��o pol�tica latinoamericana da �poca aparece cem por cento invertida no relato que as escolas e o movimento editorial passam �s novas gera��es. a for�a dos documentos hist�ricos � a� neutralizada por grotescas lendas urbanas criadas pela propaganda comunista, que se impregnam na mem�ria popular como verdades de evangelho. na cren�a geral, os eua continuam aparecendo como autores ou pelos menos inspiradores do golpe de 1964, embora a correspond�ncia entre o embaixador lincoln gordon e o presidente johnson mostre que o governo americano se limitou a manter-se informado sem interferir em nada. inversa e complementarmente, a debilita��o e queda dos governos militares � atribu�da � a��o espont�nea e her�ica das resist�ncias locais, quando os documentos provam que foi tudo uma decis�o direta do presidente jimmy carter, o pai da prosperidade esquerdista nas d�cadas seguintes. ante a press�o americana, nossa ditadura teve de se desmantelar �s pressas, abandonando o pa�s nas m�os da canalha esquerdista que desde ent�o n�o fez sen�o comer dinheiro p�blico, bajular criminosos e derreter-se em orgasmos de auto-adora��o. a anistia jur�dica que essa gente recebeu nunca deveria ter vindo junto com a anistia moral que aboliu a mem�ria de seus crimes e tornou eternamente imperdo�veis os de seus advers�rios. nem a ditadura foi t�o ruim, nem os comunistas que a combateram o fizeram por amor � democracia e aos direitos humanos. a alternativa aos militares, nas d�cadas de 60 e 70, era exatamente aquela que a guerrilha trazia em seu bojo: a tirania comunista, infinitamente mais brutal e sedenta de sangue do que o mais enfezado dos nossos generais poderia jamais ter sido. a hist�ria nunca � uma escolha entre o c�u e o inferno, a felicidade integral e o infort�nio absoluto: � uma permanente op��o entre a mediocridade do mal menor e a santifica��o psic�tica do mal maior. nesse sentido, tendo sido radicalmente oposto ao regime militar enquanto ele durou, hoje n�o vejo como conden�-lo por inteiro em compara��o com a alternativa hedionda oferecida pelos santarr�es comunistas na �poca. no m�nimo, os presidentes
militares morreram pobres. morreram pobres porque foram honestos. e, se perseguiram os comunistas, deixaram o resto da na��o em paz. hoje, os cidad�os brasileiros s�o assassinados � base de cinq�enta mil por ano enquanto os comunistas se empanturram de dinheiro p�blico e trocam beijinhos com a narcoguerrilha colombiana que fomenta a viol�ncia nas ruas do rio e de s�o paulo. moralmente, n�o h� compara��o poss�vel. diferen�a abissal a prop�sito disso, e com refer�ncia � antologia de meus artigos que est� para ser publicada como edi��o especial do di�rio do com�rcio, creio dever aos leitores uma explica��o pessoal, escrita desde o fundo do meu cora��o. h� uma diferen�a abissal entre refutar uma id�ia e denunciar um crime. quando condeno os jornais e jornalistas que ocultam a matan�a de crist�os no mundo, que fingem acreditar na inexist�ncia ou inocuidade do foro de s�o paulo, que jamais noticiam os constantes assassinatos e torturas de prisioneiros pol�ticos em cuba, na china e nos pa�ses isl�micos (e quando o fazem � com uma circunspec��o que raia a omiss�o completa), n�o estou discutindo suas id�ias: estou denunciando sua cumplicidade consciente e obstinada com crimes hediondos. minha diverg�ncia com eles n�o � de cren�as, de convic��es, de ideologia: � a diferen�a moral irredut�vel entre o homem sincero e um bando de mentirosos c�nicos. do mesmo modo, n�o � ideol�gica a dist�ncia que me separa daqueles que se sentem m�rtires porque perderam 376 militantes para a ditadura nacional enquanto ajudavam fidel castro a matar quinhentas mil pessoas (v. http://www.cubaarchive.org/english_version) a cujos descendentes a m�dia hip�crita e o governo c�o negam toda palavra de consolo. ideologia discute-se. uma diferen�a abissal de percep��o, de sentimentos, de moralidade, de senso das propor��es, s� se expressa com gritos de horror ou com o sil�ncio do desprezo. n�o fui eu que criei essa diferen�a. foram eles. s�o eles que abrem um abismo ontol�gico intranspon�vel entre os seus e os do partido contr�rio, considerando-se detentores exclusivos do estatuto humano e tratando seus advers�rios mortos como detritos na lixeira da hist�ria. a essa diferen�a corresponde outra, igualmente invenc�vel, mas de ordem cognitiva, entre eles e aqueles que n�o medem a condi��o humana, os direitos humanos, a dignidade da vida humana, por uma carteirinha de partido. � do m�ximo interesse deles escamotear essa diferen�a, fingindo que � tudo mera diverg�ncia de opini�es, para em seguida choramingar que sou um intolerante, que os maltrato s� porque n�o pensam como eu. o n�mero dos que apelam a esse expediente malicioso � diretamente proporcional � sua falta de vergonha na cara. n�o vejo como expor nossa diferen�a polidamente. palha�o seria eu se, diante de tantas condutas criminosas, me pusesse a discuti-las em tom de debate intelectual, como se fossem grandes e elevadas teorias, sublimes hip�teses cient�ficas, arrojadas especula��es filos�ficas. bem sei que � isso o que querem. mas eu estaria me rebaixando ao �ltimo grau da indignidade se fizesse algo para content�los. nem falo, � claro, daqueles que diante de provas t�o patentes e superabundantes da mendacidade esquerdista que impera nos meios de comunica��o deste pa�s, ainda se queixam de que a m�dia nacional � "conservadora". se com os primeiros j� n�o havia a menor possibilidade de di�logo, esses, ent�o, n�o merecem sequer ser mencionados, de rasp�o, numa conversa entre pessoas decentes. seu lugar na escala da idoneidade profissional � o das amebas e protozo�rios na hierarquia animal. non
raggionam di lor, ma guarda e passa. por outro lado, � superlativamente c�nica e de m� f� a exig�ncia de �argumentos� por parte de gente que sempre respondeu aos meus mediante a mais s�rdida e persistente campanha de difama��o de que algum jornalista brasileiro j� foi v�tima ao longo de toda a hist�ria nacional. insultos a mim e � minha fam�lia, amea�as de morte, imputa��es criminais escabrosas, boicotes profissionais ostensivos n�o contentaram a sanha dessas criaturas, que em seguida se esmeraram em distribuir pela internet mensagens falsas em meu nome, com conte�do racista e nazista, e em criar sites inteiros, com conte�do forjado, para impingir ao p�blico a farsa de um olavo de carvalho moldado � imagem e semelhan�a do �dio e do temor irracionais que o personagem real lhes inspira. s� de cartas que sugerem, pedem, imploram ou exigem sumariamente a minha exclus�o da m�dia, tenho as c�pias de v�rias dezenas � amostragem modesta do que circulou pelas reda��es. como posso crer que tantos sujeitos empenhadas em tapar minha boca estejam ao mesmo tempo ansiosos para ouvir meus argumentos? quem tem o direito de cobrar argumentos sou eu e n�o eles, como bem lembra guilherme afif domingos no pref�cio � antologia que mencionei. mas quem, na esquerda supostamente letrada, vai querer discutir comigo? todos os que o tentaram se sa�ram muito mal. seus descendentes aprenderam a li��o. ao primeiro sinal de um confronto, fogem esbaforidos, de medo de que sua vacuidade mental, desprovida das defesas do cargo e da claque, seja exposta � plena luz do dia. preferem ir fazer fofocas bem longe de mim, protegidos em suas salas de aula, ante alunos previamente vacinados contra a tenta��o de me dar ouvidos. a� sim, deitam e rolam, dizem de mim o que querem, fazem piadas, contam garganta e me derrotam em mil e um embates imagin�rios. os exemplos de baixeza, de covardia, de mendacidade grupal organizada que vi desde a primeira edi��o de o imbecil coletivo (1996) s�o uma amostragem sociol�gica mais que suficiente do perfil moral m�dio do esquerdismo falante. antes disso eu j� conhecia, � claro, o poder da m�quina de difama��o esquerdista. sabia o que ela tinha feito com gilberto freyre, com otto maria carpeaux, com gustavo cor��o, com georges bernanos, com jos� Osvaldo de meira penna, com antonio olinto, com roberto campos � com um punhado de homens ilustres. a f�ria inventiva que ela mobiliza contra aqueles a quem quer destruir n�o tem limites. n�o h� mentira, n�o h� invencionice, n�o h� intriga, por mais rasteira e porca que seja, a que seus funcion�rios n�o recorram com a cara mais bisonha do mundo, seguros da indulg�ncia plen�ria garantida pela sua superioridade moral inata, indiscut�vel, divina. e a tudo isso denominam "debate intelectual", desfolhando-se em chiliques de donzela ultrajada quando os chamamos de delinq�entes camuflados. minha experi�ncia pessoal com essa gente s� veio a confirmar, com sobra de evid�ncia, tudo o que a hist�ria me havia ensinado a seu respeito. hoje entendo que o esquerdismo n�o � um ideal, uma cren�a, uma filosofia: � uma doen�a moral horr�vel, a substitui��o do senso instintivo do bem e do mal por um conjunto de artif�cios l�gicos que, por etapas, v�o levando da mera pervers�o � invers�o completa, � santifica��o do mal e � condena��o do bem.
apagando o passado olavo de carvalho
jornal do brasil, 8 de fevereiro de 2007
�cometer�amos a pior das infidelidades � mem�ria de nossos mortos se consent�ssemos em pagar, pelas boas rela��es com os militares de hoje, o pre�o do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura�, adverte o ide�logo comunista jo�o carlos kfouri quartim de moraes. a rec�proca n�o � verdadeira. para tornar-se queridinhos da revolu��o bolivariana, o general andrade nery, o brigadeiro ferolla e outros oficiais inflados de �dio anti-americano consentem em jamais estragar a festa com men��es constrangedoras �s v�timas do terrorismo. nos conclaves esquerdistas de que participam, nas publica��es comunistas em que brilham, eles se derramam em sorrisos e afagos ao esquema revolucion�rio continental, o mesmo que ainda ontem se esmerava em matar soldados brasileiros. e nem uma recorda��o amarga brota do fundo de suas almas. a soberba inflexibilidade de quartim de moraes n�o me surpreende. ele est� especialmente qualificado para humilhar seus velhos inimigos, de vez que ele pr�prio matou um deles. mandante do assassinato do capit�o americano charles chandler -- alvo escolhido a esmo como s�mbolo do execrado �imperialismo ianque� --, o orgulhoso professor da unicamp sabe que, na falta de realiza��es intelectuais, o homic�dio pol�tico � uma gl�ria curricular mais que suficiente pelos atuais crit�rios do establishment universit�rio brasileiro, os mesmos que o embaixador roberto abdenur denuncia como vigentes no itamaraty. mas quartim n�o � um caso singular. nada mais caracter�stico dos ap�stolos da igualdade do que a desigual distribui��o da dignidade humana: para os �seus� mortos, honra e gl�ria; para os do outro lado, esquecimento e desprezo, quando n�o o tapa na cara, o insulto dos miser�veis trezentos reais mensais oferecidos pelo governo � fam�lia do sargento m�rio kozel filho depois de trinta anos de espera e humilha��es. para os comunistas, essa desigualdade � natural, justa e de direito divino. os cem milh�es de v�timas do comunismo s�o um detalhe irris�rio no majestoso percurso da hist�ria. os trezentos terroristas mortos pela ditadura brasileira s�o monumentos imperec�veis na mem�ria dos tempos. norman cohn j� assinalava, entre os tra�os inconfund�veis da mentalidade revolucion�ria, a autobeatifica��o delirante que redime e embeleza a priori todos os seus crimes enquanto torna os do outro lado eternamente imperdo�veis. a m�dia chique ajuda a consolidar a diferen�a, alardeando os pecados da ditadura e apagando do registro hist�rico os crimes dos terroristas, isto quando n�o os debita tamb�m na conta das v�timas, a t�tulo de rea��es compreens�veis e at� merit�rias do idealismo juvenil a uma situa��o desagrad�vel. a novidade � a afoiteza obscena com que certos militares brasileiros, em nome das boas rela��es com os assassinos de seus colegas de farda, se curvam docilmente a essa dupla moral, calando o que deveriam berrar desde cima dos telhados. *** ps � errei ao dizer que ningu�m na imprensa brasileira escreveu sobre o livro do rabino david c. dalin. hugo estenssoro publicou uma excelente resenha na falecida primeira leitura.
o destino dos homens de farda olavo de carvalho di�rio do com�rcio (editorial), 6 de fevereiro de 2007
os militares que, segundo expliquei no meu artigo de segunda-feira, esperam livrar as for�as armadas da m�quina de difama��o esquerdista fazendo delas colaboradoras volunt�rias e servis do movimento revolucion�rio chavista, podem tirar o cavalo da chuva. um dos mais respeitados luminares do esquerdismo nacional, jo�o quartim de moraes, j� avisou em entrevista ao site www.vermelho.org que �perante a mem�ria hist�rica do povo brasileiro, cometer�amos a pior das infidelidades � mem�ria de nossos mortos se consent�ssemos em pagar, pelas boas rela��es com os militares de hoje, o pre�o do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura�. a mensagem � clara: puxem o saco vermelho o quanto queiram, os homens de farda continuar�o sendo chamados de torturadores fascistas, servos do imperialismo e filhotes da ditadura, ou pelo menos ser�o obrigados, para demonstrar fidelidade a seus novos patr�es, a designar por esses nomes os seus colegas de farda que n�o se mirarem nos exemplos edificantes do coronel andrade nery e do brigadeiro ferolla, talvez os primeir�es na fila � espera de uma oportunidade de servir sob o comando do general hugo ch�vez na grande guerra patri�tica contra o imperialismo ianque. quartim, professor da unicamp, � o pai espiritual e fundador do tal �n�cleo de estudos marxistas�, ao qual n�o se pode negar o m�rito de ter elevado essa universidade ao n�vel acad�mico de uma escolinha do mst. na ocasi�o em que se inventou essa geringon�a, desafiei a reitoria da unicamp a abrir, ao lado dela, um �n�cleo de estudos antimarxistas�, provando as inten��es altamente cient�ficas e supra-ideol�gicas que a institui��o alegava, e que teria ademais a vantagem de poder estudar os maiores pensadores do s�culo xx � edmund husserl, karl jaspers, max scheler, xavier zubiri, ludwig von mises, eric voegelin, bernard lonergan, leszek kolakowski e outros � em vez de ter de cingir-se a microc�falos como poulantzas, r�gis d�bray, caio prado j�nior, che guevara, nelson werneck sodr�, istvan meszaros e outros a quem os comunistas, por fidelidade partid�ria, consideram o nec plus ultra da intelig�ncia humana, mesmo porque jamais estudaram nada al�m desses autores (mentira: na usp e talvez at� na pr�pria unicamp os carinhas s�o t�o cultos que at� leram na �ntegra as vinte p�ginas de �a pol�tica como voca��o� de max weber, citando-as regularmente em solenidades acad�micas, discursos presidenciais e festinhas de anivers�rio). a unicamp, na �poca, tratou a minha sugest�o com o maior desprezo, mostrando que n�o aceita provoca��es direitistas nem muito menos quer discuss�es de esp�cie alguma, exceto entre pessoas de comprovada filia��o marxista. n�o pude deixar de cumpriment�-la por essa demonstra��o de pureza ideol�gica, que confere a seus professores a honra insigne de continuar parecendo cult�ssimos na aus�ncia de qualquer desafio intelectual mais amea�ador. o prof. quartim, por exemplo, � bastante espertinho, o que constitui nos c�rculos marxistas o equivalente superior da intelig�ncia humana. ao afirmar que, �nos pa�ses sul-americanos submetidos ao terrorismo de estado, s� no brasil os torturadores n�o somente permanecem totalmente impunes, mas tamb�m continuam a receber elogios�, ele teve o cuidado de se referir somente � Am�rica do sul e n�o � America latina em geral, o que o colocaria na dolorosa conting�ncia de ter de abrir exce��o para cuba, recordista continental absoluta de torturadores e terroristas de estado per capita, todos eles � exceto os falecidos -- ainda em seus postos e carregados de honrarias.
o prof. quartim � um exemplo da idoneidade intelectual das elites mandantes comunistas sob cujas ordens e cusparadas alguns dos nossos militares est�o ansiosos para servir.
a apoteose da burrice nacional olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 5 de fevereiro de 2007
�est�o internacionalizando a amaz�nia. n�o d� para entender como um processo desses ocorre no governo do pt�, exclama o senador pedro simon, diante do projeto governamental que permite � Uni�o conceder � iniciativa privada a administra��o e explora��o econ�mica das florestas nacionais. ora, se o senador lesse os meus artigos ou assistisse �s minhas confer�ncias, n�o estaria t�o surpreso diante do �bvio. desde pelo menos dez anos antes da elei��o do sr. lu�s in�cio para a presid�ncia da rep�blica eu advertia: �se voc�s querem saber o que � entreguismo, esperem o pt chegar ao poder.� por que eu dizia isso? dizia-o pelo mesmo motivo que me levou a publicar, no jornal do brasil do dia 1�., a seguinte notinha: �elogiado em san salvador pela sua fidelidade inflex�vel ao movimento comunista, homenageado na mesma semana em davos pela sua convers�o ao capitalismo, o presidente lu�s in�cio lula da silva parece ser o maior enigma ideol�gico de todos os tempos. por�m ainda mais admir�vel � a recusa geral da m�dia em notar o paradoxo e pedir explica��es ao personagem. o c�rebro nacional tornou-se t�o lerdo e ap�tico que j� aceita sem reagir as informa��es mais desencontradas, a tudo aquiescendo com indiferen�a bovina e uma reconfortante sensa��o de normalidade.� a solu��o do enigma lula �, ao mesmo tempo, a resposta � perplexidade do senador simon. tudo isso seria claro como um diamante, se n�o estiv�ssemos num pa�s onde n�o entender nada � um dever patri�tico. j� expliquei mil vezes, mas vou come�ar tudo de novo: enquanto os nacionalistas brasileiros, burros e intoxicados de esquerdismo, continuam bradando contra o bom e velho �imperialismo ianque� dos anos 40 e vendo nos conservadores americanos a encarna��o m�xima desse fantasma glut�o inventado por st�lin, muita coisa sucedeu nos eua que escapa totalmente ao seu acanhado horizonte de vis�o. a principal � que um grupo de milion�rios, senhores quase absolutos da grande m�dia e do establishment universit�rio, embarcou com todas as suas armas e bagagens na aventura ut�pica do governo mundial destinado a transcender e suprimir a rep�blica norte-americana. n�o, n�o se trata de nenhuma trama secreta. est� tudo publicado, explicado, oficializado. revolucion�rios desse porte n�o apostam no seu pr�prio segredo, mas na estupidez das massas que n�o enxergam o que est� diante do seu nariz. muitas vezes mencionei aqui a comiss�o parlamentar de inqu�rito (reese), que j� nos anos 50 havia provado o empenho de v�rias funda��es bilion�rias no sentido de minar a identidade nacional, a cultura e a capacidade de defesa da na��o americana, de modo a criar um centro de poder transnacional independente,
sustentado na tripla base da economia globalizada, dos organismos internacionais e do controle sobre a rede de movimentos subversivos e revolucion�rios espalhados pelo mundo. desde ent�o esse projeto deu passos enormes no sentido da sua realiza��o. em 1994, no �relat�rio sobre o desenvolvimento humano�, a onu j� declarava abertamente: �os problemas da humanidade j� n�o podem ser resolvidos pelos governos nacionais. o que � preciso � um governo mundial. a melhor maneira de realiz�-lo � fortalecendo as na��es unidas.� (v. mais explica��es em http://www.olavodecarvalho.org/semana/040103globo.htm.) no ano seguinte, a resolu��o aparecia sob a forma de um plano detalhado, �our global neighborhood,� publicado pela comiss�o de governan�a global, que pregava �a subordina��o da soberania nacional ao transnacionalismo democr�tico�. as etapas necess�rias para a consecu��o do objetivo inclu�am: 1. imposto mundial. 2. ex�rcito mundial sob o comando do secret�rio-geral da onu. 3. legisla��es uniformes sobre direitos humanos, imigra��o, armas, drogas etc. (sendo previs�vel a proibi��o dos cigarros e a libera��o das drogas pesadas). 4. tribunal penal internacional, com jurisdi��o sobre os governos de todos os pa�ses. 5. assembl�ia mundial, eleita por voto direto, passando por cima de todos os estados nacionais. 6. c�digo penal cultural, punindo as culturas nacionais que n�o se enquadrem na uniformidade planet�ria �politicamente correta�. (v. http://www.sovereignty.net/p/gov/gganalysis.htm e http://www.olavodecarvalho.org/semana/030524globo.htm.) o tribunal penal internacional j� � uma realidade desde 1998. o c�digo penal cultural j� estava informalmente em vigor antes dessa data (expliquei isso na palestra que fiz em 8 de julho de 1997 na casa de am�rica latina, em bucareste, rom�nia, depois reproduzida em o futuro do pensamento brasileiro, rio, faculdade da cidade editora, 1997; os intelectuais romenos entenderam imediatamente a import�ncia do recado, que proliferou em convites para debates nas semanas seguintes; os brasileiros continuam imunes e sonsos.) as legisla��es uniformes j� s�o uma realidade patente, especialmente nos campos dos direitos humanos, sa�de e educa��o � com resultados uniformemente desastrosos nas tr�s �reas. faltam o imposto mundial, a assembl�ia global e o ex�rcito �nico. passos importantes na dire��o deste �ltimo v�m sendo dados diariamente, com a ajuda da grande m�dia mundial, no sentido de negar o direito de defesa �s na��es atacadas (principalmente quando essas na��es s�o os eua e israel) e de atribuir � Onu o monop�lio da atividade guerreira leg�tima. de acordo com jim garrison, presidente do state of the world forum (que ele fundou em parceria com mikhail gorbachev) e talvez o principal te�rico da transmuta��o globalista hoje em dia, a fun��o dos eua resume-se � de um �imp�rio transit�rio� destinado a dar � luz o governo mundial e dissolver-se nele, desaparecendo como unidade identific�vel (v. http://www.wie.org/j24/garrison.asp). o projeto globalista abrange ainda uma reforma radical da mentalidade humana em escala planet�ria, mediante a imposi��o de novos crit�rios morais, como o casamento gay, o abortismo, o feminismo, a eutan�sia, sempre de maneira r�pida e inquestionada, reprimindo-se por meio do combate publicit�rio e judicial qualquer resist�ncia poss�vel. o objetivo final � a supress�o da tradi��o religiosa judaico-crist� e sua substitui��o por uma religi�o bi�nica mundialista, com fortes tonalidades ocultistas e ecol�gicas. gra�as � a��o intensiva da onu e da rede de ongs associadas, essa parte do programa est� em fase avan�ada de implementa��o. s� para dar um exemplo entre milhares: em in�meras escolas p�blicas dos eua e da europa as crian�as s�o obrigadas a participar de rituais consagrados � �m�e
terra�, de inspira��o nitidamente teos�fica, ao passo que as ora��es crist�s em p�blico s�o proibidas e o simples ato de carregar uma b�blia � motivo de puni��o. a repress�o legal ao cristianismo espalha-se rapidamente por todos os estados americanos, enquanto as entidades religiosas tradicionais se v�em repentinamente privadas do acesso a verbas p�blicas concedidas generosamente a organiza��es gays, comunistas, isl�micas etc. garrison � c�nico o bastante para proclamar que a lideran�a americana tem de ceder ante o projeto global porque, �para alcan�ar a grandeza, um imp�rio necessita de uma vis�o transcendental que possa unir os elementos dispersos num prop�sito abrangente. ele tem de ser fundamentalmente construtivo e n�o destrutivo�. ora, uma coisa � um corpo de valores e princ�pios capaz de orientar a humanidade na dire��o de institui��es pol�ticas mais racionais e mais humanas. outra coisa � um projeto de domina��o abrangente. quem quer que, no mundo, fale em liberdade, democracia, direitos humanos, garantias constitucionais, aprendeu isso com o exemplo vivo da na��o americana e com ningu�m mais. esses valores, como j� assinalava alexis de tocqueville, surgem da s�ntese tipicamente americana das exig�ncias pol�ticas do iluminismo ingl�s (muito diferente do iluminismo revolucion�rio da europa continental) com as tradi��es crist�s trazidas ao novo mundo no bojo do mayflower. milh�es de americanos morreram nos campos de batalha da europa e da �sia, n�o para escravizar e explorar os vencidos como o fizeram a alemanha nazista e a urss, mas para criar democracias independentes, pujantes, capazes de concorrer com a pr�pria economia americana e de oferecer resist�ncia aos eua na arena da diplomacia mundial. em compara��o, que valores e princ�pios nos oferece a elite globalista? o abortismo, a eutan�sia, o ate�smo militante, a destrui��o das identidades e tradi��es nacionais, a tirania dos regulamentos econ�micos uniformes que subjugam e estrangulam povos inteiros, a imposi��o de normas culturais aberrantes e f�teis inspiradas no lixo teos�fico de madame blavatski, alice bailey e aleister crowley. (v., al�m do j� abundantemente citado false dawn, de lee penn, under the spell of mother earth, de berit kjos, wheaton, illinois, victor books, 1992, e the hidden dangers of the rainbow. the new age movement and our coming age of barbarism, shreveport, louisiana, huntigton house, 1983.) nos eua, a linha divis�ria da disputa pol�tica � entre os adeptos da soberania nacional (conservadores) e os da submiss�o � estrat�gia globalista (�liberals�, no sentido americano do termo, e esquerdistas em geral). a posi��o do presidente bush � amb�gua, na medida em que por um lado busca afirmar o poderio americano no iraque mas por outro lado est� comprometido at� � medula com o projeto globalista da �north american commonwealth�, a dissolu��o dos eua numa unidade multinacional com o m�xico e o canad�. bush, por mais conservador que se pretenda em quest�es de moral, � no fim das contas um membro do crf, council on foreign relations, o mais poderoso think tank pr�-ONu, diretamente respons�vel pela concep��o da commonwealth. falar em projeto, no caso, � eufemismo, pois bush j� assinou um protocolo de inten��es com o presidente do m�xico e o primeiro-ministro do canad�, dois anos atr�s, comprometendo-se a realizar a fus�o. o documento permaneceu secreto at� que um cidad�o desconfiado apelou ao freedom of information act (uma das maravilhas da democracia americana) e obrigou o governo a revelar seu conte�do. quem quiser informa��o atualizada a respeito, leia o n�mero de janeiro da revista whistleblower (www.wnd.com). tudo isso � a subst�ncia do debate pol�tico di�rio nos eua. n�o h� um s� cidad�o americano maior de idade que ignore que essas quest�es abrangentes, muito mais do que a invas�o do iraque em particular, s�o o fundo da disputa de entre o governo americano e a onu. ningu�m nos eua ignora que o destino da humanidade nas pr�ximas gera��es depende de uma escolha fundamental quanto � hierarquia de poder no mundo:
continuar� a existir um sistema de na��es independentes, mais ou menos garantido pela hegemonia pol�tica, militar e econ�mica da democracia americana, ou esta ceder� o lugar � uma burocracia global firmemente disposta a eliminar a soberaria nacional dos eua e, junto com ela, a de todas as demais na��es? os cretinos que, no terceiro mundo, esbravejam contra o �imperialismo ianque� e buscam abrigo na �ordem internacional� representada pela onu s�o servos conscientes ou inconscientes do mais gigantesco, ambicioso e desavergonhado plano imperialista que algu�m j� ousou conceber � algo que ultrapassa, em amplitude e desejo de poder, os mais megal�manos sonhos de hitler, stalin e mao dzedong. do ponto de vista econ�mico, esse plano pode ser resumido na f�rmula: usar o crescimento econ�mico globalizado como instrumento para fortalecer a burocracia internacional que o regula e o administra. � uma receita quase infal�vel, capaz de atrair a colabora��o de correntes pol�ticas as mais heterog�neas, com a condi��o de que n�o questionem as implica��es mundiais do plano e se atenham aos aspectos parciais e regionais que pare�am coincidir momentaneamente com as suas id�ias e programas. liberais que, obsediados pela liberdade econ�mica, vejam nela uma causa sui e se tornem cegos para os fundamentos culturais, religiosos e morais que a possibilitam s�o util�ssimos para promover a destrui��o desses fundamentos em nome da primazia do �mercado�, sen�o da �racionalidade cient�fica�. nacionalistas de esquerda intoxicados de anti-americanismo s�o �timos para sacrificar a soberania de seus pa�ses no altar do imperialismo global no instante mesmo em que imaginam salv�-la dos eua. comunistas e enrag�s em geral, empenhados em criar blocos econ�mico-militares regionais para �resistir ao imperialismo ianque�, esses ent�o s�o os queridinhos por excel�ncia do globalismo: espalham �dio ao principal advers�rio do esquema, fortalecem a onu e, de quebra, j� v�o promovendo as integra��es regionais que, pelo menos desde hans morgenthau foram admitidas como a �nica via poss�vel para a implanta��o do governo mundial. dos socialdemocratas embriagados de �terceira via�, ent�o, n�o preciso nem falar: esses s�o a pr�pria burocracia internacional em a��o. voc�s entendem agora o que garrison queria dizer com �vis�o transcendental que possa unir os elementos dispersos num prop�sito abrangente�? n�o se trata de valores civilizacionais, mas apenas de uma estrat�gia global capaz de atrair e usar em seu favor todas as cegueiras regionais. ora, em mat�ria de cegueira, ningu�m supera os brasileiros. o exemplo mais recente �, evidentemente, a pr�pria manifesta��o de surpresa do senador simon. ele n�o tem a menor id�ia de que, de todos os partidos brasileiros, o que tem liga��es mais profundas e extensas com as centrais do poder global � e isso n�o vem de hoje � � o pt. ele n�o enxerga sequer que a pol�tica inteira do governo lula, com sua caracter�stica s�ntese de contr�rios � ortodoxia econ�mica e apoio declarado � revolu��o comunista bolivariana --, recebe tanto aplauso internacional porque nela confluem harmonicamente (pelo menos at� agora) as duas linhas de a��o principais do esquema globalista: economia mundial administrada e utiliza��o dos movimentos subversivos e revolucion�rios contra os eua. o senador tem mesmo de estar surpreso. como todo brasileiro falante, ele l� a grande m�dia nacional e se acha informado. � o mesmo que enfiar a cabe�a num buraco. querem ver at� que ponto a m�dia nacional est� ocultando o que acontece no mundo? vejam a ilustra��o deste artigo. � uma primeira p�gina do jornal el mercurio, do chile. voc�s imaginam essa mat�ria publicada na capa da folha ou do globo? imposs�vel. esses jornais podem dar uma agulhadinha ou outra em hugo ch�vez (o que, no ambiente nacional, j� basta para serem rotulados de �direitistas�), mas jamais dar�o ao leitor uma id�ia exata da gravidade do estado de coisas na venezuela. ou em qualquer outro lugar do mundo. seu repert�rio � estritamente limitado ao tem�rio-padr�o das discuss�es internas da esquerda. um c�rebro alimentado desse material tem mesmo de ficar chocado com o que lhe parece uma �virada� pr�-imperialista do pt. porque jamais soube o que � o pt.
querem outro exemplo? vejam o �relat�rio de situa��o" elaborado pelo grupo de trabalho da amaz�nia (gtam) e distribu�do entre integrantes e colaboradores do chamado sistema brasileiro de intelig�ncia, cujo �rg�o central � a ag�ncia brasileira de intelig�ncia (abin): �a quest�o ind�gena atinge uma gravidade capaz de p�r em risco a seguran�a nacional. considerando a atual reivindica��o de autonomia e a possibilidade de futura reivindica��o de independ�ncia de na��es ind�genas, o quadro geral est� cada vez mais preocupante, especialmente na fronteira norte. as organiza��es n�o governamentais (ongs), algumas controladas por governos estrangeiros, adquiriram enorme influ�ncia, na maioria das vezes usada em benef�cio da pol�tica de suas na��es de origem, em detrimento do estado brasileiro. na pr�tica, substituem, nas �reas ind�genas, o governo nacional.� �quanto � presen�a militar estadunidense na amaz�nia, um componente relativamente novo na quest�o da seguran�a da regi�o amaz�nica brasileira � a crescente presen�a de assessores militares estadunidenses e a venda de equipamentos sofisticados �s for�as armadas colombianas, pretensamente para apoiar os programas de erradica��o das drogas, mas que podem ser utilizados no combate �s farc (for�as armadas revolucion�rias da col�mbia) e ao eln (ex�rcito de liberta��o nacional).� nem comento a reda��o, obra de semi-analfabetos. ao longo de todo o documento, a sigla onu nem mesmo aparece. a transforma��o das �reas ind�genas em na��es independentes, para quebrar a espinha dos estados nacionais a que pertencem, � um objetivo repetidamente proclamado pela onu, e as organiza��es n�o-governamentais presentes na amaz�nia s�o todas associadas � Onu, mas os iluminados experts militares que elaboraram o �relat�rio de situa��o� n�o t�m a coragem, n�o t�m a hombridade � ou n�o t�m a intelig�ncia -- de declarar que o territ�rio amaz�nico est� sendo ocupado pelo mesmo esquema internacional que orienta e subsidia os movimentos anti-americanos por toda parte. preferem fazer de conta que as �nicas for�as agentes no cen�rio do mundo s�o os estados nacionais e, por via desse racioc�nio, lan�am a culpa de tudo nos eua, aproveitando a ocasi�o, � claro, para bajular o esquerdismo imperante. afinal, depois de apanhar tanto dos esquerdistas, alguns dos nossos bravos militares parecem ter chegado � conclus�o de que � melhor humilhar-se voluntariamente do que sofrer humilha��o for�ada. falam da honra das for�as armadas, mas lhe d�o uma interpreta��o psicol�gica peculiar: n�o h� desonra em apanhar de algu�m a quem se ama; logo, se voc� est� sendo surrado, salve a honra apaixonando-se pelo agressor. o detalhe especialmente calhorda do relat�rio � a insinua��o � sem a mais m�nima prova -- de que o governo americano fornece armas �s farc. ora, o governo hugo ch�vez fornece armas �s farc, reconhecidamente, abertamente, e nunca os distintos autores dessa pe�a abjeta de desinforma��o reclamaram no mais m�nimo que fosse. as farc s�o o movimento armado mais hidrofobicamente anti-americano que j� existiu no continente, mas � certo que t�m boas rela��es com a central globalista que fomenta o anti-americanismo no mundo (v. meu artigo �por tr�s da subvers�o�, http://www.olavodecarvalho.org/semana/060605dc.html). quanto ao plano col�mbia, eu mesmo j� denunciei, vezes sem conta que foi um ardil globalista concebido para usar uma ag�ncia do governo americano como instrumento para entregar �s farc o monop�lio do narcotr�fico no continente, dando ainda aos esquerdistas, �nicos benefici�rios do plano, o pretexto de conden�-lo da boca para fora como como �inger�ncia imperialista�. mas os srs. membros do grupo de trabalho da amaz�nia n�o gostam de distin��es sutis. para eles, tudo o que � estrangeiro � �gringo� e, portanto, � agente do imperialismo americano. e que haja alguma liga��o, mesmo remota, entre a invas�o da amaz�nia por agentes da onu e o projeto governamental que tanto surpreende o senador simon � coisa que, decerto, nem lhes passa pela
cabe�a. o pt est� acima de qualquer suspeita. o pt � esquerda, portanto � patriota. o pt gosta da onu, portanto a onu nada faria contra n�s. nosso inimigo � o tio sam, � a direita, s�o os conservadores americanos. o brasil, em suma, tem um servi�o de intelig�ncia devotado ao emburrecimento pr�prio e da na��o inteira. o �relat�rio de situa��o� seria apenas o manifesto da ag�ncia nacional de falta de intelig�ncia, se n�o fosse tamb�m o do falso patriotismo.
o fim de uma longa farsa olavo de carvalho jornal do brasil, 1o de fevereiro de 2007
o ex-chefe da espionagem romena, ion mihai pacepa, confessou recentemente que a onda de acusa��es ao papa pio xii, que come�ou com a pe�a de rolf hochhuth, o vig�rio (1963), e culminou no livro de john cornwell, o papa de hitler (1999), foi de cabo a rabo uma cria��o da kgb. a opera��o foi desencadeada em 1960 por ordem pessoal de nikita kruschev. pacepa foi um de seus participantes diretos. entre 1960 e 1962 ele enviou a moscou centenas de documentos sobre pio xii. na forma original, os pap�is nada continham que pudesse incriminar o papa. maquiados pela kgb, fizeram dele um virtual colaborador de hitler e c�mplice ao menos passivo do holocausto (leiam a hist�ria inteira aqui). foi nesses documentos forjados que hochhuth se baseou para escrever sua pe�a, a qual acabou por se tornar o maior succ�s de scandale da hist�ria do teatro mundial. o dramaturgo talvez fosse apenas um idiota �til, mas erwin piscator, diretor do espet�culo e ali�s prefaciador da edi��o brasileira (grijalbo, 1965), era um comunista hist�rico com excelentes rela��es no kremlin e na kgb. muito provavelmente sabia da falsifica��o. costa-gavras, o diretor que em 2001 lan�ou a vers�o cinematogr�fica da pe�a, decerto cabe com hochhuth na categoria dos idiotas �teis. mas o mesmo n�o se pode dizer de john cornwell, que mentiu um bocado a respeito das fontes da sua reportagem, dizendo que havia feito extensas investiga��es na biblioteca do vaticano, quando as fichas da institui��o n�o registravam sen�o umas poucas e breves visitas dele. cornwell � vigarista consciente. o conte�do da sua den�ncia j� estava desmoralizado desde 2005, gra�as ao estudo do rabino david g. dalin, the myth of hitler�s pope, publicado pela regnery, do qual o p�blico brasileiro praticamente nada sabe at� agora, pois o livro n�o foi traduzido nem mencionado na grande m�dia. com a revela��o das fontes, nada sobra de confi�vel na lenda do �papa de hitler�, que, no brasil, gra�as � omiss�o da m�dia e das casas editoras, tem campo livre para continuar sendo alardeada como verdade pura. da grijalbo nada se pode esperar. � tradicionalmente pr�-comunista e nem sei se ainda existe. mas a imago, editora de o papa de hitler, parece ser honesta o bastante para reconhecer sua obriga��o moral de publicar o livro do rabino dalin. noto, de passagem, que eu mesmo, quando li a den�ncia de cornwell, acreditei em tudo e cheguei a cit�-la em artigo. que deus me perdoe. *** elogiado em san salvador pela sua fidelidade inflex�vel ao movimento comunista, homenageado na mesma semana em davos pela sua convers�o ao capitalismo, o
presidente lu�s in�cio lula da silva parece ser o maior enigma ideol�gico de todos os tempos. por�m ainda mais admir�vel � a recusa geral da m�dia em notar o paradoxo e pedir explica��es ao personagem. o c�rebro nacional tornou-se t�o lerdo e ap�tico que j� aceita sem reagir as informa��es mais desencontradas, a tudo aquiescendo com indiferen�a bovina e uma reconfortante sensa��o de normalidade.