Artigos De Junho De 2007

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este arquivo cont�m 11 artigos do prof olavo, publicados em junho de 2007.

os quatro cavalos do apocalipse jornal do brasil, 28 de junho o alquimista di�rio do com�rcio (editorial), 27 de junho conspira��o de iniq�idades di�rio do com�rcio, 25 de junho a farsa radical jornal do brasil, 21 de junho como debater com esquerdistas di�rio do com�rcio (editorial), 20 de junho remexidos pelo vira-bosta di�rio do com�rcio, 18 de junho golpistas e vigaristas jornal do brasil, 14 de junho a f�rmula para enlouquecer o mundo di�rio do com�rcio, 11 de junho orgulho nacional jornal do brasil, 07 de junho a venezuela vive. e o brasil agoniza di�rio do com�rcio, 04 de junho conseq��ncias mais que previs�veis di�rio do com�rcio, 04 de junho kenneth maxwell rides again di�rio do com�rcio, 1o de junho

os quatro cavalos do apocalipses olavo de carvalho jornal do brasil, 28 de junho de 2007

quando quatro livros de autores famosos s�o publicados quase ao mesmo tempo, defendendo opini�es substancialmente id�nticas por meio da mesma t�cnica argumentativa, � �bvio que n�o estamos diante de um festival de coincid�ncias, mas

de uma campanha destinada a prosseguir por meios cada vez mais abrangentes e a alcan�ar resultados bem mais substantivos do que o frisson publicit�rio de um momento. se, ademais, esse esfor�o vem junto com medidas legais tomadas em v�rios pa�ses para dar imediata realiza��o pr�tica ao mesmo objetivo que os livros prop�em como ideal e desej�vel -- expelir a religi�o da vida p�blica --, ent�o � claro que o intuito dessas obras n�o � colocar nada em discuss�o, n�o � nem mesmo persuadir, � apenas legitimar a imposi��o de poder mediante uma camuflagem de debate p�blico. as contribui��es pessoais dos srs. sam harris, richard dawkins, daniel dennett e christopher hitchens � guerra anticrist� mundial destacam-se pela uniformidade com que apelam a uma t�cnica argumentativa inusitada, rar�ssima, t�o contrastante com o seu prest�gio, que a probabilidade de ter ocorrido espontaneamente aos quatro � de um infinitesimal tendente a zero. chego a me perguntar se esses livros foram realmente escritos por seus autores nominais, se estes n�o se limitaram a dar acabamento a rascunhos preparados por algum engenheiro comportamental. esse modus arg�endi , j� conhecido dos antigos ret�ricos mas quase nunca usado em debates intelectuais, consiste em apresentar com ares de seriedade, e com o respaldo de uma credibilidade pessoal pr�via, argumentos propositadamente indignos dela: vulgares, grosseiros e fundados numa ignor�ncia monstruosa das complexidades do assunto. � primeira vista o advers�rio (por exemplo michael novak na national review de maio) imagina que os quatro ficaram loucos, que, arrebatados pelo �dio, abdicaram de toda sofistica��o intelectual e resolveram dar a cara a tapa. mas o tapa n�o os atinge. a t�cnica que empregam n�o se usa para vencer uma discuss�o, e sim para impossibilit�-la. nenhuma discuss�o � vi�vel sem a posse comum de um corpo de conhecimentos fundamentais sobre a mat�ria em debate. se um dos lados se furta propositadamente a tratar do assunto no n�vel intelectual requerido, o interlocutor s�rio n�o tem alternativa sen�o explicar tudo desde o princ�pio, alongando-se em sutilezas que dar�o a penosa impress�o de embroma��es pedantes e que o audit�rio, fundado na confian�a usual que tem na autoridade do outro lado, muito provavelmente se recusar� a ouvir. william hazlitt, num ensaio cl�ssico, j� falava das �desvantagens da superioridade intelectual�, mas n�o previu que elas se tornariam ainda maiores no confronto com a ignor�ncia planejada. nem mesmo os maiores trapaceiros ideol�gicos do s�culo xx, um sartre ou um chomsky, se rebaixaram ao ponto de apelar a esse expediente e fazer da burrice uma ci�ncia, como temia o nosso ruy barbosa. a vida intelectual no mundo teve de perder o �ltimo vest�gio de dignidade para que pudessem aparecer, no horizonte dos debates letrados, os quatro cavalos do apocalipse.

o alquimista olavo de carvalho di�rio do com�rcio (editorial) , 27 de junho de 2007

o mesmo governo que continua paparicando as farc enquanto elas ensinam o comando vermelho e o pcc a matar cinq�enta mil brasileiros por ano est� ocupad�ssimo em

proteger gays e l�sbicas contra o risco tem�vel de ser atingidos, em plena via p�blica, por vers�culos da b�blia. o mesmo governo que promove o ensino do homossexualismo nas escolas infantis quer defender as almas puras das crian�as contra a imoralidade dos programas de tv. o mesmo governo que com l�grimas nos olhos denuncia mais de um milh�o de mortes de mulheres em abortos ilegais informa-nos agora que o n�mero total de abortos ilegais � mais ou menos esse � o que n�o deixaria muitas mulheres para contar a hist�ria. esse governo ficou louco ou quer apenas nos enlouquecer a n�s? aposto, decididamente, nas duas hip�teses. ele quer nos enlouquecer porque � louco -- mas n�o � louco do tipo que quer que n�s nos tornemos. ele quer infundir em n�s a loucura da estupidez, da completa desorienta��o no espa�o e no tempo. para si ele conserva a loucura da ambi��o ilimitada, o sonho infame de tornar-se o �poder invis�vel e onipresente� de que falava antonio gramsci, o manipulador supremo de tudo e de todos, o autor secreto do curso da hist�ria. ele quer para n�s a loucura que debilita e paralisa, a loucura da impot�ncia. para ele pr�prio, a loucura do poder absoluto. ningu�m jamais compreender� o governo lula se n�o levar em conta a sua dupla agenda, decorrente da sua condi��o mesma, mil vezes proclamada ante ouvidos moucos, de governo de transi��o para o socialismo. um governo normal joga segundo uma regra preexistente: ele tem metas econ�micas, administrativas e sociais declaradas, as quais t�m de se transformar em resultados e tornar-se vis�veis para ser julgadas, na pr�xima elei��o, pelo mesmo p�blico que aprovou o plano inicial. um governo revolucion�rio joga segundo uma regra futura que s� ele conhece. ele n�o tem de ser aprovado sen�o por si mesmo, porque sua finalidade �nica � justamente impor a nova regra, � qual o p�blico tem adaptar-se sem julg�-la, sem nem mesmo pedir explica��es. um governo de transi��o � uma criatura bic�fala que tem de jogar ao mesmo tempo segundo as duas regras, operando a transmuta��o alqu�mica que mudar� a primeira de realidade vigente em mera apar�ncia, a segunda de vaga hip�tese em dura realidade. lula � ao mesmo tempo o presidente regularmente eleito para consolidar a democracia e o agente do foro de s�o paulo incumbido de tranform�-la no seu contr�rio. quanto mais louco ele parece no primeiro desses pap�is, mais h�bil e eficiente se revela no segundo, aos olhos de quem � capaz de observ�-lo nesses dois planos ao mesmo tempo. quanto mais insensato o seu desempenho de economista e administrador, mais admir�vel ele se torna como mago alquimista, transmutador n�o s� do brasil mas do continente inteiro. cada uma de suas a��es reflete a ambig�idade do seu papel hist�rico mas, para o observador atento, serve como �ndice do progresso alcan�ado na realiza��o alqu�mica. o futuro deste pa�s depende de que o n�mero de observadores atentos cres�a antes que a transmuta��o se complete invisivelmente.

conspira��o de iniq�idades olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 25 de junho de 2007

o movimento profundo da hist�ria revela-se menos nas manchetes assustadoras do que em acontecimentos mais discretos que tenham o dom da tipicidade ilimitadamente reprodut�vel. fatos espetaculares podem passar sem deixar marcas, mas pequenos gestos repetidos milhares de vezes mudam irreversivelmente os h�bitos da psique humana e transformam aos poucos a exce��o em regra, o inesperado em rotina cotidiana, o absurdo em banalidade usual. dois epis�dios menores da semana p�em � mostra os germes do futuro brasil, gerado nos escrit�rios de engenharia comportamental dos autonomeados governantes do mundo e plantados no solo p�trio pela solicitude devota da milit�ncia esquerdista local. primeiro acontecimento: ter�a-feira passada, um aluno da escola estadual darcy pacheco, em s�o jos� do rio preto, sp, ateou fogo aos cabelos da professora iramar ara�jo Sachetini. sob os risos de toda a classe, s� uma aluna correu para ajudar a professora, impedindo-a de sofrer queimaduras desfigurantes. a secretaria estadual de educa��o anunciou que o menino n�o ser� punido, porque seu delito �n�o foi grave� (sic) e aconselhou seu pai a n�o transferi-lo para outro estabelecimento, porque isso poderia trazer dano � sua carreira escolar. a aluna que socorreu a professora, no entanto, n�o tem comparecido �s aulas, por medo da repres�lia de seus colegas. nenhuma medida para proteg�-la foi anunciada pela secretaria ou pela diretoria da escola. a professora, humilhada tr�s vezes -agredida pelo aluno, ridicularizada pela classe e frustrada em seu pedido de puni��o para o agressor � est� desesperada e n�o sabe a quem recorrer. segundo acontecimento: os cartazes da campanha vis�o nacional para a consci�ncia crist�, com o t�tulo "homossexualismo" � a frase do g�nesis , "e deus fez o homem e a mulher e viu que era bom", foram considerados "homof�bicos" e retirados da cidade de campina grande, na para�ba, por ordem da ju�za maria em�lia neiva de oliveira, da primeira vara c�vel daquela cidade, a pedido de entidades ligadas ao movimento gay. acontecimentos dessa ordem multiplicam-se diante dos nossos olhos, mostrando a germina��o acelerada dos novos valores e princ�pios que h�o de imperar sobre a vida brasileira antes de decorrida uma gera��o. rastrear at� suas fontes a inspira��o ideol�gica que os determina � enxergar antecipadamente o brasil em que viver�o, n�o digo os nossos filhos nem nossos netos, mas n�s mesmos � ou aqueles de n�s que tiverem a imprud�ncia de permanecer no pa�s -- nos dias tenebrosos de uma velhice humilhada e impotente. cabe lembrar aqui a m�xima latina "de te fabula narratur": voc� � o personagem desta hist�ria. � da sua velhice que estou falando. na interpreta��o desses pequenos acontecimentos vigora um preceito metodol�gico que j� expliquei mil vezes nas minhas aulas de filosofia pol�tica: o efeito hist�rico de fatos dessa natureza transcende de muito o horizonte de consci�ncia dos agentes envolvidos. para discerni-lo � preciso remontar a fontes ideol�gicas �s vezes bastante long�nquas que projetaram na tela a linha inteira de uma seq��ncia de transforma��es hist�rico-culturais na qual aquelas a��es em

particular se inserem como elos de uma corrente sem fim. por tr�s dessas duas a��es existe a op��o por um corpo de princ�pios morais (ou mais propriamente imorais) cujo sentido os personagens envolvidos, decerto, mal t�m a condi��o de compreender. para o analista distanciado, � imposs�vel n�o perceber que esses princ�pios expressam a repulsa gn�stica pela ordem da realidade e o sonho revolucion�rio do "mundo �s avessas". a revolta contra esta ou aquela ordem social em particular � sempre e invariavelmente nada mais que um pretexto ret�rico local para dar curso ao �dio gn�stico contra a realidade enquanto tal em todas as suas express�es poss�veis, das quais a mais �bvia � a ordem dos valores que preside a toda sociedade normal, isto �, n�orevolucion�ria (chamo assim a sociedade devotada � manuten��o usual do bem comum e n�o empenhada na sua pr�pria destrui��o). a express�o mais �bvia de toda e qualquer hierarquia social � a "discrimina��o": a distin��o entre seus membros mais valiosos e menos valiosos, conforme sua contribui��o -- real ou suposta -- � consolida��o ou destrui��o da ordem. uma sociedade sem discrimina��es � a mesma coisa que um c�digo penal sem puni��es. sociedade � discrimina��o. as sociedades diferem apenas pelos crit�rios de discrimina��o, que v�o desde a separa��o racional entre os elementos ben�ficos e nocivos at� �s formas mais extravagantes de exclus�o baseadas em temores mitol�gicos, orgulho racial demente, preconceitos ideol�gicos de classe etc. desde o momento em que uma c�ndida humanidade aceitou como coisa �bvia, normal e improblem�tica a promessa globalista de erradicar "todas as discrimina��es", era claro para todo observador qualificado que a proclama��o desse objetivo, manifestamente imposs�vel, ocultava apenas um plano revolucion�rio destinado a mudar os crit�rios, a instaurar novas formas de discrimina��o, necessariamente mais violentas e injustific�veis do que as anteriores. vale a� o seguinte preceito de m�todo: se um l�der pol�tico ou grupo militante promete o imposs�vel, das duas uma � ou ele � louco, ou est� querendo alguma outra coisa perfeitamente poss�vel que n�o lhe conv�m declarar em voz alta. nos dois casos a promessa tende a conquistar os cora��es e mentes com mais facilidade do que qualquer projeto vi�vel. a loucura � contagiosa em si; nenhum argumento racional pode contra o arrebatamento da esperan�a ut�pica. no segundo caso, a efici�ncia da transmuta��o maquiav�lica mede-se pela multiplica��o da for�a do atrativo ut�pico pelo poder formid�vel da a��o camuflada, imune a suspeitas. o novo crit�rio de discrimina��o que se est� sendo implantando no brasil pode ser estudado numa seq��ncia de documentos que v�m desde a propaganda gn�stica dos s�culos xiii e xiv at� as doutrinas da escola de frankfurt, do desconstrucionismo, do feminismo radical, do movimento gay , etc. ao longo do tempo, a corrente de �dio insano � ordem do real, nascendo em pequenos grupos de fan�ticos religiosos, vai se avolumando e se transformando numa enorme e complexa estrat�gia de poder, at� o ponto em que a desordem e a destrui��o se tornam elas mesmas os princ�pios fundantes de uma nova ordem em que todos os meios de a��o pr�tica criados pela raz�o s�o subjugados e postos a servi�o da absurdidade e do mal. � o imp�rio do crime. os leitores, por favor, resguardem-se de entender essa express�o como sin�nimo apenas de uma ordem social regida por grupos criminosos. n�o se trata do imp�rio dos criminosos , mas do imp�rio do crime enquanto tal: uma ordem social na qual tudo aquilo que os mil�nios consideraram abomin�vel ou desprez�vel � entronizado como obriga��o m�xima e cl�usula p�trea, proibindo e criminalizando tudo o que a humanidade anterior sempre considerou bom, correto e desej�vel. o amor familiar � condenado como camuflagem da viol�ncia dom�stica e da pedofilia, enquanto os estupradores e ped�filos aut�nticos s�o protegidos como v�timas da sociedade m�. a devo��o religiosa � estigmatizada como disfarce de todas as paix�es mais baixas, enquanto estas, na sua vers�o mesmo a mais crua e direta, s�o elevadas � categoria de padr�es normativos obrigat�rios. todas as rela��es humanas, denunciadas como �v�u ideol�gico� estendido sobre rela��es de

poder, s�o trocadas, ao som de fanfarras, pela manifesta��o brutal do poder expl�cito, celebrado como salvador e humanit�rio. todo o universo criado, onde o imp�rio relativo do bem mantinha o mal sob controle, � acusado de ser um imenso engodo, e o imp�rio do mal expl�cito � aclamado como �nica e definitiva encarna��o da bondade, como reino da justi�a. no curso da invers�o, apela-se ao ressentimento latente de todos os grupos e indiv�duos que, justa ou injustamente, tenham recebido uma cota menor de benef�cios da ordem social vigente. pelo simples fato de pertencer a um deles, cada indiv�duo se sente agora identificado ao cristo vingador, portador do ju�zo final que abrir� as portas ao reino da bem-aventuran�a eterna ap�s o castigo dos maus. o fato de que ningu�m perten�a exclusivamente nem inteiramente ao grupo dos injusti�ados ou ao dos injustos, mas de que todos participem necessariamente de um e de outro em graus variados e sob aspectos diversos, � totalmente escamoteado. fica proibido mencionar que a mulher oprimida pelo marido � n�o raro a opressora da empregada, que o homossexual afetado de coitadice pode ser ao mesmo tempo um feroz explorador dos pobres, que o trabalhador v�tima da mis�ria deprimente pode acumular tamb�m as fun��es de espancador da mulher e dos filhos; e assim por diante. por um momento, no entusiasmo da propaganda, todos t�m impress�o de que se trata de "n�s" contra "eles". ningu�m percebe que, sempre e invariavelmente, sob algum aspecto que escapa � sua aten��o no momento, cada um de �n�s� � tamb�m �um deles�. mas o confronto com essa dura realidade pode ser adiado para depois da festa revolucion�ria, quando vier a hora de pagar as contas. �summum jus, summa injuria�, diziam os juristas romanos: a justi�a perfeita � a perfeita injusti�a. a promessa da justi�a universal � uma s� e mesma coisa que o imp�rio do crime. assim como na esfera pol�tica todos que serviram nos primeiros postos das grandes revolu��es foram sempre os primeiros a ser perseguidos e assassinados pela nova ordem que elas constitu�ram, assim tamb�m os que se presumem benefici�rios da transmuta��o gn�stica de valores ser�o destru�dos implacavelmente pelo pr�prio poder que imaginam ter conquistado. na dial�tica da transmuta��o h� um detalhe ret�rico digno da maior aten��o: os efeitos reais a ser obtidos jamais podem ser proclamados em toda a sua crueza. sua verdadeira �ndole deve ser ocultada sob pretextos extra�dos do mesmo corpo de valores que se deseja destruir. a desordem deve ser justificada em nome da ordem, o crime em nome da lei, a brutalidade em nome dos mais delicados sentimentos. nos dois exemplos acima isso fica bem n�tido. atear fogo aos cabelos de uma pessoa � arriscar desfigur�-la para o resto da vida. esse resultado teria sido alcan�ado se uma aluna em particular, vencendo o temor dos risos gerais, n�o socorresse a v�tima em tempo. se as autoridades incumbidas de educar o agressor proclamam que seu delito "n�o � grave" e que a carreira normal do estudante n�o pode ser afetada pelo detalhe irris�rio de haver colocado em risco a sa�de e a vida de outrem, a premissa oculta a que esse argumento faz apelo � a natural benevol�ncia adulta para com os adolescentes; benevol�ncia que nasce da mesma estrutura familiar e da mesma ordem tradicional de valores que atrav�s dessa apologia da delinq��ncia se pretende precisamente destruir. os bons sentimentos da pr�pria v�tima s�o usados como justificativa ex post facto do crime. evidentemente a secretaria da educa��o, ao minimizar a gravidade do delito, refor�a o coro de risos da plat�ia juvenil, ensinando aos gaiatos s�dicos que n�o � feio rir daquilo que a autoridade revolucion�ria n�o acha grave. por um momento, o agente da transmuta��o deve ocultar de si pr�prio o maquiavelismo da t�tica que emprega, pois, se o trouxesse � luz da consci�ncia, perceberia instantaneamente a monstruosidade criminosa do seu procedimento, mil vezes mais feio que o do pr�prio garoto incendi�rio. invertendo a ordem da justi�a, punindo com humilha��o e discrimina��o a professora e a aluna que a socorreu, a secretaria da educa��o constitui-se, aos olhos do observador realista, em organiza��o criminosa de alt�ssima periculosidade, imbu�da da tarefa de espalhar entre a juventude o amor

ao crime e o desprezo c�nico pelas v�timas. no caso da senten�a dada pela ju�za paraibana, est� claro que � aplica��o antecipada de uma lei ainda em vota��o. descriminalizar umas condutas e criminalizar outras � a natureza mesma da transmuta��o revolucion�ria. a aprova��o dos diplomas legais correspondentes � apenas um formalismo jur�dico que, no curso do processo, pode ser perfeitamente dispensado em favor da imposi��o brutal que d� vigor imediato �s leis hipot�ticas desejadas pelo grupo militante. o processo legislativo torna-se assim apenas um adorno legal acrescentado ao verdadeiro e �nico poder legiferante, que � a milit�ncia organizada, equipada do �nico argumento juridicamente v�lido: a capacidade de intimidar. notem que a frase proibida � uma das primeiras da b�blia. mal os crist�os come�am a tomar consci�ncia de uma trama destinada a criminalizar o livro sagrado e, antes que acabem de acordar para o que pode vir a acontecer, j� aconteceu. antes que voc� acabe de ler o convite para o duelo, o atacante j� o desventrou com uma punhalada. n�o � coincid�ncia nem engano. propor uma novidade fingindo querer discuti-la democraticamente, e ao mesmo tempo j� tratar de imp�-la na pr�tica como se estivesse universalmente aprovada -- eis o estilo de a��o mais antigo e invari�vel dos movimentos revolucion�rios. o detalhe particularmente c�nico do epis�dio � que a express�o tranq�ila, respeitosa e at� solene de desaprova��o moral de um costume er�tico, desacompanhada de qualquer insulto ou palavra constrangedora, � criminalizada como conduta anti-social, ao passo que o ataque direto e brutal ao sentimento religioso da maioria dos brasileiros, por meio da chala�a grosseira e da blasf�mia intencional como se viu na passeata gay em s�o paulo , � protegido pela justi�a como um direito elevado e nobre. a grande m�dia refor�a o assalto � religi�o, subscrevendo a classifica��o da campanha evang�lica como �crime de homofobia� sem esperar que a lei o fa�a e legitimando como direito civil o ultraje p�blico aos sentimentos religiosos da multid�o e a interrup��o proposital de ritos religiosos, crime previsto e condenado pelo c�digo penal no seu artigo 208. despreza-se a lei existente, aplica-se a inexistente. n�o imaginem que haja nisso uma absurdidade acidental, um ato falho freudiano, um ponto fraco na estrat�gia revolucion�ria. a incongru�ncia da situa��o � calculada meticulosamente para desorientar e paralisar a v�tima ou para induzi-la a rea��es inadequadas que a coloquem em posi��o ainda mais vulner�vel. exemplo disso em escala internacional � a hedionda campanha antijudaica baseada numa ret�rica deliberadamente paradoxal: acusar os judeus de racismo e legitimar o antisemitismo como rea��o das pobres v�timas da prepot�ncia israelense. o judeu ao qual de repente se imputa o mesmo crime que matou seis milh�es de seus patr�cios sofre uma injusti�a t�o extrema, t�o intoler�vel, que tudo a� o induz � rea��o excessiva e inconseq�ente, apta a atrair sobre ele as antipatias gerais. a antidefamation league (adl) se fez v�tima dessa s�ndrome ao mover uma campanha alarmista, exagerada e objetivamente injusta contra o filme de mel gibson, a paix�o de cristo , irritando os f�s do cineasta e arriscando mesmo romper a alian�a judaico-crist� da qual depende a pr�pria sobreviv�ncia do estado de israel. uma nova campanha, rec�m-lan�ada, acerta muito mais o alvo e mostra que a adl, refeita da febre anti-gibson, aprendeu a identificar melhor as fontes do perigo genu�no (v. deolhonamidia.org). mas os crist�os, pessimamente informados sobre as persegui��es que seus correligion�rios sofrem no mundo e iludidos pela seguran�a aparente oferecida por um governo de falsos crentes, est�o totalmente despreparados para lidar com a armadilha psicol�gica que a mal�cia revolucion�ria preparou para peg�-los.

o pr�prio conte�do dos cartazes mostra a ingenuidade das suas rea��es. eles n�o se voltam contra a prepot�ncia ditatorial das pretens�es gays , mas contra o homossexualismo em si. j� expliquei, aqui, o erro fatal a� embutido (v. as partes finais do artigo �conseq��ncias mais que previs�veis�, http://www.olavodecarvalho.org/semana/070604dc.html ). todo o uso estrat�gico do homossexualismo como arma revolucion�ria baseia-se na id�ia de primeiro nivelar como igualmente respeit�veis a f� religiosa e um simples desejo de determinado tipo de prazeres sexuais, depois sobrepor este �quela e por fim esmagar por completo os direitos da consci�ncia religiosa. ao responder com uma apologia da heterossexualidade, os advers�rios do gayzismo se submetem passivamente ao engodo nivelador, transformando a discuss�o inteira em confronto de orienta��es sexuais e dando assim ao advers�rio a vit�ria no primeiro round . o heterossexualismo, enquanto tal, n�o � moralmente superior ao homossexualismo. a quase totalidade das condutas heterossexuais numa sociedade permissiva � francamente imoral. o espertalh�o que tra�a a mulher do vizinho � heterossexual. o professor que abusa de suas alunas � heterossexual. o patr�o que intimida a empregada para lev�-la para a cama � for�a � heterossexual. o sedutor que promete casamento e foge depois do orgasmo � heterossexual. e � heterossexual, por defini��o, o estuprador de mulheres. consideraremos todas essas condutas mais toler�veis que a de dois garotos que se trancam num banheiro de escola para trocar car�cias gays ? teremos perdido totalmente o senso das propor��es? o que se deve defender contra a propaganda gay n�o � o heterossexualismo em si, mas sim a superioridade intr�nseca da devo��o religiosa em compara��o a qualquer conduta sexual que seja. rebaixar a um mero confronto de orienta��es sexuais uma quest�o infinitamente mais alta, infinitamente mais decisiva para o destino da humanidade, � cair numa armadilha s�rdida, preparada com requintes de maquiavelismo por engenheiros comportamentais que contavam com essa rea��o das v�timas para mais facilmente as poder qualificar como preconceituosas, machistas e, por defini��o, culpadas de �homofobia�. nos dois casos, estamos diante de uma dose incalcul�vel de mal�cia, de perversidade psicol�gica que raia a sociopatia pura e simples, e isto n�o da parte dos militantes vulgares que esbravejam nas ruas, mas da parte de seus mentores intelectuais e pol�ticos espalhados nos altos escal�es do governo, nas c�tedras universit�rias, nas diretorias dos �rg�os de m�dia. todo aquele que acha que � poss�vel enfrentar essas coisas mediante discuss�es polidas, sen�o mediante apelos lacrimosos �s mesmas autoridades que dirigem o processo, � mais que tolo, � doente de ingenu�smo covarde e de estupidez criminosa que fazem da v�tima a c�mplice maior do seu pr�prio estupro e assassinato. no fim, n�o se pode dizer que n�o vigore a� algum tipo de justi�a: aqueles que querem matar matam aquele que pede que algu�m o mate. as revolu��es sociais s�o uma conspira��o de iniq�idades de parte a parte. n�o � raro que as v�timas, tr�mulas de medo ante o agressor, se deixem iludir pela esperan�a louca de conquistar sua afei��o mediante gestos de subservi�ncia ou de aplacar sua f�ria mediante a oferta de propinas. tamb�m n�o � raro que, na �nsia de seduzir o agressor, voltem sua ira contra aquele que o denuncia (isso j� me aconteceu tantas vezes que j� perdi a conta). se fosse preciso ilustrar a loucura completa dessas rea��es, bastaria lembrar o caso recente do empres�rio wagner canhedo, preso pela posse de um miser�vel rev�lver calibre 357 que aqui na am�rica qualquer um pode comprar na esquina sem licen�a nenhuma. canhedo jamais recusou ajuda aos partidos de esquerda. eles o perseguem precisamente por isso. nos partidos comunistas h� uma norma tradicional de senso comum. se algu�m d� dinheiro ao partido, das duas uma: ou � um �companheiro nosso� ou � �algu�m que quer nos enganar�. na primeira hip�tese, est� sob total controle e isto o partido

pode averiguar facilmente; na segunda, o sujeito entra imediatamente na lista dos inconvenientes a ser eliminados na primeira oportunidade. quem quer que espere aplacar revolucion�rios mediante oferta de vantagens financeiras � candidato � morte certa e n�o de todo imerecida. a injusti�a perfeita � t�o inexistente quanto a perfeita justi�a.

a farsa radical olavo de carvalho jornal do brasil, 21 de junho de 2007

o capitalismo distribuiu a imensas massas de classe m�dia benef�cios que antes eram privil�gios da aristocracia. mas a aristocracia pagava um alto pre�o por eles: era a casta guerreira, pronta a morrer no campo de batalha em lugar dos comerciantes e camponeses, isentos a priori de obriga��o militar. uma vida de liberdade e prazeres � sombra da morte iminente ou uma vida de trabalho e abstin�ncia na relativa seguran�a da rotina econ�mica, eis as duas formas b�sicas de exist�ncia que, no seu equil�brio m�tuo, marcaram o repert�rio da humanidade ocidental at� pelo menos o come�o do s�culo xix. cento e poucos anos bastaram para que, em amplas �reas da superf�cie terrestre, n�o s� o acesso a uma quantidade de bens materiais nunca antes imaginados, mas a liberdade e os meios para a busca de prazeres praticamente sem limites fossem abertos � pequena burguesia e a boa parte da classe trabalhadora, sem que a isso correspondesse um acr�scimo de obriga��es morais. bem ao contr�rio, a demanda crescente de satisfa��es veio acompanhada de uma intoler�ncia cada vez maior ao sofrimento e da revolta geral contra toda forma de �repress�o�. a eternidade e a morte desapareceram do horizonte, a primeira tornando-se uma fic��o de outras �pocas, a segunda uma id�ia indecente, proibida nas conversa��es saud�veis. em pouco tempo a europa e as am�ricas povoaram-se de uma nova classe de adolescentes cr�nicos, �vidos de sensa��es, rebeldes a toda limita��o, desfrutando da obra dos s�culos como se fosse um direito natural e vivendo cada dia como se fosse a data inaugural de uma esp�cie de eternidade terrestre. posti�a, desequilibrada, f�til e baseada na ingratid�o radical para com as gera��es anteriores, essa forma de vida produziu uma tremenda acumula��o de culpas inconscientes, as quais, n�o podendo recair sobre os culpados aut�nticos � que toleram a id�ia de culpas ainda menos que a da morte -- s�o projetadas de volta sobre a fonte de seus benef�cios imerecidos. da� o aparente paradoxo, tantas vezes notado, de que o �dio ao capitalismo n�o germine entre suas supostas v�timas, os pobres, mas justamente entre seus principais favorecidos: a classe m�dia, os estudantes e intelectuais, o beautiful people da m�dia e da moda, os filhinhos-depapai que v�o � universidade num bmw de cem mil d�lares e destr�em o refeit�rio porque a comida n�o � de gra�a. n�o h� nisso paradoxo algum: h� apenas a l�gica implac�vel da proje��o neur�tica. a premissa oculta dessa l�gica � o fato de que o verdadeiro pecado do capitalismo, a ruptura do equil�brio natural entre prazeres e deveres, n�o pode ser denunciado. tornou-se um tabu. � preciso ent�o inventar culpas imagin�rias, negar a realidade manifesta da prosperidade geral crescente e, num giro l�gico formid�vel, imputar ao capitalismo at� mesmo a mis�ria dos pa�ses socialistas.

grande ou pequeno, moderado ou extremado, todo rebelde anticapitalista, sem exce��o, � um farsante � n�o s� nas suas atitudes exteriores, mas na base mesma da sua personalidade, na raiz do seu estilo de vida.

como debater com esquerdistas olavo de carvalho di�rio do com�rcio (editorial) , 20 de junho de 2007

os liberais e conservadores deste pa�s nunca h�o de tirar o p� da lama enquanto continuarem acreditando que nada mais os separa dos esquerdistas sen�o uma diverg�ncia de id�ias, apta a ser objeto de polidas discuss�es entre pessoas igualmente honestas, igualmente respeit�veis. a diferen�a espec�fica do movimento revolucion�rio mundial � que ele infunde em seus adeptos, servidores e mesmo simpatizantes uma subst�ncia moral e psicol�gica radicalmente diversa daquela que circula nos cora��es e mentes da humanidade normal. o revolucion�rio sente-se membro de uma supra-humanidade ungida, portadora de direitos especiais negados ao homem comum e at� mesmo inacess�veis � sua imagina��o. quando voc� discute com um esquerdista, ele se ap�ia amplamente nesses direitos, que voc� ignora por completo. a regra comum do debate, que voc� segue � risca esperando que ele fa�a o mesmo, � para ele apenas uma cl�usula parcial num c�digo mais vasto e complexo, que confere a ele meios de a��o incomparavelmente mais flex�veis que os do advers�rio. para voc�, uma prova de incoer�ncia � um golpe mortal desferido a um argumento. para ele, a incoer�ncia pode ser um instrumento precioso para induzir o advers�rio � perplexidade e subjug�-lo psicologicamente. para voc�, a contradi��o entre atos e palavras � uma prova de desonestidade. para ele, � uma quest�o de m�todo. a pr�pria vis�o do confronto pol�mico como uma disputa de id�ias � algo que s� vale para voc�. para o revolucion�rio, as id�ias s�o partes integrantes do processo dial�tico da luta pelo poder; elas nada valem por si; podem ser trocadas como meias ou cu�cas. todo revolucion�rio est� disposto a defender �x� ou o contr�rio de �x� conforme as conveni�ncias t�ticas do momento. se voc� o vence na disputa de �id�ias�, ele tratar� de integrar a id�ia vencedora num jogo estrat�gico que a fa�a funcionar, na pr�tica, em sentido contr�rio ao do seu enunciado verbal. voc� ganha, mas n�o leva. a disputa com o revolucion�rio � sempre regida por dois c�digos simult�neos, dos quais voc� s� conhece um. quando voc� menos espera, ele apela ao c�digo secreto e lhe d� uma rasteira. voc� pode se escandalizar de que um desertor das tropas nacionais seja promovido a general post mortem enquanto no regime que ele desejava implantar no pa�s o fuzilamento sum�rio � o destino n�o s� dos desertores, mas de meros civis que tentem abandonar o territ�rio. voc� acha que denunciando essa monstruosa contradi��o acertou um golpe mortal nas convic��es do revolucion�rio. mas, por dentro, ele sabe que a contradi��o, quanto menos explicada e mais escandalosa, mais serve para habituar o p�blico � cren�a impl�cita de que os revolucion�rios n�o podem ser julgados pela moral comum. a derrota no campo dos argumentos l�gicos � uma vit�ria psicol�gica incomparavelmente mais valiosa. serve para colocar a causa revolucion�ria acima do alcance da l�gica. voc� n�o pode derrotar o revolucion�rio mediante simples �argumentos�. a eles � preciso acrescentar o desmascaramento psicol�gico integral de uma t�tica que n�o visa a vencer debates, mas a usar como um instrumento de poder at� mesmo a pr�pria

inferioridade de argumentos. em cada situa��o de debate � preciso transcender a esfera do confronto l�gico e p�r � mostra o esquema de a��o em que o revolucion�rio insere a troca de argumentos e qual o proveito psicol�gico e pol�tico que pretende tirar dela para muito al�m do seu resultado aparente. mas isso quer dizer que o �nico debate eficiente com esquerdistas � aquele que n�o consente em ficar preso nas regras formais num confronto de argumentos, mas se aprofunda num desmascaramento psicol�gico completo e impiedoso. provar que um esquerdista est� errado n�o significa nada. voc� tem � de mostrar como ele � mau, perverso, falso, deliberado e maquiav�lico por tr�s de suas apar�ncias de debatedor sincero, polido e civilizado. fa�a isso e voc� far� essa gente chorar de desespero, porque no fundo ela se conhece e sabe que n�o presta. n�o lhe d� o consolo de uma camuflagem civilizada tecida com a pele do advers�rio ing�nuo.

remexidos pelo vira-bosta olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 18 de junho de 2007 resposta a artigo de armindo abreu sob o t�tulo "o vira-bosta da virg�nia" que ser� publicado no mesmo n�mero do dc.

o vira-bosta leva esse nome porque remexe coc�s. mere�o o apelido, porque h� tempos n�o fa�o outra coisa. que mais resta a um comentarista pol�tico no brasil de hoje? � normal, portanto, que de vez em quando alguns dos remexidos protestem. � tamb�m previs�vel que o fa�am naquela linguagem rebuscada, tortuosa e lombric�ide de orat�ria interiorana, que na obscuridade intestinal em que vegetam lhes parece o suprassumo da eleg�ncia liter�ria. apenas � fatal que, no manejo desses complexos arranjos verbais, �s vezes percam o rumo do que pretendiam dizer e acabem se melando a si pr�prios na mat�ria excrement�cia com que planejavam sujar o advers�rio. lembro-me do ex-ministro da justi�a e assaltante de bancos aposentado, aloysio nunes ferreira filho, que ao ler uma sondagem que fiz de suas id�ias me acusou de �mergulhar no esterco�, n�o me deixando alternativa sen�o lhe dar raz�o. o sr. armindo abreu segue-lhe o exemplo. desejando espalhar suspeitas escabrosas sobre as fontes do meu sustento nos eua (� a cia? � o departamento de estado?), comete a gafe irrepar�vel de envi�-las justamente ao jornal que paga o meu sal�rio de correspondente em washington. pretendendo afetar ol�mpico desprezo � minha pessoa, n�o consegue esconder os tremeliques de gozo que sacodem a sua vaidade senil ante a not�cia de que foi mencionado na minha coluna � certamente o seu maior momento de gl�ria nesta vida. jurando que jamais me dirigiu a palavra, esquece que me dirigiu alguns milhares delas, j� que me enviou um livro inteiro, decerto por saber que eu jamais o compraria. e, acusando-me de ter-lhe feito na minha coluna um ataque imotivado e gratuito, finge esquecer que o trecho mencionado n�o pode ter sido nem uma coisa nem a outra, pois foi escrito em resposta a coisas cabeludas que ele dissera de mim antes. por que � que esse sujeito n�o tem um pouco de compaix�o por si mesmo? por que n�o rel� o que escreve, em vez de se expor ao rid�culo dessa maneira? mas no brasil de hoje � assim: nem a subst�ncia fecal jogada no ventilador pode

mais confiar no controle de v�o. a nota que publiquei sobre o sr. abreu tinha doze linhas. ele me respondeu com 163. se o leitor tiver a caridade de as ler at� o fim, verificar� que n�o respondem a nada ao que eu disse dele na coluna do dia 26. o sr. armindo, escrevi ali, �cacareja que meus artigos de 1999 foram plagiados do seu livro de 2005, que eu nunca disse uma palavra contra o establishment americano e que o foro de s�o paulo � �uma entidade quase ficcional'. pela exatid�o de qualquer das tr�s afirma��es mede-se a veracidade das outras duas. como ele tamb�m me acusa de cal�nia, inj�ria e difama��o, mas n�o diz a quem caluniei, injuriei ou difamei, � ele quem, no mesmo ato, comete esses tr�s crimes contra mim.� na sua resposta, ele n�o desmente nem justifica nenhuma de suas imputa��es. ao contr�rio, acrescenta-lhes mais algumas: que pade�o de �pretensiosa avidez em fren�tica busca por algum reconhecimento intelectual� (de quem, deus do c�u?), que sou um �anarquista cheio de �dio pela sociedade organizada� (organizada pelo pcc, pelo comando vermelho e pelas farc), que sou bajulador de militares (o brigadeiro ferolla, o general andrade nery e a escola superior de guerra que o digam), que beijo as m�os dos rockefellers (veja-se por exemplo http://www.olavodecarvalho.org/semana/060501dc.html ), que fico fora do ambiente acad�mico para me furtar � �ampla concorr�ncia de id�ias� que ali vigora (voc� pode escolher entre ser leninista, mao�sta ou trotsquista), que vivo �s custas dos outros (exploro miseravelmente o di�rio do com�rcio ) e, last not least , que meu pai e minha m�e n�o prestavam. quanto a este �ltimo ponto, ele esclarece que a grande falha na minha educa��o dom�stica foi n�o haver em minha casa uma penteadeira da vov�. Sim, admito essa defici�ncia. mal consigo imaginar, no meu primitivismo b�rbaro, os requintes de civiliza��o que o pequeno armindo adquiriu sentadinho horas a fio diante dessa vener�vel pe�a de mobili�rio, ajeitando as ondas dos cabelos, aparando as cut�culas, empoando o narizinho e se preparando, por esse meio, para os grandes embates intelectuais que o aguardavam na vida adulta. mas o detalhe mais pat�tico da sua missiva � o empenho do remetente em fazer acreditar que a nota que escrevi a seu respeito foi uma tentativa � falhada e torpe, obviamente � de cr�tica liter�ria ao seu livro. o leitor pode notar sem dificuldade que essa obra magna da cretinice universal s� foi ali mencionada para identificar o autor; que a nota se destinava a responder a inj�rias pessoais e n�o a comentar um livro. se eu fosse coment�-lo, diria no m�ximo o seguinte: 1. a referida coisa � um comp�ndio de teoria da conspira��o, montado com base em n�o mais de quinze t�tulos especializados (o restante da sua bibliografia � constitu�do de obras gerais e artigos de imprensa), o que mostra que seu autor n�o tem a menor id�ia das exig�ncias da pesquisa acad�mica, nem muito menos das complexidades de um tema cuja literatura superlota hoje muitas bibliotecas. 2. sua tese �: por tr�s de tudo o que acontece no mundo h� um poder secreto, a oligarquia ma��nico-financeira global originada na seita dos illuminatti , dominando e manipulando por igual a esquerda e a direita, o catolicismo, o juda�smo, o islamismo, o capitalismo, o comunismo, o fascismo etc. etc. etc. � em linhas gerais a mesma tese cl�ssica dos velhos te�ricos da conspira��o, apenas ampliada para conceder aos �controladores�, como ele os chama, a absoluta unidade de comando em escala universal e o dom da onipot�ncia divina. o livro reflete menos a realidade do poder global, com todas as suas ambig�idades, fraquezas e limita��es, do que o efeito alucin�geno que algumas leituras assustadoras tiveram na mente em fogo do sr. abreu. 3. se ele parasse por a�, teria ao menos o m�rito do divulgador, recolocando em

circula��o, ainda que num trabalho intelectualmente ginasiano, um tema important�ssimo que h� mais de meio s�culo � ignorado pela nossa classe acad�mica e pela m�dia em geral. mas ele resolve anexar a� sua pr�pria contribui��o original, que � adapar as teorias da conspira��o mundial �s lendas e tradi��es da xenofobia local, segundo as quais os gringos (conceito el�stico que engloba o poder mundial, a onu, o governo americano e cada empresa sediada nos eua) querem nos tomar a amaz�nia, o petr�leo, os minerais at�micos, a �gua que bebemos e talvez at� a penteadeira da vov�, monumento da cultura nacional. 4. a� n�o h� mais limites para a confus�o, e n�o � de estranhar que os leitores, admiradores e seguidores do sr. abreu � algumas dezenas de oficiais ditos �nacionalistas�, todos eles monstruosamente incultos � tirem do seu livro as conclus�es pr�ticas mais desastradas e as alardeiem triunfalmente em publica��es comunistas e pr�-comunistas (�a hora do povo�, www.vermelho.org , �caros amigos� etc.), como por exemplo a de que o brasil deve se aliar aos demais �patriotas latino-americanos� (leia-se hugo ch�vez) para uma grande investida antiimperialista contra �os gringos�. evidentemente, nada no livro do sr. abreu lhes informa que a direita americana � o �nico foco s�rio de resist�ncia contra o poder global, nem portanto que atacando-a s� fazem servir a este �ltimo e dar refor�o � revolu��o esquerdista latino-americana, que eles mesmos juram ser um tent�culo desse poder. que depois alguns deles fiquem chorando no travesseiro quando o desertor lamarca recebe honras p�stumas de general s� mostra que n�o t�m a menor id�ia das conseq��ncias de suas pr�prias a��es. jamais os chamei de comunistas. chamei-os de idiotas presun�osos, e por nada deste mundo perderia esta ocasi�o de faz�-lo de novo. na verdade, o poder global � assunto ser�ssimo, o mais s�rio das �ltimas d�cadas. para estud�-lo � preciso muito mais leitura do que o sr. abreu pode sequer imaginar, al�m de cuidados metodol�gicos que implicam -- nada mais, nada menos -uma revis�o integral dos conceitos fundamentais da ci�ncia pol�tica e das rela��es internacionais. venho me dedicando a essa tarefa h� pelo menos duas d�cadas. algo do meu esfor�o nesse sentido transparece nos artigos deste di�rio , bem como nas minhas aulas e nas apostilas de meus cursos que circulam sob o t�tulo �ser e poder� e �quest�es de m�todo nas ci�ncias sociais�. realmente n�o posso gostar de ver um amador despreparado se intrometer na �rea e bagun�ar o panorama onde eu vinha tentando t�o laboriosamente introduzir alguma ordem e clareza. o tema, al�m da sua complexidade quase inabarc�vel, remexe at� �s ra�zes uma infinidade de dores, crueldades, padecimentos e mis�rias. aproximar-se dele sem as devidas precau��es �, al�m de uma irresponsabilidade intelectual, uma leviandade moral dificilmente perdo�vel. ser um vira-bosta n�o � para qualquer um. os dois pilares em que se assenta o poder global s�o a ignor�ncia e a confus�o. a primeira se produz ocultando os fatos; a segunda, divulgando-os em desordem perturbadora, sem uma perspectiva intelectual sensata. jurando derrubar o primeiro desses pilares, o sr. abreu refor�ou formidavelmente o segundo, ao ponto de deixar seus leitores um pouco mais bobos do que j� eram. admito as inten��es patri�ticas com que o fez, mas n�o posso dizer que essas inten��es fossem verdadeiramente boas. n�o h� boa inten��o sem amor � verdade, nem amor � verdade sem a rendi��o completa da intelig�ncia � complexidade de fatos que n�o se deixam prender num esquema simploriamente un�voco, principalmente quando os atacamos com base num arsenal bibliogr�fico t�o miser�vel quanto o de �o poder secreto!� o problema do brasil, no fundo, n�o � o esquerdismo, n�o � a corrup��o, n�o � a viol�ncia, n�o � nem mesmo o �poder secreto�. � o desprezo at�vico pelo

conhecimento, ao lado de um amor idol�trico aos seus s�mbolos exteriores: diplomas, medalhas, honrarias acad�micas, t�tulos honor�ficos. o sr. abreu contempla diariamente os seus, com deleites de menino trancado no banheiro com um n�mero da playboy . est� na hora tir�-lo de l� com uns bons tapas no traseiro e uma ordem taxativa: �v� estudar, moleque.�

golpistas e vigaristas olavo de carvalho jornal do brasil, 14 de junho de 2007

os blogs v�o acabar matando a grande m�dia, se ela n�o tomar jeito. � a eles que temos de recorrer quando queremos not�cias genu�nas em vez de fingimento bempensante. j� falei aqui da �nota latina� ( http://notalatina.blogspot.com ), que considero a melhor e quase �nica fonte de informa��es seguras sobre o movimento comunista no continente. agora me aparece outro, http://jaelsavelli.blogspot.com/ , que n�o hesita em fazer, a respeito do alegado perigo homof�bico que assola o pa�s, o c�lculo comparativo que nem o governo, nem o jornalismo chique, nem os tagarelas acad�micos e parlamentares ousaram jamais fazer, porque se o fizessem cortariam no ato sua pr�pria l�ngua mentirosa e falaz. a� vai: 1) o grupo gay da bahia informa que � entre 1980-2005, foram assassinados no brasil 2.582 homossexuais� (fonte: http://www.ggb.org.br/assassinatos2005c.html ). 2) o governo federal informa que �nos �ltimos 25 anos ocorreram aproximadamente 800 mil assassinatos no brasil� (fonte: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/398227.pdf ). 3) o grupo gay da bahia e o governo, juntos, informam que �os gays representam cerca de 14% da popula��o brasileira: 24 milh�es� (fontes: ibge e http://www.ggb.org.br/moviment_glbt4.html ). o leitor tenha a bondade de fazer as contas e verificar que, segundo esses dados, o n�mero de homossexuais assassinados corresponde a 0,3 por cento do total de v�timas de homic�dios no brasil. ora, a comunidade que abrange 14 por cento dos brasileiros mas s� 0,3 por cento dos assassinados � exatamente o contr�rio de uma comunidade de risco, sob o ponto de vista policial. � uma das comunidades mais seguras, mais protegidas deste pa�s. com raz�o ela se denomina �gay�: � uma das poucas que tem motivo para estar alegre numa popula��o que vive em permanente estado de luto. seus l�deres, porta-vozes e advogados n�o podem alegar ignor�ncia desse dado, pois s�o eles mesmos que o publicam. se, n�o obstante, insistem em apresentar essa comunidade como v�tima de viol�ncia end�mica, como necessitada n�o s� de prote��o extra mais de legisla��o especial que lhe permita criminalizar e mandar � cadeia todos os que n�o gostem dela, a conclus�o � �bvia: cometem fraude consciente, deliberada, com a finalidade de transformar riscos inexistentes em instrumentos

para dar � comunidade gay um status social ainda mais privilegiado do que j� tem. �privilegiado� � eufemismo. j� expliquei em outro lugar ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/070604dc.html ) que, pela amplitude da sua �rea de aplica��o, a lei dita �anti-homof�bica� dar� � milit�ncia gay um poder repressivo e intimidat�rio praticamente ilimitado, transformando-a num tem�vel instrumento de chantagem nas m�os de seus mentores e aliados no governo federal e nos partidos de esquerda. se, ademais, a implanta��o dessa monstruosidade vem por meio da mentira e do engodo, ent�o � claro que estamos diante de uma conspira��o criminosa das mais perversas, astuciosas e bem camufladas que um grupo golpista j� ousou tramar contra as garantias democr�ticas neste pa�s. debater o caso sob o �ngulo moral, religioso ou sexol�gico � discutir o sexo dos anjos, talvez tamb�m dos dem�nios, das sombras do hades e at� dos ectoplasmas. � aliena��o completa. pois n�o � de sexo, de moral ou de religi�o que se trata nessa lei abjeta � � de poder, e poder sem limites. duvido muito que a maioria dos homossexuais, no entusiasmo de suas paradas carnavalescas, tenha a menor id�ia, seja da perversa engenharia pol�tica a que serve, seja do engodo publicit�rio montado para explorar, com esse fim, seus temores e seu esprit de corps . mas tamb�m duvido que os advers�rios da lei, inflamados na defesa de seus valores tradicionais, tenham a serenidade e o tiroc�nio para acertar o dedo na ferida. ati�ando as paix�es pol�micas, desviando as aten��es para a quest�o abstrata e extempor�nea do �pr� e contra o homossexualismo�, o pequeno grupo de espertalh�es golpistas coloca a seu servi�o, simultaneamente, duas multid�es de ot�rios.

a f�rmula para enlouquecer o mundo olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 11 de junho de 2007

adam smith observa que em toda sociedade coexistem dois sistemas morais: um, rigidamente conservador, para os pobres; outro, flex�vel e permissivo, para os ricos e elegantes. a hist�ria confirma abundantemente essa generaliza��o, mas ainda podemos extrair dela muita subst�ncia que n�o existia no tempo de adam smith. o que aconteceu foi que o advento da moderna democracia modificou bastante a conviv�ncia entre os dois c�digos. primeiro elevou at� � classe dominante o moralismo dos pobres: na am�rica do s�culo xix vemos surgir pela primeira vez na hist�ria uma casta de governantes que admitem ser julgados pelas mesmas regras vigentes entre o resto da popula��o. no s�culo seguinte, as propor��es se invertem: a permissividade n�o s� se instala de novo entre a classe chique, mas da� desce e contamina o pov�o. � verdade que n�o o faz por completo: metade da na��o americana ainda se compreende e se julga segundo os preceitos da b�blia. mas os efeitos da �revolu��o sexual� foram profundos, espalhando por toda parte o permissivismo e o deboche para muito al�m da esfera sexual. o epis�dio clinton, perdoado pelo parlamento ap�s ter usado o sal�o oval da casa branca como quarto de motel, mostra que, para uma grande parcela da opini�o p�blica, at� as apar�ncias de moralidade se tornaram dispens�veis. um breve exame das estat�sticas de gravidez infanto-juvenil e do uso de drogas mostra que id�ntica transforma��o ocorreu nos pa�ses da europa ocidental, onde a dissolu��o dos costumes j� vinha

desde o fim da i guerra mundial (v. modris eksteins, rites of spring ). as conseq��ncias dessa transforma��o se ampliam para muito al�m do dom�nio �moral�. conforme vem demonstrando e. michael jones numa s�rie memor�vel de estudos ( degenerate moderns: modernity as rationalized sexual misbehavior , san francisco, ignatius press, 1993, e volumes subseq�entes) , � a� mesmo que se deve procurar a causa do sucesso das ideologias totalit�rias no s�culo xx. articulando o seu diagn�stico com o de gertrude himmelfarb em one nation , two cultures: a searching examination of american society in the aftermath of our cultural revolution (new york, vintage books, 1999), podemos chegar a algumas conclus�es bem elucidativas. o poeta stephen spender, ap�s romper com o partido comunista, j� havia admitido que o que conduzia os intelectuais ocidentais � paix�o por ideologias contr�rias � pr�pria liberdade de que desfrutavam era o sentimento de culpa e o desejo de livrar-se dele a baixo pre�o. a origem dessa culpa reside no fato de que amplas faixas da classe m�dia passaram a desfrutar de lazeres e prazeres praticamente ilimitados, sem ter de arcar com as responsabilidades pol�ticas, militares e religiosas com que a antiga aristocracia pagava o pre�o moral dos seus desmandos sexuais e et�licos. num tempo em que a fran�a era o pa�s mais crist�o da europa, lu�s xiv tinha nada menos de 28 amantes, mas sua rotina de trabalho era mais pesada que a de qualquer executivo de multinacional, sem contar o fato, t�o brilhantemente enfatizado por ren� Girard ( le bouc �missaire , paris, grasset, 1982), de que a fun��o real trazia consigo a obriga��o de servir de bode expiat�rio para os males nacionais: quando a cabe�a de lu�s xvi rolou em pagamento das d�vidas de seu pai e de seu av�, isso n�o foi uma inova��o revolucion�ria, mas o simples cumprimento de um acordo t�cito vigente no cerne mesmo do sistema mon�rquico. j� na idade m�dia, os encargos da defesa territorial incumbiam inteiramente � classe aristocr�tica: ningu�m podia obrigar um campon�s ou comerciante a ir para a guerra, mas o nobre que fugisse aos seus deveres b�licos seria instantaneamente executado pelos seus pares. noblesse oblige : a classe aristocr�tica era liberada de parte dos rigores morais crist�os na mesma medida em que pagava pela sua liberdade com a permanente oferta da pr�pria vida em sacrif�cio pelo bem de todos. a democratiza��o da permissividade espalha os direitos da aristocracia por uma multid�o de rec�m-chegados que de repente se v�em liberados da press�o religiosa sem ter de assumir por isso nenhum encargo extra, por m�nimo que seja, capaz de restaurar o equil�brio entre direitos e deveres. ao contr�rio, junto com a liberdade vem o acesso a bens inumer�veis e a um padr�o de vida que chega mesmo a ser superior ao da velha aristocracia � tudo isso a leite de pato. ortega y gasset notou, no seu cl�ssico de 1928, la rebeli�n de las masas , que o t�pico representante da moderna classe m�dia, o �homem massa�, era realmente um filhinho-de-papai, um se�orito satisfecho que se julgava herdeiro leg�timo de todos os benef�cios da civiliza��o moderna para os quais n�o havia contribu�do em absolutamente nada, pelos quais n�o tinha de pagar coisa nenhuma e dos quais, geralmente, ignorava tudo quanto aos sacrif�cios que os produziram. por toda parte, nas civiliza��es anteriores, um certo equil�brio entre custo e benef�cio, entre direitos e deveres, entre prazeres e sacrif�cios, era reconhecido como o princ�pio central da sanidade humana. a libera��o de massas imensas de popula��o para o desfrute de prazeres e requintes gratuitos � uma das situa��es psicol�gicas mais amea�adoras j� vividas pela humanidade desde o tempo das cavernas. para cada indiv�duo engolfado nesse processo, o efeito mais direto e incontorn�vel da experi�ncia � um sentimento de culpa tanto mais profundo e avassalador quanto menos conscientizado. mas como poderia ele ser conscientizado, se na mesma medida em que se abrem as portas do prazer se fecham as da consci�ncia religiosa? o se�orito satisfecho � corro�do por um profundo �dio a si mesmo, mas est� proibido, pela cultura vigente, de perceber a verdadeira natureza de suas culpas, e mais ainda de alivi�-las mediante a confiss�o religiosa e o cumprimento

de deveres penitenciais. a culpa mal conscientizada, conforme a psican�lise demonstrou vezes sem conta, acaba sempre se exteriorizando como fantasia persecut�ria e acusat�ria projetada sobre os outros, sobre �o mundo� sobre �o sistema�. o homem medianamente instru�do do nosso tempo joga suas culpas sobre �o sistema�, fingindo para si mesmo que est� revoltado pelo que ele nega aos pobres, quando na realidade o odeia por aquilo que esse sistema lhe d� sem exigir nada em troca. n�o que o sistema seja isento de culpas; mas a mesma prosperidade geral que espalha os benef�cios da civiliza��o entre massas crescentes que jamais poderiam sonhar com isso nos s�culos anteriores mostra que essas culpas n�o s�o de ordem econ�mica, mas cultural: o capitalismo n�o cria mis�ria e sim riqueza; mas junto com ela espalha o laicismo e o permissivismo, rompendo o equil�brio entre o prazer e o sacrif�cio, necessidade b�sica da psique humana. da� o aparente paradoxo de que o �dio ao sistema se dissemine principalmente � ou exclusivamente � entre as classes que dele mais se beneficiam materialmente (lembre-se do que eu disse sobre o movimento gay no artigo da semana passada). a tenta��o socialista aparece a� como o canal mais f�cil por onde as culpas do filhinho-de-papai s�o jogadas precisamente sobre as fontes do seu bem-estar e da sua liberdade. vejam essa meninada da usp, gente de classe m�dia e alta, depredando uma universidade gratuita, e compreender�o do que estou falando: o que esses garotos precisam n�o � de mais benef�cios; � de uma cobran�a moral que restaure a sua sanidade. mas, como os representantes do estado s�o eles pr�prios se�oritos satisfechos que tamb�m n�o compreendem a origem das suas pr�prias culpas, sua tend�ncia � fazer dos jovens enrag�s um s�mbolo da sua pr�pria consci�ncia moral faltante; da� que lhes cedam tudo, num arremedo de penit�ncia, corrompendo-os e corrompendo-se cada vez mais e precipitando uma acumula��o de culpas que s� pode culminar na suprema culpa da sangueira revolucion�ria. �vivemos num mundo demente, e sabemos perfeitamente disso�, dizia jan huizinga na d�cada de 30, pouco antes que o desequil�brio da alma europ�ia desaguasse no mortic�nio geral. transcorridas quase oito d�cadas, a humanidade ocidental nada aprendeu com a experi�ncia e est� pronta a repeti-la. hipnotizada pela l�gica do desejo, que n�o enxerga cura para os males sen�o na busca de mais satisfa��es e mais liberdade, como poderia ela descobrir que seu problema n�o � falta de bens ou prazeres, mas falta de deveres e sacrif�cios que restaurem o sentido da vida e a integridade da alma? n�o � preciso dizer que a ades�o ao ersatz revolucion�rio e socialista, sendo na base uma farsa neur�tica, n�o alivia as culpas de maneira alguma, mas as recalca ainda mais fundo no inconsciente, onde se tornam tanto mais explosivas e letais quanto mais encobertas por um discurso de autobeatifica��o ideol�gica (marilena chau� sonhava em �viver sem culpas�; o sr. lu�s in�cio lula da silva admite modestamente ter realizado esse ideal). o �dio ao sistema � com sua express�o mais t�pica hoje em dia, o anti-americanismo -- cresce na medida mesma em que a ilus�o autolisonjeira da pureza de inten��es induz cada um a sujar-se cada vez mais na cumplicidade com a corrup��o e os crimes do partido revolucion�rio. os capitalistas, os representantes do �sistema�, por sua vez, aceitam passivamente ser objeto de �dio e at� se regozijam nele, na v� esperan�a de assim purgar suas pr�prias culpas; mas, como estas n�o residem onde as aponta o discurso revolucion�rio, cada nova concess�o ao clamor esquerdista os torna ainda mais culpados e vulner�veis. antecipando as an�lises de jones e de himmelfarb, igor caruso ( psychanalyse pour la personne , paris, le seuil, 1962) localizava a origem das neuroses n�o na repress�o do desejo sexual, mas na rejei��o dos apelos da consci�ncia moral. o abandono da consci�ncia de culpa n�o pode trazer outro resultado sen�o a prolifera��o de culpas inconscientes. e as culpas inconscientes necessitam de novos e novos bodes expiat�rios, cujo sacrif�cio s� as torna ainda mais angustiantes e intoler�veis. figuras de linguagem

toda figura de linguagem expressa compactamente uma impress�o sem indicar com clareza o fen�meno objetivo que a suscitou. decomposta analiticamente, ela se revela portadora de muitos significados poss�veis, alguns contradit�rios entre si, que podem corresponder � experi�ncia em graus variados. no brasil de hoje, todos os �formadores de opini�o� mais salientes, sem exce��o vis�vel � comentaristas de m�dia, acad�micos, pol�ticos, figuras do show business -- pensam por figuras de linguagem, sem a m�nima preocupa��o � ou capacidade � de distinguir entre a f�rmula verbal e os dados da experi�ncia. imp�em seus estados subjetivos ao leitor ou ouvinte de maneira direta, sem uma realidade mediadora que possa servir de crit�rio de arbitragem entre emissor e receptor da mensagem. a discuss�o racional fica assim inviabilizada na base, sendo substitu�da pelo mero confronto entre modos de sentir, uma demonstra��o m�tua de for�a ps�quica bruta que d� a vit�ria, quase que necessariamente, ao lado mais barulhento, histri�nico, fan�tico e intolerante. como as pessoas pressentem de algum modo que essa situa��o amea�a descambar para a pura e simples troca de insultos, se n�o de tapas ou de tiros, o rem�dio que improvisam por mero automatismo � apegar-se �s regras de polidez como s�mbolo convencional e suced�neo da racionalidade faltante, como se um sujeito declarar calma e educadamente que os gatos s�o vegetais fosse mais racional do que berrar indignado que s�o animais. o resultado � que a linguagem dos debates p�blicos se torna ainda mais artificiosa e pedante, facilitando o trabalho dos demagogos e manipuladores. � um ambiente de alucina��o e farsa, no qual s� o pior e mais vil pode prevalecer. o c�mulo da devassid�o mental se alcan�a quando as leis penais passam a ser redigidas dessa maneira. se a defini��o de uma conduta delituosa � vaga e imprecisa, a tipifica��o do crime correspondente se torna pura mat�ria de prefer�ncia subjetiva do juiz ou de press�o pol�tica por parte de grupos interessados. assim, por exemplo, o agitador que pregue abertamente a inferioridade da ra�a negra e o engra�adinho que fa�a uma piada ocasional sobre negros podem ser condenados � mesma pena por delito de �racismo�. duas condutas qualitativamente incompar�veis s�o niveladas por baixo: n�o h� mais diferen�a entre delito e apar�ncia de delito. � a mulher de c�sar �s avessas: n�o � preciso ser criminoso, basta parec�-lo. basta caber numa defini��o ilimitadamente el�stica que inclui desde o uso impensado de certas palavras at� a doutrina��o genocida expl�cita e feroz. �racismo� � uma figura de linguagem, n�o um conceito rigoroso correspondente a condutas determinadas. uma lei que o criminalize � um jogo de azar no qual a justi�a e a injusti�a s�o distribu�das a esmo, por ju�zes que t�m a consci�ncia tranq�ila de estar agindo a servi�o da liberdade e da democracia. � uma com�dia. quem se der o trabalho de distinguir analiticamente os v�rios sentidos com que a palavra �racismo� � usada em diversos contextos verificar� que eles correspondem a condutas muito diferentes entre si, das quais algumas podem ser criminosas. estas � que t�m de ser objeto de lei, n�o o saco de gatos denominado �racismo�. e �homofobia�, ent�o? seu sentido abrange desde o impulso homicida at� devo��es religiosas, desde a discuss�o cient�fica de uma classifica��o nosol�gica at� a repulsa espont�nea por certo tipo de car�cias � tudo isso criminalizado por igual. quem cria e redige essas leis s�o obviamente pessoas sem o m�nimo senso de responsabilidade por seus atos: s�o adolescentes embriagados de um del�rio de poder; s�o mentes disformes e anti-sociais, s�o sociopatas perigosos. s� eleitores totalmente ludibriados podem ter elevado esses indiv�duos � condi��o de legisladores, dando realidade � fantasia macabra do �doutor mabuse� de fritz lang: a revolu��o dos loucos, tramada no hosp�cio para subjugar a humanidade s� e impor a dem�ncia como regra. e n�o pensem que ao dizer isso esteja eu mesmo apelando a uma figura de linguagem, hiperbolizando os fatos para chamar a aten��o sobre eles. a incapacidade de distinguir entre sentido literal e figurado, a perda da fun��o denominativa da linguagem, a redu��o da fala

a um jogo de intimida��o e sedu��o sem satisfa��es a prestar � realidade, s�o sintomas psiqui�tricos caracter�sticos. quando tomei conhecimento dos diagn�sticos pol�tico-sociais elaborados pelos psiquiatras joseph gabel e lyle h. rossiter, jr., que indo al�m da concep��o schellinguiana da �doen�a espiritual� classificavam as ideologias revolucion�rias como patologias mentais em sentido estrito, achei que exageravam. hoje sei que estavam certos. as figuras de linguagem s�o instrumentos indispens�veis n�o s� na comunica��o como na aquisi��o de conhecimento. quando n�o sabemos declarar exatamente o que � uma coisa, dizemos a impress�o que ela nos causa. todo conhecimento come�a assim. benedetto croce definia a poesia como �express�o de impress�es�. toda incurs�o da mente humana num dom�nio novo e inexplorado �, nesse sentido �po�tica�. come�amos dizendo o que sentimos e imaginamos. � do confronto de muitas fantasias diversas, incongruentes e opostas que a realidade da coisa, do objeto, um dia chega a se desenhar diante dos nossos olhos, clara e distinta, como que aprisionada numa malha de fios imagin�rios � como a tridimensionalidade do espa�o que emerge das linhas tra�adas numa superf�cie plana. suprimir as met�foras e meton�mias, as analogias e as hip�rboles, impor universalmente uma linguagem inteiramente exata, definida, �cient�fica�, como chegaram a ambicionar os fil�sofos da escola anal�tica, seria sufocar a capacidade humana de investigar e conjeturar. seria matar a pr�pria inventividade cient�fica sob a desculpa de dar � ci�ncia plenos poderes sobre as modalidades �pr�-cient�ficas� de conhecimento. mas, inversamente, encarcerar a mente humana numa trama indeslind�vel de figuras de linguagem rebeldes a toda an�lise, impor o jogo de impress�es emotivas como substituto da discuss�o racional, fazer de simbolismos nebulosos a base de decis�es pr�ticas que afetar�o milh�es de pessoas, � um crime ainda mais grave contra a intelig�ncia humana; � escravizar toda uma sociedade � ou v�rias � � confus�o interior de um grupo de psicopatas megal�manos.

orgulho nacional olavo de carvalho jornal do brasil, 07 de junho de 2007

enquanto o p�blico n�o tira os olhos da venezuela, o totalitarismo esquerdista avan�a em outros pontos da am�rica latina sem ser notado, usando meios menos espalhafatosos mas nem por isto menos c�nicos e brutais que os de hugo ch�vez. no equador, o deputado lu�s fernando torres divulgou um v�deo que mostrava o ministro da economia, eduardo pati�o, tramando com investidores uma negociata para lucrar com os juros da d�vida externa. que aconteceu ao ministro? nada. mas torres teve seu mandato cassado por "crime de sedi��o" junto com outros 56 deputados que o apoiavam. se isso n�o � um golpe de estado, n�o sei o que �. o pr�prio ch�vez n�o teve peito para destruir a oposi��o com um ataque t�o direto e mort�fero. no dia seguinte, o presidente correa, para impedir que o deputado recorresse a tribunais internacionais, solicitou que a justi�a o proibisse de sair do pa�s. enquanto os ju�zes, envergonhados, protelavam a decis�o, torres veio a washington, sem dinheiro nem para o hotel, pedir socorro � Comiss�o de direitos humanos da oea. v� esperan�a. a oea � uma s�lida fortaleza do comuno-chavismo. o equador foi jogado aos c�es, e ningu�m est� nem ligando.

por�m o �nico esquema esquerdista que tem m�todos infal�veis para se assegurar do poder total � o brasileiro. ele n�o precisa temer protestos populares, porque tem o monop�lio absoluto das agita��es de rua. nem os pol�ticos de oposi��o, porque antes mesmo de chegar ao governo j� havia destru�do a maioria deles pela t�cnica do denuncismo e emasculado ideologicamente os restantes. n�o precisa temer a igreja, porque, seguindo a receita de antonio gramsci, j� se apossou dela como um �ncubo, sugando-lhe a alma e transformando-a num megafone da propaganda comunista. n�o precisa temer o empresariado, cuja �nica expectativa de sobreviver ao ass�dio do fisco � beijar as m�os do partido-estado. n�o precisa temer a m�dia, j� que ela se sujou tanto para ajud�-lo a ocultar a trama do foro de s�o paulo por 16 anos, que perdeu todo vest�gio de autoridade moral e hoje o m�ximo que se permite � a obedi�ncia incompleta, a subservi�ncia camuflada sob surtos espor�dicos de ranhetice pro forma. n�o precisa temer as press�es de fora, porque a fidelidade canina ao esquema globalista da onu lhe garante as afei��es do establishment europeu e americano. n�o precisa temer as for�as armadas, porque j� dissolveu numa bem dosada po��o de cal�nias e sedu��es a antiga fibra anticomunista dos militares e porque tem o dom�nio estrat�gico do territ�rio atrav�s das organiza��es de massa, articuladas com as gangues de criminosos locais e com as farc. nem as den�ncias de corrup��o, mil vezes mais volumosas e graves do que aquelas que atingiram os governos passados, o abalam no mais m�nimo que seja. s� servem para demonstrar a impot�ncia das leis, de novo e de novo, at� desmoraliz�-las por completo. mesmo na hip�tese remota de o atual presidente ser um dia submetido a impeachment, a esquerda continuar� no comando, pela simples raz�o de que n�o tem nenhum concorrente, exceto - cum grano salis - os tucanos, os quais j� facilitaram ao m�ximo a esquerdiza��o do pa�s quando estavam no governo e o far�o novamente se para l� voltarem. a social-democracia, afinal, nunca teve outra raz�o de existir sen�o usurpar o lugar da direita e legitimar a ascens�o da esquerda revolucion�ria mediante um arremedo de resist�ncia, esvaziado, profilaticamente, de todo sentido ideol�gico. os poucos hiatos restantes no sistema de controle totalit�rio v�o sendo preenchidos por meios indiretos, suaves, insens�veis, sob pretextos os mais variados e insuspeitos em apar�ncia, ludibriando magistralmente a opini�o p�blica que a tudo se submete por incapacidade de perceber o esquema como um todo. comparados � esquerda brasileira, astuta, racional, paciente, fria, segura de si, ch�vez, correa ou morales s�o apenas amadores. de uma coisa o nosso pa�s pode se orgulhar: de ser governado pelos mais h�beis vigaristas pol�ticos do continente.

a venezuela vive. e o brasil agoniza olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 04 de junho 2007

n�o sei por que as pessoas se preocupam tanto com a venezuela. a situa��o no brasil � incomparavelmente pior. vejam a for�a do protesto estudantil nas ruas de

caracas e perguntem se algo de parecido � poss�vel no brasil, onde o pt e as demais organiza��es de esquerda t�m o monop�lio total das manifesta��es de rua h� pelo menos tr�s d�cadas. ou�am o discurso vibrantemente anticomunista de um alejandro pe�a Esclusa e me digam se algu�m, na �direita� brasileira, tem garra para desobedecer a censura ideol�gica que estigmatiza como �retorno � guerra fria� toda tentativa de denunciar a guerra quente, o retorno sangrento da revolu��o comunista ao continente latino-americano. vejam a organiza��o, a disciplina solid�ria do empresariado venezuelano na defesa da liberdade, e comparem com o nosso panorama de subservi�ncia geral, canina, abjeta. a venezuela dolorida est� viva. o brasil anestesiado est� moribundo. ch�vez representa o aspecto mais superficial, vistoso e grotesco da revolu��o continental. o c�lculo astucioso, preciso, de longo prazo, � a parte da esquerda brasileira, que criou o foro de s�o paulo e maneja com habilidade extraordin�ria a orquestra��o do conjunto. hugo ch�vez est� prestando � direita um servi�o t�o valioso quanto george w. bush presta � esquerda. o primeiro p�e � mostra a verdadeira natureza da revolu��o continental, o segundo ajuda o foro de s�o paulo a camuflar sua estrat�gia geral sob a hipocrisia sorridente de lu�s in�cio lula da silva. o �nico resultado da pol�tica de bush na am�rica latina ser� tornar o esquerdismo maquiav�lico do pt mais palat�vel em compara��o com o espantalho chavista. quando a esquerda perder a venezuela, ter� ganho o continente inteiro, sob os aplausos de washington. ch�vez � o mais gordo e persuasivo boi de piranha que a esquerda mundial j� ofereceu a seus cr�dulos advers�rios.

conseq��ncias mais que previs�veis olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 04 de junho 2007

como n�o cabe ao analista pol�tico dizer �s pessoas o que devem ou n�o devem fazer nas suas vidas privadas, nunca escrevi uma linha a favor ou contra as pr�ticas homossexuais ou qualquer outra conduta er�tica existente ou por inventar. escrevi, sim, contra o movimento gay como f�rmula ideol�gica e projeto de poder. isso bastou para que eu fosse rotulado de �homof�bico� vezes sem conta. conclus�o: se estivesse em vigor a lei maldita que o nosso parlamento quer aprovar, eu iria para a cadeia por conta de opini�es pol�ticas. na verdade a lista de atitudes humanas pun�veis como �homof�bicas� � bem variada. ela abrange: 1. cita��es da b�blia ou de livros sagrados de qualquer religi�o que fa�am obje��es morais ao homossexualismo. 2. opini�es m�dicas, psiqui�tricas e psicoterap�uticas que ponham em d�vida, de maneira mais ou menos expl�cita, a sanidade da conduta homossexual. isso inclui obras cl�ssicas de freud, adler, szondi, frankl e jung, entre outros.

3. manifesta��es pessoais de repulsa f�sica ante o homossexualismo, emo��o t�o espont�nea e irreprim�vel quanto o pr�prio desejo homossexual. (inversa e complementarmente, a repulsa do homossexual pela sexualidade hetero, ou at� por variantes homossexuais que n�o coincidam com a sua, como por exemplo a repulsa dos gays mach�es pelos travestis e transexuais, n�o apenas ser� considerada l�cita mas estar� sob a prote��o da lei, condenando-se como �homof�bica� toda obje��o que se lhe apresente ou, mais ainda, toda tentativa de reprimi-la. ou seja: o direito � repulsa sexual ser� monop�lio exclusivo da comunidade gay.) 4. express�es verbais populares, de uso espont�neo e irreprim�vel, consideradas depreciativas e anti-homossexuais. 5. piadas e gracejos que mostrem a conduta homossexual sob um �ngulo ris�vel. 6. opini�es pol�ticas contr�rias aos interesses do movimento gay, que j� s�o e ser�o cada vez mais necessariamente interpretadas como adversas aos direitos da comunidade homossexual. 7. an�lises sociol�gicas, hist�ricas ou estat�sticas que ponham em evid�ncia qualquer conduta negativa da comunidade gay. essas an�lises j� est�o praticamente exclu�das do universo cultural decente. a lei vai proibi-las por completo. 8. qualquer resist�ncia que um pai ou m�e de fam�lia oponha � doutrina��o homossexual de seus filhos nas escolas ou � participa��o deles em grupos e entidades homossexuais. 9. qualquer tentativa de impedir ou reprimir, por atos ou palavras, as express�es p�blicas de erotismo gay, discretas ou ostensivas, moderadas ou extremas, mesmo diante de crian�as ou em lugares consagrados ao culto religioso. 10. qualquer observa��o casual, feita no escrit�rio, na rua ou mesmo em casa (se houver testemunhas) que possa ser considerada desairosa aos homossexuais ou ao movimento gay. isso inclui a simples express�o de satisfa��o que um cidad�o possa ter por ser heterossexual. a lei, enfim, criminaliza e pune com pena de pris�o inumer�veis condutas consideradas normais, leg�timas, aceit�veis e at� merit�rias pela quase totalidade da popula��o brasileira. e n�o pensem que ficar� no papel. neste momento j� est�o sendo organizados grupos de olheiros � espalhados primeiro nas escolas, depois em toda parte � para vigiar, delatar e punir os dez tipos de conduta acima assinalados. as conseq��ncias mais que previs�veis da aprova��o dessa lei s�o t�o portentosas e ilimitadas que a maioria dos cidad�os tem dificuldade de conceb�-las, limitando-se a apreender por alto suas apar�ncias mais superficiais e patentes, se n�o a tratar o assunto com leviana indiferen�a. mas essas conseq��ncias podem ser resumidas da seguinte maneira: com um s� golpe de caneta, um grupo militante organizad�ssimo, fartamente subsidiado do exterior, associado aos partidos de esquerda e agindo em conson�ncia com a estrat�gia geral que os orienta, ter� conquistado uma quantidade de poder policial discricion�rio t�o vasta e amea�adora quanto se poderia obter mediante um golpe de estado ou uma revolu��o. dotado do aparato jur�dico necess�rio para aterrorizar toda oposi��o, reduzi-la a um sil�ncio humilhante, marginaliz�-la e torn�-la socialmente inoperante, esse grupo ter� se tornado, nas m�os da alian�a esquerdista que nos governa, mais um poderoso instrumento de controle social e pol�tico somando-se � pol�cia fiscal, � ocupa��o do territ�rio pelos �movimentos sociais�, ao dom�nio hegem�nico sobre as institui��es de cultura e ensino, �s campanhas policiais soi disant moralizantes que s� atingem sempre os

desafetos da esquerda ou bandos criminosos menores, politicamente in�cuos, jamais os agentes das farc, os verdadeiros gr�o-senhores do crime no continente, cada vez mais ostensivamente protegidos pelo establishment petista. na verdade, o movimento gay n�o precisou esperar pela aprova��o da lei para fazer sentir o peso das suas ambi��es policialescas sobre os que ousaram contestar sua pretensa autoridade. o ass�dio judicial a d. eug�nio de ara�jo Sales (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040724globo.htm ), os esfor�os de gayzistas e simpatizantes para destruir a carreira, a fam�lia e at� a alma do escritor j�lio severo, a repeti��o do mesmo procedimento contra o pastor catarinense ademir kreuzfeld (v. http://www.juliosevero.blogspot.com/ ), mostram que n�o faltam armas � elite gay para perseguir, amedrontar e marginalizar seus advers�rios, quanto mais para defender-se dos perigos imagin�rios que a amea�am. a nova lei � material b�lico excedente, s� utiliz�vel em eventuais demonstra��es de for�a perfeitamente sup�rfluas. que t�o avassaladora ascens�o do autoritarismo seja necess�ria para proteger os pobrezinhos homossexuais contra piadas, gracejos e cita��es da b�blia � um argumento t�o ris�vel que somente um idiota completo ou um mentiroso desavergonhado poderia fazer uso dele num debate s�rio. pior ainda � a alega��o de viol�ncia contra os homossexuais. j� expliquei o que o simples uso do termo �homof�bico� contra os advers�rios do movimento gay tem de maquiav�lico, de perverso, de criminoso ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/070523dce.html ). mas ao delito sem�ntico acrescenta-se ainda a pervers�o aritm�tica. entre os cinq�enta mil brasileiros assassinados anualmente, o movimento gay n�o tem conseguido apontar mais de dez ou doze indiv�duos que o teriam sido � se � que o foram � por motivos �homof�bicos�. pretender que a f�ria anti-homossexual seja um fato social alarmante e epid�mico, necessitado de legisla��o especial e dr�stica, � nada mais que uma farsa c�nica, um estelionato parlamentar que, houvesse na pol�tica brasileira um pingo de racionalidade e dec�ncia, custaria a seus autores a perda do mandato por falta de decoro, por uso indevido do congresso como instrumento para servir a ambi��es grupais injustific�veis. muito maior que o n�mero de v�timas fatais da �homofobia� � o de homossexuais assassinos, um fato �bvio que a m�dia esconde sistematicamente, refor�ando o engodo legislativo com a fraude jornal�stica. e digo que � �bvio por um motivo ainda mais �bvio. n�o sendo racionalmente aceit�vel que a porcentagem de homossexuais seja muito diferente entre os criminosos e a popula��o honesta, a alega��o usual do movimento gay de que esta �ltima quota � de cinco a dez por cento nos levaria necessariamente a alguns milhares de homossexuais assassinos, sem contar os homossexuais ladr�es, os homossexuais traficantes e, evidentemente, os homossexuais chantagistas parlamentares. mas nem esse c�lculo seria preciso para desmascarar a fachada protetiva com que a lei se apresenta. um dos tra�os mais salientes do movimento gay � seu esfor�o de combater a discrimina��o onde ela n�o existe e de ignor�-la por completo onde existe. no ir� o homossexualismo � punido com a pena de morte. voc�s j� viram a lideran�a gay organizar um protesto internacional contra isso? ao contr�rio, ela se alia �s demais for�as de esquerda para defender a ditadura dos aiatol�s contra o �imperialismo ianque�. em cuba os homossexuais e travestis s�o considerados casos de pol�cia, e quando pegam aids s�o isolados para sempre da sociedade. a elite gayzista n�o apenas se abst�m de protestar contra esse tratamento desumano, mas tamb�m n�o quer que ningu�m proteste. recentemente, um document�rio sobre a condi��o humilhante dos homossexuais em cuba foi exclu�do de um festival em nova york � por exig�ncia da milit�ncia gay .

em compensa��o, nos eua e na europa ocidental, onde os gays t�m um lugar privilegiado na sociedade e a pr�tica do homossexualismo � uma tradi��o elegante entre o beautiful people pelo menos desde a d�cada de 20 do s�culo passado, o clamor por legisla��es que criminalizem toda cr�tica � conduta homossexual vem num tom de quem advogasse medidas de emerg�ncia para salvar a comunidade gay de um genoc�dio iminente. no brasil -- uma das sociedades mais permissivas do planeta, onde homossexuais declarados ocupam cadeiras no parlamento sob aplausos gerais, onde as vov�s assistem a shows de travestis na tv junto com seus netinhos e onde um espet�culo p�blico de car�cias l�sbicas entre a esposa de um governador e a de um ministro n�o suscita o menor esc�ndalo na m�dia --, a gritaria �anti-homof�bica� d� a impress�o de que os homossexuais est�o sendo abatidos a tiros, nas ruas, por um ex�rcito de talib�s crist�os. ao longo das �ltimas d�cadas, � medida que toda resist�ncia moralista � conduta homossexual cedia lugar � compreens�o generosa e � aceita��o incondicional, as reivindica��es do movimento gay no ocidente vieram num crescendo, exigindo primeiro a equipara��o moral de suas pr�ticas com o casamento heterossexual, depois o ensino do homossexualismo nas escolas infantis, por fim as penas da lei para padres, pastores e rabinos que citem os vers�culos da b�blia contr�rios ao homossexualismo. o contraste entre discurso e realidade � patente: o movimento gay cresce em arrog�ncia, virul�ncia e pretens�es ditatoriais � medida que a sociedade se torna mais tolerante, simp�tica e subserviente �s exig�ncias da comunidade homossexual. quem diria que a invers�o sexual, com tanta freq��ncia, viesse junto com a invers�o mental? basta observar esse fen�meno para perceber imediatamente que a alega��o caracter�stica do discurso gay , de proteger uma comunidade oprimida, � apenas uma camuflagem, um v�u ideol�gico estendido por cima de objetivos bem diferentes, incomparavelmente mais ambiciosos. uma pista para a compreens�o efetiva do fen�meno s�o os grupos de intelectuais, pol�ticos e artistas homossexuais, tremendamente poderosos e influentes, que marcaram a hist�ria pol�tica e cultural do s�culo xx com o culto da supremacia gay . tr�s deles s�o particularmente importantes: o c�rculo de stefan george na alemanha, o de andr� Gide na fran�a e, na inglaterra, a confraria dos �ap�stolos� de cambridge. em cada um dos tr�s casos, a milit�ncia p�blica � sempre do lado errado, nazista ou comunista � encobria uma dimens�o mais profunda e mais sinistra, de seita gn�stica empenhada em subjugar a humanidade comum a uma elite homossexual imbu�da de um senso de superioridade quase divina. voltarei ao assunto quando poss�vel. por enquanto, basta dizer o seguinte: o atual movimento gay � a materializa��o possante e assustadora de um projeto de revolu��o civilizacional que, a pretexto de proteger oprimidos, n�o hesita em entreg�-los �s feras quando isso conv�m � sua grande estrat�gia. que esse projeto seja apenas um desenvolvimento espec�fico dentro do quadro maior do movimento revolucion�rio mundial � algo t�o �bvio que n�o necessita ser enfatizado. mas, por absoluta incompreens�o desse ponto, os advers�rios do movimento gay, quase sem exce��o, t�m cometido dois erros monstruosos. primeiro: combatem, junto com o movimento, a homossexualidade em si. politicamente , isso � loucura. o movimento gay existe h� algumas d�cadas e s� em alguns lugares do planeta; o homossexualismo existe por toda parte desde que o mundo � mundo. o primeiro pode ser derrotado; o segundo n�o pode ser eliminado. condicionar a vit�ria sobre o movimento gay � erradica��o do homossexualismo � adiar essa

vit�ria para o ju�zo final. segundo: procurando atenuar a m� impress�o de autoritarismo dogm�tico que essa atitude inevitavelmente suscita, apressam-se a declarar que respeitam os direitos dos gays e que desejam apenas preservar, lado a lado com eles, os direitos da consci�ncia religiosa. com isso, igualam o inigual�vel, negociam o inegoci�vel, nivelam a liberdade de consci�ncia a uma �op��o sexual�, � prefer�ncia por determinado tipo de prazer er�tico. ser� preciso lembrar a esses cavalheiros que, privado de satisfa��o er�tica, o ser humano sofre alguma incomodidade, mas, desprovido da liberdade de consci�ncia, perde o �ltimo resqu�cio de dignidade, o sentido da vida e a raz�o de existir? em suma: s�o intransigentes onde deveriam ceder, cedem onde deveriam ser intransigentes, inflex�veis e at� intolerantes. n�o h� nada de mais em aceitar o homossexualismo como uma realidade social que n�o pode ser erradicada e que, se deve ser combatida, � com todos os cuidados necess�rios para n�o ferir e humilhar pessoas. em contrapartida, tratar como igualmente nobres e respeit�veis o mais elevado princ�pio da moralidade e o simples direito legal de fazer determinadas coisas na cama � uma invers�o hedionda da hierarquia l�gica e moral, � uma desobedi�ncia acintosa ao primeiro mandamento, cuja implica��o mais �bvia � o dever incondicional de colocar as primeiras coisas primeiro. se os advers�rios do movimento gay querem a prote��o de deus na sua luta, deveriam come�ar por n�o ofend�-Lo dessa maneira. da minha parte, afirmo que defenderia por todos os meios ao meu alcance o direito que os homossexuais t�m de que sua prefer�ncia sexual n�o lhes custe humilha��es ou constrangimentos. mas, t�o logo uma dessas criaturas pretendesse igualar ou sobrepor esse direito � liberdade de consci�ncia, da qual ele pr�prio n�o � sen�o uma decorr�ncia l�gica ali�s bem remota e secund�ria, eu lhe responderia, na mais polida das hip�teses, com as seguintes palavras: -- cale a boca, burro. n�o me pe�a para respeitar um direito que voc� mesmo, embora talvez sem se dar conta, est� pisoteando com quatro patas.

kenneth maxwell rides again olavo de carvalho di�rio do com�rcio, 01 de junho de 2007

kenneth maxwell, em cuja autoridade de historiador o council on foreign relations e a folha de s. paulo confiam para todas as quest�es relativas ao brasil, j� havia fornecido provas de sua total incompet�ncia ao assegurar, baseado em opini�es de terceiros t�o ignorantes quanto ele, que o foro de s�o paulo n�o existia. com o par�grafo que transcrevo a seguir ele alcan�ou o n�vel para tornar-se controlador de v�o em cumbica, diretor da cia governo lula (digo isso porque colunista da folha ele j� �). indignado contra a campanha anti-abortista de bento xvi, ele no papa:

de in�pcia requerido ou ministro do o rapaz vai longe. passa o seguinte pito

� caso o papa tivesse ido a chiapas (m�xico) para pregar na igreja fundada em san crist�bal pelo frei bartolom� de las casas, talvez sentisse a necessidade de confrontar uma realidade diferente. las casas n�o tinha d�vidas de que a chegada dos crist�os � Am�rica havia causado �a destrui��o das �ndias', literalmente levando pragas e morte a milh�es dos habitantes ind�genas da regi�o.� maxwell � decerto o �ltimo historiador do mundo que aceita a �leyenda negra� de frei bartolom� de las casas como fonte confi�vel. depois que a pesquisadora australiana inga clendinnen reuniu em aztecs: an interpretation (cambridge university press) todos os testemunhos de sobreviventes das batalhas de hern�n cortez contra os astecas, nenhum membro da comunidade historiogr�fica tem o direito de ignorar que quem destruiu essa antiga cultura n�o foram os espanh�is, mas as tribos circunvizinhas, cansadas de fornecer v�timas sacrificiais para os ritos macabros de uma religi�o cujo fim maxwell acha lament�vel. se o livro de frei bartolom� ainda serve de documento, n�o � sobre a hist�ria das am�ricas: � sobre o �dio psic�tico que os europeus t�m a si mesmos, que os leva a inventar mentiras contra seus her�is e m�rtires enquanto os remanescentes astecas alardeiam orgulho de uma cultura genocida. mas, se maxwell desconhece o passado, ignora ainda mais radicalmente o presente. apelar � igreja de chiapas como argumento contra o anti-abortismo papal � dar um tiro no pr�prio p�: os bispos de chiapas foram os primeiros na am�rica latina a amea�ar de excomunh�o os partid�rios do aborto, e s�o at� hoje os mais intransigentes nisso. tiro no p� n�o � talvez a express�o adequada: maxwell est� mais � seguindo os passos de jimmy carter, queridinho da esquerda chique, o �nico presidente americano que derrubou um aliado para dar o poder a um inimigo, o primeiro atleta que conseguiu ter falta de ar por meio de exerc�cios respirat�rios e o primeiro e �nico jogador de golfe, em todo o universo, que conseguiu acertar o pr�prio olho com o taco.

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