A vida e a morte – parte 1 (BS 1576) Pres. Ikeda: Estamos em 1999. Enfim nos aproximamos da contagem regressiva para o século XXI. Esta é sua época. O futuro encontra-se em suas mãos. Espero que façam com que o século XXI seja realmente maravilhoso. Por favor, façam com que seja um século em que a vida de cada indivíduo seja prezada e respeitada ao máximo. Um século sem discriminação, sem agressão, sem guerras nem matanças. Um século em que nenhuma criança chore de fome, em que nenhuma mãe tire sua vida e a de seus filhos por causa do desespero. Um século sem destruição ambiental, livre do elitismo acadêmico, sem ganância nem materialismo. Um século em que os direitos humanos sejam respeitados como o maior tesouro; de verdadeira democracia, em que o povo faça com que os líderes políticos corruptos prestem contas. Um século em que as pessoas exercitem o julgamento correto e não dêem atenção às mentiras dos meios de comunicação. Espero que façam com que nesse século cada um de seus preciosos sonhos seja concretizado e que sua personalidade única floresça com toda plenitude. Para concretizar esses objetivos, é vital que cada um de vocês conquiste a vitória, que se tornem pessoas de filosofia e benevolência que possuem tanto a capacidade real como a sinceridade para compreender o coração dos outros. Sua vitória será a vitória do século XXI. Vocês são nossa única esperança.
Possuindo uma correta visão da vida e da morte Yumitani: Nós faremos o máximo para criarmos um século da vida. Pres. Ikeda: A base de tudo é a maneira como encaramos a vida — ou seja, a perspectiva que temos da vida, da morte e da condição humana. O Japão encontra-se atualmente em uma profunda escuridão, em um impasse, assim como tantos outros países. Qual é a causa disso? A causa é uma compreensão distorcida da questão fundamental da vida e da morte. Os líderes da sociedade e a maioria das pessoas evitam pensar nesta que é a mais importante de todas as questões, deixando-a de lado para buscarem unicamente os desejos imediatos. Como resultado, estamos agora sofrendo as conseqüências dessa negligência. O principal é que, se não voltarmos novamente nossa atenção para a questão fundamental da vida e da morte, não acontecerá nenhuma mudança realmente verdadeira, independentemente de quais sejam as medidas superficiais que tomarmos. É como tratar uma doença com analgésicos sem solucionar a causa. Apesar de os sintomas amenizarem temporariamente, estamos apenas enganando o corpo e não conseguiremos melhorar. O historiador britânico Arnold J. Toynbee sustentava que a causa do infortúnio do mundo encontrava-se no fato de os líderes de todos os campos não considerarem a questão básica da morte. Ueda: O que significa que eles não compreendem realmente o verdadeiro valor da vida.
Por que não se dá prioridade máxima à vida?
Pres. Ikeda: Esse é um importante problema que também está subjacente à poluição ambiental. Vejam a atitude indiferente com relação à terrível tragédia do envenenamento por mercúrio industrial (conhecido como doença de Minamata)1 ocorrida na cidade de Minamata, no Japão, nas décadas de cinqüenta e sessenta. Os responsáveis pela companhia, a burocracia e o governo agiram com uma atitude que não demonstrava nenhuma prioridade à vida das pessoas. Tudo que ofereceram foi uma resposta fria e burocrática, colocando os grandes interesses financeiros em primeiro lugar. O consumo de peixe contaminado com mercúrio dos dejetos industriais lançados pela companhia na Baía de Minamata fez com que pessoas saudáveis passassem a sofrer de entorpecimento dos membros, o que as deixava incapazes de coordenar os movimentos musculares voluntários. Seu sistema nervoso foi destruído e algumas pessoas tiveram convulsões e morreram. Crianças nasceram surdas, cegas e com impedimentos da fala. Pessoas inocentes foram forçadas a viver um inferno vivo. No entanto, desde quando apareceram as primeiras vítimas, foram necessários quinze anos para que o governo japonês finalmente reconhecesse que a doença estava relacionada à poluição (em 1968). Por que não foi tomada uma providência imediata? Por que não foram empreendidos esforços imediatos para salvar essas preciosas vidas em vez de desperdiçar tempo com todos os tipos de desculpas e racionalizações? Entre os executivos da companhia, burocratas e líderes do governo, havia muitos formados pelas melhores universidades do Japão. Na verdade, quase todos eles. Mas essas pessoas, que deveriam ser as melhores e as mais brilhantes do Japão, careciam de algo essencial como seres humanos. Isso é realmente temeroso, e mostra uma falha fundamental no sistema educacional japonês — a falta de uma sólida filosofia de vida e de humanismo. Ueda: Estou plenamente de acordo. Pres. Ikeda: Vocês ainda são jovens e tenho certeza de que a maioria não tem uma concepção clara a respeito da morte. Isso é natural. Mas exatamente pelo fato de serem jovens é que gostaria que pensassem seriamente em questões tais como: O que é a vida? O que acontece quando falecemos? Por que nascemos? Gostaria que se tornassem adultos detentores de uma firme filosofia sobre a vida e a morte. Disse um filósofo que a consciência da morte, da própria mortalidade, é o que distingue a humanidade dos demais seres do reino animal. Yumitani: Um de nossos membros da Divisão dos Estudantes Colegiais de Tóquio passou por uma experiência muito próxima da morte. Ele era integrante da equipe de atletismo da escola em que estudava. Em dezembro de seu primeiro ano na escola, ele estava praticando salto em altura quando caiu e bateu a cabeça. Ele deslocou e fraturou a vértebra cervical e por muita sorte não morreu. Sofreu uma cirurgia de seis horas mas, apesar de bem-sucedida, não podia mais movimentar-se sem a ajuda dos outros. Ele sentia uma extrema pena de si mesmo. Então, em 2 de janeiro ele recebeu do senhor um poema: “Oro dia após dia Por sua saúde, Pois você possui uma grande missão. ”
Ele ficou tão comovido com essas palavras que a coragem para desafiar sua condição física brotou
das profundezas de seu ser. Orou Daimoku e empreendeu um grandioso esforço nas sessões de fisioterapia. E deixou o hospital no dia 3 de abril. De fato, hoje ele está de volta à escola e até mesmo à equipe de atletismo. Ele disse o seguinte: “Eu poderia ter morrido, mas agora estou bem. Sinto-me tão feliz. Meu ferimento ensinou-me de uma outra forma o enorme poder do Gohonzon. A partir de hoje, como membro da Divisão dos Estudantes Colegiais, ponderarei cuidadosamente sobre minha missão, mencionada no poema que o presidente Ikeda me enviou, e a concretizarei sem falha!” NOTA 1. Doença de Minamata: Doença com graves efeitos sobre o sistema nervoso central que afetou milhares de pessoas em Minamata, cidade ao sul da Província de Kumamoto, em Kyushu. As águas de Minamata foram poluídas por dejetos industriais altamente tóxicos despejados por uma fábrica pertencente à Chisso Corporation. A doença foi resultante do consumo de frutos do mar contaminados com elevadas concentrações de mercúrio. Como conseqüência disso, durante anos ocorreram mortes e muitas crianças nasceram com terríveis deformações congênitas.
A vida e a morte – parte 2 (BS 1577) Nascemos porque temos uma missão
Pres. Ikeda: Isso é admirável! Todos têm uma missão. É por essa razão que nascemos. É por isso que, independentemente do que aconteça, devemos prosseguir na vida superando tudo. A palavra japonesa que designa missão significa “uso da própria vida”. Para qual objetivo usamos nossa vida? Qual o objetivo de termos nascido neste mundo, enviados pelo universo? Por que fomos enviados para cá? O budismo considera o universo como uma gigantesca entidade. Se o compararmos ao vasto oceano, cada vida é como uma onda nesse oceano. A vida é quando as ondas se levantam na superfície do oceano, e quando ela volta é a morte. A vida e a morte são unas com o universo. No nascimento de uma única vida, há a aprovação e cooperação do universo inteiro. Todas as vidas são igualmente preciosas. Não podemos aplicar uma hierarquia ao valor da vida, tornando uma mais valiosa que outra. Cada vida é única. A vida de cada pessoa é tão valiosa quanto o universo, é una com a vida do universo e tem a mesma importância. Nitiren Daishonin declara: “A vida é o maior de todos os tesouros.” (The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 1125.) E diz ainda: “O Buda diz que a vida é algo que não pode ser comprado nem pelo preço de todo um sistema maior de mundos.” (Ibidem, pág. 983.) E “Um dia de vida é mais valioso que todos os tesouros do sistema maior de mundos.” (Ibidem, pág. 955.) É por essa razão que não devemos tirar nossa própria vida. É por isso que não devemos recorrer à violência, que não devemos ferir nem agredir os outros. Ninguém tem o direito de prejudicar o precioso tesouro que é a vida. Yumitani: Um estudante escreveu que quando foi vítima de agressões questionava por que havia nascido neste mundo doloroso, e por quê, acima de tudo, havia nascido.
Pres. Ikeda: “Por que nascemos?” — a juventude é a época de buscar a resposta dessa questão. A juventude é nosso “segundo nascimento”. O primeiro nascimento é o físico, mas é durante a juventude que realmente nascemos como pessoa. Por isso é um período tão difícil na vida e temos de sofrer tanto. É uma luta, tal como a do passarinho tentando romper a casca do ovo. A questão crucial é jamais desistir. Enquanto lutam para encontrar seu caminho, por favor, orem, reflitam, estudem, conversem com seus amigos e dêem o máximo para o que é mais importante agora. Se desafiarem a si próprios sem se darem por vencidos, sua missão — aquela que somente vocês podem cumprir — será revelada sem falha. Ueda: Sim. Se o passarinho desistir no meio do caminho, nunca conseguirá sair do ovo.
Os verdadeiros vitoriosos são os que perseveram até o fim
Pres. Ikeda: Espero que não se deixem derrotar por seus problemas e batalhas. As pessoas derrotadas pelos problemas não passam por um renovado crescimento ou “renascimento” como seres humanos e acabam vivendo apenas por instinto, como animais. E isso é uma morte espiritual. Todos vocês conhecem Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União Soviética e também meu amigo. Gorbachev é o responsável pelo fim da Guerra Fria. Ele é um verdadeiro herói que teve o bom senso de dizer: “Essa tolice não pode continuar!” Querendo encontrar uma forma de levar a felicidade a toda a humanidade, ele deu um passo decisivo para a mudança. Como o líder supremo da União Soviética, ele era praticamente o todo-poderoso de sua terra natal. Ele poderia muito bem ter permanecido confortavelmente na fortaleza do poder. Mas escolheu um caminho diferente — um caminho perigoso e arriscado. Ele sofreu atentados, foi traído e perseguido. Mas, em meio a tudo isso, recusou-se a abandonar seu sonho de uma sociedade em que as pessoas estivessem em primeiro lugar. Quando Gorbachev e sua falecida esposa Raisa visitaram o Colégio Soka de Kansai [em 20 de novembro de 1997], ela proferiu um discurso aos alunos. “Vocês passarão por todo tipo de sofrimento na vida”, disse Raisa. “Nem todos eles serão curados. Vocês tampouco conseguirão realizar todos os seus sonhos. Mas há algo que vocês podem alcançar. Há um sonho que podem tornar realidade. “Portanto, a pessoa que triunfa no final é aquela que se levanta após cada queda e avança. A capacidade de continuar a lutar é uma questão de determinação. A morte não vem para a pessoa que está cansada, mas sim para aquela que parou de avançar. “Vocês podem pensar que hoje ainda são jovens mas, antes que percebam, já terão alcançado a maturidade. Assim é a vida. Logo terão de assumir a responsabilidade por sua família, pela nação e por todo o planeta. “Que seus sonhos se tornem realidade! Espero que ocorram coisas maravilhosas em sua vida! Que sejam todos felizes!” Ueda: Que mensagem encorajadora!
Não desperdicem nem um único momento da vida Pres. Ikeda: São indescritíveis os sofrimentos e dificuldades pelos quais o casal Gorbachev passou. “Mas nós sobrevivemos”, disse o casal. “Nós vivemos e lutamos.” Todos vocês estão vivendo agora. Como isso é incrível! Espero que não desperdicem esse maravilhoso tesouro. Por falar na Rússia, contei anteriormente como o grande escritor russo Fiodor Dostoievski (1821– 1881) escapou por pouco de ser executado por um pelotão de fuzilamento. Enquanto aguardava sua vez de ser chamado pelos executores, começou a pensar em como passaria seus últimos momentos. Ele sabia que dentro de cinco minutos seria preso a um poste e executado, e assim desapareceria deste mundo. Não queria desperdiçar esses cinco preciosos minutos, pois eram seu último tesouro. Precisava utilizá-los cuidadosamente. Ele dividiu o tempo restante em três partes. Usaria os primeiros dois minutos para despedir-se de seus amigos e entes queridos. Os dois minutos seguintes seriam dedicados a uma última reflexão sobre si próprio. E o último minuto usaria para dar uma última olhada ao seu redor.1 Ao mesmo tempo, decidiu que, se por alguma razão fosse poupado, transformaria cada minuto em uma era e jamais desperdiçaria um segundo sequer. Yumitani: Que experiência intensa deve ter sido!
Aproveitem a vida ao máximo Pres. Ikeda: Pensando nisso, mesmo sabendo que não vamos morrer nos próximos cinco minutos, todos nós, sem exceção, morreremos um dia. Podemos contar cem por cento com isso. Não existe nada mais certo. Victor Hugo disse certa vez: “Todos nós temos uma sentença de morte, mas com um tipo de adiamento indefinido.”2 O ideal é vivermos cada minuto da vida de forma útil, como se fosse uma era. As pessoas que não têm um objetivo na vida chegam ao final dela com um sentimento de vazio, mas aquelas que vivem com plenitude e empenham-se corretamente até o fim terão uma morte tranqüila. Leonardo da Vinci também disse: “Assim como um dia bem aproveitado faz com que tenhamos um sono feliz, uma vida bem vivida leva a uma morte feliz.”³ As pessoas conscientes do fato de que a morte pode chegar a qualquer momento vivem cada dia ao máximo. Em uma corrida, também é a linha de chegada que nos faz correr com toda nossa força. Ueda: Enfrentar a realidade da morte dá sentido à vida. Yumitani: Acho que se não morrêssemos nossa vida ficaria vazia e sem objetivo, assim como não estudamos a menos que saibamos que haverá um exame! Pres. Ikeda: É verdade. Uma vida sem morte poderia ser uma ótima idéia, mas também significaria que adiaríamos as coisas, pensando que, mesmo que não nos preocupássemos no momento, poderíamos dar conta de tudo dentro de dez ou vinte anos. De fato, provavelmente nunca faríamos nada. Todos nós nos tornaríamos totalmente decadentes e preguiçosos.
Yumitani: Imagino que seja isso o que acontece com as pessoas que passam a vida à toa, sem nunca considerar com seriedade a realidade da morte. Pres. Ikeda: Diante da morte, aspectos como riqueza, posição social, honras e qualificações acadêmicas não têm nenhum significado. Nesse momento, tudo se decide de acordo com sua própria vida, destituída de todos os ornamentos externos. Vocês se sentem realizados? Ou sua vida é vazia, fraca e sem energia? É por essa razão que necessitamos da fé para forjar nossa vida e desenvolvê-la. Ueda: Nunca sabemos quando a morte virá. Portanto, não podemos nos permitir desperdiçar um momento sequer. Pres. Ikeda: Não, não podemos. Eu adotei um lema diário: “O dia de hoje equivale a uma semana!” Ainda não vivi cem anos, mas tenho me empenhado para criar várias centenas de anos de valor.
Sem arrependimentos Yumitani: Se vivermos cada dia com seriedade e plenitude, não teremos nenhum arrependimento. Pres. Ikeda: Trata-se de ter senso de missão. Não existe nada mais forte. José Rizal, o herói da independência filipina, deu a vida por essa missão. Ele foi executado por um pelotão de fuzilamento, mas em sua última carta escreveu: “Não me arrependo do que fiz, e se tivesse de começar novamente, faria o mesmo, porque esse era meu dever.”4 Ueda: Seria maravilhoso se todos nós pudéssemos chegar ao fim da vida sentindo que, se pudéssemos viver novamente, seguiríamos pelo mesmo caminho. Pres. Ikeda: Para viver dessa forma, é necessário uma firme concepção da vida e da morte. O que acontece quando morremos? O que acontece com nossa vida? Na próxima vez, vamos analisar as respostas que o budismo dá para essas questões. Yumitani: Num certo momento da vida, todos se perguntam por que nasceram, por que morrerão e o que acontecerá após a morte. Um de nossos membros da Divisão dos Estudantes Colegiais disse que a morte de seu tio realmente fez com que ele pensasse nisso. Ao ver o corpo de seu tio sem vida, ele achou que se parecia com um boneco de cera e não pôde deixar de pensar no significado da morte. Ueda: Outro estudante escreveu o seguinte: “Quando tenho muitos problemas e passo por uma situação muito difícil, fico me perguntando por que estou vivo — qual o sentido disso tudo. Sintome tão só algumas vezes e isso me deixa triste e sem esperanças na vida.” E um outro disse: “Quando meu avô faleceu, pensei na vida e na morte. Fiquei imaginando como é que as pessoas morrem assim tão facilmente. Também me arrependi por não ter feito mais por meu avô quando ele estava vivo. A questão da vida e da morte é a raiz. Todos os demais problemas são as folhas e ramos”. Pres. Ikeda: É algo extremamente valioso ponderar dessa forma sobre a questão da vida e da morte. Isso é uma prova de nossa humanidade.
Em geral, quando as pessoas vão envelhecendo e acabam presas pela rotina da vida diária, tendem a parar gradativamente de considerar sobre as questões fundamentais. Mas a questão da vida e da morte é muito importante. Devemos considerar profundamente sobre ela durante toda nossa vida. Se comparássemos nossa existência a uma árvore, a questão da vida e da morte seria como suas raízes. Embora tenhamos toda uma variedade de problemas e questões para lidar na vida, eles nada mais são que os ramos e as folhas, todos ligados à raiz da questão fundamental da vida e da morte. Yumitani: Algumas pessoas pensam assim: “Ainda sou jovem. Não tenho necessidade de pensar nisso. Posso esperar até que fique mais velho e esteja à beira da morte.” Pres. Ikeda: Bem, talvez possamos analisar isso da seguinte forma. Vamos imaginar a caloura de um curso. Ela faz planos e lança objetivos para seu primeiro ano no colegial. Mas não conseguirá nada de significativo enquanto não definir quais serão seus planos para todo o período do colegial. Yumitani: Isso faz sentido. Pres. Ikeda: Assim, ela tenta fazer planos para todo o período do colegial. Mas então percebe que se não pensar no que vai fazer depois de se formar, também não poderá planejar os anos do colegial de forma sábia. Ueda: Sim, mas a menos que tenha no mínimo uma vaga idéia do que quer fazer quando deixar a escola — seja encontrar um emprego ou ir para a faculdade — realmente não se consegue passar a época do colegial da melhor forma possível. Pres. Ikeda: Da mesma maneira, não se pode contemplar de forma significativa como passar a vida se não souberem o que acontecerá com vocês após a “formatura” — em outras palavras, após a morte. Yumitani: Sim, compreendo o que o senhor quer dizer.
Jovens filósofos, ponderem sobre a questão da vida e da morte! Pres. Ikeda: Por essa razão é tão importante que vocês sejam jovens filósofos e que ponderem profundamente sobre essa questão da vida e da morte enquanto estão na juventude. Se as pessoas se deixarem levar pela crença de que não existe vida após a morte, sucumbirão facilmente à visão de que podem fazer o que quiserem e então, quando encontrarem alguma dificuldade, simplesmente poderão dar um fim a sua vida e acabar com tudo. Yumitani: Sim, hipoteticamente isso é possível. Ueda: Concordo. Voltando ao exemplo do colegial, tenho certeza de que se nada houvesse após a formatura, muitos estudantes achariam desnecessário estudar tanto. Yumitani: Bem, as pessoas que crêem que não existe nada após a morte poderiam ainda empenhar algum esforço para viverem de forma agradável, mas provavelmente não se esforçariam tanto para tentar se aperfeiçoar ou para servir aos outros.
Pres. Ikeda: É claro que ninguém que acredite que a morte é o fim vive de forma irresponsável e em absoluto abandono. Não somente existem restrições sociais contra isso como também, bem lá no fundo do coração, os seres humanos sabem intuitivamente que a vida é eterna e que há uma maneira correta de vivê-la. Yumitani: Há também algumas pessoas que dizem que exatamente pelo fato de esta ser nossa única existência — como não há vida após a morte — temos de fazer o melhor no presente. Mas nem todos pensam dessa forma. Pres. Ikeda: Está se tornando predominante no mundo de hoje a visão materialista de que não há vida após a morte. Creio que seja essa a razão de a ética e a moralidade terem se degenerado em mera ambição. No grande romance Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, a personagem Ivan faz o seguinte comentário: “Supondo que não houvesse nenhum Deus, o que seria então considerado como crime? Todas as coisas seriam lícitas?” Se substituíssemos a palavra “Deus” por “vida após a morte”, poderíamos aplicar a mesma questão. Teríamos um mundo onde poderíamos fazer o que quiséssemos até que alguém nos impedisse. Yumitani: De fato, parece que é essa a maneira como o mundo está sendo conduzido.
Pessoas que buscam pelo significado da vida Ueda: Algumas pessoas fazem a seguinte questão: “A morte é realmente o fim? Caso assim seja, isso significa então que tudo na vida é vazio e sem significado?” Pres. Ikeda: Somos seres que buscam um significado na vida. Enquanto tivermos um sentido para viver, poderemos suportar qualquer sofrimento. Mas, sem um propósito na vida, podemos ter tudo que quisermos e ainda assim sentirmo-nos completamente vazios, como se nosso espírito perecesse. Assim como têm de adotar uma perspectiva mais ampla de todo seu período no colegial e dar um significado ao primeiro ano letivo, têm de adotar também uma visão mais ampla para enxergar o propósito de sua vida, ou seja, visualizar esta existência e o que acontece após a morte. Sem isso, não conseguirão valorizar a própria vida. Por essa razão é tão importante a compreensão da vida e da morte.
A vida do universo é um grande oceano e as ondas representam nossa vida Yumitani: O budismo ensina que a vida é eterna. Da última vez, o senhor descreveu o universo como uma grande entidade viva, como um vasto oceano, e cada vida como uma onda desse oceano. Ueda: A vida pode ser associada ao momento em que as ondas se levantam na superfície do oceano. E quando fundem-se com o oceano, temos a morte. Yumitani: Ainda não entendi muito bem o que significa exatamente “fundir-se”.
Pres. Ikeda: O Sr. Toda disse certa vez que se jogarem um pouco de tinta em um lago, ela será dissolvida e desaparecerá. Assim é a morte. Posteriormente, se utilizarem algum aparelho para recolherem os componentes da tinta dissolvida e juntá-los novamente, isso significaria a vida, disse ele. Yumitani: Apesar de a vida da pessoa fundir-se com a vida do universo, sua identidade não desaparece. Pres. Ikeda: Essa vida não cessa sua existência. Quando encontrar as condições ideais, vai se manifestar novamente. Mas se perguntarem se essa vida existe como algo tangível, a resposta é absolutamente não. Não podemos localizá-la em algum lugar do universo, pois ela se torna una com todo o universo. Isso não significa existência nem não-existência. O budismo refere-se a isso como o estado de não-substancialidade (kuu). Vamos usar uma metáfora. Atualmente, um número infinito de ondas de rádio cruzam o globo. Exatamente aqui há agora ondas de rádio de todas as freqüências — de transmissões de rádio e de televisão, entre outras — espalhadas ao nosso redor. Algumas delas são do Japão e outras, dos demais países. Apesar de dizermos que essas ondas existem, não podemos vê-las nem ouvi-las. Não podemos cheirá-las nem tocá-las. Mas se tivermos um aparelho de rádio ou TV ou algum outro receptor apropriado, e o sintonizarmos na freqüência correta, conseguiremos ouvir os sons e ver as imagens que essas ondas produzem. Yumitani: Um televisor torna-se assim a condição necessária para fazer com que uma onda invisível passe a ser visível na forma de imagens de vídeo. Pres. Ikeda: Talvez poderíamos chamar isso de transição da morte para a vida pela qual a onda passa. É claro que isso é apenas uma metáfora. Mas, de uma forma muito similar, no momento da morte a vida funde-se com o universo. Essas vidas não se chocam umas com as outras e também não ficam sobre as costas dos outros nem se dão as mãos! Cada vida funde-se com o universo, embora mantenha sua individualidade.
Os aspectos físico e espiritual da vida são um só Ueda: Será que essa individualidade difere do conceito de uma alma ou um espírito separado do corpo físico? Pres. Ikeda: Difere completamente. O budismo ensina que algo assim como um espírito substancial e separado do corpo não existe. Em todas as formas de vida, a mente e o corpo — os aspectos espiritual e físico — são um só. Tanto na vida como na morte, as energias física e espiritual de uma entidade não podem ser separadas. Elas são unas e indivisíveis. Acreditar que o espírito pode se separar do corpo e ficar flutuando por aí é pura superstição. A vida — na qual os aspectos físico e espiritual são sempre unos — funde-se com a grandiosa vida do universo, embora preserve sua individualidade. Yumitani: Ao morrermos, o cérebro é destruído. Então, como ainda podemos ter alguma energia espiritual? Creio que a razão pela qual muitas pessoas acreditem atualmente que não há nada após a morte deve-se ao fato de sua crença em que o espírito reside no cérebro e assim não pode continuar a existir após as células cerebrais terem morrido.
Pres. Ikeda: Esse é um ponto importante. Já detalhei essa questão em outras ocasiões, e espero que vocês estudem esses diálogos e escritos, mas a questão principal é que o cérebro é o local ou o veículo físico para as atividades mentais ou espirituais; não é a própria mente ou o próprio espírito. É essa a maneira como o encaramos. Por exemplo, o grande filósofo francês Henri-Louis Bergson (1859–1941) comparou a relação entre nosso cérebro e nossa consciência a um cabideiro e às roupas penduradas nele. Se o cabideiro desaparece — ou seja, se o cérebro morre — as roupas caem ao chão. Em outras palavras, a atividade mental torna-se impossível. Mas o cabideiro não representa as roupas. Ueda: Por falar em Bergson, sei que na primeira vez em que o senhor foi convidado para uma reunião de palestra da Soka Gakkai, quando estava com dezenove anos, e lhe disseram que seria um encontro em que as pessoas falariam sobre a “filosofia da vida”, o senhor perguntou se “estavam se referindo a Bergson”. Pres. Ikeda: Sim, é verdade. Bergson viveu há aproximadamente cem anos, e sem dúvida essa é a razão pela qual ele usou a metáfora das roupas e do cabideiro. Hoje em dia, é melhor usar o exemplo de imagens televisionadas e do aparelho de som e de TV ou do monitor necessário para transmiti-los. Nesse contexto, a memória e outras atividades mentais são como as imagens e o som. Eles não aparecem sem um televisor, que pode ser comparado ao cérebro. E o simples fato de seu maior ídolo aparecer na televisão não significa que vocês encontrarão uma foto dele lá dentro se desmontarem seu aparelho de TV. Da mesma forma, quando o cérebro morre, a energia mental perde seu veículo de manifestação, no entanto, isso não significa que essa energia tenha deixado de existir. Tampouco a energia física deixa de existir quando o corpo morre. Ela perde o veículo pelo qual realiza suas atividades e torna-se latente. Yumitani: E na próxima vez em que renascermos, essa energia latente será ativada novamente, não é mesmo? Pres. Ikeda: Sim, a energia latente se manifesta e entra em atividade mais uma vez quando se inicia uma nova fase da vida. No entanto, rigorosamente falando, nossa vida não “renasce”. Ela existe continuamente. A identidade de nossa vida não muda. Nossa vida — cujo corpo e espírito são um só — continua imutável. A essência da vida não é algo cujo espírito deixa o corpo e flutua pelo céu ou algo parecido.
Os fantasmas Ueda: Há pessoas que dizem terem visto um fantasma, ou que ouviram a voz de sua avó falecida. Essas experiências são apenas sonhos ou ilusões? Pres. Ikeda: Não, essas experiências podem ser reais. Mas a pessoa não está vendo um fantasma. Pode ser que as ondas de uma pessoa que está no estado de morte se sobreponham, por alguma razão, às ondas da que está viva, e a pessoa viva percebe algo como uma visão ou a voz de uma pessoa já falecida. A vida é cheia de mistérios. Poderíamos comparar isso a uma linha cruzada no telefone.
Yumitani: Sim, isso às vezes acontece comigo quando uso o telefone celular. Pres. Ikeda: O Sr. Toda costumava dizer que ver fantasmas ou ouvir vozes acontece quando a energia vital da pessoa está fraca. Se estão fracos, são sobrecarregados por outros sinais e acabam atuando como se fossem um receptor de rádio ou TV para esses sinais. É por essa razão que são os únicos a ouvir ou ver essas coisas. Se sua energia vital estiver forte, isso não acontecerá. De fato, se recitarem Daimoku conseguirão enviar as ondas do estado de Buda para essas pessoas e ajudá-las a encontrar a paz. Yumitani: Então há vidas que não se fundem tranqüilamente com a vida do universo? Pres. Ikeda: Sim. Algumas se fundem com a vida universal sofrendo as dores mais medonhas. Outras ficam aterrorizadas, como se estivessem sendo perseguidas por um monstro horrível. E outras não têm repouso, como se estivessem tendo pesadelos.
O som de nosso Daimoku pode salvar os que estão no estado de morte Ueda: Nós podemos ajudar essas pessoas com nosso Daimoku? Pres. Ikeda: Sim, podemos. O som de nosso Daimoku alcança a vida das pessoas que entraram no estado de morte. E é claro que também atinge os que ainda estão vivos. O poder do Nam-myohorengue-kyo ilumina tudo no universo, até mesmo os rincões mais distantes do estado de Inferno, lançando-lhe a luz da esperança, da paz e da tranqüilidade. A Lei Mística é formada pelos caracteres chineses myo e ho. Myo (mística) simboliza a morte e ho (lei), a vida. Juntas, formando a expressão Lei Mística, representam a unicidade da vida e da morte. Tanto a vida como a morte são fases da existência. Apesar de a vida e a morte parecerem totalmente separadas e independentes uma da outra, a entidade da vida existente nessa dinâmica é única e imutável, e tem uma continuidade eterna alternando períodos de vida e de morte. O Nam-myoho-rengue-kyo é o ritmo fundamental dessa vida eterna. É por isso que o Daimoku tem o poder de ajudar até mesmo aqueles que se encontram no estado de morte. Yumitani: O que determina se uma vida está sofrendo ou se está no estado de tranqüilidade após a morte? O Inferno e o Pico da Águia existem realmente? Pres. Ikeda: Sim, eles existem. Mas não se encontram em nenhum lugar. O estado de Fome não está em algum lugar além de Saturno, tampouco o Pico da Águia se encontra do outro lado do Sol. Gostaria que vocês estudassem mais a respeito dos Dez Mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e estado de Buda), mas o importante é lembrar-se de que assim como os Dez Mundos existem em cada pessoa, também estão presentes no universo. A vida daquela pessoa cuja tendência básica enquanto viva é permanecer no estado de Inferno vai se fundir, após o falecimento, com o estado de Inferno do universo. O estado de Inferno existe em nossa própria vida, mas não podemos dizer que se encontra em algum lugar particular dentro de nós. Simplesmente porque sentem uma dor de dente não podem dizer que o estado de Inferno está em seu dente. Todo seu ser sente dor, e todo seu ser está no Inferno. Da mesma forma,
quando morre uma pessoa cuja tendência básica da vida é o estado de Inferno, todo o universo torna-se o Inferno para esse indivíduo.
Transformando nossa tendência básica da vida Ueda: O que o senhor quer dizer com “tendência básica da vida”? Pres. Ikeda: É a natureza essencial ou a tendência de vida para a qual vocês sempre retornam. Estamos todos os dias sujeitos a muitas causas e condições externas que estimulam em nós várias emoções e efeitos. Nós ficamos zangados, rimos, pensamos, e nossa vida está sempre num estado de constante mudança. No entanto, cada pessoa tem sua própria tendência básica. Por exemplo, há pessoas que são fundamentalmente iradas por natureza e são sempre rápidas em perder a compostura, e há outras cuja força vital é fraca e ficam facilmente deprimidas, e pessoas que vivem no estado de Bodhisattva e sempre pensam nos outros em primeiro lugar. Nossa tendência básica de vida é o que determina em qual dos Dez Mundos nossa vida ficará após a morte. Yumitani: Isso é um tanto assustador! Pres. Ikeda: Após o falecimento, as condições e causas externas não são as mesmas de quando a pessoa estava viva, e assim sua tendência de vida torna-se todo seu ser. Em vida, mesmo uma pessoa cujo estado básico é o de Inferno, que está sempre sofrendo e cuja própria vida é dolorosa, pode experimentar momentos de alegria e prazer. Mas, após a morte, essa pessoa permanecerá somente no estado de Inferno. Ueda: Isso é com certeza uma grande motivação para realizarmos nossa revolução humana enquanto ainda estamos vivos!
O dinheiro e a fama não nos ajudam no momento da morte Pres. Ikeda: A tendência básica da vida de uma pessoa torna-se claramente visível no momento da morte. Uma enfermeira veterana que cuidou de muitos doentes terminais e esteve com muitos deles em seus momentos finais, disse: “Parece que em seus últimos momentos toda sua vida passa em flashes diante de seus olhos, como se fosse um filme. Não o fato de terem se tornado presidentes de uma companhia ou de terem sido bem-sucedidos nos negócios ou coisas desse tipo, mas sim o tipo de vida que levaram. As pessoas a quem amaram e a quem trataram com carinho, e de que forma. Como foram insensíveis ou cruéis. O sentimento de satisfação por terem vivido de acordo com suas crenças ou uma dor profunda por terem-nos traído. Tudo o que foram como seres humanos passa diante de seus olhos. Assim é a morte.” Yumitani: Ouvir isso realmente faz a pessoa parar para pensar. Pres. Ikeda: Nesse momento, nem a fama nem o dinheiro, o conhecimento e tampouco a posição social poderão ajudá-los. Seus amigos e familiares não poderão ajudá-los. Vocês terão de enfrentar sozinhos sua própria verdade. A morte é realmente rigorosa e inflexível.
E o eu existente nesse momento do falecimento é o que permanecerá durante todo o estado de morte e continuará na próxima existência. É por essa razão que o budismo ensina que devemos atingir o estado de Buda enquanto estamos vivos. Devemos fazer o máximo para cultivar e enriquecer nossa vida como seres humanos. Esse é o objetivo de nossa prática budista. Nada é mais importante na vida que realizar nossa revolução humana. E quanto mais jovens forem, mais fácil será conquistá-la.
NOTA 1. Cf. Fiodor Dostoievski, The Idiot. David Magarshack, trad. Londres, Penguin Books, 1955, pág. 57. 2. From the Great Thoughts. Compilado por George Seldes. Nova York, Balantine Books, 1985, pág. 194. 3. The Notebooks of Leonardo da Vinci. Edward McCurdy, trad. Londres, Jonathan Cape Ltd., 1938, vol. 1, pág. 73. 4. Carlos Quirino, The Great Malayan — The Biography of Rizal. Manila, Philippine Education Company, 1940, pág. 258.
Vida e morte — terceira e última (BS 1590) Ueda: Temos mais perguntas sobre a vida e a morte. Um membro escreveu: “Minha avó, que eu amava muito, morreu. Depois que eu morrer, poderei encontrá-la novamente?” Pres. Ikeda: Nitiren Daishonin diz que sim. Essa é a maneira benevolente com que ele tranqüiliza uma mãe que havia perdido o filho: “Há uma maneira de encontrá-lo (seu filho falecido) prontamente. Tendo o Buda Sakyamuni como guia, a senhora poderá encontrá-lo na terra pura do Pico da Águia... O Sutra de Lótus ensina que jamais aconteceria de uma mulher que recita o Nam-myoho-rengue-kyo não se encontrar com seu amado filho. (The Writings of Nichiren Daishonin [WND], pág. 1092.) Este trecho foi extraído de “O Presente de Saquê Puro”, uma carta que Daishonin enviou para a monja leiga Ueno, a mãe viúva de Nanjo Tokimitsu, após o repentino falecimento de seu filho mais novo. Ao dizer que mãe e filho vão se “encontrar na terra pura do Pico da Águia”, Daishonin está dizendo à mãe consternada que seu filho falecido atingiu o estado de Buda. E assegura-lhe que, como ela também está destinada a atingir o estado de Buda, poderá encontrar o filho no mesmo mundo do estado de Buda. Poderíamos dizer que a palavra “encontrar” é usada aqui no sentido de que quando nossa vida após a morte funde-se com a vida universal, podemos sentir nossa união, ou unicidade com nossos queridos entes falecidos. Ou no sentido de que poderemos encontrar novamente nossos queridos entes falecidos no futuro em alguma outra terra do Buda no universo. É bem possível que, neste nosso vasto universo, haja muitas terras ideais do Buda onde o Kossenrufu já tenha sido alcançado. Astrônomos anunciaram recentemente que há no universo aproximadamente 125 bilhões de galáxias. Essa estimativa do número de galáxias no universo baseia-se em observações feitas pelo Telescópio Espacial Hubble, da NASA, e foi apresentada em um encontro da Sociedade Astronômica Americana.
Yumitani: Que número colossal! Não são 125 bilhões de planetas, mas 125 bilhões de galáxias. Isso é estonteante. Pres. Ikeda: Mas, da perspectiva budista do universo, até mesmo esse número ainda é pequeno. O 16o capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, ensina uma visão ainda mais vasta do universo, a qual recitamos como parte do Gongyo da manhã e da noite. A escala universal descrita nesse capítulo é tão imensa que realmente podemos apenas considerá-la como uma tentativa de expressar o infinito. Yumitani: Isso significa que a visão científica do universo está começando a se aproximar da visão budista? Pres. Ikeda: Sim, creio que podemos dizer isso. De qualquer forma, a Terra com certeza não é o único planeta onde existe vida. Há no universo um número infinito de planetas assim. Podemos renascer às vezes com nossos queridos entes falecidos nas terras do Buda dentre esses planetas. Outras vezes, podemos renascer juntos na Terra ou em outros planetas onde o Kossen-rufu ainda não tenha sido alcançado, e então lutar para ajudar aqueles que sofrem. O Sutra de Lótus ensina que cada um de nós tem a liberdade de decidir tudo isso. A vida é eterna. Apesar de dizermos que “perdemos” alguém quando essa pessoa falece, na verdade poderíamos dizer também que ela apenas foi para um lugar distante por algum tempo, como quando um amigo vai para o exterior e não podemos encontrá-lo durante um certo tempo. Ueda: Então, seria possível que a avó falecida desse nosso membro renascesse aqui na Terra, e as duas se encontrarem novamente? Pres. Ikeda: Claro. Mas elas podem não se reconhecer! Além do mais, a avó seria mais jovem que a neta!
O sofrimento nos ajuda a compreender os outros Pres. Ikeda: Quando jovem, o presidente Toda perdeu um filho. Ele disse certa vez: “Perdi minha filha Yasuyo quando eu estava com 23 anos. Segurei minha filha falecida nos braços durante a noite inteira. Naquela época, ainda não havia me convertido à fé no Gohonzon, e estava tão abalado pela dor que dormi com ela no colo. “E assim nos separamos, e hoje estou com 58 anos. Ela estava com três anos quando morreu, portanto, se estivesse viva agora imagino que seria uma mulher admirável na aurora da vida. Será que eu encontrei minha filha novamente nesta vida? Essa é uma questão da própria percepção por intermédio da fé. Eu creio que a encontrei. Se a pessoa se reúne com um parente falecido nesta ou na próxima existência é uma questão da própria percepção por meio da fé.” O Sr. Toda contou esse relato para incentivar um membro que havia perdido um filho pequeno. Ele respondia a uma pergunta que esse membro havia feito: “Será que é possível restabelecer um relacionamento de pai e filho com meu filho falecido ainda nesta existência?” Após ter perdido a filha, o Sr. Toda perdeu também a esposa. Ele sentiu uma enorme dor e sofrimento, mas disse que foi exatamente esse sofrimento que lhe permitia então incentivar e tranqüilizar os outros e, como líder de muitas pessoas, tornar-se alguém que consegue compreender os sentimentos dos demais.
Tudo que nos acontece tem um significado. Mesmo que estejam tristes e cheios de sofrimento e sintam que não podem continuar, enquanto continuarem a avançar com coragem, vivendo de forma a não serem derrotados, vocês acabarão compreendendo o significado dessa dor e sofrimento. Esse é o poder da fé. E é também a essência da vida. Ueda: Compreendo. Yumitani: O Sr. Toda dizia que essa é uma “questão de percepção”. Será que com “percepção” ele queria dizer o sentimento ou a consciência que temos nas profundezas de nossa vida? Pres. Ikeda: Sim. A vida, quando a vivemos realmente com plenitude, trata-se em essência de nossos próprios sentimentos e percepções. Não se trata apenas de uma questão de teorias ou palavras. Vocês podem falar sobre o quanto estão alegres e felizes mas mas, se na verdade sentirem em seu íntimo depressão e desespero, suas palavras não terão nenhum valor. E, da mesma forma, mesmo que intelectualmente compreendam que a vida é eterna, essa compreensão será também vazia e insignificante se não desafiarem a si próprios e não se empenharem na prática budista para que sua vida brilhe eternamente. Tampouco poderão dizer que realmente compreendem a eternidade da vida.
A doença ou os acidentes como causa de morte Yumitani: Presidente Ikeda, o senhor acabou de nos explicar que tudo tem um significado. Mas queria perguntar-lhe o que acontece então com as pessoas que morrem ainda jovens em um acidente ou devido a alguma doença. Há alguma razão para que isso aconteça? Pres. Ikeda: Devemos dar um sentido a isso também. A lei da vida e da morte rege todo o universo. Mas ela sempre se manifesta de forma única, diferente para cada pessoa. A vida é extremamente complexa, e nela atuam inumeráveis causas e condições. Nossa vida é em grande parte governada pelo carma, que foi se acumulando devido às nossas ações praticadas em existências passadas. Todos nós estamos sujeitos ao carma imutável (carma fixo), que determina as condições básicas de nossa vida, tais como por quanto tempo viveremos. E estamos também sujeitos aos efeitos do carma mutável (carma não-fixo), cujos resultados podem ou não aparecer nesta existência. Se fizermos um paralelo entre esses dois carmas e a doença, o carma imutável seria como uma doença grave e até mesmo fatal, e o carma mutável seria uma enfermidade mais leve, como um resfriado. Yumitani: Mas ambos são resultado de nossas ações passadas, certo? Pres. Ikeda: Sim, portanto, não podemos culpar ninguém por nossos problemas. Tudo o que somos são o resultado de nossas próprias ações. Algumas pessoas ficam se corroendo ao imaginar por que não nasceram em determinada família, por que não nasceram mais belas e nobres, mas tudo é determinado por suas próprias ações passadas.
A palavra sânscrita karma significa “ação”. Todas as nossas ações — o que pensamos, o que dizemos e o que fazemos — ficam gravadas na vida. Quando nossas ações forem boas, receberemos efeitos positivos que nos deixarão felizes; e quando forem más, receberemos efeitos negativos que nos tornarão infelizes. Tudo conseqüentemente retorna para nós. É até mesmo bem possível que às vezes aquelas pessoas que cometem atos de terrível crueldade e desumanidade não renasçam como seres humanos nas próximas existências. Ueda: A lei de causa e efeito é muito rigorosa, não é mesmo? As forças do bem e do mal persistem após a morte. Pres. Ikeda: As forças do bem e do mal gravadas na vida da pessoa não desaparecem com o falecimento. Nós as levamos conosco para a próxima existência. Podemos talvez considerar esse fenômeno semelhante ao princípio da conservação da energia ensinada pela Física. Mas o Budismo de Nitiren Daishonin ensina que nós podemos transformar todos esses carmas. Ueda: Até mesmo o carma imutável? Pres. Ikeda: Sim, até mesmo o carma imutável. Na verdade, é de suma importância transformá-lo. Independentemente dos sofrimentos ou dificuldades que enfrentarmos, devemos viver com força e coragem, desafiando-os até vencermos. A pessoa que vence no final é uma verdadeira vitoriosa na vida. A vitória não se decide no meio do caminho. Se vencermos no final, poderemos olhar para trás e entender que tudo o que aconteceu até então teve um significado. Mas se perdermos no final, tudo em nossa vida terá sido em vão, independentemente do quanto as coisas tenham sido fáceis até então.
Uma menina que compartilhou com os outros seu radiante espírito Yumitani: E as pessoas que morrem por causa de alguma doença? Isso é um sinal de derrota na vida? Pres. Ikeda: Não. Se a pessoa teve uma fé forte e invencível até o fim, ela venceu. Há muitas pessoas que, apesar de estarem com alguma doença terminal e de sofrerem muito com isso, oraram pelo Kossen-rufu e pela felicidade de seus companheiros e incentivaram os outros até o último momento. Sua vida e sua bravura diante da morte proporcionou coragem e inspiração a incontáveis pessoas. Esses indivíduos renascerão rapidamente com um corpo saudável. Conheci uma menina que, aos onze anos, foi diagnosticada com um tumor no cérebro. Ela faleceu aos quatorze. Mas, apesar de tudo, era muito alegre e feliz. Ela animava os adultos no hospital, compartilhando seu espírito radiante e positivo com todos que encontrava. Sem dúvida, ela sofria terríveis dores ocasionadas pela doença, mas continuava a recitar o Daimoku e a incentivar as pessoas. Ao morrer, disse a um de seus últimos visitantes: “Não me preocupo mais com minha doença nem com o que acontece comigo. Parei de orar para mim mesma. Há tantas outras pessoas que estão muito piores que eu. Oro com todo coração para que essas pessoas se convertam o mais cedo possível e descubram por si próprias como o Gohonzon é maravilhoso.”
Aos seus pais, ela disse: “E se isso tivesse acontecido com você, pai? Nós estaríamos sofrendo problemas terríveis! E seria simplesmente horrível se isso acontecesse com você, mãe. E se fosse com meu irmãozinho, tenho certeza de que ele não conseguiria lidar com isso. “Estou feliz que tenha sido comigo e não com nenhum de vocês... Tenho certeza de que isso é o resultado de uma promessa que fiz antes de nascer. Se aquelas pessoas que me conhecem aprenderem algo de minha vida, eu ficarei feliz.” Eu soube da luta dessa menina contra a doença e enviei-lhe rosas e também um leque no qual escrevi as palavras “Luz da Felicidade, e uma foto que tirei de um campo cheio de íris. Soube que ela vibrou de alegria ao recebê-los. As palavras que deixou para os que estavam ao seu redor foram: “Fé significa ter fé até o fim.” E ela demonstrou essas palavras com sua própria vida. Havia muitas e muitas pessoas em seu funeral. Em seus breves quatorze anos e meio, ela falou a mais de mil pessoas sobre a grandiosidade da Lei Mística. Essa menina chamava-se Akemi Yamada. Ela era da cidade de Kashiwa, na Província de Tiba, no Japão. [Ela faleceu em outubro de 1982.] Ela venceu. É isso o que sinto. Sua vida inteira, todo seu sofrimento, teve significado. Com sua própria batalha, ela conseguiu dar um significado ao seu sofrimento. A forma de viver de um bodhisattva Pres. Ikeda: Akemi disse que sua doença era o resultado de uma promessa feita antes de nascer. O budismo ensina o conceito da escolha deliberada das próprias circunstâncias. É assim que os praticantes da Lei Mística escolhem voluntariamente nascer em uma condição difícil para que possam demonstrar o poder do budismo para os outros com seu empenho e subseqüente triunfo. Essa é a forma de viver de um bodhisattva. Se todos os praticantes fossem afortunados desde o início, as pessoas nunca conheceriam o poder do budismo. É por isso que algumas pessoas escolhem renascer em condições de profundo sofrimento para que possam mostrar aos outros o que é a revolução humana. É como uma peça, um drama grandioso. Ueda: Assim, pode haver significado na morte de uma pessoa, mesmo que ela tenha falecido devido a algum acidente ou doença.
O que importa é a maneira como vivemos Pres. Ikeda: Todos nós morreremos um dia. O mais importante é a maneira como vivemos. É importante vivermos o máximo que pudermos, mas a longa duração não significa uma boa vida. O crucial é o que fizemos com nossa vida. É isso o que determina se nossa vida é boa ou não. O Dr. Norman Cousins, dos Estados Unidos, disse: “A morte não é a maior tragédia que cai sobre nós. Ainda mais trágico é uma importante parte de nós morrer enquanto ainda continuamos vivos. Não existe tragédia mais terrível que essa. O que importa é conquistar algo na vida.”² O Dr. Cousins foi um grande jornalista e ativista da paz. Em seus últimos anos, ele realizou um trabalho pioneiro no campo da medicina do corpo e da mente com base na convicção de que ambos são um só.
De qualquer forma, o importante não é o fato de nossa vida ser longa ou curta. Para as pessoas que praticam o Budismo de Daishonin, recitar o Nam-myoho-rengue-kyo — o eterno bom remédio — enquanto estão vivas é a maior felicidade de todas. E, depois de morrerem, retornarão rapidamente para o grandioso palco do Kossen-rufu graças às relações que formaram com o budismo nesta existência. É como se tirassem um cochilo para descansar e depois acordassem novamente. O mesmo acontece com as pessoas que morrem em acidentes. É claro que não devemos perder nossa preciosa vida por causa de nosso próprio descuido. É arrogância pensar que estamos livres de acidentes só porque praticamos o budismo. A atitude correta da fé deve ser tomar cuidados extras com acidentes e doenças exatamente porque praticamos o budismo.
O suicídio é um completo erro Yumitani: O número de suicídios é muito elevado na sociedade japonesa atual. Pres. Ikeda: Sim, em todo o mundo. Isso é muito triste. É doloroso. As pessoas que se matam pensam que não têm nenhuma saída. Elas não têm forças para lutar. Não têm onde se refugiar nem onde encontrar conforto. Mas buscar refúgio na morte não faz com que os sofrimentos se acabem. Na verdade, destruindo o tesouro que é a própria vida comete-se uma grave ofensa que somente aumentará os sofrimentos. Os suicidas sentem-se num beco sem saída e despojados de força vital. A razão de se sentirem assim deve-se essencialmente ao fato de viverem em oposição à lei fundamental da vida, a Lei Mística. O universo inteiro flui no ritmo da vida e da morte. A maior das estrelas vive e morre, o menor dos insetos vive e morre. Todos os fenômenos seguem o ritmo da vida e da morte. A base da vida e da morte é o Nam-myoho-rengue-kyo. É por essa razão que nossa energia vital enfraquece se agirmos contra a Lei Mística e fica mais forte se a praticarmos. De qualquer forma, o suicídio é sempre um erro absoluto. Yumitani: Conheço uma pessoa que havia entrado em depressão e perdido a razão de viver quando seu filho faleceu, mas graças aos incentivos e ao apoio dos companheiros da Gakkai, ela conseguiu recomeçar a vida. Pres. Ikeda: Nós somos uma família da Lei Mística. Estamos unidos pelo “sistema de comunicação sem fio” da Lei Mística, que transcende a vida e a morte. Nosso Daimoku sempre alcança nossos queridos entes falecidos. E, se quisermos, eles podem renascer como membros da família, ou amigos, ou em algum lugar próximo de nós. A família consternada deve ter convicção nisso e empenhar-se para conduzir a vida mais feliz e realizada. De fato, sua felicidade é uma grande prova de que o falecido atingiu o estado de Buda. Yumitani: Portanto, o que importa é a maneira como os que ficaram conduzem sua vida? Pres. Ikeda: Exatamente. O budismo expõe a unicidade da vida e da morte e a unicidade de pai e filho. Assim, se os familiares vivos estão felizes, os falecidos seguem também o curso da felicidade. Da mesma forma, se os familiares falecidos atingiram o estado de Buda, poderão — como parte das forças protetoras do universo com o qual se fundiram — proteger os familiares ainda vivos.
Ueda: Não podemos compreender diretamente como é a morte, mas podemos ter uma idéia baseando-nos na vida. Pres. Ikeda: É possível. Não se pode comprovar cientificamente como é o estado pós-morte. Mas, se praticamos o budismo e recebemos uma clara prova real da validade de seus ensinos enquanto estamos vivos, faz sentido aceitarmos também os ensinos budistas sobre o que acontece após a morte. Yumitani: Se os ensinos do budismo não fossem verdadeiros, nossos membros não veriam essa prova demonstrada em sua vida, mas eles vêem. Pres. Ikeda: Todos nós testamos essa prática, e da mesma forma todos obtivemos algum tipo de prova real de que ela realmente funciona. Isso significa que está em ação algum tipo de lei fixa ou princípio. A base de todos os ensinos budistas é a visão de que a vida é eterna. Se essa base estivesse errada, não teríamos a prova real da eficácia do budismo enquanto estamos vivos.
Podemos conhecer a morte somente depois de morrer? Yumitani: Há muitas pessoas que dizem ser impossível provar a existência de vida após a morte e que somente podemos saber como é a morte morrendo. Pres. Ikeda: Bem, isso é verdade — só se pode saber como é a morte morrendo. Mas o que fariam se, após morrerem, descobrissem que o budismo estava certo? Seria muito tarde para mudar a vida! Ueda: Sim, estaria tudo acabado! Yumitani: Mesmo supondo que não houvesse vida após a morte, todos os esforços empenhados para o próprio aperfeiçoamento por meio da prática budista não seriam desperdiçados, porque a pessoa acabaria ficando melhor, com uma vida realizada. De qualquer forma, teríamos vencido. Se considerássemos como se fosse uma aposta, seria a melhor aposta que existe! Pres. Ikeda: O budismo não está absolutamente equivocado com relação à vida e à morte. A ciência não é todo-poderosa; há muitas coisas que ela não pode comprovar. Em particular, a ciência natural moderna destaca-se na pesquisa dos cinco sentidos, mas carece de meios para pesquisar além disso. Yumitani: A ciência não tem meios para investigar a vida após a morte. Pres. Ikeda: Portanto, a atitude científica apropriada deveria ser evitar de julgar aquilo que não compreende. Goethe e Tolstoi eram da mesma opinião. E Gandhi também. A ciência não tem nenhuma autoridade para declarar se existe ou não vida após a morte. Yumitani: É arrogância declarar que não existe vida após a morte sem ter uma comprovação, e é também um erro. Pres. Ikeda: Sim, é um enorme erro. Nenhuma outra época foi tão empenhada em recusar-se a enfrentar a morte e tão ardente na busca dos desejos mundanos como esta era da ciência, o século XX.
Mas creio que não seja nenhuma coincidência que este século que se esqueceu da morte tenha sido o século da morte em massa, que presenciou duas guerras mundiais e uma corrida pelas armas nucleares levando a ameaça da aniquilação global. Não se pode esperar encontrar a base para o respeito pela dignidade da vida partindo da teoria de que não existe vida após a morte e que os seres humanos nada mais são que um conglomerado de matéria.
Cada dia é um precioso tesouro Pres. Ikeda: É por isso que quero que vocês, jovens, estudem e propaguem a filosofia da dignidade da vida em todo o mundo para que o século XXI seja um século de paz. Quero que estudem a visão correta da vida e da morte, baseiem suas ações nessa visão e considerem cada dia como um tesouro precioso e insubstituível. Quero que cada um de vocês preencha sua vida de valor equivalente a cem anos e que conduzam uma existência invencível, cujo legado resplandeça eternamente.