91766532-apostila-caprinos-e-ovinos-2011-neper-ufmg.pdf

  • Uploaded by: Karina Frensel
  • 0
  • 0
  • December 2019
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View 91766532-apostila-caprinos-e-ovinos-2011-neper-ufmg.pdf as PDF for free.

More details

  • Words: 63,150
  • Pages: 210
MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

Prof. Iran Borges Prof. Lúcio Carlos Gonçalves

Escola de Veterinária Departamento de Zootecnia Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte 2011

2

SUMÁRIO

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DE ALGUMAS RAÇAS CAPRINAS ..........................................4 Principais países produtores de caprinos no mundo ..................................................................................5 1. RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE ................................................................................................6 2. RAÇAS PRODUTORAS DE CARNE ...........................................................................................10 3. RAÇAS PRODUTORAS DE PELES E CARNE ...........................................................................13 INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS .....................................................................................................16 EQUIPAMENTOS DIVERSOS .............................................................................................................20 AMBIÊNCIA NAS INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS E OVINOS ..................................................21 PRÁTICAS GERAIS DE MANEJO .......................................................................................................39 ESCRITURAÇÃO ZOOTÉCNICA E SUA IMPORTÂNCIA NA CAPRINOCULTURA....................40 MANEJO SANITÁRIO ..........................................................................................................................56 PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS E SUA PREVENÇÃO .................................................58 SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO EM CAPRINOS ........................................................65 OBJETIVOS A SEREM SELECIONADOS ......................................................................................68 PROVAS ZOOTÉCNICAS E SUA IMPORTÂNCIA........................................................................69 ALTERNATIVAS PARA FORMAÇÃO DE REBANHOS COMERCIAIS ......................................69 MÉTODOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE CAPRINOS NOS TRÓPICOS....................70 REGISTRO GENALÓGICO ..............................................................................................................71 REPRODUÇÃO EM CAPRINOS ..........................................................................................................71 MANEJO NUTRICIONAL DE CAPRINOS..........................................................................................76 ALGUMAS EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS PARA CAPRINOS - NRC (1981) ..........................98 CÁLCULO DE RAÇÃO PARA CAPRINOS ...................................................................................100 CALCULANDO POR PEARSON DUPLO .................................................................................102 Método algébrico com um alimento fixo ..............................................................................................104 MANEJO DAS PELES .........................................................................................................................107 HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO DE OVINOS PELO HOMEM ......................................................110 1. RAÇAS DE OVINOS ESPECIALIZADAS PARA LÃ FINAS .......................................................111 2. RAÇAS MISTAS PARA PRODUÇÃO DE LÃ E CARNE .............................................................114 3. RAÇAS DE OVINOS ESPECIALIZADAS PARA CORTE ............................................................117 4. RAÇAS ESPECIALIZADAS PARA A PRODUÇÃO DE PELES...................................................123 5. RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE................................................................................................126 INSTALAÇÕES PARA OVINOS ........................................................................................................128 MANEJO GERAL DOS OVINOS .......................................................................................................130 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS ..................................................................................132 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................132 2. ASPECTOS GERAIS DA NUTRIÇÃO DE OVINOS .................................................................133 2.1. ESCALA DE CONDIÇÃO CORPORAL (ESCORE CORPORAL) .........................................135 3. ALIMENTAÇÃO DE CORDEIROS E CORDEIRAS .................................................................136 4. ALIMENTAÇÃO DE BORREGAS .............................................................................................139 5. ALIMENTAÇÃO DAS FÊMEAS DURANTE A ÉPOCA DE REPRODUÇÃO ........................140 6. ALIMENTAÇÃO DAS OVELHAS GESTANTES......................................................................141 6.1. TOXEMIA DA GESTAÇÃO ................................................................................................143 7. ALIMENTAÇÃO DAS OVELHAS EM LACTAÇÃO ................................................................144 8. ALIMENTAÇÃO DE OVELHAS SECAS E VAZIAS ................................................................145 Mantença ...............................................................................................................................................145 Flushing .............................................................................................................................................145 Reprodutores em serviço ...............................................................................................................146 8. EXIGÊNCIAS MINERAIS PARA OVINOS ...............................................................................146 9. ALIMENTAÇÃO DOS CARNEIROS E FUTUROS REPRODUTORES ...................................147 10. CONSIDERAÇÕES ....................................................................................................................148 RAÇÃO PARA OVINOS EM ENGORDA ..........................................................................................152 OUTRA FORMA DE FAZER O CÁLCULO ...................................................................................154 Déficit/Superávit ...................................................................................................................................155 Exigências .............................................................................................................................................155 Déficit/Superávit ...................................................................................................................................155 Exigências .............................................................................................................................................156

3

Déficit/Superávit ................................................................................................................................... 156 SELEÇÃO E MELHORAMENTO DE OVINOS ................................................................................ 157 MANEJO REPRODUTIVO DE OVINOS ........................................................................................... 160 MANEJO DA OVELHA GESTANTE E SUA IMPORTÂNCIA NA CRIAÇÃO DO CORDEIRO... 164 MANEJO SANITÁRIO DE OVINOS ................................................................................................. 181 1.1. HIGIENE ................................................................................................................................... 182 1.2. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS ECTOPARASITOSES ................................................... 183 1.3. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS ENDOPARASITOSES ................................................... 184 1.4. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS INFECÇÕES BACTERIANAS ...................................... 185 1.5. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS INFESTAÇÕES A VIRUS: ........................................... 186 CALENDÁRIO DE MANEJO ZOO-SANITÁRIO DE OVINOS ................................................... 187 PASTAGENS ESTOLONÍFERAS TÊM PREFERÊNCIA.......................................................... 187 PASTAGENS CESPITOSAS: INDIACADA MAIS PARA PASTEJO MISTO ......................... 187 PRODUÇÃO DE CARNE OVINA ...................................................................................................... 195 1. ANIMAIS PARA ABATE: .......................................................................................................... 195 2. CARACTERÍSTICAS DA CARNE OVINA ............................................................................... 196 3. QUALIDADE DA CARNE OVINA E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA.......................... 196 4. ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CARNE OVINA................................................................... 197 5. CLASSIFICAÇÃO DE CARCAÇA:............................................................................................... 200 6. DIVISÃO DE CARCAÇA:............................................................................................................. 201 MODELO PARA A PRODUÇÃO DE 1000 Kg DE CARCAÇA DE CORDEIROS POR ANO ........ 202 A LÃ E SUA PRODUÇÃO .................................................................................................................. 205 CATEGORIAS DE LÃS .................................................................................................................. 208 CLASSIFICAÇÃO DAS LÃS: ......................................................................................................... 208

4

ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DE ALGUMAS RAÇAS CAPRINAS

Saanen

Saanen Branca Alemã

Sub-tronco ALPINO Alpina TRONCO EUROPEU

Parda Alpina Parda Alemã Chamiseé Alpina Francesa

Sub-tronco PIRINEU

TRONCO AFRICANO

Anglo Nubiana Jamnapari Bhuj Boer Savanah

TRONCO ASIÁTICO

Angorá Cashemere

Toggenburg Murciana La Mancha Grahadiana

5

Classificação zoológica dos caprinos: Classe: Mammalia Ordem: Artiodáctila Sub-ordem: Ruminantia Família: Bovidae Sub-família: Caprinea Gênero: Capra Espécie: Capra hircus Principais países produtores de caprinos no mundo Ordem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

País China Índia Paquistão Sudão Bangladesh Nigéria Irã Indonésia Tanzânia Mali Quênia Etiópia México BRASIL Mongólia Burkina Fasso Iêmen Turquia Níger Uganda África do Sul Nepal Filipinas Chade Mauritânia Marrocos Grécia Camarões Argentina Rep. Democ. Congo Senegal TOTAL MUNDIAL

Fonte: FAO (2003)

Rebanho (cabeças x 1000) 172.957 124.500 52.800 40.000 34.500 27.000 26.000 13.276 12.556 11.464 11.000 9.623 9.500 9.097 8.858 8.800 7.250 7.000 6.900 6.852 6.850 6.650 6.300 5.588 5.500 5.208 5.000 4.400 4.200 4.004 3.969 767.930

Percentagem 22,52 16,21 6,88 5,21 4,49 3,52 3,39 1,73 1,64 1,49 1,43 1,25 1,24 1,18 1,15 1,15 0,94 0,91 0,90 0,89 0,89 0,87 0,82 0,73 0,72 0,68 0,65 0,57 0,55 0,52 0,52

6

PRINCIPAIS RAÇAS DE CAPRINOS 1. RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE São animais que geralmente apresentam bom vigor, feminilidade, ligações harmoniosas do úbere, não têm carne em excesso e possuem formato de cunha, com membros bem aprumados. Podem apresentar produções de leite equivalentes em até 10-12 vezes o seu peso vivo durante uma lactação.

1.1.

SAANEN

Origem: Vale Saanen na Suíça Características raciais: Pelagem: Animais com pelos curtos, brancos a creme, predominantemente lisos e bem implantados. Altura: machos: 80-90 cm e fêmeas: 70 a 83 cm Corpo: animais longilíneos, descarnados e angulosos. Ventre profundo, dorso reto e lombo bem desenvolvido, com garupa ampla, membros delicados mas fortes. Cabeça: leve, perfil retilíneo a côncavo, orelhas pequenas a médias e eretas, presença de brincos. Características Zootécnicas: Produção de leite: 520 a 920 Kg/lactação (250 a 302 dias) Peso: machos: 70-90 Kg e fêmeas: 45-60 Kg

1.2. TOGGENBURG:

7

Origem: Vale Toggenburg ao norte da Suíça Características raciais: Pelagem: Castanho claro ou baio claro; como característica principal apresenta duas bandas que vão desde as orelhas, passando pelos olhos até aos ângulos dos lábios. Pelos de curtos a compridos: importante na seleção. Altura: machos: 75-80 cm e fêmeas: 70-80 cm. Corpo: Dorso e lombo fortes; pescoço destacado, delgado a mediano; ventre amplo e tórax profundo. Membros delicados e fortes, sendo lavados. Cabeça: Alongada e forte, porém bem feita; orelhas médias um pouco levantadas e dirigidas para frange. Machos apresentam chifres. Características zootécnicas: Produção de leite: 700 Kg/lactação (276 dias) Peso: machos: 60-70 Kg e fêmeas: 45-50 Kg É comum apresentarem dois filhotes/parto; apresentam crescimento precoce.

1.3. ALPINA: Denominada Parda Alpina

Origem: Região dos Alpes Francês e Suíço. Vieram para o Brasil importadas da Alemanha, Suíça e França. Sendo a alemã mais robusta que as demais. Numericamente a mais importante cabra leiteira na Europa.

Características raciais:

8

Pelagem: do pardo claro até vermelho escuro (queimado) com faixa preta no dorso, membros e cabeça mais escuros (queimados). Pelos curtos e brilhantes. Preto é desclassificante. Pele e mucosas escuras. Altura: machos: 88-100 cm, fêmeas: 78-93 cm. Corpo: animais longilíneos (1,20m). Tórax amplo e ventre desenvolvido. Garupa larga e ligeiramente inclinada. Membros finos com unhas delicadas (aprumos e lesões). Cabeça: Fina com perfil retilíneo; fronte larga e chanfro grosso. Orelhas curtas e bem implantadas, retas, às vezes pesadas projetadas para frente, para cima e para fora. Características zootécnicas: 550-600 Kg/lactação - atinge média de 2,5 kg/dia (máx. 8 Kg) Peso: machos: 70-90 Kg, fêmeas: 50-65 Kg

1.4. MURCIANA

Origem: região de Múrcia na Espanha. Características raciais: Pelagem: pelos curtíssimos, de cor acaju (castanho avermelhado) a preto, a pele é fina e no primeiro caso será rósea, enquanto no segundo será preta. Altura: machos: 77 cm e fêmeas: 70 cm Corpo: tronco profundo, cernelha ligeiramente descarnada com linha dorso-lombar reta, ventre amplo e redondo. Cabeça: pequena, descarnada e fina, formato triangular; perfil retilíneo a sub-côncavo; chanfro retilíneo e fronte ligeiramente côncava. Machos têm pescoço potente. Características zootécnicas: Produção de leite entre 500 e 600 Kg/lactação (300 d). Peso: machos: 70 Kg e fêmeas: 50 Kg.

9

1.5. LA MANCHA AMERICANA

Origem: Desenvolvida nos EUA (cabras espanholas x raças diversas) Características raciais: Pelagem: apresenta grande variação de cores (origem) Altura: machos: 85 a 100 cm e fêmeas: 75 cm. Corpo: região dorso lombar reta e bastante peluda; cernelha seca; peito amplo e profundo; ventre amplo, profundo e desenvolvido. Cabeça: pequena a média (delicada); triangular; perfil reto ou ligeiramente sub-côncavo; orelhas atrofiadas. Pescoço mais compacto no macho. Características zootécnicas: Produção leiteira entre 500 e 750 Kg. Peso: machos: acima de 76 Kg e fêmeas acima de 58 Kg.

1.6. NUBIANA Origem: Sudão Características raciais: Pelagem: do branco ao preto; com pelos curtos e brilhantes Altura: machos: 80-90 cm, fêmeas: 70-80 cm. Corpo: delicado e harmonioso. Membros finos porém fortes. Cabeça: perfil ultra convexo; lábio superior mais curto; orelhas grandes e largas; fêmeas mochas e machos armados.

10

Características zootécnicas: Produção leiteira de 750 a 980 Kg Peso: machos: 95 Kg e fêmeas: 70 - 72 Kg.

2. RAÇAS PRODUTORAS DE CARNE 2.1. BOER

Origem: África do Sul. Características raciais: Pelagem: Pelos vermelhos da cabeça, orelhas e pescoço, com o restante do corpo coberto por pelos brancos. Sua pele é pigmentada em todo corpo. Altura: acima de 60 cm nas fêmeas e 75 cm nos machos Corpo: Deve ser longo, profundo e largo. Apresentando costelas bem arqueadas e com boa cobertura muscular. Linha dorso lombar é reta e com palhetas bem arqueadas. Cabeça: Forte, olhos castanhos e com aparência delicada. Chanfro levemente convexo e a fronte do tipo romano. Chifres fortes e de comprimento moderado, curvando-se gradualmente para trás e para os lados. Orelhas largas, comprimento médio e pendulares. Características zootécnicas: Sua principal aptidão é a produção de carne. Rendimentos de carcaça entre 48 e 60%, para animais jovens e adultos, respectivamente. Quando adultos é comum ultrapassarem os 100 kg de peso vivo.

2.2. BHUJ

11

Origem: oeste da Índia (próximo ao Paquistão). Características raciais: Pelagem: Castanho escuro com manchas brancas na face, focinho e garganta, podendo chegar ao negro. Pelos médios a longos, por vezes ondulados. Pele solta e predominância da escura. Desclassificantes: pelagem branca; orelhas não chitadas ou mesmo brancas; pele inteiramente clara; perfil reto ou côncavo. Altura: macho: 70 - 100 cm, fêmeas: 60 - 75 cm. Corpo: Dorso comprido, largo e reto; lombo comprido e largo em harmonia com a garupa; garupa larga e comprida; ancas largas. Membros longos e aprumados. Cabeça: considerada pequena e de perfil ultra-convexo; orelhas largas, pendentes e chitadas; chifres curtos e voltados para trás (leve espiral). Aptidão: Produz carne e pele de boa qualidade.

2.3. ANGLO-NUBIANA

Origem: Raça inglesa surgida do acasalamento entre nubianas da África, Ásia e Índia, em 1875 foi denominada anglo-nubiana. Características raciais: Pelagem: no Brasil aceita-se animais de todas as cores, exceto a branca, sendo os mais comuns a preta, a vermelha e suas combinações. A pele é predominantemente escura, solta e de espessura mediana. Altura: machos: 70-80 cm e fêmeas: 60-70 cm. Corpo: comprido e profundo. Dorso e lombo amplos e fortes, Tórax profundo apesar de um pouco acoletado. Garupa larga. Membros fortes sem serem pesados, com cascos escuros. Cabeça: pequena e bem delineada. Orelhas médias a grandes, espalmadas e pendentes. Perfil convexo. Podem ser mochos ou armadas.

12

Característicaszootécnicas: Produção leiteira: 2 - 4 Kg/dia Peso: machos: 70-95 Kg e fêmeas: 40-60 Kg. Produz pele de boa qualidade.

2.4. JAMNAPARI

Origem: Índia. Chamada de ETAWH, sendo uma da melhores raças de dupla aptidão. Características raciais: Pelagem: de branco a escura, sem uma cor predominante. Altura: machos: 90-100 cm e fêmeas: 75-85 cm. Cabeça: perfil ultra-convexo; orelhas grandes, pendulares e dobradas longitudinalmente, com bordas voltadas para trás. Característicaszootécnicas: Produção leiteira: de 1-3 Kg/dia. Peso: machos: 68-90 Kg e fêmeas: 75-85 Kg.

2.5. MAMBRINA (tipo amambrinado ou tipo mambrino, zebu)

Origem: Síria e Palestina. No Brasil existem poucos exemplares puros. Características raciais: Pelagem: negra brilhante com manchas avermelhadas na cabeça, apresentando algumas variações acinzentadas, pardacentas, brancas ou mesmo malhadas. Pelos curtos na parte anterior do corpo e longos no posterior.

13

Altura: machos: 70-90 cm e fêmeas: 60-75 cm. Cabeça: perfil convexo; orelhas longas, pendentes e espalmadas; chifres longos (quando presentes), forma espiralada. Características zootécnicas: Produção leiteira: média de 2 Kg/dia. Peso: machos: 70-90 Kg e fêmeas: 60-85 Kg. Produz carne e pele de boa qualidade.

3. RAÇAS PRODUTORAS DE PELES E CARNE Destacam-se as "raças nativas", que têm na produção de peles a garantia de rentabilidade para o produtor, principalmente nordestino. Mistas para carne e pele.

3.1. MOXOTÓ

Origem: Vale do Moxotó em PE. Provavelmente originou-se da Charnequeira variedade Alentejana.

Características raciais: Pelagem: cor baia e suas tonalidades, até o lavado; linha dorso lombar com faixa preta (terço médio pescoço à cauda). Pelos pretos na região do ventre, nas faces internas dos membros, região perineal, úbere e canela. Linhas pretas nas faces laterais da maxila, presença de óculos, e linhas que saem da inserção dos chifres indo à nuca. Altura: machos: 71 cm e fêmeas: 62 cm. Cabeça: perfil reto, chanfro seco e com bordas retilíneas quando visto frontalmente. Presença ou não de brincos. Mocho desclassifica. Características zootécnicas: Produção de leite muito baixa (0,3-0,4 Kg/dia) Peso: machos: acima de 36 Kg e fêmeas: 30-34 Kg. Partos duplos em 40% dos casos. Pele preta e fina.

14

3.2. CANINDÉ

Origem: Zona de Canindé nos estados de Piauí e Ceará (Rio Canindé) Características raciais: Pelagem: castanho escura a preta por todo o corpo, exceto no ventre; o períneo tem pelos curtos e finos. Variedade da Canindé vermelha, avermelhada ou castanha. Altura: machos: 60 cm e fêmeas 50 cm (média). Características zootécnicas: A variedade GURGUEIA apresenta certa aptidão leiteira Pele: excelente qualidade Peso: machos: acima de 40 e fêmeas: 25-30 Kg.

3.3. MAROTA

Origem: vale do São Francisco entre os sertões da Bahia e Pernambuco. Características raciais: Pelagem: pelos curtos e brancos, pele clara e alguma pigmentação na cauda e face interna das orelhas. Altura: acima de 50 cm. Cabeça: ligeiramente grande e vigorosa. Chifres desenvolvidos e divergentes desde a base, para cima, para trás e para fora. Orelhas pequenas e com pontas arredondadas.

15

Características zootécnicas: Peso: acima de 35 Kg Pele: macia e flexível.

3.4. REPARTIDA

Origem: Bahia e Pernambuco Características raciais: Pelagem: possui duas regiões distintas, sendo preta na parte anterior e baia na posterior (delimitação irregular), membros baios com manchas pretas nas extremidades; preto nas coxas e pernas. Mucosa, pele e anexos são pretos Cabeça: mediana, com chifre divergentes.

3.5. ANGORÁ (MOHAIR) Raça para pele e pelos.

Origem: Turquia e talvez Sibéria. Características raciais: Pelagem: geralmente branca com nuanças amarelo-prateado; pelos longos, finos e sedosos por todo o corpo. Porte e cabeça: animal pequeno; cabeça fina, perfil reto e com topete na fronte. Orelhas grandes e delgadas (10 cm). Característicaszootécnicas: Peso: machos: 60 Kg e fêmeas: 50 Kg. Produz pele de excelente qualidade, pode ser tosquiada para industrialização dos pelos.

16

INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS

INSTALAÇÕES vs TIPO DE EXPLORAÇÃO vs

RAÇA vs

AMBIENTE

Instalações devem ser: - Claras (iluminadas) - Bem ventiladas - Bem drenadas - Facilidade de limpeza - Proteger contra chuvas, ventos, radiação solar, predadores, etc. CERCAS: - Tábuas, troncos, telas, arame liso ou farpado, cercas eletrificadas - Para o arame farpado usa-se cercas com 1,5 m de altura, composta por 8 ou 9 fios ARAME FARPADO 30 cm 25 cm 25 cm h = 1,5 m 20 cm 15 cm 15 cm 10 cm 10 cm

ARAME LISO 25 cm 20 cm 20 cm

h =1,5 m

15 cm 15 cm 10 cm 10 cm

10 cm

Quando já existirem cercas para bovinos, basta passar dois fios a mais, entre cada um dos primeiros fios de baixo.

17

Para tábuas com 0,10 a 0,20 m de largura, estas devem atingir até 0,60 - 0,90 m de altura, com espaço entre tábuas de 0,10 m. Podendo ou não possui um ou dois fios de arame na parte superior da cerca. Em condições favoráveis pode-se construí-las de bambu (com ripa cobrindo a parte superior para evitar encher de água). - Portões, porteiras e colchetes; - Distância entre mourões de 10 metros, balancins a cada 2 metros; - Mourões de madeira de lei ou eucalipto tratado (vida útil até 20 anos).

PRINCÍPIOS CONSTRUTIVOS BÁSICOS:

1. LOCALIZAÇÃO / ORIENTAÇÃO: - Eqüidistante dos piquetes e sede da propriedade; - Local seco, com boas aguadas ou bebedouros; - Fácil acesso (época das secas e chovas); - Possuir boa ventilação (evitar locais naturalmente abafados, meia parede + grades); - Apresentar ótima capacidade de higienização das futuras instalações (retida do esterco); - Orientação leste- oeste: Radiação solar sobre a cumeeira da construção; - Proteção contra ventos frios do sul (predominantes);

2. PIQUETES: - Facilita rotação e manejo das pastagens; - Bem drenados, com bebedouros bem distribuídos, manilhões (bóias da UEM); - Comedouros (podem ser móveis para os pequenos criatórios), fenis, cochos de sal; - Escolha da forrageira (hábito de pastejo, seletividade, etc);

18

DETALHES CONSTRUTIVOS DAS INSTALAÇÕES:

1. CABRIL (capril ou apriscos) - Indispensável para caprinocultura leiteira; - Em criatórios menos tecnificados usa-se os telheiros: animais recolhidos à noite; - Piso ripado e suspenso a ± 1,5 m : - com ou sem alçapões para limpeza - 4 a 5 cm de largura na face superior - 3 cm de largura na face inferior (seção trapezoidal) - 2 cm de espessura - 1 cm entre ripas na face superior - 2 cm entre ripas na face inferior - Uso de cama ao invés de piso ripado: Usar material poroso recoberto por um absorvente, que poderá ser trocado ou renovado periodicamente, sempre que as condições da cama assim exigir. - Bebedouros devem ficar para o lado de fora; - Pode ter sub-divisões para categorias distintas; - Recomenda-se área coberta com 1,5 m2/ animal adulto, 1 m2/cabeça (semi-intensivo); - Necessidade de solário: 3 m2/cabeça . TIPO DE PISO ... - Fosso sanitário; geralmente derivado do piso suspenso; - Beirais com 1,5 m em regiões com chuvas de vento abundantes

1.2. CABRIL MATERNIDADE:

- Geralmente localizado no início do Cabril (mais protegido); - Usar acima de 1,5 m2/cabras (ideal 2 m2); - Baias coletivas para 5 a 6 cabras; - Gaiolas ou outra sub-divisão para os cabritos recém-nascidos (fonte de aquecimento);

19

2. CABRIL DE LACTAÇÃO: Para cabras em lactação (baias coletivas ± 15 cabras/baia)

- Isolado ou contíguo ao Cabril Maternidade; - Geralmente é a maior instalação do criatório; - Em regime de confinamento total recomenda-se 2 m2/cabra + solário; - Corredores com mínimo de 2 metros de largura; - Pé direito: 2,30 a 2,50 metros.

3. SALA DE ORDENHA OU PLATAFORMA DE ORDENHA:

- Contígua ao cabril de lactação; - Sala Ordenha: para rebanhos com mais de 40 cabras; - Tipos de salas: - Ordenha lateral; - Ordenha por trás. - Rebanhos menores usar Plataforma.

4. BODIL: - Isolado das cabras; - Confinamento total; - Baias individuais com 4 m2 / bode.

5. CABRITEIROS OU GAIOLAS: - Cabriteiros fechados para regiões mais frias - Gaiolas: mais econômicas e versáteis (madeira, bambu, etc).

20

EQUIPAMENTOS DIVERSOS

1. BEBEDOUROS: - No lado externo das baias: baldes de plástico removíveis ou vaso comunicantes - Bebedouros automáticos para leitões; - Bebedouros no campo: proteger bóias, limpeza periódica ...

2. COCHOS: - Lado externo e separação para volumoso e concentrados; - Evitar que os animais subam nos cochos (ripas de proteção); - Canzis: Inglês, Francês, Livre Acesso, etc ... - Área de chegada no cocho: 0,5 m/cabra - Manjedouras ou fenis: 0,50 m de altura do solo; na divisória das baias; - Saleiro: - a campo cobertos (1,20 - 1,50 m de pé-direito) - elevado entre 0,50 a 0,60 m do solo; - 0,20 x 0,40 (largura x profundidade);

3. MAMADEIRAS: - Coletivas ou tanques - Individuais

4. ORDENHADEIRA MECÂNICA: - Viável para mais de 80 cabras em lactação - Até 40 cabras: PLATAFORMA DE ORDENHA

5. FARMÁCIA, ARMAZÉM, DEPÓSITO DE FENO, etc...

21

AMBIÊNCIA NAS INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS E OVINOS Iran Borges1 André Guimarães Maciel e Silva2 Maria Izabel Carneiro Ferreira3 Gilberto de Lima Macedo Júnior4

1. INTRODUÇÃO Os efeitos das variáveis de meio sobre a produção animal são conhecidos tempos, em especial daquelas ligadas aos elementos climáticos, sejam de forma direta ou indiretamente. Nesse sentido, as repostas produtivas, reprodutivas e comportamentais, que no conjunto influem na produção e na produtividade animal, devem receber atenção especial por parte de técnicos e produtores do agronegócio. A literatura é farta de trabalhos demonstrando os efeitos dos elementos climáticos sobre o desempenho animal. No entanto, maiores enfoques são dados para animais criados a pasto e no caso dos sistemas produtivos mais confinados, as espécies enfocadas são geralmente aves, suínos, bovinos leiteiros e coelhos. Em alguns casos, aparecem trabalhos avaliando as respostas de ovinos frente ao ambiente, mas muito raros são os trabalhos avaliando condições de caprinos, talvez pelo fato de que o maior contingente mundial dessa espécie encontra-se no mundo tropical (30o N/S), coincidindo, justamente com maior quantidade de países de economia periférica, ou seja, justamente os países que mais necessitam de pesquisa na área de bioclimatologia são coincidentemente os que menos investem nessa área. Isso posto, convém ressaltar que mesmo não se tendo respostas fisiológicas específicas para caprinos e ovinos, é de se inferir que a grande maioria das mesmas siga o que se observa com outras espécies homeotérmicas, mudando mais no que se refere à intensidade de respostas frente aos vários estressores climáticos tropicais. Por exemplo, animais jovens (fase de cria) são menos resistentes ao estresse pelo frio, devido ao fato de possuírem relação superfície de área corporal:peso corporal (volume) mais desfavorável, sendo nos primeiros dias de vida muito dependentes das reservas de gordura marrom para manterem-se com a temperatura corporal constante, aliado ao fato de que seus mecanismos de manutenção da homeotermia ainda não estão completamente desenvolvidos. Assim, o enfoque primário desta revisão será sempre os pequenos ruminantes, muito embora devido à falta de acesso às informações desses, vez por outra, será tratado o impacto bioclimático em outras espécies homeotérmicas. Como o estresse pelo calor é o mais constante nos trópicos, o enfoque presente será mais voltado neste sentido, muito embora ressalta-se que crias jovens podem sofrer com temperaturas mais amenas (frias para elas). Assim, variáveis climáticas que favorecerão ou dificultarão a dissipação calórica, serão enfocadas isolada e conjuntamente.

1

Zootecnista - Professor Adjunto da Escola de Veterinária da UFMG - Bolsista PQ CNPq Médico Veterinário - Professor Assistente da UFPA - Doutorando em Zootecnia na Escola de Veterinária-UFMG 3 Médica Veterinária - Doutorando em Zootecnia na Escola de Veterinária - UFMG 4 Zootecnista - Doutorando em Zootecnia na Escola de Veterinária - UFMG 2

22

O presente estudo visa discutir as condições ambientais artificiais que se encontram estabelecidas na maioria dos capris e ovis nacionais, tentando correlacioná-las com aspectos ligados ao desempenho de caprinos e ovinos.

2. RECAPITULANDO A BIOCLIMATOLOGIA Dentre os elementos climáticos, a temperatura do ar destaca-se como aquele que isoladamente mais pode impor alterações nas respostas fisiológicas, bioquímicas, comportamentais e por fim no desempenho animal, seguida pela umidade relativa do ar (HAFEZ, 1973 e McDOWELL, 1974). Para animais criados a campo, pode ser que em alguns momentos a radiação solar seja aquela que mais estresse impõe aos mesmos, por aquecer-lhes o corpo diretamente, juntamente com a camada de ar que lhe envolve (JOHNSON, 1987). Muito embora, não se pode negar que animais criados em pastagens sempre têm a possibilidade de fuga para áreas sombreadas naquelas horas do dia em que a radiação está mais intensa (é de se esperar que a pastagens tenham árvores o suficiente para abrigar os animais nesses momentos). Curtis (1981) ressaltou que os animais procuram localizar-se em ambientes termoneutros, buscando, muitas das vezes, áreas sombreadas (natural ou artificialmente); já nos momentos de temperaturas que lhes são mais frias, vão para locais onde ainda podem encontrar melhores condições de temperaturas (próximo a instalações ou estruturas que ainda contém calor sol e começam a irradiá-la pelo no cair da noite). Como a temperatura tem esse importante impacto sobre a produção e a produtividade animal, demonstra-se na figura 1 como se distribuem a zona de conforto térmico, a termoneutra e a de sobrevivência dos animais.

Figura 1. Temperaturas críticas ambientais (HAFEZ, 1973)

As indicações B e B’ indicam respectivamente as Temperaturas Críticas Inferior (TCI) e Superior (TCS), a partir das quais os animais estarão estressados pelo frio e pelo calor, respectivamente. Compilando dados de diversos autores, Baêta e Souza (1997) propuseram, para ovinos, que para recém nascidos essa faixa seria de 6 (TCI) a 34oC (TCS), sendo a zona de conforto térmico (ZCT) entre 25 e 30o C e para os adultos a TCI seria de -20oC, TCS de 35oC e a ZCT entre 15 e 30o C. Para caprinos apontaram a ZCT entre 20 e 30ºC, com TCI de -20 e TCS de 34oC.Slee (1987) ressaltou que a TCI para animais adultos dependerá grandemente do comprimento da lã e

23

do plano nutricional dos ovinos, destacando que com 12 cm de lã e alimentados para mantença o valor é de - 4oC, já com lã de 20 a 30 cm e alto plano nutricional podem suportar até -20 oC. A movimentação do ar assume papel importante no arrefecimento animal, uma vez que acelera a troca calórica entre a superfície de seu corpo (pele e anexos) e o ar que o envolve, pois remove a capa limitante (camada de ar ao redor do corpo) que estará saturada de partículas de água oriundas do vapor da sudorese e/ou respiração animal. Com isso, evidencia-se a interação da temperatura do ar, com a umidade do ar e a movimentação do ar (temperatura x umidade x ventos). Sendo que, em condições de estresse pelo calor, a combinação da alta temperatura e alta umidade impõe maior desgaste fisiológico aos homeotermos, sendo a recíproca verdadeira em se tratando de baixas temperaturas e alta concentração de umidade no ar. Essa interdependência foi evidenciada de forma tão forte que Wiersma e Stott (1983) desenvolveram o índice denominado Índice de temperatura e umidade (ITU) para animais criados confinados, e posteriormente, o Índice de temperatura e globo negro (ITG), esse último considera mais forte a interação temperatura do ar e radiação solar, e portanto é mais adequado para emprego nas condições de mensuração do estresse de animais em pastejo. Para vacas leiteiras o ITU inicia-se em 72, antes do padrão considerado para animais não estressados. Para estes animais, considera-se que entre 72 e 79 ocorre estresse calórico médio, de 80 a 89 os animais estão estressados e, entre 91 a 96, os animais estão em condições de estresse severo, sendo que acima de 96 é considerado fatal (Armstrong e Welchert, 1994). Para caprinos e ovinos cujas raças foram selecionadas em regiões com maiores latitudes o fotoperíodo demonstra ação determinante, pois essas espécies tendem a manterem-se fora da estação reprodutiva nas épocas de dias longos, voltando à reprodução induzidos pelo fotoperíodo mais curto (outono-inverno) conforme reforçado recentemente por Rosa e Bryant (2003), pois Yates (1967) já relatava essa dependência em seu livro. Para o hemisfério sul este fotoperíodo seria compreendido entre os meses de fevereiro a junho. Já aquelas raças que passaram por longos processos de adaptação às condições nordestinas e portanto são consideradas como raças nativas do nordeste, tal efeito mostra-se nulo ou praticamente nulo, sendo a sazonalidade reprodutiva muito mais dependente de condições indiretas do clima (oferta de forragens). Além desses fatores acima, considerados como elementos que atuam diretamente no desempenho animal, podem-se destacar outras variáveis ambientais que estão indiretamente relacionadas ao clima, quais sejam, a oferta de alimentos, a presença de ecto e endoparasitas, a fertilidade, o pH e a textura do solo, o índice pluviométrico, e ainda características ligadas à topografia ou distribuição geográfica do local de criação de caprinos e ovinos, além da própria concepção das instalações, que amenizarão ou intensificarão as intempéries climáticas. Uma forma de sintetizar isso foi descrito por McDowell (1974) e encontra-se expresso nas figuras 2 e 3. Com a domesticação de caprinos e ovinos, e a conseqüente intensificação dos sistemas produtivos, o homem buscou cada vez mais criar seus animais em instalações, cujo objetivo central era o de proporcionar-lhes abrigo, protegendo-os das agressões causadas pelo clima, predadores e de “amigos do alheio”. Premissa básica desses abrigos artificiais era a de manter caprinos e ovinos sob condições sempre favoráveis, minimizando ao máximo o efeitos dos estressores climáticos, dentre os quais destacam-se a temperatura e a umidade do ar, a radiação solar, as rajadas de ventos e as chuvas.

24

Figura 2. Elementos físicos do meio ambiente que direta (setas diretas) ou indiretamente (setas concêntricas) por meio e interações influem no desempenho animal ou sobre o regime de manejo empregado. A largura da setas indica o grau de influência

o

Figura 3. A provável influência direta ou indireta (efeitos de interação) que uma temperatura de 27 C o teria dobre os animais em latitudes Norte ou Sul de 30 (McDowell, 1974)

3. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E CONFORTO PARA ANIMAIS Sempre destaca-se como primeira preocupação do projeto a localização das instalações, sejam os abrigos e demais instalações, sejam os pastos ou piquetes. Busca-se sempre localizar o aprisco de forma eqüidistante dos piquetes, quando se trabalha com animais que irão a pasto, sendo recolhidos em algum momento durante o período diuturnal (ordenha, apartação, manejo de mamada, ou simplesmente recolhimento noturno visando proteção diversa). Deve-se evitar a construção muito próxima a encostas, morros ou montanhas, pois os mesmos podem, além de oferecer riscos de eventuais desmoronamento ou soterramento, servir como obstáculos para a perfeita circulação de ar (vento ou brisa) no interior dos apriscos, ou ainda como reservatórios de radiação solar ou de água. Explicando: Com o nascer do sol, as

25

instalações, e também todo acidente geográfico do local, recebem, absorvem até certo ponto, e armazenam parte da radiação solar incidente durante o dia, além de refletir outra parte dessas ondas calóricas; com o por do sol, o fluxo de radiação é invertido, uma vez que o cair da noite abranda a temperatura do ar (pela ausência da radiação solar) e nesse momento as massas aquecidas (instalações, rochedos, encostas, etc.) passam a emitir ondas da radiação que armazenaram por todo o dia; tais ondas irão impactar o ambiente no seu entorno, podendo influir nas condições ambientais em que se encontram os caprinos e ovinos. Por isso mesmo é comum durante a estação do outono e inverno verificar que os animais buscam as faces das instalações que estão voltadas para o oeste. Com o passar das horas, tais emissões vão se esgotando e os animais podem buscar novo abrigo - geralmente o fazem para se proteger dos ventos noturnos ou ainda assumem nova postura como grupos, qual seja, mantêm-se mais agrupados para diminuir a perda calórica coletiva e consequentemente a individual. Outro aspecto ligado às encostas é que, na dependência do grau de inclinação das mesmas, de sua cobertura vegetal e da textura do solo, pode ocorrer o acúmulo de grande volume de água durante as chuvas e com isso, por percolação e lixiviação, a parte mais baixa da encosta ou morro pode alimentar pequenas e sazonais fontes de água, as quais estarão comprometendo o grau de umidade no interior da instalação próxima, tal situação pode ser ainda mais grave dependendo do tipo de piso adotado na instalação (ripado, cama, chão batido etc.). A orientação do eixo principal das instalações no sentido leste-oeste tem por finalidade proteger os animais em seu interior da radiação solar excessiva, fazendo com que a sombra projetada pela cobertura fique sempre sobre a área em que se encontram os animais. Há muita discussão nesse sentido, Curtis (1981) preconiza que pode-se trabalhar com esse preceito, mas também que podese fazer pequena rotação nessa orientação (entre 12 e 20o), para que desse modo tenha-se um pouco de aquecimento pela radiação que atinge o interior das instalações nas épocas mais frias do ano. Por outro lado, quando se trabalha com piso recoberto com cama, pode-se buscar orientação norte-sul, visando melhor efeito de desidratação contínua do material absorvente e ao mesmo tempo promovendo a higienização (efeito germicida) da mesma a partir da radiação solar. Nesses casos, tem-se que dispor de manejo de cortinas para evitar insolação excessiva e presença de ventos e chuvas, uma vez que se trata de projetos que trabalham com pé-direito maior, tal estratégia de orientação ganha ainda maior importância nas condições de clima com alta umidade relativa do ar. Discutindo sobre a questão de orientação dos galpões para caprinos, Ribeiro (1998) preconizou que para decidir em qual eixo o mesmo será construído, deve-se levar em conta qual variável climática causaria mais danos no sistema de produção que se está propondo implantar. Por fim, ressalta-se que o tipo de material empregado na construção das instalações, do piso ao telhado, pode contribuir de forma positiva ou negativa sobre as condições ideais de ambiência interna (Baêta e Souza, 1997). Instalações pintadas ou que naturalmente apresentem cores mais escuras e suas matizes, tendem a se mostrar mais aquecidas que aqueles com cores mais claras (McDowell, 1974). Tudo isso assume importância relativa ao se considerar altura do pé direito, largura do aprisco, presença ou não de paredes para impedir ou dificultar a circulação de ar no seu interior.

3.1. PISO DOS APRISCOS E DEMAIS INSTALAÇÕES Pode-se trabalhar com apriscos de terra batida, com ou sem cama, ou ainda com ripado suspenso.

26

Seja qual for o caso, o importante é que todos apresentem excelentes condições de drenagem e caso contrário, que recursos sejam empregados para que tal fato ocorra de forma mais intensa e eficaz possível. No caso da terra batida, a varrição periódica para recolhimento dos dejetos se faz sempre necessária. Lembrar que nas instalações a céu aberto pode-se ter problemas de acúmulo de água a umidade excessiva nesse local (comum em curraletes de apartação, bretes e outros). Mas mostrase uma boa alternativa quando o piso possui declividade e proteção direta contra as chuvas. Sob um piso de terra batida, devidamente sistematizado com drenos, pode-se lançar mão do emprego da cama, que por natureza deve ser de material atóxico, que não estimule sua ingestão, e o mais importante, que seja bastante absorvente. De tempos em tempos, dependendo do material empregado, a cama deverá ser removida, mas antes disso, dia a dia ela será acrescida de nova quantidade de material capaz de mantê-la o mais seca possível. Esse manejo é de fundamental importância para manter o ambiente com menor umidade relativa do ar, pois caso contrário o ambiente será propício para aumento de patógenos (biológicos – microrganismos e químicos – amônia) que afetarão a saúde e o desempenho animal (Vide figura 2), além dos efeitos diretos da umidade da cama (lama) sobre cascos e como reservatório de doenças e também molhando e sujando o animal, podendo dificultar em alguns casos a manutenção da temperatura corporal. Os principais materiais absorventes empregados em camas nos apriscos de caprinos e ovinos são: maravalha ou serragem, cascas de milho secas mais sabugo triturados grosseiramente, palhadas de arroz ou trigo, restos de capim seco ou feno, e com menor eficácia a casca de arroz ou café, sempre depositados sobre um leito de areia, e pedras finas que servem de filtro para os líquidos presentes. O emprego de piso ripado suspenso tem a vantagem de manter o ambiente imediatamente em contato com os animais mais seco. Por outro lado, o problema passa a ser as condições apresentadas pelo fosso sanitário (local abaixo do ripado), cuja função é receber fezes e urina, evitando-se o acúmulo de umidade, gases como amônia advindos da urina e rejeitos de alimentos. Quando bem projetado, tanto quanto as outras opções de piso apresentadas, o piso ripado é ótima opção, dependendo de avaliações financeiras a de sua adoção em definitivo. Mas quando o mesmo é mal projetado, alguns problemas têm sido visíveis em vários capris e ovis nacionais. Dentre eles destacam-se: •

A distância do ripado ao fundo do fosso sanitário (profundidade do fosso) é pequena: Nesse caso, todos os benefícios que deveriam estar presentes mostram-se frágeis ou inoperantes, destacando-se como os mais agravantes os elevados teores de amônia e a proximidade entre substrato contaminado e animais. Além do que, geralmente apresentam dificuldade de limpeza e manutenção do fosso.



Há também o fato de que em apriscos feitos em encostas ou meia encostas, o vento direcionado pelo fosso sanitário sob o ripado é conduzido para a parte de cima desse último, ocasionando um fluxo de ar nas instalação que em épocas frias e nas divisórias de cabritos (as) ou cordeiros (as) pode acarretar em sérios prejuízos sanitários, notadamente de origem pulmonar e vias aéreas superiores, além de carrear patógenos presentes nas fezes/urina do fosso para o trato respiratório/ocular dos animais.

Para o primeiro caso a solução é projetar fossos mais profundos. Quando o projeto já foi executado e percebe-se o problema deve-se avaliar qual saída é mais técnica e economicamente

27

recomendada: aprofundar o fosso ou elevar o ripado, sendo que nesse último caso deve-se atentar para não reduzir em demasia o pé direito da instalação e vir a comprometer sua temperatura e concentração de umidade. No segundo caso pode-se optar por emprego de quebra ventos naturais ou artificiais (cortinas de lona ou outro material, proteções com bambu trançado, folhas de coqueiros trançadas, outras esteiras, etc).

3.2. PAREDES E DEMAIS FORMAS DE FECHAMENTO DAS INSTALAÇÕES As paredes tem a função básica de funcionar como barreira para os ventos, chuvas, proteção contra predadores e contenção dos animais. Assim sendo, assumem formas e alturas diferentes, visando atingir tais objetivos. No centro sul do país freqüentemente ocorrem oscilações de temperatura apresentadas durante o ano, juntamente como a umidade, tornando a opção de uma parede fixa com caraterística positiva numa estação do ano e negativa em outras. Por exemplo, durante as estações frias pode proteger bem os animais dos ventos frios, em especial no período de noites e madrugadas para os animais mais jovens. Já nas épocas quentes, pode dificultar a circulação do ar e promover maior aquecimento interno, levando os animais ao estresse pelo calor. Como parte da solução desses problemas, pode-se realizar fechamento distinto das áreas destinadas a animais adultos e jovens; por outro lado, pode-se optar por paredes mais baixas e manejo de cortinas, que no caso devem ser preferencialmente em cores mais frias (azul, alaranjadas, verde claro, etc). Sempre combinar a altura das paredes com as características de circulação do ar que se deseja nas instalações. Uma visão resumida do que pode ocorrer na movimentação do ar dentro de apriscos pode ser visualizado nas figuras 4 e 5.

Figura 5. Orientação do aprisco afetando os padrões de movimentação do ar em edificações com a parte da frente aberta (Curtis,1981)

28

Figura 6. Padrão de movimentação de ar em apriscos com aberturas frontais, dispostos frente a frente com e sem abertura na parede traseira das instalações (Curtis,1981)

Baeta e Souza (1997) citam que além de cortinas pode-se trabalhar com janelas que serão convenientemente manejadas no inverno de forma a permitir que pequeno fluxo de ar, com finalidade de higienizar as instalações, circule bem acima da média dos ocupantes Já no verão devem ser conjugados extensivamente os dois tipos de ventilação, a higiênica e a térmica. Assim sendo, o fluxo de ar para o inverno deve ocupar a faixa A da construção (Figura 7) e para o verão as faixas A e B abundantemente. Pela figura 8 os autores demonstram as tendências das correntes de ar em instalações vazias, as quais servem como referência para se elevar ou diminuir o grau de ventilação em determinada parte do aprisco, note-se que o fluxo de ar é direcionado por obstáculos que exercerão pressão sobre a massa de ar ao entrar e sair da referida parte. Uma saída para possibilitar tais manejos pode ser a adoção de imensas janelas que se abrem para cima e para fora, servindo no verão como extensão da projeção dos telhados, em uma espécie de beiral longo, ou então trabalhar com paredes de alvenaria ou madeira baixa (cerca de 1,00 a 1,20 m) e na parte superior, se necessário evitar entrada de predadores (comuns também próximo aos centros urbanos - cães sem donos) e mesmo para proteger as cortinas de caprinos que geralmente mordiscam a lona, pode-se optar por terminar o fechamento superior da parede como tela do tipo usado em alambrados.

Figura 7. Formas adequadas de ventilação no inverno e verão (Baeta e Souza, 1997)

29

Figura 8. Trajetórias de corrente de ar no interior de espaços vazios com aberturas em planos opostos (Baeta e Souza, 1997)

Alternativa mais fixa, porém que possibilita certa mobilidade, porém mais reduzida que as cortinas ou janelas, é lançar mão de quebra ventos, sejam naturais ou artificiais. Empregando-se árvores e arbustos, pode-se na época devida, proceder a poda ou desbaste necessário à melhor ventilação e arrefecimento interno das instalações. O ponto importante é escolher bem o tipo de árvores, em função do tipo de crescimento, porte e arquitetura, de sorte a permitir bons efeitos na ventilação e/ou sombreamento. Os possíveis movimentos dos ventos podem ser visualizados na figura 9 em função de diferentes densidades das barreiras oferecidas pelas árvores. No caso A é demonstrado o fluxo em barreiras de densidade média e no B com densidade maior.

(Baeta e Souza, 1997) Figura 9. Trajetórias de corrente de ar em quebra ventos com diferentes densidades

Segundo Baêta e Souza (1997) pode-se trabalhar com quebra ventos naturais constituídos de barreiras multilineares ou unilineares (Figura 10) e nesses casos é possível verificar diferentes fluxos dos ventos sobre tais barreiras.

Figura 10. Trajetórias do vento acima de barreiras multilineares ou unilineares (Baêta e Souza, 1997)

Os autores salientam ainda que pode-se adotar dispositivos naturais ou artificias para deter ou diminuir a ação dos ventos, sendo empregados de forma isolada ou conjunta (Figura 11), sempre voltados perpendicularmente aos ventos dominantes, cujas funções são diminuir a velocidade do vento e reduzir os danos por ele provocados.

30

Figura 11. Desvios das correntes de ar por meio de barreiras de vento (Baêta e Souza, 1997)

Conhecer a forma como as correntes de ar atuam nas instalações é de suma importância para a caprino e ovinocultura no sudeste, pois exceção feita a algumas regiões semi-áridas do nordeste, onde muito pouco se oscila a temperatura no dia e entre o dia e a noite, nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, principalmente nos meses de outono e inverno, pode-se ter oscilações muito grandes entre os dias e as noites. Quanto a essa variação, Curtis (1981) registrou que aparentemente cordeiros crescem mais rapidamente na faixa e temperatura do ar entre 5 e 25o C, dependendo obviamente da alterações das proporções de volumoso e concentrado que se emprega nas rações e demais condições ambientais. Quanto aos neonatos, o autor fez referência quanto à área corporal e o isolamento (não só pele e lã ou pelo, mas também seus tecidos internos) que tais animais possuem, concluindo que cordeiros e cabritos recém nascidos têm grande superfície de área por unidade de massa; termina dizendo que a massa corporal aumenta em 3 unidades enquanto que a superfície corporal cresce à razão de 2 unidades, assim a relação superfície/massa (ou volume) diminui com o crescimento, e portanto há maior necessidade em se proteger animais mais novos, em especial os recém nascidos, contra o frio, mesmo porque, conforme já demonstrado anteriormente, a zona de conforto termoneutra desses animais é superior à de seus pares mais velhos. Para ter-se idéia da magnitude dessa alteração em função do crescimento corporal, a tabela 1 mostra a dinâmica térmica no corpo de animais em função da idade (tamanho). Tabela 1. Calor estocado e aumento estimado na temperatura produzida pelo corpo para perder calor (2,5 kcal dm2 em 6 h) em relação ao peso corporal Superfície corporal* Peso (kg) Capacidade aquecimento corporal Elevação na temperatura 2 -1 o (dm kcal C) corporal (oC) 1 12,5 31,4 10 5,8 14,5 100 2,7 6,7 0,66 * Estimado como (10*PV )/(0,81*PV) Fonte: Kleiber (1962) citado por Curtis (1981)

31

Um aspecto que muito se propaga pelo meio dos criadores é que caprinos e ovinos tidos de raças nordestinas não sofrem estresse, seja pelo frio, seja pelo calor. Muito embora seja sabida a maior resistência desses às temperaturas mais elevadas, quando comparados aos animais de origem temperada, é de bom alvitre lembrar que todo e qualquer animal possui sua zona de conforto termoneutra, fora da qual, seja para o calor seja para o frio, tal raça ou espécie passa a enfrentar os problemas que o estresse térmico produz. Isso é dito muito mais para servir de alerta, principalmente para se projetar e/ou manejar as instalações de animais nas fases de cria ou recria, visto que em muitos casos, no Nordeste Brasileiro, no Norte e Nordeste de Minas Gerais e em algumas regiões do Sudoeste goiano e Sul Matogrossense esse cuidado tem sido negligenciado. Não foi possível obter informações nacionais quanto às respostas de animais nessa fase. Porém destacam-se dois trabalhos com ovinos Santa Inês e Morada Nova, um ensaio conduzido no semi-árido Paraibano e outro no Distrito Federal. No primeiro os autores Santos et al (2006) avaliaram respostas fisiológicas e gradientes térmicos de ovinos das raças Santa Inês, Morada Nova e cruzamentos dessas com o Dorper (1/2 sangue) e concluíram que os ovinos das raças Santa Inês, Morada Nova e seus mestiços com a raça Dorper apresentam alta capacidade fisiológica para manter a homeotermia em ambiente quente e não reportaram diferenças entre as raças nacionais. Porém Quesada et al (2001) observaram diferenças na tolerância ao calor de ovinos Santa Inês e Morada Nova para as condições climáticas de Brasília, sendo que a primeira apresentou-se mais adaptada às variações climáticas locais. É sabido que há um gradiente significativo, não só na temperatura do ar, mas também na incidência e velocidade dos ventos, no planalto central brasileiro. Assim, essas alterações, que são constantes, podem impor a uma ou outra raça, como foi o caso, diferentes graus de tolerância ao calor ou ao frio. Note-se que na Paraíba, onde talvez as condições tenham sido muito similares durante o período experimental, essas raças não se diferiram quanto a esse parâmetro. Concluindo, não existe uma raça ideal para um país continental, principalmente quando esse país se estende não só entre os paralelos, mas também entre os meridianos, tendo dessa forma climas e sub-climas muito divergentes e peculiares, o que exigirá dos técnicos e produtores muito cuidado ao se projetar suas instalações, ou seja, não existe receita de bolo para sistema de produção, cada caso é particular.

3.3. TELHADOS E DEMAIS FORMAS DE COBERTURA DAS INSTALAÇÕES O emprego de coberturas, seja nas instalações seja nos piquetes, tem como função proteger os animais contra radiação solar direta e das chuvas. No primeiro caso, segundo McDowell (1974), essa única peça das instalações é capaz de reter cerca de 50% da radiação solar incidente que vem diretamente dessa estrela, pois o restante da radiação que atinge os animais protegido sob o telhado vem da radiação refletida nas partículas em suspensão na atmosfera próxima, das instalações e/ou acidentes geográficos (mais próximos), pelo solo (daí a importância de não se ter solo descoberto ou pavimentado ao redor das instalações (dando-se preferência ao solo cultivado com gramíneas rasteiras) e por fim, daquela que vem do horizonte. O beiral, que consiste no prolongamento das águas de um telhado, tem por função diminuir a incidência de radiação solar, mas também é muito importante para proteger o interior das instalações das chuvas, em especial, aquelas que ocorrem juntamente com rajadas de vento. Na concepção da instalação deve-se considerar a distância entre o telhado (beiral) até o piso, que constitui o pé direito, altura ideal para que ocorra um bom conforto térmico. Essa ação diminuirá a carga térmica no interior das baias ou apriscos pelo fato de que o ar aquecido tende a subir, formando uma camada de ar mais aquecido, a qual se não for mais rapidamente exaurida, aquecerá as camadas mais inferiores e assim sucessivamente, até que possa comprometer a

32

temperatura do ar que encontra-se mais próxima aos animais. Caso isso ocorra, haverá uma diminuição entre o gradiente de temperatura da superfície da pele dos animais e dessa camada de ar, tendo como conseqüência menor quantidade e velocidade na transferência calórica para o meio, com isso o animal terá sua temperatura corporal um pouco aumentada podendo entrar em quadro fisiológico do estresse calórico. Portanto, a altura do pé direito em muito contribui para a melhor ambiência em capris e ovis. Via de regra, instalações para pequenos ruminantes têm pé direito de 3,5 a 4,5 metros, sendo que para aquelas instalações dotadas de piso ripado, esse valor continua sendo mensurado entre o piso e o beiral (extremidade das águas do telhado). Para promover melhor a exaustão dos gases aquecidos no interior das instalações tem-se recomendado o emprego de aberturas nas cumeeiras dos telhados, lanternins ou clarabóias, ou mesmo exaustores eolicamente propelidos. Seja qual for o tipo de exaustor, o que se busca é justamente acelerar o fluxo da camada mais aquecida, diminuindo-se assim a carga radiante no interior das instalações. Exemplos de cumeeiras projetadas para acelerar a ventilação das camadas mais gasosas próximos aos telhados podem ser vistas na figura 12.

Figura 12. Tipos de aberturas para cumeeiras

Para diminuir o impacto do aquecimento provocado pelos telhados pode-se optar por materiais que atenham menores condutividades térmicas como material vegetal (sapé), telhas de barro, madeira conjugada com armação em madeira ou metálica, aplicando-se ainda tintas com cores mais claras na face externa dos telhados (Hafez, 1973; McDowell , 1974, Baêta e Souza, 1997 e Curtis, 1981). Outra forma de diminuir o aquecimento dos telhados é empregar água, que pode ser aspergida, borrifada, ou simplesmente jogada sobre a superfície externa do mesmo. Tal procedimento pode ser feito ligado a termostatos localizado na face interna da cobertura, comandado por timer, ou mesmo ligando-o e desligando-o em horários de maior incidência da radiação solar (10 às 15h), deixando-o operante por um período até próximo ao ocaso. De acordo com Curtis (1981) esse procedimento conduz a melhores resultados que simplesmente pintar a superfície externa do telhado com cores claras, muito embora Hafez (1973) e McDowell (1974) confirmam os benefícios de se diminuir a absorção da carga radiante incidente empregando-se o artifício da pintura. Avaliando o efeito do tipo de material do telhado sobre o desempenho de ovelhas Santa Inês criadas no semi-árido da Paraíba, Oliveira et al. (2005) compararam telhas de barro versus telhas de fibrocimento, e constataram que os apriscos cobertos com telhas de barro foram mais eficientes na redução da temperatura interna da telha, mas não se mostraram eficientes na melhoria dos índices de conforto térmico, em nível do centro de massa dos ovinos, que foram

33

semelhantes nos dois galpões, ocorrendo elevação nesses índices, no período da tarde. Esse tipo de resposta parece contraditória ao acima exposto. No entanto convém salientar que o pé direito foi de 2,8 m e a orientação do eixo principal no sentido Leste-Oeste, podendo a primeira característica ter sido fundamental na falta de diferença na redução dos índices de conforto térmico.

3.4. INSTALAÇÕES E LUMINOSIDADE A localização do sistema de produção pode ter a quantidade de luz incidente influenciada por aspectos como latitude, próximo a grandes montanhas, ou no meio de mata muito fechada e assim apresentar fotoperíodo, mais intenso e contínuo por todo o ano ou menos intenso e variável. É sabido que a origem dos caprinos e ovinos de regiões temperadas impõe-lhes maior dependência na estacionalidade reprodutiva advinda dos efeitos do fotoperíodo. Assim, raças ovinas inglesas são mais estacionais que os Merinos, enquanto que os deslanados do nordeste pouca ou nenhuma interferência recebem nesse sentido (Hafez, 1973 e Curtis, 1981). Para as raças que sofrem influência do fotoperíodo, Curtis (1981) ressalta que a época de nascimento interfere grandemente no intervalo de partos, ficando difícil, ou mesmo impossível, conseguir intervalo de 8 meses (três partos em dois anos), o que é de extrema importância para um sistema de produção de cordeiros para corte. Fato que também é verdadeiro para a caprinocultura e de extrema importância para a manutenção de uma oferta de leite regular durante o ano todo. Segundo Ribeiro (1998) existem várias formas de superar essa estacionalidade reprodutiva em caprinos e ovinos destacando-se: •

Protocolos hormonais: alteram aspectos da fisiologia reprodutiva com emprego de hormônios exógenos.



O emprego de programas de luz: visa simular a variação do comprimento do dia que ocorre naturalmente durante o ano, com isso o sistema nervoso do animal passa a agir como se o mesmo estivesse deslocado para outra época do ano, e com isso quebra-se a estacionalidade.



Utilização de melatonina: trata-se de hormônio presente em todos os mamíferos, sendo sintetizado exclusivamente à noite pela glândula pineal. Assim por sua relação direta com a percepção que o animal tem do fotoperíodo, o mesmo pode ser empregado em protocolos que visem quebrar a estacionalidade reprodutiva de caprinos e ovinos.

Muito embora todos sejam cabíveis de se realizar, salienta-se que no primeiro, corre-se o risco de após um primeiro tratamento hormonal os animais tornarem-se refratários e não responderem de forma satisfatória nos próximos procedimentos indizíveis com hormônios. Por outro lado, tratam-se apenas as fêmeas, sendo importante lembrar que os machos também apresentam estacionalidade reprodutiva. Já o emprego da melatonina ainda é muito oneroso e escasso no Brasil, além dos dados presentes na literatura serem contraditórios, de modo que resta o emprego de programas de luz para vencer a estacionalidade reprodutiva em ovinos e caprinos. Pela observação prática, é sem dúvida o método mais usado no país para escalas de produção com pequenos ruminantes.

34

Há que se ressaltar porém, que algumas características das instalações, aliadas à intensidade de luz, período de duração do programa, presença ou não de flashes pela madrugada, podem comprometer os bons resultados de um programa assim. Quanto aos problemas advindos das instalações pode-se destacar: •

O interior da mesma, devido ao projeto arquitetônico, não alteração no fotoperíodo.



A localização, tamanho e distribuição das baias a receberem luz não possibilitam perfeita difusão luminosa em seu interior.



Pode ocorrer que tratando um lote em uma época, ocorra contaminação de outro espaço com a luz do presente programa e ao submeter as cabras que estavam em baias “contaminadas” por esse período de luminosidade que não lhes era destinado, podem, em seu programa de luz não responderem adequadamente. Esse fato tem grande ocorrência na prática. Solução: evitar que haja fatores de “contaminação” luminosa entre as baias de animais tratados e não tratados.



O projeto de iluminação não foi projetado para receber ponto de luz suficiente para cobrir toda a área interna que se deseja submeter os animais ao programa de indução ao cio pelo fotoperíodo artificial. Nesse caso basta rever e corrigir as falhas do projeto.



Por último, salientar que devido às alterações presentes nas diversas latitudes, pode ser que a intensidade e duração de um programa de luz pode não ser 100% extrapolado de uma latitude a outra, requerendo ajustes específicos e inerentes à localização e caracterização das instalações. Cada circunstância exige um projeto específico.

favorece boa percepção da

3.5. BEBEDOUROS E AMBIÊNCIA Além dos fatores já descritos como tipo de piso, altura do pé direito, orientação dos telhados, presença ou não de beirais; há fatores como localização e tipo de bebedouros que são capazes de comprometer o conforto dos animais devido à possibilidade de elevar sobremaneira a umidade interna das baias, em especial daquelas que apresentam piso recoberto com cama. Por isso, recomenda-se que os bebedouros seja localizados na parte externa das instalações. Apesar de tecnicamente correta, essa prática exige supervisão mais constante dos mesmos, fato que na maioria das vezes não ocorre, e cujas conseqüências se agravam em se tratando de sistema vasocomunicantes, pois desvios de ângulo na linha mestra ou em alguns dos bebedouros do sistema pode comprometer o perfeito fornecimento de água aos animais. Nesse sentido, Alamer (2006) ressaltou que privação de água por período de dois a três dias comprometeu drasticamente a ingestão de alimentos de cabras nativas da Arábia Saudita e redução de até 20,6% no peso vivo dos animais. Por outro lado, Olsson et al (1997) ressaltaram a importância da oferta abundante de água fresca para cabras lactantes mantidas sob condições de estresse calórico, ressaltando que a temperatura da água assume papel importante nessas condições. Com isso, o que se recomenda, juntamente com a exteriorização dos bebedouros, é que os mesmos, juntamente com suas caixas de recalque e mesmo a caixa d’ água mestra e suas tubulações de distribuição fiquem abrigadas da intensa radiação solar tropical. Muitas vezes, há sistemas de produção de caprinos e ovinos que pecam exclusivamente nesse quesito, e para aqueles que trabalham com animais leiteiros o

35

prejuízo é maior ainda, tendo em vista também as maiores exigências de água pelos animais leiteiros. É importante salientar que antes de se executar um projeto, seja para caprinos, seja para ovinos, deve-se levantar as potencialidades da propriedade em produzir água em quantidade e com qualidade capaz de atender todas as categorias do criatório. Via de regra os ovinos necessitam tomar em média dois litros de água para cada quilograma de alimento seco consumido (2 L água/kg de MS consumida). Neste sentido Macedo Junior et al., (2005) verificaram um consumo 1,98 vezes maior que o consumo de matéria seca, trabalhando com diferentes níveis de FDN forrageiro com ovelhas da raça Santa Inês. O termo matéria seca (MS) é empregado na nutrição animal com a finalidade de se comparar vários alimentos em uma mesma base, qual seja, como se os alimentos não contivessem água, daí essa relatividade expressa por Ferrer e Ortigosa (1989). As ovelhas gestantes ou em lactação são as categorias com maiores necessidades diárias de água para consumo, segundo Ferrer e Ortigosa (1989). Cordeiros em fase de terminação (± 40 kg de peso vivo) necessitam de três a cinco litros de água por dia (3 a 5 L/dia), já ovelhas com 50 kg de PV consomem de quatro a cinco litros ao dia (4 a 5 L/dia) durante o terço inicial de prenhês, mas se as mesmas estiverem prenhes com ventre duplo, e a temperatura do ar for acima de 20o C, deverão ter disponível até 20 litros de água por dia no último mês de gestação. Caprinos nativos dos trópicos úmidos têm necessidade de 0,680 litros de água por dia, sendo que 80% do consumo é diurno (Devendra, 1982). Para cabras leiteiras Jarrige (1981) recomenda 0,146 L/kg0,75 para mantença e 1,430 L de água/litro de leite produzido (respeitadas tais recomendações, cabras com 70 kg de PV e produzindo 3,5 litros de leite ao dia necessitam de 8,54 L de água/dia). Para o NRC (2007) os caprinos estão menos sujeitos ao estresse calórico que ovinos e requerem menos água para evaporação destinada à homeotermia que os bovinos, além do que, possuem menores perdas de água pelas fezes e urina. Não só em relação ao consumo de água, mas também o consumo de alimentos (MS) sofre efeito do clima, principalmente das altas temperaturas, que via de regra tende a diminuir o consumo voluntário dos animais domésticos (Hafez, 1973 e McDowell, 1974), para que os mesmos mantenham sua temperatura corporal constante, deve-se fazer o perfeito manejo e projeto das instalações, garantindo dessa forma, um ambiente mais confortável aos animais mais exigentes quanto a quantidade e qualidade de água e alimentos. Produtores e técnicos muitas vezes equivocam-se nesse sentido, acreditando que por se tratarem de animais tropicais, os ovinos deslanados e os caprinos nativos do nordeste estariam totalmente fora desse fenômeno. Ledo engano, pois de forma similar, estudos têm demonstrado que bovinos zebus também sofrem efeitos de elevadas temperaturas, não só no consumo de alimentos, como também no que se refere ao desempenho produtivo e reprodutivo, assim sendo, olho vivo nas condições de temperaturas muito elevadas. Fator determinante para a saúde dos animais, que de certa forma também relaciona-se com ambiência e bebedouros é sua higienização, seja no quesito freqüência, seja no esmero como essa importante tarefa é executada. De nada adianta ter boa colheita e tratamento da água, um bom reservatório central em termos de quantidade e qualidade de armazenamento, sistema de distribuição bem protegido do aquecimento pela radiação solar, se ao final do processo a água, essa preciosidade importante nos sistemas produtivos, seja colocada em bebedouros escandalosamente contaminados. Nesse caso as perdas serão enormes. Isso também é ambiência.

36

3.6. COMEDOUROS E AMBIÊNCIA Além de bem dimensionados, considerando a população presente por baia, os comedouros devem estar colocados de forma a não receberem fezes dos animais, evitando-se a contaminação de animais saudáveis e a recontaminação dos convalescentes, por isso, os mesmos são instalados um pouco acima da altura média da linha dorso lombar da categoria alojada na baia ou piquete. Outro ponto a ser observado na higienização do cocho é a retirada diária das sobras de cocho, visto que as mesmas podem ser meio de cultura para microrganismos patogênicos, tal cuidado deve ser ainda maior se a umidade da dieta for elevada como por exemplo fornecimento de forragem fresca ou silagem e concentrado no mesmo cocho. Evitar que os mesmos recebam radiação excessiva, chuva ou sereno, pois tais eventos podem comprometer a ingestão voluntária dos animais, fazendo com que haja mais sobras alimentos nos comedouros. Por fim, tal como ocorre com a água, monitorar o consumo voluntário do lote dos animais é poderosa ferramenta, não só para formular ou reformular as dietas, mas para verificar se o lote goza de perfeita saúde. Este índice também pode ser indicativo que esteja ocorrendo estresse térmico na instalação, estresse social por diferenças na hierarquia dos novos lotes formados, ou mesmo de que o projeto original pode não estar atendendo à etologia dos animais em questão. Esse último fato tem sido mais presente nos sistemas que adotam pista de alimentação conjugada com pisos dotados de cama, por dois motivos, ou pelo fato de que com a elevação do nível da cama, a linha de comida fica mais baixa, exigindo que os animais se ajoelhem para comerem pode ser resolvido criando um ressalto em alvenaria na parte interna da baia e limítrofe ao comedouro, com largura de 1,20 a 1,50 m, ou ainda pelo fato de que ao projetar a instalação o responsável se equivocou na altura do primeiro fio - nesse caso, quando possível basta elevar o fio que impede a perfeita chegada à linha de cocho, ou ainda, simplesmente afastar esse fio baixo para o sentido do cocho por cerca da 15 a 20 cm tem dado resultado nessa correções.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os fracos índices produtivos e reprodutivos de caprinos e ovinos criados de forma intensiva ou semi-intensiva podem dever-se, dentre outros fatores, às falhas na elaboração e execução do projeto construtivo. As deficiências no manejo das instalações podem redundar em perdas insensíveis para o sistema de produção de caprinos e ovinos. Falhas de execução de projetos arquitetônicos podem, por vezes serem suplantadas por artifícios técnicos, sempre lembrando que pode-se ainda lançar mão de equipamentos para arrefecimento ambiental, que não foi abordado no presente trabalho, mas que é uma realidade. Ressalva-se porém que seu uso pode onerar sobremaneira o sistema. Portanto, para evitar esses aspectos deve-se preocupar com as características construtivas ligada ao bem estar animal no momento da concepção do projeto. No ambiente interno de capris e ovis é de fundamental importância que se dê prioridade aos aspectos construtivos que mais afetam a temperatura do ar, seguido por aquelas responsáveis pela

37

elevação da umidade relativa do ar e as que serão capazes de promover uma excelente movimentação dos ventos pelas partes internas das instalações. O conhecimento prévio das zonas de conforto de caprinos e ovinos, em suas várias faixas etárias, assim como as temperaturas críticas mínima e máxima para todas as categorias do sistema produtivo garante base sólida para se pensar e executar um projeto com melhores características de ambiência.

5. BIBLIOGRAFIA ALAMER, M. Physiological responses of Saudi Arabia indigenous goats to water deprivation. Small Ruminant Researsh, v. 63, p.100-109, 2006. ARMSTRONG, D. V. e WELCHERT, W. T. International dairy housing conference, 3. Proceeding... p. 598-604, 1994. BAETA, F. C. e SOUZA, C. F. Ambiência em edificações rurais, conforto animal. Viçosa, UFV, 1997. 246p. CURTIS, S. E. Environment management in animal agriculture. Ilinois: Animal Environment Services, 1981. 130 p. DEVENDRA, C. e McLEROY, G. B. Goat and sheep production in the tropics. Longaman, Londres, 1982. 127p. FERRER, L. E. & ORTIGOSA, A. C. Producción de ganado ovino en la América tropical y el Caribe. Centro de Informacion y Documentacion Agropecuario de Cuba, Havana. 1989. 233p. HAFEZ, E. S. S. Adaptación do los animales domésticos. Barcelona, Labor, 1973. 563p. JARRIGE, R. Alimentación de los rumiantes. Madrid. Munsidal Prensa, 1981. 677p. JOHNSON, H. D. ed. Bioclimatology and the adaptation of livestock. Columbia, Elsevier, 1987. 279p. MACEDO JUNIOR, G.L., ALMEIDA, T.R.V.,ASSIS, R.M., et al. Influência dos diferentes níveis de FDNf na ingestão de água de ovelhas Santa Inês gestantes. In Anais do ZOOTEC 2005. ZOOTEC, 2005, Campo Grande , MS. McDOWELL, R. E. Bases biológicas de la producción animal en zonas tropicales. Zaragoza, Acribia, 1974. 692p. NRC - NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirement of goat. Angora, dairy, and meat goat in temperate and tropical countries. 1st ed. Washington, D.C.: National Academic Press, 87p., 1981. NRC - NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirement small ruminants. 1st ed. Washington, D.C.: National Academic Science, 362p., 2007.

38

OLIVEIRA, F. M. M.; DANTAS, R. T.; FURTADO, D. A.; NASCIMENTOS, J. W. B. e MEDEIROS, A. N. Parâmetros de conforto térmico e fisiológico de ovinos Santa Inês, sob diferentes sistemas de acondicionamento, Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 9, n. 4, p. 631-635, 2005. OLSSON, K.; CVEK, K.; HYDBRING, E. Preference for drinking warm water during heat stress affects milk production in food-deprived goats. Small Ruminant Research, v. 25. P.69-75, 1997. RIBEIRO, S. D. A. Caprinocultura: criação racional de caprinos. São Paulo, Nobel, 1998. 318p. ROSA, H. J. D. e BRYANT, M. J. Seasonality of reproduction in sheep, Small Ruminant Research, v. 48, p. 155-171, 2003. SANTOS, J. R. S.; SOUZA, B. B.; SOUZA, W. H.; CEZAR, M. F. e TAVARES, G. P. Respostas fisiológicas e gradientes térmicos de ovinos das raças Santa Inês, Morada Nova e seus cruzamentos com a raça Dorper às condições do semi-árido nordestino. Ciência e agrotecnologia, v.30, n, 5, p.995-1001, 2006. SLEE, . J. Sheep. In: JOHNSON, H. D. ed. Bioclimatology and the adaptation of livestock. Columbia, Elsevier. p. 229-244. 1987. WIERSMA, F. e STOTT, C. H. Evaporative cooling. IN: HELLICKSON, M. A. e WALKER, J. N. Ventilation of agricultural structures. St. Joseph: ASAE. 1983. P.113-118. YEATES, N. T. M. Avances en zootecnia. Zaragoza, Acribia, 1967. 403p.

39

PRÁTICAS GERAIS DE MANEJO

CASTRAÇÃO: 1 - 3 meses de idade: Canivete ou Burdizzo Separação de sexos ± 3 meses de idade Cheiro na carne de animais inteiros

DECORNA: 3 - 10 dias com ferro apropriado (Oco) Depilar área vizinha Substâncias cáusticas: menos prático Adultos: Fio de serra - MAIORES CUIDADOS

DESMAMA: Precoce : 30 a 36 dias Tardia: 90 dias Animais superiores pode ser após 4 meses

CASQUEAMENTO: Animais confinados ou semi-confinados Tendência genéticas em alguns casos Contenção do animal Evitar claudicação

ORDENHA: Novas que nunca tiveram mamite Velhas que nunca tiveram mamite Cabras que tiveram mamite e se curaram Cabras com mamite

ALEITAMENTO:

SEPARAÇÃO POR IDADE:

40

ESCRITURAÇÃO ZOOTÉCNICA E SUA IMPORTÂNCIA NA CAPRINOCULTURA Iran Borges, André Guimarães Maciel e Silva, Fernando Henrique M. A. R. de Albuquerque

1. INTRODUÇÃO Os pesquisadores das ciências humanas e econômicas têm defendido a tese, desde os anos 90, de que no final do século XX e início do XXI aqueles indivíduos ou instituições que dominarem as comunicações, e por aí deve-se inserir também as informações, terão ampla e talvez imensas vantagens no mercado competitivo ou mesmo nas relações interpessoais. Fato certo ou errado, já num passado mais remoto, haviam filósofos e outros pensadores que atribuíam à imprensa o papel de 4o poder (junto com o executivo, legislativo e judiciário que dominam nas democracias modernas), justamente pelo fato de que à imprensa cabe o papel de dominar, no sentido de deter, conter, buscar, as informações inerentes à sociedade onde se insere, agindo como importante formadora de opinião pública. Recentemente, um curso muito reconhecido nas escolas de 1o, 2o e 3o graus, chamava-se Biblioteconomia, e formava os biblioteconomistas, ou blibiotecários, pessoas altamente gabaritadas para organizar e gerar e administrar bancos de informações, nesses casos, livros, revistas, jornais e similares, ocorre que os grande conglomerados nos setores da indústria e comércio, viram nesses profissionais um perfil capaz de organizarem o fluxo de informações para suas empresas, com isso o curso mudou de nome em todo o Brasil passando a chamar-se Ciência da Informação, pois agora o mercado de seus profissionais não mais restringia-se às entidades como bibliotecas ou arquivos similares, mas a uma gama muito maior de atuação. Isso vem demonstrar como a informação tem peso para tais setores produtivos. Nesse ponto cabe uma reflexão: Se a informação, seu domínio e conhecimento, são importantes para os setores secundário e terciário, porque não seria para o setor primário (agropecuária)? Nesse sentido é que devem pensar os produtores e os técnicos da zootecnia, pois ter o domínio e conhecimento de todas as ocorrências inerentes ao sistema produtivo no qual estão inseridos, aumentar-se-lhe-ias a possibilidade de sucesso. Sabe-se que muitas das informações fazem parte de uma conjuntura externa (porteira para fora), mas um grande e importante número de eventos ocorrem porteira a dentro, e portanto compete exclusivamente a esses agentes (produtores e técnicos) ter os devidos cuidados para ter-se tais informações. Tanto produtores quanto técnicos ganharão com tal procedimento, pois estarão organizando os dados que no presente servirão para monitorar o que foi planejado, e principalmente no futuro servirão para tomadas de decisões que muito influirão no desempenho da fazenda. Mesmo que um produtor venda a propriedade a outra ou que o técnico que lhe oriente vá embora, os dados sempre auxiliarão o eventual comprador ou o novo técnico. Por isso é bom saber que, quanto melhor a qualidade e quantidade das informações, mais fielmente essas refletirão a realidade, e assim sendo, fornecerão melhores subsídios para que se tome as decisões de manejo e gerenciamento mais adequadas a cada situação que se apresenta dentro do sistema produtivo. Como os animais não podem comunicar com os homens, cabe a esses últimos gerarem uma linguagem capaz de traduzir o que se passa com os animais em rebanhos, e essa dá-se por meio de números, não que os animais entendam matemática, mas com certeza, os inseridos nesse elo da cadeia produtiva da caprinocultura saberão interpretar tais números, e assim, transformá-los em informações úteis que nortearão as práticas de manejo, as relações de compra e venda de animais, a aquisição de insumos, a construção, as reformas ou ampliações das instalações, dentre

41

outras importantes ações, ou tomadas de decisão, que se tem como prática corriqueira em uma caprinocultura. O objetivo desse trabalho é levantar a importância de ter-se na fazenda, qualquer que seja seu tamanho, objetivo, localização ou proprietários, no que diz respeito ao manejo e gerenciamento da mesma. 2. A ESCRITURAÇÃO ZOOTÉCNICA E O MANEJO GERAL DO REBANHO 2.1. IDENTIFICAÇÃO DOS ANIMAIS Já que o ponto principal da escrituração zootécnica é a informação, a primeira providência que deve-se ter é proceder a identificação de todos os animais do rebanho. A forma como tal identificação será feita não interferirá na qualidade dos dados, desde que a mesma seja segura, permanente, de fácil colocação e visualização. Assim sendo, com identificação, quer seja por tatuagem ou por chips eletrônicos, ou qualquer outro método, no frigir dos ovos o que gera-se no final são as informações. Uns poderão dizer: “Os chips são o pé no futuro”, fato que é verdade em parte, a enorme contribuição que tal tecnologia reverte é sua incrível agilidade no processamento dos dados, sem muitas fontes de erros. Portanto, ao produtor de caprinos que possui um capital maior para investimento pode ter aí uma ótima ferramenta para gerenciar seu(s) rebanhos(s), muito embora a tatuagem, o uso de brincos, plaquetas, abraçadeiras, pulseiras, colares etc., não deixam nada a desejar, somente exigem que seja implantado um “protocolo” de conferência, visando diminuir a possibilidade de erros na identificação dos animais. Muito embora, seja prática comum entre os produtores usarem nomes para identificar seus animais, o emprego de sistema numeral facilita em muito nessa tarefa. Pode-se ter no primeiro dígito o ano de nascimento do animal, no segundo o mês, no terceiro e quarto o número da mãe, e nos dois ou três seguintes, a depender do tamanho do rebanho, o número que identificaria o animal. a escrituração zootécnica, dígitos pode ficar muito grande, aqueles que empregam tatuagem e não trabalham com animais registrados podem, por exemplo, destinar uma orelha para as informações gerais e a outra para o número do animal em si. Pode-se optar também por fazer a identificação mista (tatuagem + brincos, tatuagem + colar, tatuagem + pulseiras, ou combinações entre essas), de forma a ter-se uma identificação mais abrangente e explicativa possível, ou também aliar uma identificação segura, que dificilmente será perdida, como é o caso da tatuagem, com uma de fácil visualização, como os colares. Tal prática, não impede, de maneira alguma que os animais sejam encaminhados ao serviço de registro genealógico com seus nomes: Ex: filhas das cabras com nomes de frutas terão também nomes de frutas, sendo que identifica-se a maternidade a partir da primeira letra (mãe: lima, filhas: laranja1, laranja2, etc.), nesse caso pode-se empregar um número na placa do colar, pulseira ou brincos para identificar os pais, sendo que o mais usual para paternidade é usar brincos, colares, pulseiras ou plaquetas de cor ou formato diferentes. Seja qual for o método empregado, o importante é que o mesmo facilite a identificação do animal, para que essa seja empregada nas fichas de controle da propriedade (sanitário, reprodutivo, produtivo, nutricional, financeiro e de eventos diversos).

42

2.2. CONTROLE REPRODUTIVO Para aqueles produtores ou técnicos que estão gerenciando um rebanho caprino e o mesmo ainda não possui escrituração zootécnica, o manejo reprodutivo é a primeira oportunidade para que se inicie tal procedimento. Após todos os animais estarem devidamente identificados, estipula-se a época e duração da(s) estação(ões) de monta, sendo que essa deve ser dimensionada tendo-se por base a relação macho : fêmea do plantel (geralmente opta-se por relações de 1:33 até 1:50), a época que deseja-se produzir leite ou carne, se a raça é poliestral estacional (apresenta cios somente nos períodos em que os dias começam e ficam mais curtos - fevereiro a julho), se durante a estação de nascimento as cabras terão alimentação garantida e na época do desaleitamento seu filhotes terão pastos disponíveis. Faz-se então o esquema de acasalamentos, considerando-se um número de saltos de 4 a 5 por dia, sempre direcionando que bode cobrirá qual cabra, evitando-se que ocorram acasalamentos cuja consangüinidade seja estreita (pai com filhas, irmão com irmãs, avô com netas). Para otimizar a utilização do reprodutor pode-se usar rufiões ou a observação visual do cio por parte dos encarregados pelo capril. Tais procedimentos acima serão mais complicados no início da implantação dos registros zootécnicos, mas estação após estação e ano após ano, o processo torna-se mais prático, fácil e com maior quantidade de informações, as quais irão subsidiar as futuras tomadas de decisão quanto ao manejo reprodutivo e aos demais manejos interrelacionados. Uma vez identificada a cabra no cio a mesma é colocada junto ao reprodutor, seguindo-se o esquema proposto pelo técnico que forneceu a orientação. Após a certeza da cobertura, anota-se o dia em que a mesma ocorreu e o nome do bode empregado, com isso é só projetar para os próximos 150 dias (142 a 164 dias) a estação de nascimento, conforme consta no esquema abaixo: ESTAÇÃO DE MONTA

JAN

FEV MAR ABR MAI

ESTAÇÃO DE PARIÇÃO

JUN JUL

AGO SET

OUT

NOV DEZ

Com relação aos machos pode-se realizar mensurações de circunferência escrotal, a partir da puberdade, e também manter-se um histórico de seu desempenho reprodutivo nas estações de monta, até mesmo com dados de exame andrológico, onde todos esses números serão registrados para avaliações futuras, talvez até mesmo para servir de suporte para um programa de descarte (seleção). Informações que pode-se obter com a escrituração dos eventos reprodutivos: a) Uma vez que todas as cabras tenham sido cobertas, é possível verificar quais falharam (retornaram ao cio), fato que pode indicar não ter havido a fertilização, que houve a fertilização, mas em algum momento o embrião morreu e foi absorvido, ou ainda que o bode usado poderia ser sub-fértil ou estéril. Como diferenciar esse último evento dos demais? Para isso bastaria conferir as outras cabras que o referido bode cobriu nessa estação, se outras cabras repetiram cios e se isso ocorreu com freqüência alta, pode-se ter fortíssimos indícios de problemas reprodutivos com tal macho. Um exame clínico e andrológico bem feito logo a seguir poderá indicar se o bode deverá ser tratado ou descartado, evitando-se assim novos prejuízos ao plantel.

43

b) Estimar mais precisamente, nas próximas estações de monta qual seria a nova estação de nascimento, tendo em vista que fêmeas primíparas costumam apresentar duração da gestação diferenciada das multíparas. c) Conhecer o intervalo de partos dentro do sistema em que se trabalha e com isso buscar a (s) melhor (es) alternativa (s) para se implantar a próxima estação de monta. Geralmente para animais leiteiros, deseja-se intervalo de partos variando entre 10 a 12 meses, enquanto que na caprinocultura de corte deseja-se trabalhar com intervalo de parto de 8 meses. Assim demonstra-se que o conhecimento desse intervalo é primordial para planejamento das futuras estações de monta. d) Pode-se avaliar a eficiência reprodutiva do rebanho determinando-se as taxas de fertilidade e fecundidade, bem como o índice de retorno ao cio. e) Outra variável reprodutiva que é importante conhecer, e a escrituração zootécnica possibilita sua obtenção, é a ocorrência do primeiro cio fértil pós-parto, desde que tenha-se identificado tal cio, e submetido a cabra a nova cobertura. Tal tempo é muito usado na caprinocultura de corte para avaliar-se qual o grau de eficiência de retorno ao cio, e consequentemente aumentar o aproveitamento da vida útil das matrizes no rebanho. A seguir um exemplo de ficha para controle de cobertura e nascimento: FICHA DE COBERTURA E NASCIMENTO No da cabra

Data da Cobertura

Estimativa de parto

Data do Parto

Aborto (A) Repetição de Cio (C) (data)

No do Bode usado

No de crias

Peso crias

Data cio pós-parto

Observações

O número de linhas encontra-se reduzido para caber no texto atual, mas a mesma pode ter toda a dimensão de um folha ofício ou A4, os dados apresentados não necessariamente serão os únicos a constar de uma ficha com esse fim, ao seu usuário cumpre ajustá-la de modo que os dados contidos sirvam-lhe de melhor suporte para o gerenciamento do manejo reprodutivo. 2.3. SELEÇÃO E MELHORAMENTO CAPRINO De acordo com Pereira (1983) para obter-se sucesso no melhoramento genético animal deve-se, antes de tudo, conhecer os dados de uma dada espécie, juntamente com as variáveis produtivas e reprodutivas da mesma. Isso demonstra que um banco de dados bem feito (escrituração zootécnica) constitui-se no primeiro passo para alcançar sucesso no melhoramento animal. Para que se defina um programa de melhoramento genético é necessária a definição do objetivo produtivo e econômico da população de animais que está envolvida neste, além dos critérios que serão adotados para se atingir tal objetivo. Os critérios, baseados nas características a serem mensuradas para fazerem parte de um índice de seleção deverão apresentar peso econômico significativo e herdabilidade (transmissão devido aos genes) de moderada a alta.

44

Os dados empregados podem relacionar-se às características produtivas como as de peso (peso ao nascer, peso à desmama, peso ao abate, peso à primeira cobertura, peso adulto, ganho de peso médio diário - do nascimento à desmama ou do nascimento à puberdade), duração da lactação, produção leiteira, teor de gordura e proteína no leite, etc., e também reprodutivas como idade ao primeiro parto, intervalo de partos, número de crias por matriz, taxa de natalidade e mortalidade, etc. 2.4. CONTROLE SANITÁRIO A adoção de escrituração zootécnica permite não somente programar o momento de adotar-se práticas de manejo sanitário, bem como identificar problemas no seu início, antes que tornem-se limitantes para o sistema de produção. Somente com o histórico da propriedade a médio e longo prazo, para parâmetros como taxa de mortalidade nas diversas categorias, taxa de aborto, incidência e prevalência de doenças específicas para cada sistema de produção (intensivo, semi-intensivo ou extensivo), contagem de células somáticas, pode-se localizar falhas no manejo ou determinar metas para melhoria de tais parâmetros. Além do aspecto profilático-curativo da escrituração sanitária, um parâmetro importante que pode ser obtido em tal análise é o impacto econômico de novas técnicas de manejo sanitário no desempenho do rebanho, bem como a determinação dessa viabilidade sendo capaz de melhorar parâmetros como a taxa de mortalidade, permitindo verificar até que ponto vale a pena a adoção de práticas visando a melhoria desses índices no rebanho, ressaltando-se que essa análise deve considerar não somente os aspectos econômicos, mas também as questões técnicas e éticas. 2.5. CONTROLE PRODUTIVO Tal prática na anotação zootécnica é de suma importância, não só pelo fato de estar registrando os dados produtivos, e consequentemente aqueles responsáveis diretos pelas denominadas “perdas sensíveis” ou “perdas visíveis”. Por vezes os produtores estão atentos somente a esse tipo de perdas, muito embora, não façam tal controle em banco de dados. Para que fazê-lo então? Podem rebelar alguns deles. - Por um motivo simples: Trata-se de uma ferramenta muito sensível para mensurar não o quanto ou o que se está perdendo, mas principalmente onde e porque isso ocorre. Trabalhando-se tais dados, aliados aos da sanidade, da reprodução e da nutrição torna-se possível identificar, e até mesmo quantificar, as perdas “insensíveis”, que estão embutidas e são geralmente decorrentes de falhas construtivas, de manejo ou gerenciamento da criação ou propriedade como um todo. Nesse tipo de controle pode-se por exemplo mensurar dados da caprinocultura leiteira como: produção diária de leite por cabra e/ou por rebanho, e como conseqüência as produções mensais e por lactação, a persistência da lactação, a composição do leite, o rendimento de produtos derivados do leite, dentre outros. Para a exploração de caprinos de corte apontar-se-iam dados como: peso ao nascer, peso à desmama, velocidade de peso nas várias fases (cria, recria e engorda), peso da carcaça, rendimento de carcaça, rendimento do “5o quarto” (vísceras comestíveis), etc. Para ambos os tipos de exploração também seria possível elaborar uma ficha de controle da quantidade e qualidade das peles produzidas (verdes, salgadas ou wet blue). Somente com registros confiáveis dos dados produtivos como peso ao nascer, peso ao desmame, ganho de peso nas diversas categorias, prolificidade, produção leiteira atual e na lactação total, pode-se aferir e dar um “ajuste fino” no sistema. Essa prática permite uma melhor divisão dos animais, em lotes por produção leiteira por exemplo, permitindo a otimização do uso de insumos,

45

como alimentos, que têm grande impacto econômico na criação, adotando práticas de manejo mais onerosas somente nos animais que realmente possam responder às mesmas O monitoramento dos parâmetros produtivos do rebanho pode ser importante na identificação precoce de falhas no manejo, permitindo interferir no sistema no momento adequado. Tal prática pode ser fundamental em categorias animais muito sensíveis a erros no manejo, como é o caso dos animais jovens. 2.6. CONTROLE DO MANEJO ALIMENTAR O controle dos parâmetros nutricionais, apesar de intimamente ligado ao acompanhamento produtivo, merece ser discutido à parte devido à grande influência do manejo nutricional sobre todos os demais aspectos já abordados. Um aspecto importante seria a comparação dos desempenhos esperados, como ganho de peso ou produção leiteira esperada, com as produções realmente observadas após o ciclo produtivo, permitindo ajustes no sistema. A mensuração do consumo de alimentos pode facilitar a compreensão de diferenças muito grandes entre desempenho produtivo esperado e observado. Baseando-se nos dados produtivos (animal lactante ou seco, peso vivo da cabra, produção de leite, composição do leite) e reprodutivos (animal prenhe ou vazio, ordem de gestação, dias de gestação, animais na pré estação de monta ou na estação de monta) é possível elaborar dietas que venham a produzir maior eficiência biológica, melhor retorno financeiro, e fornecer melhores condições de saúde aos animais, podendo-se empregar uma outra observação muito importante e que tem grande peso no momento de se avaliar a resposta animal (produtiva e reprodutiva), tratase da avaliação da condição corporal (escore corporal). Monitorar a qualidade do alimento oferecido, tanto bromatológica como sanitária (contaminação), pode dar maior agilidade nas tomadas de decisão, principalmente quando já se possui uma divisão adequada do rebanho conforme faixa etária e nível de produção (orientadas pela escrituração presente no plantel), permitindo alocar os insumos corretos, com o devido processamento para cada lote de animais, otimizando-se assim o aproveitamento da dieta. Em algumas vezes podendo-se empregar alimentos alternativos, que são aqueles normalmente pouco usados na alimentação das cabras, mas que têm valor biológico ou apresentam resposta econômica capaz de oferecer uma melhor relação custo:benefício. A seguir um exemplo de que o controle integrado dos dados supra citados pode minimizar perdas no ciclo produtivo de cabras em lactação: Situação: Capril leiteiro com cabras produzindo média de 2,5 kg/cab/dia (3,5 a 1,5 kg), recebendo uma dieta a base de feno de alfafa e concentrado comercial para cabras leiteiras (30% PB), nas tabelas a seguir será identificada como dieta 1, essa dieta era fornecida a todas as cabras em lactação, variando apenas na quantidade em função da produção de leite (média diária calculada um vez por mês). Procurou-se simular uma outra dieta, com níveis nutricionais similares aos que encontravam-se na referida dieta do criatório, porém empregando outros tipos de alimentos capazes de diminuir os custos com arraçoamento (dieta 2), além disso, foram formuladas dietas com bases em tabelas de exigências para dois níveis de produção, sempre empregando formulações diferentes para tais níveis (dietas 3, 4, 5, e 6 ).

46

QUADRO 1. Composição percentual das dietas experimentais* Feno alfafa

Dieta

1 2 3 4 5 6

Concen. Comercial

75,43 40,21 30,40 13,48

24,57 14,88 9,97 4,43 13,45 -

Caroço algodão

19,91 22,57 14,00

Milho

Cana + uréia

Feno Coastcross

34,92 56,15 -

47,92 -

25 7,19 37,10

Silagem de milho

73,00 35,42

*Sal mineralizado e água foram fornecidos a vontade para todos os tratamentos estudados Silva et al. (2004)

QUADRO 2. Composição bromatológica das dietas experimentais Dieta

1 2 3 4 5 6

MS(%) 86,55 86,54 66,72 51,26 50,87 70,42

PB(%) 22,30 19,18 14,00 12,00 14,04 12,00

FDN(%) 33,65 29,10 42,94 48,98 48,19 33,93

FDA(%) 24,86 20,88 30,86 29,84 34,64 20,68

NDT(%)* 70,66 78,95 69,91 70,02 70,78 72,41

* Dados estimados por tabelas do NRC (1981) Sal mineralizado e água foram fornecidos a vontade para todos os tratamentos estudados Silva et al. (2004)

QUADRO 3. Consumo e digestibilidade aparente da matéria seca e produção de leite diária para as seis dietas fornecidas a cabras leiteiras no terço inicial de lactação Dieta

1 2 3 4 5 6

CMS (g/dia) 2842,49 A 2999,19 A 2146,89 B 1893,72 B 1068,45 C 1992,93 B

CMS UTM (g/kg0,75) 140,73 A 148,50 A 106,30 B 98,68 B 52,90 C 93,77 B

CMSD UTM (g/kg0,75) 94,74B 103,84A 76,28B 79,42B 30,43D 65,66C

Dig MS (%) Prod. leite Leite/kg (kg/cab) ração 67,13 B 69,93 AB 71,76 AB 80,48 A 57,52 B 69,91 AB

3,08A 2,44AB 2,91AB 1,43C 1,46C 2,60B

1,083 0,814 1,355 0,755 1,367 1,305

Letras iguais em mesma coluna indica semelhança estatística (SNK 5%)

Silva et al. (2004)

Pelos resultados do quadro 3 é possível notar que a dieta 1, usada cotidianamente na propriedade, apresentou maior produção, muito embora não tenha sido estatisticamente significativo, mas alguns poderão dizer, não houve diferença na estatística, mas no balde do produtor estariam entrando o correspondente a 0,64 ou 0,17 litro em relação às dietas 2 e 3, isso para 100 cabras seria 64 e 17 litros, os quais equivaleriam e R$128,00 e R$34,00/dia (litro a R$2,00 na época), ou ainda a R$ 3.840,00 e R$ 1.020,00, isso em valores absolutos; porém tem-se que considerar alguns fatores não presentes nesse quadro e que compunham a realidade da propriedade: ministrava-se a mesma formulação, apenas mudando a quantidade, para todas as cabras, e fica claro pelo mesmo quadro que para cabras produzindo próximo a 1,5 kg/dia poder-se-ia optar pela dieta 5, já para aquelas com produções por volta dos 2,5 kg de leite/dia, a estratégia de arraçoamento poderia estar baseado nas dietas 2 ou 6. Outro aspecto importante é considerar que a dieta 3 apresentou menor produção leiteira que a 1 (0,17 kg ou 5,52% a menos), mas teve melhor relação kg de leite produzido/kg de ração consumida (0,272 ou 20,07% superior nessa

47

relação), que reflete a eficiência de aproveitamento da ração, isso pode estar demonstrando que uma análise de comparação pontual, como feito acima com valores em R$ pode estar escondendo a melhor relação custo:benefício, como outros fatores relativos ao custo de produção não foram levantados no presente trabalho, fica difícil uma conclusão mais segura nesse sentido, além do mais, devido à dinâmica da variação dos preços de mercado, tanto da matéria prima como do produto final, quer seja leite ou carne, essa avaliação deve ser feita de forma constante, com o intuito de equacionar o aspecto produtivo com o econômico. Muito embora essa situação permanecerá dúbia, há uma outra que fica muito clara, que é o fato de que sem escrituração zootécnica, e o devido acompanhamento desse sistema de produção, ficaria mais difícil detectar tais perdas que estavam ocorrendo, deixando claro também que para viabilizar o sistema produtivo deve-se considerar as exigências nutricionais de cada lote de produção, devidamente divididos dentro da propriedade, e essa divisão só é possível quando se conhece as produções individuais e o estádio de lactação, o que é possível somente com uma anotação zootécnica eficiente e constante supervisão não só do rebanho, como também da coleta desses dados. Cuidados também devem ser tomados quando almeja-se desafiar os animais nuticionalmente buscando maximização dos parâmetros produtivos, como é o caso de animais que estão sendo preparados para participar de exposições ou torneios leiteiros. Deve-se sempre considerar os aspectos fisiológicos para não comprometer a vida produtiva do indivíduo, especialmente quando trabalha-se com os animais de reposição do rebanho, dos quais espera-se uma vida produtiva longa. 2.7. CONTROLE ECONÔMICO A avaliação econômica do sistema produtivo depende muito da quantidade e da qualidade dos dados coletados e geralmente as melhores análises econômicas aproveitam os dados de controle já discutidos. Além desses parâmetros, uma descrição física das benfeitorias, da qualidade do terreno, das pastagens, dos implementos agrícolas, das culturas perenes e anuais também levados em consideração. A utilização da mão-de-obra e do maquinário também devem ser mensurados, levando-se em consideração a sua demanda em cada setor da propriedade, como cria, recria, animais em lactação, animais de reposição, agricultura, etc., permitindo a identificação de quais setores estão demandando maiores investimentos, ou quais são os principais centros de custos e se os mesmos geram lucro ao sistema. Deve-se logicamente considerar todos os tipos de gastos e também separar todos os investimentos por setores do sistema produtivo, permitindo a identificação dos pontos de estrangulamento do sistema, nos quais geralmente os investimentos para melhoria da eficiência refletirão em redução dos custos de produção. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A consistência e fidedignidade dos bancos de dados em uma exploração animal deve ser meta a ser cumprida por todos os produtores e técnicos, sendo parte da rotina do criatório. A escrituração zootécnica é um poderoso artifício para o planejamento, monitoramento, gerenciamento e no auxílio nas tomadas de decisão na caprinocultura. O simples fato de ter-se os dados na mão não assegura necessariamente a obtenção de melhores resultados, para isso, há a necessidade do acompanhamento de alguém capacitado para

48

interpretá-los e dar-lhes o devido uso, para tal, a presença e/ou orientações de um técnico tornase indispensável. Grandes fazendas (e não fazendas grandes), grandes indústrias e grandes nações somente deram um salto desenvolvimentista quando organizaram seus meios produtivos, que possibilitassem um seguro planejamento estratégico.

FICHAS ZOOTÉCNICAS

Fichas individuais - frente Propriedade:

Proprietário

Município:

Estado:

Endereço:

Ficha para anotações de informações diversas

Diversos Data

Número ou nome do animal

RIBEIRO (1997)

Ocorrência

49

FICHAS ZOOTÉCNICAS

Fichas individuais - frente Propriedade:

Proprietário

Município:

Estado:

Endereço:

Cadastro e genalogia Nome Número TOE Grau sangue Nascimento Pelagem Obs:

Raça TOD Brincos Chifres Pontuação

RIBEIRO (1997)

Controle reprodutivo Cria

Data cobertura

RIBEIRO (1997)

Reprodutor

Data do parto

Sexo das crias

Peso das crias

RGN das crias

50

Fichas individuais - verso Controle produtivo Mês

1o

2o

3o

4o

5o

6o

7o

8o

9o

10o

Duração

Total

Média

RIBEIRO (1997)

Controle geral Data

Idade

RIBEIRO (1997)

Ficha de jovens

Peso

Data

Observação

Data

Observação

51

Propriedade:

Proprietário

Município:

Estado:

Endereço:

Cadastro e genalogia Nome Número TOE Grau sangue Nascimento Pelagem Obs:

Raça TOD Brincos Chifres Pontuação

RIBEIRO (1997)

Controle geral Data

Idade

RIBEIRO (1997)

Peso

Data

Observação

Data

Observação

52

Ficha para controle de lactação Nome

TOE

Número

Controle de lactação Nome Raça

Pai Mês

Data

Mãe a

1 ordenha

a

2

Total diário

Data

TOE

Número

TOD

RGD

a

1

a

2

Total diário

Média Total Mensal mensal

1 2 3 4 5 6 4 8 9 10 RIBEIRO (1997)

Resumo e observações Lactação Início da lactação Fim da lactação Intervalo de partos Período seco Produção mínima Produção máxima Correção 305 dias Correção 365 dias Duração da lactação Produção total Média diária RIBEIRO (1997)

Data

Observação

Data

Observação

53

Ficha para coleta de informações de coberturas

Coberturas Data

Cabra Número

Bode

Observação

Nome

RIBEIRO (1997)

Ficha para coleta de informações de nascimentos Nascimentos Número

Data

RIBEIRO (1997)

o

N da cabra Nome da cabra

Sexo

Chifre

Brinco

Peso

Observaçã o

54

Fichas para coleta de informações de produção de leite por cabra

Produção de leite por cabra Número ou nome da cabra

Data: Manhã

/ /

.

Data: Tarde

Total

/ /

Manhã

. Tarde

Total

RIBEIRO (1997)

Ficha para coleta de informações de pesagens dos animais PESO Número ou nome da cabra

RIBEIRO (1997)

Peso

Observações

Data:

/ /

.

55

Ficha para coleta de informações de produção de leite global Controle Leiteiro global - Mês Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

Manhã

Tarde

Ocorrência

RIBEIRO (1997)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, J. C. C. Melhoramento genético aplicado aos animais domésticos. Belo Horizonte, 1987. 430p. RIBEIRO, S. D. A. Caprinocultura: criação racional de caprinos. São Paulo, Nobel, 1997. 318 p. SILVA, A. G. M, et al. Efeito de diferentes fontes de volumosos e relação volumoso:concentrado no consumo e digestão em cabras leiteiras da raça Saanen. IN: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 41. Anais...Campo Grande – MS, 2004 – CD-ROOM. (No Prelo).

56

MANEJO SANITÁRIO

QUARENTENÁRIO: EXAMES: Ecto e endo, brucelose, tuberculose, toxoplasmose, leptospirose e micoplasmose

DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES: 1. Não lavar o piso ripado 2. Raspar e varrer os dejetos diariamente 3. Limpar os comedouros 4. Secar e lavar os bebedouros com freqüência (1 vez/semana) 5. Usar lança chamas: engradados e caixote de mercado e exposições 6. Evitar entrada de pessoas que tiveram em outros criatórios suspeitos de surtos 7. Pedilúvio na entrada

CONTROLE DE ECTO PARASITOS: Inspeções freqüentes 1. Sarna: separação e tratamento 2. Piolhos: Tratar afetados e às vezes todo o rebanho Ao polvilhar o medicamento evitar contaminar comedouros e bebedouros 3. Bernes: Controlar moscas no cabril e instalações Pastos limpos Vasilhames e plataforma de ordenha sempre limpos Matar todos os bernes que caírem Banhar animais com bernicidas se necessário 4. MIIASES: Retirar larvas Limpa o local Aplicar repelentes ASPECTOS ESTRATÉGICOS DE CONTROLE AOS ECTOPARASITOS 1. Separar animais por faixa etária 2. Pastoreio em faixas (rotacionado) 3. Manejo do esterco 4. Manejo nutricional aprimorado

57

CONTROLE DOS ENDOPARASITOS: 1. Evitar super lotação 2. Higienizar bebedouros e comedouros (limpar fezes) 3. Não pastejar em locais alagadiços ou úmidos demais 4. Pastejo ou corte do capim nas horas mais quentes da manhã (umidade e radiação) 5. Evitar pastejo muito baixo Evitar pastejo intensivo e super lotação E MAIS: • Exame de fezes mensal (ideal) • Vermifugação quando necessário

PROFILAXIA DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS 1. Só comprar animais sadios 2. Submetê-los ao quarentenário e exames de rotina 3. Proceder vacinações:

EXAMES A SEREM REALIZADOS: • Brucelose e tuberculose a cada 6 meses • Leptospirose, micoplasmose e toxoplasmose quando apresentarem sintomas

ISOLAR ANIMAIS DOENTES

EVITAR PROMISCUIDADE DE ESPÉCIES

HIGIENE E CUIDADOS NA ORDENHA • • • • •

Higiene do ordenhador e/ou conjunto de ordenha; Prevenção da mastite: caneca telada, higiene do úbere e tetas; Evitar traumatismos no úbere; Separar animais sintomáticos: ordenhá-las por último; Seleção: eliminar cabras com tetas duras.

58

PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS E SUA PREVENÇÃO

1. HELMINTOSES: Basicamente gastrointestinal e pulmonar Edema submandibular, distensão abdominal, crescimento retardado, diarréia, mucosas pálidas, pelos arrepiados, perda de peso e morte. Nos pulmões podem provocar infecção secundária. 1.2. Manejo do pasto: • Reinfestação: rotação de piquetes ou usar outras espécies animais • Taxa de lotação: evitar grandes lotações • Corte do capim nas horas quentes (lavras migram para a base)

1.2. Manejo das instalações: limpas, secas, arejadas e bem ventiladas, sem moscas. 1.3. Manejo dos animais: distribuição por faixa etária (também nas pastagens: mais novos vão na frente); bom plano nutricional aumenta a resistência dos animais. 1.4. Aplicar anti-helmínticos: no pico da infestação. Nordeste recomenda-se: no início e fim das secas e no meio da estação chuvosa. Às vezes uma a mais no meio da estação seca, pois assim evita-se o desenvolvimento larval no ambiente, além do mais os animais podem estar mais debilitados devido à falta de alimentação adequada (extensiva). Sudeste: antes da parição; no desmame; no início das chuvas.

2. EIMERIOSE: Protozoários coccídicos. Mais freqüente em animais confinados, mantidos em pequenas áreas e com alta densidade. Animais Jovens (menos de 6 meses) são os responsáveis pelas maiores perdas no rebanho leiteiro. Diagnóstico na fazenda é difícil: exame clínico + laboratorial devido à interações com outros vermes. Tratamento: Curativo: Amprólio: oral na dose de 100 mg/Kg + Sulfadimidina: 140 mg/Kg (5 dias) Preventivo: recomenda-se 50% da dose acima por 21 dias. Profilaxia: Limpeza instalações (vassoura de fogo), separação por idade, densidade adequada, local seco, evitar condições estressantes, etc...

59

ECTOPARASITOSES

4. SARNA SARCÓPTICA , DEMODÉCICA E PSORÓTICA: 4.1.Sarcóptica: Prurido intenso, formação de pápulas avermelhadas e corrimento seroso (ao secar fica amarelado). Aparece na cabeça, ao redor dos olhos e narinas. Tratamento: banhos e imersão em organofosforados ou piretróides (repetindo no 10º dia). 4.2. Demodécica: Conhecida por Bexiga devido aos nódulos na pele nas regiões cervical, peitoral e torácica. Tratamento: igual a anterior + ivermectin subcutâneo (0,2 mg/Kg) 4.3. Psorótica: ocorre no conduto auditivo interno e externo. Crostas brancas e quebradiças. Tratamento: limpar os ouvidos retirando as crostas e usar sarnicidas em solução oleosa 1:3 (sarnicida : solução oleosa), com intervalos de 2-4 dias entre aplicações.

5. PEDICULOSE: Sintomas: Animais irritados. prurido e escarificação de pele, devido a traumas ocasionados aos esfregarem-se em mourões, tocos, cercas. Pode ocorrer agravamento das lesões epidermais devido às infeções bateristas ou por larvas de moscas. Profilaxia: Inspeção periódica do rebanho; Evitar introdução de animais infestados; Separar e tratar os animais infestados. Tratamento: banhos e imersão em organofosforados ou piretróides (repetindo no 10º dia).

6. MIÍASE: Larvas de varejeiras que parasitam tecidos vivos ou necrosantes Profilaxia: Inspeção periódica do rebanho, tratar todo ferimento, após práticas de manejo traumatizantes (castração, umbigo, brincagem, descorna, etc...) usar repelentes e/ou fazer a cura com solução de iodo 10%. Tratamento: Retirar larvas, desinfetar e usar repelentes + cicatrizantes.

60

DOENÇAS BACTERIANAS

7. LINFADENITE CASEOSA (mal do caroço) Contagiosa e crônica em caprinos Sintomas: Abscessos nos linfonodos superficiais, às vezes nos órgão internos. Estes últimos geralmente são acompanhados por problemas respiratórios e hepáticos. Diagnóstico: Faz-se necessário isolar a bactéria no pus para diferenciar de outros abscessos. Tratamento: Quimioterápicos e antibióticos têm pouco efeito e são caros. Profilaxia: - Inspeção periódica do rebanho; - Isolar os contaminados e proceder incisão cirúrgica antes que se rompam naturalmente, com boa tricotomia e desinfecção do local. Abertura ampla para permitir a retirada completa do conteúdo purulento. Material retirado deve ser queimado e instrumentos devidamente esterilizados; - Animais tratados só voltam ao rebanho após a cicatrização; - Evitar compra de animais clinicamente enfermos (abscessos) ou de rebanhos com histórico da doença; - Vacinação (viva, morta ou toxóide): EPABA (viva)

8. TUBERCULOSE

Em caprinos a doença aumenta quando mantidos com bovinos infectados Profilaxia: Isolando os suspeitos para teste; Desinfetar cochos e bebedouros; Teste dos animais a serem adquiridos; Sacrificar os positivos.

9. MICOPLASMOSE Apresenta as síndromes: pleuropneumonia contagiosa, da mamite contagiosa, ceratoconjuntivite, do trato gastro genital e agalaxia contagiosa (articular, mamária e ocular) Profilaxia: Evitar animais de rebanhos contaminados; Pode necessitar sacrificar os animais; Intervalo sanitário das instalações rigorosamente observado. Tratamento: no início pode ser eficaz com oxitetraciclina.

61

10. PODODERMATITE (Foot-rot, podridão dos cascos)

Maior freqüência no período chuvoso, em locais úmidos e mal drenados; Animais doentes são fontes de infestação dos demais. Sintomas: Claudicação é o mais evidente, junto com o forte odor característico. Tratamento: - Cortar o casco e limpar a parte necrosada, desinfetando-a com solução de sulfato de cobre 10% + formol 10% ou tintura de iodo 10%; - Casos mais graves: fazer curativos a cada 2 - 3 dias; - Antibiótico intramuscular. Profilaxia: - Vacina é eficaz; - Animais em locais limpos e secos; - Cortar e limpar os cascos no período seco e passar animais em pedilúvios 2 vezes/dia a intervalos de acordo com o índice da doença. - Isolar os doentes e tratá-los.

11. ENTEROTOXEMIA (Clostridium perfringes tipo C e D)

Doença fatal, atinge animais de três a doze semanas de idade, nas crias desmamadas e adultos. Está presente nos intestinos (saprófita) e manifesta-se produzindo toxinas hemolíticas e/ou necrosantes em condições de desequilíbrio alimentar. Sintomas: - Dores abdominais fortes; - Cabeça geralmente sobre o costado; - Cabritos não comem, entristecem e morrem rapidamente; - Adultos com diarréia escura, odor fétido e perturbações nervosas (convulsões); - Coma e morte em período curto. Profilaxia: - Como não há tratamento, o melhor é prevenir-se da doença; - Vacina e anti-soro previnem bem a doença (99%): - Cabras: 2 doses com intervalo de 2 semanas e reforço no final da prenhez; - Cabritos: Primeira dose com 3 - 4 semanas de idade e segunda 2 semanas após; - Machos: 2 doses anualmente.

62

12. CERATOCONJUNTIVITE (Oftalmia contagiosa)

Compromete partes internas e externas do globo ocular de caprinos em qualquer idade. Sintomas: - Lacrimejamento, irritação da conjuntiva e fotofobia; - Ulceração da córnea após 2 - 6 dias, seguindo-se da opacidade central ou total. Tratamento: - Pomadas oftálmicas (neomicina, penicilina, corticosteróides); - Usar Terramicina + Vit. A quando ocorrer ulceração da córnea. Profilaxia: - Separar doentes; - Evitar animais com fatores predisponentes.

DOENÇAS VIRAIS

12. ARTRITE ENCEFALITE CAPRINA A VÍRUS (CAEV) - RNA vírus

Afeta os caprinos comprometendo-lhes principalmente as articulações, os sistema nervoso e a glândula mamária. Está presente em quase todo o rebanho de animais autóctones. Sintomas: - Forma articular: artrite não purulenta (carpometacarpiana) ocorrendo em animais com mais de 12 meses de idade. - Forma nervosa: em animais com idade entre 2 e 4 anos, apresentando paralisia num dos membros, evoluindo para os demais, juntamente ou não com sintomas de encefalite. Fatal na maioria dos casos (morte em 2 a 3 semanas). Transmissão: Por via urogenital, secreções do sistema respiratório, glândula mamária e pelas fezes e saliva. Tratamento: Não existe cura, sendo aplicadas medidas paliativas (analgésicos e antiinflamatórios não esteróides) Profilaxia: - Eliminação dos doentes é a prática mais segura; - Rebanhos com alta prevalência: • Realizar provas sorológicas a cada 6 meses; • Isolar os sorologicamente positivos; • Cabritos receberem colostro de cabras sadias, de vaca, ou sucedâneos, pode-se pasteurizar o colostro e o leite.

63

13. ECTIMA CONTAGIOSO (boqueira)

Ocorre entre animais jovens e transmite-se pela ruptura das vesículas Sintomas: Pápula com perfuração do tecido epidermal, vesícula, pústula, úlcera e crostas que se apresentam nos lábios, gengivas, narinas e úbere; por vezes também na vulva, língua, olhos, coroa dos cascos e espaços interdigitais. As vesículas rompem-se e formam-se as crostas. Tratamento: -Sem tratamento específico: deve-se usar anti-sépticos após a limpeza das lesões e a remoção das crostas; - Iodo a 10% dá bons resultados; - Uso de violeta genciana associada a oxitetraciclina. Profilaxia: - Vacinação preventiva; - Isolar doentes nas propriedades que não se fazia vacinação, e vacinar os demais; - Cabras prenhes devem ser vacinadas em regiões endêmicas de duas a três semanas antes do parto (colostro rico em anticorpos neutralizantes); - Cabritos: vacinados entre 1 e 2 meses de idade, escarificando-lhes a face posterior da perna e pincelando-lhes a vacina. - Inspeção periódica do rebanho.

14. AFTOSA

Sintomas: Febre, apático, com manqueira (áreas mais sensibilizadas). Vesículas e úlceras podem aparecer na junção da pele com o casco, espaço interdigital, língua, gengiva, lábios e às vezes no úbere.

Profilaxia: Vacinar o rebanho periodicamente e 4 em 4 meses, a partir de 120 dias de idade, seguindo-se o calendário para bovinos, muito embora essa seja uma recomendação para Minas Gerais, já que o Ministério da Agricultura não preconiza tal prática. Em caso de ocorrência da doença, atender às normas de comunicação e procedimentos do Ministério da Agricultura e Produção Animal.

15. RAIVA

Sintomas: - Animais mudam o comportamento, ansiedade, pupila dilatada, podem estar arrepiados, sialorréia, deglutição dificultada, morte em 5 a 10 dias. Apesar da forma paralítica ser a mais freqüente, pode-se observar excitação e agressividade. Tratamento: Não existe tratamento, mas medidas paliativas exclusivamente imunoterápicas como a aplicação de três doses de vacina até 24 horas após a infecção. Mas é difícil, pois

64

deve ser executado antes do aparecimento dos sintomas. Lembrando-se de tratar-se de uma ZOONOSE todo cuidado é pouco! Profilaxia: - Vacinação periódica (anualmente em todos os animais a partir dos 4 meses de idade) em regiões onde ha diagnóstico da doença e morcegos hemtófagos. - Combater a proliferação dos morcegos; - Vacinar cães e gatos da propriedade.

65

SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO EM CAPRINOS

1. EXTERIOR: ASPECTO x

ESTADO DE SAÚDE

- Pelagem: fina, brilhante e macia. - Pele: flexível e solta, sem marcas de bernes ou cicatrizes. - Movimentos: livres, sem claudicações, com andar firme. - Postura e comportamento: esperto, com olhar vivo, atento às ocorrências do meio. - Olhos e mucosas: olhos brilhantes, vivos e limpos; conjuntiva rosada; focinho úmido, narinas abertas e sem corrimento. - Respiração: compassada e sem ruídos. - Órgãos reprodutores: FÊMEAS: Vulva limpa, sem corrimento; Úbere: pele flexível, sem rachaduras ou alterações anatômicas... MACHOS: Bolsa escrotal bem proporcionada; Testículos presentes, soltos, simétricos; Sem corrimento na uretra... - Membros e cascos: Normais e com bons aprumos; Cascos íntegros e sem rachaduras. - Avaliação da idade: Mudas; Desgaste e Rasamento.

66

1.1. CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS: 1.1.1. CARÁTER LEITEIRO: a) Vigor b) Feminilidade - animais delicados c) Ligações harmoniosas - úbere bem implantado e morfologicamente bem feito d) Forma de cunha, sem carne em excesso e) Representativa da raça f) Membros bem aprumados 1.1.2. BELEZA: Deve ser considerada quando caracteriza eficiência. Ex: bons cascos 1.1.3. DEFEITO: Representa uma inadequação. 1.1.4. VÍCIO: Dificulta ou impede o aproveitamento do animal - Congênito: chifrar, morder, trepar nas instalações, etc... - Adquirido: varar cercas, mamar em si mesma, etc... CLASSIFICAÇÃO DE DEFEITOS: Leves: afetam a aparência Moderados: afetam a aparência Sérios: afetam a produção e às vezes a aparência Desclassificantes: impedem boa produção (antieconômicos) 2. GENEALOGIA: Considerar até no máximo 4ª GERAÇÃO “CUIDADO COM AQUISIÇÃO DE ANIMAIS DE EXPOSIÇÕES” ESCOLHA DE REPRODUTORES MACHOS: Deve se ajustar aos objetivos da criação; Bons cascos e aprumos; Não ter “nhatismo” ou “gnatismo”; Ausência de tetas suplementares; Boa linha dorso lombar; Ser masculino; Sem alterações nos órgãos genitais (comprovação andrológica); Bom estado sanitário; Evitar mochos o máximo possível; Boa libido; Estar dentro do padrão da raça. FÊMEAS: Aspecto feminino; Tetas normais e bem inseridas; Ter chifres ou ser filha de pais chifrudos; Sem alterações ósseas (ou articulares); Evitar tetas: - extranumerárias - excessivamente grossas Não adquirir cabras com 2 ou 3 anos de idade sem nunca ter parido; Livre de doenças; Bons aprumos, boa linha de dorso, bons cascos; Devidamente enquadrada nos padrões raciais.

67

A MELHOR ESCOLHA DEVE SER BASEADA EM: - Aparência: aspectos gerais - Pedigree: genealogia (nome dos ancestrais x registro de produção) - Genealogia: atestado de pureza do animal (CAPRILEITE) - Provas de descendência: ganho de peso; produção de leite; persistência de lactação; teor de gordura no leite; teor de proteína no leite; teste de progênie.

HERDABILIDADE DE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS EM CAPRINOS CARACTERÍSTICA Produção de Leite Produção Total Gordura Produção Proteína % de Gordura Idade ao 1º Parto Idade ao 1º Parto Peso aos 7 meses

RAÇA (s) Toggenburg, Nubiana, Saanen Toggenburg, Nubiana, Saanen Alpina Saanen Parda Alpina -

HERDABILIDADE 0,67 ± 0,20 0,22 ± 0,20 0,47 0,48 0,51 0,77 0,49

Formas de heranças de algumas características: a) Pelagem: Transmissão de algumass cores; interções gênicas. Saanen: Branco domina todas as outras cores. Malhado: Epistático para não malhado. Castanho: Predominante sobre a cor única da série preto (creme, camurça, chocolate e preto). Epistático para ruão, pardo e vermelho. b) Orelhas: Dominância incompleta; pode ter cabra com orelha “quebrada”. c) Brincos ou mamelas: 1 par de genes d) Chifres: Mocho x Armado ⇒ Mocho é dominante - PP e Pp são MOCHOS - pp é ARMADO - FÊMEAS: com genótipos Pp e pp são normais e férteis PP são 100% estéreis - MACHOS: PP em 91% dos casos com problemas no epidídimio (granuloma). 40% em UM só lado 60% em ambos os lados Pp e pp são normais (férteis) e) Altura: Dominância incompleta (Anãs x normais)

68

f)Anomalias esqueléticas: Espinha dorsal torta, chanfro torto, “nhatismo” Genes recessivos: para alguns autores, dependem de vários pares de genes. g) Hipoplasia testitcular: Testículos pequenos e sêmen de baixa qualidade (alta % espermatozóides anormais) h) Criptorquidismo: Gene recessivo

ELIMINAÇÃO DE CARACTERES INDESEJÁVEIS: Gene Dominante: fácil de se eliminar pois aparece tanto em homo como em heterozigoto Dominância Incompleta ????? Gene Recessivo: acasalamentos consangüíneos (entre pais e filhos, irmãos ou primos) OBJETIVOS A SEREM SELECIONADOS

1. CABRA DE CORTE: 1.1. Ganho de peso: desenvolvimento ponderal - idade ao abate (≅ 25 Kg) 1.2. Adaptação ao ambiente: resistência aos parasitos (rusticidade x produtividade) 1.3. Profilificidade: 1.4. Melhoria da conversão alimentar: Meta CNPC (1:5 para 1:4 em 9 anos) 1.5. Aumentar espessura da pele das cabras nativas em 6 anos (1mm para 1,2 mm aos 12 meses de idade) 1.6. Aumento do rendimento de carcaça

2. CABRA DE LEITE: 2.1. Aumentar: - Produção total de leite - Produção total de gordura - Produção total de proteína (ANTAGONISMO: PRODUÇÃO TOTAL x % GORDURA) 2.2. Persistência da lactação 2.3. Presença de chifres 2.4. Antagonismo entre produção x reprodução 2.5. Rapidez de ordenha 2.6. Conformação do úbere

69

PROVAS ZOOTÉCNICAS E SUA IMPORTÂNCIA

a) Teste de Progênie (30 - 60 - 90 - 180 - 360 dias) Importância e Relevância: uso de melhores bodes Testes de vários congelamentos de sêmen Peso mínimo da raça Uso de IA (15 filhas/bode) pelo menos 5 por rebanho b) Provas de Ganho de Peso: Controle de Desenvolvimento Ponderal (30 - 60 - 90 - 180 - 360 dias) Comparar animais de mesma condição Evitar excesso de consumo de concentrados Extrapolação de resultados Necessidade de fiscalização Avaliar conjuntamente o rendimento de carcaça e exterior (H2) c) Controle Leiteiro: - Produção individual - Produção média da raça - Persistência da lactação TODOS DEVEM SER ORIENTADOS POR ÍNDICES DE SELEÇÃO ALTERNATIVAS PARA FORMAÇÃO DE REBANHOS COMERCIAIS

1. Adquirir Animais: PON ou POI 2. Melhoramento de cabras nativas (demorado) 3. Cruzamentos absorventes: SRD até PC (PCOC ou PCOD) Cuidados com a qualidade do BODE utilizado (PO) Cuidados com a qualidade da CABRAS utilizadas (SRD): sem defeitos desclassificantes.

70

MÉTODOS DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE CAPRINOS NOS TRÓPICOS

1. Seleção de caprinos nativos e crioulos: Há necessidade de grande variabilidade genética da população, e como os caprinos nativos apresentam-se com pequena variabilidade genética, este processo nos trópicos tornas-se demasiadamente lento, mas irá apresentar resultados mais consistentes (duradouros). Possui a enorme vantagem de explorar a capacidade adaptativa dos animais aos trópicos (mais resistentes a doenças e parasitas, rústicos, com boa prolificidade). Dentre as vantagens, aquela que mais se destaca é o fato de preservar-se este tipo de genoma no País. 2. Substituição das raças nativas por raças especializadas: Faz-se a substituição gradual da raça nativa a partir de cruzamentos absorventes com raças especializadas, originando animais muito mais produtivos. Demanda alterações, por vezes, muito profundas no criatório (meio) e no sistema de exploração, podendo onerar muito os custo de exploração para os pequenos produtores (para áreas mais carentes devemos ter cuidado ao indicarmos tal processo de melhoramento). As raças mais usadas nestes programas são a Pardo Alemã, Toggenburg e a Saanen. 3. Cruzamentos entre raças: Baseia-se na exploração da heterose (para as características de baixa herdabilidade). Portanto tem como limitação o fato de contribuir muito mais para elevarmos a produtividade do rebanho do que propriamente para o progresso genético, visto que a heterose perde muito de seu efeito já na segunda geração (F2). Há uma tendência de produzir-se animais com grau de sangue entre 50 a 75% de raças especializadas, acima destes podemos obter maiores índices produtivos por animal, porém com retorno líquido geralmente menor (maiores exigências para criação).

71

REGISTRO GENALÓGICO SRGC: Serviço de Registro Genealógico de Caprinos Implantado em 1981 (CAPRILEITE) 1) LIVRO FECHADO (LF): POI PON - oriundos do Livro Aberto (LA) com PCOC ou PCOD 2) LIVRO AUXILIAR (LAUX): Pelagem fora do padrão Exige-se que o macho seja LF 3) LIVRO ABERTO (LA): Fêmeas a partir da 5ª GERAÇÃO e Machos na 6ª- darão origem ao Puro de Origem Nacional - PON

4) LIVRO DE GRADUADOS: Para formação de rebanhos PC (PCOC) Fêmea SRD x Macho LF Macho sempre LF (PO) Fêmeas com grau de 15/16 ⇒ LA (PCOC) Machos com grau 31/32 ⇒ LA (PCOC) Esquema de cruzamento para registro de PCOC e PON Fêmea

x

Macho

SRD

x

PO

⇒ Fêmeas 1/2. (LAG x)

1/2.

x

PO

⇒ Fêmeas 3/4. (LAG y)

3/4.

x

PO

⇒ Fêmeas 7/8 (LAG z)

7/8

x

PO

⇒ Fêmeas 15/16 (LAG w) ⇒ Fêmeas vão para PCOC

15/16

x

PO

⇒ Fêmeas PON; Machos PCOC

“TATUAGEM E MARCAÇÃO” - Orelha Direita: ASSOCIAÇÃO - Orelha Esquerda: PROPRIETÁRIO Ex: TOD: 1 4 3 3 8

TOE: 9 5 0 0 8

14 - Estado MG 338 - Número controle da CAPRILEITE

95 - ano 008 - número do animal no ano

TATUADOS NA CAUDA: Raça, Controle Leiteiro, Teste de Progênie, etc... A nível de fazenda: usar correntes, coleiras, plaquetas, etc... REPRODUÇÃO EM CAPRINOS

72

1. MATURIDADE SEXUAL: Fisiologicamente: machos e fêmeas entre 4 e 5 meses (40 a 50% do PV) Zootecnicamente: com 60 a 65% do PV adulto (PURAS ± 7 a 8 meses, SRD com 1 ano) Cobrição tardia reduz produção de leite; casos extremos leva à esterilidade. Cobrição muito cedo: produtos pequenos. 2. CONSIDERAÇÕES FISIOLÓGICAS: 2.1. Poliestria estacional: - cio em função do fotoperíodo (época do ano) - centro-sul de FEVEREIRO A JULHO (dias curtos) 2.2. Poliestria contínua: - NE brasileiro. Limitação é o status nutricional. 2.3. Animais exóticos: - Nos trópicos tendem a se adaptarem com o tempo. - Cruzamentos e PC apresentam-se diferenciados. “SITUAÇÃO IDEAL É TERMOS 3 PARTOS EM 2 ANOS” 3. CICLO ESTRAL: - Média de 19 a 21 dias (15 a 40 dias). - Mais curtos nas cabritas (15 a 21 dias). - ESTRO de 12 a 36 h (aceita macho ± 14 a 36h). - OVULAÇÃO 12 a 36 h após o cio.

4. COMPORTAMENTO DA CABRA NO CIO: - Queda no apetite; - Inquietação; - Monta e deixa-se montar pelas companheiras; - Bale constantemente; - Procura pelo macho; - Movimentos laterais rápidos da cauda; - Vulva edemaciada e avermelhada, com muco cristalino ou leitoso; - Reflexo da micção é mais constante e; - Passa a aceitar o macho após a ovulação; ± 14 h

0h Não aceita monta

± 26 h Aceita monta

MELHOR MOMENTO PARA COBERTURA (MUCO LEITOSO) JÁ NÃO ACEITA MONTA

± 36 h

73

RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA COBERTURA CIO Manhã Tarde

COBERTURA Tarde e manhã Manhã e tarde * Ou 12 a 18 h após o rufião ter sido aceito

5. ESTAÇÃO DE MONTA: - Estacionalidade da espécie (macho e fêmeas); - Época de nascimento dos cabritos; - Alimentação da fêmea durante gestação e lactação. 5.1. PARA CABRAS POI (exóticas): CABRAS EXÓTICAS

JAN

FEV MAR ABR MAI

PARIÇÃO

JUN JUL

AGO

SET OUT NOV DEZ

“CABRAS MESTIÇAS TEM MAIOR INCIDÊNCIA DE CIOS DE NOV. A JUN.”

5.2. OUTRAS RECOMENDAÇÕES: - 3 a 4 meses antes das águas: melhor pasto para cabras; maior produção de leite; bom desenvolvimento dos cabritos; suplementar na primeira seca. - Região NE: nascimento p/ início das chuvas, pois nas secas o cabrito já é ruminante. “CIO PÓS-PARTO (45 A 60d) FAZ-SE NOVA COBRIÇÃO”

5.3. SINCRONIZAÇÃO E INDUÇÃO DE CIOS FORA DA ESTAÇÃO DE MONTA (época do ano):

Hormonal: esponjas vaginais com 45 mg de progeterona/16 a 23 dias; depois injeta-se PMSG (400-600 UI) após 48h da retirada da esponja. CIO aparecerá 12 a 48 h após o processo (40 a 70% parição).

74

Veja esquema a seguir:

0h

36 h

52 h

Progesterona (16-23d) PMSG

Programa de luz:

1A Cobrição

2A Cobrição

Usualmente 16 h/dia por 2 a 4 semanas. Trabalhos com Toggenburg mostrou resultados com 11 a 13 h.

5.4. MANEJO NA ESTAÇÃO DE MONTA: Monta natural: - 3 ou 4% de bodes no rebanho; - Consangüinidade sem controle; - Fadiga dos machos; - Ausência de controle sobre acasalamentos. Monta controlada: - Uso de rufiões; - 3% de bodes; - Menor desgaste dos reprodutores; - Controle do número de saltos/dia (3 a 4); - Descartes são feitos com segurança; - Direcionamento da seleção.

5.5. INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL: U$ 20,00/dose - Intra uterina (melhor) - Intra cervical (mais comum) -Intra vaginal (primíparas) 5.5.1. Uso de rufiões sem sincronização 5.5.2. Sincronização: a) Sincronização Normal: Dia 1

Dia 21

Esponja 45 mg FGA

Retirada esponja

31 h 1A IA

48 h 2A IA

75

b) Sincronização Curta:

Dia 1

Esponja 45 mg FGA

48 h antes da retirada

Dia 11

31 h após

PMSG (250-700mg) + 1 A IA Cloprostenol (100-200 µg ) = 0,4 a 0,8 ml

48 h 2A IA

76

MANEJO NUTRICIONAL DE CAPRINOS

1. HÁBITO ALIMENTAR E SELETIVIDADE Os pequenos ruminantes possuem grande capacidade de seleção de seus alimentos, superando os bovinos e bubalinos, sendo que os caprinos destacam-se dos demais com ótima habilidade seletiva. Tal aspecto do hábito alimentar (ou ingestivo) dos caprinos é facilmente verificável em condições de pastoreio como também nos animais mantidos em confinamento. Geralmente encontram-se na literatura farta alusão à forma de seleção demonstrada por esses animais, e na maioria dos trabalhos fica patente que tal fato decorre de aspectos ligados às partes mais tenras da plantas (as folhas ao invés dos caules e hastes), mais palatáveis, em alguns casos relacionando-se até mesmo as características nutritivas das forrageiras, sempre em detrimento daquelas mais fibrosas. A despeito de alguma controvérsia no que se refere à teoria da eufagia ou sabedoria nutricional, pela qual os animais estariam na prática “balanceando” suas dietas em função da necessidade, dá um fato inconteste que os caprinos são capazes de promoverem uma excelente separação do tipo de alimento ingerido, principalmente quando submetidos ao pastoreio.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O HÁBITO ALIMENTAR: (BOVINOS vs OVINOS vs CAPRINOS): Caprinos usam do RAMONEIO como hábito de pastejo. CONSIDERAÇÕES SOBRE EFICIÊNCIA ALIMENTAR: SELETIVIDADE: Depende de aspectos como: • Tipo da pastagem • Qualidade das pastagens INGESTÃO DE MATÉRIA SECA: • Cabras leiteiras de origem temperada: 5 a 6 % do PV; • Cabras leiteiras de origem temperada: 4 a 5 % do PV; • Mantença de cabras leiteiras: 3 % do PV; • Gestação de cabras leiteiras: 2,2 a 2,8 % do PV. No entanto é importante ressaltar que os aspectos relacionados à produção leiteira, peso do animal, estádio fisiológico, participação percentual do volumoso na dieta, tipo de animal, entre outros aspectos, influenciam na ingestão voluntária de matéria seca (MS). Por isso é conveniente deixar indicada uma fórmula empregada pelo Institut National de la Recherche Agronomique (INRA-1988) da França , que mesmo não sendo tão completa, pelo menos não torna-se tão simplificada como nas indicações acima:

77

INRA: MS (g/dia)= (423,2 * kg leite/dia) + 27,8 kg0,75 + (440 * kg de gpd) + (6,75* % de volumoso) Outra fórmula para se estimar e ingestão é a o AFRC (1993):

MSI = 0,062 * PV0,75 + 0,305*PL MSI = Gramas de MS ingeridas por dia; PV= Peso vivo; PL= kg de leite com 3,5 % de gordura produzido por dia.

ÍNDICE DE SOBRAS vs QUALIDADE DA FORRAGEIRA: • Verde de média qualidade: 30% de sobras; • Verde de pior qualidade: 50% de sobras; • Um bom feno: 10% de sobras; • Um feno de pior qualidade: 15% de sobras; • Silagem de ótima qualidade: 15% de sobras. Trabalhos franceses recomendam uso de aproximadamente cinco espécies forrageiras, pois favorecem favorece a seleção de alimentos. Nesse sentido, MERRIL & TAYLOR (1981) citados por SANTOS (1994) ressaltaram que os caprinos em pastejo naquelas áreas dom composição botânica heterogênea e desde que não haja competição excessiva decorrente de lotação elevada, tem seu comportamento determinado pela variedade de plantas forrageiras existentes na área e pela disponibilidade relativa de cada espécie. Tal comportamento destaca-se pela ingestão de maiores quantidades de ramas, folhas e ponteiros novos, a qual, comumente, dá-se o nome de ramoneio. Juntamente com o aspecto nutricional, deve-se destacar que esse hábito pode auxiliar no controle de OPG, pois mantém o pastoreio mais elevado e com menor possibilidade de contaminação por larvas de parasitas gastrointestinais; porém, para que isso seja efetivo é imprescindível que se controle a carga animal no pasto, que seja mantida uma altura padrão do extrato vegetal pastejado e também que o período de pastoreio seja mantido com o início do aquecimento das partes mais altas das forrageiras pelos raios solares. Sob condições de confinamento também é possível verificar a habilidade seletiva, observando-se o comportamento alimentar que pode ser dividido nas três fases abaixo: a) Fase de exploração: quando os animais colocam-se em contato com a refeição oferecida. É aquele momento subseqüente ao abastecimento dos comedouros; b) Fase de consumo intenso: quando irão satisfazer plenamente a fome; c) Fase altamente seletiva: inicia-se no momento em que a seleção e o consumo decorrentes da fase anterior exigem maior trabalho de busca por partes de alimentos mais tenros, nutritivos de melhor qualidade. É comum observar nessa fase que os animais jogam alimentos para cima e para fora dos comedouros, buscando sempre revirar o material o máximo possível.

78

Pequenos ruminantes vs sementes de invasoras.

ESTUDO DA DIETA DE CAPRINOS OBTIDA POR MEIO DE OBSERVAÇÕES DIRETAS EM PASTAGEM NATIVA (% MS Ingerida) Tipo da forragem ½ estação chuvosa Início das secas Final das secas Árvores + arbustos 51,4 17,4 10,2 Gramíneas 22,1 22,9 44,1 Ervas 26,5 54,2 45,7 Folhagem no chão 5,5 MESQUITA e OLIVEIRA (1982) * Observa-se que nas secas eleva-se o número de espécies pastoreadas.

FORNECIMENTO NO COCHO: • Inteiro versus picado; • Feno em fenis; • Concentrado + volumoso : separar na administração. • Cochos devem ser enchidos três vezes por dia (ideal): colocando-se maiores quantidade para permitir seleção.

1) ALIMENTAÇÃO DE ANIMAIS RECÉM NASCIDOS ATÉ QUATRO MESES Fase de maior crescimento (3,5 a 4,0 vezes o seu peso ao nascer) 1.1. Colostro: Primeiras seis horas até as 36 horas de vida; Fornecido até o 5º dia; 100 a 150 g/kg de PV ou ainda 0,5 a 0,8 kg/dia, sempre entre 3 a 5 refeições 1.1.1. Colostro congelado: de cabra ou vaca. 1.1.2. Substituto: 200 ml soro sangüíneo + 300 ml leite. 1.2. Aleitamento artificial: • Após o colostro: fornecendo em baldes coletivos ou mamadeiras. • Inicia-se com ½ leite de cabra e ½ leite de vaca (nos 4 a 5 primeiros dias). • Somente leite de vaca entre 14 e 28 dias de vida: 1,0 a 1,5 litros/cab/dia.

79

• Desaleitamento 2 a 3 meses (há casos em que pode-se ir até 4 meses). • concentrado pode ser fornecido após a primeira semana (12 a 18% PB). • Um feno de boa qualidade na segunda ou terceira semana de vida. “Leite de soja” ou extrato de soja: NÃO ULTRAPASSAR 30 % DO TOTAL DIÁRIO. • 1 kg de fubá de soja para oito litros de água (1 kg / 8 litros água); • Ferver por 20 minutos e então coar com peneira fina; • Adicionar 1 g de sal mineralizado / litro de “leite” produzido; • Adicionar também 1 g de fosfato solúvel / litro de “leite”; • Sempre que possível colocar 300 UI de vitamina A/litro de “leite”.

2. ANIMAIS EM CRESCIMENTO (acima de 4 meses) • Um bom volumoso deve ser fornecido: na prática usa-se feno (CU$TO ???); • Concentrados: em média entre 300 e 400g/cab/dia (com 14 a 16% PB); • Mistura mineral sempre disponível (cuidado com os machos: Ca:P). 3. CABRAS NO FINAL DA GESTAÇÃO • Nos 2 últimos meses há queda do consumo e elevação da exigências; • Volumoso: preferência por feno; • Concentrado: entre 400 e 600g/cab/dia (20 a 24% de PB), no início da gestação usualmente entre 100 a 150 g/cab/dia, chegando a 200 - 250 g/cab/dia. 4. CABRAS EM LACTAÇÃO • Usar contenção individual é o ideal, além de cochos separados (V:C); • Lembrar que o consumo pode estar entre 4 e 6% do peso vivo; • Consomem geralmente 200 a 300g de concentrado/kg de leite produzido + 300 g para mantença (PB = 16 a 18% e NDT = 60 a 70%); • Cálcio e fósforo: fundamental manter a relação 2:1, mas pode chegar a 1,2 : 1,0.

5. REPRODUTORES • Fornecer sempre volumoso de boa qualidade, principalmente na estação de monta • Ca : P deve-se evitar excesso de fósforo (urolitíase); • Concentrado geralmente com 16 a 18% de PB e 55 a 60% de NDT, fornecendo-se 500 a 700g/cab/dia.

80

VOLUMOSOS PARA CAPRINOS

Jaraguá, elefante, todos os Panicum e Cynodon, buffel, pangola, rhodes, aveia, centeio, milheto, cana-de-açúcar, soja perene, guandu, leucena, algaroba, cunhã, dentre outros. Palhadas tratadas ou não, bagaço de cana auto-hidrolisado ou in natura.

PASTEJO ROTACIONADO OU CONTÍNUO

Usa-se: bode = 0,15 UA; cabra = 0,12 UA; animais até 3 meses = 0,03 UA; animais entre 3 e 6 meses = 0,06 UA; animais entre 6 e 12 meses = 0,09 UA.

81

Uso estratégico de volumosos para caprinos leiteiros Iran Borges5 Luciana Freitas Guedes6 Luigi Francis Cavalcanti7 Nhayandra Christina Dias e Silva2 Vandenberg Lira Silva8 1. Introdução Como herbívoros que são, os caprinos tem suas rações baseadas na fração volumosa. Essa por sua vez constitui-se de espécies forrageiras e por alimentos alternativos, cuja composição de sua porção fibrosa lhes assegura similaridade aos primeiros, o que favorece seu emprego em rações. Diferentes épocas do ano impõe às forrageiras características nutricionais específicas, assim como potencial produtivo diferenciado. Tal fato pode ser mais intensamente sentido por alguns gêneros de vegetais e menos por outros, compreender isso pode ser ferramenta em potencial para implantação e manejo das pastagens e forrageiras de corte. Grande parte do custo produtivo em caprinos leiteiros é imposta pela alimentação, e como principal componente da ração, os alimentos volumosos tornam-se essenciais nesse aspecto. Em suma, saber como e quando usá-los é segurança nas melhores respostas fisiológicas e produtivas dos caprinos e melhor retorno econômico. Objetiva-se aqui, destacar os pontos fortes e principais estratégias de uso do volumosos em rações de caprinos leiteiros. 2. Considerações quanto as principais fontes de volumosos para caprinos A caprinocultura leiteira, tipicamente explorada de forma intensiva no sudeste brasileiro, é muito dependente do fornecimento de forragem no cocho, com poucas ou nenhuma categoria animal usufruindo diretamente do pasto. Dessa forma é prática comum o uso de forrageiras para corte, tais quais capineiras de capim elefante, capim guatemala ou cana de açúcar. Essa estratégia favorece a produção vegetal por área por ser mais simples a manutenção (não possui interação com animais) e por essas espécies possuírem grande capacidade de produção de biomassa. Menos utilizada mas, muito interessante como estratégia, as legumineiras, isto é, cultivo de leguminosas para corte e fornecimento, são alternativas para enriquecer dietas e reduzir custos com concentrados protéicos nas mesmas. As espécies mais comumente utilizadas para esse fim são do tipo arbustiva ou arbórea, tendo muitas vezes um múltiplo propósito na propriedade, isto é, fornecer alimento e/ou prover sombra, quebra de vento, limitar pastos (i.e. cerca viva), lenha, etc. O feno é um alimento volumoso preparado mediante o corte e a desidratação de plantas forrageiras, principalmente em períodos de fartura, para ser utilizado em períodos de escassez, e constitui uma estratégia adicional para assegurar uma oferta estável de forragem de qualidade 5

Zootecnista - Professor Associado da Escola de Veterinária - UFMG; Zototecnista - Mestrandas em Zootecnia da Escola de Veterinária - UFMG; 7 Médico Veterinário - Mestrando em Zootecnia da Escola de Veterinária - UFMG; 8 Zootecnista - Doutorando em Zootecnia da Escola de Veterinária - UFMG. 6

82

para os animais, tendo em vista que seu valor nutricional é preservado durante o processo de fenação, quando bem realizado (Costa e Resende, 2006), por tal razão muitos caprinocultores optam pelo seu emprego de forma contínua e sistemática em seus capris leiteiros. Os cuidados para se obter um feno de boa qualidade começam no campo, com o manejo da forragem. É importante estar atento ao estádio de crescimento em que a forrageira se encontra na hora do corte, pois é ele que determina seu valor nutritivo. Plantas forrageiras durante o estádio vegetativo apresentam um alto valor nutricional e à medida que avançam para o processo, este decresce. A presença de colmos finos e alta proporção de folhas, por contribuírem para uma secagem mais rápida e uniforme, e feno de melhor qualidade, são características desejáveis nas forrageiras para a produção do feno, além do que folhas apresentam melhor valor nutricional que os colmos (mais nutrientes e melhor digestibilidade). Dentre os fenos de gramíneas de boa qualidade, destacam-se as do gênero Cynodon, que possuem mais folhas do que colmo, como os cultivares Florarkik, Tifton 85, Coastcross, entre outros. O corte destas gramíneas, independentemente do cultivar, deve ser efetuado quando a planta alcançar o ponto de equilíbrio entre o teor de nutrientes e produção de matéria seca por unidade de área (Peixoto et al, 1998; Pupo, 1995). Quanto ao feno de leguminosas, destacam-se os fenos de feijão guandu, leucena, alfafa (Sagrilo et al, 2003; Silva 2001). Geralmente, o feno de leguminosas é armazenado em sacos, tambores, silos e outros, uma vez que pode ocorrer muita queda das folhas, por outro lado, material arbustivo impossibilita a formação de fardo, necessitando de ser triturado para o processo de desidratação, que normalmente ocorre em terreiros ou locais protegidos por lonas. A ensilagem é um método de conservação de forragem que ocorre por meio de um processo de fermentação anaeróbica a fim de manter o valor nutritivo da planta evitando a sazonalidade e garantindo a sustentabilidade do sistema de produção ao longo do ano. O processo tem como vantagem, em relação à fenação, a redução do tempo de execução, pois dispensa a secagem, e portanto não corre tantos riscos de perdas no campo. As culturas de milho e sorgo têm sido as mais utilizadas no processo de ensilagem por sua facilidade de cultivo, altos rendimentos e especialmente pela qualidade da silagem produzida sem necessidade de aditivo para estimular a fermentação. O uso de sorgo em substituição ao milho justifica-se pelas suas características agronômicas, como produção de forragem relativamente igual, maior tolerância à seca e ao calor, capacidade de explorar maior volume de solo por apresentar um sistema radicular abundante e profundo, além da possibilidade de se cultivar a rebrota com produção que podem atingir até 60% no primeiro corte, quando submetido a manejo adequado. Além desses grãos, destaca-se a silagem de capim elefante por sua alta produtividade e grande adaptabilidade aos solos brasileiros. Devido ao menor custo, tem aumentado o interesse pelas silagens de outros capins, como mombaça, tanzânia, marandu, principalmente para categorias menos exigentes. A cana de açúcar vem sendo largamente utilizada por criadores como volumoso durante a seca. Entre os principais fatores que têm motivado a utilização da cana para ensilagem são o baixo custo do volumoso para ser utilizado durante todo o ano e o manejo do canavial que passa a ter uma produtividade maior. A remoção parcial de água da planta, através do seu emurchecimento, também denominada présecagem, tem como finalidade reduzir o teor de umidade e consequentemente a incidência de fermentações secundárias indesejáveis. As forrageiras mais utilizadas para produção de silagem pré-secada são as gramíneas de clima temperado aveia, azevém, triticale e cevada; mais recentemente gramíneas tropicais como as espécies do gênero Cynodon como o Tifton,

83

Coastcross e até algumas braquiárias. Dentre as leguminosas somente a alfafa é utilizada em quantidade expressiva. Nesse processo de desidratação da forragem, as práticas de viragem e revolvimento são de importância fundamental para evitar a compactação e proporcionar maior circulação de ar. Dos cuidados a serem tomados ao realizar a ensilagem, destaca-se o ponto de colheita da planta (entre 25 e 35% de MS – correspondente ao estádio vegetativo), a vedação e compactação de forma adequada e a retirada de fatia mínima de 20 cm da silagem evitando-se deixar partes descobertas e massa de silagem remexida para o dia seguinte. O uso de aditivos como extratores de umidade podem ser utilizados (aditivos biológicos, fubá de milho, raspa de mandioca, polpa cítrica seca, casca de soja, etc) desde que sejam misturados de forma homogênea na massa ensilada e que o processo não onere a produção. Deve-se atentar para ensilagem de leguminosas devido ao seu poder tamponante, sendo necessário o uso desses aditivos. Uma boa silagem deve ter cheiro agradável, pH abaixo de 4,0 e teor de nitrogênio amoniacal abaixo de 10%. A implantação seguida de um manejo adequado da pastagem torna-se uma alternativa para o sucesso de uma criação de caprinos, constituindo também uma das fontes mais baratas de fornecimento de nutrientes. A utilização de forrageiras de melhor qualidade nutricional na exploração de caprinos leiteiros pode favorecer o barateamento dos custos de aquisição de concentrados comerciais, ricos em grãos, que encarecem a exploração. Desta maneira, torna-se fundamental conhecer a relação existente entre as características do pasto utilizado na alimentação e dos animais que irão consumi-lo (Vieira et al., 2005). A formação de um banco de proteína constitui uma importante possibilidade para suplementar a dieta dos animais em pastejo. Essa estratégia minimiza os efeitos decorrentes de pastagens tropicais mal manejadas, que geralmente tem reduzido o seu valor nutricional. Entre as principais espécies exploradas para compor o banco de proteína ou legumineira estão as arbóreas arbustivas são Leucena (Leucaena leucocephala), guandu (Cajanus cajan), gliricidia (Gliricidia septium). As leguminosas de porte baixo também podem ser utilizadas e destacam-se o estilosantes (Stylosanthes guianensis), soja perene (Neonotonia wightii) e amendoim forrageiro (Arachis pintoi). O uso de alternativas alimentares (co-produtos, sub-produtos ou resíduos) nos sistemas de exploração de caprinos surge como valorosa alternativa para melhoria nos sistemas de exploração, em virtude destes alimentos contribuírem como parte do aporte nutricional dos rebanhos, possibilitando a elaboração de dietas a custos mais acessíveis. Destaca-se que a disponibilidade e a qualidade desses alimentos alternativos são variáveis, principalmente em função da disponibilidade e forma de processamento e demandam análises mais constantes de sua composição nutricional. Alguns alimentos alternativos disponíveis podem ser destacados, como por exemplo, a casca de soja, caroço de algodão, polpa cítrica e resíduo úmido de cervejaria apresentando como aporte nutricional, fonte de fibra rapidamente digestível no rume, o que traduz-se por energia para a flora ruminal e com potencial para substituir alimentos concentrados em dietas para caprinos em confinamento como fonte de fibra efetiva. Outra forma de aproveitamento está associado à utilização de alimentos resultantes das centrais de abastecimento (CEASA, CEAGESP, etc) devendo estes passar por boas práticas de manejo, desde a coleta até o descarte nesses locais, e constituem-se por folhas, tubérculos, frutos, podendo servir como formas alternativas de formulação de dietas para ruminantes, desde que devidamente avaliados quanto às suas composições, e inseridos corretamente nas rações balanceadas.

84

3. Uso estratégico de volumosos em função da época do ano A região do Brasil central está sujeita a variações climáticas conforme a época do ano. Tais efeitos revelam-se como mudanças de temperatura, pluviosidade e insolação, entre outros. O clima característico desta região pode ser divido em dois distintos cenários ou épocas, comumente nomeadas “águas” e “seca”, nas quais se observam marcadas diferenças na produção vegetal bem como seu reflexo na produção animal. O que interfere significativamente na fisiologia das forrageiras, tornando-se imperativo conhecê-las, bem como compreender seus impactos quando se pensa na produção de cabras leiteiras. Todavia, esses efeitos podem ser amenizados ou mesmo eliminados com o uso estratégico de vários tipos de volumosos, reduzindo-se o efeito sazonal da qualidade do alimento, adequando os mesmos às necessidades dos animais. O centro-sul de Minas Gerais responde por grande parte do efetivo caprino mineiro, sendo em sua maior parte destinado à produção leiteira (Guimarães, 2006) e não diferentemente do resto do estado e da região sudeste, sofre com as oscilações climáticas durante o ano, como pode ser observado na Figura 1, representando médias históricas de Coronel Pacheco, MG.

Figura 1: Normais climáticas de Coronel Pacheco, Minas Gerais, em função dos meses do ano (Dados climáticos allmetsat.com)

Figura 2: Efeito da temperatura e intensidade da luz (W/m² na faixa de 400-700 nm) sobre a taxa fotossintética do capim elefante (Pennisetum purpureum), adaptado de Berry e Björkman (1980).

Tal variação climática afeta diretamente três fatores que influenciam o crescimento vegetal: oferta de água ou pluviosidade, temperatura do ar e fotoperíodo. A restrição hídrica, segundo Araújo et al. (2010), reduz significativamente a taxa fotossintética. Isto ocorre porque nesta situação o vegetal fecha seus estômatos para reduzir perdas evaporativas e consequentemente restringe a difusão de CO2 no mesófilo foliar e, portanto, a atividade enzimática fica comprometida o que diminui a fotossíntese. Por outro lado, a temperatura influencia o crescimento vegetal, uma vez que forrageiras tropicais têm seu crescimento ótimo, graças aos mecanismos enzimáticos, em torno de 30-35°C, ficando o crescimento retardado ou paralisado em temperatura ambiente abaixo de 15°C, em função da queda da taxa fotossintética (Figura 2). Intercalando-se a Figura 2 com o cenário exposto na primeira figura é possível concluir que durante o ano, as forrageiras que se encontrarem na região de Coronel Pacheco terão sua produção reduzida durante a época “seca” do ano, em função da restrição hídrica bem como pelas médias de temperatura mínima nessa época. Essa oscilação pode restringir 75% do crescimento anual forrageiro na época das “águas” (Costa et al, 2005). Além da redução na produção de matéria seca, os vegetais frente ao período de estio tendem a mudar sua fisiologia buscando estratégias de sobrevivência, como a emissão de órgãos de reprodução, alterando

85

marcadamente o valor nutricional da planta pela translocação de nutrientes, bem como pela mudança estrutural do vegetal. É, portanto, essencial compreender tais efeitos para se tomar decisões e criar estratégias para maximizar o uso dos volumosos mantendo-se a qualidade do alimento que será fornecido ao rebanho durante todo o ano. 3.1. Estratégias durante a estação chuvosa Como demonstrado anteriormente, a época das águas na região sudeste define a estação de maior produção vegetal. Dessa forma, qualquer manejo que vise maximizar a produção aproveitando-se da eficiência fisiológica do vegetal natural neste período, torna-se interessante, mesmo que para tanto, seja necessário aumentarem os gastos com insumos no sistema, visto o maior retorno possível e provável melhor benefício/custo. Surgem nesse contexto estratégias que possibilitam maior crescimento vegetal (e.g. adubação, irrigação) e outras que possibilitem melhor aproveitamento da área plantada (e.g. divisão de piquetes, pastejo rotacionado). A caprinocultura leiteira do centro-sul mineiro está em sua maioria alocada em sistemas intensivos (Guimarães, 2006), nos quais os animais passam boa parte da vida em confinamentos, recebendo alimentos (concentrado e volumoso) no cocho, sendo, portanto, muito comum o uso de forrageiras para corte durante as águas. É interessante neste caso, a intensificação da produção vegetal nas capineiras, bem como nas legumineiras, almejando-se o maior número de cortes possível, sendo factível o armazenamento do excedente para a época seca, através de processos de conservação como fenação ou ensilagem. Corrêa e Santos (2006) salientam que manejos como adubação e irrigação são capazes de elevar a produção, principalmente durante a primavera, quando as chuvas irregulares são compensadas pelo sistema de irrigação e não existe limite quanto à temperatura ambiente. A adoção destas técnicas deve ser coerente com o perfil produtivo da propriedade, considerando-se sempre o retorno econômico. Vitor et al. (2009) concordam com os autores supracitados e acrescentaram que embora haja maior produtividade na seca com o uso da irrigação, esta não suplanta a estacionalidade típica da forrageira frente ao estio, em se tratando de forrageiras tropicais. Demonstram porém, que neste período a adubação nitrogenada (100-700 kg de N/ha) eleva o teor protéico da forragem, mas não interfere na digestibilidade da mesma. Lembrando-se que a digestibilidade de forrageiras irrigadas no período seco pode ser reduzida quando comparada às plantas sob déficit hídrico. Isto ocorre devido à aceleração do processo ontogênico vegetal nas primeiras, o qual interfere significativamente no teor de carboidratos estruturais e por consequência na digestibilidade do material. Pode-se concluir que a irrigação aliada à adubação são sem dúvida ferramentas para o incremento na produção vegetal na época das águas, isto é, no período em que, coincidentemente, não existem limitações de luz ou calor. Porém, o uso da mesma na época seca pode adiantar a entrada de animais na pastagem (Cóser et al, 2008) ou aumentar o número de cortes quando tratar-se de uma forragem para este fim. É preciso relembrar que na estação chuvosa faz-se necessário o cultivo de volumosos que irão ser colhidos e conservados para o uso durante a época seca do ano. Destacam-se nesse campo, as culturas de milho e sorgo para ensilagem de planta inteira bem como de forrageiras do gênero Cynodon ou Lolium para a produção de feno e silagens pré-secadas. Por outro lado uma forma bem interessante de aumentar a eficiência de uso do volumoso produzido na fazenda é adequar a carga animal à produção vegetal. Isto porque quando há um excesso de animais numa área, desenvolve-se um quadro de superpastejo, havendo um desbaste excessivo do dossel forrageiro, interferindo negativamente no crescimento vegetal, reduzindo-se o potencial produtivo das plantas. Pelo contrário, quando existe um desajuste a favor da produção vegetal, isto é, poucos animais para uma determinada oferta de pastagem, instaura-se um quadro de subpastejo, ocorrendo o crescimento da planta até o ponto em que o valor

86

nutricional tende reduzir. Surgem nesse contexto estratégias para adequar a oferta de forragem às necessidades nutricionais do rebanho. A divisão dos pastos em piquetes favorece o uso mais eficiente do volumoso, culminando com a divisão em áreas que suportem a ocupação animal por menor tempo viável, de forma a respeitar ao máximo a fisiologia da forrageira e o ecossistema solo-vegetal-animal. Esse manejo representa a filosofia da técnica conhecida como pastejo rotacionado, em que a premissa básica é tornar a oferta de pastagem o mais constante possível através do rebaixamento uniforme do dossel, buscando-se concomitantemente altas produções de matéria verde de qualidade. Uma vez que a produção é visada, e necessita-se da mesma para o bom funcionamento do sistema, a época das águas, como explicada anteriormente, torna-se o melhor período para esse tipo de manejo, sendo interessante o uso de adubação, bem como irrigação para ajuste das necessidades de nutrientes e água para a forrageira e suplantar eventuais veranicos. Mas como interpretar a saúde do dossel forrageiro? Zanine et al. (2005) salientaram que a observação da morfogênese vegetal (taxa de aparição, alongamento e inclinação de folhas, densidade de perfilhos, etc) definirão o índice de área foliar o qual está diretamente ligado à capacidade de interceptação luminosa e consequentemente com a taxa fotossintética. O acompanhamento dessas características, associado a variáveis como altura do dossel (entrada e saída dos animais) e massa forrageira permitirão um bom manejo da pastagem, possibilitando que a mesma responda suficientemente à ação animal, provendo para este um bom alimento e elevando o ganho produtivo da área utilizada. 3.2. Estratégias durante a estação seca A limitação do crescimento vegetal na época seca do ano dá-se pela restrição hídrica e de forma mais intensa pelas baixas temperaturas e luminosidade, essas mais drásticas quanto maior a distância da propriedade da linha do equador. Para manutenção da fração volumosa da dieta e qualidade da mesma é necessário nesse período, portanto, lançar mão de alimentos conservados produzidos durante a época das águas. São os mais comuns, fenos de gramíneas e silagens de cereais. Mas tais processos são relativamente trabalhosos e onerosos existindo outras possibilidades mais simples e viáveis a depender do perfil da propriedade. São estas, o uso de pastagens reservadas (diferidas) ou capineiras e de cana de açúcar. O diferimento é uma prática bastante comum no Brasil, simples de ser realizada e com relativo baixo custo, e consiste da vedação de uma área de pasto com intuito de estocar matéria vegetal para a época de carência volumosa. Contudo o crescimento vegetal na estação chuvosa sem o correto desbaste e a permanência dessas plantas no período seco reduz acentuadamente o valor nutritivo do material pelo processo de senescência (Santos et al, 2004). Técnicas como adubação e a época correta para o diferimento podem elevar a produção de matéria seca bem como reduzir a queda do valor nutritivo (Santos et al, 2009). A cana de açúcar, por outro lado, é uma planta de elevada produção vegetal e que não perde valor nutricional durante a seca. Possui alto teor de açúcar solúvel (energia), mas, no entanto, tem seu uso limitado pelo baixo teor protéico, de minerais, destacando-se o fósforo, e elevada fração fibrosa indigestível. Seu uso torna-se interessante por ser uma cultura de fácil condução. Embora possua relativo alto custo de implantação, este deve ser diluído pelos anos de uso, normalmente de 4 a 6 anos, e principalmente pela colheita coincidir com o período de menor produção de volumosos na fazenda, isto é, na seca. Os entraves nutricionais da mesma podem ser amenizados com o uso de técnicas como: redução do tamanho da partícula em desintegrador, com o intuito de elevar o consumo através da redução do enchimento ruminal via aumento da taxa de passagem; tratamento com substâncias alcalinas que diminuem a interação dos constituintes da parede celular, aumentando o consumo pela maior degradação ruminal dessa fração (Carvalho et al,

87

2010); e também a escolha da variedade da cana bem como da idade ao corte, as quais interferem na fração fibrosa e energética do alimento (Fernandes et al, 2003). 4. Uso estratégico de volumosos por categoria animal Para a produção satisfatória de um rebanho leiteiro é necessário formular a dieta dos animais de acordo com a categoria animal e suas demandas nutricionais, tendo em vista que a exigência nutricional é variável de acordo com o estádio fisiológico do animal. O consumo de alimentos pode ser influenciado por diversos fatores, como, disponibilidade da forragem, forma física do alimento fornecido, idade da forrageira, método de conservação, teor de matéria seca, quantidade oferecida, tamanho do corte, número de refeições, disponibilidade de água, entre outros (Silva e Rodrigues, 2003). Por este motivo, a preocupação na escolha do volumoso e do seu processamento para atender cada categoria animal se faz tão necessário. Os alimentos volumosos podem ser fornecidos frescos, como capineiras ou outras culturas forrageiras ou conservados, seja feno ou silagem, e ainda na forma de palhadas ou uso de coprodutos da agroindústria, oriundos do beneficiamento e/ou processamento de frutos ou grãos, como por exemplo, a casca de soja, que por sinal, apresenta-se como alternativa promissora à redução dos custos com alimentação do rebanho leiteiro. Para a utilização desses alimentos, é indispensável o conhecimento da disponibilidade destes em cada região em que o produtor se encontra, para que se possa escolher os mais adequados para cada situação, levando-se em consideração, além da disponibilidade e da região, a qualidade, fertilidade do solo e a estação do ano (Ribeiro, 1997). Segundo Santos (1994), o fornecimento de alimento concentrado a caprinos é utilizado em situações quando a qualidade ou disponibilidade do volumoso é baixa ou quando as exigências nutricionais são elevadas, como no caso de cabritos em crescimento, cabras em terço final de gestação ou em lactação e reprodutores em atividade intensa. Assim, a utilização de alimentos volumosos de qualidade resulta em menor necessidade de fornecimento de concentrado e melhor desempenho animal. A tabela 1 retrata este cenário de forma simples e clara. Tabela 1. Efeito da qualidade do volumoso utilizado na dieta sobre a ingestão de energia e na produção de leite em caprinos Feno Ruim Variável Ingestão de energia (Mcal / dia) Produção de leite (kg/ dia)

Feno bom

Com restrição de concentrado

Sem restrição de concentrado

Com restrição de concentrado

2,18

3,06

3,02

2,17

2,88

3,00

Adaptado de Morand-Fehr e Le Jauen (1977), citado por Borges e Bresslau (2003)

A produção de leite vinculada à produção de volumosos de boa qualidade sempre minimizará a necessidade de compra e/ou o custo por quilo de alimento concentrado, ferramenta efetiva para diminuir o custo alimentar por litro de leite produzido (Borges e Bresslau, 2003). 4.1. Alimentação das crias após o nascimento

88

O primeiro alimento a ser ingerido pelas crias obrigatoriamente é o colostro, pois é essencial ao animal jovem por ser rico em imunoglobulinas. Vale ressaltar que a absorção dessas moléculas pela parede intestinal é máxima nas primeiras 6 horas de vida, após esse tempo, sua absorção vai decaindo gradativamente, até se tornar nula. No período do nascimento a desmama, aproximadamente a partir do 6o dia de idade, é importante que a cria já comece a receber alimentos sólidos, como os alimentos concentrados e volumosos de boa qualidade, como por exemplo, feno de alfafa ou rami, ou forragem frescas picadas (Silva, 2001; Silva e Rodrigues, 2002). Apesar destes fenos apresentarem custo relativamente alto, o seu uso é viável, pois possuem uma boa qualidade e o seu consumo pelas cabritas nessa fase é mínimo. O alimento volumoso é fornecido no intuito de proporcionar ao animal uma fonte de fibra efetiva, a fim de estimular o seu desenvolvimento ruminal. 4.2. Alimentação na fase de recria A alimentação das cabritas de reposição deve ser considerada como uma etapa importante para garantir o futuro da criação. O que se pretende nessa fase, que vai do desaleitamento até a entrada na reprodução, é que os animais alcancem 60 a 70% de seu peso adulto, o que deveria estar acontecendo entre o sexto e o oitavo mês de vida, sendo o desenvolvimento um critério seguro para iniciar a vida reprodutiva (Carvalho, 2002). Numa cabrita, para futura produção de leite, é importante evitar o acúmulo de gordura corporal durante o crescimento. Nesta fase, a deposição de tecido adiposo na cavidade mamária afetará negativamente a formação dos alvéolos, comprometendo a produção de leite. Por este motivo, é necessária atenção na formulação da dieta dos animais nessa categoria, tendo em vista que exigência nutricional da cabrita nesse estádio fisiológico é alta devido às condições de crescimento e desenvolvimento corporal. Daí, que o manejo alimentar ser a chave para garantir taxas de ganho adequado dessa ordem. Para tanto, deve-se utilizar uma boa pastagem ou bom volumoso à vontade, atendendo-lhes as exigências e considerando-se o recomendado para sobras permitidas (10 a 20%) e uma suplementação concentrada. Dentre os volumosos utilizados destacam-se as leguminosas, por serem bastante palatáveis e possuírem maiores aportes de proteína, as gramíneas, os volumosos conservados, como silagem de milho, de sorgo, feno de Tifton 85, feno de alfafa, entre outros (Silva, 2001). Como recomendação geral, a alimentação deveria considerar bons volumosos e uma suplementação concentrada de acordo com a exigência do animal, mas muitas vezes, é esse custo com concentrado que muitos criadores procuram evitar ou atenuar, economizando e retardando a entrada do animal na reprodução, o que acaba sendo inviável para a produção leiteira. 4.3. Alimentação das cabras gestantes Nesta fase os animais devem receber alimentos volumosos de boa qualidade e uma porção de concentrado suficiente para atender sua exigência nutricional (Ribeiro, 1997). Nos três primeiros meses da gestação é possível manipular a dieta para que as cabritas ou cabras ganhem ou percam peso, apresentando condição corporal em torno de 2,75 a 3,50 no momento do parto.

89

É importante a utilização de um bom alimento volumoso, de preferência feno, permitindo uma sobra compatível com sua qualidade, juntamente com a suplementação concentrada. Caso se utilize silagens, estas não devem ser o único volumoso, pois a ingestão de matéria seca normalmente não é muito elevada, problema agravado pelo elevado teor de água (Silva e Rodrigues, 2002), assim, é prudente verificar as quantidades de sobras de silagens nesses momentos, observando se aumentaram significativamente. No final da gestação, acontece uma limitação fisiológica no consumo de alimento por parte das cabritas ou cabras, uma vez que a capacidade ruminal é afetada pelo crescimento fetal, enquanto que no início da lactação, o consumo de alimento pelo animal não é suficiente para suprir as suas exigências nutricionais, que estão aumentadas. Esse período é caracterizado pelo balanço energético negativo e requer o máximo de atenção possível do produtor. 4.4. Alimentação das cabras em lactação A qualidade da forragem afeta significativamente a ingestão, assim como a produção de leite em cabras. A dieta básica de cabras é composta de forragens frescas ou conservadas, oferecidas com restrição ou ad libitum juntamente ao concentrado, sendo que suas proporções variam de acordo com seu estádio de lactação. Ao longo do ciclo de produção, o nível de ingestão de matéria seca atinge o valor mínimo próximo ao parto e o valor máximo entre a 12a e 16a semana pós-parto, cerca de um mês após o pico de produção (Sahlu e Goetsch, 1998), assim, o consumo médio de cabras leiteiras varia de 4 a 6% do seu peso vivo. Cabras com maior capacidade de consumo de matéria seca apresentam maior produção de leite. Desta forma, a maximização da ingestão é um dos principais fatores que incide sobre a produção de leite. Na primeira fase do ciclo, que tem início com o parto, o nível de produção aumenta rapidamente, atingindo o pico entre a 6a e 9a semana (Borges e Bresslau, 2003). Entretanto, o pico de ingestão de alimentos comumente não ocorre até o terceiro mês de lactação, ou de 12 a 16 semanas pósparto, de maneira que a ingestão de nutrientes só irá atender as demandas da cabra quando a produção de leite estiver reduzida a 60-80% da produção no pico. Nesta fase, as cabras encontram-se em balanço energético negativo e para suprir este déficit, reservas corporais são mobilizadas e isso pode ser observado na diminuição do escore de condição corporal. No início da lactação, a energia proveniente das reservas corporais é utilizada de maneira mais eficiente para a produção de leite do que a energia proveniente dos alimentos. No primeiro mês de lactação as cabras podem perder até 0,900 kg de tecido adiposo por semana para sustentar a produção leiteira. No segundo mês a perda média é ao redor de 0,450 kg. Estas reservas corporais devem ser restabelecidas principalmente durante as fases pós-pico e início de gestação do ciclo de produção (Ribeiro, 1997; Sahlu e Goetsch, 1998). Portanto, é necessário aumentar a densidade energética da ração, já que o volume de alimentos consumidos nessa fase é limitado. Alguns volumosos, entre eles a silagem de milho, preferencialmente com alta quantidade de grãos, são ideais por possuírem teor de amido relativamente alto, por promover maior síntese de glicose a fim de suprir os altos níveis de requisitos deste metabólito no início da lactação. O uso de volumosos de boa qualidade, como o supracitado, confere melhores características de degradação no rume devido à qualidade da fibra e alto teor de energia no rume, possibilitando melhor aproveitamento dos carboidratos estruturais, consequentemente maior fluxo de proteína microbiana para o intestino e maior produção de leite. É comum a resistência dos produtores ao uso de silagem devido à influência nas características sensoriais no leite, mas segundo Costa et al (2008), para evitar a aparição desses defeitos no produto o nível de inclusão na dieta não deve ultrapassar 60% da matéria seca total.

90

Na segunda fase a capacidade de ingestão da cabra atinge o nível mais alto e a produção de leite começa a diminuir, permitindo que o animal inicie a recomposição das reservas corporais. No início, seu peso mantém-se estável, aumentando lentamente. A importância desta reconstituição varia com a intensidade da mobilização anterior. Essa fase é de duração mais variável, em função do intervalo de partos (IDP) adotado: quando o IDP é de 12 meses, dura cerca de cinco meses, mas dura apenas um mês quando o IDP é de 8 meses. Esse último caso exige que o animal esteja apto a conceber até o terceiro mês pós-parto, o que requer uma alimentação no terço final de gestação e início de lactação de alto nível de forma que a cabra não oscile com intensidade o seu escore corporal e assim seja apta à concepção, pode ser usado com estratégia de colocar parte do rebanho na entre safra da produção leiteira. A terceira fase corresponde aos primeiros três meses de gestação, onde o peso da cabra aumenta lentamente, acumulando-se reservas corporais devido ao balanço energético positivo. Nessa fase pode-se lançar mão de alimentos menos nobres, como por exemplo, fenos de gramíneas, com intuito de manter a gestação e a condição corporal da cabra. A quarta fase correspondente ao terço final da gestação, quando ocorre o maior crescimento fetal, cerca de 75%, aumentando acentuadamente a demanda por nutrientes. Ao mesmo tempo, a capacidade de ingestão da cabra atinge seu valor mínimo, onde o espaço ocupado pelos fetos, anexos uterinos e pelas reservas de tecido adiposo no abdome limita o espaço disponível o trato digestivo, afetando a ingestão de alimentos. Fontes de gordura podem ser utilizadas para aumentar a densidade energética da dieta até um limite de 3 a 4% da matéria seca, uma vez que níveis mais altos podem reduzir a digestibilidade da fibra e reduzir a absorção de cálcio (Borges e Bresslau, 2003). Frente ao exposto, o método de conservação de forragem é, sem dúvidas, uma possibilidade real de uso, ao se tratar de animais de alta exigência energética que é o caso das cabras leiteiras de alta produção. Em geral, para atender essa demanda, as dietas devem conter grandes quantidades de concentrado e forragens de qualidade. Entretanto, é importante salientar que para manter a função normal do rume e a porcentagem de gordura no leite, grande porção de fibra necessita ser oriunda de forragens, sendo importante estabelecer relação ideal de volumoso e concentrado para atender as exigências de mantença e produção das cabras. O concentrado deve suprir as necessidades energéticas do animal, enquanto o volumoso de boa qualidade deve garantir efetividade da fibra na estimulação da ruminação para que a secreção de saliva resultante possa neutralizar eficientemente as fermentações ocorridas no rume. A Figura 3 demonstra um exemplo de uso estratégico de volumosos durante o ciclo produtivo de uma cabra leiteira. O modelo simulado leva em conta o consumo de matéria seca, a produção leiteira bem como a exigência de cada fase.

91

Figura 3 – Curvas adimensionais de lactação, consumo e exigências nutricionais de um ciclo produtivo de uma cabra leiteira adulta. Fase I: Final da lactação e três primeiros meses de gestação; Fase II: Dois meses de duração, da secagem ao parto; Fase III: Primeira parte da lactação, até o pico da curva, em torno de 4 a 6 semanas; Fase IV: Fase de declínio da lactação até nova gestação, cerca de 5 meses. Linha contínua fina: Consumo; Linha contínua grossa: Curva de lactação; Curva descontínua: Exigência nutricional.

Ele supõe ainda uma situação em que se tem a disposição uma fração concentrada e duas fontes volumosas, sendo uma destas de melhor qualidade. Para comparação de valores, determinou-se que o concentrado custa em torno de 10 vezes o preço ($/kg) do volumoso de pior qualidade, e que este custa a metade do volumoso de melhor qualidade. Baseado nisso, procedeu-se ao escalonamento decrescente de cada variável, por exemplo, a fase com dieta de maior custo, no caso do exemplo a Fase III, possui valor 1, ao passo que a de menor custo, Fase I, recebeu nota 4, procedendo-se o mesmo com cada variável em cada fase. O ciclo é formado por quatro fases. Na primeira, dá-se início a gestação, em que nos três primeiros meses a exigência para o crescimento fetal e tecidos relacionados ao concepto está muito próxima à da mantença, sendo, portanto, o incremento além da mantença decorrente da baixa produção leiteira do final da lactação. Dessa forma nessa fase o menor requisito nutricional associado à baixa receita oriunda da produção leiteira incipiente, justificaria o uso de um volumoso de qualidade inferior e de alta relação volumoso:concentrado, mantendo-se um potencial lucrativo aceitável. A Fase II no entanto, apresenta uma parte delicada do ciclo, pois a cabra está em momento visivelmente não produtivo, uma vez que não produz leite, contudo neste momento a exigência para o desenvolvimento do concepto é muito elevada e deve-se investir na alimentação da mesma. O desajuste nutricional nessa fase é capaz de comprometer a lactação futura além de prejudicar o crescimento fetal bem como o desenvolvimento do lactente. Justifica-se nessa fase portanto, embora não exista rendimento líquido financeiro, o incremento na fração concentrada, buscando-se a melhor condição corporal ao parto e desenvolvimento do concepto e aparelho mamário. A Fase III representa um momento delicado para a matriz, visto que o balanço energético negativo típico dessa fase, espolia as reservas energéticas da mesma sendo premente o emprego de alimentos mais nobres para reversão mais rápida possível do quadro instaurado. Torna-se interessante nesse

92

contexto o uso de volumosos como silagens de milho ou sorgo, que embora sejam mais caros, possuem melhor valor nutricional. A última fase é dependente das anteriores, que se bem manejadas, tornarão esta a etapa de maior potencial lucrativo, visto que há uma diminuição crescente da exigência, redução contínua do consumo e produção de leite decrescente. Desde que os animais possuam boa persistência de lactação, é possível utilizar volumosos de qualidade intermediária em quantidade suficiente para se obter o maior rendimento da vida produtiva da cabra, uma vez que este período pode representar até aproximadamente 42% do ciclo produtivo de uma matriz com 12 meses de intervalo de partos. 4.5. Alimentação dos reprodutores A alimentação adequada dos reprodutores jovens e adultos é tão importante quanto à alimentação das fêmeas. Um volumoso de boa qualidade, que atenda a exigência protéica, é suficiente para a mantença do reprodutor quando não está sendo utilizado (Cunha, 1999). Ressalta-se que os animais devem ter à sua disposição água e sal mineral à vontade, independente da categoria animal, lembrando que a dieta dos machos deve ser balanceada para manter a relação Ca:P de 2:1, a fim de evitar o aparecimento de cálculo urinário, o que é muito comum em machos (Ribeiro, 1997) . No período próximo às coberturas é necessário fornecimento de uma dieta de melhor qualidade alguns dias antes do início desse período. São preconizados que esse tenha sessenta dias de antecedência, para atender a demanda nutricional da espermatogênese, sendo que, durante o período de coberturas é necessário oferecer um suplemento protéico diário aos reprodutores, depois de transcorrido esse período à sua alimentação volta ao normal. 5. Manejo e custos de produção de volumosos para caprinos A exploração de caprinos leiteiros visando o melhor desempenho produtivo necessita de técnicas de manejo específicas para permitir a consolidação racional da exploração e viabilizar o desenvolvimento dessa atividade. A nutrição representa o principal gasto econômico envolvendo animais de produção; e, no caso dos caprinos leiteiros, este gasto deve ser considerado, uma vez que estes animais apresentam consumo de matéria seca elevados. Assim, deve-se adotar diferentes formas de manejo visando a melhoria da capacidade produtiva dos sistemas de criação; destacando-se: a frequência de alimentação, o tamanho de partículas, manejo adequado de bancos de proteína, a utilização de alimentos alternativos e fornecimento de suplementos volumosos quando necessário. A ingestão alimentar adotada por caprinos acontece em diferentes fases: A primeira fase observada é a exploração do alimento pelo animal, onde este realiza um conhecimento dos alimentos que são oferecidos. A segunda fase é a de consumo intenso do alimento e a última é destacada pela capacidade seletiva dos alimentos que serão ingeridos. É importante ressaltar que o fornecimento de volumoso, independentemente da categoria animal, deve permitir quantidade de sobras suficiente de sobras para concluir que as três fases etológicas supracitadas foram resguardadas, especialmente a de seleção da dieta. O aumento da frequência de alimentação pelo aumento do número de refeições pode influenciar o consumo de alimentos por caprinos e consequentemente o seu desempenho produtivo. Conforme destacou Church (1993), o aumento do número de refeições diárias de um para três, pode elevar em até 30% o fluxo da digesta na região pós-pilórica em virtude da maior atividade motora e secretora do abomaso. Essa estratégia de arraçoamento pode permitir aos sistemas de exploração leiteira melhorias nos índices produtivos, pois o consumo está diretamente

93

relacionado com o desempenho animal. A utilização de volumosos, quando associado a seu tamanho de partículas em dietas, podem afetar as eficiências mastigatória e de ruminação. Partículas fibrosas moídas grosseiramente estimulam a atividade mastigatória de ruminantes favorecendo a produção de saliva, e mantendo adequadamente o funcionamento do ambiente ruminal (Armentano, 1997). Essa estratégia pode ser utilizada para alimentos volumosos que possuem baixa degradação ruminal, como a cana de açúcar. A utilização de banco de proteína ou legumineira pode ser opção para a exploração de caprinos leiteiros como estratégia para corrigir as deficiências nutricionais das pastagens durante o período de seca estacional, ou quando as gramíneas possuírem baixos teores de protína. O uso do banco de proteína pode ser empregado para o pastejo direto, onde os animais terão acesso diário, por aproximadamente uma a duas horas, como também, para produção de forragem a ser fornecida no cocho durante o período seco. O banco de proteína e a pastagem podem ser utilizados de forma harmônica, tornando-se importante fonte alimentar em sistemas de exploração leiteira, pois o melhor desempenho animal em pastagens consorciadas é atribuído ao melhor valor nutritivo de leguminosas em relação às gramíneas, principalmente em termos de proteína bruta e de digestibilidade (Pereira, 2001). Associada a essas opções, a utilização de alimentos alternativos como casca de soja, caroço de algodão, polpa cítrica entre outros, podem favorecer o barateamento das dietas e representar importante estratégia para períodos de menor disponibilidade de volumosos. Visto que podem substituir parcialmente a porção fibrosa da dieta de caprinos composta de forragens, sem comprometer sua fisiologia digestiva e favorecer melhorias em índices produtivos (Amorim et al., 2008). Vários estudos vêm sendo conduzidos com a utilização de alimentos alternativos em substituição à fração volumosa e suplementos concentrados dietéticos, sendo obtidos resultados interessantes. Pode–se destacar nesse aspecto o estudo conduzido por Zambom et al. (2008) utilizando a casca de soja como fonte alternativa em substituição a ingredientes dietéticos tradicionais de dietas. Neste estudo, a substituição em até 100% do milho pela casca de soja para caprinos leiteiros não afetaram os resultados quanto à produção de leite desses animais, favorecendo também um aporte de fornecimento de fibra nessas dietas. Um aspecto que deve ser considerado nos sistemas de exploração leiteira para caprinos é o planejamento adequado de produção de alimentos ou mesmo a aquisição destes insumos num momento oportuno que, naturalmente, coincide com período de maior oferta em épocas de chuva nas fazendas produtoras de feno, para a sua utilização na época da seca. O adequado planejamento e a avaliação econômica rigorosa da utilização de volumosos para sistemas de exploração leiteira é essencial, visto que o custo destes devem ser contabilizados como o de qualquer outro insumo a fim monitorar a viabilidade do sistema de produção (Borges, 2003). Em um sistema de exploração de leite, Aguiar e Almeida (1998) enfatizaram que alimentos mais baratos a ser produzidos e ofertados aos animais merecem destaque. Dentre eles, em determinadas ocasiões, a pastagem manejada intensivamente apresenta um custo de produção mais barato quando comparado com outros alimentos. O custo de produção em situações que envolvem a produção de forragens conservadas está associado a despesas com máquinas, equipamentos e mão de obra. Algumas práticas devem ser adotadas com o intuito de reduzir estes custos através do aumento da eficiência nestes processos, a qual pode ser obtida pela redução do desperdício do material durante a conservação dos mesmos.

94

6. Considerações finais São muitas as opções de volumosos para caprinos leiteiros. Essas dependerão muito do cenário em que se tem para trabalhar; ora as tomadas de decisão passarão pelo estádio fisiológico dos animais, ora pela oportunidade de oferta, por vezes será a época do ano a impor as condições de escolha. Forrageiras bem manejadas e adequadamente ofertadas aos animais leiteiros ainda são as opções mais amplas e práticas. Nesse sentido, a intensificação de produção na estação chuvosa e sua preservação para uso na época de escassez mostra-se muito vantajosa. Alimentos alternativos ou estratégicos como co-produtos ou subprodutos das indústrias de grãos e frutas também possuem lugar de destaque. Muitas lacunas podem ser preenchidas de forma racional, seja sob o ponto de vista nutricional, seja quanto ao econômico, não perdendo de vista o ambiental e o de melhor manejo e domínio pelo produtor. Categorias animais distintas respondem melhor frente a determinado tipo de volumoso, tanto no sob o aspecto nutricional quanto no econômico. 7. Referências Bibliográficas AGUIAR, A.P.A. Sistema de pastejo rotacionado. In: CURSO DE MANEJO DE PASTAGENS. Itapetinga, 2003. Apostila 1... Itapetinga: SEBRAE, 2003. p. 66-99. ALLMETSAT. Weather reports and forecasts, satellite images, tropical cyclones, world climate data. Disponível em: . Acesso em: 01.05. 2011. AMORIM, G. L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. Substituição do milho por casca de soja: consumo, rendimento e características de carcaça e rendimento da buchada de caprinos. Acta Science Animal. Maringá, v.30, n. 1, p. 41-49, 2008. ARAÚJO, S. A. C., VASQUEZ, H. M., CAMPOSTRINI, E. et al. Características fotossintéticas de genótipos de capim-elefante anão (Pennisetum purpureum Schum.), em estresse hídrico. Acta Scientiarum. Animal Sciences. v.32, n.1, p.1-7, 2010. ARMENTANO, L.; PEREIRA, M. Symposium: meeting the fiber requirements of dairy cows: measuring the effectives of fiber by animal trial. Journal of Dairy Science, v.80, 4 n.7, p.1416-1425, 1997. BALSALOBRE, M. A. A. Batata, beterraba, cenoura e nabo. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 6, 1995, Piracicaba. Anais... Piracicaba, 1995. p. 99-121. BERRY, J., BJÖRKMAN, O. Photosynthetic response and adaptation to tempertaure in higher plants. Annual Reviews: Plant Physiology. v.31, p.491-543, 1980. BORGES, C.H.P.; BRESSLAU, S. Manejo e alimentação de cabras em lactação. Treinamento em Gado Leiteiro. Purina Agribrands do Brasil, Belo Horizonte, 2003. BORGES, C.H.P.. Custos de produção do leite de cabra na Região Sudeste do Brasil. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE O AGRONEGÓCIO DA CAPRINOCULTURA LEITEIRA, 1. 2003. João Pessoa-PB. Anais... João Pessoa-PB: EMEPA, 2003. p.303- 312.

95

CARVALHO, F.F.R. Alimentação de Cabras Leiteiras. In: II Simpósio Paraibano de Zootecnia. Areia – PB. Anais. Areia, 2002. CARVALHO, G. G. P., GARCIA, R., PIRES, A. J. V. et al. Consumo, digestibilidade aparente e dias de coleta total na estimativa da digestibilidade em caprinos alimentados com dietas contendo cana-deaçúcar tratada com óxido de cálcio. Revista Brasileira de Zootecnia. [online]. 2010, vol.39, n.12 [cited 2011-05-03], pp. 2714-2723 . Available from:. ISSN 1806-9290. doi: 10.1590/S1516-35982010001200023. CHURCH, C. D. El ruminante: fisiología e digestive y nutricion. Editorial Acribia: Zaragoza, 645. 1993. CORRÊA, L. A., SANTOS, P. M. Irrigação de pastagens formadas por gramíneas forrageiras tropicais. Circular Técnica, n. 48. Embrapa Pecuária Sudeste, Disponível em: < http://www.cppse.embrapa.br/080servicos/070publicacaogratuita/circulartecnica/circular48.pdf> , Acesso em: 01.05.2011. CÓSER, A. C., MARTINS, C. E., D. FERMINO, D., et al. Produção de forragem e valor nutritivo do capim-elefante, irrigado durante a época seca. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.11, p. 1625-1631, nov, 2008. COSTA, J.L.; RESENDE, H. Produção de feno de gramíneas. Instrução Técnica para o Produtor de Leite. Embrapa Gado de Leite, 2006. COSTA, R.G.; MESQUITA, I.V.U.; QUEIROGA, R.C.R.E.; et al. Características químicas e sensoriais do leite de cabras Moxotó alimentadas com silagem de maniçoba. Revista Brasileira de Zootecnia, vol.37, n.4, Viçosa, 2008. CUNHA, M.G.G. 1999. Nutrição e Manejo Alimentar de Caprinos Leiteiros. In: SOUSA, W.H; SANTOS, E.S. 1999. Criação de Caprinos Leiteiros: uma alternativa para o semi-árido. João Pessoa: EMEPA-PB, 1999. 207 p. FERNANDES, A. M., QUEIROZ, A. C., PEREIRA, J. C. et al. Composição químicobromatológica de variedades de cana de açúcar (Saccharum spp L.) com diferentes ciclos de produção (precoce e intermediário) em três idades de corte. Revista Brasileira de Zootecnia. Zootec. [online]. 2003, vol.32, n.4 [cited 2011-05-03], pp. 977-985 . Available from: . ISSN 1806-9290. doi: 10.1590/S151635982003000400025. GONÇALVES, A.L.; LANA, R.P.; VIEIRA, R.A.M; et al. Avaliação de sistemas de produção de caprinos leiteiros na Região Sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.2, p.366-376, 2008. GUIMARÃES, A. S. Caracterização da caprinovinocultura em Minas Gerais. 2006. 87f. Dissertação (Mestrado –Medicina Veterinária Preventiva) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. LEITE, E. R. Manejo alimentar de caprinos e ovinos. In: I Workshop Sobre Caprinos e Ovinos Tropicais, Fortaleza, p.52-56. 1999. PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C.; FARIA, V. P. Simpósio sobre Manejo da Pastagem: Manejo de Pastagens de Tifton, Coastcross e Estrela. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1998, 269 p. PEREIRA, J.M. 2001. Produção e persistência de leguminosas em pastagens tropicais. In: A.R. Evangelista, E.C.J. Sales, G.R. Siqueira e J.A. Lima (eds). Simpósio de Forragicultura e

96

Pastagens: Temas em Evidências. Anais do Simpósio de Forragicultura e Pastagens. UFLA/ NEFOR. Lavras. p. 111-141. PUPO, N.I.H.P. Manual de Pastagens e Forrageiras: Formação, Conservação e Utilização. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1995, 343p. RIBEIRO, S.D.A. Caprinocultura: criação racional de caprinos. Nobel: São Paulo, 1997. 220p. RIBEIRO, L.R. Consumo, produção e composição do leite e parâmetros sangüíneos de cabras leiteiras alimentadas com dietas, contendo diferentes fontes de volumosos. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. 29p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Estadual de Maringá, 2000. RODRIGUES, P.H.M.; PEDROSO, S.B.G. MELOTTI, L.; et al. Estudo comparativo de diferentes tipos de silos sobre a composição bromatológica e perfil fermentativo da silagem de milho. Acta Scientiarum. Maringá: v. 24, n. 4, p.1127-1132, 2002. SAGRILO, E.; GIRÃO, E.S.; BARBOSA, F.J.V. et al. Sistemas de produção. Agricultura familiar. Embrapa Meio-Norte, versão eletrônica, 2003. SAHLU, T., GOETSCH, A.L. Feeding the pregnant and milking doe. In: Goat Field Day, Langston, 1998. Proceedings… Langston: E (Kika) de la Garza Institute for Goat Research, 1998. SANTOS, E. D. G., PAULINO, M. F., QUEIROZ, D. S. et al. Avaliação de pastagem diferida de Brachiaria decumbens Stapf: 1. Características químico-bromatológicas da forragem durante a seca. Revista Brasileira de Zootecnia [online]. 2004, vol.33, n.1 [cited 2011-05-03], pp. 203-213 . Available from: . ISSN 1806-9290. doi: 10.1590/S15163598200400010002 SANTOS, L.E. Hábitos e manejo alimentar de caprinos. In: Encontro Nacional para o Desenvolvimento da Espécie Caprina. Anais. Jaboticabal: UNESP, 1994, p.1-27. SANTOS, M. E. R., FONSECA, D. M., EUCLIDES, V. P. B. et al. Características estruturais e índice de tombamento de Brachiaria decumbens cv. Basilisk em pastagens diferidas. Revista Brasileira de Zootecnia [online]. 2009, vol.38, n.4 [cited 2011-05-03], pp. 626-634 . Available from: . ISSN 1806-9290. doi: 10.1590/S151635982009000400006. SILVA, M. G. C. M. Criação de Cabras: Técnica de manejo, sanidade e alimentação. Universidade Federal de Lavras- UFLA, 2001. SILVA, M.M.C.; RODRIGUES, C.A.F. Nutrição e Alimentação de Caprinos. Universidade Federal de Viçosa – UFV, 2002. VIEIRA, R.A.M.; MALAFAIA, P.A.M.; DA SILVA, J.F.C. et al. 2005. Suplementação na criação de caprinos de corte em pastejo. In: ZOOTEC, 2005, Campo Grande, MS. Anais… Campo Grande: ABZ/UPIS, 2005. p.1-40. Cd-Rom. Caprinocultura e Ovinocultura. VITOR, C. M. T., FONSECA, D. M., CÓSER, A. C. et al. Produção de matéria seca e valor nutritivo de pastagem de capim-elefante sob irrigação e adubação nitrogenada. Revista Brasileira de Zootecnia. [online]. 2009, vol.38, n.3 [cited 2011-05-03], pp. 435-442 . Available from:
97

35982009000300006elng=enenrm=iso>. 35982009000300006.

ISSN

1806-9290.

doi:

10.1590/S1516-

ZAMBOM, M.A.; ALCALDE, C.R.; SILVA, K.T. et al. Desempenho e digestibilidade dos nutrientes de rações com casca do grão de soja em substituição ao milho para cabras Saanen em lactação e no pré-parto. Revista Brasileira de Zootecnia., v.37, n.7, p.1311-1318, 2008. ZANINE, A. M., SANTOS, E. M., OLIVEIRA, J. S. et al. Modernas estratégias no manejo do pastejo das gramíneas dos gêneros Brachiaria e Cynodon. Revista Electrónica de Veterinaria REDVET, v.6, n. 11, Novembro, 2005. Disponível em: , Acesso em: 01.05.2011.

98

ALGUMAS EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS PARA CAPRINOS - NRC (1981) EM • 101,38 kcal / kg0,75 para mantença - ou ainda 2 a 2,4 Mcal/kg de MS. • 7,25 kcal / g de ganho para animais em crescimento; • 1246,12 kcal / kg de leite com 4 % de gordura produzido (lactantes) PB • 32 g PB / Mcal ED (EM = ED * 0,82%); • 4,15 g de PB / kg0,75 para animais em mantença; • 0,284 g de PB / g de ganho para animais em crescimento; • 7,76 g de PB / kg0,75 para animais gestantes, • 96,9 g / kg de leite com 4 % de gordura para animais em lactação. Ca • 2 a 3 g / kg de leite produzido (0,114 a 0,163% da MS); P • 1,4 a 2,1 g / kg de leite produzido (0,084 a 0,122% da MS); NaCl • 0,5 % da MS ingerida diariamente; K • 0,8 % da MS ingerida diariamente; S • 0,16% da MS ingerida diariamente; Mg • 0,2 % da MS ingerida diariamente; Cu • 10 ppm; Zn • > 100 ppm (1000 é tóxico), Iodo • 0,2 a 0,8 ppm Água: 145,6 g/kg0,75 + 1,43 kg água/kg leite (nativas 0,68 l água/l leite) TABELAS DE EXIGÊNCIAS COMPILADAS POR RIBEIRO (1997) 1 - Exigências nutricionais para mantença Energia PV (kg)

ED (Mcal)

EM (Mcal)

EL (Mcal)

10 0,70 0,57 0,32 20 1,18 0,96 0,52 30 1,59 1,30 0,70 40 1,98 1,61 0,86 50 2,34 1,91 1,02 60 2,68 2,19 1,16 70 3,01 2,45 1,30 80 3,32 2,71 1,44 90 3,63 2,96 1,57 100 3,93 3,21 1,70 UFL=1.700 kcal de energia líquida

Proteína

Minerais

UFL

NDT

PB (g)

PD (g)

PM ou PDI (g)

Ca (g)

p (g)

0,19 0,31 0,41 0,51 0,60 0,68 0,77 0,85 0,92 1,00

159 267 362 448 530 608 682 754 824 891

22 38 51 63 75 868 96 106 116 126

15 26 35 43 51 59 66 73 80 86

14 23 31 28 45 52 58 64 69 75

1 1 2 2 3 3 4 4 4 5

0,7 0,7 1,4 1,4 2,1 2,1 2,8 2,8 2,8 3,5

2 – Exigência para 100 g de ganho em peso diário

99

IMS PV (kg) 10 20 30 40 50 60 70

Energia

(kg)

ED (Mcal)

0,10 0,20 0,30 0,40 0,40 0,50 0,50

0,51 0,70 0,88 1,08 1,26 1,46 1,67

EM (Mcal) 0,42 0,57 0,72 0,88 1,03 1,19 1,36

Proteína

Minerais

EL (Mcal)

UFL

NDT

PB (g)

PD (g)

PM ou PDI (g)

Ca (g)

p (g)

0,24 0,32 0,41 0,50 0,58 0,67 0,77

0,14 0,19 0,24 0,29 0,34 0,39 0,45

116 159 199 245 286 331 379

29 29 28 27 26 25 24

21 21 20 19 18 17 16

25 25 24 23 22 21 20

1,32 1,43 1,49 1,54 1,58 1,61 1,64

0,73 0,71 0,70 0,69 0,68 0,67 0,67

UFL=1.700 kcal de energia líquida PV PERÍODO (kg) 40

50

60

70

80

início 4º mês 5º mês início 4º mês 5º mês início 4º mês 5º mês início 4º mês 5º mês início 4º mês 5º mês

IMS

Energia

(kg)

ED (Mcal)

1,07 1,07 0,97 1,20 1,20 1,09 1,33 1,33 1,21 1,47 1,47 1,34 1,60 1,60 1,46

3,00 3,60 5,05 3,48 4,11 5,59 3,91 4,53 6,01 4,30 4,91 6,41 4,71 6,43 6,63

EM (Mcal) 2,45 2,94 4,10 2,84 3,35 4,56 3,19 3,70 4,90 3,51 4,01 5,23 3,84 4,25 5,41

Proteína

EL (Mcal)

UFL

NDT

PB (g)

PD (g)

0,99 1,14 1,27 1,17 1,34 1,50 1,34 1,53 1,72 1,51 1,72 1,92 1,70 1,90 2,09

0,58 0,67 0,75 0,69 0,79 0,88 0,79 0,90 1,01 0,89 1,01 1,13 1,00 1,12 1,23

680 816 1141 789 932 1268 887 1027 1363 975 1114 1454 1068 1458 1504

77 159 215 91 173 235 105 187 253 118 200 273 130 212 293

54 111 150 63 120 163 73 130 176 82 139 190 90 147 203

PB (g)

PD (g)

Minerais PM ou PDI (g) 37 57 77 43 67 91 50 79 107 56 90 123 62 102 141

Ca (g) 3,0 5,0 7,0 3,5 6,0 8,5 4,0 7,0 10,0 4,5 8,0 11,5 5,0 9,0 13,0

p (g) 2,0 2,5 3,0 2,5 3,1 3,7 3,0 3,8 4,5 3,5 4,4 5,3 4,0 5,0 6,0

UFL=1.700 kcal de energia líquida

Energia ED (Mcal)

EM (Mcal)

EL (Mcal)

Proteína UFL

NDT

Minerais

PM ou PDI (g)

Vitaminas

Ca (g)

P (g)

A

D

43

4,0

1,5

3,800

760

50

-

-

3,800

760

Exigência por kg de leite com 3,5 % de gordura – cabras alpinas 1,5000

1,219

0,655

0,385

342

68

48

Exigência por kg de leite com 4,7 % de gordura – cabras anglo-nubianas 1,817

1,482

0,796

0,468

412

79

56

Exigência para cada 0,1% de variação no teor de gordura do leite 0,241

0,197

0,111

0,065

55

-

-

-

-

-

-

-

10

7

6,2

0,5

0,5

-

-

Exigência para cada 10 kg de variação no PV 0,369

0,301

0,170

0,100

UFL=1.700 kcal de energia líquida

78

100

CÁLCULO DE RAÇÃO PARA CAPRINOS Situação: Lote de cabras com peso vivo médio de 40 kg. Produzindo 3,0 kg de leite/dia, com 4% de gordura. Estão no início de lactação e totalmente confinadas. Receberão 60 % de volumoso (previstos na primeira tentativa) Não estão ganhando peso. ♦ Primeira tentativa: MSI (g/dia) segundo o NRC (2007) é de 3,18 kg EXIGÊNCIAS (NRC, 2007) NDT g

EMMcal/kg

PM g

PB g

Ca g

Pg

Mantença Produção (3 kg)

530 1690

1,91 6,09

45 275

67 391

1,9 11,1

1,5 7,5

Total absoluto

2220

8,00

320

458

13

9

Total proporção

69,81

2,52

10,06

14,40

0,41

0,28

ALIMENTOS DISPONÍVEIS: Alimentos Feno rhodes Silagem sorgo Milho grão Far. arroz Far. algodão Far. soja Calcário Fosf. bicálcico

MS %

PB %

89,0 8,1 30,0 9,4 88,0 9,5 91,0 14,4 92,0 46,1 88,7 47,0 100 100 -

NDT

EM

%

Mcal/kg

59,0 58,0 87,0 70,0 76,0 88,0 -

2,13 2,10 3,00 2,53 2,75 3,18 -

Ca %

P %

FDN FDN % Efe%

0,59 0,41 64,2 0,27 0,15 60,8 0,02 0,24 13,4 0,08 1,70 33,0 0,18 1,21 28,9 0,34 0,70 14,1 37,0 22,0 18,0 -

Usar 3% de espaço de reserva (ER) = 0,03 * 3180 = 95,4g A parte volumosa da dieta será composta por 70:30 (silagem : feno); então: PB volumoso = (0,7 * 9,4) + (0,3 * 8,1) ⇒

PB volumoso = 9,01 %

NDT volumoso = (0,7 * 58,0) + ( 0,3 * 59,0) ⇒ NDT volumoso = 58,5 %

100 85 80 5 40 60 -

EM Mcal/kg

2,1 2,1 3,2 2,6 2,9 3,0 -

101

Ajustando as exigências para os 3% de espaço de reserva: como nesses 3% (95,4g) entrarão ingredientes que não possuem energia ou proteína, faz necessário ajustar as exigências relativas, assim temos: PB ajustada = 14,40 * 1,03 = 14,832% PB {igual a

[14,40 + (14,40 * 0,03)]}

NDT ajustado = 69,81 * 1,03 = 71,90% NDT Tendo-se fixado a relação vol:conc em 60:40, calcula-se a concentração de PB e NDT que o concentrado deve possuir: (0,60 * 9,01) + ( 0,40 * PB conc.) = 14,832 % PB PB conc. = 14,832 - 5,406 0,4

PB conc = 23,57%

(0,60 * 58,5) + (0,40 * NDTconc.) = 71,90 % NDT NDTconc. = 71,90 - 35,10 0,4

NDTconc. = 92,00% ??????

Pelos valores na tabela de composição de alimentos acima, não se pode fechar o cálculo com essa relação volumoso : concentrado. USAR RELAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONCENTRADO

Segunda tentativa: Relação volumoso : concentrado (40:60). Cálculo dos teores de PB e NDT no concentrado: (0,40 * 9,01) + ( 0,60 * PB conc.) = 14,83 % PB PB conc. = 14,83 - 3,604 0,6

PB conc = 18,71%

(0,40 * 58,5) + (0,60 * NDTconc.) = 71,90 % NDT NDTconc. = 71,90 - 23,40 0,6

NDTconc. = 80,83%

102

CALCULANDO POR PEARSON DUPLO NOS QUADRADOS 1 E 2 A PB FICARÁ NO CENTRO, SENDO QUE O PRIMEIRO TERÁ NDT MAIOR QUE A EXIGÊNCIA E O OUTRO MENOR - PREMISSA BÁSICA DO PEARSON. Q1 Milho 9,5

28,29

_ %

_NDT _

75,44

65,63

24,56 100,00

21,61 87,24 é maior

18,71 F. Soja 47,0

9,21 37,50

Q2 F.arroz 14,4

_

_NDT _

27,34

_ %

86,38

60,47

4,31 31,65

13,62 100,00

18,71 F. Algodão 46,1

Q3

%

Q1

87,24

10,35 70,82 é menor

_

10,01

60,96

6,41 16,42

39,04 100,00

80,83 Q2

70,82

Calculando a composição do concentrado na MS e da dieta: Total no concentrado 60,96 * 0,7544 = 45,99 * 0,57 60,96 * 0,2456 = 14,97 * 0,57 39,04 * 0,8638 = 33,72 * 0,57 39,04 * 0,1362 = 5,32 * 0,57

= = = =

Total na mistura final 26,21 % de milho 8,53 % de farelo de soja 19,22% de farelo de arroz 3,03 % de farelo de algodão 28,00% silagem sorgo 12,00% de feno de rhodes 3,00% ER

O valor 0,57 refere-se a 60% - 3% (ER)

103

CONFERINDO OS CÁLCULOS Qtdd na MN (g) ALIMENTO Feno rhodes Silag. Sorgo Milho grão Far. Arroz Far. Algodão Far. Soja Fornecido Exigências Diferença

% na MS 12,00 28,00 26,21 19,22 3,03 8,53

Qtdd na MS (g) 0,89 381,6 ÷ 0,30 890,4 ÷ 0,88 833,5 ÷ 0,91 611,2 ÷ 0,92 96,4 ÷ 0,887 271,3 ÷ 3084,4 3180,0 -95,6

428,76 2968,00 947,16 671,65 104,78 305,86 5426,21

PB (g) 30,91 83,70 79,18 88,01 44,44 127,51 453,75 458,00 - 4,27

NDT (g) 225,14 516,43 725,15 427,84 73,26 238,74 2206,56 2220,00 -13,44

Ca (g) 2,25 2,40 0,17 0,49 0,17 0,92 6,4 13,0 - 6,6

P (g) 1,56 1,34 2,00 10,39 1,17 1,90 18,36 9,0 + 9,36

FDN (g) 206,83 541,36 111,69 201,69 27,86 38,25 925,99 890,4 OK

O fósforo foi suprido a mais, mas a relação Ca:P está desfavorável. Então procura-se manter a relação Ca:P (2:1)

Sendo 0,5% para NaCl → 10,25 g

P na dieta é 18,36, mutiplicando-se por 2 tem o teor de cácio necessário na dieta:

81,95 + 10,25 = 92,2g

18,36 * 2 = 36,72 g de Ca devem estar na dieta.

Como o ER era de 95,4 g restaram ainda 2,3 g outros macrominerais para os microminerais e vitaminas.

Como a diet já fornece 6,4, então 36,72 - 6,4 = 30,32 g de Ca a suplementar: Completar o teor de cálcio: Ca CaCO3 100g → 37g x ← 30,32g x = 81,95 g CaCO3

CÁLCULO DE RAÇÃO PARA CAPRINOS Método algébrico com um alimento fixo

Situação: • • • • •

Lote de cabras com peso vivo médio de 40 kg. Produzindo 3,0 kg de leite por dia com 4% de gordura. Estão no início da lactação e totalmente confinadas. Não estão ganhando peso. MSI (g/dia) segundo o NRC (2007) é de 3,18 kg

EXIGÊNCIAS (NRC, 2007) NDT g

EMMcal/kg

PM g

PB g

Ca g

Pg

Mantença Produção (3 kg)

530 1690

1,91 6,09

45 275

67 391

1,9 11,1

1,5 7,5

Total absoluto

2220

8,00

320

458

13

9

Total proporção

69,81

2,52

10,06

14,40

0,41

0,28

ALIMENTOS DISPONÍVEIS: Alimentos

MS %

PB %

NDT

EM

%

Mcal/kg

Ca %

P %

FDN FDN % Efe%

EM Mcal/kg

Feno rhodes 89,0 8,1 59,0 2,13 0,59 0,41 64,2 100 2,1 Silagem sorgo 30,0 9,4 58,0 2,10 0,27 0,15 60,8 85 2,1 80 3,2 Milho grão 88,0 9,5 87,0 3,00 0,02 0,24 13,4 Far. arroz 91,0 14,4 70,0 2,53 0,08 1,70 33,0 5 2,6 Far. algodão 92,0 46,1 76,0 2,75 0,18 1,21 28,9 40 2,9 Far. soja 88,7 47,0 88,0 3,18 0,34 0,70 14,1 60 3,0 Calcário 100 37,0 Fosf. bicálcico 100 22,0 18,0 O proprietário pede que seja fixado o feno de capim de rhodes em 10 % da ingestão total de MS. Quanto de MS, PB, NDT o feno de rhodes fornecerá nessa dieta ? MS = 3180 g de MS total * 0,1 = 318 g de MS serão fornecidas pelo feno de rhodes (não precisa descontar o ER nesse caso), assim temos que completar 2767,5g de MS que vieram dessa conta [3180 – (318 + 94,5)]. PB = 318 g de MS do feno * 0,081 = 25,8 g de PB , assim temos que completar 432,2 g de PB que vieram dessa conta (458 – 25,8). NDT = 318 g de MS do feno * 0,59 = 187,6 g de NDT assim temos que completar 2032,4 g de NDT que vieram dessa conta (2220 - 187,6).

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

105

PARA USAR MAIS ALIMENTOS VAMOS FAZER PRÉ-MISTURAS PARA PRENCHERMOS O QUE FALTA NA DIETA

A. VOLUMOSOS: será usado 100 % de silagem, pois 10% já foram fixados no TOTAL de MS ingerida. B. ENERGÉTICOS: Usaremos 80 : 20 (milho : farelo de arroz) PB energéticos = (0,80 * 9,5) + (0,20 * 14,4) = PB = 10,48 %. NDT energéticos = (0,80 * 87) + (0,20 * 70) = NDT = 83,60 %. C. PROTÉICOS: Usaremos 50 : 50 (farelo de soja : farelo de algodão) PB protéicos = (0,50 * 47) + (0,50 * 46,1) = PB = 46,55 %. NDT protéicos = (0,50 * 88) + (0,50 * 76) = NDT = 82,00 %.

SERÁ USADO O SISTEMA DE EQUAÇÕES; COM TRÊS EQUAÇÕES E TRÊS INCÓGNITAS, SENDO A PRIMEIRA EQUAÇÃO PARA MS, A SEGUNDA PARA PB E A TERCEIRA PARA NDT. A + B + C = 2767,5g de MS ( equação I) 0,094 A + 0,1048 B + 0,4655 C = 432,2 g de PB ( equação II) 0,58 A + 0,836 B + 0,82 C = 2032,4 g de NDT ( equação III) Multiplicamos a equação protéica (C)

I

pelos coeficientes da pré-mistura

0,4655 A + 0,4655 B + 0,4655 C = 1288,27 (veio de 0,4655 * 2767,5) - 0,094 A - 0,1048 B - 0,4655 C = - 432,2 0,3715 A + 0,3607 B + 0 C = 856,07 (equação IV) 0, 82 A + 0,82 B + 0,82 C = 2269,35 (veio de 0,82 * 2767,5) - 0,58 A - 0,836 B - 0,82 C = - 2032,4 0,24 A - 0,016 B + 0 C = 236,95 (equação V) Aplicando sistema de equações em IV e V: 0,3715 A + 0,3607 B + 0 C = 856,07 ⇒ multiplico por 0,016 ⇒ já é negativo. 0,2400 A - 0,0160 B + 0 C = 236,95 ⇒ multiplico por 0,3607.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

106

TEMOS: 0,005944 A + 0,0057712 B = 13,6971 0,086568 A - 0,0051468 B = 85,4679 0,092512 A + 0 C = 99,165 ⇒ A = 1071,92kg de MS de silagem de sorgo Substituindo A em IV (poderia ser em V, uso IV para evitar o negativo) 0,3715 A + 0,3607 B = 856,07 (0,3715 * 1071,92) + 0,3607 B = 856,07 B = 856,07– 398,22 0,3607

⇒ B = 1269,34 g de MS da pré-mistura energética então: 1269,34g * 0,80 = 1015,47 g de MS de milho 1269,34 g * 0,20 = 253,87 g de MS de farelo arroz

Substituindo A e B na equação I (da MS), temos: A + B + C = 2767,5g C = 2767,5g – (1269,34 + 1071,92)

C = 426,24 g da pré-mistura protéica

ou seja: 213,12 g de MS de farelo de soja e 213,12 g de MS de farelo de algodão

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

107

MANEJO DAS PELES

Os caprinos fornecem média 400 - 800g de pele seca ( 1200 - 1600g de pele verde), sendo que para o produtor nordestino o valor comercial de uma pele equivale a 1/3 o valor do animal. Apesar deste alto valor, o produtor nordestino, em média, arca com desperdícios de peles na ordem de 60%, advindos, principalmente, das falhas no beneficiamento. Vários e importante tipos de couros são fabricados com as peles caprinas: as camurças, marroquins para artesanatos finos, pergaminhos e algumas pelicas. As peles possuem alto brilho e porosidade visível, além de serem muito macias, possuírem elasticidade, resistência e contextura.

4. ETAPAS DO PROCESSAMENTO DAS PELES

4.1. ABATE E ESFOLA Deve-se evitar contaminação com sangue. fezes, urina e conteúdo ruminal. Para tanto os animais devem estar em jejum de 24 horas; bem como submetê-los a um banho com água fria antes do sacrifício. Após atordoado ou terem a medula seccionada na articulação atlanto-occiptal, os animais serão dependurados com a cabeça para baixo, após sangrados e desarticulados inicia-se a esfola. A esfola inicia-se pela porção cranial. Fazendo-se uma incisão na base das orelhas, indo ao ângulo mandibular, para que tenha-se um corte circular a nível de pescoço. Nos membros posteriores o corte da pele dá-se na face medial (interna), até o nível dos jarretes e joelhos. Executa-se o corte sagital medial (linha ventral do animal) e depois na linha medial das fases internas dos membros, até atingir a linha sagital medial já cortada. Puxa-se a pele para baixo com as duas mãos; e com o punho firme e fechado, forçando a região abdomino-ingnal tem-se o fácil descolamento da pele, principalmente em animais jovens. A utilização injeção de ar nas áreas de corte circular ou mesmo bater nos animais (prática comum no nordeste) provoca edemas e compromete o processo. Usa-se facas bem afiadas e sem pontas, evitando-se maiores danos à pele. O local deve ser seco, limpo e arejado para assegurar melhor qualidade do trabalho executado.

4.2. LAVAGEM DA PELE Após a esfola, o carnal deve ser lavado e em seguida procede-se o descarne (retirada do músculo subcutâneo e gordura), evitando-se que contamine os pelos.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

108

4.3. DESCARNE a) Em mesas apropriadas, limpas e secas. Preferencialmente com superfície abaulada de madeira ou metálica (tronco de árvore grosso, lixado e com superfície lisa). b) Outro instrumento é o banco de descarne. c) Máquina de descarne. Torna-se fundamental retirar toda cutícula, carne e gordura presentes na face carnal, pois irá facilitar o curtimento, engraxe e tintura, além de que se estas porções forem mal retiradas pode predispor à putrefação.

4.4. PROCESSO DE SECAGEM (CURA)

Após lavada e descarnada deve ser aberta (esticada) em grades ou quadros próprios, evitando-se usar varas para isto. Dar preferência às grades com tela, que possuam ganchos ou prendedores suspensos por molas ou borrachas, caso contrário usar cordas para esticar a pele. Secar à sombra e em locais bem arejados, ventilados e sem radiação solara direta. Depois de seca procede-se o reborde no pescoço e membros (retirada da parte mais grossa da pele nestas partes - geralmente devido ao processo de secagem estas engrossam mais que o normal).

4.5. SALGA A SECO OU SALMORAGEM Serve para paralisar os processos de decomposição (microbiana ou autolítica). Salmoura obtida com 200 g de NaCl em 1000 ml de água (20º Be = Baumé), usando-se mais ou menos 3 litros de salmoura/Kg de pele, para conservar deve ficar por até uma semana. Usar sal não muito grosso nem muito fino (3mm). A quantidade de sal não deve ser inferior a 50% o peso das peles, colocando-se camadas de sal e pele intercaladas (até 0,65 m de altura); 20% de sal pode estocar entre 1-3 meses, 30-40% de sal estoca por 4-6 meses, 50-60% de sal garantem até 3 anos (36 meses) de estocagem. Usar sal por tempo acima destes pode provocar manchas dos sal (vermelhas, azuis, arroxeadas, etc); já a salmoragem em excesso dá à pele uma consistência pastosa.

4.6. CURTIMENTO

Lavar as peles com água e deixar escorrer por aproximadamente 30 minutos. • Solução usada para o curtimento: - 50 g de alúmen de potássio (pedra ume) + 30 g de NaCl + l litro de água para cada Kg de pele. Neste caso deixa-se as peles com o carnal para cima e imersas na solução

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

109

por 24 horas, quando então são retiradas, limpas com as mãos, retirando-se a carne que persistiu ao descarne. Volta-se ao molho (remolho) por 48 horas. Retira-se as peles podendo bater a face do carnal como se faz com as roupas, até que fique macia. Passar uma toalha felpuda em ambas as faces e colocar para secar à sombra. Durante a secagem, passar a pele numa quina de mesa ou na borda não cortante do banco de esfola (amacia), sempre na face do carnal. O acabamento pode ser com talco ou cal (fubá dá bons resultados) para retirar a umidade excessiva nas duas faces. Coloca-se talco nas duas faces e escova-se. Por fim, lixa-se o carnal e passa-se ao acabamento.

4.7. ACABAMENTO Escova-se com cerdas duras a flor e o carnal, retirando-se o excesso de material curtente. Após estar esticada em quadro ou pregada nas molduras, procede-se o enxugamento com pano. A seguir faz-se o amaciamento, friccionando a face carnal contra a lâmina ou amaciador (no CETEC o pessoal recomenda um disco de grade ou arado). O amaciamento inicia-se pela região do pescoço, vai circulando até o centro da pele. No sentido do comprimento da pele. Depois, a pele com o carnal para cima em superfície plana e lisa, procede-se o lixamento (lixa mais grossa no início e depois a mais fina). Últimos procedimentos: a) Aparar com faca afiada as bordas (furos, buracos, pregos, etc...). b) Escovar a flor da pele com escova de cerdas duras e depois com escova para sapatos. c) Usar talco para retirar odor resquicial, podendo ser de ambos os lados da pele. O uso de sais de cromo também é viável, usando-se fulão e caixa de remolho. ⇒ Dados de FRANCA - SP: Em 1981 foram exportadas 8 milhões de dólares em peles, no entanto se exportássemos os produtos elaborados (e não a matéria-prima) esta cifra seria de 240 milhões de dólares.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

110

HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO DE OVINOS PELO HOMEM

Classificação zoológica dos ovinos:

Classe: Mammalia Ordem: Artiodáctila Sub-ordem: Ruminantia Família: Bovidae Sub-família: Caprinea Gênero: Ovis Espécie: Ovis aries

Os pequenos ruminantes foram domesticados entre 7 e 10 mil anos. A disseminação dos ovinos pelo globo deveu-se a: - Atendimento das populações de diversas regiões nas suas variadas necessidades; - Influência dos fatores ambientais e de manejo que atuaram decisivamente na determinação do tipo (morfologia e aptidão); - Facilidade de domesticação e/ou transporte destes animais, aliados à facilidade de adaptação a locais impróprios a outras espécies.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

111

Principais países produtores de ovinos no mundo Ordem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

País China Austrália Índia Irã Sudão Nova Zelândia Reino Unido África do Sul Turquia Paquistão Espanha Nigéria Argélia Marrocos BRASIL Peru Rússia Síria Argentina Mongólia Etiópia Itália Cazaquistão Uruguai França Grécia Mauritânia Bolívia Arábia Saudita Uzbequistão Indonésia TOTAL MUNDIAL

Rebanho (cabeças x 1000) 143.793 98.200 59.000 53.900 47.000 39.250 35.729 29.100 27.000 24.600 23.813 22.500 17.300 16.743 14.182 14.100 13.728 13.500 12.450 11.797 11.450 10.950 9.920 9.780 9.204 9.100 8.700 8.596 8.290 8.200 8.133 1.024.040

Percentagem 14,04 9,59 5,76 5,26 4,59 3,83 3,49 2,84 2,64 2,40 2,33 2,20 1,69 1,63 1,38 1,38 1,34 1,32 1,22 1,15 1,12 1,07 0,97 0,96 0,90 0,89 0,85 0,84 0,81 0,80 0,79

Fonte: FAO (2003)

RAÇAS OVINAS 1. RAÇAS DE OVINOS ESPECIALIZADAS PARA LÃ FINAS Os Merinos espanhóis serviram de principal material genético para desenvolvimento de outros Merinos pelo mundo: RAMBOUILLET e PRECOCE na França, ELECTORAL na Alemanha, NEGRETTI na Áustria, VERMONT, DELAINE e RAMBOUILLET AMERICANO nos Estados Unidos, MERINO AUSTRALIANO e POLWARTH ou IDEAL na Austrália e MERINO ARGENTINO. Na região de

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

112

Cartegena (Espanha) estavam os primeiros produtores de lãs, provavelmente introduzidos pelos árabes, e que mais tarde seriam levados para a Itália e Grécia, somente após o século XVIII pois haviam leis espanholas que proibiam a exportação destes animais.

1.1. MERINO RAMBOUILLET (Maior e mais robusto que o Espanhol)

Origem: Província de Rambouillet na França, tendo sido importado da Espanha em 1786, melhor uniformidade e produção de lã e maior produção de carne (36,5 x 54 Kg). Características raciais:- Corpo de conformação retilínea e longilínea; - Cabeça larga, forte e curta, perfil convexo; - Chanfro largo; fronte larga e convexa, com lã envolvendo as orelhas, órbitas oculares e arcos mandibulares; - Orelhas pequenas a médias; - Chifres em espiral nos machos e fêmeas mochas. - Pescoço curto, largo e com presença de grossas rugas; - Membros curtos e fortes, cobertos de lã; - Altura entre 65 - 75 cm; - Mucosas róseas e cascos claros (todos os Merinos);

Características zootécnicas: Produção de lã: velo do macho: 8 a 11 Kg e da fêmea: 5 a 6 Kg. O velo recobre todo o corpo, do nariz aos cascos. Lã abundante, fina, elástica, macia e resistente; apresenta mechas quadradas, 6-10 cm de comprimento e 19 a 24 micras de diâmetro. (PROBLEMAS DE TOSQUIA NO RS) Peso: machos: 90 Kg e fêmeas: 55 Kg. Prolificidade: 125-150%

1.2. MERINO AUSTRALIANO

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

113

Origem: Introduzido na Austrália em 1794 a partir da África do Sul. Provável formação racial (25% Merino Espanhol + 40% Vermont + 30% Negretti e Electoral + 5% Rambouillet). Características raciais:- Corpo harmonioso, com garupa arredondada; - Cabeça larga, tamanho mediano, perfil convexo, focinho forte e boca larga; - Orelhas curtas e vigorosas; - Chifres com base triangular, ± espiralados (fêmeas mochas ou pequenos bananas; - Supra-nasais unidas em arco com rugas transversais nos machos; - Membros fortes e cobertos de lã. Desclassificantes: presença de pelos no velo, pelos curtos brancos ou cor canela nos membros; chifres lisos. Características zootécnicas: Produção de lã: velo denso e uniforme por todo o corpo, com lã muito branca e de extrema suavidade ao tato, resistente. Peso do velo de 7-10 Kg borregos; 9-19 Kg carneiros e de 3,5 a 4,5 Kg ovelhas. Comprimento de 7-13 cm e 12 a 23 micras de diâmetro. Suarda abundante. - Bem adaptado às condições naturais e ao sistema de exploração extensiva.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

114

1.3. IDEAL (POLWARTH) Origem: condado de Polwarth no sul da Austrália em 1880. A partir de cruzamentos entre Merinos x Lincoln: Fêmeas Merino x Machos Lincoln

⇓ Fêmeas 1/2 ML x Machos Merino



(No Brasil em 1913 via Cone Sul)

3/4 ML x 1/4 Lincoln (5ª geração) Características raciais: - Corpo comprimento médio e peito proeminente; - Cabeça mediana, larga e forte; cara sem lã nos olhos; - Orelhas médias e bem separadas; - Focinho róseo, forte e largo (pequenas manchas marrons); - Pode ter variedade mocha. Características zootécnicas: -Produz borregos com razoável cobertura de carne; - Suporta pastagens mais pobres; - É a mais rústica e precoce das raças lanígeras; - Produção de lã: qualidade superior às raças anteriores, fibras com diâmetro reduzido (23 a 26 micras) e ondulações pronunciadas. Cor branca ou marfim, suave ao tato e de aspecto sedoso.

2. RAÇAS MISTAS PARA PRODUÇÃO DE LÃ E CARNE À medida que os ovinos distanciam-se da aptidão lanígera, elevam-se suas necessidades nutricionais. Apresentam maior tendência para produção de carne e com isto o diâmetro das fibras tornam-se maiores (correlação negativa: lã x carne). 2.1. CORRIEDALE

Origem: Fazenda de Corriedale na Nova Zelândia (1867-1879). Surgiu do cruzamento de Fêmeas Merino com Machos Lincoln:

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

115

Fêmeas Merino x Machos Lincoln

⇓ 1/2 ML x 1/2 ML

⇓ CRUZAMENTO CONSANGÜÍNEO -Em 1911 foi reconhecida como raça. Características raciais:- Corpo harmonioso para lã e carne, tronco cilíndrico, ligeiramente compacto; - Peito amplo, profundo e proeminente; - Cabeça larga e forte, sem chifres e sem lã na cara, só um topete. Focinho escuro; - Orelhas médias, bem implantadas (evitar orelhas caídas). Características zootécnicas:- Velo geralmente pesado, volumoso e uniforme, com lã lustrosa. Mecha compacta e definida, com ondulações bem marcadas e uniformes; diâmetro da fibra 27 a 32 micras; - Peso do velo: carneiros: 8-9 Kg, rebanho geral: 4 Kg. - Lã com grande uniformidade: bom valor comercial, exceto a pequena dificuldade no tingimento.

2.2. ROMNEY MARSH

Origem: Condado de Kent no extremo Sul da Inglaterra. Registro 1897. Características raciais:- Cabeça coberta por pelos brancos, pescoço curto e largo, lábios pigmentados; - Tronco reto, largo e medianamente comprido; - Peito profundo e algo saliente; - Membros curtos e desprovidos de lã; cascos negros.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

116

Características zootécnicas:- Boa rusticidade, grande adaptação a regiões úmidas; - Produção de lã: comprida e semi-lustrosa (12-16cm); Peso do velo: rebanho geral: 3 a 5,5 Kg, 6 a 10 Kg para confinados. Diâmetro da fibra 34 a 40 micras. - Produção de carne: cordeiros precoces, adultos produzem até 40 Kg (bom rendimento); pouca quantidade gordura. - Fêmeas prolíferas mas com baixa habilidade materna; - Usados para cruzamentos com raças crioulas.

2.3. LINCOLN

Origem: Condado de Lincoln na Inglaterra, seu melhoramento iniciou-se no século XIX, em cruzamentos com Leicester e posterior pressão de seleção. Características raciais:- Cabeça larga e chata, com grande topete, sem chifres; membros fortes e compridos, com cascos pretos; peito amplo e profundo, garupa arredondada, ampla e em harmonia com o lombo. Características zootécnicas:- Produção de lã: velo por todo o corpo, lã grossa e de maior comprimento dentre as raças mistas (38-55 micras 25-30 cm). Peso do velo: carneiros: 15-20 Kg, rebanho geral: 5-6 Kg. Mechas em cachos pontudos de cor creme claro a amarelo ceroso. - Produção de carne: Machos até 120 Kg e fêmeas: 100-120 Kg, cordeiros 4 meses: 35 Kg. - Ovelhas muito prolíferas e boa habilidade materna; - No RS não tem apresentado bom desenvolvimento.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

117

2.4. MERILIN

Origem: Uruguai Características raciais: - Corpo volumoso, cilíndrico e conformação harmoniosa; pescoço maciço e levantado. Características zootécnicas: - Alta rusticidade; cordeiros precoces para abate; - Produção de lã: velo uniforme e denso, com fibras bem onduladas; diâmetro oscilando de acordo com a idade; - Sua lã de barriga também é de boa qualidade, o que eleva seu rendimento.

3. RAÇAS DE OVINOS ESPECIALIZADAS PARA CORTE As características gerais dos ovinos especializados para corte são: animais compactos com evidenciado arqueamento de costelas, linha dorso lombar e garupa com boa cobertura muscular (aspecto de barril), grande velocidade de ganho de peso, lã apresenta-se de qualidade inferior, engloba as raças conhecidas como "cara preta", dentre outras. Assim em criações cujo objetivo for apenas o corte, compensará ter raças especializadas, bem precoces e que alcancem rapidamente pesos elevados.

3.1. SOUTHDOWN

Considerada como o "carro-chefe" das produtoras de carne. Origem: Inglaterra - região dos montes calcários Sussex. A seleção iniciou-se na 2ª metade do século XVIII, dando prioridade para animais compactos, brevilíneos e atarracados; em 1891 fundou-se a 1ª Associação da Raça.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

118

Peso: Carneiros: 100 - 110 Kg (mais comum 80-90 Kg); ovelhas: 60-65 Kg; cordeiros: 20-30 Kg com 3 meses, aos 6 meses atingem entre 40-45 Kg. Características Zootécnicas: -Ovelhas prolíferas, apresentando-se aptas para a reprodução com aproximadamente 1 ano; - Boa habilidade materna; - Produz carne fina e saborosa, de 1ª qualidade; - Exigente em termos nutritivos, necessitando de boas pastagens e com aguadas bem distribuídas (não suportam caminhadas longas); - Machos muito usados em outros rebanhos; - Entrou na formação da maioria das raças de corte; - Produção de lã aproximadamente 2,5 Kg. Características Físicas: - Cabeça larga com orelhas levantadas; - Pescoço largo e curto; - Corpo baixo, perfeitamente retangular e compacto; - Cara com fibras curta acinzentadas (pelo de rato).

3.2. ILE DE FRANCE

Origem: Em Ile de France (França). Cruzamento de Leicester x Merino. Características Zootécnicas: - Animais pesados e precoces; - Sua lã é a melhor dentre as raças de corte (UEM), de amerinada a prima B, mas tem fibras hetrerotípicas (Kemps); - Desenvolve-se bem em condições intensivas; - Últimos animais a serem importados para o RS. Características Físicas: - Pelagem branca opaca, com cara destapada (sem lã); - Cabeça comprimento médio, forte e mocha, perfil reto; - Tronco amplo, grosso e arredondado.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

119

3.3. TEXEL

Origem: Ilha de Texel na Holanda Características Zootécnicas: - Animais com alta fertilidade e bastante precoces; - Rápido ganho de peso e carcaça com pouca gordura; - Apresenta lã de boa qualidade, mas inferior à da Ile de France; - Boa adaptação no Brasil (Cidade Gaúcha/PR, UEM); - Cara sem lã: aspecto peculiar de colete ao redor do pescoço, membros também sem lã. Características Físicas: - Ossatura forte; - Corpo harmonioso e musculoso, ligeiramente longilíneo - Focinho é sempre escuro; - Membros, cabeça e nuca cobertos de pelos finos e brancos.

3.4. SUFFOLK

Conhecida como ovelha da "cara preta", por apresentar a cabeça e orelhas inteiramente pretas, assim como as extremidades dos membros. Origem: - Sudeste da Inglaterra - Condados de Suffolk, Norffolk, Cambridge e Essen; - Ovelhas Norffolk x Carneiros Southown; - Reconhecida como raça em 1810. Peso: Superam facilmente os 100 Kg (adultos), aos 7 meses 40 Kg. Características Zootécnicas: - Grande precocidade e rusticidade (extensiva); - Facilidade para ganhar peso, carne sem gordura excessiva; - Ovelhas prolíferas (120 - 130% nascimentos) e com boa habilidade materna; - Produz ± 2,5 Kg de lã branca, fina de má qualidade

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

120

- Crescimento no número de animais registrados. Características Físicas: - Cabeça grande, mocha, com pelos negros; - Corpo longo, largo e musculoso; - Membros bem aprumados, fortes e ligeiramente separados. Extremidades pretas.

3.5. HAMPSHIRE DOWN

Origem: Surgiu na Inglaterra a partir de cruzamentos - Wiltshire x Berkshire Knots e seus produtos com Southdown. Consangüinidade e seleção (1840). Peso: atinge 50 Kg com seis meses de idade em boas condições. Características Zootécnicas: - Ovelhas com boa produção leiteira: bons cordeiros - Indicada para cruzamentos industriais com nativas; cordeiros com bom ganho de peso; - Partos duplos são raros; - Bom rendimento de carcaça (60%); - Lã fina e curta, atinge até 5 Kg (pior qualidade); - Representa 1,6% dos animais tatuados no RS. Características Físicas: - Cara, orelhas e membros pretos; - Animais grandes e rústicos (suportando regiões planas e montanhosas, terras baixas e ligeiramente úmidas); - Pescoço forte e musculoso, corpo profundo e musculoso

3.6. SHROPSHIRE

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

121

Origem: É a única raça de "cara negra" originária do leste da Inglaterra (condado de Shropshire). Admitida como raça em 1859. Porte: maior que a Southdown e menor que a Hampshire e menor que a Oxfordshire. Características Zootécnicas: - Grande rusticidade: adaptabilidade favorável a condições de campos secos ou úmidos (extensiva); - Muito usada para cruzamentos; - Boa prolificidade (120 a 130%); - Cordeiros precoces; - Lã de má qualidade como nos demais de cara negra Características Físicas: - Cabeça larga, mocha e lisa; coberta de lã até o focinho, cujo nariz é fino e negro; - Peito largo e profundo; - Corpo bem desenvolvido e compacto; - Posterior cheio e arredondado.

3.7. DORSET HORN

Origem: É uma das mais antigas raças inglesas - Condados de Dorset e Somerset. Peso: Carneiros : 100 a 110 Kg; Ovelhas: 50 a 60 Kg, Cordeiros: (3 meses): 20 a 30 Kg. Características Zootécnicas: - A mais rústica das "caras negras"; - Excelente prolificidade: pode superar 150%; - Corpo cilíndrico e bem musculoso; - Velo pouco extenso e de baixa qualidade. Características Físicas: - Apresenta chifres em machos e fêmeas; - Cara limpa de lã e com pequeno topete até altura dos olhos; - Membros curtos e sem lã até joelho e jarrete.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

122

3.8. OXFORDSHIRE Origem: Condado de Oxfordshire na Inglaterra; cruzamento de ovelhas Hampshire com machos Costwold. Considerado raça em 1862. Porte: É a de maior porte entre as de cara negra, bem como a de lã mais comprida. Características Zootécnicas: - Exigente nutricionalmente (porte grande); - Lã de comprimento similar à Lincoln (7 a 12 cm), algumas fibras negras no velo; - Carne com gordura mal distribuída (sabor ruim); - Ovelhas prolíferas e ótimas leiteiras; - Bom ganho de peso dos cordeiros como maior virtude. Características Físicas: - Cabeça grande, mocha e com topete altura dos olhos; - Cara negra e sem lã; - Corpo grande e cheio, costelas amplas e arqueadas; - Linhas dorso-lombar e ventral em harmonia. 3.9. DORPER

Nos anos 30 a raça Dorper começou a ser desenvolvida, isto pela necessidade de se produzir uma carcaça de alta qualidade. Durante esse tempo de desenvolvimento o Departamento Sul Africano procurou: 1. Animais resistentes à zona árida; 2. Animais que reproduzam e criem filhotes de modo aceitável; 3. Borregos com bom desenvolvimento; 4. Boa produção leiteira, com alto teor de gordura; 5. Leve cobertura de lã para proteger da radiação solar; 6. Alta fertilidade e habilidade materna. Foram cruzados animais da raça Black Head Persian, resistente a seca e com alta prolificidade, e Dorset Horn, que apresenta boa carcaça. Características Zootécnicas: - Essencialmente produtor de carne; - Animal robusto; - Machos apresentam peso quando adultos de 90 a 130 Kg de PV e as êmeas chegam até 90 e 100 Kg de PV;

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

-

123

Cordeiros atingem 35 a 40 Kg de PV aos 3 ou 4 meses, apresentando carcaças com 16 a 20 Kg , com 54% do PV em carne; - As fêmeas apresentam até 150 % de prolificidade.

Características físicas - Pescoço e cabeça escuros (preto ou vermelho) e restante branca; - Existe o Dorper variedade branca (White Dorper); - Pode apresentar pequena quantidade de lã e esta é de má qualidade; - Animais mochos. 4. RAÇAS ESPECIALIZADAS PARA A PRODUÇÃO DE PELES

Neste grupo destacam-se as raças deslanadas do Nordeste brasileiro, consideradas como nativas. Apresentam-se com considerável produção de carne e em alguns casos também de leite.

4.1. MORADA NOVA

Origem: Descendentes do ovinos Bordadeiros de Portugal ou de raças africanas, foi primeiramente descrita no Município de Morada Nova (CE).

Características raciais:- Pelagem vermelha ou branca com manchas vermelhas; - Deslanados; cauda com extremidade branca; - Cabeça larga, alongada, com perfil sub-convexo; mochas; orelhas pendentes em forma de concha (± 9 cm); presença ou não de brincos; - Tórax profundo e costelas pouco arqueadas; linha dorsal cortante; ventre pouco desenvolvido; - Pele escura e cascos pretos. Características zootécnicas:- Peso: machos: 38-40 Kg e fêmeas: 30-32 Kg. - Pele elástica, macia e resistente.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

124

4.2. SANTA INÊS

Origem: Nordeste brasileiro, formada pelo cruzamento de fêmeas Morada Nova ou Crioulas com carneiros Bergamácia. Selecionadas inicialmente pelo porte e ausência de lã.

Características raciais:- Pelos brancos, vermelho, chitado (branco e vermelho ou preto) e preto; - Tronco, peito e membros vigorosos, porte grande; - Cascos escuros ou brancos, seguindo as mucosas oculares e nasais. Desclassifica: Mucosas despigmentadas ou cascos brancos em animais chitados. Porte pequeno; ossos finos; presença de chifres; perfil ultraconvexo. Características zootécnicas: - Peso: animais com 6 meses: 40 Kg; machos adultos: 80 Kg; fêmeas adultas: 60 Kg. Pode atingir mais de 100 Kg. - Produzem boa carne; - Partos duplos são freqüentes, ovelhas com boa habilidade materna e produção leiteira.

4.3. RABO LARGO

Origem: Presentes na Bahia, provenientes do cruzamento de ovinos africanos com Crioulos. Características raciais:- Pelagem branca, vermelha ou chitada; sem lã; - Cauda volumosa, ancestrais tinham cauda em S; - Porte mediano.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

125

Características zootécnicas:- Peso: machos: 45 Kg e fêmeas: 30 Kg; - Bastante rústicos.

4.4. SOMALIS BRASILEIRA

Origem: Vindas da Ásia Central chegaram ao País em 1960 (RJ). Características raciais: - Porte médio e pouca lã; - Cabeça e pescoço pretos (às vezes pardos) e resto do corpo chifres; - Cauda gorda (lipídeos): reservas para escassez; Características zootécnicas: - Carne saborosa; bom ganho de peso e rendimento; - Peso: machos: 40-60 Kg e fêmeas: 30-50 Kg; - Pele produz ótima pelica; - Apresenta a menor mortalidade dentre os deslanados.

4.5. KARAKUL

Origem: Estepes áridas da Ásia Central (Turquestão). Características raciais: - Porte médio; - Membros finos, pretos e compridos; com cascos pretos; - Cara preto e bem estreita; orelhas finas, compridas e pendentes; - Machos armados e fêmeas mochas. Características zootécnicas:- Produz carne, lã (2-3 Kg) e leite: Pele cordeiros é a principal;

branco; sem

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

126

- Produção leiteira entre 0,7 e 1,0 Kg (Rússia); - Velo com fibras grossas e compridas (12-15 cm)

5. RAÇAS PRODUTORAS DE LEITE

5.1. BERGAMÁCIA ( BERGAMASCA OU BIELESA)

Origem: Norte da Itália, chegou ao Brasil via Bahia. Características raciais: - Orelhas grandes, largas e pendentes; - Cabeça pesada; - Fronte estreita e saliente, perfil convexo; - Pernas compridas e articulações fortes; - Altura: 80 cm.

Características zootécnicas:- Produção leiteira média de 250 Kg/6 meses lactação; - Ganho de peso é alto nos cordeiros: 12 Kg (1º mês vida), 130-140 Kg (18-24 meses de idade), com rendimento de 50%. - Lã de baixa qualidade, branca, espessura mediana e bem ondulada; produção de 3 Kg. - Pouco exigente quanto à alimentação e ambiente: facilidade para adaptação ao Nordeste Brasileiro; - Queijos sofisticados.

5.2. LACAUNE

Origem: Maciço central francês (1870) - Queijo Roquefort.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

127

Características zootécnicas:- Aptidão leiteira acentuada; - Produção leiteira média 1,5 Kg/dia (150-200 Kg/lactação), com 8% de gordura; - Produz até 2 Kg de lã; - Peso: machos: 90 Kg e fêmeas: 60 Kg.

5.3. WILSTERMARCH Origem: Norte e nordeste da Alemanha. Características raciais:- Porte grande, posterior amplo para implantação do úbere - Cabeça grande e comprida, com pelos brancos até a nuca, orelhas grandes e sem lã; - Tronco comprido e anguloso; tórax amplo, costelas arqueadas. - Animais rústicos e adaptados a ambientes úmidos. Características zootécnicas:- Produção de leite entre 70-100 Kg/lactação, com 6% de gordura; - Produção de lã: velo com 3-4 Kg.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

128

INSTALAÇÕES PARA OVINOS

Constituídas basicamente de cercas, piquetes, apriscos, curral de manejo ou centro de manejo, banheiro anti-sárnico, galpão de tosquia e creche.

1. ABRIGOS: Os mais rústicos constituem-se de galpões simples em ½ água, com piso também ripado e distante 1,0 m do solo. Orientação leste-oeste com proteção dos ventos sul. Há também as proteções naturais com vegetação ou pedras amontoadas, sempre numa disposição de dois semicírculos dispostos frente a frente, podendo ou não serem cercados para evitar predadores.

2. APRISCOS (ESTÁBULOS OU CABANHAS): Destinados mais às matrizes e reprodutores, ou usados em regiões que tenham invernos mais rigorosos, por menor que seja sua duração, ou ainda para proteger os animais de predadores (cães e amigos do alheio). Podem ter paredes até 1,0 -1,5m de altura, com o restante acima semifechado com gradil ou grandes janelas que se abrem para fora (tipo alçapão), pé direito de 2,50m, coberta preferencialmente com telhas de barro ou fibrocimento. Área de 1,5m2/cab. 3. CURRAIS DE MANEJO (CENTRO DE MANEJO): São curraletes com 1m2/cab quando os animais ficarem recolhidos à noite, caso contrário calcular 0,3-0,5m2/cab, neste local faz-se a vermifugação, caudectomia, marcação e assinalamento, casqueamento, desmama e eventuais curativos. Sua localização deve ser estratégica. No final da seringa possui um corredor de imobilização, com ou sem reversão, com tronco de contenção. A altura é 0,9 -1,0m, seu piso tem 0,3 de largura e sua parte superior 0,5m. As porteiras geralmente são dispostas nos cantos. 3.1. Tronco de contenção: feito em tábuas cujas porta são de correr (parecido com o de bovinos). Sua altura interna é de 0,85m, largura interna 0,45m e pode medir entre 6-10m de comprimento. 3.2. Pedilúvio: construído em cimento queimado (liso) no piso do tronco, com ligeira declividade e profundidade entre 0,10-0,15m. 3.3. Banheiro sarnicida e escorredouro: usado para rebanhos com mais de 50 cabeças, caso contrário usar pulverizadores. pode ser circular ou retilíneo, cuja extensão oscila entre 4-15m, com ou sem comporta de contenção. Dimensões: 0,60 de largura; 1,20m de profundidade; acima de 10 m de comprimento sem comporta, com 4 m deve ter comporta; capacidade para ± 2500 l de calda. Possuir escorredouros acoplados ao banheiro para recuperar a calda, e uma pequena área para os animais se movimentarem e secarem até ao entardecer. Banheiro mais escorredouro devem ser cobertos (evita diluição com águas das chuvas).

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

129

3.4. GALPÃO DE TOSQUIA: Em alvenaria ou madeira, cujo telhado deve ter um beiral amplo (> 1,0m), bem ventilado (qualidade da lã e conforto para animais e trabalhadores) e iluminado; local seco e limpo para não prejudicar a lã. possui as subdivisões: - Corredor de espera: evita que os animais cheguem suados para a tosquia, facilitando a tosa da lã. - Boxes contíguos ao corredor de espera para separação dos animais. - Área de tosquia: ter um estrado limpo, possuir as máquinas de tosquia com uma mesinha. - No lado oposto aos boxes de espera tem os boxes dos animais tosquiados, - Mesas de classificação e amarração dos velos, tronco de enfardar, balança, sacarias ou engradados para colocação das lãs. - Depósito para lã já classificada. -Depósito para lã enfardada. - Depósito de materiais diversos.

3.5. CRECHE: Quando se fizer necessário deverá ser construído junto ou separado aos apriscos, sendo mais fechados e providos de fonte de aquecimento artificial para os recém-nascidos. Usar ente 0,3-0,5m2/cab.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

130

MANEJO GERAL DOS OVINOS

1. MANEJO DA OVELHA: - Estação de monta ideal é de 4 a 6 semanas, podendo atingir 8 semanas. Promover o desolhe antes de iniciar a estação. (Fev-abril ou ago-set). - A lactação pode atingir até e meses, no entanto convém trabalhar com desmama aos 2 meses, se possível com um mês, deve-se evitar ao máximo o desmame natural a campo (6 meses) por ocasionar um grande desgaste à ovelha. - Descanso sexual de 3 meses. - Flushing alimentar um mês antes do início da estação de monta, principalmente para ovelhas mais magras e sentidas, aumenta a taxa ovulatória em até 60%, com aproximadamente 25% de partos duplos e 5-10% de triplos. - Cuidados na alimentação durante o 4º mês de gestação. - Cascarreio feito um mês antes do parto, alguns produtores também recomendam desolhe. - Manejo de luz quando necessário: deixar as ovelhas e o carneiro na luz natural das 8 às 16h, após isto serão conduzidos para um galpão totalmente escuro, dentro de 18 a 25 dias apresentarão cio. - Manejo de rufiões e carneiros para detecção e estímulo do cio.

2. MANEJO DOS CORDEIROS: - Colostro crucial nas primeiras 6 horas de vida, depois pode deixar a vontade ou adotar sistema de mamadeira, congelando o excedente para eventualidades. - Castração: feita entre 15 e 35 dias, com animais mais erados corre-se maiores riscos - Descole, derrabagem ou caudectomia: feita juntamente com a castração. Pode ser cirúrgica, com ferro quente ou com anel de borracha colocado com elastrador, quando procedida entre 24 e 48h de vida, há a queda da cauda dentro de 7-10 dias. Os macho ficam com 5 cm enquanto as fêmeas com 10 - 15cm (diferenciação a campo). - Sinalamento: usa-se tatuagem no pavilhão auricular esquerdo, brincos plásticos o metálicos; mas há também aqueles com cortes específicos de cada propriedade. Marca zootécnica e/ou da propriedade. - Marcação: é aquele com tinta no costado ou ancas dos animais, devendo durar de 6 meses a 1 ano. Tem por finalidade classificar os animais do rebanho quanto à qualidade da lã, descendência, nível produtivo, etc. - Manejo alimentar já tratado anteriormente.

3. MANEJO DO CARNEIRO: - Tosquia da bolsa escrotal e entre-pernas antes da estação de monta, nos meses mais quentes é fundamental. Cuidados entre 6 a 8 meses antes da estação de monta: - Fazer exame andrológico antes da estação. - Observar condições de cascos, bicheiras e alterações testiculares.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

131

- Suplementação alimentar com feno e/ou concentrados. - Providenciar duas everminações, sendo a última antes do acasalamento. - Piquete com boas pastagens e aguadas. - Manter fichas zootécnicas: descendência e índices de fertilidade na monta dirigida e/ou controlada. - Observar relação 1:33 até 1:50 de carneiro:ovelhas.

4. ESCOLHA DE REPRODUTORES E MATRIZES:

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

132

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS Iran Borges9 Maria Izabel Carneiro Ferreira10 Fernando Henrique M. A. R. de Albuquerque11 Gilberto de Lima Macedo Júnior12 André Guimarães Maciel e Silva2

1. INTRODUÇÃO Os ovinos, como os demais ruminantes têm sua alimentação baseada em forragens, sendo que se respeitando adequadamente os aspectos ligados às características edáfoclimáticas e das espécies forrageiras empregadas, é possível ter o atendimento pleno das necessidades nutritivas de várias categorias de ovinos. Reforça-se, no entanto a necessidade de um bom manejo das pastagens para se atender tal objetivo juntamente com um bom programa de mineralização dos rebanhos, aliando-se a esses, um bom esquema profilático-sanitário, adequada divisão dos animais em lotes homogêneos por idade e/ou exigências nutricionais - e quando se fizer necessário, adotar programas de suplementação com emprego de alimentos concentrados, não só para as categorias animais mais exigentes, mas também nas épocas mais críticas do ano, principalmente devido às secas. Na exploração de ovinos, seja rebanho elite ou comercial (ou rebanho geral), a utilização desse ou daquele sistema de pastoreio será dependente das condições supra citadas e também por aspectos ligados ao retorno financeiro da atividade, e nesses casos, é importante relembrar de que não há uma receita única, capaz de satisfazer a todos os rebanhos desse ou daquele tipo, pois em ambos os casos o fator determinante será sua auto sustentabilidade econômica. Por isso é comum ver produção de ovinos em pastejo contínuo, alternado, diferido ou rotacionado, todos com lucratividade econômica e dividendos técnicos. Em vários casos é comum ver ovinocultores que optam por abaterem animais um pouco mais velhos, sem perder muito na qualidade do produto final, por darem maior importância ao capital de giro, nesse caso priorizam a variável tempo em suas atividades. Outros há que investem pesado em sistemas de pastejo rotacionado, abatendo animais precoces ou super precoces, outros ainda escolhem para a técnica do confinamento para fazerem a cria e por vezes a recria de seus cordeiros e borregos. Em suma, observando esses quadros fica muito claro que os aspectos técnicos, ecológicos, sociais e econômicos, além daqueles de cunho ético e moral é que devem nortear as escolhas do sistema pelo produtor, uma vez que todos têm se mostrado viáveis. Assim sendo, o presente levantamento tem como objetivo enfocar aspectos ligados à nutrição de rebanhos ovinos elite ou comerciais, trabalhados sob as mais variadas formas, pontuando, sempre que possível qual (is) a (s) diferença (s) fundamental (is) entre um e outro tipo de rebanho, nos mais variados sistemas de produção ovina. 9

Zootecnista - Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da EV-UFMG. Médico (a) Veterinário (a) - Doutorando (a) em Ciência Animal na EV-UFMG. 11 Médico Veterinário - Mestrando em Zootecnia na EV-UFMG. 12 Zootecnista - Doutorando em Ciência Animal na EV-UFMG. 10

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

133

2. ASPECTOS GERAIS DA NUTRIÇÃO DE OVINOS Apesar dos ovinos também consumirem arbustos e ervas, sabe-se que há predileção por gramíneas e leguminosas, e dentre esses, buscam inicialmente pelas mais tenras e suculentas, aceitam muito bem as forragens conservadas como feno e silagem, a primeira de forma mais intensamente, e as silagens exigem mais tempo de adaptação COOP (1982). No Brasil, ruminantes têm sido tratados com cana-de-açúcar mais uréia, fato que tem levado muito produtor na região Sudeste e Centro Oeste do país a usá-las também em ovinos - esse tópico será abordado mais adiante com maiores detalhes. Via de regra os ovinos necessitam tomar em média dois litros de água para cada quilograma de alimento seco consumido (2 L água/kg de MS consumida) neste sentido Macedo Junior et al., (2005) verificaram um consumo 1,98 vezes maior que o consumo de matéria seca, trabalhando com diferentes níveis de FDN forrageiro com ovelhas da raça Santa Inês. O termo matéria seca (MS) é empregado na nutrição animal com a finalidade de se comparar vários alimentos em uma mesma base, qual seja, como se os alimentos não contivessem água, daí essa relatividade expressa por Ferrer e Ortigosa (1989). As ovelhas gestantes ou em lactação são as categorias que com maiores necessidades diárias de água para consumo, segundo Ferrer e Ortigosa (1989), cordeiros em fase de terminação (± 40 kg de peso vivo) necessitam de três a cinco litros de água por dia (3 a 5 L/dia), já ovelhas com 50 kg de PV consomem de quatro a cinco litros ao dia (4 a 5 L/dia) durante o terço inicial de prenhês, mas se as mesmas estiverem prenhes com ventre duplo, e a temperatura do ar for acima de 20o C, deverão ter disponível até 20 litros de água por dia no último mês de gestação. Há ainda os relatos de consumo de Faller et al (1996) onde as Necessidades diárias de água para ovinos seriam: Adultos: 3,8 a 7,6 litros/dia; Ovelhas em lactação: 7,6 a 11,4 litros/dia; Borregos (as): 3,8 a 7,6 litros/dia; Cordeiros (as): 0,38 a 1,1 litros/dia. Macedo Junior et al., (2005) trabalhando com ovelhas da raça Santa Inês no terço final de gestação, com 1 feto obteve consumo médio de 4,43 L/dia, este consumo foi 2,70 vezes maior que o de MS. Não só em relação ao consumo de água, mas também o consumo de alimentos (MS) sofre efeito do clima, principalmente das altas temperaturas, que via de regra tende a diminuir o consumo voluntário dos animais domésticos (Hafez, 1973 e McDowell, 1974), para que os mesmos mantenham sua temperatura corporal constante. Produtores e técnicos muitas vezes equivocam-se nesse sentido, acreditando que por tratarem de animais tropicais, os ovinos da raça Santa Inês estariam totalmente fora desse fenômeno, ledo engano, pois de forma similar, estudos têm demonstrado que bovinos zebus também sofrem efeitos de elevadas temperaturas, não só no consumo de alimentos, como também no que se refere ao desempenho produtivo e reprodutivo, assim sendo, olho vivo nas condições de temperaturas muito elevadas. Além das condições ambientais, o tipo de manejo também influi nos requisitos nutricionais dos ovinos, o NRC (1985) preconiza que ovinos em pastejo possuem

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

134

requisito energético até 100% superior aos seus companheiros de rebanho mantidos confinados, tudo porque se eleva o que se denomina requisito de mantença (manter-se acordado, respirar, digerir os alimentos, caminhar para procurar alimentos, água ou sombra, e vários outros, por esses últimos, tais necessidades energéticas são aumentadas). Mas como tais animais ainda conseguem ganhar peso, desenvolvendo-se a contento? Muitas vezes fazem isso em um tempo relativamente mais longo que aqueles animais mantidos confinados. É oportuno ressaltar que desempenham ao máximo sua capacidade em pastejar seletivamente, com isso, procuram ingerir maiores quantidades de forrageiras tenras e novas, mais ricas em energia, de melhor digestão e com mais proteína e vitaminas. É a forma que nosso ARQUITETO DO UNIVERSO dotou os animais para se defenderem quando dependem da natureza para sobreviver. Daí a necessidade de se adequar as dietas a todas as necessidades e efeitos que interagem sobre esses, de modo a tornar os animais produtivos e saudáveis. Para solucionar a todas essas demandas, vários têm sido os sistemas de determinação das exigências nutricionais dos ovinos. Assim é que o NRC (1985), comitê estadunidense que padroniza as tabelas de exigências nutricionais dos animais domésticos, empregou as técnicas de composição corporal e de ganho para tabular seus dados e publicar as exigências nutritivas. No entanto o britânico ARC (1980), que depois se transformaria em AFRC (1993), o INRA francês cujos dados foram compilados por Jarrige (1981), e mais recentemente o sistema de Cornell (CNCPS system) deram grande contribuição à nutrição de ruminantes ao tratarem das exigências nutritivas considerando-se não apenas o ruminante (aqui os ovinos), mas primeiramente a microflora ruminal, pois todos esses postulam de que a flora saudável contribui muito para a nutrição dos ovinos. Há, porém de fazer um parêntesis de acrescentar que quando objetivamos maiores ganhos ou desempenhos, a flora por si só não é capaz de suprir o ruminante com os nutrientes nas devidas quantidades diárias requeridas, assim, surgiram os sistemas de PDI (proteína digerida no intestino), PDR e PNDR (proteína degradada e não degradada no rume). Todos esses sistemas são bons e têm sido validados pelo mundo afora, mas o que se destaca e exige demasiado cuidado é: Será que as exigências dos ovinos deslanados e mesmo raças exóticas criadas em território nacional estariam contemplados nessas tabelas? É difícil dizer, pois no Brasil, salvo melhor juízo, não se tem determinado tais exigências, ou mesmo, muito pouco tem-se validado os dados que eles propõem. A nutrição mineral de ovinos por vezes tem muitas crenças, totalmente infundadas ou decorrentes de manejo alimentar deficitário. É o caso de alguns produtores, e mesmo empresas que elaboram misturas minerais que não usam cobre em suplementos, pelo fato de que esse micro mineral é tóxico para ovinos. Segundo Ortolani (1996) a incidência de intoxicação cúprica em ovinos no Hospital Veterinário da FMVZ/USP na década de 90 foi de 1%, assim, ou há um exagero por parte dos adeptos da não inclusão do cobre em misturas minerais para ovinos, ou a casuística do pesquisador não traduz a realidade, fato que o autor desse presente trabalho não acredita estar ocorrendo. Em geral verificam-se casos de intoxicação cúprica quando os animais são alimentados com mistura mineral para bovinos, fato este bastante comum nas propriedades. Se o cobre é tóxico para ovinos, também outros minerais o são, como é o caso do flúor e selênio (exigências 0,1 a 0,2 e toxidez com 2 ppm), e nem por isso

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

135

são banidos das dietas e misturas minerais da espécie, desde que tecnicamente balanceadas. Tais misturas não impõem quaisquer riscos à saúde dos animais. O que talvez assuste alguns menos informados é o fato das exigências (7 a 11 ppm) estarem próximos ao nível de toxidez (25 ppm), mas tem-se que considerar, dentre outras coisas, a biodisponibilidade desse mineral nos diversos componentes da dieta (sal, forragens e concentrados), que nem sempre é de 100% e ainda levar-se em conta que tais níveis recomendados pelo NRC (1985) são para aquelas condições em que as concentrações de molibidênio é inferior a 1 ppm na dieta. 2.1. ESCALA DE CONDIÇÃO CORPORAL (ESCORE CORPORAL) Dentro de um sistema de produção de ovinos e de caprinos é necessário utilizar-se algumas ferramentas de monitoramento do plano nutricional empregado e para o acompanhamento do desempenho dos animais sujeitos a ele. O objetivo desse controle é verificar se a ração fornecida está atendendo todas as exigências dos animais. Uma destas ferramentas é a avaliação da condição corporal das ovelhas e das cabras, também chamada de escore corporal, que nada mais é do que a observação, a partir de pontos preestabelecidos do corpo do animal, com a finalidade de ter uma avaliação da massa muscular e/ou de gordura que esse apresenta. Para isso, é feita a palpação da parte superior e lateral da região dorso-lombar da coluna vertebral. Percebe-se que diferentemente dos bovinos, é fundamental que se toque os animais, principalmente os lanados. Os valores atribuídos compreendem uma escala de 0 a 5. Sendo zero para ovelhas extremamente magras e cinco para aquelas consideradas obesas. Silva Sobrinho et al (1996), apresenta a escala da seguinte forma:

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

136

ESCORE CORPORAL PARA OVINOS

Recomenda-se um escore de 2,5 a 3,0 para ovelhas antes da estação de monta, de 3,0 a 3,5 no final da gestação e início de lactação e de 2,5 para o final da lactação. 3. ALIMENTAÇÃO DE CORDEIROS E CORDEIRAS Nas primeiras semanas de vida (2 a 4) é muito importante que se ministre adequadamente o leite materno, ou em alguns casos forneça um sucedâneo de excelente qualidade, lembrando que os animais são mamíferos e que o leite nessa fase é o principal alimento (Carles, 1983). Durante as três primeiras semanas de vida, o processo de digestão dos jovens ruminantes é limitado devido à ausência e inatividade de algumas enzimas digestivas. A partir da terceira semana de vida há aumento gradual da atividade da maior parte destas enzimas, o que possibilita então a inclusão

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

137

do outros ingredientes, além do próprio leite, na formulação das dietas (Davis e Drackley, 1998). Vale lembrar aqui há necessidade de se ter um banco de colostro, preferencialmente de ovinos, porém o uso de colostro de vaca pode ser empregado de forma satisfatória em situações emergenciais. A administração do colostro nas primeiras seis horas de vida é de fundamental importância para o desenvolvimento e sobrevivência do cordeiro. Animais em crescimento necessitam, relativamente (% do PV), de maior quantidade de alimento que os mais velhos, tal quantidade será tanto maior quanto maior for o ganho em peso que se lhes impuser, sendo que na fase de aleitamento e pela fase de cria é possível ter-se ganhos em que o animal triplica ou até quadruplica o seu peso inicial ao nascer (Scott, 1970). Esse fato é explicado pela conversão alimentar que pode-se obter nessa fase, segundo Viana (2004) seus valores podem oscilar de 4,11 a 12,41, sendo marcadamente dependente da idade e qualidade da alimentação, pois cordeiros mais velhos ou recebendo dieta com ingredientes que não sejam considerados de ponta, apresentam sempre as piores conversões alimentares. Portanto na fase de transição, quando os ovinos estão entre lactentes e ruminantes, é possível impor grandes ganhos pelo emprego de uma dieta constituída de maior parcela de alimentos concentrados que volumoso, no entanto tal estratégia requer cautela, tendo-se em vista que podem ocorrer distúrbios digestivos fisiológicos (acidose ruminal) e traumas clínicos (torção de abomaso). Recomenda-se empregar substâncias tamponantes (NaHCO3 de 0,5 a 1,0% conjugado ou não com mais 0,1 a 0,3% de MgO) para evitar-se níveis de pH muito baixos. Em rebanhos matrizeiros pode-se adotar esquemas de manejo de mamada, no mínimo três por dia, com fornecimento constante de excelente mistura concentrada, já devidamente mineralizada e água, de qualidade e em quantidade adequadas. Se desejável, é possível fazer-se uso de sucedâneo até a idade de quatro meses, obtendose assim melhores respostas no desempenho desses animais. Tem-se observado que vários produtores têm evitado o emprego de “amas de leite” para animais elite nessa fase, alegando que dá muito trabalho, mas é muito importante lembrar de que por melhor que seja o sucedâneo, nenhum supera o leite da própria espécie. Caso tema por quaisquer contaminações viróticas ou bacterianas pode-se proceder à pasteurização do leite, como é feito na caprinocultura leiteira. Existem duas razões principais para justificar o aleitamento artificial de cordeiros: quando a suplementação de leite pela ovelha é inadequada ou ausente; ou quando se faz necessária à retirada da lactante do manejo de amamentação devido à freqüência de acasalamento da mesma (Peart, 1982). Em sua revisão, Lane et al. (1986) relataram que um problema enfrentado pela maioria dos ovinocultores é a criação de cordeiros órfãos. Como esses animais são alimentados com sucedâneos de leite por pelo menos 28 a 35 dias, a criação artificial acarreta altos custos com mão-de-obra, alimentação e mortalidade. Assim sendo, cabe ao produtor considerar se o valor agregado de sua futura matriz ou reprodutor que será incorporado no sistema, vendido ou irá para a pista, vale tal investimento. Fisiologicamente tal salto de qualidade já está comprovado, avaliar-se-á então o aspecto meramente econômico.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

138

Segundo Owen (1969) e Lindahl et al. (1972), utilizando-se um manejo adequado é possível realizar a desmama precoce dos cordeiros órfãos com sucesso; observaram que cordeiros desmamados aos 14 dias de idade tiveram seus pesos ao nascimento dobrados durante a fase de aleitamento e consumiam quantidades significativas de alimento sólido aos 25 dias de idade. Fica aqui uma nova tentativa de se recuperar animais órfãos, nesse caso a alimentação reforçada foi feita após há terceira semana, confirmando o descrito acima. Pode ser empregado tanto em rebanhos elite, como nos comerciais, a depender da situação do sistema, por exemplo, ao invés de investir em grandes ganhos após o 25o dia de idade o produtor comercial pode adotar uma suplementação mais branda e apostar nos animais suplementados com intervalo de temo maior que aqueles que receberiam pesadas suplementações. Os sucedâneos do leite geralmente contêm de 18 a 24% de proteína bruta. As fontes protéicas utilizadas na formulação destes produtos são classificadas como lácteas e não-lácteas. Os fatores críticos que afetam a utilização destas fontes pelos préruminantes incluem a digestibilidade, balanço de aminoácidos, perfil dos ácidos graxos e a presença de fatores antinutricionais (Davis e Drackley, 1998). Via de regra, aqueles baseados em derivados lácteos têm apresentado melhores resultados, fato constado por Ferreira (2005). Produtores que desejam ganhos não tão elevados e dispõem de maiores tempos de cria e recria em seus rebanhos, podem optar por utilização do creep feeding. Cezar e Sousa (2003) definiram o creep feeding com sendo um sistema de alimentação utilizado durante a fase de cria no qual se permite que apenas os cordeiros lactentes tenham acesso através de um pequeno dispositivo de passagem (creep) a uma suplementação alimentar exclusiva (creep ration), normalmente concentrada, e disposta em comedouros privativos (creep feeder) à qual as ovelhas lactantes não têm acesso. É sabido que a suplementação alimentar dos cordeiros em sistema de creep feeding a partir dos 20 dias de idade é uma forma de acelerar o desenvolvimento ruminal e melhorar os ganhos de peso. Devendo-se oferecer uma ração palatável de alto nível energético, com proteína bruta na faixa de 14% e adequado teor de minerais. (o creep feeding pode ser empregado a partir da primeira semana de vida, o teor de PB pode ser 18%, verificar essa possibilidade). Outra prática de manejo para cria, recria e terminação de cordeiros é o confinamento. Sua adoção está associada à finalidade de se aumentar a oferta de carne durante o período de entressafra e colocar no mercado um produto padronizado e de qualidade superior, além da preocupação com a sazonalidade alimentar, relacionada aos períodos de estiagem e à redução da pressão de pastejo nestas épocas. Segundo Amarante (2001) praticamente 100% dos animais a pasto albergam uma ou mais espécies de nematódeos. A verminose pode acometer animais de qualquer sexo e idade, porém, o problema é mais severo nos cordeiros (Colditz et al., 1996). Animais confinados são menos acometidos por esse problema, o que faz desse sistema de criação, uma boa alternativa para o controle da verminose, Amarante (2001). Vale lembrar que, em animais confinados ocorre aumento na infestação de eimeriose, devendo o produtor sempre estar atento, fazendo periodicamente um exame de fezes nos animais (OPG e OOPG), para ver o grau de infestação e promover uma vermifugação criteriosa.O uso de coccidisotático na dieta dos animais também é uma

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

139

alternativa de controle desse problema além é claro das condições de higiene das instalações. Segundo Barros (1997) as peles ovinas e caprinas que chegam aos curtumes apresentam muitos defeitos, dentre eles os causados por espinhos, chifradas, bicheiras, cercas de arame farpado, sarna dermodécica (bexiga) e outras cicatrizes de origens desconhecidas, que podem ser atribuídas às adversidades encontradas no sistema de cria extensiva. Estes problemas podem ser minimizados no confinamento, pela separação dos animais em lotes, de acordo com as categorias e pelo maior controle dos animais, já que os mesmo estarão sempre em contato com o tratador, permitindo melhor observação dos animais. Ainda como vantagens do confinamento podemos citar: permite criar mais animais em área física menor, reduz a pressão de pastejo, aumenta o giro de animais prontos para o abate, permite retornar mais rápido do capital investido, etc. Entretanto, Siqueira et al., (1993) salientaram que a terminação em confinamento implica em investimentos adicionais com instalações e alimentação, sendo o confinamento uma boa alternativa para regiões onde há prevalência de alta carga parasitária nas pastagens. E também em propriedades localizadas em regiões onde o preço das terras é elevado e a presença de insumos abundantes e relativamente mais baratas. Nesse sentido, é bom registrar que o nordeste brasileiro tem apresentado ótimas opções para emprego em sistemas de confinamento, como por exemplo, os resíduos de frutas oriundos da indústria de sucos ou exploração da castanha de caju, além de grande variedade de plantas forrageiras que devem ser mais empregadas nos sistemas de confinamentos nordestinos, saindo-se assim, sempre que possível, do binômio milho:farelo de soja, que pode ser por demais oneroso ao criador comercial. Um grave problema que tem sido observado em rebanhos elite é o emprego indiscriminado e incorreto de concentrados comerciais destinados para vacas leiteiras, ou mesmo administração de quantidades muito altas de concentrados para cordeiros, os quais, devido às características da relação Ca:P têm ocasionado sérios distúrbios de cálculos renais (urolitíase). Isso pode ser facilmente prevenido, corrigindo-se a relação desses minerais nas dietas, evitando-se assim o emprego indiscriminado de cloreto ou sulfato de amônio para os animais em questão. Outro problema muito comum, principalmente no início do confinamento é a queda no consumo, seja pela mudança da dieta seja pelo estresse da desmama. É necessária uma mudança gradual da dieta para que se evite este problema, quando estiver se aproximando o período da desmama (mais ou menos 10-15 dias antes) a dieta utilizada no creep feeding deverá ser gradualmente substituída pela dieta que será utilizada no início do confinamento, evitando estresse para o animal. 4. ALIMENTAÇÃO DE BORREGAS A puberdade pode ser adiantada mediante uma alimentação intensiva. Em Cuba, Ferrer e Ortigosa (1989) destacaram que rebanhos com fêmeas que pariam somente com dois anos de idade tiveram sua idade ao primeiro parto diminuída para um ano, simplesmente com sistema de alimentação intensiva, nesse caso empregando-se apenas pastagens melhoradas. Isso demonstra ao produtor comercial de que o perfeito manejo das pastagens pode impor ganhos consideráveis na produção de fêmeas para reposição. O mesmo pode-se aplicar ao criador de animais registrados, onde o

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

140

emprego de boas pastagens pode, além de fornecer alimento volumoso de qualidade, propiciar excelente oportunidade para que os animais se exercitem, evitando-se acúmulo de gordura em excesso. É sempre conveniente registrar que em muitas épocas do ano, essa categoria poderá depender de suplementação concentrada, em menor ou maior grau, mas deverá estar sempre disponível. Diminuindo-se a quantidade de concentrados fornecidos próximo ao parto, com isso evita-se casos de toxemia da gestação, muito freqüente em rebanhos que super alimentam suas fêmeas. Preferencialmente, ao parto as ovelhas devem estar com escore corporal entre 3 e 3,5 conforme escala já mencionada (SUSIN, 1996). Ferrer e Ortigosa (1989) ressaltam ainda de que ovelhas obesas têm perdas significativas na fertilidade, número e tamanho de suas crias, bem como a produção leiteira. Essa última comprometerá o desempenho e em casos mais graves, aumentará a mortalidade de cordeiros do nascimento a desmama. Apesar do conhecido ganho na puberdade, cabe salientar que trabalhos demonstram perda na produção leiteira em borregas que tiveram ganhos médios até a puberdade de 200g/dia ou mais, como relatado por Umberger et al (1985), onde borregas Suffolk e suas cruzas com Dorset ou Blackbelly alimentadas a vontade ou restritas para obterem ganhos médios até puberdade de 100 ou 200g/dia, não mostraram diferenças nas taxas de fertilidade e fecundidade, porém produziram menos leite (g/dia) aos 20, 40 e 60 dias de lactação, respectivamente de 2305 ± 257; 1287 ± 114 e 853 ± 88 para alimentadas de forma controlada, e 1685 ± 308; 1183 ±137 e 680 ± 106 quando tiveram alimentação a vontade e ganhos de PV médio de 200g/dia ou mais. Posteriormente, trabalhando com ovelhas Suffolk ou Dorset, McCann et al (1989) também observaram que borregas mantidas com alto nível nutricional anteciparam a puberdade em uma semana, mas tiveram maior deposição de gordura na glândula mamária e menor produção de leite.

5. ALIMENTAÇÃO DAS FÊMEAS DURANTE A ÉPOCA DE REPRODUÇÃO Quando deseja-se obter maior prolificidade (crias/ovelhas) torna-se essencial estimular ovulações múltiplas. Para isso devem receber suplementação energética (flushing) de duas e três semanas antes da estação de monta, podendo prolongar-se por mais duas após seu início. A escolha de se prolongar ou não está na dependência de aspectos ligados à condição corporal da ovelha, necessidade de maior segurança de resposta ao tratamento, e ocorrência de ganho de peso nessa fase. Além de melhorias na taxa de ovulação, também têm sido relatadas melhorias na taxa de concepção (Fraser e Stump, 1989). Silva Sobrinho et al (1996) citam que Geenty e Rattray (1987) preconizaram que cada unidade nessa escala equivale ao aumento de 6 a 12 kg no peso vivo e uma elevação de 6 a 10% na gordura corporal, e também que Baertsche (1988) sugeriu uma condição corporal de 2,5 a 3,0 para ovelhas antes da cobrição. Há evidências de que o aumento nas perdas embrionárias devido ao baixo plano nutricional dá-se, principalmente, pela presença de animais jovens no plantel ou quando as fêmeas entram na estação de monta em piores condições, sendo que os

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

141

índices são geralmente maiores devido à ovulação dupla que à simples (Robinson, 1982). A importância do emprego do flushing um pouco antes da estação de monta para as ovelhas mais fracas, magras ou “sentidas”, visando diminuir e/ou eliminar tal influência causada pelo plano nutricional e eventual condição corporal, torna-se mais evidente após a observação dos relatos acima. A observação de elevado índices de mortalidade embrionária em ovelhas com boa condição corporal no acasalamento, somente ocorrerá quando forem submetidas a condições de subnutrição que envolvam ingestões de MS 20% inferiores às exigências de mantença, mesmo assim, se tais condições prevalecerem por uma semana. Por outro lado, Coop (1982) sugeriu que quando submetidas a jejum - ou carências - por até três dias, dentro dos primeiros doze dias de gestação, as ovelhas que tiveram dupla ovulação, portanto terão parto duplo, não têm expressado perdas embrionárias significativas, desde que se apresentem com boa condição corporal. Robinson (1982) ressalta que no sentido contrário, ou seja, quando ocorre super alimentação na fase inicial da gestação, vários trabalho salientaram que pode-se constatar efeito negativo sobre a viabilidade embrionária.

6. ALIMENTAÇÃO DAS OVELHAS GESTANTES De acordo com Scott (1970) os efeitos da nutrição sobre a gestação têm sido estudados por vários pesquisadores, apontado que desde os trabalhos de Hammond em 1932, quando esse avaliou os pesos de cordeiros advindos de partos simples, duplos ou triplos e postulou que “não se obtivera provas suficientes para determinar se tal relação dependia da condição da ovelha antes do parto”, ou seja, suspeitava-se que o “preparo” da fêmea para a gestação-parto pudesse estar exercendo influência no peso de seus produtos. Desde então especial ênfase tem sido dada ao programa nutricional de ovelhas no seu terço final. E não se pode esquecer de que em quaisquer sistemas produção de ovinos a nutrição dos cordeiros (as) inicia-se durante a gestação, daí a necessidade de se priorizar a nutrição da ovelha gestante nos últimos dois meses antes do parto. Assim os estudos preliminares buscaram, e ainda hoje buscam, decompor o peso do útero grávido, avaliando, além do peso do próprio feto, suas membranas, líquidos, placenta, etc... Nesse aspecto, talvez o de Robinson et al (1977) possa ser empregado para ilustrar tais levantamentos, cujos dados são apresentados no Tabela 1. Nota-se que o desenvolvimento fetal apresenta rápido crescimento após 90 dias, e que segundo os autores acima, equivale a 15% do peso ao nascer dos cordeiros, assim espera-se que o restante (85%) do crescimento do feto dá-se nos últimos dois meses de gestação. Ou ainda, na visão de Figueiró (1989) os três meses iniciais da gestação produzem cerca de 25% do peso a idade adulta, ficando os 75% restantes para os dois últimos (Figura 1). Daí registra-se novamente, a necessidade de um melhor aporte de nutrientes fornecidos por uma dieta específica para essa fase da gestação. Assinalaram ainda que um regime superalimentar no início da gestação, ao invés de benéfico, pode ocasionar grandes perdas embrionárias. Daí existe a recomendação (Susin, 1996) de que as exigências nutricionais para as primeiras 15 semanas sejam calculadas para exceder ligeiramente aquelas para mantença, visando já ir preparando a ovelha para a futura lactação.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

Tabela 1. Crescimento dos produtos da concepção de ovelhas de parto gemelar Dias de gestação Percentagem do útero gravídico Útero vazio Placenta Fluídos 62 30,2 30,2 32,9 90 17,8 23,3 31,4 112 13,1 13,5 18,5 09,4 07,5 20,1 140

142

Feto 06,7 27,5 54,9 62,8

Fonte: Robinson et al (1977) Peso ao nascer (kg)

5 4 3 2 25% do peso ao nascer

1 1

2

3

4

75% do peso ao nascer 5

(meses de gestação)

Figura. 1 - DESENVOLVIMENTO DO FETO OVINO

Mas o ponto fundamental que deve ser questionado é: Até que ponto é possível compensar, no terço final da gestação, os efeitos de uma subnutrição imposta na sua primeira metade? É realmente uma tomada de decisão difícil, pois vários fatores estarão interagindo nesse fenômeno. Mesmo assim é possível enumerar alguns aspectos que fornecerão suporte para uma resposta mais segura: • A recuperação não chega a ser total quando ovelhas que ainda não atingiram o peso adulto sofrem restrição alimentar; • Mesmo algumas ovelhas mais velhas, após saírem de um plano de subnutrição na primeira metade da gestação, podem destinar os nutrientes ministrados ao final da gestação mais para a recuperação de suas reservas que para o crescimento fetal. Há sem dúvida, um componente genético muito forte, por outro lado, deve-se considerar o estado corporal como tais animais atingiram, não só a prenhez, mas inicialmente a estação de monta; • Merecem destaques ainda, aspectos como a idade da ovelha e sua condição corporal inicial, o número de cordeiros por parto, e possivelmente a intensidade da perda de peso registrada na fase inicial, pois de forma isolada e/ou conjuntamente estarão determinando a importância que a subnutrição imporá no desempenho das futuras mães;

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

143

• Apesar de poucas comprovações, mas um fato que ocorre com muita freqüência, é o que se costuma denominar como efeito individual ou potencial da ovelha em compensar a perda de peso ocorrida na fase inicial da gestação. Mas uma coisa é certa, não se deve permitir que ovelhas gestantes percam mais do que 7% de seu peso na fase inicial da gestação, o que para Fraser e Stump (1989) equivale a mudança de 0,5 na escala da condição corporal. Com relação à recuperação dessa condição corporal, é oportuno salientar que, via de regra, as ovelhas melhoram tal condição durante o último período da lactação e após o desmame. Para Scott (1970) a intensidade e o tempo gasto para tal recuperação são dependentes de diversos fatores: número de cordeiros nascidos e/ou amamentados, duração do período lactacional, estado em que se apresentam as pastagens, tipo de exploração a que estão submetidas, eficácia da estratégia sanitária adotada, dentre outros. Existem relatos mostrando que mesmo quando já atingem o balanço energético positivo, algumas ovelhas continuam com o catabolismo da gordura corporal. Diante do acima exposto é que se recomenda que rebanhos elite devem fazer uso de diagnósticos de gestação com por ultra sonografia, ou outro método, pois assim serão identificadas aquelas ovelhas cujos ventres mostram-se com gêmeos; e se a propriedade já tem lotes distintos para ovelhas nessa fase de gestação, é importante, indispensável, que um novo sub-lote seja montado para atender a essas portadoras de gêmeos, uma vez que têm maiores exigências nutricionais que as demais companheiras de rebanho. Para rebanhos comerciais, a distinção de um novo lote também faz-se necessário, nesse caso o produtor tem como técnica de manejo observar a rápida queda do escore corporal de algumas fêmeas do lote no terço final de gestação, pois a possibilidade é muito grande de que essas ovelhas estejam portando gêmeos. Nas observações práticas, em ambos os sistemas, tem-se observado a negligência desse manejo diferenciado para um novo lote de ovelhas em final de gestação; como resultado é comum observar aumento de incidência de toxemia da gestação, nesse caso devido à sub-nutrição pontual desses animais (não tem supridas suas exigências nutricionais - que são maiores que das outras ovelhas nessa fase). Então cuidado com ovelhas nessa fase e nessas condições de gestação gemelar. No terço final da gestação não se consegue corrigir o escore corporal das ovelhas.

6.1. TOXEMIA DA GESTAÇÃO Trata-se de uma doença metabólica que acomete fêmeas de várias espécies, dentre as quais destacam-se as ovelhas gestantes em final da gestação (últimos 45 a 60 dias), com maior ocorrência naquelas com dois ou mais fetos. É conseqüência da nutrição inadequada durante a gestação, sendo que para Scott (1970) a grande maioria dos casos ocorre mais por carência do que por excesso de alimentação, muito embora não descarta a possibilidade de que ovelhas super alimentadas durante a gestação, ou mesmo a partir da estação de monta, apresentarem tal distúrbio. No Brasil a maioria dos casos deve ocorrer devido à primeira causa (principalmente durante o inverno, quando as pastagens perdem muito do valor nutritivo) muito embora, programas de flushing alimentar mal elaborados podem colaborar com as estatísticas da segunda, da

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

144

mesma forma, em rebanhos elite, onde programas de nutrição para ovelhas não têm dado atenção devida a esse aspecto, promovendo a super alimentação de fêmeas que apresentam o quadro clínico característico. Espera-se que a ocorrência desse segundo tipo seja distribuída igualmente por todo o ano e não apenas na época de escassez de alimentos, com a maioria dos casos relatados em condições de confinamento ou semiconfinamento, geralmente sem a supervisão de um nutricionista especialista em ovinocultura. Portanto, um programa alimentar baseado nas exigências nutricionais para as distintas fases da gestação e mesmo pré-estação, bem como a utilização de alimentos de qualidade nessas etapas, tornam-se medidas preventivas eficazes contra a toxemia. As ovelhas acometidas apresentam perda de apetite (anorexia), depressão nervosa e prostração, com a maioria dos casos culminando com a morte.

7. ALIMENTAÇÃO DAS OVELHAS EM LACTAÇÃO Nessa fase e no terço final de gestação é que se encontram as maiores exigências nutricionais dos ovinos, sendo que no início da lactação as ovelhas não conseguem atingir seus requisitos nutricionais, encontrado-se em balanço energético negativo, ou seja, mobilizam reservas corporais (gordura) para satisfazer tais necessidades, daí ocorrer perda de condição corporal e por isso mesmo a necessidade de ser feito um rigoroso controle do mesmo, desde o início da estação de monta, como já assinalado anteriormente, mas também próximo e ao parto e no início da lactação, quando Baertsche (1988) citado por Silva Sobrinho et al, (1996) sugeriu uma condição corporal de 3,0 a 3,5 no final da gestação e início da lactação, sendo que para o final da lactação esse deve ser de 2,5. De acordo com Ferrer e Ortigosa (1989) é comum que ovelhas percam cerca de 5 kg de peso em lactações de 4 meses de duração, muito embora isso seja verdade, é prudente lembrar que perdas maiores serão registradas quando as mesmas não tiverem o devido acesso ás melhores forrageiras nessa fase e/ou estejam recebendo suplementação concentrada devidamente balanceada. Tal fato é muito comum em rabanhos comerciais, quando os produtores negligenciam tais princípios do manejo alimentar, podendo ser facilmente corrigido com adoção de técnicas adequadas de manejo de pastagens e alimentar para essas ovelhas, destinando-lhes os melhores piquetes ou áreas de pastejo à essa categoria na fazenda, lembrando que nesses casos as crias também serão beneficiadas, pois terão a disposição as melhores forragens em um momento decisivo para seu desenvolvimento, conforme relatado em item acima. Quando o produtor tiver área com essas características, mas que não atenda a todas as ovelhas nessa categoria, é importante que se priorize aquelas mães com mais de um cordeiro ao pé. Já para rebanhos elite deve-se recomendar muita atenção nos escores corporais excessivamente altos (acima de 3,75 ou 4,0) no início da lactação, decorrente de super alimentação nas fases anteriores. Ovelhas lactantes podem receber de 0,5 a 1,3 kg de concentrado/dia para atender às suas exigências nutricionais, devidamente balanceado para tal.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

145

O manejo nutricional das ovelhas inicia-se na estação de monta, passa a ser muito dependente no terço final de gestação e culmina no início da lactação. Concluindo, pode-se dizer que essa fase, a mais exigente de todas, é altamente dependente das anteriores.

8. ALIMENTAÇÃO DE OVELHAS SECAS E VAZIAS Nessa fase as ovelhas devem recuperar seu peso, devido às perdas oriundas da lactação, para tanto, podem receber pequenas quantidades de concentrado (cerca de 20% acima das exigências de mantença) (Scott, 1970), ou ficar em pastagens de qualidade similar ao das ovelhas gestantes. No Sudeste do Brasil, alguns ovinocultores que empregam o pastejo rotacionado, destinam um dia de pastejo às ovelhas em lactação e final de gestação, e no segundo dia entram na área com ovelhas secas e vazias, e apesar de não possuírem dados científicos para comprovar a eficácia, os dados produtivos e reprodutivos demonstram melhorias significativas quando comparados aos sistemas tradicionais que não priorizam tal categoria. Para produtores que não adotam o pastejo rotacionado, podem destinar áreas de melhor qualidade, mas um pouco inferior àquela das ovelhas lactantes, para essa categoria, caso seja possível, poderá mantê-las por duas ou três semanas, em mesma área, junto àquelas em lactação. As exigências para ovinos, segundo o NRC (1985), podem ser verificadas nas tabelas 2, 3, 4 e 5, a seguir: TABELA 2. Exigências nutricionais diárias de ovelhas segundo o NRC (1985) Ovelhas1 Ovelhas1 Mantença Flushing

Ovelhas1 gestantes 1as 15 semanas

Ovelhas1a gestantes últimas semanas

Ovelhas1b gestantes últimas semanas

Ovelhas1 Ovelhas1 lactantes lactantes duas uma cria ao pé crias ao pé 2,495 2,812

1,179 1,814 1,406 1,814 1,905 Ingestão MS (kg/dia) 9,40 9,10 9,30 10,70 11,30 13,40 15,00 PB (%) 0,111 0,166 0,131 0,194 0,215 0,334 0,422 PB(kg) 55,00 59,00 55,00 59,00 65,00 65,00 65,00 NDT (%) 0,650 1,070 0,773 1,070 1,238 1,622 1,828 NDT (kg) 1,984 2,094 1,984 2,094 2,292 2,292 2,292 EM (Mcal/kg) 0,20 0,32 0,25 0,35 0,40 0,32 0,39 Ca – mín 0,40 0,45 0,50 0,58 0,60 0,65 0,73 Ca – máx 0,20 0,18 0,20 0,23 0,24 0,26 0,29 P 1Ovelhas pesadas; 1a- Ovelhas pesadas e com queda de 40% no consumo; 1b Ovelhas pesadas e com queda de 60% no consumo;

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

146

TABELA 3. Exigências nutricionais diárias de ovelhas segundo o NRC (1985) Ovelhas2 gestantes 1as 15 semanas Ingestão MS (kg/dia) PB (%) PB(kg) NDT (%) NDT (kg) EM (Mcal/kg) Ca – mín Ca – máx P

1,588

Ovelhas2a gestantes últimas semanas 1,678

Ovelhas2b gestantes últimas semanas 1,678

Ovelhas2 lactantes uma cria ao pé 2,313

10,60 0,168 59,00 0,937 2,094 0,35 0,55 0,22

11,80 0,198 63,00 1,057 2,293 0,39 0,55 0,22

12,80 0,215 66,00 1,108 2,403 0,48 0,63 0,25

13,10 0,303 66,00 1,527 2,403 0,30 0,55 0,22

Ovelhas2 lactantes duas crias ao pé 2,495

Creeping Crodeiros3 para crescimento cordeiros (ração recria)

13,70 0,342 69,00 1,721 2,491 0,37 0,65 0,26

0,580

1,179

26,20 0,152 80,00 0,464 2,910 0,82 0,95 0,38

16,10 0,190 78,00 0,920 2,800 0,54 0,60 0,24

2-

Ovelhas leves; 2a- Ovelhas leves e com queda de 10% no consumo; 2b Ovelhas leves e com queda de 50% no consumo; 3- Cordeiros desmamados precocemente e com ganho médio diário de 272g/dia;

TABELA 4. Exigências nutricionais diárias de ovelhas segundo o NRC (1985) Crodeiros4 Crodeiros3 terminação terminação (ração final) (ração final)

Borregas para reposição

Borregos para reposição

1,497 1,588 1,406 2,404 Ingestão MS (kg/dia) 14,50 11,60 10,20 11,00 PB (%) 0,217 0,184 0,143 0,264 PB(kg) 78,00 76,00 65,00 63,00 NDT (%) 1,168 1,207 0,914 1,515 NDT (kg) 2,712 2,712 2,403 2,293 EM (Mcal/kg) 0,55 0,42 0,42 0,35 Ca – mín 0,70 0,53 0,45 0,45 Ca – máx 0,28 0,21 0,18 0,18 P 3Cordeiros desmamados precocemente e com ganho médio diário de 363g/dia; 4Cordeiros de desmama normal e com ganho médio diário de 272g/dia;

Reprodutores em serviço 2,994 9,60 0,287 63,00 1,886 2,293 0,30 0,40 0,16

8. EXIGÊNCIAS MINERAIS PARA OVINOS TABELA 5. Exigências minerais para ovinos segundo o NRC (1985) Mineral Cálcio (%) Fósforo (%) Magnésio (%) Potássio (%) Enxofre (%) Sódio (%) Iodo (ppm) Ferro (ppm) Cobre (ppm) Molibdênio (ppm) Cobalto (ppm) Manganês (ppm) Zinco (ppm) Selênio (ppm)

Exigências 0,20 a 0,82 0,16 a 0,38 0,12 a 0,16 0,50 a 080 0,14 a 0,26 0,09 a 0,18 0,10 a 0,80 30 a 50 7 a 11 0,50 0,10 a 0,20 20 a 40 20 a 33 0,10 a 0,20

Nível tóxico 50 500 25 10 10 1000 750 2

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

Flúor (ppm)

147

-

60 a 150

Para animais jovens em crescimento e ovelhas em lactação empregam-se os valores superiores, para ovelhas no terço final de gestação pode-se empregar valores médios das exigências acima. Em dietas onde se misturam todos os ingredientes da dieta o sal branco (NaCl) pode ser empregado em 0,50% da MS total ingerida. Ovelhas podem ingerir de 7,1 a 11,3 g de NaCl/cab/dia quando ofertado isolado. Trabalhos conduzidos com fêmeas ruminantes, notadamente vacas leiteiras, têm demonstrado que ao receberem altos níveis de nitrogênio não protéico (uréia), acima de 1/3 do N total da dieta, ou mesmo alimentos concentrados protéicos que possuam alta solubilidade ruminal da proteína, ou ainda, com desbalanço na relação carboidratos prontamente solúveis no rume:nitrogênio rapidamente fermentável, de que tais animais apresentam maior taxa de retorno ao cio, sendo que vários autores citados por Saturnino (2005) atribuem tal fato à dificuldade de nidação do ovo recém formado devido às alterações no pH uterino. Assim, fica patente a necessidade de se empregar práticas de balanceamento de rações para ovelhas que considerem as porções degradadas no rume e pós-rume a diferentes taxas, como se dá com o sistema PDI (Jarrige, 1981), AFRC (1993) e o sistema CNCPS da Universidade de Cornell13. Esse último permite inclusive que se baixe um programa para calcular as exigências nutricionais de ovinos empregando o método de fracionamento de proteína e carboidratos. Para quem desejar acesso a toda a publicação do NRC (1985), o mesmo pode ser obtido na internet14.

9. ALIMENTAÇÃO DOS CARNEIROS E FUTUROS REPRODUTORES Os cordeiros e borregos jovens destinado à reposição do rebanho ou à venda, devem ser mantidos em pastagens de melhor qualidade, e em épocas de escassez receberem suplementação concentrada e por vezes volumosa, quando a qualidade do pasto ou forragem de corte cair demais. Evitar o uso excessivo de concentrados, pois pode haver comprometimento na eficiência reprodutiva, como também dificultar os saltos quando em estação de monta, fato muito comum em animais de rebanhos elite super alimentados. Quando ocorrer tal super alimentação e os animais apresentarem com baixo desempenho andrológico e mesmo baixa libido, recomenda-se, juntamente com uma dieta especificamente balanceada para esses animais, a adoção de programas de exercícios capazes de amenizar os impactos advindos da obesidade. De duas a três semanas antes da estação de monta, a depender da condição corporal dos machos, os mesmos deverão ser submetidos a programas de reforço alimentar. E após o início das montas os mesmos devem receber quantidades apropriadas de concentrados, evitando-se o excesso, pois na maioria das vezes ocorrerá alteração na relação Ca:P (excesso de P) que pode ocasionar a formação de cálculos renais e exigir 13 14

www.cncps.cornell.edu/cncps/main.htm www.zootecnista.com.br

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

148

drástica intervenção de médico veterinário ou mesmo a perda do animal como reprodutor. O emprego de formulações minerais devidamente balanceadas para essa categoria e espécie evita tais riscos. Prática pouco usada, seja em rebanhos comerciais, seja em rebanhos elite. Ao final da estação de monta os animais devem ser alimentados de sorte que recuperem suas reservas corporais (condição corporal ou escore corporal), sendo mantidos com rações de manutenção das mesmas até a próxima estação. Quando os carneiros forem mantidos confinados, oferecer quantidades de volumosos capazes de assegurar a seleção pelos mesmos, considerando-se o índice de sobras em função da qualidade da forrageira (Jarrige, 1981): •

Verde de média qualidade: 30% de sobras;



Verde de pior qualidade: 50% de sobras;



Um bom feno: 10% de sobras;



Um feno de pior qualidade: 15% de sobras;



Silagem de ótima qualidade: 15% de sobras.

Esse aspecto é pouquíssimo explorado em rebanhos comerciais, mas muito bem tratado nos elite. Aos produtores de carne ovina fica o alerta, o volumoso é a maior porção da dieta dos animais de sistemas de produção, trabalhando-se a favor da qualidade do volumoso produzido na fazenda, além de diminuir em muito o índice de sobras, tem-se menor gasto com suplementos para balancear as rações, em suma, ganha-se sempre, e em mais de uma via.

10. CONSIDERAÇÕES Verifica-se a existência de muitas lacunas a serem preenchidas no manejo nutricional da ovinocultura nacional. Ovelhas em final de gestação e início de lactação devem ser priorizadas em todos os rebanhos que não possuírem pastagens e/ou alimentos concentrados para atender a todo o rebanho, na seqüência devem ser consideradas as borregas destinadas à reposição. Em rebanhos elite essa categoria deve ter suas dietas formuladas e/ou avaliadas por sistemas de exigências que considerem a partição de nutrientes, se são mais prontamente aproveitados no rume ou no trato gastrointestinal posterior. Assim evita-se muitos dos problemas verificados nos sistemas e também otimiza a resposta animal. O emprego da “leitura” do escore corporal deve ser prática presente e constante que quaisquer de rebanhos ovinos. Cordeiros podem ser criados mais intensamente à base de alimentação láctea ou concentrada, cabendo aos técnicos e produtores envolvidos na produção de carne

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

149

ovina fazerem as avaliações econômicas do sistema. Já para as cordeiras, o que deve ser levado em consideração é de cunho econômico, visto que o excesso de ganho em peso só passa a prejudicar na fase de recria. Borregas de reposição podem ter sua puberdade adiantada em função de programas nutricionais que propiciam maiores ganhos médios diários, ressaltando-se porém que as lactações dessas fêmeas podem estar sendo comprometidas. Rebanhos comerciais, principalmente aqueles baseados em produção a pasto devem usar essa prática com muita cautela, tendo-se em vista as possíveis perdas decorrentes da menor produção de leite pela ovelha (menor desenvolvimento de cordeiros, maior taxa de mortalidade até a desmama, menor quantidade de kg de cordeiros desmamados/ovelha colocada em estação, dentre outros). Planos nutricionais distintos devem ser elaborados para os reprodutores, sendo que nos rebanhos elite, cuidado especial para evitar-se a ocorrência de cálculos renais, devido ao fornecimento, por vezes excessivo, de concentrados; em ambos rebanhos preconizar programas pré, durante e pós estação de monta para os carneiros em serviço. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFRC - AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL. Energy and protein requirement or ruminants. Wallingford, CAB International, 1993. 98p. AMARANTE, A.F.T. Como conviver com a verminose. In: III SIMPÓSIO MINEIRO DE OVINOCULTURA: CADEIA PRODUTIVA-OVINOCULTURAL, 1, Lavras, MG, 2001. Anais... p. 121-145 . ARC - AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL. The nutrient requirements of ruminant livestock. Commonwealth Agricultural Bureaux, 1980. 351p. Barros, N.N.; Simplício, A.A. de; Fernandes, F.D. Terminação de borregos em confinamento no Nordeste do Brasil. Sobral: EMBRAPA-CNPC, 1997. 28p. (EMBRAPA-CNPC. Documentos, 26). CARLES, A. B. Sheep production in the tropics. Oxford University, 1983. 213p. CÉZAR, M. F.; SOUSA, W. H. Creep feeding – uma ferramenta tecnológica para melhoria de desempenho reprodutivo e produtivo de caprinos e ovinos de corte. In: SINCORTE, 2, 2003, João Pessoa. Anais... COLDITZ, I.G.; WATSON, D.L.; GRAY, G.D.; EADY, S.J. Some relationhip between age, immune responsivess and resistance to parasites in ruminants. In: INT. J. PARASITOL., v.26, p. 869-877, 199. COOP, I. E. ed. Sheep and goat production. World animal science - C - Productionsystem approach. Elsevier, Amsterdam. 1982. 492 p.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

150

DAVIS, C. L.; DRACKLEY, J. K. The development, nutrition and management of the young calf. Iowa: State University, 1998. 339p. FERREIRA, M. I. C. Avaliação de sucedâneos para cordeiros. Belo Horizonte, Escola de Veterinária da UFMG. 2005. 36p. (dissertação de mestrado). FERRER, L. E. & ORTIGOSA, A. C. Producción de ganado ovino en la América tropical y el Caribe. Centro de Informacion y Documentacion Agropecuario de Cuba, Havana. 1989. 233p. FIGUEIRÓ, P. R. P. Manejo alimentar do rebanho ovino. IN: SIQUEIRA, E. R. e GONÇALVES, H. C. Simpósio Paulista de Ovinocultura, I. Fuandação Cargill, Campinas, 1989. 22-33 p. FRASER, A. e STAMP, J. T. Sheep husbandry and diseases, 6 Scientific, Oxford, 1989. 258 p.

th

ed., Blackwell

HAFEZ, E. S. E. Adaptacion de los animales domesticos, Barcelona, Labor, 1973. 563 p. JARRIGE, R. Alimentación de los rumiantes. Madrid. Munsidal Prensa, 1981. 677p. LANE, S. F.; MAGEE, B. H.; HOGUE, D. E. Growth, intakes and metabolic responses of artificially reared lambs weaned at 14 d of age. J. Anim. Sci., v.63, n.6, p.2018-2027, 1986. LINDAHL, I. L.; SIDWELL, G. M.; TERRIL, C. E. Performance of artificially reared finnsheep-cross lambs. J. Anim. Sci., v.34, n.6, p.935-939, 1972. MACEDO JUNIOR, G.L., ALMEIDA, T.R.V.,ASSIS, R.M., PEREZ, J.R.O.,TEIXEIRA, J.C., DE APULA, O.J.,BORGES, I., FRANÇA, P.M., SILVA, A.G.M., FERREIRA, M.I., ALBUQUERQUE, F.H.M.A.R., RIBEIRO, S.L.M., SALES, G.A., MENEGHETI, C. Influência dos diferentes níveis de FDNf na ingestão de água de ovelhas Santa Inês gestantes. In Anais do ZOOTEC 2005. ZOOTEC, 2005, Campo Grande , MS. MACEDO JUNIOR, G.L., ALMEIDA, T.R.V.,ASSIS, R.M., PEREZ, J.R.O.,TEIXEIRA, J.C., DE APULA, O.J.,BORGES, I., FRANÇA, P.M., SILVA, A.G.M., FERREIRA, M.I., ALBUQUERQUE, F.H.M.A.R., RIBEIRO, S.L.M., SALES, G. PINTO JUNIOR, A.A. Influência dos diferentes níveis de FDNf na ingestão de água de ovelhas Santa Inês . In Anais do ZOOTEC 2005. ZOOTEC, 2005, Campo Grande , MS. McCANN, M. A., GOODE, L., HARVEY, R. W. et al. Effects of rapid weight gain to puberty on reproduction, mamary development end lactation. Theriogenology, Raleigh, v. 32, p.55-67, 1989. McDOWELL, E. E. Base biológicas de la produccion en zonas tropicales, Zaragoza, Acribia, 1974, 692 p.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

151

NRC - NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requirements of sheep. 6th ed. Washington, National Academy Press, 1985. 99p. ORTOLANI, E. L. Intoxicações e doenças metabólicas em ovinos: intoxicação cúprica, urolitíase e toxemia da prenhez. IN: SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. P.241-258. OWEN, J. B. The artificial rearing of lambs. Vet. Rec., v. 85, n.14, p.372-374, 1969. PEART, J. N. Lactation of suckling ewes and does. In: COOP, I. E. (Ed.). World animal scince: sheep and goat production. Amsterdam: Elsevier, 1982. C1, cap.6. p.119-134. ROBISON, J. J.; MCDONALD, I, FRASER, C.; CROFTS, J. M. J. Studies on reproduction in profilic ewes. I. Growth of the products of conception. Journal of Agricultural Science, n.88, v., p.9-16, 1977. ROBINSON, J. J. Pregnancy. IN: COOP, I. E. ed. Sheep and goat production. World animal science - C - Production-system approach . Elsevier, Amsterdam. 1982. p. 103-118. SATURNINO, H. M. Nutrição e reprodução em fêmeas bovinas de leite. IN: BORGES, I.; GONÇALVES, L. C.; BUENO, P. H. S. III Simpósio mineiro de nutrição de gado de leite. Escola de Veterinária da UFMG, p. 143-154; 2005. SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. 258 p. SCOTT, G. E. The sheepman’s production handbook. Land Grant University, Denver, 1970. 315p. SIQUEIRA, E. R., AMARANTE, A. F. T. e FERNANDES, S. Estudo comparativo da recria de cordeiros em confinamento e pastagem. Revista Veterinária e Zootecnia, n.5, p.17-28, 1993. SUSIN, I. Exigências nutricionais de ovinos e estratégias de alimentação. IN: SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. P.119-141. UMBERGER, S. H., GOODE, L., CARULO, E. V. et al. Effect of accelerated growth during rearing on reproduction and lactation in ewes lambing at 13 to 15 months of age. Theriogenology, Raleigh, v.23, p. 555-564,1985. VIANA, R. O. Avaliação do desempenho de cordeiros Santa Inês em confinamento com milho expandido em sua dieta. Tese de mestrado em Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG. 2004. 47p.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

152

RAÇÃO PARA OVINOS EM ENGORDA SITUAÇÃO: Borregos com 30 Kg PV; ganho diário de 180g; Exigências: MS 1,32 Kg (4,4% PV); PB = 0,154 Kg (11,7%), NDT = 0,82 Kg (62,12%); Ca = 2,9g (0,22%); P = 2,6 g (0,20%); NaCl = 8,0 g (0,61%) ALIMENTOS DISPONÍVEIS: ALIMENTOS Grama Estrela Feno Aveia Farelo Arroz MDPS Farelo Algodão Fosf. bicalc. Calcário Sal Mineral

MS 31,2 86,2 91,0 92,0 91,0 100,0 100,0 100,0

PB 8,9 9,2 14,8 6,5 39,0 -

NDT 49,0 54,0 80,0 70,2 65,0 -

FB 29,6 30,4 11,0 10,5 12,8 -

Ca 0,46 0,26 0,07 0,23 0,17 23,0 37,0 -

P 0,20 0,24 2,00 0,31 1,28 18,0 -

Fazer pré-misturas para facilitar os cálculos numa equação simultânea: Ex: A) Estrela sob pastejo e feno de aveia (70:30):Terão PB=8,99% NDT=50,5% B) Farelo Arroz e MDPS (50:50):PB=10,65% e NDT=75,1% C) Farelo de Algodão DEIXAR 1,5% DE ESPAÇO DE RESERVA (ER) PARA MINERAIS, teremos uma ingestão de MS 1,3 Kg/dia [1,32x(1,32x0,015)], excetuando-se a ingestão dos minerais (19,8g). I A + B + C = 1,3 II 0,089A + 0,1065B + 0,39C = 0,154 III 0,505A + 0,7510B + 0,65C = 0,82___

Multiplica-se a equação I por um coeficiente da equação II ou III, para eliminarmos uma incógnita e ficarmos com duas equações e duas incógnitas. Neste caso faremos com o 0,39 da equação I. Teremos: 0,39A + 0,39B + 0,39C = 0,507 -0,39A - 0,1065B - 0,39C = -0,154 (multiplicou-se por -1) IV 0,301A + 0,2835B = 0,353 0,65A + 0,65B + 0,65C = 0,845 -0,505A + 0,751B + 0,65C = -0,82_(multiplicou-se por -1) V 0,145A - 0,101B = 0,025 Aplicamos sistema de equações em IV e V pelo método da adição:

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

153

0,301A + 0,2835B = 0,353 (0,101) pois é negativo em V 0,145A - 0,101B = 0,025 (0,2835) 0,03040A + 0,0286B = 0,03565 0,04111A - 0,0286B = 0,00709______ 0,07151A = 0,04274 0,419 estrela A = 0,04271 0,07151

A = 0,598 Kg Vol. (70:30)

0,179 feno aveia

Substituindo A em IV teremos: 0,305 Kg de MDPS 0,301A + 0,2835B = 0,353 B = 0,610 Kg B = 0,353 - (0,301 x 0,598) arroz 0,2835

0,305 Kg de farelo de

Substituindo A e B em I acharemos o C: A + B + C = 1,3 Kg C = 1,3 - (0,598 + 0,610) C = 0,092 Kg de farelo de algodão

CONFERINDO SE AS EXIGÊNCIAS FORAM SUPRIDAS

ALIMENTOS Grama Estrela Feno Aveia Farelo Arroz MDPS Farelo Algodão Oferecido Exigências

Qtdd MS(g) PB(g) 419 37,29 179 16,47 305 45,14 305 19,82 92 35,88 1300 154,60 1320 154,00

NDT(g) 205,31 96,66 244,00 214,11 59,80 819,88 820,00

Ca(g) 1,93 0,46 0,21 0,70 0,10 3,40 2,90

P(g) 0,84 0,46 6,10 0,94 1,18 9,52 2,60

Mesmo suprindo os minerais Ca e P, devemos oferecer-lhes a mistura de sal mineralizado, que pode ser um suplemento mineral comercial diluído em NaCl (2:1). “LEMBRAR QUE ESTA RAÇÃO FOI CALCULADA NA MATÉRIA SECA, NECESSITANDO SER EXPRESSA NA MATÉRIA COMO OFERECIDA”.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

154

OUTRA FORMA DE FAZER O CÁLCULO

PB = 11,7% NDT = 62,12%

ER = 1,5%

Trabalharemos com relação volumoso:concentrado de 45:55, e o ER será tirado nos 55% do concentrado [55-(55x0,015)] = 53,5%. Será este nosso fator de ajuste da ração final. Calculando as necessidades de PB e NDT do concentrado: (0,45x8,99) + (0,55xPB) = 11,7 PB no conc = 11,7-4,0455 0,55

PB = 13,92% no conc.

(0,45x50,5) + (0,55xNDT)= 62,12 NDT no conc = 62,12-22,725 0,55

NDT = 71,63% no conc.

Usaremos o método das equações simultâneas para fecharmos a proteína e energia, duas equações com duas incógnitas: A será energético e B o protéico.

0,1065A + 0,39B = 13,92 (0,7510) 0,7510A + 0,65B = 71,63 (0,1065) 0,07998A + 0,29289B = 10,454 -0,07998A - 0,06923B = -7,628 0,22366B = 2,826 B = 12,63 partes de farelo de algodão Substituímos B na equação I 0,1065A + 0,39B = 13,93 A = 13,92-4,9257 A = 84,45 partes da mistura energética 0,1065

TOTAL 97,08 → 12,63 →

% 100 X

TOTAL % 97,08 → 100 84,45 → Y

X = 13,01% F. algodão Y = 86,99% Mist. energ. 13,01 x 0,535 = 6,96% na ração 86,99 x 0,535 = 46,54% na ração completa

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

155

CÁLCULO DE RAÇÃO POR TENTIVA E ERRO 1) Ração completa par ovelhas com 50 kg de peso vivo e com um cordeiro ao pé. Segundo o NRC (1975) possui as seguintes exigências: PD = 6,2%, EM = 2,4 Mcal/kg, Ca = 0,52% e P = 0,37%. Alimentos Palha de trigo Trigo grão Sorgo grão

EM (Mcal/kg) 1,37 3,18 3,00

PD (%) 1,5 11,2 7,1

Ca (%) 0,17 0,06 0,05

EM (Mcal/kg) 1,37 2,40 -1,03

PD (%) 1,5 6,2 -4,7

P (%) 0,08 0,41 0,35

TENTATIVA 1: Usando 100% de palha de trigo. Tem-se: Alimentos Palha de trigo Exigências

% do alimento 100 100 -

Déficit/Superávit

TENTATIVA 2: Substituindo-se parte da palha de trigo por trigo grão. no caso o da energia, como dividendo de uma Para tal deve-se usar um dos déficits divisão, onde o divisor é a diferença entre a composição do nutriente em questão; nesse caso a energia. 1,03 ÷ (3,18 - 1,37) = 0,57 ou 57% de trigo grão (3,18 é a EM do trigo e 1,37 da palha). 100 - 57 = 43% de palha de trigo, que daqui para diante não sofrerá alterações. Tem-se então: Alimentos Palha de trigo Trigo grão TOTAL Exigências Déficit/Superávit

% do alimento 43 57 100 100 -

EM (Mcal/kg)

PD (%)

0,59 1,81 2,40 2,40 0,00

0,65 6,40 7,05 6,20 +0,85

TENTATIVA 3: Substituindo o trigo grão por sorgo grão.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

156

Usa-se agora o superávit da proteína digestível, assim o cálculo seria: 0,85 ÷ (11,2 - 7,10) = 0,21 ou 21% de sorgo. 57 - 21 = 36% de trigo grão. Tem-se agora: Alimentos Palha de trigo Trigo grão Sorgo grão TOTAL Exigências Déficit/Superávit

% do alimento 43 36 21 100 100 -

EM (Mcal/kg) 0,59 1,14 0,63 2,36 2,40 -0,04

PD (%) 0,65 4,03 1,49 6,17 6,20 -0,03

Observação: Os teores de MS dos alimentos são: Palha de trigo = 90,1, Trigo grão = 89,0 e sorgo grão = 89,0%.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

157

SELEÇÃO E MELHORAMENTO DE OVINOS

Tem-se estabelecido índices de seleção para ovinos aplicáveis a cada região e rebanho, considerando-se sempre: a: prolificidade da ovelha, b: tipo de lã, c: quantidade de lã produzida, d: qualidade da lã produzida, mais recentemente professores da UNESP-Jaboticabal e UEM - Maringá, preocuparam-se com a questão da aclimação dos ovinos neste parâmetros para seleção, individualizando modelos de aclimação para raças e ecotipos distintos em determinada região e/ou manejo. A seleção por performance vem ganhando lugar daquela que considera só o exterior: Índice de seleção da estação de DUBOIS nos EUA: I= 75 - 15F + 7L + W + 0,47T + 7C - 11N , onde: I - índice de seleção; F- Cobertura da cara, L - comprimento do velo; W - peso após desmama; T - classificação pelo tipo; N - pregas no pescoço; 75 - torna o índice próximo a 100. *** Nota-se que é mais apropriado para raças especializadas para lã. ASPECTOS SEMPRE LEMBRADOS EM PROGRAMAS DE MELHORAMENTO: a) Prolificidade da ovelha: será considerado em qualquer sistema de seleção, pois permitirá maior pressão de seleção. b) Constituição: sempre usar os animais de melhor constituição, fator nutricional não pode mascarar nem para cima nem para baixo. c) Tamanho: mínimo recomendado para a raça. d) Conformação: sem defeitos como: cernelha alta; depressão acentuada atrás das espáduas; lombo e dorso deprimidos ou arqueados, etc. e) Rendimento de lã: considerar conjuntamente o peso, a qualidade e a uniformidade. Além da extensão, distendibilidade, densidade e comprimento das mechas. Lembrando-se que lãs mais finas são mais curtas, evitar afinar demasiadamente as lãs para não debilitarmos os animais em uma seleção paralela indesejável. f) Quantidade de lã: pode ser conseguida contrastando animais com e sem rugas, evitando-se rugas em demasia, geralmente promovem queda na qualidade. No índice DUBOIS as rugas assumem caráter negativo (-11N). g) Cobertura da cara: constratar cara limpa vs.cara coberta. Cara limpa tem maior produção de cordeiros (> fertilidade), mas na produção de lã não tem diferença.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

158

HERDABILIDADE MÉDIA DE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

Comprimento da mecha ......................21% Quantidade de pelo ......................... 50-70% Espessura da lã .................................. 41% Qualidade do velo .............................. 14% Suavidade .......................................... 44% Peso do velo .....................................10-15% Brilho ............................................... 27% A herança (h2) para qualidade da lã é de 0,2 e para pregas no pescoço é de 0,3. A lã branca é dominante sobre a colorida exceto no Karakul onde a preta é dominante, que por sua vez é recessivo para a cinza. Como a pressão de seleção e o método de seleção influenciam muito no progresso genético do rebanho, deve-se partir para carneiros com teste de progênie, pois acelera-se o progresso (no mínimo 15 filhas/carneiro), além disto comprar a produção de mãe com os índices produtivos do plantel. Outra forma auxiliar de seleção é lançar mão de pedigrees mais o completos possível. CONSANGÜINIDADE: Pode ser usada para fixação de tipos ou manutenção de determinadas características, principalmente nos cruzamentos de raças com características mais distintas. CRUZAMENTOS: Cruzamento absorvente pode apresentar bons resultados, melhorando o desempenho de raças com baixo potencial, geralmente aparecendo melhorias após a 4ª geração. Pode-se perder muito da rusticidade e neste caso deve-se obrigatoriamente melhorar o ambiente.

ESCOLHA DE REPRODUTORES E MATRIZES:

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

159

REGISTRO GENEALÓGICO DE OVINOS NO BRASIL (RGB)

Descriminado pelos Estatutos da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos ARCO Delega poderes de registro às Instituições a nível Estadual - CAPRILEITE, ASPACO, etc...

SÍMBOLOS DO NÍVEL ZOOTÉCNICO DOS OVINOS E SEU SIGNIFICADO: ARCO

PP: Puro de Pedigree (atualmente é PO). Idade mínima de 3 meses e máxima de 3 anos para a apresentação dos animais. RD: Raça Definida. Para animais PC livres de defeitos graves. Idade mínima para apresentação 12 meses. SO: Seleção Ovina. Para PC que destacam-se em produtividade

RGB: Registro Genealógico Brasileiro. A partir do SO. Puros de Origem Conhecida (PCOC). Será o futuro PO Nacional. CG:Controle Genealógico. Empregado para os programas de cruzamento absorvente. CT:Controle de Tosquia. Para animais de exposição: PADRONIZAÇÃO DOS ANIMAIS.

QUALIFICAÇÃO DOS REBANHOS PLANTÉIS: Somente animais registrados (PO: PCOC: PCOD) com nível SO ou superior. REPRODUTORES POR EXCELÊNCIA. REBANHO GERAL DEFINIDO: Animais tatuados RD. REBANHO GERAL COMERCIAL: Animais sem tipo racial definido, mas zootecnicamente produtivos. REBANHO TIPO REFUGO: Animais com defeitos graves (SRD)

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

160

MANEJO REPRODUTIVO DE OVINOS

1. Puberdade: Geralmente as fêmeas apresentam cio entre 4 - 6 meses nas raças mais precoces, no entanto é mais comum à idade de 7 - 10 meses. Raças de corte entram na puberdade entre 9 - 10 meses, enquanto as de aptidão mista, mais tardias, entre 18 - 22 meses. Os machos devem ser utilizados com 1,5 a 2 anos (2 dentes). Borregas de corte ou lanígeras entram para reprodução geralmente após 18 meses, apresentando peso vivo de 40 a 45 Kg (65 a 75% PV adulto), quando terão condições corporais ideais para a reprodução, além disto existem trabalhos mostrando que após 40 Kg de PV, cada ganho de 5 Kg no peso representam elevação de 6% na fertilidade. Deste modo as flutuações nutricionais pré-púbere antecipam ou retardam o início da vida reprodutiva, juntamente com raça e estação do ano: via de regra estas últimas irão influir no peso e idade à puberdade. 2. Poliestria Estacional: É mais acentuada na latitudes maiores (Sul do País). Há também variações genéticas, pois animais Merinos apresentam menor influência do fotoperíodo que as demais raças; os ovinos Ingleses são os mais dependentes do comprimento dos dias, exceto a Dorset Horn. Estas raças mais sensíveis às alterações fotoperiódicas iniciam a estação reprodutiva (apresentação regular dos cios) a partir do outono, atingindo o máximo durante o inverno. Por outro lado as raças nativas do Brasil (deslanadas) apresentam cio por todo o ano, muito embora possam ter maiores concentrações de cios em determinada época, muito mais devido à sazonalidade da oferta de alimentos que propriamente por influência da luminosidade. Ex: Merinos podem iniciar ciclos já na primavera, prolongando tal início pelo verão e outono; as fêmeas Ideal podem ciclar ainda no verão (dezembro); as Corriedale em janeiro e final do outono. Aquelas fêmeas Corriedale com lã na cara tendem a apresentar menor fertilidade; na Romney Marsh é bem marcante a partir de março (início do outono), de modo similar estão a Lincoln, Southdown, Sulfolk e Hampshire. Além do fotoperíodo, a presença do carneiro e a freqüência de amamentação também influenciam no aparecimento do cio nas ovelhas. 2.1. Indução do cio: - Hormonal: FGA (40 mg) usados na esponja vaginal por 14 dias, quando aplica-se 400-800 UI de PMSG. - Programa de Luz: geralmente para as poliestrais estacionais, um fotoperíodo de 12 a 18 horas pode induzir ao cio. Pode ser a redução abrupta da luminosidade (caindo diretamente para 12 a 18h luz/dia) ou gradativa (10 a 12 minuto/dia até atingir a luminosidade desejada), aplicando-se o programa de luz por 30 a 36 dias. Submeter os carneiros ao programa juntamente com as ovelhas. - Presença do macho pode desencadear o cio 16 a 18 h após a permanência deste no piquete ao lado. - Período de aleitamento e descanso sexual são importantes no aparecimento do cio, se bem que existem autores que não consideram o feito do primeiro como algo consistente.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

161

2.2. Detecção do cio: Usar rufiões de preferência vasectomizados, com esponja marcadora em cores diferentes para cada ordem de detecção (primeira detecção ou repasse). Identificação do muco (coloração, consistência e quantidade): no início é claro como clara do ovo e gradativamente torna-se turvo, abundante e de maior consistência no meio do cio, estando receptiva ao macho. No final torna-se mais opaco e pegajoso. Há edema e heperemia vulvar visíveis. SEM ALTERAÇÕES PSÍQUICAS DAS OUTRAS FÊMEAS. 3. Estação de Monta: Tem como Vantagens: A maior uniformidade dos cordeiros; Possibilita uso mais racional das pastagens; Racionaliza o tampo de controle do rebanho e da mão-de-obra. Qual a melhor época? PARA MELHOR ESCOLHA DEVEMOS CONSIDERAR: a) A EM deve corresponder ao período de maior atividade sexual das ovelhas e melhor produção de sêmen dos carneiros. Para isto devemos considerar, inicialmente, as diferenças na atividade sexual entre raças e as diversidades ambientais. Ex: No RS o período de atividade sexual inicia-se nos meses de verão-outono (dezembro a maio), com maior concentração entre março-abril (outono), já no Nordeste as nativas apresentam-se poliéstricas, com maior incidência de cios férteis no início das chuvas. b) O nascimento dos cordeiros deverá coincidir com um clima ideal para a sobrevivência destes, aí considera-se a disponibilidade de pastagens suficiente para assegurar boa lactação de suas mães, bem como evitar nascimento em estações muito frias (RS, SC e PR) ou com alta infestação parasitária. Quando a EM for Nov.-Dez. as ovelhas estarão em boas pastagens e a estação de parição se dará no outono, já quando a EM for de Março-Abril a EP será em Ago.-Set. onde os recém nascidos não terão o frio e suas mães disporão de forragens melhores (melhor amamentação). c) O momento de venda dos produtos (lã e principalmente a carne) deverá estar consonante com os melhores preços do mercado. ESQUEMA DE UMA ESTAÇÃO DE MONTA MOSTRANDO O CICLO REPRODUTIVO OVINO E O CRESCIMENTO DA PASTAGEM Sazonalidade das pastagens

MONTA Tosquia e Desmama Nov Nov

Dez

Jan

Fev

Mar

Abr

PARTO

Maio

Jun

Jul

Ago

A duração da Estação de Monta geralmente é de 8 semanas (6 a 12 sem)

Set

Out

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

162

O quadro abaixo mostra a relação entre a Estação de Monta e a Eficiência Reprodutiva em ovelhas. Eficiência Reprodutiva em Ovelhas Merino, Ideal e Corriedale cobertas em diferentes épocas Época de % Cordeiros Peso (Kg) ao % Ovelhas % Ovelhas Raça Cobertura % Parição Mortos Sinalamento com gêmeos falhadas MERINO Dez. 71,5 7,1 64,4 1,6 30,2 Abril 106,2 21,4 84,8 16,9 9,5 IDEAL

Dez. Abril

88,1 112,0

12,7 15,9

75,4 96,1

6,7 25,0

18,6 15,2

CORRIEDALE Jan. 54,1 4,2 Fev. 80,5 11,2 Março 109,0 17,0 Abril 107,5 14,5 AZZARINI e PONZONI (1971) - Uruguai

49,9 68,7 92,0 93,0

10,6 13,7 29,2 19,1

56,6 33,2 20,8 12,0

Observa-se uma tendência mais acentuada de melhor desempenho reprodutivo e produtivo nas estações de outono, com rapidez no aparecimento dos cios, melhor taxa ao desmame (sinalamento) e melhor taxa de natalidade. Para os nascimentos ocorridos na primavera (tardios), não houve tempo hábil para o abate na época de maior demanda, já os nascidos no inverno tiveram menor incidência de bicheiras, mas as noites frias e chuvosas contribuíram para elevar a mortalidade (solução p/ Uruguai: Confinar filhotes). 3.1. Monta Natural: Usar de 2 a 3% de carneiros/ovelhas (1:33 - 1:50), sempre com idade adequada, lembrando que carneiros jovens têm menor desempenho e sêmen de pior qualidade fecundante que os adultos. Desvantagens: Exige maior nº de carneiros; Dificulta e retarda o melhoramento genético pois não se tem controle das cobrições; Não permite o controle da fertilidade de machos e fêmeas, no caso destas últimas quando se observa a falha reprodutiva (não prenhez) a estação de monta já terminou. Pode-se optar por deixar as fêmeas junto ao carneiros somente à noite, quando são recolhidos. 3.2. Monta Controlada ou Dirigida: Os rufiões com marcadores ficam com o rebanho à noite, as ovelhas marcadas irão para o piquete dos reprodutores pela manhã. Após cobertas e devidamente tomadas as anotações com a identificação da semana da cobertura (1ª, 2ª, etc), são colocadas em outro piquete separado para verificar se retornam ao cio ( 2 - 3 dias). Isto facilita identificar eventuais problemas com os machos e/ou fêmeas. Este é um dos manejos mais adotados no Sul. Vantagens e características: Permite controle reprodutivo mais eficaz por observar o desempenho de machos e fêmeas; Uso mais racional dos carneiros (0,8 a 2% de

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

163

machos); Possibilita um melhoramento genético mais rápido; Usa rufiões para detecção dos cios (2% a 3% de rufiões); Mais trabalhosa que a natural. 3.3. Inseminação Artificial: Irá exigir instalações adequadas, bem como pessoal altamente qualificado. IA pode ser intracervical superficial, intravaginal ou intrauterina (mais riscos para o trato reprodutivo. Há maiores possibilidades de erros que na IA de outras espécies, principalmente no que se refere ao congelamento do sêmen, que é muito difícil, exigindo o uso de sêmen fresco ou resfriado. Isto pode ser devido: a) Falha no mecanismo de transporte do espermatozóide congelado através da cérvice; b) Reduzida longevidade numa alta proporção espermática; c) Choque de temperatura da faixa de 0ºC. Assim o sêmen deve ser colhido na propriedade e diluído ou transportado resfriado por uma distância relativamente pequena, exigindo um esquema muito bem montado. Justifica-se para rebanhos com mais de 500 ovelhas em estação. o índice de fertilidade obtido em programas de IA está entre 80-90% em rebanhos gerais, mas se houver controle até o 2º cio pode-se atingir 100%. * Após a Estação de Monta a rotina volta ao normal e só reinicia um trabalho mais intenso quando da Estação de Nascimento (3 meses depois). 4. Estação de Nascimento: Exige certos cuidados: - 30 dias antes de seu início vacina tríplice (Gangrena, enterotoxemia e carbúnculo); - nos 2 últimos meses cuidado com a alimentação das ovelhas prenhes (maior exigência: 2,5 vezes), pois no terço final da gestação o feto já atingiu 75 a 80% do PV ao nascer. Muito cuidado com a TOXEMIA DA GESTAÇÃO que acomete ovelhas subnutridas ou mal alimentadas, principalmente quando possuem fetos gêmeos, principalmente devido à este aumento nas exigências nutricionais. Excepcionalmente pode ocorrer em ovelhas que atingem a gestação muito obesas. - condições ambientais adequadas às ovelhas e aos cordeiros. - cascarreio e desolhe das ovelhas no último mês da gestação, este último quando necessário. - destinar um piquete maternidade é fator primordial para um perfeito manejo da ovelha e sua cria. 5. Período de Serviço: O retorno à atividade sexual pós-parto é fortemente dependente da lactação, presença do macho e nível alimentar, não esquecendo dos fatores climáticos (raças temperadas têm anestro fisiológico de 7 meses). A duração média do período de serviço de 72 dias (44 a 130 dias). 6. Gestação: Varia de 143 a 156 dias. 7. Desmama: Sul e sudeste: 3 meses, NE 100 - 120 dias.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

164

NÍVEIS INDEPENDENTES PARA CLASSIFICAÇÃO DO SEMEN OVINO EM ESCORES DIFERENTES Escore do Cabeças sêmen anormais 1 2 3 4 5 a-

Escore da Descrição

Muito boa 6,6 Boa 6,8 Satisfatória 7,0 Ruim 7,4 Muito ruim >7,4

pH

Concen-

Motilidade (%)

90 75 60 15 <15

1,8a 1,4 1,0 0,1 <0,1

% de Vivos

tração

Normais

90 80 70 40 <40

10 20 30 60 >60

% Anormais

0 5 10 25 >25

Bilhões por cm3

MANEJO DA OVELHA GESTANTE E SUA IMPORTÂNCIA NA CRIAÇÃO DO CORDEIRO Prof. Iran Borges Na produção da carne ovina deve-se considerar, inicialmente o aspecto reprodutivo da ovelha, visto que objetiva-se trabalhar com um ou mais cordeiros viáveis. Nesse aspecto, assinala-se que o desenvolvimento muscular dos cordeiros de corte dá-se de forma continuada, a partir de sua concepção. Registra-se ainda que boa parcela da vida desses cordeiros transcorre-se no útero, visto que são 20 a 21 semanas de gestação, e o período de vida dos animais (nascimento ao abate) será de 12 a 16 semanas em sistemas de criação mais intensivo, ou de 16 a 24 noutros. Obviamente que na exploração de borregos ou borregões, darse-á a diluição desse efeito, que no entanto, ainda assim far-se-á presente. O manejo nutricional das ovelhas um pouco antes e durante a estação de monta, na gestação, principalmente no seu terço final, e na lactação, quando suas exigências alimentares são as maiores de todo ciclo produtivo, assume papel de capital relevância, pois fornecerá condições propícias para que tais fêmeas desempenhem de forma otimizada suas funções como matrizes. Animais perfeitamente nutridos são mais resistentes às doenças e demais agentes estressores. De forma similar, o manejo sanitário e profilático do rebanho irá auxiliar em muito para que o ovinocultor obtenha sucesso no seu agronegócio. Observados todos os aspectos levantados anteriormente, pode-se dizer que falta agora um programa de seleção e melhoramento genético para o plantel, premissa básica para que a ovinocultura atinja índices zootécnicos cada vez melhores.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

165

1. Estação de Nascimento: Exige certos cuidados: • 30 dias antes de seu início vacina tríplice (Gagrena, enterotoxemia e carbúnculo); • Nos 2 últimos meses cuidado com a alimentação das ovelhas prenhes (maior exigência: 2,5 vezes), pois no terço final da gestação o feto já atingiu 75 a 80% do PV ao nascer. Muito cuidado com a TOXEMIA DA GESTAÇÃO que acomete ovelhas, principalmente quando possuem fetos gêmeos, principalmente devido à este aumento nas exigências nutricionais. Excepcionalmente pode ocorrer em ovelhas que atingem a gestação muito obesas. • Condições ambientais adequadas às ovelhas e aos cordeiros. • Cascarreiro e desolhe das ovelhas no último mês da gestação, este último quando necessário. • Destinar um piquete maternidade é fator primordial para um perfeito manejo da ovelha e sua cria. 2. Período de Serviço: O retorno à atividade sexual pós-parto é fortemente dependente da lactação, presença do macho e nível alimentar, não esquecendo dos fatores climáticos (raças temperadas têm anestro fisiológico de 7 meses). A duração média do período de serviço de 72 dias (44 a 130 dias). Alguns índices de fertilidade e perdas que servem como parâmetro para a exploração ovina são mostrados no quadro 1. Quadro 1. Normas sobre fertilidade e perdas anuais em ovinos ITEM BOM MÉDIO Ovelhas cobertas que não parem (%) 3 ou mais 3,1 a 5,0 Partos prematuros (%) 0,5% ou mais 0,6 a 2,0 Mortalidade cordeiros até desmama (%) 7,0 ou mais 7,1 a 15,0 Mortalidade de 1 semana à desmama (%) 3,0 ou mais 3,1 a 12,0 Mortalidade anual de adultos (%) 2,0 ou mais 2,1 a 5,0

RUIM 5,1 ou mais 2,1 ou mais 15,1 ou mais 12,1 ou mais 5,1 ou mais

Fonte: Alba (1964) apdaptado por Villas Boas (1990)

3. Alguns aspectos da Mortalidade Embrionária: Ovelhas bem manejadas geralmente apresentam com um a quatro óvulos, assim as perdas dos ovos (fertilizados) e embriões nos primeiros 35 dias da gestação podem atingir cerca de 10 a 30%. Em alguns casos, tais perdas são, não somente inevitáveis, como responsáveis pela eliminação de cariótipos anormais. 3.1. Fatores que afetam a mortalidade embrionária: Várias são as revisões que enumeram os todos os fatores que conduzem à mortalidade embrionária, os quais, além aqueles de caráter nutricional, podem deverem-se à exposição contínua às altas temperaturas, idade da ovelha, e no caso de ovelhas muito prolíferas ou submetidas a processos super-ovulatórios, o surgimento de crowding

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

166

uterine - útero abarrotado. Mas também pode sofrer influência de baixas temperaturas (difícil no Brasil), manejo, transporte, queda ou choques, superlotação e outros estressores, se bem que esses últimos são mais conjeturais que fatuais. 3.1.1. Estresse calórico: Sob condições experimentais registrou-se uma mortalidade dos ovos no início da gestação (nidação) , em ovelhas que foram imediatamente submetidas a ambientes com 36 0 C de temperatura do ar (Robinson, 1982). Algumas reflexões devem ser feitas nesse sentido, quais sejam: a) os ovos mostram-se mais vulneráveis nos três primeiros dias após a fertilização; b) a variação diuturna da temperatura que verificase no campo favorece a aclimatização e pode resultar em redução dramática de tal efeito. Porém o fato que resta é que, desafortunadamente, o momento da ovulação coincidente com uma súbita onda de calor pode reduzir significativamente a sobrevivência embrionária. Práticas de manejo simples podem ser adotadas com o intuito de diminuir os prejuízos que o estresse calórico proporciona na fecundidade da ovelhas e viabilidade da gestação desde seu início: como destinar piquetes mais sombreados para a ovelhas recém cobertas ou inseminadas, dotados de aguadas frescas e boas pastagens, para evitar-se o caminhar desnecessário sob a radiação solar; programar a estação de monta para épocas em que não corra-se o risco surgimento de ondas de calor - refere-se mais àquelas propriedades onde faz-se indução do cio fora da estação normal, buscando-se três partos em dois anos; evitar que no manejo dessas fêmeas, tanto antes, como após a cobertura ou inseminação, sejam submetidas a corridas ou tumultos desnecessários, capazes de elevar a temperatura corporal a limites condizentes com aqueles do estresse térmico; ou mesmo em caso extremos, usar o sombreamento artificial - sombrites, telheiros, galpões, coberturas com palhas, dentre outros. Para dar complemento ao tema, sugere-se a leitura do Hafez (1974) e McDowell (1979), onde tal efeito é abordado com maior profundidade, também para outras espécies. 3.1.2. Idade da ovelha: Para a ovelha muito jovem, tudo leva a crer que a mortalidade embrionária esteja mais relacionada ao embrião em si que com o ambiente uterino, pois comparando-as com as mais velhas, notou-se que as primeiras apresentam embriões geralmente mais “tardios” e maiores percentuais de perdas. 3.1.3. Super ovulação: O interesse crescente para obter-se ovelhas mais prolíferas e altos índices de produção de cordeiros tem revelado que, em fêmeas com mais de cinco ovulações, há um marcado acréscimo na incidência de perda embrionária. Em alguns casos tais perdas são facilmente detectadas pela presença de tecidos placentários atrofiados que persistem até o parto. 3.1.4. Intensidade da alimentação: Ovelhas lanígeras apresentaram perdas embrionárias que raramente ultrapassavam a 15% (Yeates, 1967). E há evidências de que o aumento nessas perdas devido ao baixo

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

167

plano nutricional, dá-se, principalmente, pela presença de animais jovens no plantel ou quando as fêmeas entram na estação de monta em piores condições, sendo que os índices são geralmente maiores devido à ovulação dupla que à simples (Robinson, 1982). A importância do emprego do flushing um pouco antes da estação de monta para as ovelhas mais fracas, magras ou “sentidas”, visando diminuir e/ou eliminar tal influência causada pelo plano nutricional e eventual condição corporal, torna-se mais evidente após a observação dos relatos acima. A observação de elevado índices de mortalidade embrionária em ovelhas com boa condição corporal no acasalamento, somente ocorrerá quando forem submetidas a condições de subnutrição que envolvam ingestões de MS 20% inferiores às exigências de mantença, mesmo assim, se tais condições prevalecerem por uma semana. Por outro lado, Coop (1982) sugeriu que quando submetidas a jejum - ou carências - por até três dias, dentro dos primeiros doze dias de gestação, as ovelhas que tiveram dupla ovulação, portanto terão parto duplo, não têm expressado perdas embrionárias significativas, desde que apresentemse com boa condição corporal. Robinson (1982) ressalta que no sentido contrário, ou seja, quando ocorre super alimentação na fase inicial da gestação, vários trabalho salientaram que pode-se constatar efeito negativo sobre a viabilidade embrionária. 3.1.5. Nutrientes específicos: Algumas deficiências específicas de microminerais, particularmente cobre, zinco, manganês e selênio, têm sido implicadas na queda do número de cordeiros nascidos. Por vezes fica difícil atribuir se tal fato deva-se à redução na taxa ovulatória ou pelo aumento das perdas embrionárias. Obviamente que exclui-se o selênio, pois já se conhece bem o efeito positivo que a suplementação de selênio, antes da estação de monta, acarreta sobre a sobrevivência embrionária em ovinos criados em áreas com deficiência desse mineral. 4. Considerações sobre o crescimento do concepto: Durante os últimos 50 anos vários foram os trabalhos que descreveram as mudanças no concepto, particularmente no que tange ao desenvolvimento e crescimento do ovo, de seu peso inicial - cerca de 2 µg - até à completa formação fetal 20 a 21 semanas depois, quando o mesmo possui um peso equivalente a 15-20 % do peso metabólico (kg0,75) da ovelha (Robinson, 1982). Citando trabalho de McDonald (1979), Coop (1982) descreveu a curva abaixo que representa de crescimento do feto ovino, de vários tipos de parto em ovelhas Suffolk x (Finnish Landrace x Dorset Horn) que possuíam peso média ao parto de 70 kg: ln kg = 9,649 - 17,574 e-0,00079 ft, onde: kg = peso do feto em gramas; t = tempo em dias de concepção; f = número de conceptos.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

168

4.1. Fatores que afetam o desenvolvimento fetal 4.1.1. Aspectos nutricionais: A probabilidade de obter-se bons produtos ao parto está fortemente correlacionada com a nutrição materna, daí a razão de conhecer-se o efeito que essa causa nas várias fases da gestação. 4.1.2. No início da gestação: Nessa fase não há evidências de que o crescimento embrionário possa elevar os requisitos nutricionais da ovelha, mas ressalta-se que para isso torna-se necessário que a mãe tenha sido bem nutrida até chegar na estação de monta, pois em rebanhos subnutridos é comum observar-se grande retorno ao cio - mortalidade embrionária mais alta. Assim o manejo deve ser direcionado para que toda e qualquer fonte de estresse seja eliminada ou diminuída ao máximo, uma vez que já conhece-se que nos 15 primeiros dias da concepção ocorre um incremento no peso do embrião de até 25% no início da gestação, tornando o embrião suscetível ao estresse. Mas após esse período os fatores endócrinos já influenciam no desenvolvimento embrionário, notadamente a progesterona, e como alguns estudos têm mostrado que a subnutrição afeta a liberação desse hormônio é de se esperar que possa atuar negativamente nessa fase da gestação (Coop, 1982). Mas o certo é que o efeito da nutrição materna tem sido verificado com maior segurança após o 21o dia de prenhez. 4.1.3. No segundo e terceiro meses: Para aquelas ovelhas que atingiram a estação de monta com boa condição corporal pode-se dar uma restrição alimentar no terço médio da prenhez, desde que não ultrapasse 5% de perda do peso materno, pois até tal limite é improvável que ocorra efeito adverso no desenvolvimento fetal. No entanto, Robinson (1982) salientou que restrições mais severas, com perda de até 12% do peso da mãe, podem provocar reduções de ganho de até 10% no feto aos 90 dias. Sempre ressaltando que nas ovelhas primíparas esse efeito apresenta-se mais acentuado. 4.1.4. Nas quatro últimas semanas: Como o rápido crescimento da massa fetal é evidenciado nas últimas quatro semanas de gestação, é comum a recomendação de melhorar-se o plano nutricional nessa fase. Mas isso só será bem executado quando for realizada uma boa sincronização de cios no início da estação de monta, ou ainda quando o plantel tiver uma perfeita escrituração zootécnica, contendo dentre outros dados, a data precisa da cobertura (ou inseminação) e a provável época do parto. Em rebanhos menores, essa segunda opção já auxilia muito, mas nos maiores (acima de 500 cabeças) já mostra-se inadequado, devendo-se lançar mão da sincronização. Quando ovelhas são manejadas em condições alimentares adversas essa estratégia per si pode não solucionar o problema e assim, os cordeiros podem nascer abaixo do peso

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

169

esperado, uma vez que suas mães podem perder até 20% do peso, fato que dificulta a manutenção da taxas normais do desenvolvimento fetal (Robinson, 1982). As respostas à suplementação têm mostrado mais favoráveis quando da suplementação protéica, mas a razão disso talvez resida nas diferenças genotípicas dos rebanhos estudados, pois sempre existiram aquelas ovelhas com maior capacidade de armazenar e depois mobilizar gordura corporal (energia para época de maiores demandas). Isso porém não significa que pode-se negligenciar a suplementação energética, ao contrário, mostra a importância que assume o balanceamento de ração nessa fase da gestação. 4.2. Temperatura ambiente: Da mesma forma como afeta o desenvolvimento embrionário, verifica-se o seu efeito sobre o desenvolvimento fetal. Obviamente para aquelas faixas de temperatura acima da temperatura crítica superior, a qual é dependente, dentre outras coisas da capacidade adaptativa de cada raça (McDowell, 1974). Por isso os testes para verificação da adaptação bioclimática sempre devem ser considerados em programas onde pretende-se explorar ovinos oriundos de regiões temperadas. Para maiores informações sobre tais testes recomenda-se a leitura dos livros textos McDowell (1974) e Muller (1982). 4.3. Doenças: Principalmente aquelas que ocasionam aborto ou reduzem o desenvolvimento fetal. Sendo aquelas que mais produzem danos nesse sentido são a Brucella ovis e Toxoplasma gondii. 4.4. Outros fatores: Embora as causas não sejam identificadas, algumas comparações entre ovelhas estabuladas e outras criadas em pastagens durante a última metade da prenhez mostram cordeiros com peso ao nascer 10 a 15% maior quando criadas soltas. De modo similar, fêmeas mantidas ao ar livre, tosquiadas na metade da gestação ou não, mostraram diferenças similares às anteriormente descrita, em favor daquelas submetidas à tosquia. 5. Fatores que afetam o peso ao nascer e sua importância Sebendo-se que o crescimento dos cordeiros inicia-se durante sua vida intra-uterina, torna-se importante efetuar-se a pesagem e mensurações dos animais ao nascimento para se conhecer e/ou avaliar a influência dos inúmeros fatores sobre o crescimento pré-natal. O peso ao nascimento influencia bastante sobre a sobrevivência dos cordeiros, principalmente quando os partos ocorrem sob condições adversas (temperatura do ar muito baixa, escassez de alimento para a mãe, locais úmidos, dentre outros). Além disso, também exerce certa influência sobre a velocidade do crescimento posterior. Cunningham e Maxwell (1979) relataram a relação geral entre o peso ao nascer e a

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

170

sobrevivência (Figura 1). Demonstrando que em partos simples os índices de sobrevivência mostraram tendência de elevação quando os animais tiverem seu peso ligeiramente superior ao peso médio apresentado pela raça (ou rebanho). Nos partos múltiplos as crias não conseguiram alcançar o peso médio correspondente e por isso o índice de sobrevivência tendeu a elevar-se quando o peso aumentou. Registra-se no entanto que com pesos ao nascimento muito elevados há maior incidência de partos distócicos.

Figura 1- Relação entre a mortalidade dos cordeiros e seu peso ao nascer em um rebanho de ovelhas Scottish Blackface Para Dalton et al (1980) a mortalidade de cordeiros mais leves ao nascimento tem sido atribuída, com maior freqüência à inanição e por vezes às adversidades climáticas (frio excessivo - para Minas Gerais justifica apenas para madrugadas de inverno, isso se o nascimento coincidir com esse período). Nesses casos de morte pelo frio, existe uma corrente de pesquisadores que aponta a maior presença de gordura marrom nos cordeiros mais pesados, e também com mais gordura, como as principais formas de defesa contra o meio hostil. 5.1. Raça, peso e idade da ovelha: É amplamente conhecido o efeito que o tamanho da ovelha exerce sobre o peso ao nascer do cordeiro. Isso é válido quando faz-se comparação entre raças distintas, como também dentro de rebanhos com raça única, ou seja, ovelhas maiores tendem a parir cordeiros mais pesados. Apesar de muito confundido com o peso da ovelha, a sua idade também influencia no peso dos cordeiros, uma vez que aquelas mais novas, sem completar totalmente seu crescimento, apresentam-se com produtos mais leves. Fato aliás que também pode ser observado em outras espécies (Scott, 1983). Muito embora seja uma afirmação

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

171

consistente, deve-se ressaltar que cobrindo ovelhas com mais de um ano de idade, para raças especializadas para corte, tal diferença entre as primíparas e suas companheiras mais velhas mostra-se menor ou inexistente, em alguns poucos casos observados na prática. Deve-se considerar também, como fator determinante influindo no peso ao nascer, o carneiro que será empregado (tamanho, genótipo, etc...), mas como nesse presente trabalho enfoca-se apenas o papel da ovelha, esse aspecto fica para uma próxima oportunidade. Garcia (1986) citado por Siqueira (1996) demonstrou o efeito significativo que o peso ao nascer exerceu sobre a mortalidade de cordeiros Merino Precoce quando criados sob as condições ambientais do Chile, conforme pode-se verificar no quadro 2. Quadro 2. Efeito do peso ao nascer sobre a mortalidade de cordeiros Merino Precoce PESO AO NASCER NÚMERO DE NÚMERO DE MORTALIDADE (KG) CORDEIROS MORTOS (%) 1,5 a 2,0 9 9 100,00 2,1 a 2,5 51 31 60,78 2,6 a 3,0 118 40 33,89 3,1 a 3,5 204 39 19,11 3,6 a 4,0 193 21 10,88 4,1 a 4,5 216 19 8,79 4,6 a 5,0 168 15 8,92 5,1 a 5,5 87 5 5,74 5,6 a 6,0 52 2 3,84 6,1 a 6,5 18 0 0,00 Garcia (1986) citado por Siqueira (1996)

5.2. Sexo do feto: Sabe-se que os machos nascem mais pesados que as fêmeas. E nesse sentido, Fraser e Stamp (1989) apresentaram que os machos de raças inglesas podem pesar 220 a 250 g a mais que as fêmeas ao nascimento, acrescentando que o peso de um cordeiro nascido de mesmo parto com uma irmã, pode ser o dobro quando comparado dois machos nascidos de juntos em parto duplo, a recíproca é verdadeira quando comparase a fêmea nascida gêmea com um macho e suas companheiras cordeiras gêmeas de partos duplos. 5.3. Tipo de gestação: Há uma influência considerável quando estuda-se o peso ao nascer de cordeiros advindos de partos simples, duplos ou triplos, diminuindo-se pela ordem. O que segundo Donald e Russel (1970) ocorreria um declínio de cerca de 20% no peso do cordeiro para cada irmão gêmeo que esse tiver. Donde pode-se deduzir que cordeiros de parto gemelar tem seu peso equivalente a 80-85% daquele nascido de parto simples. O que torna possível preconizar que melhorando o padrão nutricional da ovelha portando gêmeos (duplo ou triplo), principalmente no terço final da gestação, seria possível diminuir tal diferença no peso ao nascer entre os irmãos.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

172

5.4. Época de nascimento: Essa variável também influencia o peso ao nascer em ovinos, como em outras espécies, notadamente quando criadas extensivamente. Constata-se, por vezes, que ovelhas parindo em épocas distintas, apresentam cordeiros com peso diferenciados, o que pode ser atribuído muito mais a um efeito indireto do padrão nutricional (sazonalidade da oferta alimentar) que dos demais aspectos já relacionados até aqui. 5.5. Nutrição da ovelha e seu estado corporal: O plano nutricional adotado para o terço final da gestação mostra-se com maior influência, mas também o estado corporal da ovelha ao entrar para a estação de monta tem efeito relevante, não só no peso ao nascer, como também na mortalidade embrionária (já discutido), principalmente quando encontra-se em estado de escore 0 ou 1. 6. Manejo alimentar das ovelhas gestantes De acordo com Scott (1980) os efeitos da nutrição sobre a gestação têm sido estudados por vários pesquisadores, apontado que desde os trabalhos de Hammond em 1932, quando esse avaliou os pesos de cordeiros advindos de partos simples, duplos ou triplos e postulou que “não se obtivera provas suficientes para determinar se tal relação dependia da condição da ovelha antes do parto”, ou seja, suspeitava-se que o “preparo” da fêmea para a gestação-parto pudesse estar exercendo influência no peso de seus produtos. Desde então especial ênfase tem sido dada ao programa nutricional de ovelhas no seu terço final. Assim os estudos preliminares buscaram, e ainda hoje buscam, decompor o peso do útero grávido, avaliando, além do peso do próprio feto, suas membranas, líquidos, placenta, etc... Nesse aspecto, talvez o de Robinson et al (1977) possa ser empregado para ilustrar tais levantamentos, cujos dados são apresentados no Quadro 2 e Figura 2. Quadro 2. Crescimento dos produtos da concepção de ovelhas de parto gemelar Dias de gestação Útero vazio 62 30,2 90 17,8 112 13,1 140 09,4 Fonte: Robinson et al (1977)

Percentagem do útero gravídico Placenta Fluídos 30,2 32,9 23,3 31,4 13,5 18,5 07,5 20,1

Feto 06,7 27,5 54,9 62,8

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

173

Nota-se que o desenvolvimento fetal apresenta rápido crescimento após 90 dias, e que segundo os autores acima, equivale a 15% do peso ao nascer dos cordeiros, assim espera-se que o restante (85%) do crescimento do feto dá-se nos últimos dois meses de gestação. Ou ainda, na visão de Figueiró (1989) os três meses iniciais da gestação produzem cerca de 25% do peso a idade adulta, ficando os 75% restantes para os dois últimos (Fig.3). Daí registra-se novamente, a necessidade de um melhor aporte de nutrientes fornecidos por uma dieta específica para essa fase da gestação. Assinalaram ainda que um regime superalimentar no início da gestação, ao invés de benéfico, pode ocasionar grandes perdas embrionárias. Daí existe a recomendação (Susin, 1996) de que as exigências nutrionais para as primeiras 15 semanas sejam calculadas para exceder ligeiramente aquelas para mantença, visando já ir preparando a ovelha para a futura lactação.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

Peso ao nascer (kg)

174

Fig. 3 - DESENVOLVIMENTO DO FETO 5 4 3 2 1

25% do peso ao nascer 1

2

3

75% do peso ao nascer

4

5 (meses de gestação)

Figueiró (1989)

Mas o ponto fundamental que deve ser questionado é: Até que ponto é possível compensar, no terço final da gestação, os efeitos de uma subnutrição imposta na sua primeira metade? É realmente uma tomada de decisão difícil, pois vários fatores estarão interagindo nesse fenômeno. Mesmo assim é possível enumerar alguns aspectos que fornecerão suporte para uma resposta mais segura: • A recuperação não chega a ser total quando ovelhas que ainda não atingiram o peso adulto sofrem restrição alimentar; • Mesmo algumas ovelhas mais velhas, após saírem de um plano de subnutrição na primeira metade da gestação, podem destinar os nutrientes ministrados ao final da gestação mais para a recuperação de suas reservas que para o crescimento fetal. Há sem dúvida, um componente genético muito forte, por outro lado, deve-se considerar o estado corporal como tais animais atingiram, não só a prenhez, mas inicialmente a estação de monta; • Merecem destaques ainda, aspectos como a idade da ovelha e sua condição corporal inicial, o número de cordeiros por parto, e possivelmente a intensidade da perda de peso registrada na fase inicial, pois de forma isolada e/ou conjuntamente estarão determinando a importância que a subnutrição imporá no desempenho das futuras mães; • Apesar de poucas comprovações, mas um fato que ocorre com muita freqüência, é o que costuma-se denominar como efeito individual ou potencial da ovelha em compensar a perda de peso ocorrida na fase inicial da gestação. Mas uma coisa é certa, não se deve permitir que ovelhas gestantes percam mais do que 7% de seu peso na fase inicial da gestação, o que para Fraser e Stump (1989) equivale a mudança de 0,5 na escala da condição corporal. Com relação à recuperação dessa condição corporal, é oportuno salientar que, via de regra, as ovelhas melhoram tal condição durante o último período da lactação e após o desmame. Para Scott (1980) a intensidade e o tempo gasto para tal recuperação são dependentes de diversos fatores: número de cordeiros nascidos e/ou amamentados, duração do período lactacional, estado em que se apresentam as pastagens, tipo de exploração a que estão submetidas, eficácia da estratégia sanitária adotada, dentre outros. Existem relatos mostrando que mesmo quando já atingem o balanço energético positivo, algumas ovelhas continuam com o catabolismo da gordura corporal.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

175

6.1. ESCALA DE CONDIÇÃO CORPORAL (ESCORE CORPORAL) Para o acompanhamento do desempenho animal devido ao plano nutricional empregado, tem sido costume, não só para ovinos, a avaliação da condição corporal também chamada de escore corporal. Que nada mais é do que a observação, a partir de pontos preestabelecidos, do corpo animal com a finalidade de ter-se uma avaliação da massa muscular que esse apresenta. Para isso é feita a palpação da parte superior e lateral da região lombar da coluna vertebral. Percebe-se que diferentemente dos bovinos, é fundamental que se toque os animais, principalmente aqueles lanados. Como metodologia deve-se observar os seguintes aspectos: • • • •

a saliência ou contorno dos processos dorsais das vértebras lombares; o contorno dos processos transversos; a quantidade de músculos e gordura abaixo dos processo transversos; a quantidade de músculos e gordura entre os processos transversos e dorsais.

Os valores atribuídos compreendem uma escala 0 a 5. Sendo zero para ovelhas extremamente magras e cinco para aquelas consideradas obesas. Silva Sobrinho et al (1996) expõem a escala da seguinte forma: ESCORE 0 - Animal caquético, extremamente magro. Não é possível detectar tecido muscular ou gordura entre a pele e o osso. ESCORE 1 - Os processos dorsais e transversos estão proeminentes e afiados. É possível apalpar a parte ventral dos processos transversos; os músculos estão delgados e sem gordura. ESCORE 2 - Os processos dorsais estão proeminentes mas suaves; podem ser sentidos como uma pequena ondulação. Os processos transversos estão suaves e arredondados, mas é possível ter-se acesso à parte ventral dos processos, com um pouco de pressão. Os músculos dorsais estão com mais volume, mas ainda com pouca gordura. ESCORE 3 - Os processos dorsais mostram-se pouco proeminentes, suaves e arredondados. Os ossos podem ser individualizados somente com um pouco de pressão. Os processos transversos mostram-se com boa cobertura e uma certa pressão é necessária para se sentir as pontas. Os músculos dorsais mostram um bom volume, mas com uma camada de gordura. ESCORE 4 - Os processos dorsais poderão ser sentidos somente com uma certa pressão e não há ondulações. As extremidades dos processos transversos não podem ser sentidas. Os músculos dorsais são espessos com boa cobertura de gordura. ESCORE 5 - Os processos dorsais não podem ser sentidos mesmo com uma certa pressão. Forma-se um canal pela elevação de músculo e gordura ao longo dos processos. Os processos transversos não podem ser sentidos. Os músculos dorsais mostram-se volumosos e há grande cobertura de gordura.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

176

Silva Sobrinho et al (1996) citam que Geenty e Rattray (1987) preconizaram que cada unidade nessa escala equivale ao aumento de 6 a 12 kg no peso vivo e uma elevação de 6 a 10% na gordura corporal, e também que Baertsche (1988) sugeriu uma condição corporal de 2,5 a 3,0 para ovelhas antes da cobrição, de 3,0 a 3,5 no final da gestação e início da lactação e para o final da lactação de 2,5. 6.2. TOXEMIA DA GESTAÇÃO Trata-se de uma doença metabólica que acomete fêmeas de várias espécies, dentre as quais destacam-se as ovelhas gestantes em final da gestação (terço final), com maior ocorrência naquelas com dois ou mais fetos. É conseqüência da nutrição inadequada durante a gestação, sendo que para Scott (1980) a grande maioria dos casos ocorre mais por carência do que por excesso de alimentação, muito embora não descarta a possibilidade de que ovelhas super alimentadas durante a gestação, ou mesmo a partir da estação de monta, apresentarem tal distúrbio. No Brasil a maioria dos casos deve ocorrer devido à primeira causa (principalmente durante o inverno, quando as pastagens perdem muito do valor nutritivo) muito embora, programas de flushing alimentar mal elaborados podem colaborar com as estatísticas da segunda. Espera-se que a ocorrência desse segundo tipo seja distribuída igualmente por todo o ano e não apenas no inverno, com a maioria dos casos relatados em condições de confinamento ou semi-confinamento. Portanto, um programa alimentar baseado nas exigências nutricionais para as distintas fases da gestação e mesmo pré-estação, bem como a utilização de alimentos de qualidade nessas etapas, tornam-se medidas preventivas eficazes contra a toxemia. A figura 4 mostra a relação entre exigências nutricionais da ovelha e dos fetos em MJ/dia na parte externa do gráfico e Mcal/dia na interna. As ovelhas acometidas apresentam perda de apetite (anorexia), depressão nervosa e prostração, com a maioria dos casos culminando com a morte. 6.3. CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS Como há diferença nas exigências nutricionais das ovelhas gestantes primíparas com aquelas mais velhas (3-6 anos) e também com a prolificidade (número de cordeiros/parto) em cada grupo desses, torna-se necessário um programa alimentar diferenciado para cada lote. Após o parto, esse tipo de separação deve persistir, visando dar melhores condições de recuperação devido à gestação, como também objetivando a lactação que se inicia. Ovelhas que tornarem-se mais agressivas, durante e/ou no final da gestação, devem ser mantidas isoladas das demais, pois corre-se o risco de quedas de produtividade devido ao estresse que causarão. Pois geralmente acontece de que aquelas menores e mais jovens apresentem subalimentação. Esses dois aspectos têm sido negligenciados pela maioria dos produtores e técnicos, no entanto vêm merecendo atenção em todos estudos de etologia animal, principalmente quando considera-se o forte caráter gregário dos ovinos.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

177

4,78 Mcal/dia

PESO FETAL (kg)

EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS (MJ/dia)

PARTO DUPLO

3,59

2,39

PARTO SIMPLES

1,20

CONVERSÃO DA OVELHA

FONTE: Frase e Stmp (1989)

DIAS DE GESTAÇÃO

Figura 4. Necessidades energéticas da ovelha durante a gestação

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

178

7. Manejo profilático-sanitário e práticas gerais de manejo para a ovelha Os problemas sanitários geralmente têm limitado a economia da indústria ovina, não só no Brasil mas em todo o mundo. Portanto torna-se necessário adotar um manejo sanitário com vacinações apropriadas e/ou demais práticas e técnicas higiênicosanitárias capazes de preservar a saúde ovina. 7.1. Observações básicas do manejo sanitário e geral • A simples observação constante do plantel já pode fornecer algum indício de anormalidade, visto que os ovinos têm hábitos e costumes bastante conhecidos (p.ex. animal pastejando isoladamente deve ser examinado mais detalhadamente, uma vez que por hábito pastejam sempre em grupos). • Exame periódico da conjuntiva ocular e do cristalino: Olhos secos geralmente indicam estado febril, normalmente são brilhantes e vivos; já o lacrimejamento ao ponto de emplastar a lã pode ser indício de oftalmia contagiosa (mal dos olhos); caso apresentem olhos afundados e vítreos estão portando alguma enfermidade grave, exigindo assim exames mais meticulosos. • Verificar a aparência das fezes, pois fezes sadias apresentam-se categoricamente encaroçadas e de cor verde escura ou clara, enquanto ao apresentarem-se líquidas indicam sintomas de infestação de vermes, distúrbios digestivos, etc. • Tosse e corrimento nasal em animais geralmente indicam vermes pulmonares. Ou ainda a presença de larvas de moscas (Oestrus ovis) nas fossas nasais, cujos sintomas são: apresentam-se com as orelhas levemente caídas (fora da posição costumeira), com a cabeça inclinada para um dos lados, andar pode ser cambaleante ou mesmo com grande incoordenação motora, podendo produzir distúrbios neurológicos graves. • Andar claudicante pode indicar inflamação das unhas. • Aspectos da lã: queda da lã é decorrente de sarna ou verminose, além de deficiências nutricionais crônicas; na ausência de sarna, nota-se que os vermes provocam lã grosseira, áspera, seca e quebradiça. (cuidado para não ser um quadro de deficiência nutricional). • Apetite depravado geralmente ocasionado por endoparasitismo ou deficiências minerais. • Desinfeção e higienização periódica de instalações e equipamentos. Mantendo o instrumental cirúrgico e equipamentos diversos sempre limpos, esterilizando os primeiros dentro das normas técnicas. 7.2. Alguns aspectos higiênicos considerados • Isolamento dos animais clinicamente suspeitos. • Desolha ou desolhe: limpeza e/ou tosquia da lã ao redor dos olhos, executada 30 dias antes do parto.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

179

• Cacarreio: tosquia do úbere e região entre-pernas das fêmeas também pode ser feita 30 dias antes da parição (evitará que o cordeiro mame mechas de lã suja, podendo inclusive prejudicar fortemente seu desenvolvimento inicial e sua imunidade). • Comedouros e bebedouros devem se limpos periodicamente, evitando-se acúmulo de resíduos alimentares, fecais e crescimentos de fungos. • Observar a lotação das pastagens é crucial para evitar problemas sanitários, uma vez que quanto maior o nível de ocupação maior a presença de verminose. Pois os ovinos são muito suscetíveis à infestação parasitária e de fraca resistência às epizootias ou doenças infecciosas, daí a importância das medidas preventivas e higiênico-sanitárias. Para as ovelhas gestantes, destinar piquetes específicos, quando não for possível, por questão de custo operacional, tamanho da área, etc., reservar pelo menos uma área como piquete maternidade. • Galpão de tosquia ou outro pode ser usado quando os partos dão-se em condições climáticas muito desvaforáveis, aí segundo Villarroel (1989) o tamanho ideal dessa instalação seria aquele capaz de comportar de 5 a 8% do total de ovelhas, visto que essa é a faixa média de partos a cada 48 horas, estando na estação de nascimento. 7.3. Vacinações e everminações • As vacinações contra carbúnculo sintomático, gagrena gasosa e enterotoxemia no treço final da gestação. Cordeiros entre 2-3 meses e reforço 20 dias depois. O resto do rebanho anualmente. • A VERMINOSE É A CAUSA DA GRANDE MORTALIDADE DOS REBANHOS. Sendo responsável por mortalidade entre 20 e 40% nos rebanhos, além de queda na qualidade e quantidade das lãs (perdas entre 3 e 4Kg/cab/ano), perdas de peso, na produção de leite, etc. Os hematófagos podem sugar até 10% do sangue em um dia, levando ao óbito muito rapidamente (Haemonchus contortus). ∗ Controle: evita-se o parasitismo subclínico com 4 everminações/ano: 1a junho/julho, 2a 20 dias após; 3a novembro ou penúltimo mês de seca; 4a meados de março (final das chuvas), podendo ser maior para animais mais novos (6 a 10/ano). A rotação de pastagens (exposição das larvas aos raios ultravioletas) e o pastejo integrado podem diminuir a infestação. Além disto separar o animais por idade, mantê-los em bom estado corporal e evitar altas taxas de lotação. • A vermifugação pode ser efetuada antes do parto, com recomendações para o terço médio da gestação. 8. Referências bibliográficas COOP, I. E. ed. Sheep and goat production. World animal science - C - Production-system approach . Elsevier, Amsterdam. 1982. 492 p DALTON, D. C.; KNIGHT, T. W.; JOHNSON, D. L. Lamb survival in sheep breeds on New Zeland hill country. New Zealand Journal of Agricultural Research, v.23, n.2, p.167-173, 1980.

DONALD, H. P. e RUSSEL, W. S. The relationship between liveweight of ewes at matting and weight of newborn lamb. Animal Production, v.12, n.2, p.273-280, 1970.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

180

FIGUEIRÓ, P. R. P. Manejo alimentar do rebanho ovino. IN: SIQUEIRA, E. R. e GONÇALVES, H. C. Simpósio Paulista de Ovinocultura, I. Fuandação Cargill, Campinas, 1989. 22-33 p. FRASER, A. e STAMP, J. T. Sheep husbandry and diseases, 6 th ed., Blackwell Scientific, Oxford, 1989. 258 p. HAFEZ, E. S. E. Adaptacion de los animales domesticos, Barcelona, Labor, 1973. 563 p. McDOWELL, E. E. Base biológicas de la produccion en zonas tropicales, Zaragoza, Acribia, 1974, 692 p. MULLER, P. B. Bioclimatologia aplicada aos animais domésticos, Porto Alegre, Sulina, 1982. 158 p. ROBISON, J. J.; MCDONALD, I, FRASER, C.; CROFTS, J. M. J. Studies on reproduction in profilic ewes. I. Growth of the products of conception. Journal of Agricultural Science, n.88, v. , p.9-16, 1977. ROBINSON, J. J. Pregnancy. IN: COOP, I. E. ed. Sheep and goat production. World animal science - C - Production-system approach . Elsevier, Amsterdam. 1982. p. 103-118. SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. 258 p. SIQUEIRA, E. R. Recria e terminação de cordeiros em confinamento. IN: SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. p.175-212. SCOTT, G. E. The sheepman’s production handbook. Sheep Industry Development Program, Denver, 1980. SUSIN, I. Exigências nutricionais de ovinos e estratégias de alimentação. IN: SILVA SOBRINHO, A. G.; BATISTA, A. M. V.; SIQUEIRA, E. R.; et al. Nutrição de de ovinos, Jabotical, FUNEP, 1996. P.119-141. VILLARROEL, A. B. S. Manejo reprodutivo dos ovinos. IN: SIQUEIRA, E. R. e GONÇALVES, H. C. Simpósio Paulista de Ovinocultura, I. Fuandação Cargill, Campinas, 1989. 67-79 p. VILLAS BOAS, A.S. Instalações e manejo para ovinos. IN: SILVA SOBRINHO, A. G. S. Produção de ovinos, Jaboticabal, UNESP, 1990. Anais... p. 27-63.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

181

MANEJO SANITÁRIO DE OVINOS

Os problemas sanitários geralmente têm limitado a economia da indústria ovina, não só no Brasil mas em todo o mundo. Portanto torna-se necessário adotar um manejo sanitário com vacinações apropriadas e/ou demais práticas e técnicas higiênico-sanitárias capazes de preservar a saúde ovina. Algumas práticas básicas a serem consideradas: - A simples observação constante do plantel já pode fornecer algum indício de anormalidade, visto que os ovinos têm hábitos e costumes bastante conhecidos (p.ex. animal pastejando isoladamente deve ser examinado mais detalhadamente, uma vez que por hábito pastejam sempre em grupos). - Exame periódico da conjuntiva ocular e do cristalino (oftalmia contagiosa), bem como da aparência das fezes, pois fezes sadias apresentam-se categoricamente encaroçadas e de cor verde-escura ou clara, enquanto ao apresentarem-se líquidas indicam sintomas de infestação de vermes, distúrbios digestivos, etc. Estes são feitos ao se prender os animais diariamente ao entardecer. - Tosse e corrimento nasal em animais geralmente indicam vermes pulmonares. Ou ainda a presença de larvas de moscas (bicato) nas fossas nasais, cujos sintomas são: apresentam-se com as orelhas levemente caídas (fora da posição costumeira), com a cabeça inclinada para um dos lados, andar pode ser cambaleante ou mesmo com grande incordenação motora, quando a larva atinge a lâmina Cribiforme pode produzir distúrbios neurológicos graves (Oestrus ovis). - Andar claudicante pode indicar inflamação das unhas. - Olhos secos geralmente indicam estado febril, normalmente são brilhantes e vivos; já o lacrimejamento ao ponto de emplastar a lã pode ser indício de oftalmia contagiosa (mal dos olhos); caso apresentem olhos afundados e vítreos estão portando alguma enfermidade grave, exigindo assim exames mais meticulosos. - Aspectos da lã: queda da lã é decorrente de sarna ou verminose, além de deficiências nutricionais crônicas; na ausência de sarna, nota-se que os vermes provocam lã grosseira, áspera, seca e quebradiça. (cuidado para não ser um quadro nutricional). - Apetite depravado geralmente ocasionado por endoparasitismo ou deficiências minerais. - Observar a lotação das pastagens é crucial para evitar problemas sanitários, pois quanto maior o nível de ocupação maior a presença de verminose, pois os ovinos são muito suscetíveis à infestação parasitária e de fraca resistência às epizootias ou doenças infecciosas, daí a importância das medidas preventivas e higiênico-sanitárias. A VERMINOSE É A CAUSA DA GRANDE MORTALIDADE DOS REBANHOS. - Desinfecção e higienização periódica de instalações e equipamentos. RÍTMO RESPIRATÓRIO NORMAL: 15 a 20/min. TEMPERATURA RETAL: 40º C em adultos e 41º C em cordeiros (dois graus acima é anormal).

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

182

CICLO DE UMA DOENÇA INFECCIOSA E MÉTODOS DISPONÍVEIS PARA INTERROMPÊ-LO - Genótpo - Estado de saúde - Imunização - Quinioprofilaxia

OVINO - Quimioterapia - Sacrifício e queima do animal

VETOR OU HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO

Controle ou erradicação

AMBIENTE

- Pastagens - Água - Ar

- Isolamento dos infetados - Higiene Quarentena

Este diagrama indica os pontos de interferência por parte do veterinário.

1.1. HIGIENE São todos os meio físicos de propiciar saúde aos animais, seja dos alojamentos, dos animais ou dos alimentos: Das instalações: inicia pelos detalhes construtivos, depois pela limpeza e desinfecção. P. ex. a retirada do esterco pode ser feita a cada 15 ou 30 dias, com uso de camas bem manejadas até a cada 6 meses. Após a retirada dos dejetos usar um desinfetante (fenol a 3%, amônia quaternária a 4%, cloramina a 4%, cal virgem no solo 10g/50m2, sempre evitando o excesso de matéria orgânica que compromete a eficácia destes produtos. Outro detalhe muito importante diz respeito à higienização dos bebedouros e comedouros (fezes e terra). Dos alimentos: não só pela qualidade bromatológica mas também pela presença de microrganismos e princípios tóxicos. p. ex. AFLATOXINA nos farelos e fenos. Pastos contaminados com Haemonchus devem sofrer rodízios e descanso de 2 a 4 meses no verão e inverno, respectivamente, ou então propiciar o pastejo alternado com bovinos ou eqüinos. Dos animais: - Desolha ou desolhe: limpeza e/ou tosquia da lã ao redor dos olhos, principalmente nas ovelhas (fertilidade do Corriedale);

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

183

- Cacarreio: tosquia do úbere e períneo das fêmeas antes da parição ou ainda na estação de monta (protege a ovelha de infeções e o cordeiro, este pode mamar na lã suja; para os carneiros evita-se traumatismos penianos quando feito no início da estação de monta). - Desinfecção do cordão umbilical; - Descola ou caudectomia: pode ser cirúrgica ou com uso de anel de borracha com auxílio de um elastrador para esticá-lo, colocando-o entre as vértebras quando os animais estão com 24 a 28h de vida tem-se a interrupção do fluxo sangüíneo e a cauda cai entre 7 e 10 dias. Geralmente deixa-se um pouco mais comprida para as fêmeas que para os machos, isto facilita inclusive o manejo (visualização a campo de macho ou fêmea). - Aparo dos cascos: não só pela estética, mas para não prejudicar os aprumos e evitarse a podridão dos cascos que ataca principalmente durante o período chuvoso ou em áreas alagadiças ou animais mantidos confinados. Geralmente é feita a cada 4 meses, ou em menor intervalo quando as condições exigirem. (passar os animais em pedilúvio contendo formol 5%,uma vez/mês/5 minutos, quando necessitar de melhor manejo do foot rot). 1.2. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS ECTOPARASITOSES 1.2.1. SARNA OU ESCABIOSE OVINA (Psoríase): Prejudica muito a produção da lã. A sarna do corpo que apresenta crostas, prurido e queda de lã como o último sintoma, é ocasionada pelo Psoroptes ovis. Controle: geralmente 2 banhos/ano, respeitando-se intervalos de 10 a 12 dias após a tosquia. Banhos após 90 dias da tosquia comprometem a qualidade da lã. Devem ser dados em dias de sol, sem calor excessivo, para que os ovinos estejam secos ao entardecer. Usa-se produtos à base de organofosforados, diamidínicos, piretróides, amitraz e avermectina. Este último já existe na versão pour on, proporcionando resultados satisfatórios. EVITAR BANHOS DE IMERSÃO EM ANIMAIS DEBILITADOS, OBESOS, FATIGADOS OU SEDENTOS. Ordem de banho: capões - carneiros - ovelhas - borregos 2 dentes - borregos dente de leite - animais em avançado estado de prenhez - cordeiros sempre por último. Construir banheiro só para rebanhos com mais de 50 cabeça, inferior a isto recomenda-se pulverizações.

1.2.2. PEDICULOSE: ocasionada pela Damalinia ovis que ao se alojar no velo ocasiona prejuízos na produção de lã, afetando a maior ou a totalidade do rebanho. Causa irritação, deixando os ovinos inquietos, com pouco apetite, coçando-se com freqüência com as patas ou boca, além de roçarem em obstáculos, geralmente isto faz com que percam a lã em algumas áreas do corpo (áreas deslanadas). Controle similar e conjunto ao da sarna. 1.2.3. OESTROSE (bicho da cabeça ou bicatos): Parasitismo da larva de mosca Oestrus ovis, muito comum no RS, mas também presente em SP, MG e PR. A mosca é mais ativa no verão, desovando nas narinas dos animais durante as horas mais

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

184

quentes do dia. As larvas amadurecem por períodos entre 25 dias a 2,5 meses e geralmente são expelidas por espirros. Estes quando ocorrem com freqüência são sintomas clássicos. Podem ocorrer mortes devido a infecção secundária ou mesmo por perfusão da lâmina cribiforme e daí lesões cerebelares. Controle: Administração de rafoximida oral (7,5 mg/Kg de PV), usar diretamente nas narinas dichlorvos ou fenothion, ou ainda avermectinas; uso de aerossóis contra moscas domésticas. 1.3. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS ENDOPARASITOSES 1.3.1. VERMINOSE: responsáveis por mortalidade entre 20 e 40% nos rebanhos, além de queda na qualidade e quantidade das lãs (perdas entre 3 e 4Kg/cab/ano), perdas de peso, na produção de leite, etc. Os hematófagos podem sugar até 10% do sangue em um dia, levando ao óbito muito rapidamente (Haemonchus contortus). Controle: evita-se o parasitismo sub-clínico com 4 everminações/ano: 1ª junho/julho, 2ª 20 dias após; 3ª novembro ou penúltimo mês de seca; 4ª meados de março (final das chuvas), podendo ser maior para animais mais novos (6 a 10/ano). A rotação de pastagens (exposição das larvas aos raios ultravioletas) e o pastejo integrado podem diminuir a infestação. Além disto separar o animais por idade, mantê-los em bom estado corporal e evitar altas taxas de lotação. 1.3.2. HIDATIDOSE (Echinococcus granulosus): é mais freqüente no RS, aparecendo como zoonose séria, pois tem no cão ou suíno seus hospedeiros definitivos e ovinos e bovinos como intermediários, os cães liberam os ovos nas águas e pastagens podendo ir para as hortaliças, que quando ingeridas liberam o embrião que penetrará na mucosa intestinal, atingindo os vasos sangüíneos/linfáticos podem chegar aos pulmões e fígado, formando vesículas ou CISTO HIDÁTICO. Controle e prevenção: evitar dar as vísceras dos ovinos abatidos aos cães e mesmo assim proceder a everminação periódica dos ovinos e cachorros da propriedade (geralmente com 2,5 a 5,0 mg/Kg de praziquantel oral), além de adotar cuidados na captação de água para bebida, higienização da casa ou irrigação das hortaliças. 1.3.3. FASCIOLOSE: ocasiona perda de peso, leite, lã e mortalidade nos rebanhos, e ainda condenação de carcaças nos frigoríficos do RS (150.000 fígados condenados/ano). Aumenta sua incidência nas chuvas, vazantes ao baixarem deixam maior quantidade de ovos e miracídeos nas forragens que estavam no alagado, ovinos ingerem os metacercários e terão seus fígados parasitados. Controle: controla-se o caramujo (hospedeiro) com moluscicidas à base de sulfato de cobre 1 ppm, repetindo a aplicação após 2-3 meses; faz-se a drenagem da área; elimina-se a vegetação aquática; ou pode-se usa o peixe APAIARI (lagoa da pampulha). Deve-se evitar pastoreio nas pastagens que foram alagadas.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

185

1.3.4. COCCIDIOSE ou EIMERIOSE: Provoca enterites, junto ao espeçamento, edema e hemorragia da parede intestinal, com diarréias escuras, dores abdominais, anemia, inapetência, desidratação, emagrecimento e morte. Animais adultos são portadores para os mais novos. A super população de estábulos e pastagens favorecem sua proliferação no rebanho, assim esta parasitose aumenta de importância quando se intensifica os métodos de criação, exigindo-se portanto maiores cuidados. Tratamento: sulfas, amprólio, antibióticos ionofóricos e nitrofuranos. 1.4. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS INFECÇÕES BACTERIANAS 1.4.1. CARBÚNCULO SINTOMÁTICO (Clostridium chauvoei): deve-se ter cuidados com ferimentos da pele ocorridos durante a tosquia, cura do umbigo, descola, etc, por constituírem nas vias de infecção. Vacinações: Ovelhas no 4º mês de gestação (geralmente de fevereiro a abril) Cordeiros 3º mês de idade, repetindo após 1 ano. 1.4.2. GANGRENA GASOSA ou EDEMA MALIGNO (Clostridium spp): ocorrência individual e esporádica, tendo sua maior incidência após a tosquia, caudectomia, parto e em carneiros banhados logo após a tosquia. A chamada cabeça inchada ocorre em carneiros jovens (6 meses a 2 anos). Prevenção: cuidados na desinfecção dos cortes acidentais e/ou feridas, bem como da seringas e agulhas. 1.4.3. TÉTANO (Clostridium tetani): freqüente após a castração, assinalação (marcação) e tosquia. A higienização das instalações e equipamentos constitui-se na principal forma de prevenção. Vacinação: Geralmente nas áreas de risco. Ovelhas no 4º mês de gestação; Cordeiros no 3º mês de idade. E após toda intervenção cirúrgica.Tivemos problemas na Região de Maringá - PR. Aconselha-se vacinar animais de maior valor comercial antes da tosquia e outras práticas predisponentes. 1.4.4. BOTULISMO (Clostridium botulinum): grande concentração de esporos na matéria orgânica em decomposição. Maior incidência em rebanhos mal mineralizados; onde não se faz a carbonização e enterro dos animais mortos, ou cujos pasto não são mantidos limpos (destocados). Vacinação: aos 3 meses de idade. 1.4.5. ENTEROTOXEMIA (Clostridium perfrigens): aparece geralmente nas primeiras semanas de vida, apresentando diarréia amarela, podendo ter linhas sanguinolentas, animal com aparência de cansado, triste e com dores agudas. Progride muito rapidamente (2 a 12h). Prevenção: manejo adequado; evitar mudanças bruscas na alimentação (principalmente quando a dieta for rica em carboidratos). Vacinação: Gestantes nas 3 semanas antes do parto; cordeiros aos 5 meses e aos 2 anos.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

186

*** PARA AS CLOSTRIDIOSES RECOMENDA-SE A REVACINAÇÃO DAS OVELHAS NO ANO SEGUINTE, OS CARNEIROS VACINADOS POR 3 ANOS SEGUIDOS SÃO CONSIDERADOS IMUNES.*** A vacina tríplice (gangrena gasosa + enterotoxemia + carbúnculo sintomático) é recomendada para o rebanho anualmente, para a ovelhas no terço final da gestação e para os cordeiros entre 2 - 3 meses com reforço após 20 dias. 1.4.6. CARBÚNCULO HEMÁTICO (Bacillus anthracis): doença hiperaguda, caracterizada por septicemia e morte repentina, o sangue não coagula e não há rigidez cadavérica. O contágio pode ser por ingestão, inalação ou através da pele. Prevenção: Higienização do instrumental e instalações; incineração de carcaças e camas contaminadas; isolamento e quarentena dos animais suspeitos; desinfecção dos locais afetados com formol ou NaOH a 5 - 10%. Vacinação: em áreas enzoóticas deve ser feita anualmente de agosto a setembro.

1.4.7. QUERATOCONJUNTIVITE: O principal agente é a Moraxella são fatores predisponentes na seca a poeira e nas águas a umidade elevada, há ainda a radiação solar e despigmentação, que juntamente, favorecem a manifestação da doença. Controle: isolar e tratar os doentes até a cura total (pomadas a base de neomicina, penicilinas, clorotetracilinas ou corticóides). Quando acometer grande parte do rebanho usar bacterina autóctone: 2 doses distantes 10 dias e depois a cada ano em outubro se a maior incidência for nas águas. 1.4.8. LINFODENITE CASEOSA: acomete rebanhos do nordestinos, sendo que em alguns locais 405 dos rebanhos são doentes. Responsável por 15% de carcaças condenadas. Controle: isolar doentes e lancetar os abscessos próximos ao período de drenagem; curar as feridas com iodo e repelentes; descartar os animais afetados seriamente. 1.5. CONTROLE E PREVENÇÃO DAS INFESTAÇÕES A VIRUS: 1.5.1. ECTIMA CONTAGIOSO (boqueira, dermatite pustular, falsa varíola): apresenta crostas e ulcerações na boca, membros e úbere. Normalmente faz-se o tratamento com tintura de iodo a 10% + glicerina (1:3). Vacinação: no primeiro ano vacina-se todo o rebanho e depois só os cordeiros. Ovelhas serão vacinadas no 4º mês de gestação e cordeiros após 3 meses de vida. A época para a vacinação é de abril - maio. 1.5.2. FEBRE AFTOSA: é extremamente aguda e contagiosa; apresentando febre, erupções vesiculares na boca, úbere e membros (manqueira). É fatal para cordeiro mais jovens. Prevenção: isolar as propriedades afetadas e tratar os alojamentos com cal virgem.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

187

CALENDÁRIO DE MANEJO ZOO-SANITÁRIO DE OVINOS Jan: Desmame e everminação dos cordeiros. Jan-Fev: ou 1 mês pós-tosquia tratar ectoparasitoses. Fev-Mar: seleção de borregos e ovelhas para futura estação (seleção de ventres). Fev-Mar-Jul: vacina contra carbúnculo sintomático e gangrena gasosa. Abr-Maio: promover acasalamento devido à maior fertilidade das fêmeas. Ago: ou 30 dias antes do parto deve-se preparar as ovelhas para a reprodução (cascarreio, vacinação contra enterotoxemia e carbúnculo hemático, se necessário) Set: início das parições, atenção para as ovelhas e cordeiros (umbigo, colostro, etc) Out-Nov: ou aos30 dias de idade dos cordeiros, fazer vacinação contra ectima contagiosa e queratoconjuntivite. Out-Nov: e um mês após as parições e depois das vacinações, fazer descola, castração e assinalamento dos cordeiros. SELEÇÃO do rebanho geral. TOSQUIA: quando optar pela tosquia de primavera.

ASPECTOS DA NUTRIÇÃO DE OVINOS PASTAGENS ESTOLONÍFERAS TÊM PREFERÊNCIA PASTAGENS CESPITOSAS: INDIACADA MAIS PARA PASTEJO MISTO Para pastejo: Pode usar 1 bovino = 5 ovinos (maiores ganhos) usando 1 bovino = 8 a 10 ovinos (menores ganhos ou deslanados) Ovinos deslanados apresentam também o pastejo alto (RAMONEIO)

1) OVELHAS: • • • • •

Apresentam menores exigências após desmama. FLUSHING: Fornecido antes da estação de monta o uso de 200 a 250g de concentrado (16 a 18% PB) elevou taxa de ovulação em 60%. Gestação: 50 a 60 últimos dias maiores exigências programa diferenciado Pré-parto: 250 a 350 g concentrado/cab/dia Lactação: necessária a suplementação até 2a ou 4a semana quando gestação for gemelar fornecer até a 8a semana

2) CORDEIROS: • • •

Até a 4 a semana somente leite ou substituto Desmama: quando atingir 30% do PV adulto (4 a 8 semanas) Futuro do animal Após a 4 a semana concentrado 18% PB e 725 NDT

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

3) BORREGOS: • • •

Geralmente só volumoso de boa qualidade Ex: 40% feno de guandu + 60% de rolão 400 g/dia Ganhos ideais nessa fase: 300 a 400 g/dia Fornecimento de concentrado 200 a 400 g/dia (16%pb e 75%NDT)

188

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

189

EXEMPLO DE EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE OVINOS EM TERMINAÇÃO PV (kg)

Ganho(g/dia)

30 35 40 45 NRC (1985)

MS ingerida (kg/dia) 1,3 1,4 1,6 1,7

200 220 250 250

% PB

% NDT

11 11 11 11

64 67 70 70

EM para Mantença = 98 kcal/kg0,75 NDT para Mantença = 0,027 kg/ kg0,75 EM para ganho = 113,16 kcal/kg0,75 PB para ganho = 4,15 g PB/kg0,75

RAÇÃO PARA OVINOS EM ENGORDA SITUAÇÃO: Borregos com 30 Kg PV; ganho diário de 180g; Exigências: MS 1,32 Kg (4,4% PV); PB = 0,154 Kg (11,7%), NDT = 0,82 Kg (62,12%); Ca = 2,9g (0,22%); P = 2,6 g (0,20%); NaCl = 8,0 g (0,61%) ALIMENTOS DISPONÍVEIS: ALIMENTOS Grama Estrela Feno Aveia Farelo Arroz MDPS Farelo Algodão Fosf. bicalc. Calcário Sal Mineral

MS 31,2 86,2 91,0 92,0 91,0 100,0 100,0 100,0

PB 8,9 9,2 14,8 6,5 39,0 -

NDT 49,0 54,0 80,0 70,2 65,0 -

FB 29,6 30,4 11,0 10,5 12,8 -

Ca 0,46 0,26 0,07 0,23 0,17 23,0 37,0 -

Fazer pré-misturas para facilitar os cálculos numa equação simultânea: Ex: A) Estrela sob pastejo e feno de aveia (70:30):Terão PB=8,99% NDT=50,5% B) Farelo Arroz e MDPS (50:50):PB=10,65% e NDT=75,1% C) Farelo de Algodão

P 0,20 0,24 2,00 0,31 1,28 18,0 -

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

190

DEIXAR 1,5% DE ESPAÇO DE RESERVA (ER) PARA MINERAIS, teremos uma ingestão de MS 1,3 Kg/dia [1,32x(1,32x0,015)], excetuando-se a ingestão dos minerais (19,8g). I A + B + C = 1,3 II 0,089A + 0,1065B + 0,39C = 0,154 III 0,505A + 0,7510B + 0,65C = 0,82___

Multiplica-se a equação I por um coeficiente da equação II ou III, para eliminarmos uma incógnita e ficarmos com duas equações e duas incógnitas. Neste caso faremos com o 0,39 da equação I. Teremos: 0,39A + 0,39B + 0,39C = 0,507 -0,39A - 0,1065B - 0,39C = -0,154 (multiplicou-se por -1) IV 0,301A + 0,2835B = 0,353 0,65A + 0,65B + 0,65C = 0,845 -0,505A + 0,751B + 0,65C = -0,82_(multiplicou-se por -1) V 0,145A - 0,101B = 0,025 Aplicamos sistema de equações em IV e V pelo método da adição: 0,301A + 0,2835B = 0,353 (0,101) pois é negativo em V 0,145A - 0,101B = 0,025 (0,2835) 0,03040A + 0,0286B = 0,03565 0,04111A - 0,0286B = 0,00709______ 0,07151A = 0,04274 0,419 estrela A = 0,04271 0,07151

A = 0,598 Kg Vol. (70:30)

0,179 feno aveia

Substituindo A em IV teremos: 0,305 Kg de MDPS 0,301A + 0,2835B = 0,353 B = 0,610 Kg B = 0,353 - (0,301 x 0,598) arroz 0,2835

0,305 Kg de farelo de

Substituindo A e B em I acharemos o C: A + B + C = 1,3 Kg C = 1,3 - (0,598 + 0,610) C = 0,092 Kg de farelo de algodão CONFERINDO SE AS EXIGÊNCIAS FORAM SUPRIDAS

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

ALIMENTOS Grama Estrela Feno Aveia Farelo Arroz MDPS Farelo Algodão Oferecido Exigências

Qtdd MS(g) PB(g) 419 37,29 179 16,47 305 45,14 305 19,82 92 35,88 1300 154,60 1320 154,00

191

NDT(g) 205,31 96,66 244,00 214,11 59,80 819,88 820,00

Ca(g) 1,93 0,46 0,21 0,70 0,10 3,40 2,90

P(g) 0,84 0,46 6,10 0,94 1,18 9,52 2,60

Mesmo suprindo os minerais Ca e P, devemos oferecer-lhes a mistura de sal mineralizado, que pode ser um suplemento mineral comercial diluído em NaCl (2:1). “LEMBRAR QUE ESTA RAÇÃO FOI CALCULADA NA MATÉRIA SECA, NECESSITANDO SER EXPRESSA NA MATÉRIA COMO OFERECIDA”. OUTRA FORMA DE FAZER O CÁLCULO

PB = 11,7% NDT = 62,12%

ER = 1,5%

Trabalharemos com relação volumoso:concentrado de 45:55, e o ER será tirado nos 55% do concentrado [55-(55x0,015)] = 53,5%. Será este nosso fator de ajuste da ração final. Calculando as necessidades de PB e NDT do concentrado: (0,45x8,99) + (0,55xPB) = 11,7 PB no conc = 11,7-4,0455 0,55

PB = 13,92% no conc.

(0,45x50,5) + (0,55xNDT)= 62,12 NDT no conc = 62,12-22,725 0,55

NDT = 71,63% no conc.

Usaremos o método das equações simultâneas para fecharmos a proteína e energia, duas equações com duas incógnitas: A será energético e B o protéico.

0,1065A + 0,39B = 13,92 (0,7510) 0,7510A + 0,65B = 71,63 (0,1065) 0,07998A + 0,29289B = 10,454 -0,07998A - 0,06923B = -7,628 0,22366B = 2,826

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

B = 12,63 partes de farelo de algodão Substituímos B na equação I 0,1065A + 0,39B = 13,93 A = 13,92-4,9257 A = 84,45 partes da mistura energética 0,1065

TOTAL 97,08 → 12,63 →

% 100 X

TOTAL % 97,08 → 100 84,45 → Y

X = 13,01% F. algodão Y = 86,99% Mist. energ. 13,01 x 0,535 = 6,96% na ração 86,99 x 0,535 = 46,54% na ração completa

192

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

193

CÁLCULO DE RAÇÃO POR TENTIVA E ERRO 1) Ração completa par ovelhas com 50 kg de peso vivo e com um cordeiro ao pé. Segundo o NRC (1975) possui as seguintes exigências: PD = 6,2%, EM = 2,4 Mcal/kg, 0,52% e P = 0,37%. Alimentos Palha de trigo Trigo grão Sorgo grão

EM (Mcal/kg) 1,37 3,18 3,00

PD (%) 1,5 11,2 7,1

Ca (%) 0,17 0,06 0,05

EM (Mcal/kg) 1,37 2,40 -1,03

PD (%) 1,5 6,2 -4,7

Ca =

P (%) 0,08 0,41 0,35

TENTATIVA 1: Usando 100% de palha de trigo. Tem-se: Alimentos Palha de trigo Exigências Déficit/Superávit

% do alimento 100 100 -

TENTATIVA 2: Substituindo-se parte da palha de trigo por trigo grão. Para tal deve-se usar um dos déficits no caso o da energia, como dividendo de uma divisão, onde o divisor é a diferença entre a composição do nutriente em questão; nesse caso a energia. 1,03 ÷ (3,18 - 1,37) = 0,57 ou 57% de trigo grão (3,18 é a EM do trigo e 1,37 da palha). 100 - 57 = 43% de palha de trigo, que daqui para diante não sofrerá alterações. Tem-se então: Alimentos Palha de trigo Trigo grão TOTAL Exigências Déficit/Superávit

% do alimento 43 57 100

EM (Mcal/kg) 0,59 1,81 2,40

PD (%) 0,65 6,40 7,05

100 -

2,40 0,00

6,20 +0,85

TENTATIVA 3: Substituindo o trigo grão por sorgo grão. Usa-se agora o superávit da proteína digestível, assim o cálculo seria: 0,85 ÷ (11,2 - 7,10) = 0,21 ou 21% de sorgo. 57 - 21 = 36% de trigo grão.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

194

Tem-se agora: Alimentos Palha de trigo Trigo grão Sorgo grão TOTAL Exigências Déficit/Superávit

% do alimento 43 36 21 100 100 -

EM (Mcal/kg) 0,59 1,14 0,63 2,36 2,40 -0,04

PD (%) 0,65 4,03 1,49 6,17 6,20 -0,03

Observação: Os teores de MS dos alimentos são: Palha de trigo = 90,1, Trigo grão = 89,0 e sorgo grão = 89,0%.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

195

PRODUÇÃO DE CARNE OVINA Além das raças especializadas para corte de origem estrangeira, serão consideradas nesta parte do curso, os ovinos nativos e os descartes de outras raças (lã e mistas). No mundo abate-se em média ± 8.650.000 t, geralmente abastecendo o Mercado Comum Europeu e Nova Zelândia. De acordo com o Instituto Nacional de Carnes (1976), o Brasil contribui com 1,6% desta produção, abatendo em média 400 mil cab/ano, número altamente dependente do preço da lã nos mercados nacional e internacional. Porém a maior parte deste abate (70%) ocorre nas propriedades, sendo 20% nos pequenos abatedouros das cooperativas e 10% em frigoríficos. Quanto às categorias abatidas tem-se: 54% de capões, 26% de cordeiros e 20 % de ovelhas. O fato da maior fatia do mercado ser composta por animais velhos tem contribuído para a baixa aceitação e difusão da carne ovina no País. Desta maneira a produção de carne ovina vem ocupando um espaço no mercado mais no aspecto social que quantitativo ou qualitativo (Pequenas propriedades no RS e Nordeste). Segundo Figueiró (1979) enquanto na Austrália temse um consumo de 40 kg de ovino/hab/ano, no Brasil chega-se à marca de 0,7 Kg/hab/ano (RS = 7 Kg/hab/ano). A carne de cordeiro no País é a mais apreciada pelo consumidor, mas sua oferta é sazonal e incipiente. Pois sua disponibilidade depende essencialmente da remuneração da lã, uma vez que grande parte do rebanho nacional é de raças produtoras de lã ou mistas. 1. ANIMAIS PARA ABATE: De modo geral podemos dividi-los nas seguintes classes: 1.1. CORDEIRO: Animais de 4 a 6 meses de idade. São os preferidos pelos gourmets, por terem ossos finos, peso vivo entre 15 e 25 Kg, rendimento de carcaça entre 40 e 50%. Sua carne é rosada e lisa, apresentando-se bem enxuta e (± 22% gordura), sua gordura é branca. Pode-se considerar como subclasse o cordeiro mamão (alimentado com leite). Os cordeiros representam a principal classe ou categoria dos animais abatidos, devido às qualidades acima, mas também por ser mais estudada, ter melhor aceitação popular, melhores carcaças e apresentarem o melhor custo-benefício. 1.2. BORREGO: Animais com 1 a 1,5 anos. Têm ossatura mais desenvolvida, contribuindo para que seu rendimento caia para 38 a 43%. Seu peso vivo está entre 30 e 50 Kg. Sua carne é mais vermelha que a anterior e com ± 35% de gordura na carcaça. Sua aceitação pelo consumidor ainda é boa, devido em grande parte ao maior peso final ao abate que dos cordeiros (transporte, comercialização, Tc). 1.3. CAPÃO: Por serem machos adultos, apresentam-se com maiores pesos (45 a 50 Kg de PV) e o rendimento médio de 41%. Carne vermelha intensa e com maior teor de gordura de cobertura, chegando a ser excessiva. Talvez sua vantagem

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

196

sobre os borregos seja seu rendimento de carcaça, que pode ultrapassar 44%. Mas esta deve-se em boa parte à maior deposição de gordura, fato que limita a aceitação pelo consumidor. 1.4. OVELHA: Geralmente de animais com idade avançada. É uma carcaça maior, com ossos mais pesados, excessiva cobertura de gordura, musculatura rígida e com baixa palatabilidade. Carne de coloração vermelho bem escura. Seu rendimento de carcaça é de 40%. Por tudo isto é mais consumida na propriedade ou por consumidores menos exigentes. 1.5. CARNEIRO: São todos os machos que não se prestam mais à reprodução. Têm baixo valor comercial, musculatura bem escura, ossos mais pesados e excessiva cobertura de gordura. Este último confere-lhe um sabor atípico, a ponto de ser comercializado beneficiado (charques, guisado, carneiro no buraco, embutidos, defumados ou lingüiças). 2. CARACTERÍSTICAS DA CARNE OVINA Possui consistência elevada, digestibilidade protéica de 97% e da gordura de 96%, tem pouco glicogênio residual (pH) e suas perdas por congelamento são pequenas. Ocorrem variações em função da idade, sexo e grau de acabamento (teores de água e gordura). COMPOSIÇÃO DE CARCAÇA SEGUNDO O GRAU DE ACABAMENTO Componentes ______Medianamente Demasiadamente_ _ Magro Gordo Magro Gordo Água 57,3 50,2 43,5 32,2 Gordura 18,7 23,5 35,6 45,8 Proteína 14,3 14,0 12,2 10,9 Minerais 3,2 3,2 2,8 2,9 VIEIRA (1967) 3. QUALIDADE DA CARNE OVINA E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA Estão relacionadas com a gordura intramuscular e resulta da espessura, consistência e textura, tanto da carne magra como do tecido conjuntivo, dependendo ainda da quantidade, qualidade e suculência da carne e da gordura. São conferidas pelo tecido muscular bem desenvolvido, firme e compacto, carne de consistência tenra e de granulação fina e lisa, além da coloração de rósea pálida nos cordeiros até escuro nos capões. Influirão diretamente no sabor da carne e seu preparo culinário. Basicamente, a qualidade é determinada pela maciez, suculência e a sabor, estando intimamente relacionados com o diâmetro médio da fibras musculares, pois quando este é elevado, ocorre maior proporção de substância branda em relação ao tecido conjuntivo. VALORES DE QUALIDADE DE CARCAÇA ENTRE CORDEIROS COM DIFERENTES PERCENTAGENS DE GORDURA

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

197

Características Tipo Down Raça não especializada Peso da perna (% carcaça) 32,20 33,40 % Gord. na perna 28,50 23,90 Maciez 7,27 7,33* Suculência 6,46 6,39* Sabor 7,00 7,04* Aceitação geral 7,20 7,29* * Melhores valores (KIRTON e PATERSON, 1972) Trabalhando com cordeiros gêmeos, YEATES (1967) avaliou os efeitos dos níveis nutricionais sobre as características de carcaças de ovinos, conforme segue:

Efeito de níveis nutricionais alto e baixo sobre as características da carcaça e das fibras musculares de cordeiros gêmeos Parâmetro Peso inicial (Kg) Peso ao abate (Kg) Peso da carcaça fria (KG) Peso dos ossos (Kg) % de ossos Diâmetro médio das fibras musculares (µ) YATES (1967)

Nível alto 27,0 32,0 16,7 3,2 20,0

Nível baixo 28,0 22,5 8,6 3,2 38,8

40,3

23,7

No que se refere aos animais adultos, não se detecta diferenças significativas no teste de maciez de carneiros e ovelhas, exceto nos carneiros mais velhos. No entanto, as características de carcaça entre diferentes idades são distintas conforme observa-se a seguir. Características de carcaça em diferentes idades Características Cordeiros Borregos PV médio (kg) 32,00 40,60 Peso carcaça fria (kg) 16,30 19,50 % de osso 15,90 14,90 % gord. intramuscular 11,20 12,80 Relação carne magra:osso 3,98 4,21 Peso de gord. carcaça (Kg) 3,17 4,01 FIGUEIRÓ e BENAVIDES (1990) A carne de cordeiro é potencialmente a categoria de maior aceitabilidade no mercado consumidor e de melhor características de carcaça, além de apresentar um ciclo curto de produção. Mas a produção destes em um rebanho depende de fatores como o número de cordeiros/ovelha coberta - “encarneirada” (fertilidade, sobrevivência do cordeiro e prolificidade) e do peso ao desmame. 4. ASPECTOS DA PRODUÇÃO DE CARNE OVINA

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

198

São de grande importância o desempenho reprodutivo da ovelha, a velocidade de crescimento dos cordeiros e o nível nutricional disponível para ambos. Para isto existem 3 caminhos básicos que podem ser adotados: a)Selecionar animais com maior fertilidade, taxa de natalidade e capacidade de produção de leite, com filhotes que tenham eficiência no uso do alimento disponível. b)Usar raças exóticas com tais atributos para incorporar no patrimônio genético do grupo. c)Utilização de cruzamentos industriais de 1ª e 2ª gerações. 4.1. Manejo Nutricional: Deve-se considerar ainda a nutrição do cordeiro nos seus 2 últimos meses de vida intra-uterina (flushing para ovelha), pois geralmente os cordeiros nascidos mais pesados têm maiores possibilidades de sobrevivência nas primeiras 72 h de vida. Outro aspecto quanto à alimentação nesta fase refere-se à produção de leite da ovelha (até 6-8 semanas de vida), após isto a preocupação deve voltar-se para a pastagem e/ou métodos de suplementação. ESQUEMA DOS EFEITOS DA NUTRIÇÃO SOBRE O SEGMENTO INICIAL DA PRODUÇÃO DE CARNE OVINA Melhoria e manejo correto das pastagens

Bom nível nutricional

Maior taxa de ovulação

Maior prolificidade

Maior peso ao nascer

Maior peso à desmama

Maior taxa de sobrevivência (mais Kg de cordeiro desmamado/ovelha)

SILVEIRA (1990) 4.2. Eficiência reprodutiva: Considera-se como sendo o somatório da fertilidade, prolificidade e sobrevivência dos cordeiros, possuindo portanto uma grande dependência genética. Sabe-se que a consangüinidade diminui a eficiência reprodutiva, prejudicando assim a produção de carne. É amplamente influenciada pelo manejo nutricional dos animais.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

199

4.3. Peso ao nascer: Com maior peso ao nascer há maior viabilidade a campo; melhora o desempenho subseqüente (>GPD); é muito dependente da nutrição nos dois últimos meses de vida intra-uterina; pode estipular a época da desmama (8 meses para os mais leves). 4.4. Ganho de peso (GPD): Estipula-se um bom ganho de peso por dia como sendo entre 130 e 250g (Brasil), na Europa é de 350g/dia. Pode ser usado como parâmetro para avaliação do desempenho produtivo e eficiência da dieta. Deve-se conhecer a faixa etária onde ocorre o maior crescimento, assim podese programar o sistema de terminação dos cordeiros, usando-os nesta fase, antes que o crescimento comece a declinar. No Brasil esta faixa amplia-se de 2 a 5 meses de vida. Para as raças inglesas, o maior GPD situa-se entre 70 e 90 dias de vida. Sexo e tipo de parto influenciam no GPD: gêmeos têm velocidade de ganho inferior aos de parto simples, e os machos melhores que fêmeas. Considerar o plano NUTRICIONAL

Efeito do plano nutricional de cordeiros abatidos aos 120 dias Manejo alimentar (Kg/ha)

Peso final (Kg)

Campo nativo 15,63 Pastagem cultivada 27,13 FIGUEIREDO e BENAVIDES (1990)

Rendimento (%)

39,1 44,7

130 225

GPD (g)

Produção

39,10 67,82

4.5. Estrutura de comercialização: Poderia ser mais atuante para reverter a baixa demanda do produto e a falta de iniciativa da indústria. Deve-se trabalhar para evitar a sazonalidade de produção, como também diminuir a oferta de carcaças heterogêneas. A elaboração de novos cortes e/ou derivados não tem sido esquecidos para que se incremente o mercado de carne ovina. 4.6. Peso ao abate: Para algumas raças o rendimento de carcaça parece aumentar com o peso próximo aos 50 Kg, por outro lado há sempre a tendência de maior acúmulo de gordura na carcaça com o avanço da idade (longissimus dorsis). Observa-se que animais com menor GPD (crescimento lento) têm mais gordura na perna e lombo. Podem ser considerados como satisfatórios os peso ao abate: 20 Kg PV com 90 dias para cordeiros e 40 Kg para animais com mais de 1 ano. Já um bom rendimento de carcaça deve estar próximo aos 50%, porém, mais importante que este, está a composição desta carcaça (neste aspecto há grande influência da idade).

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

200

5. CLASSIFICAÇÃO DE CARCAÇA: De acordo com a Federação Brasileira dos Criadores de Ovinos de Corte (FEBROCARNE): 5.1. Idade: Cordeiro Mamão: Machos castrados ou não e fêmeas com até 6 meses; carcaça entre 6 Kg a 8 Kg (dentes de leite). Cordeiro: Machos castrados e fêmeas com dente de leite; carcaça com mais de 8 Kg. Borrego: Machos e fêmeas com máximo de 2 pinças da 2ª dentição, sem queda dos primeiros médios; carcaça com mais de 15 Kg. Borregão: Machos castrados e fêmeas com evolução dentária incompleta, até 6 incisivos definitivos, sem queda dos cantos da 1ª dentição; carcaça com 25 Kg. Capão: Machos castrados, 2ª dentição completa e carcaça com mais de 25 Kg. Ovelha: Fêmeas de 2ª dentição completa e carcaça com mais de 25 Kg. Carneiro: Machos não castrados, considerando a queda das pinças da 2ª dentição. 5.2. Maturidade: - Dente de Leite: primeira dentição sem queda das pinças. - Pinças: a partir da queda das pinças de 1ª dentição até o desenvolvimento total das pinças de 2ª dentição. - Seis dentes: até 6 dentes definitivos, sem queda dos cantos da 1ª dentição. - Oito dentes: com mais de 6 dentes definitivos. (boca cheia) 5.3. Sexo:

Macho; Macho castrado e Fêmeas.

5.4. Conformação: Convexa; Subconvexa; Retilínea; Subcôncava; Côncava; Destinada à fabricação ou industrialização. 5.5.Gordura: Medida acima do longíssimo dorsis, perpendicular a este e entre 12ª e 13ª vértebras torácicas. 5.5.1. Magra: ausência 5.5.2. Gordura Escassa: 1 a 3 mm. 5.5.3. Gordura Mediana: 3 a 6 mm. 5.5.4. Gordura Uniforme: 6 a 10 mm. 5.5.5. Gordura Excessiva: > 10 mm.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

201

A CLASSIFICAÇÃO SUPERIOR da Carcaça: animais com alto desenvolvimento das massas musculares; perfil da perna convexo; gordura branca; gordura superficial com distribuição uniforme; gordura intramuscular abundante e bem distribuída; musculatura de cor rosa pálida (cordeiros) e vermelho escuro (adultos). 6. DIVISÃO DE CARCAÇA: A carcaça de cordeiro pode ser vendida inteira ou sob forma de cortes: 6.1. Pernil: Conta-se a partir da última vértebra lombar. 6.2. Paleta com costela: corte a partir da 5ª e 6ª costelas para o aproveitamento das duas; 6.3. Pescoço: aproveitamento das vértebras cervicais; 6.4. Peito: de menor rendimento, mais usado para charque e pratos como a feijoada e ensopados. Formado pelo esterno e região inferior das costelas; 6.5. Carré: última vértebra do lombo e entre a 5ª e 6ª costelas; 6.6. Costelas: saídas do carré.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

202

MODELO PARA A PRODUÇÃO DE APROXIMADAMENTE 1000 Kg DE CARCAÇA DE CORDEIROS POR ANO • • • • • • • •

Abater apenas os machos aos 5 meses. Carcaça com aproximadamente 14 Kg (PV±28 Kg) e GPD=200g. Mortalidade até 5 meses de 20% Mortalidade de 5 a 12 meses de 8%. Mortalidade de adultos de 4%. Fertilidade de 90%. Partos duplos de 30%. Relação de 3% de machos no rebanho.

Estação de monta 1ª ) Abril-Maio 2ª) Nov-Dez. 3ª) Jun-Jul.

Estação de nascimentos Ago-Set. Março-Abril Out-Nov.

Quantos cordeiros serão necessários para termos 1000 Kg/ano? Resp: 1000 ÷ 14 ≅ 72 animais machos com 5 meses de idade

Descontando-se a mortalidade de 20%, teremos: 72 x 0,20 ≅ 15 animais mortos; então 72 + 15 = 87 animais nascidos; sendo 44 machos e 43 fêmeas. Como vamos abater somente machos, devem nascer 174 animais/ano. Quantas ovelhas terá o rebanho? (90% fertilidade e 30% de partos duplos) 90 x 0,30 = 27 partos duplos (são 27 animais a somarem aos 90 que nascerão de partos simples), ou seja, 117 nascidos/100 ovelhas cobertas. Ovelhas cobertas 100 → x ←

Número de produtos 117 174 x = 149 ovelhas deverão entrar na EM

Carneiros: 0,03 x 149 = 5 carneiros

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

EFETIVO Ovelhas Cordeiros (5 meses) Cordeiras (5 meses) Cordeiros (>5 meses) Cordeiras (>5 meses) Borregos (>12 meses) Borregas (>12 meses) Carneiros MORTES SEM Ovelhas Cordeiros (5 meses) Cordeiras (5 meses) Cordeiros (>5 meses) Cordeiras (>5 meses) Borregos (>12 meses) Borregas (>12 meses) Carneiros VENDAS SEM Ovelhas Cordeiros (5 meses) Cordeiras (5 meses) Cordeiros (>5 meses) Cordeiras (>5 meses) Borregos (>12 meses) Borregas (>12 meses) Carneiros

1º ANO 1º SEM 2º SEM 100 126

203

2º ANO 1º SEM 2º SEM 148 149

3º ANO 1º SEM 2º SEM 149 149

4º ANO 1º SEM 149

33

59

70

70

70

70

70

34

59

69

70

70

70

70

30

---

---

03

03

03

03

31

31

54

63

64

64

64

28

02

---

---

02

02

02

29 29 03 03 1º SEM 2º SEM

29 05a 1º SEM

51 04 2º SEM

60 04 1º SEM

66 04 2º SEM

66 05 1º SEM

---

---

05

06

06

06

06

---

15

05

17

17

17

17

---

15

05

18

18

18

18

---

03

---

01

01

01

01

---

03

02

06

06

06

06

---

02

02

---

01

01

01

02 --1º SEM

03 --2º SEM

----1º SEM

03 --2º SEM

03 03 ----1º SEM 2º SEM

03 --1º SEM

---

---

---

28

30

30

30

33

59

69

70

70

70

70

---

---

---

---

---

---

---

30

---

---

---

---

---

---

---

---

---

---

---

---

---

26

---

---

---

---

---

---

-----

-----

-----

-----

24 ---

36 02

1º ano 2º semestre: 126 ovelhas x 0,90 = 114 prenhes;

114 x 1,3 (partos duplos) = 149 produtos

Mortes: 0,20 x 149 = 30 mortes (15 machos e 15 fêmeas)





BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

204

Vivos: 59 machos e 60 fêmeas 2º ano 1º semestre: Há entrada de carneiros novos, por isto subiu para 5 reprodutores. 3º ano: Passamos a usar uma taxa de substituição das matrizes na ordem de 20%. Já existem Borregas com mais de 12 meses para venda; no entanto podemos optar por vendê-las ainda como cordeiras (com 5 meses ou até 12 meses), dependerá da estratégia de mercado e de reposição a ser adotada.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

205

A LÃ E SUA PRODUÇÃO A FIBRA DA LÃ: INTERNA (cortícula): formada por células fusiformes alongadas que dão resistência à lã. EXTERNA (cutícula): camada de queratina revestida de escamas. A Lã deve ser amedulada para ter melhor qualidade, no entanto podem aparecer fibras semi-medulada (medula interrompida) ou mesmo meduladas no velo (tecido de qualidade inferior, cor desuniforme, é defeito hereditário grave). Comparação com outras fibras: Algodão (C6H10O5) Seda (C24H38O8N8) Lã (C42H157O15N5S15). Sendo: 52% de C, 22-25% de O, 16-17% de N, 7% de H e 3-4% de S. O ENXOFRE CONFERE A RESISTÊNCIA E ELASTICIDADE À LÃ. A lã tal como é retirada pós-tosquia apresenta a seguinte composição: Lã pura Suarda Água Matérias vegetais Matérias terrosas

51% 22% 17% 4% 6%

(30-80%) (5-30%) (12-21%) (0,5-5%) (5-20%)

BRILHO DA LÃ: é função das escamas presentes na cutícula. Lã fina tem grande nº de escamas dando menor brilho Lã grossa tem pequeno nº de escamas e seu brilho é maior TOSQUIA: É a retirada periódica da lã (ciclo de 1 ano), somente raças com lãs longas podem ser tosquiadas 2 vezes ao ano. Maturação de sementes que podem aderir à lã é um fator determinante da época de tosquia. Outro fator determinante é a época de beneficiamento. Normalmente feita por equipe especializada. Época de realização: outubro a dezembro. Feita em piso cimentado e/ou com gradil de proteção para guardá-la. Separar tipos de lãs em sacos devidamente identificados (125 a 180 Kg). Só tosquiar após secagem do orvalho. Rendimento: Martelo 30 ovinos/dia, elétrica (80 a 150 ovinos/dia). Ordem: carneiros - capões - ovelhas - borregos e borregas. Animais mais velhos têm lãs mais finas.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

206

PROPRIEDADES DA LÃ: A)FINURA: Diâmetro médio varia com a idade e região do corpo, sendo mais fina nas cruzes paleta - costela - lombo - anca - quarto. Com o sexo: Ovelhas - Capões - Carneiros. Uniformidade do diâmetro fino característica de raças puras.

B)COMPRIMENTO: Fibras finas são mais curtas Classe de lã Fina Medianamente fina Prima Cruza fina Cruza média Cruza grossa * Comprimento natural

Raça Merino Merino Australiano Ideal Corriedale Romney-Marsh Lincoln

Comprimento (cm)* 4a8 8 a 10 8 a 12 10 a 14 12 a 16 18 a 30

Comprimento Natural ou relativo: a lã apresenta ao ser distendida normalmente. Comprimento Absoluto ou efetivo: aquele quando a lã apresenta ao ter distendida suas ondulações.

C) ONDULAÇÕES: Permite avaliar a primeira vista a uniformidade e qualidade da lã. Mecha: Conjunto de fibras ligadas entre si. Velo: Lã do corpo que cresceu durante um ano (conjunto de mechas). Garreio: Lã das patas e barriga (menor preço). QUANTO MAIOR O No DE ONDULAÇÕES MAIOR O COMPRIMENTO ABSOLUTO D) RESISTÊNCIA: Normalmente é menor que as demais fibras, quanto à tração, no entanto suporta bem à torção (FLEXIBILIDADE). Mínimo* Merino 3,46 Cruza Fina 13,26 Cruza média 29,30 Cruza Grossa 39,20 *Medido em dinamômetros especiais, expresso em gramas

Máximo* 11,70 22,76 38,66 63,25

E) ELASTICIDADE: Capacidade de voltar à posição inicial após tracionada. - Quanto menor o tempo para voltar à posição inicial mais elástica.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

207

- LÃS FINAS TEM MAIOR ELASTICIDADE. F) SUAVIDADE: Indicada pelo tato. Muito dependente das condições de criação. - Campos pobres: lãs mais ásperas. - O mesmo para zonas de muitas chuvas (suarda é lavada). - Lãs de diâmetro reduzido das Raças de Corte são mais ásperas. G) HIGROSCOPICIDADE: Normal entre 16-18% - Excesso umidade: fungos destroem a lã. Jamais deixar atingir 40% de água. - O excesso de água confere aspecto carbonizada. H) SUARDA: - Produto de glândulas sudoríparas e sebáceas. Lubrifica e protege as fibras contra feltragem. -LANOLINA é um pigmento da Lanaurina. I) BRILHO: - É função das escamas em refletir a luz J) COR: - Negra - Marrom - Cinza - Vermelha - Rosada

Dependente do local onde se cria o animal

- Branca : após lavada - Amarelada DEFEITOS MAIS COMUNS: 1) SARNA (Psoroptes ovis) 2) ACAPACHADA: é o entrelaçamento de fibras. - Possuem finura e comprimento desuniformes. - Geralmente ocorre em cruzamentos (lãs grosas x lãs finas). - Clima, deficiência alimentar e verminose também podem acapachar a lã. 3) FALTA DE RESISTÊNCIA: Constrição da fibra - rompe ao tracionar. - Irregularidade na nutrição dos folículos; - Infeções - febres e metrites; - Carência alimentar. 4) MANCHADA: Apresentando cor anormal. a) Lanaurina: pigmento amarelo da suarda. b) velos com excesso de suarda. c) Alta umidade e calor. d) Lã azul ou verdes devido a bactérias (raro) ou resíduos de remédios. e) Uso de tintas inadequadas (freqüente).

5) EMPASTADA: Aspecto de crosta. Resultante de infecção por fungos.

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

208

CATEGORIAS DE LÃS 1) Velo; 2) Borrego; 3) Garreio; 4) Retosa; 5) Pelego; 6) Desborde; 7) Capacho; 8) Campo; 9) Preta ou moura; 10) Resíduos de lã. CLASSIFICAÇÃO DAS LÃS: É necessária devido à grande variação na produção e obtenção da lã. Maior ou menor rigor na classificação está condicionado às exigências do mercado. No MERCADO INTERNACIONAL (WOOLMARK) usa-se a escala de BRADFORD que agrupa as lãs em classes correspondentes ao rendimento teórico que ela pode produzir em fio (baseado na finura média). Seu número, sempre seguido de um ’s, expressa a quantidade de meadas de lã com 560 jardas de extensão (512,064 m) de fio que pode ser obtido com uma libra (0,4537 Kg) de lã lavada. Este ’s significa libra fiada (spinning pound). Ex: uma lã 80’s terá para cada libra 44.800 jardas (80 x 560), para o mks teremos: 1 Kg de lã 80’s produzirá 90.291,12 metros de fio. 1’s = 1128,75 m/Kg ESCALA RIO-PLATENSE CLASSES DE LÃS

ESCALA BRADFORD

FINURA (micras)

COMPRIMENTO

(cm)

01- MERINA 02- AMERINADA 03- PRIMA A 04- PRIMA B 05- CRUZA 1 06- CRUZA 2 07- CRUZA 3 08- CRUZA 4 09- CRUZA 5 10- CRIOULA

> 64’s 60-64’s 60’s 58’s 56’s 54-50’s 48-46’s 44’s 36-40’s ---

20 a 21 22 a 24 23 a 24 25 a 26 27 a 29 30 a 32 32 a 34 35 a 38 40 a 42 20 a 60

5 a 10 mín. 6 8 a 18 mín. 10 mín. 10 mín. 12 mín. 13 14 a 20 mín. 15 12 a 15

QUANTO À QUALIDADE ESTAS CLASSES AINDA SÃO SUBDIVIDIDAS EM: - SUPRA - ESPECIAL - BOA - CORRENTE - MISTA SUPRA: Possui qualidade em grau máximo; Ovinos de alta pureza racial; Provenientes de velos com peso médio elevado.

MANUAL PRÁTICO DE CAPRINO E OVINOCULTURA

209

ESPECIAL: Procedente de rebanhos com grande pureza racial Mechas de comprimento e coloração normal Finura relativa ao comprimento BOA: Menor uniformidade; Comprimento não inferior a ¾ do normal da raça; Coloração irregular; Boa suavidade. CORRENTE: Velos de baixo peso; Mecha com metade do comprimento normal; Grande desuniformidade de fibras e falta de resistência. MISTA: Lã de animais velhos e doentes; Refugo: lãs sem nenhuma qualidade e sem resistência; Fibras muito desuniformes; Verminose e aftosa causam este tipo de lã. Ex: Pode-se ter uma lã Merina supra, Merina Especial, Merina Boa, Merina corrente e Merina mista Transformação para o sistema mks JARDA

METROS

560 44.800

512,064 x

x = 40.965,12 m/libra ou 40.965,12 / 0,4537 Kg

x = 90.291,21 m/Kg

BORGES, I e GONÇALVES, L.C.

210

NÍVEIS INDEPENDENTES PARA CLASSIFICAÇÃO DO SEMEN OVINO EM ESCORES DIFERENTES Escore do Cabeças sêmen anormais 1 2 3 4 5 a-

Escore da Descrição

Muito boa 6,6 Boa 6,8 Satisfatória 7,0 Ruim 7,4 Muito ruim >7,4

Bilhões por cm3

pH

Concen-

Motilidade (%)

90 75 60 15 <15

1,8a 1,4 1,0 0,1 <0,1

% de Vivos

tração

Normais

90 80 70 40 <40

10 20 30 60 >60

% Anormais

0 5 10 25 >25

More Documents from "Karina Frensel"