EDITORIAL
a verdade Nos libertará
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iante da corrupção sistêmica em que se encontra mergulhado o atual sistema político-eleitoral brasileiro, o que mais se ouve são clamores por uma urgente e radical reforma. Um dos fatores que contribuiu para a crise dos partidos e a descabida forma como são feitas as campanhas eleitorais foi, sem dúvida, a supervalorização do marqueteiro na política. Não é por menos que entre tantas outras propostas para resgatar a dignidade da política se encontra a de acabar com o papel do profissional de marketing nas campanhas eleitorais. Os partidos sabem que ele é fundamental para, no atual sistema eleitoral, fabricar a imagem dos candidatos e vender a ilusão de resolver todos os problemas, atraindo os votos dos eleitores. Acontece que, na corrida pelo poder, o marketing político leva os partidos a gastar somas milionárias fomentando práticas ilícitas. A publicidade transforma os candidatos em produtos de consumo que dificilmente vão realizar aquilo que prometem. Neste triste cenário, ao longo dos anos, vimos desaparecer aos poucos os políticos que debatem idéias e apresentam programas viáveis para bem governar a coisa pública. No seu lugar, assessorados por agências de publicidade crescem os políticos que buscam poder e vantagens pessoais a qualquer custo. O que se vende são aparências, uma das características mais marcantes da sociedade contemporânea. Nela o que de fato parece importar não é quem somos, o que temos ou fazemos, mas o que parecemos ser, ter ou fazer... Essa inversão de sentido é visível na política e em outras dimensões da sociedade. Vivemos no mundo das aparências. Preocupados com a situação do país, os bispos, reunidos na 43ª Assembléia Geral da CNBB, de 9 a 17 de agosto, em Itaici, Indaiatuba, SP, em uma declaração sobre a atual crise política afirmaram que “o uso de fontes escusas para o financiamento de campanhas eleitorais, o desvio de recursos públicos, a manipulação de empresas estatais em benefício de partidos, e tantas outras denúncias de corrupção que vêm acontecendo de longa data, e que nos últimos dias emergiram de forma escandalosa, provocam, em todos nós, a indignação ética”. Em sua declaração os bispos afirmam ser “indispensável, por isto, renovar a convicção de que a política é uma forma sublime de praticar a caridade, quando colocada a serviço da justiça e do bem comum”. Apesar de tudo, devemos acreditar que estamos diante de uma oportunidade para realizar uma profunda reforma política. “Urge assegurar a lisura nas campanhas eleitorais pela aplicação mais rápida e severa da lei 9.840 contra a corrupção eleitoral”, conclamam os bispos. Setembro é tradicionalmente o mês da Bíblia e nos momentos difíceis a Palavra de Deus ilumina os nossos passos e nos assegura que “a Verdade nos libertará” (Jo 8, 32). Ancorado nos valores do Evangelho e nas convicções éticas e cristãs, o povo brasileiro não vai desistir do projeto de construir um país justo, pacífico e democrático. No espírito da 4ª Semana Social Brasileira, nos unimos ao mutirão por um novo Brasil e juntando todos os gritos, acreditamos que a mudança se encontra em nossas mãos.
Missões - Setembro 2005
SUMÁRIO setembro 2005/07
Cartaz oficial do Grito dos Excluídos 2005. Foto1: Secretaria Nacional do Grito
Acólitos: dia de Corpus Christi 2005 na Praça da Sé, SP. Foto2: Jaime C. Patias
MURAL DO LEITOR--------------------------------------04 Cartas
OPINIÃO--------------------------------------------------05 CEBs fazendo história Luciano Mendes de Almeida
PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07 O lamentável imediatismo Rosa Clara Franzoi
VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08 Notícias do Mundo Adital / Fides
ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10 Espiritualidade libertadora, legado das CEBs Jaime Carlos Patias
CIDADANIA-----------------------------------------------12 Os gritos dentro do Grito Alfredo J. Gonçalves
testemunho-------------------------------------------13 Alargando horizontes e o coração Anair Voltolini
testemunho-------------------------------------------14 A força da fé Bento Eugênio Muhita
FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15 A Missão Ad Gentes hoje Ramón Cazallas Serrano
MISSÃO HOJE-------------------------------------------19 Jovem evangelizando Jovem Júlio César Caldeira
DESTAQUE DO MÊS------------------------------------20 Em nossas mãos a mudança Alfredo J. Gonçalves
ATUALIDADE----------------------------------------------22 Vencer o fracasso através da alfabetização Dalgi e Orestes Asprino
INFÂNCIA MISSIONÁRIA-------------------------------24 Em comum-união com nossos indígenas Roseane de Araújo Silva
CONEXÃO JOVEM--------------------------------------25 Tipo assim, para que serve a TV? Diniz Giuseppi
ENTREVISTA-----------------------------------------------26 A dimensão profética da evangelização Joaquim Gonçalves
AMAZÔNIA-----------------------------------------------28 Mutirão pela e com a Amazônia Cecília Tada
Volta ao Brasil---------------------------------------30 Notícias do Brasil CIMI / CIR / Desarme
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Mural do Leitor Ano XXXII -
no
07 Setembro 2005
Diretor: Jaime Carlos Patias Editor: Maria Emerenciana Raia Equipe de Redação: Joaquim F. Gonçalves, Cristina Ribeiro Silva e Rosa Clara Franzoi Colaboradores: Alfredo J. Gonçalves, Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Júlio César, Marinei Ferrari, Roseane de Araújo Silva Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, Pulsar, Vaticano Diagramação e Arte: Cleber P. Pires Jornalista responsável: Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Administração: Eugênio Butti
Nossa vida é missão! É com muita alegria e entusiasmo que eu partilho um pouco da minha experiência de vida com os missionários da Consolata em Manaus. Somos quatro jovens no Propedêutico e cada um vem de uma realidade bem diferente, mas juntos aprendemos a viver cada dia essa mistura cultural, transformando tudo em fraternidade. Sinto-me feliz por esta experiência, e, apesar das dificuldades e desafios, percebo que estou indo pelo caminho certo. Somos gratos pela presença dos missionários da Consolata aqui na Região Amazônica e por isso neste mês que é dedicado às missões, quero manifestar o meu agradecimento, de modo particular ao padre César e ao Irmão Tarcísio, que este ano nos acompanham na formação. A todos, um abraço de paz.
Francisco Maya Manaus, AM.
Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata (CNPJ 60.915.477/0001-29) Impressão: Edições Loyola (11) 6914.1922 Colaboração anual: R$ 35,00 AG: 545-2 CC: 38163-2 - BRADESCO Instituto Missões Consolata (a publicação anual de Missões é de 10 números)
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Setembro 2005 - Missões
OPINIÃO
CEBs fazendo história
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tema do 11º Intereclesial das CEBs “espiritualidade libertadora” se inseriu em um enquadramento maior de nossa sociedade, que não podemos perder de vista. A primeira característica do nosso mundo, é o escândalo da desigualdade social. Nós vemos que a miséria, a fome e a doença fazem parte da vida concreta de pelo menos dois bilhões de seres humanos que vivem essas experiências negativas. A segunda característica dos nossos dias é a violência enquanto um desregramento da pessoa que apela para o uso da força. Em terceiro lugar, resultante desses dois fatos, e aí se inseriu o Intereclesial, há uma série de separações, divisões, segregações que nascem de rivalidades, mas que ficam depois entre os povos. Em quarto lugar, a ação do Intereclesial se inseriu também em algo que é muito forte e crescente, mas, que ao mesmo tempo descortina um horizonte pesado: a perda de sentido da vida. Foi dentro desse contexto maior que aconteceu o Intereclesial como uma reunião de igrejas e, portanto, de vida de comunidades com o olhar voltado para Jesus Cristo.
Queremos Ver Jesus
José Roberto Garcia
O 11º Intereclesial nasceu de uma vontade de sintonizar com um programa maior da CNBB, o Projeto Queremos Ver Jesus... mas que é voltar os olhos
para algo que vai além da nossa razão, e da experiência pessoal, que vem como dádiva de Deus. Jesus Cristo entra na humanidade para oferecer a ela não só uma esperança de vida eterna feliz, mas também um caminho de vida agora, no tempo e, portanto, de conversão pessoal e de Reino de Deus. Conversão pessoal dessas estruturas que asfixiam a vida e levam à morte, para uma atitude de enfrentamento dessa situação e de afirmação da vida. Não se trata apenas de uma promessa de esperança, mas de uma semente que leve a uma vivência de valores. Dentro dessa perspectiva, o Intereclesial se articulou em forma de "Locomotivas" e "Vagões" que proporcionaram uma ramificação do pensamento. Os quatro blocos de temas desenvolvidos nas Locomotivas: a) evangelização libertadora é um programa de vida; b) como isso dignifica todo o conceito de pessoa humana e de cidadania; c) como é que isso faz com que a pessoa tenha que se habilitar e se capacitar para exercer a sua ação de sujeito; d) como a pessoa vai se organizar para termos políticas públicas e termos também ações de conjunto que têm um efeito maior porque o bem é tanto mais divino quanto mais universal. Tivemos ainda os dois tipos de aplicação: 1. O campo: com tudo o que significa hoje para nós a terra, passando pela ecologia, pela água, pela luta da reforma
Grupo de trabalho (Vagões) no 11º Intereclesial.
Missões - Setembro 2005
Jaime C. Patias
de Luciano Mendes de Almeida
agrária e agrícola, o esforço para que as barragens não se multipliquem de modo exagerado, a emancipação, a autonomia das populações indígenas, dos quilombolas etc.; 2. Finalmente a última Locomotiva dizia o seguinte: esse espírito a ser obtido, essa modificação para melhorar na compreensão da pessoa humana e da cidadania, aquilo que é para nós a elaboração de um projeto aonde a pessoa vai se tornando capaz de ser um sujeito de transformação; as ações coletivas que devem levar o país a um salto qualitativo na promoção humana. Aplicando isso ao campo, vamos nos solidarizar mais rapidamente com um projeto de educação que elimina as formas de ensino atuais, mas que pode ter também uma concentração maior sobre a família, sobre as escolas que estão ligadas com a família, sobre as iniciativas locais de educação bem como sobre aquelas mais localizadas, como a indígena, por exemplo. Como capacitar o povo, que ficou muito tempo analfabeto no exercício da cidadania, para a participação de conselhos, para a consulta de plebiscitos, num ensino que passa também por uma educação popular.
Dom Luciano Mendes de Almeida é bispo de Mariana, MG.
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Instituto Mariama
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eunido com os seus membros na cidade de Salvador, entre os dias 25 e 29 de julho, o Instituto Mariama (IMA), que congrega bispos, padres e diáconos negros, propôs, através de sua XVII Assembléia, a reflexão sobre o diálogo inter-religioso para a construção de uma cultura de vida e de paz. Comungando as suas discussões com os padres, leigos e leigas norte-americanos e identificados com a situação de exclusão social e religiosa, a que ainda continuam submetidos milhões de afro-brasileiros, todos os participantes declararam para as igrejas e para a sociedade que: 1. A atual conjuntura brasileira, em que pese as políticas afirmativas, exige urgentemente uma nova mobilização dos movimentos sociais e da sociedade civil para que assumam a sua responsabilidade política de serem os sujeitos privilegiados das transformações exigidas pelos mais atingidos por este sistema perverso Celebração de encerramento e posse da nova diretoria do IMA. e opressivo, dos anseios legítimos dos que constróem “Acaso não temos o mesmo Pai para todos nós? Não nos criou a nação brasileira; um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns 2. Convidamos a comunidade negra do Brasil e todos aqueles contra os outros?" (Mal 2,10); que se identificam com as suas causas históricas, para que se 6. Hipotecamos a nossa irrestrita solidariedade a todas as comprometam com o debate político. Este precisa ser reinstaucasas religiosas de tradição africana. Estas vêm sofrendo, sem rado no conjunto da população brasileira e dos seus movimentos cessar, a violência física e moral dos que, em nome de sua relisociais representativos e organizados; gião, procuram impor a sua mentalidade autoritária. Esquecem 3. Neste contexto, julgamos ser de muita importância a que Paulo, apóstolo dos gentios, ele mesmo, tinha um coração participação na Marcha Zumbi + 10, que será realizada no dia judeu, uma mentalidade grega e uma existência romana; 16 de novembro de 2005, em Brasília; 7. Lembramos as palavras de Cristo: “Chegará um momen4. Reafirmamos que o diálogo inter-religioso só será fecundo, to em que aquele que vos matar pensará estar prestando um se acompanhado de ações comuns pela justiça, pela defesa serviço a Deus”. Queremos colocar esta palavra, exigida pela dos direitos humanos e pela construção da paz alicerçada na Boa Nova de Jesus Cristo, nos nossos corações e atitudes, em liberdade religiosa, pois “ninguém deve ser levado a crer contra solidariedade fraterna à Igreja de Nova Iguaçu, covardemente a vontade. Ninguém pode aderir a Deus senão quando atraído atingida pelo assassinato do Pe. Paulo Henrique Keller, no por Ele. Por si mesma, a fé exclui, em matéria religiosa, todo exercício pleno da missão profética; gênero de coação por parte dos seres humanos” (DH 10); 8. Anunciamos que nada deterá o nosso empenho para 5. Somente a verdade, o respeito mútuo e a tolerância são os concretizar o diálogo inter-religioso, como foi e é exigido pelos caminhos seguros que levarão a superar e aniquilar as guerras documentos do Concílio Vaticano II, testemunhado pelo Papa de religiões, nas quais os mais atingidos são os mais pobres; João Paulo II na cidade de Assis, em outubro de 1986; 9. Finalmente, nos empenharemos no aprofundamento do diálogo com as tradições religiosas africanas, conscientes da exortação de que “há um só povo de Deus na diversidade das culturas e isto é uma realidade inscrita no plano de Deus” (PC); Pedimos as bênçãos do Senhor do Bonfim e a proteção de todos os Santos e Santas, para que possamos, com todos os homens e mulheres de boa vontade, anunciar e concretizar em toda a terra, a utopia do profeta: “Quem fizer casas, nelas vai morar; quem plantar vinhedos, dos seus frutos vai comer. Todos vão gozar do fruto do seu trabalho e ninguém fará mal ou pensará em prejudicar alguém” (Is 65, 21-22). Momento de oração durante a Assembléia.
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Todos os participantes da XVII Assembléia do IMA. Setembro 2005 - Missões
Foros: Joaquim Kamau
Mensagem final da XVII Assembléia
pró-vocações
O LAMENTÁVEL imediatismo O importante nos dias de hoje é correr, competir, ganhar tempo... de Rosa Clara Franzoi
"E
atingiu a região e a maioria das árvores do pomar morreu de sede. Em seguida, um ciclone passou pelo sítio e arrancou, sem dó nem piedade, as poucas que ainda haviam sobrado da seca. A figueira também foi atingida, mas foi a única que se manteve de pé para consolo do proprietário e para oferecer a todos perfumadas flores e saborosos frutos”.
Destruição dos caminhos de realização
José Roberto Garcia
ra uma vez um belo pomar. Havia abundância naquela Deixando de lado a parte trágica da história, apliquemos a região. Por isso, aquelas plantas frutíferas não se preo lição da figueira à vocação, que é o nosso tema. Vivemos na era cupavam em aprofundar as raízes. Uma delas, porém do imediatismo. Tudo ao nosso redor tem que ser rápido, tudo – era uma figueira – resolveu não seguir o comportamento em cima da hora. A paciente espera não tem espaço em nossa das amigas pois poderia ser arriscado para o seu futu agenda. Tudo o que exige um pouco mais de esforço, de reflexão ro. Cada vez que e de discernimento, é chovia, ela tratava de ir deixado de lado, porque mergulhando o mais que o importante, hoje, é podia nas raízes da terra. correr, competir, ganhar Por causa desse esforço, tempo... Com isso, até o seu crescimento acon aquelas decisões sérias tecia um pouco mais lento e comprometedoras que que o das demais. Pas envolvem o futuro, muisaram-se alguns anos, tas vezes são tomadas as árvores floresceram de repente, num abrir e começaram a dar os e fechar de olhos, sem primeiros frutos... menos medir as conseqüêna figueira. As outras árvo cias. Depois, quando res olhavam com desdém “a ficha cai” já é tarde. e até debochavam dela E daí, o que fazer? Corpor perder em altura e rer desesperadamente sobretudo, por não ter atrás dos prejuízos – o ainda frutos nos seus que não deixa de ser ramos. Mas, a figueira muito triste... Todos, aguentava os risos sar Participantes do Acampamento da Juventude no 11º Intereclesial. mas especialmente os cásticos das colegas. Dizia consigo mesma: “quem ri por último, adolescentes, os jovens, vivem uma pressão muito grande, da ri melhor...” e convicta, continuava seguindo o seu ritmo. Um dia sociedade, do grupo, e quando querem “remar contra a corrente”, o dono da propriedade passou para visitar o pomar e vendo a muitas vezes são marginalizados. É a hora certa de lembrar a figueira, pequena e sem frutos, ficou um tanto intrigado. Mas, história da “figueira”. Se ela tivesse sido “maria-vai-com-as-ouexaminando-a melhor se convenceu que estava forte e sadia; tras”, teria tido o mesmo fim das demais árvores. e também a ela dispensou um belo elogio. Passado mais um tempo, eis que o não esperado aconteceu. Uma grande seca A vida é uma só Devemos olhar para a vida com mais seriedade, interesse e responsabilidade. É preciso começar cedo a construir a própria identidade, a própria personalidade. Nunca devemos deixar Quer ser um missionário/a? que as novelas, a moda, o dinheiro, a fama, a droga, as más companhias... ditem as regras nas nossas decisões. Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui Jovem! Não podemos fazer as coisas só porque todo mundo 02611-011 - São Paulo - SP faz. Não devemos ir porque todo mundo vai... Cuidado, “podemos Tel. (11) 6231-0500 - E-mail:
[email protected] nos dar mal” e aquele projeto de felicidade que idealizamos para o futuro, pode desmoronar num só instante. A busca, o conheciCentro Missionário “José Allamano” - Pe. Joaquim Gonçalves mento, a valorizaçãoe o cultivo de sólidos princípios, humanos, Rua Itá, 381 - Pedra Branca sociais e cristãos são indispensáveis nessa etapa da vida. Eles 02636-030 - São Paulo - SP deverão ser os indicadores daquele caminho que nos levará à Tel. (11) 6232-2383 - E-mail:
[email protected] realização de um futuro consistente que possa dar saborosos frutos, à família, à sociedade, à Igreja... Continue a reflexão com Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda o texto de Lucas 13, 6-9. Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 69072-970 - Manaus - AM Tel. (92) 624-3044 - E-mail:
[email protected]
Missões - Setembro 2005
Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.
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International”, realizada em Roma, em 2003, o movimento pediu o reconhecimento oficial da Santa Sé, através do Pontifício Conselho para os Leigos. Uma grande delegação do JYI participou do Dia Mundial da Juventude este ano, em Colônia, na Alemanha.
Portugal Jornadas Missionárias
VOLTA AO MUNDO
América Latina e Caribe O drama da violência sexual
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A violência sexual e o tráfico de pessoas na América Latina e Caribe ganharam destaque numa recente reunião internacional da Organização Panamericana de Saúde (OPS). Mirta Roses Periago, diretora da Organização, disse que estas são duas das expressões mais cruéis, dramáticas e inaceitáveis da situação atual da mulher em nossas sociedades. Na reunião foram debatidos os planos integrados de atenção às mulheres sobreviventes da violência sexual na Região. Não obstante os avanços conquistados nos últimos 10 anos, estudos sobre violência sexual na infância, realizados pela OPS e pela Organização Mundial da Saúde em 2003, revelam que 36% das meninas e 29% dos meninos sofreram abuso sexual.
Índia Jovens engajados na oração e na missão
Um movimento missionário a serviço da Igreja, que quer levar Jesus Cristo aos jovens com instrumentos característicos da juventude: é o “Jesus Youth International” (JYI), movimento carismático católico nascido no estado indiano de Querala, que está envolvendo um número cada vez maior de jovens em encontros de oração e iniciativas de missão. O movimento tem sede na Índia, mas já está presente em outros países da Ásia, da América e da Europa, com mais de 30 mil participantes. O movimento é organizado com a lógica de rede, dividido em pequenas células espalhadas pelo mundo, que se encontram periodicamente. Nascido na década de 70, o movimento se caracterizou como Cristocêntrico, dirigindo uma atenção específica e missionária aos adolescentes, jovens de universidades, do território das paróquias, e, sobretudo, àqueles que não conhecem Jesus Cristo. As cinco pilastras do estilo de vida do “Jesus Youth International” são: a oração pessoal, a palavra de Deus, os Sacramentos, a seqüela de Cristo e o empenho pela evangelização, pedra fundamental do movimento. Os responsáveis explicam: “A realidade do JYI é marcada pela missão. Em todos os nossos encontros, seminários e programas de formação, exortamos os jovens a dedicar suas vidas à missão, ao dever de levar o amor de Deus a todos os homens. De fato, está aumentando no movimento o número de jovens voluntários missionários que decidem passar um ano de suas vidas dedicando-se totalmente ao serviço missionário”. Na assembléia do “Jesus Youth
Neste Ano da Eucaristia, às portas do outubro missionário, de 16 a 18 de setembro, o Centro Paulo VI, em Fátima, vai hospedar as Jornadas Missionárias nacionais sobre o tema “Eucaristia e Missão”. O evento eclesial é promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa, através da Comissão Episcopal das Missões, com a colaboração da Conferência Nacional dos Institutos Religiosos (CNIR) e da Federação Nacional dos Institutos Religiosos Femininos (FNIRF). Os objetivos das Jornadas são substancialmente dois: avaliar o percurso missionário realizado e impregnar de espírito missionário o ano pastoral que se inicia.
Colômbia O espírito missionário dos seminaristas
“Despertar e dar vida ao espírito missionário nos seminaristas maiores, destacando cada vez mais a importância da missionariedade e do testemunho do grupo missionário no âmbito do Seminário, a fim de que, durante a formação sacerdotal, se crie a consciência da universalidade, de maneira que os futuros sacerdotes sejam abertos e disponíveis a sair para anunciar o Evangelho em locais onde a Igreja mais precisa”. Com este objetivo, realizou-se, na sede do Seminário Maior de Tunja-Boyacá, de 8 a 11 de julho passado, o IV Encontro Nacional Missionário dos Seminaristas Maiores, que teve como tema “Formemo-nos como Missionários da consciência universal!”. O evento reuniu 132 seminaristas, delegados de 30 Seminários de 24 Dioceses e Vicariatos Apostólicos da Colômbia, para relevar a necessidade de animação e de experiências missionárias do Povo de Deus.
Quênia Encontro anual da Infância Missionária
No dia 24 de julho realizou-se o encontro anual da Infância Missionária da Diocese de Muranga, com participação de cerca de oito mil crianças, provenientes das 34 paróquias da diocese, com os seus animadores. Muitas delas vieram a pé. Também a diocese de Kisumu realizou o encontro anual das crianças da Infância Missionária em 23 de julho. A responsável diocesana, Ir. Grace Kombo, disse que as crianças responderam à iniciativa e tiveram uma bela celebração, que durou algumas horas entre danças e cantos animados por um forte espírito eucarístico. No passado, esses encontros eram organizados pela Direção Nacional das POM, e hoje são organizados inteiramente pelos diretores missionários diocesanos.
Fontes: Adital, Fides. Setembro 2005 - Missões
Para que o anúncio do Evangelho pelas Igrejas jovens facilite sua inserção profunda nas culturas dos povos. de Vitor Hugo Gerhard
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e dividirmos os dois mil anos de história do cristianismo a cada 500 anos, poderíamos resumi-la da seguinte forma: nos primeiros 500 anos assistimos sua expansão no mundo greco-romano. Foi o período das Igrejas Patriarcais, marcadas pelo descentralismo e pela comunhão entre as Igrejas locais. O período entre os séculos VI e XV (501 a 1490) foi marcado pelo desenvolvimento e consolidação do cristianismo naquela parte do mundo conhecido de então, chamada de Europa Ocidental. Foi o tempo da vida monacal, do florescimento das dioceses, do surto de evangelização dos povos que lá viviam. Foi também a consolidação dos Estados modernos, assim como os conhecemos até os dias de hoje. Foram tempos de revoluções, conquistas, vitórias e derrotas, no grande cenário dos conflitos humanos. Nos 500 anos seguintes, a humanidade e o cristianismo descobriram os continentes americano e africano, fazendo deles a nova seara da evangelização. Hoje temos um continente americano marcado profundamente pelo cristianismo e o continente africano, o negro e o pardo, o islâmico e o cristão, com sua luta corajosa contra a pobreza e seu esforço de reorganização interna, no imenso e belo mosaico das etnias. Com isso se passaram dois mil anos. É bem verdade que algumas tentativas corajosas foram feitas na Ásia e na Oceania, todavia, sem os mesmos resultados. Assim que, o terceiro milênio se descortina como o tempo do sol nascente, o tempo da Ásia, lá onde vive a metade da população. Nesta direção, há duas perguntas a serem respondidas: a) o que temos a oferecer a estas culturas milenares, inclusive com seu mundo religioso forte e também milenar?; b) o que temos a receber desta parcela significativa da humanidade, com suas riquezas imensas, com seu modo original de viver e encarar a vida? A Carta Encíclica Redemptoris Missio, do papa João Paulo II, publicada em 1991, nos traz algumas indicações importan-
tes e oportunas para o tema da inculturação do Evangelho, no número 52: “Desenvolvendo sua atividade missionária no meio dos povos, a Igreja encontra várias culturas, vendo-se envolvida no processo de inculturação. Esta constitui uma exigência que marcou todo o seu caminho histórico, mas hoje é particularmente aguda e urgente. O processo de inserção da Igreja, nas culturas dos povos, requer, um tempo longo: é que não se trata de uma mera adaptação exterior, já que a inculturação significa a íntima transformação dos valores culturais autênticos, pela sua integração no cristianismo e o enraizamento do cristianismo nas várias culturas. Trata-se pois, de um processo profundo e globalizante que integra tanto a mensagem cristã como a reflexão e a práxis da Igreja. Mas é, também um processo difícil, porque não pode comprometer de modo algum, a especificidade e a integridade da fé cristã. Pela inculturação, a Igreja encarna o Evangelho nas diversas culturas e, simultaneamente, introduz os povos, com suas culturas, na sua própria comunidade, transmitindo-lhes seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro. Por sua vez, a Igreja, com a inculturação, torna-se um sinal mais transparente daquilo que realmente ela é, e um instrumento mais apto para a missão”. Esta via de mão dupla será o caminho preferencial a ser percorrido pelos cristãos, até que o Evangelho chegue aos confins do mundo.
Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
Outubro: mês missionário O mês de outubro é, para a Igreja Católica em todo o mundo, o período no qual são intensificadas as iniciativas de informação, formação, animação e cooperação em prol da Missão universal. O objetivo é promover e despertar a consciência e a vida missionária cristã, as vocações missionárias, bem como promover uma Coleta Mundial para as Missões, para o sustento de atividades de promoção humana e evangelização nos cinco continentes. Campanha Missionária 2005 Tema: A Missão a Serviço da Paz Lema: Felizes os que Promovem a Paz (Mt 5, 9) Dia Mundial das Missões: 23 de outubro
Missões - Setembro 2005
Como acontece há mais de 30 anos, as POM (Pontifícias Obras Missionárias), em colaboração com a Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB, oferecem às comunidades cristãs, grupos, famílias, jovens, crianças e adultos de todo o Brasil, as Celebrações Missionárias 2005, com o Rosário Missionário. Neste ano, a Campanha da Fraternidade Ecumênica, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), faz um forte apelo e lança um desafio a todos: convoca-nos à promoção e à defesa da paz. Também as POM abraçam esta causa. A Missão está a serviço da paz. “Felizes os que promovem a paz” (Mt 5,9). Informações: www.pom.org.br - e-mail:
[email protected]
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Jaime C. Patias
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
legado das CEBs de Jaime Carlos Patias
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s Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) foram se organizando a partir de 1960 no Brasil para tornar possível uma experiência cristã integral. Elas são fruto do anseio por uma maior fraternidade, que nasce da fé em Cristo, se fortalece pela palavra de Deus, nos sacramentos e assume o compromisso de conversão pessoal e transformação da sociedade à luz dos valores do Evangelho. A trajetória das CEBs é bem conhecida: formaram redes de comunidades no interior das paróquias e enraizaram-se mais nas áreas das periferias das cidades e nas zonas rurais. O tema e o lema que motivaram o 11º Intereclesial das CEBs, realizado na Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, de 19 a 23 de julho de 2005, foram “CEBs, espiritualidade libertadora: seguir Jesus no compromisso com os excluídos”. Trata-se de um tema muito importante para a sociedade contemporânea, embalada pela globalização, pelo neoliberalismo e pelo individualismo, que influenciam profundamente a vida de nossa sociedade e de nossas igrejas. A situação em que vivemos nos convida a refletir e aprofundar o sentido da espiritualidade, enquanto força do Espírito que liberta, transforma e faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,5). Na opinião de Dom Luciano Mendes de Almeida, grande incentivador das CEBs, “o tema ‘espiritualidade libertadora’ procura aprofundar o projeto divino de salvação que oferece a remissão dos pecados e vida nova à humanidade ainda mergulhada nas injustiças, na violência e na perda do sentido da existência”. Os 50 bispos presentes ao 11º Intereclesial, em sua mensagem final, avaliaram que o tema e o lema “estão em perfeita sintonia com o Projeto de Evangelização Queremos Ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida”. Tendo sentido o clima de fé vivenciada, respeito e valorização da diversidade, de encarnação do Evangelho e presença missionária das CEBs, os bispos lançaram um apelo: “Pedimos aos irmãos no episcopado que apóiem as CEBs de maneira corajosa; orientem os padres, seminaristas e agentes de pastoral para que assumam sua caminhada”. E esse caminho é guiado por uma espiritualidade própria que apresentamos a seguir.
O que é espiritualidade?
Padre Carlos C. Santos, assessor das CEBs explica que espiritualidade vem de “espírito”, palavra que aparece 523 vezes
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Geraldo Thobias Sá Silva, diocese de Uberlândia, MG.
na Bíblia. Tanto em hebraico (ruah), como em grego (πνεθμα), a palavra é feminina, o que nos recorda “o rosto materno de Deus”, Pai e Mãe também. Um Deus que ama e cuida com carinho e ternura, que é parceiro dos pobres e excluídos, que intervém e entra na história humana para libertar os oprimidos e defendêlos dos opressores (cf. Ex 3,7ss). Na sua origem etimológica, a palavra significa “ar em movimento”, hálito, sopro, vento. Como vemos, o Espírito de Deus é fascinado pelo novo; é “criador e criativo”. Na origem da história já está presente antes mesmo da criação (cf. Gn 1,1-2), ansioso para manifestar toda a sua força, beleza e vitalidade. O teólogo Marcelo Barros, falando para cerca de 250 jovens no Acampamento da Juventude, organizado junto ao 11º Intereclesial, desenvolveu o tema da espiritualidade baseado em Setembro 2005 - Missões
Jaime C. Patias
espiritualidade
Espiritualidade libertado
José Roberto Garcia
dora
As CEBs fundamentam-se na Palavra de Deus, no projeto de Jesus e nos documentos da Igreja.
Momento de celebração.
quatro perguntas. O que é? Para que é? Por que é? Como é? Interagindo com a juventude, Barros lembrou que a grande sede da humanidade por espiritualidade leva o ser humano a buscar as mais diversas formas de manifestações do espírito. Nessa ávida busca, às vezes, criam-se confusões. A espiritualidade é uma palavra ambígua e complicada, levando as pessoas a confundir espiritualidade com “espiritualismo”. Marcelo Barros esclareceu que espiritualidade é uma vida conduzida pelo Espírito (na matéria, na realidade do cotidiano), enquanto que espiritua lismo é o contrário de materialismo (desligado da matéria). A espiritualidade seria cultivar uma mística no dia-a-dia, garantir a presença de Deus na vida concreta.
Uma espiritualidade libertadora
Podemos concluir então que espiritualidade não desliga a pessoa do que é material, mas a orienta a partir do espírito. Nela se estabelece um equilíbrio entre as várias dimensões da vida, permitindo que nos preocupemos com tudo o que é da vida (social, político, econômico, material etc) e cuidemos de tudo o que é da Criação a partir do Espírito que está dentro de nós. Temos um único Deus, mas Ele atua em cada pessoa e nas várias realidades, de maneira infinita. Em cada pessoa o divino se manifesta de um jeito próprio. Trata-se de desenvolver essa dimensão que palpita dentro de nós. Um coração cheio de Deus é incapaz de fazer algo que contrarie sua vontade. Para São João, espiritualidade é “a vida conduzida pelo Espírito”, o Espírito de Deus, energia, força, sopro, vida...
Missões - Setembro 2005
Por que espiritualidade?
O mundo se desenvolveu de uma maneira extraordinária. Graças à capacidade da inteligência humana, as descobertas científicas desvendam mistérios. Mas será que tudo isso nos torna mais humanos ou quanto mais a civilização avança, a qualidade de vida diminui? Analistas apontam para uma crise de sentido da vida. Não estaríamos perdendo o essencial, a nossa alma? (espiritualidade dentro de nós), indaga Marcelo Barros. Isso não é só um problema individual de alguém que perde a alma, mas é a sociedade toda que está perdendo a sua, os valores que realmente dão sentido à vida. A espiritualidade existe justamente para criar os meios para recuperar a alma quando a perdemos. Ela assegura a construção de um mundo mais humano, mais solidário, mais justo, mais conforme a vontade do Criador. Segundo Marcelo Barros, esse deveria ser o projeto de espiritualidade de todos em qualquer condição: a justiça, a paz e a defesa da Criação. Espiritualidade é a pessoa desenvolver no conjunto, o todo em integridade (as dimensões religiosa, econômica, política, social, técnica, a sensibilidade, a afetividade), para evitar que uma dimensão da vida se desenvolva enormemente e a outra fique atrofiada. O pluralismo, a diversidade e o ecumenismo do Intereclesial, com a presença de 32 povos indígenas, 48 pessoas de onze Igrejas cristãs, grupos de culturas afro-brasileiras e 70 delegados de outros países mostram que para problemas comuns a todos, as soluções também devem ser comuns. Nas CEBs, a busca de soluções é sempre orientada pelo método “ver, julgar, agir, avaliar e celebrar”. Partindo de um ver a realidade da exclusão à luz da Espiritualidade libertadora e de avaliar a prática à luz do exemplo de Jesus no seu amor pelos pobres, os 3.806 participantes do 11º Intereclesial chegaram às definições de compromissos. Na Igreja e na sociedade, as CEBs têm contribuído para a vivência profunda do seguimento de Jesus, num “antigo e novo jeito de ser Igreja”. É significativo o número dos militantes das CEBs que deram prova de santidade na promoção da justiça e até na coragem do martírio com plena fidelidade ao Evangelho.
Para que serve a espiritualidade?
A espiritualidade serve para assumir o nosso projeto como uma meta, uma finalidade. Aqui poderíamos nos perguntar se estamos dispostos a cultivar a paz, a justiça e o cuidado com a Criação como uma finalidade da espiritualidade que queremos. A Carta final do encontro resume o grande desejo transformado em compromisso de fé para as comunidades. Nela lemos: “acreditamos na vocação profética das CEBs, contribuindo para que a Igreja em suas estruturas se torne mais circular, colegiada, acolhedora, inclusiva nas suas relações de gênero... toda ministerial, missionária, uma Igreja mãe...”. Essa convicção é perpassada por uma espiritualidade que dinamiza a vida das comunidades que continuam vivas e atuantes.
Como é que nós vivemos a espiritualidade?
Por fim, deixamos que cada um responda essa pergunta como um exercício para fortalecer a sua espiritualidade.
Jaime Carlos Patias é missionário, diretor da revista Missões e mestre em Comunicação.
Para Refletir 1. O que você entende por espiritualidade? 2. Que conseqüências podemos tirar da ação criadora e criativa do Espírito para a nossa espiritualidade hoje? 3. Como viver, à luz do Espírito, uma espiritualidade libertadora?
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cidadania
O Grito dos Excluídos, no Sete de Setembro, é a expressão de vários gritos contidos dos menos favorecidos.
dentro do Grito
de Alfredo J. Gonçalves
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uitos gritos convergem para as manifestações do dia Sete de Setembro. Há gritos com elevado grau de organização, como é o caso dos movimentos sociais ligados às lutas do campo, e há gritos com menor grau de organização, mas com grande consciência de seus direitos, como os catadores de material reciclável e o movimento dos sem-teto em sua luta pela moradia. Há gritos que dão testemunho de uma resistência teimosa e tenaz, como o dos camelôs em seus embates contra as forças do Estado, e há gritos de uma resistência passiva, mas inquebrantável, como os remanescentes dos quilombos. Há gritos visíveis a olho nu, como o desemprego e subemprego, a fome e a miséria; e há os gritos estridentes das chacinas, que ceifam centenas de vidas na flor da idade, além das balas ditas “perdidas”, mas assassinas. Há os gritos de milhões de pés em êxodo, que batem as estradas do país em busca de trabalho e futuro, muitas vezes frustrados por condições de vida crescentemente precárias; e há os gritos daqueles que sequer têm forças para sair do lugar. Mas há também os gritos subterrâneos, ignorados e esquecidos, silenciosos ou silenciados. São os gritos que se levantam dos porões e dos lixões, dos grotões e dos sertões; gritos que emergem dos becos mais sórdidos, dos cortiços e favelas, das zonas rurais mais abandonadas, das ruas, dos prostíbulos, das delegacias e prisões, do inferno da tortura. Há gritos que têm
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Os gritos
origem nas longínquas matas da mãe África, em vozes de atabaques que fazem tremer o ventre da terra; gritos dos migrantes e imigrantes clandestinos nas oficinas de costura, no corte de cana e nos serviços mais sujos e pesados, mais perigosos e mal pagos; gritos do trabalho escravo, degradante ou infantil. Há os gritos que atravessam toda a nossa história, pré ou pós colombiana, de povos indígenas arrancados da terra em que nasceram e sepultaram seus mortos e condenados a uma lenta agonia. Há, ainda, os gritos ocultos dos olhos ou do coração. Uns encobertos pela inviolabilidade do lar, em que são vítimas as mulheres e as crianças; outros controlados pelo crime organizado, como o tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual. Uns que sofrem preconceito, discriminação e até perseguição, por suas opções sexuais mais diversas; outros que estão impedidos de locomover-se como as pessoas com deficiências físicas e mentais. Uns ofuscados pela própria luz do sol, nas esquinas e praças da cidade, onde crianças, jovens e adolescentes caem vítimas da droga e da violência; outros, que pela idade avançada, vivem na penúria de uma aposentadoria irrisória. Há, por fim, o grito da terra, do ar e da água, como também daqueles que vivem das águas e que, no mar e nos mangues, nos lagos e nos rios, lutam por uma sobrevivência cada vez mais difícil.
Direito à cidadania
Desses inúmeros gritos, alguns sairão às ruas no Sete de Setembro, outros não dispõem de pernas, de energias ou de consciência para isso. Mas todos, de forma implícita ou explícita, reclamam pelo direito a uma cidadania digna e real. Todos anseiam por uma pátria livre e soberana, que dê a seus cidadãos o chão e o pão, a vida e o sonho. Todos buscam o sol da justiça e da paz, embora com os pés presos numa terra de profundas desigualdades socioeconômicas. Consciente ou inconscientemente, todos repetem uma vez mais o grito pela independência. Pois, como já insistia a primeira edição do Grito dos Excluídos, em 1995, a vida de uma pessoa ou de um povo está acima das dívidas de sua nação, acima dos compromissos firmados de forma unilateral e injusta. Entretanto, uma característica mais profunda unifica a todos os gritos: a energia indomável em meio às maiores adversidades. Uma força inata e vital, fermento de uma miscigenação secular, a qual leva a concluir que a chamada “revolução brasileira” só se fará ao ritmo da música e da dança, ao som de tambores e violas e sob olhares e sorrisos da mais viva esperança. Por isso é que as mobilizações do Grito dos Excluídos são revestidas, em geral, de ricas e criativas expressões culturais, onde o riso e a lágrima, o pranto e o canto caminham sempre de mãos dadas.
Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista e assessor da Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CNBB. Setembro 2005 - Missões
Testemunho
Alargando horizontes e o coração
Recém eleita Vice-superiora Geral da Congregação das Missionárias da Consolata, Irmã Anair Voltolini relata sua escolha vocacional e missão em Moçambique. de Anair Voltolini
N
A escolha vocacional
Jaime C. Patias
asci e vivi minha infância numa família numerosa e feliz no sítio de meus pais, num recanto perdido deste país, em Baguaçú, Santa Catarina. Ao completar meus oito anos de idade, nos transferimos para Cafelândia, Paraná. Nessa pequena cidade, a presença dos padres e das irmãs da Consolata difundiu um estilo de vida missionário nas famílias, nos jovens e nas crianças. Assim, se criou uma cultura vocacional, ajudando as pessoas a encontrarem o próprio lugar na comunidade cristã e na Igreja. Na minha adolescência, idade em que a gente começa a sonhar o futuro e onde a vida se abre a novos horizontes, me senti cativada pelo modo de ser das missionárias da Consolata, em cujo Colégio eu estudava. Gradualmente fui conhecendo o seu Carisma e fui me enamorando pela vida religiosa e me deixando cativar. Na oração e na meditação da Palavra de Deus, com sempre maior clareza e convicção fui entendendo a direção de minha vida: consagrar-me a Deus para a Missão nesta família religiosa. Assim, com a força do Espírito de Deus, fonte de toda vocação, acolhi a proposta que vinha inquietando o meu coração e deixei que o Senhor me consagrasse a si, para o serviço do seu Reino. Fiz a minha Profissão Religiosa em 1975, aos 22 anos. Depois de algum tempo de experiência apostólica no Brasil, fui a Roma para completar os estudos acadêmicos na Pontifícia Faculdade Auxilium, onde consegui a licenciatura em Ciências da Educação com a especialização em Catequética. Em seguida, prestei alguns anos de serviço na Animação Missionária Vocacional na Itália.
Missões - Setembro 2005
A Missão entre os mais pobres
Fui enviada para a Missão em Moçambique. O meu primeiro esforço foi o de inserir-me na nova cultura: conhecer a língua local, os usos e costumes, a vida na localidade para onde fui enviada. O povo moçambicano se tornou, bem depressa, a minha gente, o meu povo, o meu espaço de vida e de Missão. Moçambique é uma nação que está se reconstruindo de um longo período de guerra – mais de 20 anos de luta, massacres, destruição e medo. Primeiramente, a guerra pela independência da colonização portuguesa, que conseguiu em 1975. Depois, pela libertação do regime comunista leninista que estava esvaziando o país dos valores culturais, cristãos e materiais. Hoje, Moçambique é um dos países mais pobres e mais doentes do mundo. Por isso, o combate é contra a pobreza absoluta e a pandemia do vírus HIV. Há um grande esforço a nível internacional, grandes investimentos, para melhorar a situação e a qualidade de vida da população, mas como acontece em quase toda a parte, para o povo sobram as “migalhas” da mesa do patrão bem saciado.
Espaço de Missão
Meu primeiro trabalho missionário foi com os adolescentes e jovens, acompanhando-os na educação escolar, na formação humana e cristã. A Missão é fundamentalmente partilha de fé e encontro vivo e dinâmico com o Deus de Jesus Cristo, de algum modo já presente na vida de todos os seus filhos. A minha preocupação era que todos O pudessem encontrar. Nestes últimos anos, ao assumir o serviço de Superiora Regional, precisei alargar horizontes e coração para abraçar e zelar pela vida e pelas obras das missionárias da Consolata em Moçambique. Agora estou para deixar este país para desempenhar um novo ministério que me foi confiado. Mas estou convencida que todo o lugar é espaço de Missão para quem acolhe com disponibilidade a proposta de Jesus: “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova da Salvação”, tornando-se fiel instrumento nas mãos de Deus, pelo qual Ele faz passar a sua mensagem de amor.
Anair Voltolini é Vice-superiora Geral das missionárias da Consolata.
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Testemunho
A força da fé de Bento Eugênio Muhita
A
minha caminhada vocacional começou em casa, no seio familiar. Meu pai era portador de um carisma educacional e promocional excepcional. Sua atividade como educador começou nas missões do Niassa, norte de Moçambique, onde os missionários da Consolata chegaram em 1926, permaneceram durante a guerra civil e trabalham até hoje. Carrego na memória a marca do zelo que meu pai sempre teve pelos filhos e alunos aos quais dedicou sua vida não apenas na formação, mas também no discernimento vocacional. Quando projetava minha vida para seguir os passos de meu pai como professor, um serviço que sempre admirei e que considerava ser um dos mais importantes para servir o povo e a nação, minha atenção se deslocou para outro horizonte: ser missionário. Estava terminando o ensino secundário e o país entrara numa guerra civil desastrosa, que dizimou incontáveis vidas. Envolvi-me em ações em favor das vítimas da guerra, cujos clamores se erguiam de todos os cantos.
A decisão de ser missionário
José Roberto Garcia
Os missionários e missionárias da Consolata, apesar das dificuldades que o país enfrentava, não cessavam de lutar pelos direitos humanos. Seus projetos humanitários (assistência hospitalar, educação, meios de comunicação...) desenvolvidos à luz da Palavra e por amor ao povo. Eu observava atentamente aqueles homens e mulheres que tinham deixado suas terras longínquas e se colocavam à disposição com tanto amor. Foi isso que me tocou e me entusiasmou. O sonho que tinha pela profissão de educador desde pequeno ganhava uma amplitude maior à luz do chamado que ressoava aos meus ouvidos pela Palavra de Deus e pelo exemplo dos missionários.
Bento com seus padrinhos na ordenação diaconal.
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Bento Eugênio nasceu em Moçambique, aos 20 de abril de 1976. É o primogênito dos cinco filhos do casal Eugênio Muhita e Maria Rosa Matucho. Depois de um tempo de discernimento, em 1995, acabei entrando no Seminário Propedêutico em Nampula. Fiz Filosofia e o Noviciado em Maputo, sempre longe da terra natal. E em 2002 veio a surpresa: estudar Teologia no Brasil, longe da família, fora da própria cultura, embora a língua fosse a mesma. A experiência acaba sendo de uma riqueza muito grande. A inculturação exige calma, paciência e dedicação. Na minha língua, o macua, dizemos que “correr não é chegar”.
O desapego
Em menos de um ano, quando ainda estava tentando pôr os “pés no chão” na minha caminhada formativa no Brasil, enfrentando as primeiras divergências, chegou a notícia do falecimento de meu pai. Foi o desalento total para mim. Parecia que nada mais valia a pena. Colegas e amigos me estenderam a mão em apoio naquele momento difícil de minha vida. Tudo me parecia perdido. Contudo, a vida comunitária de coirmãos foi me dando alento e aos poucos fui entendendo que a morte do meu pai podia ser uma oportunidade para me fazer crescer e avançar no processo formativo. O desapego se tornou virtude para mim. Compreendi que é nos momentos difíceis que a fé passa pela prova e é na dimensão espiritual que encontramos a força necessária para continuar a responder ao chamado de Deus na vocação missionária. No estudo da Teologia encontro muitos instrumentos para fundamentar o dom da vocação e entendê-lo cada vez mais. A vida missionária é uma caminhada que exige respostas no diaa-dia, seja na comunidade, ou através do serviço pastoral nos bairros de São Paulo, de maneira particular, na paróquia Santa Cândida, Ipiranga. Neste ano fui ordenado diácono e em breve serei ordenado sacerdote. E logo em seguida o primeiro envio de Missão Ad Gentes. Para mim foi um momento de extraordinária felicidade o que experimentei no dia 18 de junho último, quando recebi o ministério do diaconato na Igreja. Minha primeira experiência missionária como sacerdote será na Espanha, para onde irei em breve. Novos desafios a serem enfrentados. O missionário não escolhe. Deixa-se escolher. Certamente o aprendizado de inserção nestes quatro anos de Brasil, me ajudarão também a abraçar a nova missão que o Senhor me concede.
Bento Eugênio Muhita é diácono missionário da Consolata. Setembro 2005 - Missões
José Luis Ponce de Léon
AAdMissão Gentes hoje
Padres William Otieno e Joseph Mang’ongo (IMC), diocese de Dundee, África do Sul.
Em continuação à reflexão publicada na edição anterior, procuramos entender a Missão Ad Gentes na sociedade contemporânea. O missionário é o homem das bem-aventuranças. Na verdade, no “discurso apostólico” (cf. Mt 10), Jesus dá instruções aos doze, antes de os enviar a evangelizar, indicando-lhes os caminhos da missão: pobreza, humildade, desejo de justiça e paz, aceitação do sofrimento e perseguição e caridade, que são precisamente as bemaventuranças concretizadas na vida apostólica (Mt 5,1-12). Vivendo as bem-aventuranças, o missionário experimenta e demonstra concretamente que o Reino de Deus já chegou, e ele já o acolheu. A característica de qualquer vida missionária autêntica é a alegria interior que vem da fé. Num mundo angustiado e oprimido por tantos problemas, que tende ao pessimismo, o proclamador da “Boa Nova” deve ser um homem que encontrou, em Cristo, a verdadeira esperança. (RMi 91)
Missões - Setembro 2005
de Ramón Cazallas Serrano
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epois do Concílio Vaticano II encontramos situações na sociedade e na Igreja que mudam o rosto da Missão. A eclesiologia e a missiologia caminham juntas nas suas reflexões, de fato a Igreja não pode caminhar sem a Missão e a Missão não pode se realizar senão num contexto de Igreja. Dois documentos marcam os caminhos da Missão: “O Anúncio do Evangelho”, de Paulo VI e a “Missão do Redentor”, de João Paulo II. Ambas se complementam mesmo sendo diferentes. Paulo VI apresenta a evangelização como eixo de toda a vida eclesial, conserva ainda todo o seu valor na atividade pastoral da Igreja, que deve ser sempre evangelizada e evangelizadora. João Paulo II abre os horizontes da Missão às novas exigências que as culturas atuais apresentam, sublinhando o “ir mais longe” que tanto nos lembra as suas viagens por todo o mundo. “A Missão está ainda no começo” afirma João Paulo II, contemplando o conjunto da humanidade. E passaram 15 anos desde esse grito do papa. Hoje a situação é muito mais complexa, de maneira que podemos dizer que a Missão Ad Gentes, em muitas ocasiões, a encontramos na porta de casa. Missão Ad Gentes é traduzida como Missão “além-fronteiras”. Ir mais para lá, sair ao encontro de outros povos e de outras
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Orestes Asprino
situações que não estão perto do normal das nossas vidas, muitas vezes acomodadas num cristianismo fácil e formalista. Mudou o conceito geográfico como elemento constituinte da Missão mesmo se ela implica muitas vezes numa geografia longe dos nossos lugares comuns, onde Cristo não é conhecido. Uma das definições mais belas da Missão Ad Gentes que sempre me inspirou para explicar brevemente o que é a Missão, é que ela se encontra: - na fronteira da fé: os missionários devem estar onde maiores são os riscos e a possibilidade de experimentar, de ser criativos, como criativos são os que moram nas “fronteiras” geográficas ou sociológicas; - na periferia da fé: os missionários não devem estar no centro do poder, mas onde reina a impotência, as muitas pobrezas que nas “periferias” se encontram; - no deserto da fé: os missionários devem ir onde não vai ninguém, onde não tem ninguém nem como presença ou vida de Igreja. Orestes Asprino
Os catequistas Tomás e Malan dirigem a celebração da palavra na capela de Inturse, Guiné Bissau.
Padre Darci (Pime) celebra missa em Empada, Guiné Bissau. Faleceu no dia 1º de junho de 2005, vítima da malária.
O Sul e o Oriente
Jaime C. Patias
O anúncio de Cristo não atingiu ainda as grandes massas do Oriente e do Sul. Se o Concílio Vaticano II constatava que dois bilhões de seres humanos (dois terços da humanidade)
ainda não conheciam ou nunca escutaram falar de Jesus, essa quantidade, depois de 40 anos, quase está duplicada: povos, grupos humanos e contextos socioculturais onde Cristo e o seu Evangelho não são conhecidos, onde faltam comunidades cristãs suficientemente amadurecidas para poder encarnar a fé no próprio ambiente. O Oriente das grandes religiões milenárias e o Sul das grandes pobrezas e dependências econômicas são situações missionárias que a Igreja não pode absolutamente esquecer na sua Missão. Nestes lugares se encontram as grandes cidades ou megalópolis com milhões de pessoas à procura de sobrevivência, gerando uma nova cultura distante das tradicionais. Tantos missionários de hoje querem, através do Evangelho, defender a dignidade e a integridade das pessoas e dos povos, as culturas e sistemas de vida, liberando-os do imperialismo econômico, político, militar e cultural do Ocidente. A Igreja será instrumento e sinal de salvação para todos estes povos na medida em que se comprometa com estes desafios. O anúncio tem a prioridade permanente na Missão, a proclamação clara da vida e da obra de Jesus e deste compromisso a Igreja não pode esquivar-se. O primeiro anúncio tem um papel central e insubstituível na Missão Ad Gentes. Onde o anúncio ainda não chegou, a Igreja deve estar como “com dores de parto” até alcançar a todos.
Celebração penitencial durante 11º Intereclesial, Ipatinga, MG.
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Setembro 2005 - Missões
Jaime C. Patias
Celebração de abertura do 11º Intereclesial, Ipatinga, MG.
Por ecumenismo ou diálogo ecumênico entende-se o relacionamento entre cristãos, aqueles que confessam que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador. O papa João Paulo II escreveu uma importante Carta Encíclica intitulada Ut unum sint, “Que todos sejam um”. A unidade entre os cristãos, diz ele, não é um elemento acessório, mas situa-se no centro mesmo da sua obra. A unidade pertence à própria essência da comunidade. Buscar a verdade junto com o desejo de sermos todos cada vez mais fiéis a Jesus. A oração, o estudo e a ação social são meios que podem facilitar o testemunho dos cristãos perante a sociedade.
“Fui enviado para evangelizar os pobres”, proclamou Jesus na sinagoga de Nazaré. A nossa sociedade globalizada, neoliberal e capitalista deixa à beira do caminho tantas pessoas que esperam uma “boa e nova notícia”. Enumeramos algumas que entram perfeitamente dentro das prioridades missionárias da Igreja: - as minorias étnicas sem os próprios direitos reconhecidos, pensemos no nosso Brasil, o mundo indígena e afro-descendentes; Francisco López
O diálogo ecumênico
O diálogo inter-religioso
O diálogo inter-religioso é o conjunto de relações inter-religiosas com todos os que admitem Deus e que guardam, em suas tradições, preciosos elementos religiosos e humanos. Um grande evento, nos anos 80 do século passado, abriu o caminho oficial para este diálogo: o encontro em Assis de um bom número de líderes religiosos cristãos de todas as outras denominações. A unidade de todas as religiões começava a ser construída em torno da oração e em favor da paz. Os últimos eventos do terrorismo internacional indicam que a paz exige o diálogo entre todas as religiões porque cada uma delas leva sementes de paz e de convivência pacífica. Os fundamentalismos religiosos, sejam quais forem, não ajudam a criar um mundo mais fraterno e solidário. Os cristãos, por sua parte, devem continuar anunciando Jesus Cristo e o seu Evangelho, o mistério pascal na sua integridade, mas ao mesmo tempo devem acolher a verdade que conserva as outras religiões, e todos juntos devemos viver a verdade do amor, esta a todos nos compromete e nos anima a construirmos um mundo mais humano, a oikumene. Trabalhar pela paz, a justiça e a integração da Criação fará deste mundo uma casa habitável para todos.
A Missão e o hoje de Deus
As rápidas transformações sociais, econômicas e políticas criam situações novas que penetram na Missão Ad Gentes.
Missões - Setembro 2005
Padre Aquileo Fiorentini, Coréia do Sul.
- as minorias dos trabalhadores rurais em permanente situação de injustiça institucionalizada; - os sem-terra e sem-água que habitam os nossos sertões; - os meninos de rua, as mulheres marginalizadas e crianças exploradas pelo trabalho infantil ou pelo comércio sexual; - os refugiados que as guerras ou ódios tribais criam; - os milhões de migrantes à procura de melhor vida; - os portadores do vírus HIV e outras situações que margeiam nossa sociedade.
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Francisco López
Caligrafia, um dos aspectos da cultura coreana.
Ao anunciar Cristo aos não-cristãos, o missionário está convencido de que existe já, nas pessoas e nos povos, pela ação do Espírito, uma ânsia – mesmo se inconsciente – de conhecer a verdade acerca de Deus, do homem, do caminho que conduz à libertação do pecado e da morte. O entusiasmo posto no anúncio de Cristo deriva da convicção de responder a tal ânsia, pelo que o missionário não perde a coragem nem desiste do seu testemunho, mesmo quando é chamado a manifestar a sua fé num ambiente hostil ou indiferente. Ele sabe que o Espírito do Pai fala nele (cf. Mt 10,17-20; Lc 12,11-12), podendo repetir com os apóstolos: “Nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo” (At 5,32). Está ciente de que não anuncia uma verdade humana, mas “a Palavra de Deus”, dotada de intrínseca e misteriosa força (cf. Rm 1,16). (RMi 44)
Orestes Asprino
Tudo o que é exclusão, marginalização e esquecimento faz parte prioritária da Missão da Igreja. Pensemos em tantos “porões” humanos que existem nas nossas sociedades de bem-estar e de injustiça institucionalizada. Quem perante todas estas situações responde com amor livre e libertador, torna-se Evangelho vivo, Palavra escrita pelo Espírito não em tábuas de pedra, mas na carne dos seres humanos (cf. 2 Cor 3,3). Na encíclica “A missão do Redentor” o papa João Paulo II fala de “mundos e fenômenos sociais novos” e “áreas culturais ou modernos areópagos”, que continuam válidos na atividade missionária.
O verdadeiro missionário é o santo
Orestes Asprino
Esta afirmação do papa João Paulo II diz relação ao tema da Missão Ad Gentes porque ela exige missionários e missionárias santos, fortes, radicais. Uma percepção verdadeira da Missão passa através duma redescoberta da escuta da Palavra de Deus. Uma imagem verdadeira da Missão passa através
Comunidade de São José de Madina, Empada, Guiné Bissau, após a celebração da palavra feita pelo líder comunitário.
de uma necessária e permanente reforma da Igreja, que seja também auto-reforma de cada uma das nossas comunidades e de cada um de nós. A Missão hoje é, antes de tudo, uma exigência de radicalidade evangélica, viver o Evangelho perante o mundo e contra o espírito do mundo. Se isto acontecer mesmo só em pequenas, pobres e dispersas comunidades no mundo, a Igreja retomará o entusiasmo e a expansão dos primeiros séculos. Julgando tantos sinais, que só quem tem fé pode ver, isto está acontecendo. Terminamos com uma oração missionária, do século XIV: “Cristo não tem mãos, somente as nossas mãos para realizar o seu trabalho, hoje; Cristo não tem pés, tem somente os nossos pés para ir ao encontro dos homens, hoje; Cristo não tem lábios, tem somente os nossos lábios para anunciar o seu Evangelho, hoje. Nós somos a única Bíblia: que todas as pessoas possam ler ainda! Nós, o último apelo de Deus, escrito em palavras e em obras”. Missionários do Pime durante celebração da Semana Santa de 2005 na Missão de Bubaque, Guiné Bissau.
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Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Instituto Superior de Teologia e Pastoral de Bonfim, BA (ISTEPAB). Setembro 2005 - Missões
evangelizando
história Missão daHoje missão
Jovem
A Juventude Missionária (JM) dá continuidade ao trabalho realizado pela Infância e Adolescência Missionária (IAM).
Jovem
A
articulação da juventude na dimensão missionária é mais uma iniciativa das POM - Pontifícias Obras Missionárias, visando a conscientização de todos para o fato de que a Igreja, na sua essência, é missionária. Não se trata de um novo movimento, mas de dinamizar e apoiar os jovens que desejam atuar na Missão com destaque para o Ad Gentes. O trabalho baseia-se em experiências de grupos de jovens missionários no Brasil, na reflexão e elaboração de subsídios de formação a nível nacional, coordenado pelas POM. A iniciativa tem a colaboração direta da Pontifícia Obra da Propagação da Fé. Luiz Gustavo Fernandes, jovem leigo de Curitiba, Paraná, é colaborador da equipe de reflexão da Juventude Missionária do Brasil. Em entrevista à revista Missões fala sobre esta iniciativa. Como surgiu a Juventude Missionária (JM)? Surgiu de dois âmbitos: primeiro, das crianças da IAM (Infância e Adolescência Missionária) que cresciam e queriam dar continuidade ao processo formativo e informativo no que se refere à Missão, e, também, das experiências de pequenas delegações do Brasil em Encontros Americanos de Jovens Missionários (Canadá, Equador 2002, Venezuela 2004), tendo participado uma delegação também nesta XX Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, na Alemanha. Na América Latina já é bastante difundida, começando agora a dar seus primeiros passos no Brasil, nascendo com a cara do país, com sua pluralidade cultural. Neste ano de 2005 foram feitos dois encontros em Brasília. O primeiro, de 27 a 29 de maio, com a participação de 21 pessoas, onde foi feita uma primeira radiografia dos grupos de Juventude Missionária já existentes no Brasil; e o segundo dias 17 e 18 de julho, com a participação de uma equipe mais restrita que teve como objetivo elaborar subsídios para a utilização nos grupos, como já acontece com a Infância e Adolescência Missionária. Espera-se que até o final do ano estejam todos firmados e publicados. Qual a “identidade” da JM? A JM tem a cara das POM: ir além-fronteiras, orações, sacrifícios, prática de gestos concretos etc. Tem como tema
Missões - Setembro 2005
F/POM
de Júlio César Caldeira
Equipe de reflexão da Juventude missionária do Brasil.
“Jovem Evangelizando Jovem”, lema “Vinde, Vede e Anunciai” (Jo 1,19) e saudação “Jovens missionários, sempre solidários”. Do encontro foram elaboradas algumas conclusões Ad Experimentum: o grupo deverá ter clareza e consciência do seu carisma e protagonismo missionário, especialmente da Missão além-fronteiras e Ad Gentes. Foram elaborados 12 passos, que favorecem o jovem no conhecer e aceitar o perfil de membro dos grupos da JM (que podem ser encontrados no site das POM: www.pom.org.br). Qual a metodologia utilizada? A metodologia de trabalho é semelhante àquela utilizada pela Infância Missionária, sobretudo na reflexão de um tema de quatro maneiras diferentes (áreas integradas): Realidade Missionária (ver), Espiritualidade Missionária (iluminar), Compromisso Missionário (agir) e Testemunho Missionário (celebrar e avaliar). Qual a mensagem que você deixa para os jovens que desejam conhecer e participar da JM? Muita coragem e disposição. A Missão é um chamado cons tante no mundo atual. São necessários jovens dispostos a assumir esse compromisso e levar a Boa Nova de Jesus a todos aqueles que não o conhecem, principalmente os que estão distantes de nossa terra. A Juventude Missionária com identidade das POM já é uma realidade e conta com todos aqueles que desejam assumir o seu compromisso e a sua Missão.
Maiores informações:
POM (www.pom.org.br/juventude.htm) E-mail:
[email protected].
Júlio César Caldeira é seminarista, cursando Filosofia em Curitiba, PR.
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a mudança
Fotos de Jaime C. Patias
Destaque do mês
Em nossas mãos
Participante do 11º Intereclesial
O momento político que atravessamos requer uma articulação geral de todas as forças vivas e ativas da sociedade organizada. de Alfredo J. Gonçalves
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Grito dos Excluídos de 2005 reveste-se de uma relevância especial. Em meio ao tiroteio político que vimos assistindo há alguns meses, o que significa repensar profundamente os entraves históricos e estruturais da nação brasileira? Como utilizar as manifestações do Sete de Setembro para colocar em pauta, uma vez mais, a necessidade imperiosa de mudanças nos rumos do país, seja do ponto de vista da macroeconomia, seja do ponto de vista das práticas políticas, seja, enfim do pon-
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to de vista das dívidas sociais? Podemos aplicar aqui a chave que o falecido papa João Paulo II usa na encíclica Centesimus Annus, mas aplicando-a à história recente do Brasil. O esquema constitui-se de três momentos: um olhar para trás, um olhar ao redor e um olhar para frente.
O olhar para trás
Um vôo de pássaro sobre os últimos 50 anos mostra que, no Brasil, implícita ou explicitamente, dois projetos disputam espaço no cenário político. O primeiro é o que poderíamos chamar de projeto nacional popular. Tem suas raízes na resistência negra, indígena e popular ao longo de toda a história brasileira. Mas começa a ganhar maior consistência nos anos 50 e 60 do século passado. As Ligas Camponesas, o sistema de educação proposto por Paulo Freire, os debates na universidade, a música e a arte, entre outras manifestações, dão conta que nessas décadas emergia um embrião de um projeto voltado para as necessidades fundamentais de nossa população. Esse projeto emergente, porém, sofre um aborto com o golpe militar de 1964. Setembro 2005 - Missões
Com os militares instala-se o que poderíamos chamar de “projeto liberal/neoliberal”. Trata-se aqui de atrelar a economia brasileira ao mercado internacional, mas na qualidade de um país periférico e tradicional fornecedor de matéria-prima para os países centrais. A dívida externa constitui uma espécie de cordão umbilical que irá prender o Brasil à economia crescentemente globalizada. Não um cordão umbilical que seja símbolo de nascimento e vida, e sim de dependência e miséria, violência e morte. Com a crise dos anos 70, aprofunda-se o neoliberalismo e agravam-se suas conseqüências nocivas, especialmente para os países pobres ou emergentes. O projeto popular, entretanto, volta a levantar a cabeça em meados dos anos 70. A prática das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o movimento estudantil, o sindicalismo combativo, os movimentos sociais e algumas dezenas de intelectuais orgânicos dão novo vigor às organizações populares. Ao longo dos anos 80 nascem a CUT, o PT, o MST e uma série de outras instâncias do gênero. Tais forças, fermentadas na década de 90 pelas reflexões das Semanas Sociais Brasileiras e de outros espaços de discussão e aprofundamento, acabam sendo canalizadas para as eleições de 2002 e a vitória do presidente Lula.
Olhar ao redor
A eleição de Lula representa a chegada do projeto popular ao Palácio do Planalto. Mas isso não significa o domínio sobre o Estado brasileiro. O Estado é muito mais amplo do que o governo. Inclui toda a estrutura de manutenção do status quo. Grandes impasses se ergueram no caminho do novo presidente. De um lado, forças tradicionais e extremamente retrógradas exigem do PT a chamada aliança pela governabilidade e o continuísmo da política econômica. De outro lado, a organização das forças sociais estava muito aquém das expectativas levantadas pela eleição de um presidente popular. Numa palavra, embora o projeto popular tenha chegado ao governo, o Estado permanecia sob domínio do projeto liberal/neoliberal. O resultado foi que, desde o início do seu mandato, o presidente teve de administrar uma enorme contradição: como conciliar o cumprimento dos acordos estabelecidos com o mercado financeiro internacional (FMI) e, ao mesmo tempo, a necessidade de transformações profundas e radicais? São duas coisas absolutamente incompatíveis. Daí a emergência dos
Grito dos Excluídos 2004, Ipiranga, SP.
Missões - Setembro 2005
Grito dos Excluídos 2004, Ipiranga, SP.
pontos contraditórios: uma retórica de mudanças, acompanhada de uma prática de reformismo; implementação de políticas compensatórias, no lugar de políticas públicas; expectativas sociais crescentes, diante de entraves estruturais reacionários, uma herança maldita de concentração de renda e riqueza, em benefício das classes dominantes, diante das dívidas sociais cada vez mais acentuadas. Tudo isso criou um terreno fértil para a corrupção, o “toma lá dá cá” no Congresso Nacional, o “mensalão” e outras práticas comuns na política tradicional brasileira. Nunca ficou tão evidente a tese de Raymundo Faoro sobre o conceito de patrimonialismo, isto é, apropriação privada da rex publica. Se é verdade que os tradicionais “donos do poder” têm interesse em desautorizar qualquer projeto popular, também é verdade que o PT tem hoje seu patrimônio ético fortemente arranhado. A prática de alguns dirigentes contribuiu decisivamente para isso. O fato é que nos quadros do PT tende a prevalecer um projeto de poder, e não um projeto de nação. A impressão é de que o P ganhou primazia sobre o T, ao passo que, na sua origem, as energias do partido estavam a serviço dos trabalhadores.
Olhar para frente
Neste cenário conturbado, o olhar para frente significa levar o debate sobre os rumos do país às ruas, praças e campos. Daí a importância do Grito dos Excluídos deste ano, com o lema “Brasil, em nossas mãos a mudança”. Trata-se de criar e/ou fortalecer novos canais de participação popular, avançar de uma democracia representativa viciada para uma democracia direta e pensar os partidos políticos não tanto em termos de institucionalidade, mas como serviço à população. Ganham particular relevo os pré-gritos, o palanque do povo, as expressões variadas da cultura popular, os gritos locais e regionais, a música e o teatro, a simbologia e a criatividade – enfim, tudo aquilo que tem dado ao Grito dos Excluídos um rosto próprio e já conhecido. O Dia da Independência – Sete de Setembro – constitui uma data privilegiada para superar o patriotismo inconsciente por uma cidadania consciente e ativa. Sair à rua, levantar a voz, desfraldar a bandeira, cantar o hino nacional, mas, ao mesmo tempo, lutar pela construção do Brasil que queremos. Ao lado do Grito dos Excluídos, é necessário somar esforços com a 4ª Semana Social Brasileira, a Campanha Jubileu Sul, a Consulta Popular, os Encontros de CEBs, as Pastorais Sociais, o ecumenismo das Igrejas Cristãs. Os desafios exigem uma grande Assembléia Popular que possa refletir e fortalecer o “Mutirão por um Novo Brasil”, a realizar-se em outubro de 2005, em Brasília.
Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista e assessor da Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CNBB.
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através da alfabetização de Dalgi e Orestes Asprino
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convite chegou a nós como um grande presente, aguardado há trinta anos pela Dalgi, mas, para mim foi questionador: o que comportava para minha vocação de LMC (Leigo Missionário da Consolata) aquela proposta? Ir. Maria Inocência, coordenadora das Irmãs da Consolata na África Ocidental, nos convidou para trabalhar por três meses na formação dos professores de Empada, na Guiné Bissau. Ela lançou a semente e foi embora: voltou para a Libéria. Dalgi ficou muito entusiasmada, pois há muitos anos, já por duas ou três vezes havia ensaiado uma partida como esta. Ainda não havia chegado sua hora? Mas, e agora? Daria certo? Saúde, compromissos, família etc... As preocupações e incertezas pareciam pequenas demais diante da vontade de partir. E realmente, todas foram sendo superadas. Até mesmo um problema de saúde, que parecia ser o grande impedimento na ocasião, foi resolvido às vésperas. O questionamento permanecia... Aí apareceu o padre Salvador Medina, que num encontro dos LMC em São Paulo disse: “quem faz a história não tem tempo para questionar o sentido e o significado dela. Os que vêm depois o farão. Vão e depois vejam se valeu a pena ou não...” É nós fomos.
Ler e escrever – vencer o fracasso
De início, ficamos observando a realidade e escutando as Irmãs, sobretudo Ir. Ema, uma das fundadoras e grande entusiasta da Missão católica de Empada. Foi ela que, com as outras Irmãs e a comunidade, organizara a construção do Liceu e solicitara o trabalho de formação para os professores. Após duas semanas de convivência e contato com alunos, professores e escolas, montamos um programa de trabalho pedagógico: “Ler e escrever – vencer o fracasso”. Foram três meses de intenso trabalho: manhã e tarde com reforço de alfabetização para os alunos mais fracos. À noite com os professores de Empada e das “tabancas” (vilas) vizinhas e aos sábados à tarde, com os professores das “tabancas” mais distantes. Nestes encontros de formação, recebemos a colaboração dos professores, que num crescendo intenso de participação, nos surpreenderam. Tivemos o grande apoio da Ir. Lourdes Bonapaz que, com sua presença, perspicácia e senso crítico ia nos apontando os diversos elementos culturais a serem levados em conta. Se por um lado, três meses nos deram a sensação de pouco tempo, diante de tantos problemas detectados, por
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Fotos: Orestes Asprino
atualidade
Vencer o fraca
Alunos da Escola de Empada, Guiné Bissau.
outro, voltamos com a convicção de que as sementes lançadas continuarão sendo cultivadas pelo esforço da Ir. Lourdes, que tem muita experiência de trabalho na África.
A Missão cativa
Percebemos lá a presença de inúmeras Organizações Não-Governamentais (ONGs), todas trabalhando em projetos humanitários com os guineenses. O professor Camboda, um dos nossos alunos, por exemplo, levou-nos a dois grupos para conhecer o trabalho que realiza com alfabetização de mulheres: na “tabanca” do Buducu e na Associação Feminina de Empada. Ali as mulheres, além de serem alfabetizadas, aprendem a trabalhar em hortas comunitárias visando uma complementação alimentar, num processo de auto-sustento financeiro. Chamou nossa atenção a presença de portugueses e italianos, que nas próprias férias, se organizam em grupos, a partir de suas paróquias e lá desenvolvem trabalhos de apoio aos missionários. Nas horas vagas, acompanhávamos as Ir. Ema (italiana), Ir. Rita (moçambicana) e jovens catequistas nos trabalhos pastorais das “tabancas”, sobretudo em Kudon, Mui, Inturse e Madina. Aos sábados, presenciávamos a Missão cheia de jovens e crianças que vinham para participar dos numerosos grupos de catequese. Setembro 2005 - Missões
asso
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Casal de leigos missionários da Consolata relata sua experiência na Guiné Bissau.
Foi muito bom conviver por uma semana com o bispo de Bafatá, o brasileiro Dom Pedro Zilli.
O risco de matar a semente do Evangelho
Muito enriquecedor foi o nosso dia-a-dia em contato com as pessoas da cidade, crianças e adolescentes. Porém, a pureza e ingenuidade dos guineenses de Empada nos impressionaram, assim como seu alto grau de dependência do exterior e de suas tecnologias. Um povo que teria tudo para ser feliz, a partir dos elementos naturais e culturais que possui, mas sente-se inferiorizado, incapacitado de enfrentar as dificuldades mais elementares da alimentação, da saúde, porque vive se confrontando com as tecnologias e “máquinas” vindas do exterior. Corre-se o risco de matar as “sementes do Evangelho” presentes nas diversas culturas, quer com a colonização, quer com um tipo de missão que engendra uma atividade dependente da cultura e das tecnologias estrangeiras. Com muita tristeza constatamos um certo complexo de inferioridade e supervalorização da cultura ocidental. Esse conceito provoca muitas vezes uma tendência à resignação e dependência.
Objetivo da Missão
Constatamos que o objetivo e o esforço primordial da Missão é a recuperação da dignidade do ser humano caído debaixo de tantas opressões estrangeiras e mesmo da própria cultura. Além da colonização e às vezes até da Missão, que trazem subprodutos que esmagam o amor próprio dos locais à sua própria cultura, também eles possuem elementos que dificultam a valorização do indivíduo. Percebemos concretamente, que toda a reta intenção e bondade não justificam o ímpeto de “dar coisas” àqueles que pedem. Notamos também, que certas crenças populares nativas mantêm crianças, jovens e adultos subjugados pelo medo e pela ignorância. Entendemos claramente que, planejar e traçar a ação missionária é muito mais que ensinar “outras verdades de fé” ou doar com abundância recursos que podem melhorar momentaneamente a qualidade de vida dos assistidos pela Missão. O esforço deverá ser sobretudo o de melhorar a auto-estima das pessoas, proporcionar e desenvolver, ainda que de forma lenta, mas firme, instrumentos culturais e técnicos que possibilitem a autogestão, a autodeterminação e a autosustentação econômica e cultural. Neste sentido, as Irmãs da Consolata nos repetiam: na Missão, muito mais importante do que o fazer, é “o ser”. Ficou evidente para nós que este último tipo de Missão é muito mais difícil, penoso, demorado e até impopular. Pudemos colher um depoimento, segundo o qual o padre diocesano tem muita dificuldade de administrar uma paróquia, antes comandada por missionários. Estes contam com o apoio e a colaboração dos amigos e de grupos de outros países, ao passo que os padres diocesanos normalmente contam só com os recursos da comunidade local.
A verdadeira Missão zela pela vida
Ressalte-se neste sentido a intensa atividade missionária das Irmãs da Consolata: Lourdes (brasileira), Anistalda (portuguesa) e Floralda (colombiana) que trabalham no Liceu Dom Settimio Ferrazzetto e no Centro de Saúde. No Liceu, elas acompanham a formação dos professores e alunos, não só propondo valores, mas também sugerindo e vivenciando uma rotina disciplinar em suas atividades profissionais. No Centro de Saúde, elas dedicam uma atenção carinhosa e constante, um zelo admirável na orientação das mães e responsáveis das crianças subnutridas e órfãs, proporcionando-lhes uma alimentação saudável, regular e adequada vinda do P.A.M. (Programa de Alimentação Mundial). Elas lutam para que as pessoas consigam os recursos necessários para pagar, ao menos, o custo dos medicamentos que recebem.
Lições que a missão nos ofereceu
Trabalhamos muito, mas também fizemos amizades muito fortes e profundas. Deixamos amigos queridos na Guiné Bissau. Aprendemos a admirar o ritmo de vida do guineense. Aprendemos a admirar sua simplicidade, elegância e acolhida. E tem mais: pensávamos que “saudades da Missão” fosse apenas uma figura de linguagem de missionários idealistas e poetas. Não é. Estamos “morrendo” de saudades da África e em especial dos guineenses que lá deixamos. Talvez sejamos nós também missionários idealistas e poetas!!! O professor Paulino, Inspetor de Ensino, entrega presente aos professores Orestes e Dalgi.
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Dalgi e Orestes Asprino são professores e Leigos Missionários da Consolata de São Paulo, SP.
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em comum-união
com nossos indígenas Infância Missionária
“Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, Sou Caeté, Ful-ni-ô, Tupinambá.” Antônio Nóbrega e Wilson Freire
dedicado à pequena kaigang Aline
Jovem Ceusimara, senhora Vitória de Oliveira com menino Rogério Peixoto, povo kaiowá, Dourados, MS de Roseane de Araújo Silva
U
m fato nestes dias mexeu comigo: o contato com a pequena Aline e a sua forma de encarar a vida no seu mundo de criança. Essa pequena kaigang do norte do Paraná me apresentou uma visão diferente na relação entre a criança e o adulto. Segundo me contaram, ao nascer, a criança kaigang não pertence ao casal, pertence à comunidade, no sentido da divisão de responsabilidades, ou seja todos “olham” aquela criança como sua. A comunidade concede à criança a possibilidade de experimentar, de ser sujeito, de avançar sem medo para o desconhecido. Agindo dessa maneira, Aline mostrou-me uma diferença que eu ainda não conhecia: ela é uma criança livre.
Cuidem do meu futuro!
O que temos a oferecer às crianças das várias nações indígenas existentes em nosso país? Que futuro terão os nossos curumins e as nossas cunhatãs? Na época da chegada dos primeiros portugueses por aqui eles eram cerca de cinco milhões e hoje são cerca de 400 mil. A história nos relata verdadeiras atrocidades de norte a sul do Brasil, a exploração das riquezas naturais, a violação das mulheres indígenas e o extermínio de várias nações.
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A terra é de todos, dada pelo Criador
Hoje alguns povos indígenas possuem suas terras demarcadas à custa de muita luta e de sangue derramado. Depois de terem seus recursos naturais depredados, como é possível ainda explorar estes recursos? Como é possível sobreviver sem o desenvolvimento de projetos sustentáveis em terras indígenas? Na relação com os não-índios, os povos indígenas são freqüentemente contaminados por doenças antes não existentes em suas comunidades. Na educação, as crianças são muitas vezes privadas de manter sua língua materna e suas tradições, consideradas inferiores. A missão de Jesus clama por justiça para todos: ‘(...) Vim para anunciar a Boa Notícia aos pobres; para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor’ (Lc 4,18-21). Aos povos indígenas a terra que lhes pertence por direito e as condições necessárias para sobreviver nestas terras em que viveram também os seus antepassados! Ainda hoje repetimos o preconceito com os nossos irmãos indígenas. Desde pequenos aprendemos a vê-los como preguiçosos, incapazes, sem cultura ou como aqueles que usam uma “peninha” na cabeça. Desconhecemos toda sua experiência cultural, seu respeito e cuidado com a natureza, enfim, vivemos um preconceito generalizado. No cotidiano das crianças missionárias sentimos a necessidade de apresentar estas diferenças, demonstrando sempre que o diferente não é inferior, nem superior. É simplesmente diferente! Uma nova mentalidade é feita de gestos novos, de atitudes novas, começando do nosso lugar. Jesus nos propõe: ‘o que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. Se vocês amam somente àqueles que os amam, que gratuidade é essa? (...) amem, façam o bem e emprestem, sem esperar nada em troca’ (Lc 6,31-33 e 35). O Evangelho nos mostra que as relações entre as pessoas devem ser semelhantes ao amor do Deus Pai-Mãe. O testemunho missionário nos chama a amar incondicionalmente todas as pessoas, sejam elas iguais ou diferentes. Dessa maneira, poderemos tornar o nosso mundo plural mais próximo do sonhado por Deus para todos nós. Das crianças do mundo – sempre amigas!
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.
Conhecendo de perto!!!
Sugestão de atividade entre os animadores e as crianças missionárias: a) Através de um contato com as instituições que atuam junto às nações indígenas de sua região, proporcione uma visita a uma comunidade indígena com as crianças missionárias. b) Após a visita, analise com elas as diferenças entre a vida das crianças indígenas da nação visitada e a delas (observar ainda a tradição cultural, religiosidade, as brincadeiras e outros aspectos preservados pela comunidade).
Setembro 2005 - Missões
para que serve a TV?
interferem nas escolhas. Você nunca conheceu ninguém viciado em TV, que fica em pânico quando alguém critica o que ele gosta? Mesmo que seja a maior baixaria da emissora? Aí é que a coisa pega!
O que podemos fazer?
de Diniz Giuseppi
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ual o seu programa de televisão predileto? Todos nós jovens já tivemos que responder a este questionamento, não é mesmo? Se uma parte da galera gosta de cultura e informação, a outra quer ver a realidade. Mas, sinceramente: as novelas, os filmes e os reality shows refletem o nosso cotidiano? Ou o pior: o reflexo molda nossas atitudes? É difícil compreender. O que podemos responder de olhos fechados é que muitos são os “seguidores” da seita que invadiu nossas casas a partir de 1950: a TV. Tipo assim: quem nunca se deparou usando gírias que grudam na fala dos nossos amigos. Chega a ser engraçado “cara”, mas a situação sai do controle quando vemos um exército de adolescentes vestindo roupas cor-de-rosa, para ficar na moda. As Tatis, Patrícias e Marianas imitam o que vêem na TV ou os meios de comunicação buscaram, na massa, o estereótipo perfeito para causar identificação? É uma espécie de videogame, aonde para se dar bem nas provas da vida, deve-se seguir o manual. E para se ter acesso aos códigos, deve-se fazer exatamente o que faz a mocinha da novela das 21h00. O que não se pode esquecer é que tudo é realizado por meio de pesquisas. Se vêem a necessidade do advento de um produto vendável e rentável, ouve-se o boom e então a malhação não pára, até ter um bom ibope. Mas e daí? Você pode estar respondendo: “Eu tenho discernimento para escolher o que me der na telha. Eu sei ‘meu’ o que é bom para mim”. Que bom seria se todos pensassem assim, entretanto inúmeras circunstâncias
Missões - Setembro 2005
Nosso papel é tentar criar na mente dessa turma hipnotizada pelo grunhido “ilarilariê” que a vida não se resume numa caixa preta ou prata. Não vamos descartar os benefícios que a televisão nos traz como lazer, educação e cultura, mas também ela pode tornar o seu receptor apático e servil. A televisão tem serventia. O problema está em se render ao encanto que nos passa a vida perfeita dos comerciais. Os jovens de hoje estão sabendo usar o controle remoto mais do que os de antigamente. Mas, alguns pensam que estão num show de realidade em que para se ganhar o prêmio máximo, é preciso chamar a atenção, perdendo assim, sua própria identidade. Quando você sai para a balada já percebeu como todo mundo se parece? Isso mesmo, não em traços físicos, mas em modos e maneiras de se vestir e se portar. Os produtos da chamada indústria cultural tornam todo mundo igual. Aliás, para que um celular com tantos recursos se ninguém quase usa? A protagonista do filme ou da novela tem um, como não vou conseguir um igual? Eu sou chique, bem! Mas poucos percebem que somos manipulados continuamente a comprar, pedir, indicar e pagar. Não vamos transformar os produtores dos meios de comunicação de massa em vilões. Eles têm um papel importantíssimo nessa história, porém, se pararmos para refletir um pouco sobre tudo o que nos é imposto, já estaremos dando um grande passo na nossa vida e quem sabe daremos um “empurrãozinho” na vida do nosso vizinho que passa horas e horas em frente a uma tela, querendo saber se a mulher de fulano é fiel ou não. Somos todos chamados, sem distinção de raça e credo a mudar o fim dessa história que, assim como o controle remoto, está em nossas mãos.
Diniz Giuseppi é estudante de Jornalismo em Salvador, BA e editor-chefe do site Trem da Missão.
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conexão jovem
Tipo assim
Os jovens de hoje estão sabendo usar o controle remoto mais do que os de antigamente. Mas, alguns ainda pensam que estão num show de realidade e perdem sua identidade.
Arquivo Pessoal
entrevista
A dimensão profética da Reunidos na 43ª Assembléia da CNBB, em Itaici, São Paulo, os bispos reafirmaram que Jesus Cristo é a Esperança da humanidade.
de Joaquim Gonçalves
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43ª Assembléia Geral da CNBB, agendada para se realizar entre os dias 5 e 15 de maio, e da qual a revista Missões deu notícia na edição de abril, foi adiada por causa do estado de saúde do papa João Paulo II, que veio a falecer. A Assembléia se realizou entre os dias 9 e 17 de agosto, em Itaici, Indaiatuba, SP. Nesta edição voltamos ao tema “Evangelização e Missão Profética da Igreja: Novos Desafios”, desta vez para levar ao conhecimento dos leitores o que de fato foi tratado e decidido na reunião dos bispos. Entrevistamos Dom Joaquim Justino Carreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região Episcopal Santana. Dom Joaquim foi ordenado bispo no dia 16 de maio p.p. em Jundiaí onde exercia seu ministério, e empossado em São Paulo no dia 29 do mesmo mês pelo Arcebispo, Dom Cláudio Hummes. Dom Joaquim, o senhor tem uma longa experiência na diocese de Jundiaí. Como foi a sua primeira participação na Assembléia da CNBB e qual sua opinião sobre o tema? Minha presença na Assembléia Geral da CNBB pela primeira vez, foi uma experiência cheia de novidades e de um enriquecimento muito grande. Estar nove dias em convívio, oração e estudos com praticamente todos os bispos do Brasil é algo muito bom e importante para a vida pessoal dos participantes, para a missão episcopal e para as dioceses do Brasil. Além dos bispos, participaram também o senhor Núncio Apostólico Dom
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Lourenzo Baldisseri e os representantes maiores dos organismos e pastorais ligados à Igreja. O tema principal foi “Evangelização e Missão Profética da Igreja: Novos Desafios” e a elaboração de um documento que deve orientar e animar a Igreja no Brasil a continuar a proclamar a Boa Nova da Paz, a Palavra profética de Jesus Cristo. É uma reflexão muito profunda sobre a situação pastoral atual e um instrumento de orientação a todos os membros da Igreja, a todos os batizados, com a finalidade de suscitar a esperança e alimentá-la na caminhada da vida e nas ações pastorais. Aponta possíveis soluções para os problemas atuais que tocam muito de perto a dignidade da pessoa humana, a sacralidade da vida e as formas de viver a religião. Muitas pessoas estão sem pontos de referência, sem saber como conduzir a sua vida, sem saber como discernir o que é bom e o que é mau; experimentam a separação entre a fé e a vida; a falta de ética na vida pessoal, nos relacionamentos comerciais, na política e na organização social da vida; o crescente individualismo, a falta de trabalho, de moradia, de saúde e de comida assolam o dia-a-dia de muitas pessoas, gerando exclusões e violência; a ciência que tanto desenvolvimento e boas descobertas trouxe à humanidade, quando mal conduzida, pode trazer grandes males, violando a dignidade humana. A vida humana é sagrada desde a sua concepção até à morte, de preferência, natural. O tema da Assembléia foi organizado em quatro capítulos: I. Evangelização e Profetismo; II. O Testemunho de Fé Cristã e o Pluralismo Cultural e Religioso; III. O Compromisso da Igreja em Favor da Inclusão Social; IV. Dignidade Humana e Biotecnologias e a Conclusão: Jesus Cristo, Esperança da Humanidade. Além do Profetismo, houve outros assuntos interessantes na Assembléia? Sim. Muitos assuntos. Entre eles um de fundamental importância foi a aprovação final do “Diretório Nacional de Catequese”, em elaboração há três anos. Um belíssimo instrumento de trabalho para orientar a missão de inúmeros irmãos e irmãs catequistas que se dedicam em nossas paróquias. A Catequese bem feita dará a todos os cristãos a possibilidade de conhecer e viver o Setembro 2005 - Missões
Assessoria de Imprensa da CNBB
evangelização seu Batismo e todas as dimensões da vida e da missão cristã. Pelo Batismo nos tornamos o Povo de Deus, a Igreja Viva, onde Cristo é a cabeça e nós os membros. E como batizados somos sacerdotes, profetas e reis. Portanto, a missão do profeta é anunciar a Palavra de Deus e ajudar as pessoas a viver na Esperança sem nunca desanimar. Além desses dois documentos foram feitos mais 22 declarações, comunicados, diretrizes. Tudo isto com a participação e a aprovação de todos. Os documentos da CNBB são realmente fruto de um trabalho de conjunto. O que fazer para que os presbíteros e os cristãos estejam preparados para lidar com as influências dos Meios de Comunicação Social?
Assessoria de Imprensa CNBB
É preciso evangelizar, evangelizar, evangelizar sempre para que cada pessoa tenha uma experiência pessoal de fé e uma adesão pessoal a Cristo: Caminho, Verdade e Vida. A fé é uma experiência pessoal de encontro com a misericórdia de Deus, que nos torna discípulos de Jesus. Essa fé é vivida pessoalmente, mas inserida na família através do testemunho e também vivida em comunidade. Pessoal, familiar, comunitária. Assim a fé adulta dá-nos uma sabedoria interna que nos faz discernir as propostas que nos são apresentadas e nos ajuda a rejeitar o mal e a seguir o bem. O que falta em muitos cristãos é essa experiência pessoal e a opção livre e profunda de querer ser um cristão de verdade. Devemos trabalhar em profundidade essas questões. Quando se vive a fé, se tem esperança e se tem caridade. A vida é vivida em todas as suas dimensões, como Jesus viveu a sua vida, crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens. Quem tem experiência
Celebração de abertura da 43ª Assembléia da CNBB.
profunda de Deus, tem discernimento diante das propostas feitas pelos MCS, pela propaganda que geralmente exploram apenas um aspecto da realidade sem apresentar o todo. Conhecendo o todo, saberemos avaliar as partes. Essa visão de conjunto, muitas vezes, falta; porém, quando existe é um grande auxílio para o discernimento. Como o senhor está assumindo a sua nova missão de bispo e o que espera dos presbíteros? A Igreja é formada por todos os batizados. Portanto eu espero que cada batizado assuma conscientemente o seu Batismo e seja um membro vivo e atuante do Corpo de Cristo, onde Ele é a cabeça e nós os membros. Todos nós somos responsáveis pelo bem e pela missão da Igreja. No entanto os presbíteros são pastores, têm uma missão de animar as comunidades e de evangelizá-las. Por isso, devem ser os primeiros a buscar a experiência pessoal de fé em Jesus Cristo, vivendo-a nas suas paróquias e vivendo-a também na diocese, no conjunto das paróquias. Estou feliz em minha missão, sabendo que é o Senhor o Bom Pastor que me conduz e quer conduzir a todos. Como Bom Pastor, Ele vai atrás da ovelha perdida para que ninguém se perca. Assim, com o projeto missionário que estamos desenvolvendo, todos podem e devem ser missionários e todas as famílias poderão receber a visita de Jesus, recebendo a visita de um cristão. Entender e viver isto é a verdadeira solução para todos: os missionários e os destinatários. Como palavra final, o que deseja acrescentar? Tenhamos alegria e desejo de ser verdadeiros cristãos. Deus não nos tira nada, ao contrário, quer acrescentar em nossa vida a experiência da vida eterna. Quando temos a sabedoria de Deus, tudo o que nos acontece na vida é bom. Se falarem mal e for verdade é um chamado à conversão. Se for mentira, o mal que falarem de nós, é um chamado à vigilância, para que não nos aconteça aquele mal. Depender de Deus e não das coisas ou das pessoas, é a possibilidade de experimentar a liberdade dos filhos de Deus, que nos ama sempre e deste Amor nada e ninguém nos pode separar.
Bispos participantes da 43ª Assembléia da CNBB.
Missões - Setembro 2005
Joaquim Gonçalves é missionário e membro da Comissão Justiça e Paz.
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Mutirão pela e com a Amazônia A Missão da Igreja na Amazônia foi o tema dos debates de um Encontro Nacional, realizado em Brasília. de Cecília Tada
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mazônia, Desafios e Perspectivas para a Missão”, foi o tema que norteou a realização de um Encontro Nacional, ocorrido de 9 a 11 de junho de 2005, em Brasília, no Centro de Convenções Israel Pinheiro, com o intuito de provocar um grande mutirão missionário pela e com a Amazônia. O Encontro teve também como objetivo divulgar o trabalho da Comissão Episcopal para a Amazônia e promover o avanço dos seus programas e projetos, bem como tornar mais conhecidos os problemas candentes da região e os passos que a Igreja vem dando para evangelizar. Por isso, o evento não foi um ponto de partida, mas a continuidade de um processo desencadeado há décadas, que tomou consistência a partir de 2003, com a constituição da Comissão Episcopal para a Amazônia e o projeto “Missão da Igreja na Amazônia”. AAmazônia sempre chamou a atenção do mundo, despertando nestes últimos anos enorme interesse por ser um dos maiores reservatórios de água doce do planeta, além de suas riquezas naturais e sua biodiversidade. A região desperta preocupação com a sua preservação, diante da ação predatória de grupos com interesses econômicos. A Igreja não poderia ficar fora do debate que essas questões provocam, pois ali também está o maior tesouro, que constitui o centro das preocupações pastorais: o amazonense, o habitante nascido na região e membro dos povos da floresta. O Encontro reuniu mais de 200 participantes, entre bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, agentes de pastoral vindos de todos os regionais da CNBB e representações de povos indígenas da Amazônia. Essa representatividade foi muito significativa por expressar a unidade da Igreja em torno de um apelo que veio do Norte do Brasil e se consolidou com as presenças do presidente da CNBB, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri e da representante da Conferência dos Religiosos do Brasil, Irmã Zenilda Petry. Dois estudos, apresentados no Encontro pelo padre Possidônio da Mata e pela professora Anaiza Vergolino traçaram um resgate histórico e um panorama religioso e cultural da Amazônia. O resgate
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Lançamento Conheça os desafios e perspectivas para a Igreja do Brasil na Amazônia Setembro 2005 - Missões
histórico feito por Possidônio destacou três etapas da presença da Igreja na região, dando ênfase à missão dos religiosos no início da evangelização, a institucionalização da Igreja e a participação dos leigos. A evangelização cristã não conseguiu extinguir as tradições religiosas dos povos indígenas e africanos, originando uma religião popular de caráter simbiótico que, em determinados momentos conflita com o catolicismo oficial. O compromisso e o profetismo do anúncio levou a Igreja amazônica a ter os seus mártires. A professora Anaiza destacou as matrizes culturais religiosas da Amazônia tradicional: a indígena, a lusitana e a africana. Mas, esclareceu que há, ao lado dessas velhas matrizes, novos credos, devido às grandes mudanças que a região vem sofrendo nesses últimos anos.
Igreja na Amazônia
Desafios e perspectivas para uma renovada evangelização na Amazônia foi o tema de outro painel, que teve a grande tarefa de apresentar novos pressupostos para a evangelização e abrir horizontes diante de cenários tão complexos e desafiadores. Coordenado pelo padre Edson Damian, teve a participação do padre Zenildo Lima da Silva, que depois de apresentar um diagnóstico sobre a situação da Igreja, propôs um grande encontro das Igrejas para tratar regionalmente dos problemas e buscar soluções, garantindo uma maior unidade na Missão. O padre Luiz Pinto, partindo dos grandes eventos eclesiológicos propôs ações concretas para que se dê o devido valor à ministerialidade, destacando o papel da mulher, dos leigos e das CEBs, enfatizando a necessidade de investimento na formação e de autonomia desses atores eclesiais. Padre Fernando Lopez e Irmã Arizete Miranda apresentaram o projeto da Equipe Itinerante, uma proposta intercongregacional, voltada para a realidade concreta dos povos da Amazônia, que busca e vai ao encontro, possibilitando uma maior presença e vivência do Evangelho. Padre Thierry Linard de Guertechin apresentou o projeto do
Rede Rua
Houve um painel sobre a situação atual da Igreja na Amazônia, com a participação de Dom Moacyr Grechi, Dom Regis Gutemberg e padre Cláudio Perani, sj. A mesa foi coordenada pelo padre João Sucarrats, sdb. Os três painelistas destacaram que a Igreja na Amazônia é viva, animada, missionária e jovem, apesar das dificuldades e desafios das distâncias, dos recursos e meios. É preciso valorizar o serviço dos leigos e leigas e renovar as estruturas eclesiais para dar mais espaço a quem trabalha na Missão. Alargando a tenda, é preciso “amazonizar” o Brasil e dar mais valor à diocesaneidade, mas também à itinerância, às CEBs, aos ministérios e serviços, principalmente ao da Palavra.
Evangelização na Amazônia
Situação atual da região
As necessidades e oportunidades nos campos socioeconômico e político da região foi o tema de outro painel, coordenado pela professora Janira Sodré Miranda, com participação da doutora Bertha Becker, do professor Jessé Rodrigues dos Santos, do padre Luiz Ceppi e do professor Guenter Francisco Loebens. As colocações de alto nível proporcionaram uma grande oportunidade para aprofundar os conhecimentos dos problemas que aAmazônia enfrenta e enfrentará no futuro bem próximo: o revigoramento das frentes de expansão (soja-boi) ligadas aos mercados globais, a mercadologização da água e do ar, o fenômeno Padre Raimundo Possidônio, Irmã Cecília Tada e padre Carlos Alberto Chequim da industrialização e a urbanização com todas durante a apresentação do projeto Missão da Igreja na Amazônia. as mazelas sociais de abandono e violência, a fragilidade das reações, o esgotamento de certos modelos, a Instituto de Estudos Superiores (IES), cuja missão é “formar má gestão das políticas públicas, o autoritarismo, a atuação do uma inteligência católica para a Amazônia, capaz de gerar e Poder Judiciário que agrava os problemas, favorecendo os que disseminar conhecimento científico e humanizado, engajado na exploram, o risco do extermínio dos índios e o aproveitamento construção de uma sociedade pluricultural e no desenvolvimento de suas terras para o mercado. Não obstante tudo isso, há sinais sustentável da região”. Destacou também os valores orientadores de resistências históricas e vitoriosas, como a homologação da do Instituto e o andamento do projeto. Raposa Terra do Sol, o fortalecimento das cooperativas e conseNão se poderia sair de um Encontro tão rico como este de lhos paritários participando na elaboração de políticas públicas e mãos abanando. Na medida em que as questões iam sendo o plano de desenvolvimento sustentável, que mostram que uma levantadas, alguns grupos foram formados para sugerir propooutra Amazônia é possível. Foi proposto como saída para frear sições e perspectivas diante dos grandes desafios. Os grupos o agravamento desses problemas, humanizar o modelo, fortaletemáticos que se formaram discutiram sobre: mundo indígena, cendo fóruns de discussão sobre a região, criando mecanismos projeto Igrejas-Irmãs, comunicação, missão itinerante, presença de gestão e acelerando o aprendizado social, capitalizando o religiosa, papel dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade, produtor rural e o extrativista. Completando este painel houve a CEBs e missões populares, saberes e produção da Amazônia, palestra do delegado da Polícia Federal, Mauro Esposito, sobre desenvolvimento sustentável e solidário da região, ensino suo narcotráfico, a biopirataria e a militarização da Amazônia e a perior católico e ensino superior à distância na Amazônia. exposição da Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre os desafios e perspectivas para o desenvolvimento sustentável. Cecília Tada é secretária executiva da Comissão Episcopal para a Amazônia.
Missões - Setembro 2005
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Foi lançado no dia 17 de agosto, o website da Frente Brasil sem Armas, que defende o SIM no referendo, no qual será decidido se a venda de armas de fogo será proibida ou não no Brasil. No dia 23 de outubro, a população deverá responder SIM ou NÃO à pergunta: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” No “Referendo SIM” (www.referendosim.com.br), o usuário terá acesso às informações sobre o que é o referendo, as normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a consulta popular, as razões de se votar SIM, o passo a passo de como montar um comitê de campanha e dicas de como participar da campanha pelo SIM. Além disso, estará disponível para download todo o material de divulgação da campanha e uma agenda com os principais eventos organizados pelos comitês e frentes pelo SIM formados em todo o país. O referendo está previsto na lei de controle de armas brasileiras, o Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro de 2003. A Frente Parlamentar por um Brasil sem Armas é presidida pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e tem como secretário executivo o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE). Também participam da Frente cerca de 60 parlamentares de nove diferentes partidos, além do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), e de ONGs como o Viva Rio, o Comitê de Vítimas da Violência (Convive), de Brasília e o Instituto Sou da Paz (São Paulo), entre várias outras entidades que lutam pelo desarmamento. Pela primeira vez na história, a população de um país decidirá sobre a política nacional de controle de armas.
Pernambuco Os povos indígenas
autores têm de que a impunidade reina”. Na Assembléia Legislativa, Casa de Joaquim Nanico, como os deputados se referem a ela, foi feito um discurso do deputado Isaltino Nascimento com um aparte do deputado Roberto Leandro, onde homenagearam todas as populações indígenas e denunciaram a omissão e inoperância do atual governo estadual em não conseguir desenvolver políticas públicas adequadas a essas populações e o fato mais grave, não punir os agentes do Estado (policiais infratores) que, com o poder que lhes é conferido, se acham no direito de decidir quem vive ou morre.
Roraima Indígenas sem assistência à saúde
O Conselho Indígena de Roraima – CIR, protocolou no dia 5 de agosto, na sede da Fundação Nacional de Saúde – Funasa, em Brasília, o comunicado de suspensão das atividades de atenção básica à saúde dos povos indígenas no Distrito Sanitário Leste de Roraima, que compreende 252 aldeias e uma população de 32 mil índios. O projeto mantém 218 postos Jaime C. Patias
VOLTA AO BRASIL
Frente Brasil sem Armas Lançado website oficial
Aldeia de Maturuca, Roraima.
O dia 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído pela ONU, começou com uma audiência pública no Sindicato dos Bancários, em Recife, onde estiveram presentes 50 indígenas de 5 etnias (pankará, atikum, xukuru, truká e kambiwá), representantes de várias entidades de direitos humanos, os deputados estaduais Isaltino Nascimento e Roberto Leandro, além do vereador Marcelo Santa Cruz. Os discursos enfatizaram a violência que os povos indígenas do Estado vêm sofrendo nos últimos anos e a impunidade dos agressores. À tarde houve uma sessão especial na Assembléia Legislativa, onde os deputados Isaltino Nascimento e Roberto Leandro defenderam em plenário o interesse dos povos indígenas de Pernambuco. Os índios das 5 etnias distribuíram um texto pelas ruas de Recife, onde denunciaram o descaso dos governos federal e estadual referente à violência a que estão submetidos os povos indígenas naquela região. “Esse clima de violência só tem crescido devido a certeza que os
de saúde e 74 laboratórios de microscopia, onde atuam 420 agentes indígenas de saúde e endemias, além de agentes de saneamento e parteiras tradicionais, acompanhados por equipes multi-profissionais responsáveis pelo trabalho. O motivo da suspensão das atividades é a não confirmação de repasses do Convênio firmado entre o CIR e a Funasa desde junho passado, que já prejudica a continuidade da assistência, inclusive com a falta de alimentação para as equipes que atuam na área, manutenção de veículos e aquisição de insumos. “A suspensão das atividades determina sérios riscos para a integridade das comunidades envolvidas, que já atravessam uma difícil situação de saúde decorrente das epidemias de malária e dengue que assolam o estado”, diz o comunicado, assinado pelo coordenador do CIR, Marinaldo Justino Trajano.
Fontes: CIMI, CIR, Desarme. Setembro 2005 - Missões
4° MBC: o Mutirão realmente brasileiro de comunicação
N
ão só os 500 participantes de todos os cantos do país estiveram presentes fisicamente no evento, mas os milhares de telespectadores, ouvintes de rádio e internautas, que por meio das 170 emissoras da Rede Católica de Rádio, pelo sistema Canção Nova de Comunicação (TV, Rádio e Internet), pela cobertura da Rede Vida de Televisão e pela presença da Rádio América e do Jornal Vitória, veículos de comunicação da Arquidiocese de Vitória, se uniram ao 4º Mutirão Brasileiro de Comunicação. Essa gente que interagiu telefonando, enviando e-mails, participando dos debates, ajudou a construir o 4° MBC, aumentando a polifonia de vozes que desejam uma comunicação mais ética e socialmente responsável, de acordo com o tema do Mutirão, “Comunicação e Responsabilidade Social”. O Mutirão, realizado em Guarapari de 10 a 15 de julho, marcou a vida de muitos e deixou para os próximos encontros um legado importante, que vai desde a organização do seu estatuto, à criação de um símbolo, feito pela Associação dos Ceramistas do Espírito Santo, que vai unir os próximos eventos,
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participantes e realizadores no que têm de melhor, o espírito da coletividade num tempo em que o individualismo se impõe e endurece os relacionamentos. Durante a conferência de encerramento do 4° Muticom, no dia 15 de julho, Porto Alegre foi lançada oficialmente como a próxima cidade a sediar o 5° Mutirão Brasileiro de Comunicação, no ano de 2007. Após as falas do bispo do Setor de Comunicação Social da CNBB, Dom Orani Tempesta, e do arcebispo de Vitória, Dom Luiz Mancilha, os gaúchos subiram ao palco do auditório principal do Sesc de Guarapari para receber a arte em cerâmica, confeccionada pelo artesão capixaba Luiz Acélio de Araújo, que virou símbolo do Mutirão. A organização ficará por conta da Diocese de Porto Alegre, em parceria com outras dioceses do Rio Grande do Sul, juntamente com as demais entidades promotoras do Mutirão Brasileiro de Comunicação.
Reportagem de Warlen Soares, em entrevista com o coordenador do 4º MBC, Carlos Magno Lovatti e publicada no jornal Vitória, da arquidiocese de Vitória - ES ano III n.92, agosto de 2005.
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