ESTADO DE MINAS - DOMINGO, 29 DE FEVEREIRO DE 2004
PÁGINA 19
GERAIS
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PERIGO NA PONTE
CRISTINA HORTA
FRAGILIDADE
Mureta evita a queda de carreta sobre ferrovia, na BR-381, em Sabará, após perda do controle pelo motorista. Moradores dos bairros próximos reclamam dos constantes acidentes e cobram investimentos no trecho
ESPECIALISTA ALERTA PARA FALTA DE SINALIZAÇÃO E DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA NOS VIADUTOS QUE CORTAM O ESTADO. VILA RICA É EXEMPLO DE RISCO PARA OS MOTORISTAS, COM MAIS DE 200 MORTES. EXIGÊNCIA DE MANUTENÇÃO CONSTANTE DIFICULTA TRABALHO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
DANIEL CAMARGOS
A
perda do controle da carreta Volvo, ontem de manhã, no viaduto sobre uma linha de trem, na BR-381, no bairro Borges, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, confirma a fragilidade dos viadutos e pontes das rodovias que cortam o Estado. A carreta ficou pendurada das 7h às 11h30 – quando foi retirada por dois reboques – e provocou um congestionamento de seis quilômetros na estrada. Pista estreita, falta de sinalização e de dispositivos de segurança colocam em risco a vida dos motoristas. Somente no viaduto Vila Rica (conhecido como das Almas), na BR-040, mais de 200 pessoas já morreram. Para o engenheiro de segurança de estradas Eduardo Tondato, “falta respeito aos usuários que pagam impostos”. Para ele, uma solução para reduzir os constantes acidentes em cima dos viadutos e pontes mais es-
treitos é a instalação de “tachões” – espécie de saliência que reflete a luz – e faixas zebradas. Os dispositivos fazem com que os motoristas diminuam a velocidade antes do estreitamento. “O custo para alargamento é muito elevado e não se tem dinheiro nem para tapar buraco”, reclama o engenheiro, ao defender a opção mais segura. Além do trânsito lento, o acidente de ontem destruiu parte da mureta de concreto e do guardacorpo. De acordo com o Policial Rodoviário Federal Márcio Neves, na frente da carreta seguia um caminhão com excesso de largura, acompanhado por dois batedores. Neves explica que o caminhão estava em baixa velocidade e que a carreta não conseguiu parar e por isso perdeu o controle, ficando pendurada. Os moradores do bairro Borges reclamam da falta de segurança. “Acidente aqui é quase diário”, lamenta o líder comunitário Flávio Pimenta, de 46 anos, que vive na região há 30 anos. Pimenta revela que já viu inúme-
ros carros caírem do viaduto – palco do acidente de ontem. “O afunilamento do viaduto, provocado pelo estreitamento de pista, deixa o trecho muito perigoso”, afirma. Ele diz também que os problemas não se restringem ao viaduto e acontecem com freqüência até o bairro Ravena, no sentido para Vitória (ES). “Todo o dia passa uma ambulância de resgate”, diz o líder comunitário. Diante da situação, o auxiliar de produção David Santos, de 24, que deixa o bairro todos os dias para trabalhar em Belo Horizonte, cobra investimentos. “Eles deveriam dar um jeito de melhorar a estrada, pois assim não dá”, reclama. De acordo com o gerente de operações do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), Álvaro Campos Carvalho, existe previsão de instalação de redutores de velocidade, mas faltam verbas. O gerente do Dnit ressalta que como a região é de alto fluxo de veículos e vandalismo, é necessário fazer a manutenção freqüente
da sinalização. O problema é que o contrato de manutenção está vencido e aguarda abertura de processo de licitação, que depende do Governo Federal.
UBERABA Uma pessoa morreu e 14 ficaram feridas em um acidente envolvendo um caminhão e um ônibus na BR-050, a 15 quilômetros de Uberaba. No início da madrugada de sexta-feira, a carreta de placa GUQ-9803, de Uberlândia, colidiu com o ônibus da empresa Real Expresso, placa JJZ-9013, de Brasília. Os dois veículos ficaram tombados na pista, atrapalhando o trânsito. O motorista do caminhão, Delfino de Souza Júnior, de 45, morreu na hora, vítima de esmagamento. Os feridos foram levados para o Hospital Escola da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. O ônibus saiu de São Paulo com 29 passageiros, com destino a Anápolis (GO), e a carreta seguia para Uberaba, transportando carga de ração.
MORTES Viaduto estreito, em curva e com o asfalto em péssimo estado. Motivos que levaram o Vila Rica, na BR-040, caminho para o Rio de Janeiro, ser conhecido como viaduto das Almas. Neste ano, ele já foi cenário de dois graves acidentes, matando duas pessoas. Inaugurada em 1957, a ponte nunca passou por uma reforma. A PRF não possui estatísticas de quantas pessoas já perderam a vida caindo do local, mas, pelas contas do Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, o número de mortos
❚ SUSPEITA
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA APONTA ANTIGA RELAÇÃO ENTRE JUÍZA DE ESMERALDAS E O POLICIAL CIVIL. PROCURADORIA DO ESTADO DEVE INICIAR INVESTIGAÇÃO
Delegado acusado de tortura está foragido MARCELO PORTELA
LETÍCIA ABRAS
PROCURA-SE
Decisão da juíza garantiu a liberdade de Marco Túlio Fadel, este mês
A Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) do Estado estuda a abertura de investigação contra a juíza da comarca de Esmeraldas, Maria José Starling, por causa da revogação da prisão preventiva do delegado Marco Túlio Fadel Andrade e do detetive Jucênio Moraes Mendes de Oliveira. Os policiais estavam presos desde outubro do ano passado – acusados de tortura e coação de testemunhas – e tiveram a prisão revogada pela juíza, que atuava como plantonista, às 23h58 do último 15. Cinco dias depois, os policiais tiveram nova prisão decretada, mas, até ontem, continuavam foragidos. A libertação de Fadel levou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, deputado Durval Ângelo (PT), a fazer, na sexta-feira, representação contra a juíza Maria José Starling
junto ao procurador-geral de Justiça, Nedens Ulisses Freire Vieira, e ao corregedor do Tribunal de Justiça (TJ), desembargador Isalino da Silva Lisboa. Também foram encaminhados documentos que, segundo o deputado, comprovam relacionamento antigo entre a juíza e o delegado. O MP informa que a documentação já está sendo analisada para abertura de investigação. Um dos documentos é um despacho da juíza de 2001, que acompanha pedido de Fadel para que Maria José Starling determinasse “qualquer pessoa” como depositária fiel do Royale de placas LAY-2142, de Angra dos Reis, de propriedade de Aderval Tavares Carneiro. Ele é acusado de homicídio e, segundo o delegado, poderia usar o carro para fugir, apesar de já estar foragido. O Royale foi apreendido na casa de um filho de Aderval por problema no lacre da placa, e a juíza colo-
cou o veículo sob a responsabilidade do próprio delegado. “Este carro não foi devolvido e hoje está no nome do Fadel. Há uma relação antiga entre ele e a juíza”, afirma Durval. Em seu despacho, além de afirmar que a imprensa é culpada pela criminalidade, a juíza Maria José Starling ressalta ainda que “qualquer atitude mais rigorosa de um policial, seja ele civil ou militar contra estes violentos marginais, é tomada como abuso de autoridade”. “A imprensa cumpre papel social de fiscalizar os poderes e informar a sociedade. As críticas vão no sentido con-
trário à democracia”, diz o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas, Aloísio Lopes. Com as representações, o deputado também encaminhou à Procuradoria Geral de Justiça e ao Tribunal de Justiça processo no qual a juíza determinou, também de madrugada, a reintegração de posse de uma fazenda em Esmeraldas sem ouvir o Ministério Público. O ESTADO DE MINAS procurou Maria José Starling às 17h40 de sexta-feira, mas, no Fórum de Esmeraldas, a informação é de que ela já havia ido embora. Até o fechamento desta edição, não houve retorno da juíza.