ESTADO DE MINAS - QUINTA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 2002
PÁGINA 21
GERAIS
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❚ CRIMINALIDADE
HOMICÍDIOS OCORRERAM ENTRE 22H DE TERÇA-FEIRA E O MEIO-DIA DE ONTEM. SEGUNDO A POLÍCIA MILITAR, A MAIORIA DOS CRIMES ESTÁ RELACIONADA A TRAFICANTES, PRINCIPALMENTE, A ACERTO DE CONTAS EM VÁRIAS REGIÕES DA CIDADE. NÚMEROS DA VIOLÊNCIA AUMENTAM A CADA DIA
Nove pessoas assassinadas em BH em apenas 14 horas MARCELO PORTELA
Belo Horizonte amanheceu, ontem, marcada por extrema violência. Entre 22h de terçafeira e meio-dia de ontem, nove pessoas foram assassinadas. Os homicídios representam aumento de 350% em relação aos números do ano passado, quando foram registrados 744 assassinatos na capital, média de dois crimes a cada dia. E o pior é que 2001 já havia registrado acréscimo de 11,5% no número de assassinatos em relação a 2000, quando a Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV) contabilizou 669 homicídios – média de duas mortes a cada 27 horas. O primeiro crime aconteceu pouco depois das 22h de terçafeira, na rua Eli Seabra Filho, do bairro Buritis, Oeste de BH. A polícia encontrou o corpo de uma mulher aparentando 23 anos, morena, com cabelos castanhos e cerca de 1,60m, com dois tiros nas costas e outro na clavícula. Estava em local ermo, cercado de lotes vagos e densa vegetação, normalmente utilizado para encontros íntimos. Trabalhadores de uma obra próxima contaram à polícia que ouviram três estampidos à noite. Pouco depois, na avenida Cristiano Machado, altura do bairro São Paulo, Nordeste da capital, Miquéias Henrique de Arruda, de 18, e um homem conhecido apenas como Joaquim, de cerca de 30, foram mortos a tiros. Eles foram assassinados próximo à casa de Miquéias, em frente ao Bar e
Restaurante Prato Fino. Miquéias levou quatro tiros nas costas e na cabeça na frente de seu pai, Jurandir de Arruda, e Joaquim, que vestia camisa amarela, jaqueta e bermuda marrons, foi alvejado com seis disparos de uma pistola calibre 380. Testemunhas do crime e familiares de Miquéias acusaram R.I.R., de 17, que, após uma briga, teria jurado matar o jovem, fazendo ameaças. Ele foi apreendido no local e negou sua participação, mas, segundo a polícia, caiu em contradição. Ainda na madrugada, a polícia foi chamada na rua Padre Café, bairro Vera Cruz, Leste de BH, onde foi encontrado o corpo de Paulo César Macário Damasceno, de 21. Ele foi assassinado com tiros no rosto e no pescoço, e motivo e o autor do crime não foram esclarecidos. A situação é a mesma em relação ao assassinato de um jovem encontrado morto com seis tiros em um matagal próximo à rua Sérgio Rodrigues Gomes, na vila Corumbiara, região do Barreiro. Além dos tiros, ele recebeu porretada na cabeça e teve a orelha esquerda arrancada. O jovem é moreno, de aproximadamente 25 anos, e tinha tatuagens de teias de aranha no ombro direito e na mão esquerda. Moradores contaram que ouviram cinco tiros durante a noite de terça-feira, mas foram categóricos em dizer que não sabiam o que havia ocorrido. Ninguém na região reconheceu o jovem.
SIDNEY LOPES
CABANA
O tráfico seria responsável por, pelo menos, quatro homicídios, segundo a Polícia Militar
❚ PRISÃO
Polícia sem pistas dos criminosos O tráfico de drogas é uma das explicações para os homicídios na capital mineira, embora nenhum assassino tenha sido preso. A polícia suspeita de que os entorpecentes estejam relacionados com pelo menos quatro assassinatos desde a noite de terçafeira. Dois deles ocorreram no bairro Vista Alegre, no aglomerado da Cabana, região Oeste de BH. Por volta das 11h, dois homens perseguiram Genilton Pires de Oliveira, de 37 anos, até o interior de um bar, onde deram pelo menos 13 tiros nele. Genilton estava no Kadett placa LJY-9292, mas teve que abandonar o veículo na tentativa frustrada de esconder-se no bar. Também estava no veículo Frank de Freitas, que, mesmo baleado, conseguiu correr até outro bar, onde houve troca de tiros. Frank foi arrastado para fora e assassinado com vários tiros de pistola e cartucheira calibre 12. A polícia suspeita de acerto de contas. O motivo seria o mesmo que levou três homens a matarem, às 9h40, Wesley Renato de Morais, de 23, com 12 tiros, na rua Santa Cecília, no bairro Nova Cintra, região Oeste da capital. Ele estava com uma pedra de crack na mão e, segundo sua mulher, já havia sido ameaçado por causa do tráfico. Um rapaz conhecido apenas como Dário é um dos suspeitos. Andarilhos também atribuíram às drogas o assassinato de um catador de papel encontrado na rua Guajajaras, no bairro Barro Preto, Centro-Sul de BH. Ele foi morto com uma pancada na cabeça e a polícia procura um rapaz identificado como “Marcos”, suspeito de envolvimento no crime.
❚ CAPITAL
Vazamento Mulher usa filhos para o tráfico de drogas de amônia é ameaça
DONA DE CASA É ACUSADA PELA POLÍCIA CIVIL DE USAR DEZ FILHOS PARA DISTRIBUIR MACONHA NA REGIÃO DE CORONEL FABRICIANO, NO VALE DO AÇO, MAS ALEGA INOCÊNCIA E DIZ QUE SOBREVIVE VENDENDO OVOS E LEITE
LOURIVAL WERNECK
PAULO SÉRGIO/JORNAL VALE DO AÇO
SUSPEITA
Oderça Soares também é acusada de mandar matar o marido
Uma mulher já chamava a atenção dos vizinhos pelo grande número de filhos, 12, vivendo numa casa simples no bairro Mangueiras, em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Mas a dona de casa Oderça Soares Magalhães, de 46 anos, acabou ficando mais conhecida na região quando foi presa, acusada de tráfico de drogas. A prisão aconteceu depois de denúncia anônima, na semana passada, quando policiais militares encontraram, perto da casa dela, enterrado em meio a um matagal, dois tabletes de maconha pesando cerca de 1,4 quilo. O que mais chamou a atenção dos policiais na denúncia foi que Oderça estaria utilizando os próprios filhos,
oito deles menores, como aviões para vender maconha, principalmente na porta das escolas. Dos 12 filhos, as duas mais velhas não moram em Coronel Fabriciano e, segundo a polícia, não têm qualquer ligação com as atividades da mãe. Segundo testemunhas arroladas no inquérito policial, uma das filhas acusou a mãe de ter mandado o amante, de 16, matar, em 1998, o pai dela, José Juscelino Magalhães. “Ele teria descoberto os negócios da mulher; ela está com medo, mas acusa a mãe de ter mandado matar o pai”, informou a delegada Sandra de Oliveira das Silva. Segundo a delegada, o amante Floriano Correa Borges, hoje com 20 anos, está preso desde o início do ano, acusado de outro homicídio.
Apesar das acusações, Oderça continua negando que trafica droga. “Os policiais chegaram de manhã, quando eu estava à procura de uma conta de água. Reviraram meus objetos e dentro de minha casa não foi encontrado nada. Eu não uso armas nem drogas. Quero que provem as denúncias, pois na minha casa vendo apenas galinhas, ovos e leite de cabra e de vaca”, reclamou. Mas, para a polícia, o caso está mais do que esclarecido. Na última sexta-feira, a delegada Sandra de Oliveira concluiu o inquérito policial, indiciando a mulher por formação de quadrilha, porte de arma e tráfico de drogas. “Ela diz que vive apenas com a pensão e com a venda de leite de cabras, uma renda incompatível para quem já ad-
quiriu um terreno, duas motos e um carro, além de dois telefones celulares e vários aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos”, afirmou a delegada. Oderça corre o risco também de perder a guarda dos filhos. O caso já foi levado ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público, que deve decidir o que será feito. Segundo a delegada, o uso das crianças para tráfico de drogas já era conhecido na região. “Uma professora chegou a comentar que as meninas escondiam a maconha na calcinha para vender na porta das escolas”, comentou a delegada. A dona de casa aguarda agora a decisão da Justiça, mas não estará sozinha, os dois filhos maiores de idade também já estão presos acusados pelo mesmo crime.
❚ ESTRADA
MONZA DE UNAÍ SAIU DA PISTA E BATEU DE FRENTE EM CARRETA DO PARANÁ, NO KM 328, PERTO DE JOÃO MONLEVADE. RODOVIA É A MAIS VIOLENTA DE MINAS GERAIS, SEGUNDO LEVANTAMENTO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
Acidente mata quatro na BR-381 FERNANDA ODILLA
Acidente na mais violenta das rodovias mineiras, a BR-381, segundo a Polícia Rodoviária Federal, fez quatro vítimas na manhã de ontem. O Monza placa GNA3946, de Unaí, saiu da pista e bateu de frente na carreta placa AJM-6165, do Paraná, no km
328, em Bela Vista de Minas, perto de João Monlevade. O motorista da carreta, Anderson Cordeiro da Silva, saiu ileso. Mas todos os quatro ocupantes do Monza morreram na hora. Os corpos de Celso de Castro Freitas, de 26 anos, Jussara Maria da Silva Leite, de 25, Deusney Leandro Barbosa Castro, de 25, e Vera Lúcia
Castro foram levados para o necrotério de João Monlevade. A BR-381, que liga São Paulo a Belo Horizonte e vai até o Espírito Santo, lidera o ranking das estradas com maior número de acidentes no Estado. Registrou 30,55% dos 100.505 desastres do ano passado. Foram exatos 5.715 acidentes, com 216 mor-
tos e 3.016 feridos. Em segundo lugar, de acordo com as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal, está a BR-040, com 16,97%, seguida pela BR-116, na Zona da Mata, pelo Anel Rodoviário e pela BR-262.
SEM FREIO Também na manhã de ontem, um acidente na avenida Carlos Luz, envolvendo oito veículos, tumultuou o trânsito na região Noroeste. O caminhão placa GVP3332, de Belo Horizonte, perdeu
os freios e arrastou seis carros parados no sinal próximo à Faculdade Newton Paiva. Três Palio, um Gol, um Siena e uma Chevy foram atingidos pelo caminhão. Apenas o motorista Renato Luiz dos Santos, de 31, e a passageira Sara Lídia Pertence, de 51, do Palio verde placa GXW-8237, se machucaram. Eles foram levados ao Hospital João XXIII com ferimentos leves. O acidente aconteceu por volta das 9h, mas a BHTrans só conseguiu liberar o trânsito no início da tarde.
TELMA GOMES
O vazamento de amônia na tubulação da fábrica de refrigerantes desativada da marca Del Rey, na rua João de Deus Matos, 41, bairro Nova Cachoeirinha, na região Noroeste de Belo Horizonte, mobilizou diversos homens do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil Estadual e da Municipal, na tarde de ontem. O produto é corrosivo e pode causar intoxicação, irritação na pele, coceira e queimaduras.
BOMBEIROS Três bombeiros utilizaram roupas especiais de borracha e máscaras de oxigênio para se aproximarem do produto. Comandados pelo capitão Eugênio, do 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros, eles verificaram as condições de armazenamento do produto e fizeram o trabalho de prevenção e isolamento da área. A população acionou os bombeiros devido ao forte cheiro exalado pelo produto químico. Com o auxílio dos agentes da Defesa Civil, os policiais avaliaram os riscos de contaminação, verificando que não havia nenhum reservatório d´água nas proximidades do local do acidente. Os bombeiros combateram o vazamento e limparam a área atingida pela amônia.