E STA D O D E M I N A S
●
D O M I N G O ,
26
1 7
D E
O U T U B R O
D E
2 0 0 4
GERAIS AMAMENTAÇÃO
Ministério da Saúde faz campanha para incentivar o aleitamento materno, como forma de prevenir infecções e desenvolver o sistema imunológico dos recém-nascidos
Combate às mamadeiras EULLER JÚNIOR
LUCIANA MELO Bicos e mamadeiras estão cada vez mais na mira do Ministério da Saúde. A meta é aumentar o aleitamento materno em 20% até 2006 e, para isso, uma das ações principais é combater o uso destes produtos, principalmente em bebês menores de um ano. Para impedir que recém-nascidos tenham acesso a chupetas e mamadeiras, um trabalho de conscientização será desenvolvido em hospitais e maternidades. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), quanto mais cedo a criança começa a usar estes utensílios, mais precoce é o desmame e, com isso, muitos recém-nascidos perdem a oportunidade de fortalecer o seu sistema imunológico. Conforme a coordenadora de Política Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Sônia Saviano, para alcançar este desafio os gestores municipais e diretores de hospitais serão incentivados a adotar medidas que poderão dar ao estabelecimento o título de Hospital Amigo da Criança, concedido pelo Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para conquistar essa designação o hospital deve administrar várias práticas de promoção ao aleitamento materno. Uma delas é desaconselhar o uso de chupetas e mamadeiras. No Brasil existem cerca de 300 Hospitais Amigos da Criança, a maioria deles públicos pois as exigências para o título vão contra algumas práticas adotadas pelo setor privado. “Para ser Amigo da Criança é preciso realizar mais partos normais do que cesarianas. Essa não é a realidade dos hospitais privados. Mas queremos sensibilizar os gestores e diretores de hospitais para se esforçarem a obter o título e, com isso, incentivar a amamentação”, afirma Sônia Saviano. Além de interferir no processo de amamentação, o uso de chupetas e mamadeiras pode causar descida irregular dos dentes, aumento da incidência de cáries, infecções dentárias, distúrbios na fala e outras complicações. Para muitas mães a chupeta é útil porque ajuda o bebê a parar de chorar.
COMUNICAÇÃO No entanto, o “acalento” pode mascarar algum problema já que o choro da criança é uma forma de comunicação. “A criança chora por necessidade. Ela pode estar pedindo colo, a presença da mãe ou ter alguma problema. Nunca a resposta deve ser uma borracha na boca. Além de usar a chupeta para interromper o choro algumas mães oferecem o bico quando vêem seus filhos com o dedo na boca, com medo desse ato virar um vício. No entanto, as crianças passam por uma fase de descobrimento do próprio corpo e é interessante que a criança leve o dedo até boca, aos cinco meses, e coloque até mesmo o pé, pois tu-
A difícil mudança de hábito
A mãe de Melissa se arrepende de ter deixado de amamentar no seio. Já Marilúcia oferece o leite materno no copinho para Gabriela
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE Efeito das chupetas e mamadeiras na amamentação ¦ Diminuição na sucção e retirada do leite materno levam à redução de sua produção ¦ Há uma relação dose-resposta entre freqüência de uso da chupeta e duração da amamentação. Crianças que usam chupetas deixam a amamentação mais cedo (gráfico)
¦ As conseqüências mais comuns da respiração bucal são as amigdalites, rinites e sinusites provocadas por agressão do ar não filtrado, aquecido e umedecido e as mordidas abertas anteriores devido à interposição da língua na hora da deglutição (desenho abaixo)
¦ Possível aumento na incidência de candidíase oral e de parasitoses intestinais ¦ Possibilidade da criança se sufocar ¦ Bicos artificiais alteram os padrões de respiração e sucção do bebê, como expiração prolongada, freqüência respiratória e saturação de oxigênio reduzidas ¦ As mamadeiras, as chupetas e o hábito de chupar o dedo também levam a alterações das arcadas dentárias, provocando mordidas cruzadas e abertas, alterando todo um padrão genético de crescimento e desenvolvimento (desenhos abaixo)
¦ Bebês que usam chupeta podem ser amamentados menos vezes ao dia
¦ Dificuldade de bebês pegarem o peito após terem sido alimentados com mamadeira. O bico artificial pode interferir no aprendizado de sucção do bebê ¦ Cáries de alimentação em crianças são mais comuns com o uso de mamadeiras e chupetas
¦ Má oclusão dental é mais comum em crianças alimentadas com mamadeira. Quanto mais tempo de uso de mamadeira, maior o efeito nos dentes. O risco de má oclusão dental é 1,8 vezes maior em crianças que usam mamadeiras ¦ Maior incidência de otites médias agudas e recorrentes tanto com o uso de mamadeiras quanto de chupetas
TÉCNICAS PARA INCENTIVAR A CRIANÇA A DEIXAR O BICO E A MAMADEIRA Mamadeira ¦ Diluir o líquido de forma que a criança abandone a mamadeira pelo próprio paladar. Coloque mais água do que leite para que o próprio bebê ache ruim a mamadeira
Chupeta ¦ Ao adormecer, antes que a criança pegue no sono profundamente, diga palavras positivas, que fiquem gravadas no seu subconsciente, como “você vai abandonar o bico, pois é uma
¦ Limite o horário. Deixe que ele use o bico apenas para dormir, por
exemplo, e logo o retire. Não deixe que a criança use a chupeta todo o tempo e, principalmente, que ela fique pendurada no pescoço, provocando o risco, inclusive, de contaminação.
A recomendação do MS é que as crianças, ao serem desmamadas, consumam os alimentos em colheres ou copos, independente da idade. Na Maternidade Sofia Feldman, unidade que tem o título Amigo da Criança, os recém-nascidos prematuros, que ainda não conseguem mamar por fragilidade ou fraqueza para sugar o seio materno, recebem o leite da mãe em copos descartá-
veis. A monitora Marilúcia Nunes já aprendeu a oferecer o leito materno no copinho para a filha Gabriela Gomes, de quatro dias. O bebê ainda está internado para tratamento de icterícia. “Fui orientada a não dar mamadeira e vou seguir a regra. Ela aprendeu rápido, basta virar o copinho devagar. Assim que ela estiver mais forte vai mamar no peito”, ensina Marilúcia.
criança bem desenvolvida, não precisa dele”. Insista no assunto durante o dia.
Fonte: Isabela Almeida Pordeus, professora doutora do Departamento de Odontopediatria da UFMG.
do isso faz parte do processo de maturação”, ensina. O Brasil dispõe de uma legislação para normatizar a promoção comercial de chupetas, bicos e mamadeiras, assim como dos alimentos indicados para consumo de lactentes e crianças de zero até os três anos de idade. A embalagem desses produtos contém advertências sobre a necessidade do aleitamen-
to materno e os malefícios de bicos e chupetas. A lei proíbe a propaganda desses produtos em qualquer meio de comunicação. É proibido a realização de estratégias promocionais para induzir vendas ao consumidor, como cupons de desconto ou preço abaixo do custo, prêmios, brindes e vendas vinculadas a outros produtos não cobertos pela norma.
Especialistas enumeram as vantagens de manter a amamentação e com isso evitar o uso de bicos e mamadeiras. Mas por ser algo cultural, já que esses produtos fazem parte da maioria dos enxovais de bebês, a conscientização de muitas mães é ainda um grande desafio. Mesmo com toda a militância do Ministério da Saúde e profissionais da área, a situação ideal ainda é algo a ser construído. O diretor clínico da maternidade Sofia Feldman, José Carlos Silveira é um destes “militantes”. “Começo pelo argumento de que o leite materno é o adequado para a espécie humana. Crianças desmamadas no primeiro ano de vida têm três vezes mais chances de ter diarréia, duas vezes mais de contrair pneumonia e estão mais predispostas a alergia, asma, bronquite e intolerância alimentar. Quando mamam no peito recuperam-se mais rápido de doenças, pois recebem os anticorpos da mãe”, enumera. A maternidade recebeu o título Amigo da Criança, em 1995, e desde essa época é um dos locais de maior promoção do aleitamento materno da capital, viabilizando a permanência das mães carentes que precisam acompanhar seus filhos internados no Centro de Terapia Intensiva ou Berçário Intermediário, mesmo após a alta médica das parturientes. Elas recebem vale-transporte diariamente e, para passar o dia ao lado do filho, alimentam-se no local e têm acompanhamento multidisciplinar, com salas de descanso e oficinas terapêuticas. Nem todas as mães resistem às mamadeiras e chupetas, mas algumas se arrependem. A estudante Miriã dos Santos, de 17 anos, mãe de Melissa dos Anjos Maiade, atesta as complicações que teve após a filha ter sido desmamada. A menina foi amamentada apenas até os três meses e logo que começou a tomar o leite em pó surgiram os problemas de saúde. “Ela teve alergia, bronquite, infecção nos dois ouvidos e conjuntivite. Voltei a estudar à noite quando ela estava com três meses, e nesta época comecei a dar a mamadeira”, conta. “Aqui no Sofia Feldman eles não quiseram deixar eu dar o bico, mas quando chegamos em casa eu dei. Ela chorava muito de noite. Agora já é costume”, conta.
ESTRADAS
Acidente mata quatro JUAREZ RODRIGUES
Polícia rodoviária alerta para o risco nas rodovias, como a BR-381
Quatro pessoas morreram em um acidente no km285 da BR-452, próximo à cidade de Araxá, região do Alto do Paranaíba, no final da tarde de ontem. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, o ônibus, de placa VYE-1415, era clandestino e vinha do Ceará com destino a São Paulo. O número de passageiros não foi divulgado pela polícia. Os feridos foram levados ao Hospital Municipal de Araxá. Na manhã de ontem, um aci-
dente na BR-381, quilômetro 334, deixou a pista totalmente interditada durante três e meia horas. A batida lateral entre um caminhão baú e um caminhão cegonha, de São Bernardo do Campo (SP), deixou quatro pessoas feridas, entre elas duas crianças, que foram socorridas no Hospital Margarida em João Molevade. As Polícias Rodoviárias Federal e Estadual não registraram aumento do número de veículos trafegan-
do nas estradas mineiras neste sábado seguinte ao feriado de 12 de outubro. O movimento não foi atípico mesmo considerando que várias pessoas emendaram o feriadão prolongado. Apesar da normalidade, o inspetor da PRF, Aristídes Júnior, alerta os motoristas para o risco de acidentes principalmente na BR-262, entre Belo Horizonte e Pará de Minas, na BR-040, entre Belo Horizonte e Congonhas e na BR-381, consi-
derada a mais perigosa, entre Belo Horizonte e João Monlevade. “A atenção deve ser redobrada não por causa do movimento, mas por causa das condições das próprias estradas”, disse Aristides Júnior. O feriadão de 12 de outubro foi o mais trágico nas estradas mineiras nos últimos cinco anos. O número, divulgado pela PRF e PRE, foi de 43 mortes, 38 das quais ocorreram nas rodovias federais e 8 nas estradas estaduais.