1854-jacorvo

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AS BIIJMASDA MADEIRA E POWO-SANTO

J0i0 DE ANDRADE CORVO,

W 1 0 R ? Y I C T l I O DA ACADEMIA

PEAI DA6 GCIEhCIAS DF? LISBOL.

B1IEiPiCBRIb E. %SEllOnl.< SciiinE A a M A 3 G R i u OII DOENCA DAS VlXRhS, #AS IL1I.U DA. ;\l',Dm.h

E PORTO-SANTO.

AS ILHAS DA i.iADEIRA E PORTO-SANTO.

H ~ v ~ n recebido no da Academia, em Jullio de 1853, o honroso mas difficil encargo de ir observar a doenp das vinhas na Ilha da Madeira, julguei do meu dever estudar, nos dois mezes de Agosto e Septembro que passei naquella formosa ilha, não só todos os caracteres qiie ali apresentava o terrivel flagello e,os immensos estragos que produzia, senáo táobem o estado da agricultura em geral, as causas da decadencia rapida da produccão e do commercio, a physionomia liistorico-natural e as fontes de riqueza d'aquelle paiz, destinado pela natureza para ser prospero e rico, e que a incuria de máos administradores, a ignorancia da maior parte dos lavradores, e principalmente tima organisaqão da propriedade absurda e esterilisadora tem levado á quasi total ruína. Para levar por diante estes estudos, foi-me necessario muitas vcees recorrer aos lavradores mais intelligentes, para delles obter estlarecimentos, qiie só pessoas experientes e conhecedoras d a ilha me podiam ministrar; foi-me necewrio táobem muitas vezes pedir a coadJuvaqào das authoridades; 6)e nos lavradores e authoridades acliei ( ) b v o agradecer aqui ao governador civil o Sr. Visconde de Fórnos e ao secvetario do governo o Sr. Guerra Quaresma a bondosa condescendencia, com que me laciiitaram os esclarecimentos que Ihes pedi ácerca da agricultura e commercio das l!has da Nadeira e Porto-Santo. Tãoúem agrades0 aos srs. Andrade, Leão Cavalleim, Neredia, Luis d'orneflas, AbreuRego etc.. os favores com que me honraram. e a s inbrmaqões interessantes, que me ministraram, e que de muito me serviram na confectão destas memorias.

sciilpre: bom acolhimento e bons desejos de me ajudarem. A q ~ li k s , dou a todos os meus sinceros e respeitosos agradecimentos.~ O resiiltado dos mekis trabalhos, na Ilha da Madeira, apreseiltal-os-hei successivamente á Academia em tres memorias., 1. Memoria sobre a mar~graou doenca das vinhas nas Ilhas da Madeira e Porto Santo., 11.. Considerações ecoiiomicas sobre as Ilhas da Madeira e PortoSanto. IIN. Estudo sobre a constituição physica, a historia natural e a geologia d.as Ilhas da Madeira e Porto-Santo.-

CAPITULO I.

YBIITES DA CULTURA DA VINBA.

A

ILHA da Madeira, situacta entre 32" 49' 44" e 32" 37' 18' de latitude boreal, esit colloeada proximamente no centro da regiao agricola das vinhas, que se estende, no hemispherio norte, desde Trnxillo no Mexico a 8" de latitude até 52', quando as circumstancias da exposiçào e do só10 lhe sào favora~eis. Sendo a ilha uma grandiosa serrania, que se ievantaem montes mais ou menos ingremes, desde o nivel do mar até á altiira de 600r0 pés, claro está que a vinha se não páde cnltivar ali senão em parte do terreno aravel. É sabido que a temperatiira da atmosphera diminue nas montanhas, em proporcão da sua elevacào, da sua inolina$20, e da- latitude cm que se acham. Nos climas temperados póde-se calcular que, quando as montanhas se elevam abruptamente, a tima differença do nivel de 600 pés (*) corresponde a ditlerenca de um gráo na tempcratura, e quando o declive das montanhas é suave, esta dif-

(*) A relasão entre as diferenças de ni~sele as diferensas de temperatura está ainda bastante indeterininada; e par isso os numeros de que nos seruimos aqui &?o &a rigorosamente exactos,

6 f e r e n p só se encontra de 700 em 788 pés pouco mais ou menos. Segue-se d'aqui, e é esta a opinião dos phisicos, que uma elevaqào dc iiivel de 6 15 p& (200 metros) produz em geral u mesmo abaixamento de temperatiira, que produziria a aproximaqào do pó10 de um a dois gráos. A vinha, planta delicada e que carece de receber, desde qiic a suas gemmas principiam a rebentar até os cachos estarem perfeitamente maduros, um calor total de 4000" (*), que precisa estar debaixo da accào de iima temperatura pouco variavel, e que suba successivairiente de 9" pelo menos até 20", não póde fructificar nos logares niiiita elevados da Madeira, e por isso a sua cultura, com proveito, é só possivel ma zona das montanhas, comprehendida, pouco mais ou menos, entre sxjiossolares. Wmaior ou menor inclinacão do só10 influe tiio poderosamente na veg;etacão da vinha, como na diminuicão da temperatura. NOMonte, por de~trásdo Funchal, cujo declive é muito rapido, a vinha sóbe só a 17001 pés; no Curral das Freiras, profundo e estreito valle que desce :iié ao mar seguindo a direccào da ribeira dos Soccorridos, limitado por miorites cortados a prumo qiie o abrigam, encontra-se a vinha cul~ivada na altura de 2080 pés. No Páo Branco, por cima d e Camara tle LoXbós a vinha acha-se cultivada com proveito na altura de 1922 gtis. Siegundo as ohserva$es do sr. major Azevedo, o limite da culEsta somma dos gráos d e calor, de que, dizemos, a 'vinha carece para o seu (s/ cornplet~edesenvolvimento annual, Ocalculada pelo methodo de Mr. le C.'Qe Gaspariu ,; é a somima total dos minimos ' thermomelricos do dia, e dos maximus observados ao sol, n'uim thecmometro posta a OO,mOOi debaixo da superficie do sólo, Quando os physiologisttas cornegaram a eompfehender a importanoia da acyão do calor sobre as plantas, esta sonnma das temperaturas era calculada sommando simplesmenlc. as m e d i a s , o u l o sommaudo as maximas diarias, a partir do primeiro d'bbril, ou de oulra~qualqner Gpoca arbitraria, ai6 ao fim da maturacão dos fruclos. &ir. Quetclet, considerando a h r y a ekercida pela femperatura sobre as plantas como sendo da iialureza das farsas rivas, propõe sommar o3 quadrados das medias temperaturas; a contar da hpoca e,m guc applarecem os primeiros pbeuomenos da vegetaeão,

tura da vinha. 1x0 Estreito fica a 2306 p&,, proxímamente, acima do nivel do. mar. Na Camacha a vinha fructifica a 2200 pés.. Não só a altura influe sobre a cultura -da vinha, senão tãohen~ .a cxposi@o. As exposicões mais favoraveis na Madeira s d õ a s exposi@es ao sul, e ao sud'este; as menos favoraveis ao norte e~cr-oeste; por isso a vinha no sul da ilha sóbe a pontos mais elevados do q n e 110 norte. A influencia destes tres modiilca&ôres, altura aeinia do nivel do mar, declive, e exposicào, não se torna só. manifesta quando se quer aleterminar o limite superior que nas differentes freguezias da ilhr rem a cultura da vinha ; fãobem a sua influencia nas-qualiaades:d i uva produzida, e conseguintemente nas propriedades do vinho que desm uva se e ~ t ~ ai eà ,o perfeitamente evidentes. Em primeiro logar póde fazer-se uma grande eaivisào cla$viiilii~!s~ <&I Madeira, hndada na siia posi$o geographi'ca, em vinhas do siil, e vinhas do norte. São as primeiras. em geral, que produzem os vinhos preciosos d i Ilha, e as segundas os vinhos ardinarios. Nos seguintes mappas dos medios e maximos prqos. &o barril dk vinho, arbitrados pelas camaras municipaes em 1851 nos diversos concelhos, póde vêr-se a demonstra$ào desta preposicào.:

2'1.eços n1eúzo.s por fiarvil arbi~vadosyeCas camaras aos vihhos dos diversos comefios da Madeira.

Pregos tnazinzos por Lar~il,arbitrados pelas camaras n~utziciyaesaos vinhos dos diversos concelhos da Madeira.

irdedia maximo preeo

......... 13716 r s . l ~ e d i amaximo

pre-o

......... 13~00r s j

Vê-se por estes valores medios e inaxiinos dos vinhos do norte e do sul, que em geral as qualidades destes ssào superiores ás d'aquelles. As cainaras muriicipaes, ao arbitrarem valores aos vinhos em cada uma #?as freguezias das ilhas da Madeira e Porto Santo, dividem estes em vinhos de primeira, segunda e terceira sorte, e, como os valores dados a esses vinhos esvào em relacào directa com as suas qualidades, claro está, que os valbres medios dos vinhos do norte e do sul representam com bastante exactidào o merecimento relativo de uns e outros. Estes mappas dos valores medios e rnaximos dos vinhos ainda mosiiaim tàobem, em relac%oaos concelhos do sul, a influencia que tem sobre as qualidades do vinho a altura a que se cultiva a viilha acima do ~niveldo mar. Em dois coilcelhos liinilroplies, ambos do sul da Illia, ein Camara de Lobos e na Ponta do Sol, por exemplo, achamos uma grande differen~ailas medias dos valores arbitrados aos vinhos de prii~ieira,segunda e terceira sorte,

FTaEbres mecíios dos vinhos crn Cnmara rle Lobos. 1 ." sorte. . . . . . . . 48320 rs, 38440 B 2." n . . . . . . . . 0 n n . . . . . . . . 28000 a

...

Iraldres nterlios d ~vinhos s na Pont a do Sol. sorir, . . . . . . . 18900 rs. 2." . . . . . . . . 18435 3.' » . . . . . . . . $840 » ,j

Se buscarmos as causas desta grande diKerenp, ser-nos-ha facil cilr
9 As differen~as,porêm, que se encontram nos valores dos vinhas nas freguezias do sul, nào se devem attribuir unicamente á altura, a que se acham os terrenos dessas freguezias, em que existe a vinha; as boas variedades de vidonhos cultivados, e accidentes do sólo, que apresentam ás vezes excellentes exposi~õese admiraveis abrigos, são duas poderosiçsimas causas do alto valor do vinho n'algumas localidades da Madeira. Ha sitios na Ilha famigerados pela excellencia dos seus vinhos; é entre todos notavel a Fajan~dos Padres, propriedade que foi dos jesuitas, situada entre uma montanha e o mar, e abrigada dos ventos do norte, pelo mesmo monte de cujos detritos é formada. É aqui, e em parte do Paul do Mar, ciija situacão é muito similhante á da Fazenda dos Padres, que seproduz o melhor malvasia da Madeira. Nos recostos pouco elevados ao oeste do Funchal, em grande parte das freguezias de Camara de Lobos e Estreito, na Calheta etc. ei]contram-se vinhas cujos productos sào muito estimados. A distribui$ão, porêm, desses logares privilegiados pela natureza n%ose póde sugeitar a regras, náo é possivel sempre achar a razão da superioridade deum sitio sobre outro sitio, para a produccào desta ou d'aquella qualidade de vinho. Só ha dois principias incontestaveis, os qilaes se podem applicar a toda a Ilha, quando se trata de avaliar em geral o merecimento das vinhas: Os vinhos produzidos no sul são superiores aos produzidos no norte : 0 s vinhos produzidos em localidades situadas a menos de 5U0 p6s de altura sào superiores aos produzidos em localidades mais elevada. Na Ilha- de Porto-Santo só se cultiva a vinha em lugares nãio muito elevados, e os seus productos sào pouco apreciados.

8 6 ~ 0 X ~ I QQX SB CULTIVA A VINHA.

A Madeira é, á exceppo dos depositos calcareos da Ponte de S. Lourenp e de S. Vicente, toda formada de rochas de origem volcanica. Além d o basalto, ora em espessas assentadas, ora em extensos diques, 2

-a de escoriiaç .~naisou .Fenos profundamente desaggregadas, e de diorite em esferoides, jw1:ite oi.6iculqr., s vezes. muito alterada, pode-se, e m todos os: contos. da Ilha, observar .dj@erentescong1omerados e tufos verm ~ l ~eo amarellos s em camadas sobrcpw%ascoin:bastante regidaridadc,. Xstes conglome.rados.e tufos, forinados de subsiancias volcanicas, - apre. . bastante yariebade no seu aspecto, e c o ~ ~ t i l uplrysica, i ~ . ~ mas sentam nào deve& differir rniii$o na composi$iào ehymica. É á eusta destas ~ c i a a s que, , o solo araWel-é formado. Como o Lacrima-Christi, e o s exrellentes vinhos do Etna é ovinho da Madeira :produzido por plantas. ~t+l~ivada:s em sólos volqnicos.. Os pr~ncipaes.sóloi -<m-. 0.cascalho,, só10 formado pela dwomposii~od e conglomerados baaalticps. Q slaidro,. firmado á custa do: tufo vermelho; e crija composirão, é, .segundo Bowdich, em 100 partes:; : 4&8 : d e silex ,.::9.t d'alumina , 21.3. .. q o ~ i d o d e ferro, 2.7 de soda, 3.8 d'agiia, 10.3 de substancias, organicas,-Como. a vinha earece-para vegetar :de principio* que Bow-. dich, n a encontrou no mióro, ella com tudo praspera. muito, &oese deu-e talvez copsiderar esta aiialyse coino rigorosamente exacta. A pedva. mole, só10 produzido pelo tufo. amamllo, c u j . composi-. ~ à diffeye o pouco cia du saibro, mas, que apresenta menos aKpegacào. do que este.. O:rnassp~;s notavel, por conter bastante argilla; e apresentar g-is t e w i d a d e p e O S outros :sólo& Os'!hn~.r~h, sólos aliuninosos de cor avermelhadi.. 'Besttes sólbs os: mais convenientes para a cultura &a vinha suo-a. .rnih>.o, a pedra n~oZe, e o só10 que resiilta, Cia inis~r,adestas~:duas. es-. .~ . .gecics de terras Das outqas.:varjed&+~ deseriptrts . a, mellior, 4 . o.??ias7 .rape>. n o s bgrtres;.oude é possivel . ~ ~ ~ ~ e r vuma. @ d&umidade he nZo, ex-sessiva., No. ]Porto-Santo. a. vinha é ciiltivadã n'um só10 formadò pela des-aggregaqXo de um calcar.eo terwso, t: grosseiro que assenti sobre rochnç, d.e origem. aolcanlca. 111 ERIWCIPAES VARIEDADES DE VINUA, GbLTNIDA8 NA a i * w l R A b

+cem conhecida, de todbs. o s que se deacgm aaos estubos\ bota-.picos, a fajciLidade[qiie teem muitas esp-ies aegetaes ,de dar origem % variednctess; a utilidade que . .. . aagricq.ura, . :em geral, tem sabido.tiraz-

e

11 dessa propriedade admizavel das plantas. &em parte essa faculdade de se metamorpliosear, que possuem as plantas, que tnrna por vkzes tào difficeis as classificaqòes botanicas, e póe em confusào os quadros systtzmaticos, em que os naturalistas se esforpm por abranger todos os individuos do reino vegetal. Ein muitas das especies, que servem para a aliinentaqào do hoinem, ou para os seus prazeres, encontramos nós exemplos da pasmosa fecundidade da natureza em criar fórmas novas, e da faculdade que teem os vegetaes de aperfeiqoar, por vezes simultaneamente todos os seus orgàos, por vezes alguns orgàos iinicainente, sacrificando a esse aperfeioamento outras partes do organismo. Uma das especies porêrn d e que, sem duvida, conhecemos maior numero de variedades é a vinha. O numero dessas variedades, nào é com tudo tào consideravel, quanto poderia imaginar quem retinisse todos os nomes, que se dão aos vidonlios em cada districto vinhateiro, sem procurar conhecer se ao mesmo viclonlio compete mais de um desses nomes, isto é, sem prow r a r conhecer a synonymia das variedades da vinha. A necessidade de iima synonymia completa é reconhecida em todos os paizes onde a ctiltiira da vinha tem grande extensào. Algiins esforqos se teem feito, para conseguir que essa synonymia se estabeleqa sobre bases seguras; homens distinctos pela siia sciencia, e dignos de admiracio pela constancia, pela tenacidade com que se entregaram a iirn trabxlho difíicil e de resultados pouco brilhantes, ieem coi~tribuido efficazmente para os progressos da amnpelogrnphia; collecqões de vidonhos reunidos ein museos, onde se torna facil comparar-lhes os caItacteres botanicos, e estabelecer seguramente a identidade ou diííerenyas que entre esses vidonhos existem, tàobem teem auxiliado os progressos da sciencia, mas infelizinente nào tanto, quanto se poderia esperar de taes estabelecimentos; é certo, porêm, que a nmpelogrnpl~in está longe da perfeiqào, mesmo nas nayões em que, para o seu adianLamento, mais sacIificios se h20 feito. O que ha de desanimador ainda nos trabalhos sobre a synonymia das variedades da vinha é, qtie os rcsiiltados obtidos n'iim paiz podem servir, sim, para termo de compasa$ào para os trabalhos analogos n'outro paiz, mas nnnca sào applicaveis sen'ào áqiielle onde foram emprehendidos. É esta talvez uma das razòeç que, junta á difficnldade inherente a tarefas desta natureza, tem concorrido para aííastar do estudo da nmpelogaplria os homens da sciencia d'alguns paizes, onde a cultura da vinha tem grande desenvolvimento, e é iima das fontes mais productivas da siqlieza agricola. Em Portugal, póde aizer-se qiie

$2 o estudo da synonyinia das variedades da vinha, e mesmo O estudo dos caracteres botanicos dessas variedades está por encetar. Nào é pois lima descripção das vinhas da Madeira que eu posso dar aqui, apesar do desejo que tinha de o fazer; apresentarei apenas o que, a respeito d'alguns dos vidonhos mais interessantes, pude colher nas informacões que obtive d'alguns cultivadores de vinhas (*) e nas obras sobre a Madeira de Bowdich e de Driver, e o que nas rarissimas planitas, ou antes nos rarissimos ramos e fructos isentos de doencá, que encointrei na ilha, me foi possivel observar. As variedades principaes de vinha, que se cultivam na Madeira, são as seguintes: BuaL-Uvas de um branco alainbreado; bagos poiico unidos de pequena grandeza. Parras com as quatro divisões superiores muito profundias e agudas; pellos em ambas as faces. Julga-se que esta variedade de minha foi trazida de Bucellas para a ilha; ha, porêm, quem pense que ella veio de Borgonlia. Sercia2.-Uvas amarelladas de bagos redondos. Parras com quatro lobos arredondados; nervuras salientes; de um verde amarellado. Esta variedade é a conhecida em Allemanha com o nome de Hock. ~llaluasia.-Ha quatro qualidades de Malvasia. A candila ou cadel; a maluasia yoxa de bago redondo; a badosa de bago branco e um tanto alongado; e a maluasia propriamente dita. Destas variedade a principaR é a canúila, esta dá caehos grandes e avaes de bagos ovados e côr (de onro, parras de côr amarella esverdeada, com quatro divisões, miiiito pro£undas, e redondas, e com duas menos distinctas; cada dentadiiira tem nma ponta pequena e amarellada. Esta foi a primeira variedrade de vinha introduzida na Madeira pelo principe D. Henriqiie ein 1445, vinte e seis annos depois da drscuberta da ilha; é originaria de Candia. Como a posicão da ilha da Madeira é qiiasi identica á da ilha de Gndia, em relacão á direccào da linha isotherma dos 20°, nada ad1niii;i que esta variedade prosperasse 'na Madeira. Negra nulle-Tin~~. (). W ~ a pretas s de bago redondo. Parias d e scte lobos, com sinuosidades mnito profundas e redondas; de cor verde esciira com pontuacões purpurinas. Negrinha.-Uvas pretas, pouco preciosas. necessario para d e l l ; ~ ~ .

(i') klgumas obseruaqóes sobre este assumplo devo-as aos srs. Abreu Rego e Leão Cavalleiro. Creio que estas duas ~ariedadesse podem facilmente distinguir; desconlieco, ( polêm, quaes os caracteres que a s distingwm uma da outra.

se fabricar vinho de algum merecimento sujeitar á accão do sol, oito ou mais dias, as uvas depois de colhidas. Yerde2ho.-Uva de hago amarello, oval. Wrras com sete lobos, com sinuosidades pouco profundas, de cor verde escura. Esta variedade k das que sobem a maiores alturas. Tarrante's.-Bago roxo escuro; alongado. Bastardo.-Bago preto, e redondo. 1sabelle.-Cachos grandes-bagos arredondados de um iòxo rscuro, de pelle grossa, muito abundantes em sumo; com um perfume um pouco similhante ao das magás.-Parras grandes', pouco divididas, com a pagina inferior coberta de pellos abundantes. Variedade americana da vitzs vu&ina; Eis aqiii uma descripqão, de certo incoinpleta, dos principaes ~ i donhos cultivados na Madeira. Nesta meinoria teremos mais de uma occasiào de a elles nos referirmos, e por isso esta descripcão, embota imperfeita, ser-nos-ha de alguma utilidade.

Umagrande extensão do só10 da Madeira, onde a vinha póde SPP cultivada, acha-se situada no pendor aspero e escabroso de altas moiitanhas, onde a terra vegetal nào poderia sustentar-se e seria arrastada pelas c h u ~ a storrenciaes do outono até ao mar, a náo serem os muros de pedra solta com qiw os cultivadores a sustentam. O aspecto das montanhas da ilha na siia exposicào do sul, e até á altura de 3000 pés pouco mais ou menos, é extremamente curioso e pittoresco; os siicalcos, ~evestidos de basalto, destinados a suster a terra dispõem-se uns sobre oiitros como degráos de uma escada collossal, e de cima desses sucalcos, aqui se debruqain os pampanos da vinha, ali brilham ao sol as formosas folhas da ynhaine, mais longe levantani-se a bananeira, a mangueira, a nespereira, a anoneira e oiiiras arvores dos t+opicos, e por toda a parte as fuxias, as rozeiras, os tulipeiros, e as mnuucujás mostram as suas flores e os seus frnctos. E nestas pequenas por@es de terra, roubadas pela indiistria e pelo trabalho incessante á acqào dos agentes abmospliericos, qiie as inais preciosas vinhas do sul

I:& sào cultivadas; e dtaqui já se. póde concluir o seu a l t o valor, o.. imrnenso capital e trabalho que n'ellas está empregado, e o pre.0 e 1 ~ 1 vado que os vinhos devem ter, mesmo em annos. de producyào regular, para poderem pagai.. aoscultivadores os sacrificios que Ilies custa a cultura da viulia. Eni relaqào ao modo de cultura da uinha pbdedividir-se a ilha exii duas regi6es principaes; a. regiào do norte, onde. a vinha é sustenwda. sobra castanheiras, e outras arvores altas; e a regiào do sul, onde geral a vinha se estende horisontalmente sobre grades de canna e salgueiro jinlis ruõra-) a quatro ou cinco palmos do. chzo, em lad a s de grande desenvolvimento. No siil, porêm, ha, além deste modo de sustentar a s vinhas em, Inradizs Que descrevemos, dois outros modos de dirigir o seu crescimento.-Ra:as vinhas em corredor, que sào as q ~ i eestendem as suas; a r a s . sobre parreiraes altos; e lia as vinhas de pé, que são as que: crescem saobre o só10 privadas, ou cluasi privadas cle apoio: Das vinhas. tratadas p o r estes diversos processos, as que geralmente $20 prodiietos mais apreciaveis sáo as das latadas baixas. A cultura e plantaqào das vinhas é, na Madeira, feita coin bas,rant"e cuidado, e perfeiqào, o que infelizmente nào succede 5s outras plantas uiteis, Com tudo os processos adoptados n'essa cultura nào sào tal<ez os mais convenientes, copo vamos vêr. A plantayào faz-se em vallas da. profundidade de quatro a seis pés,-nas quaes se lailqam pedras solltas para o escoamento das aguas, e boa terra com tima cariiada.de 11nato.-OS bacêllos sào tirados cle alguma das variedades. mais vigorosas dasyinhas, e depois sào convenieri.teinente enxertados. Uma plantaqko,r de mil bacêllos importa, termo ineclio, cincuenta mil réis,, segi~~ndo. :nuticiu dada por ciiltivadores i~elligcnies,. .~e/or
$5 pkntas fraciis, aiem $isso é sabido que, no nosso kiemi+hétio, :além, de certo limite para o -si11 a cultura da vinha se torna impossivei pelo grande -vigor da sua vegetaçào, e que, em todos os logares onde n elima-f6r extremamente favorável a esta planta, se se nào puzer obsta-: eUlo á sua excessiva d ~ ~ e n v o l u ~haverá áo, tima graiide exwberahcia de orgàos vegetativos, -desenvolvidos á ,ciista de uma limitada prcctticqão dos. orgàos da friictificaqàu; quando se quizer pois apreciar os incon? ~enientesou as vantagens do modo de plantago dos bacêllos adoptado geralmenteno sul da iifacleira, será indispensavel ier em attenyào estas. eircumstancias. de gwnde complexidide; e só se poderá, fundamentar censura valiosa sobre resultados de tima ezperiencia (que infçlizmento ainda se-nào fez) de qtre se posçj concluir,. qual' o espaqo mais conveniente 'a deixar entre os bacêllos na região; sul da Madeira. As vinhas Goincqam a prndnzir friictos, aproveitaseis. -para a fa-bricaqào do vinho, tres ou. quatro annos depois da siia 'plantacào, -e eniào ellas sào tod.os.os annos sugeitas a variadas;-operagúes,qiie favoreceiri. a sua productividade ein fruetns, á custa de-certo da sua -ilhraqão. Qual seja a época mais conveniente da pódá nào é .ponto em qu8 haja, perfeito acordo entre todos os lavradores; uns preferem o mez de Fevereiro, outros- o de Marco, e alguns., hoje suppõein ser a melhor póda a que se practica ein Janeii.0. O , processo gerãlmente adoptado na practica desta oporaçào ~ e n d ea dar de anno para anno. um maior, desenvoluiinenio ás- videiras, e conseguintemente a enfra-, quece-las., e a torna-las mui sti.jeitas a doeu@* que as, desiróem; este prccbs& de póda cõmpridá 6 , principalmente no sul da ilha, segiiido nas. Zutadas e cor~cdonei,e o seu res'ultado é estarem ao.cabo de quinze annos de existenoia,. e ainda menos, estas vinhas e& muito &and& decadencia;. A prefereiicia, com tudo, a dar á póda curta ou -á'póda: comprida nào' &pende do capricho do viticultor;- a cada variedade d e ~ i n h acoiilpete uin modo especial de póda, e nào seguir nesta oper a @ as.indicagóes ~ da experiencia:é, ou scrificar a pro8ucqào da vinha,. ou sacririoar a s c6pa.i. Ha plantas qne dào ftuctos logo n a s gemmas. o u borbulhas mais inferiores, a estas compete a póda curta; outras. variedades de vinha h à , cpie só fructificam nos.rainos- que teem grande dese~volvimento,.n'estas deve empregar-se a póda comprida.. E n'estt?ultimo caso estào as variedades preciosas- c~i~tivadas ao sul da Madeira;. o' que, comtudo, nào deva talvez justificar o habito, em que estiào os: ~ultivádores,de d&ruin extraardinario dêsen~o~virnento ás videiras cnlGivadas em ZatacIas e corredores.: Todos os. CEnologos coiifessam, qiie,. ma ct~lfrirada vinha;. é a ..póda . a operaiào mais diificil; e só a e x ~ e -

6, porêin,

necessario quasi sempre apressar a vindima, e mesmo leval-a a cabo antes do completo amadurecimento das uvas, por causa da grande quantidade de lagartixas ([acerta agilisi, e ratos, que atacam as vinhas, e lhe devoram grande parte dos fructos. Eis aqui, segundo as informacões que obtive, o tratamento dado ás vinl!as rnui geralmente no sul da Madeira, nos annos anteriores a 1852; época em que a fatal molestia se manifestou na Ilha.

DOS VINHOS.

Na Madeira e Porto-Santo produzem-se muitas qualidades de vinhos, algumas das quaes tem grande importancia no commertio, e outras só são proprias para o consummo interno das ilhas, ou para serem distillados nas fabricas de agiia-ardente. 0 s vinhos mais conhecidos pelas suas qualidades são: O Bual-vinho branco delicado e maduro, de alto preco; podendo ser consiimmido quer quando novo, quer quando velho. Este vinho é extraído das uvas do mesmo nome. O Sercial-vinho sêw, de &r alambreada, aromatiw e de fino perfume. Este vinho só adquire todas as suas boas qualida'des no fim de annos. É produzido pela variedade de vinha sercial, que descrevemos. O Malumia-vinho de côr alambreada, muito apreciado pelo seu perfume e comparavel ao Tokai; mas que a ilha da Madeira produz s6 em pequena quantidade, e em logares muito pouco elevados. A Tinta-vinho tinto bastante agradavel, e que se assemelha 1x0 sabor e qualidades ao Porto. A fermentação fazendo-se em contacto com o engaço, dá a este vinho o sabor adstringente. O Ma&ira-vinho, de todos o mais conhecido nos mercados da Europa e da America, branco alambreado; quando amadurecido pelo, tempo, de um delicado perfume. Este vinho é o resultado da mistura de uvas das variedades Verdelho, Tinta, Tarrante2, Bastardo, e Buab. O Vinho pnllih-vinho de pouco valor feito de verdelho, e darificado (*). ( ) Esta descripyZo dos vinhos da Madeira não é completa; sáo estes, com !udo, os vinhos mais geralmente conhecidos co mercado. Parece que antrgamente mais al-

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18 Para a fabricacão dos vinhos mais preciosos da Madeira faz-se escolha dos cachos de uvas melhores, logo depois da vindima. As uvas levadas ao lagar, são espremidas, primeiro por homens que as pizam, depois pela pressão da vara, e o liquido assim tirado d'ellas é levado em odres para ps cascos, onde fermenta por quatro, ou cinco semanas pouco mais ou menos. Quando terminada esta fermentacão faz-se o trasfego do vinho para outras vasilhas; sendo esta operarão acompanhada de uma clarificagáo, e do addicionamento" de uma quantidade con:sideravel de agua-ardente. É depois desta operac%o que comesa para os vinhos essa lenta transformacáo, que os enriquece e torna preciosos pelas suas qualidades. Para fazer adquirir rapidamente ao vinho propriedades que só o tempo lhe póde dar convenientemente, introduziu-se na Madeira, na época da guerra que agitou a Europa nos primfeiros annos deste seculo, e em que os vinhos d'aquella Ilha foram muito procurados, o uso de sujeitar vinhos novos durante mczes a uma alita temperatura (60' ou mais) dentro de estufas que para isso se construiiram. O numero das estufas foi, desde essa $oca, propessivamente crescendo, e em 1550 havia quarenta e duas estufhs ein actiiidade. Os vinhos, porêm, assim trabalhados, não chegam, segundo a opiniáo dos homens intendidos na materia, a adquirir as boas qualidades do vinho velho da Madeira, antes adquirem ás Tezes um sabor poeico agradavel, e Q seu apparecimento nos mercados estrangeiros tem contiribuido para o descreditu dos vinhos da Ilha (s). A agua-ardente, que se applica ao tratamento dos vinhos, é fabricada naa Madeira com sinhos da região do norte e com os vinhos de PortstSanto; a agua-ardente estrangeira, e mesmo a de Portugal nào é, p o r lei, admittida na Ilha. A prductividade das vinhas-nào é, ein geral, muito grande na Madeira. Ainda que n'algumas dks balseiras da região do norte, como, por exemplo, succedbu em 1850. no sitio denominado Peijam do Pesedo, d u a s cêpas possam produzir até quatorze barris de vinho, é, comtudo (certo, que no sul a producgão é de duas a seis pipas, ao @mas espac:ies de. vinixo, bem earaetwisadas, liavi&na1lha;a dimiiiui$ão, porêm, da: produc$Zo die certas qualidades de uvas, e , . em gcral dc todas as vinhas da Ilha tem sido c a u s a ~ d ese misturarem as uras umas com outras',. para a fabrica$ão do vinho conhecidv pelo nome gonci.ico'òe avinha da,Madeira.o ( Sobbre os processos de fahrica$áo de vinho na Madeira não me foi.possive1.i obter eaclarcecimentos.tão amplos como desejava; e, .sobre tudo, fazcr obserw$ões ùirectas, princkipalmente porque n.'este a n o a doença das vinhas tornou. quasi nuila. a . colheita de uuvas na Ilha. ..

tg mais, por hectario, ou de oito almudes por mil bacêllos, o que 6 uma producgão mnito pouco consideravel (*). A producgão geral da Madeira ha bastantes annos que tinha iima assustadora teridencia a diminuir, e isto em conseqiiencia da diminuta procura que dos seus vinhos se fazia nos mercados estrangeiros. A. doenp das vinhas nào deve ser accusada da ruína dosviticultores na Madeira; essa ruína estava-lhe eminente, o mal das vinhas o que fez foi apressar uma crise, que já estava muito proxima. Em I 8 1 3 a Madeira produziu 22,3 14 pipas de vinho, depois desta época, ainda a produc~ão tendeu a augmentar, e chegou, segundo se affirmâ, a 30,000 pipas. Este acrescimo teve logar no tempo exactamente em que o vinho da Madeira foi mais procurado. Do vinho produzido na Ilha, só 6000 a 8000 pipas é que são proprias para a exportagào; e com tudo em 1809, por exemplo, exportaram-se muito mais de 15,000 pipas. Em 1823 já o consiimmo tendia a diminuir, a produccão de vinhos era excessiva na Madeira; d'aqui resultou uma medida absurda, d'aqilellas que os governos adoptam para obviar aos inconvenientes da iná direc~àotomada, sem prudencia, pela industria agicola de um paiz, e quc quasi sempre teem no futuro um effeito contrario áquelle que se descja alcancar; o governo proliibiu a entrada lia Ilha dos vinhos e da agua-ardente. Daqui resultou distillarenfse quasi 10,000 pipas de vinho dc inferior qualidade annualmente, o que foi um palliativo aos males dos cultivadores de vinhas; mas o perigo era grande, para que um remedio destes podesse salvar a Ilha. Os inconvenientes da excessiva preponderancia, que tomára a cultura da vinlia sobre todas as outras, foram cada vez manifestando-se com mais uiolencia, até que a doenp, quc devasta actualmente os vinhedos, pÔz remate á catastrophe da Madeira. Em 1825 a exportacão foi de 14,4 32 pipas; em 1830, só de 5,499; eiii 1840, exportaram-se 7,975; em 1847, 5,571 pipas; em 1850, i , 125 pipas. A produc~àodiminuiu, com a dimiiiuicão da exportacão,

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(*) Esta produe$ão parece-nos tão pouoo consideravel, que reputamos não perfeitamente cxactasas informaeões que sobre o objecto nos Coram dadas. Seria conveniente fazer, em épocas normaes, observagíes eomparativaa daproducejo das vinhas,no sul e norte da Madeira, e nas vinhas situadas a differentes altura#. -Pela estalistlea agrieola da Prane?, (e em cousas desta ordem esie paiz deve Ser ciladõ) eondue;se que, , , v , tvidindo oterritorio francez em quatro rcgiões, por linhas-parallelas ao equador, a PrO' d ~ ~ q das ã o vinhas vai crescendo do meio-dia para o norte na proporc5o de 17:21:29:36. Este facto nolavel parece cstar de acordo com o que acima dissemos da producca? do sul e norte da Madei-; duas regióes'da pequena Ilha, que apiesenlam, ,em qiianlõ *Q: clima, prohndas ditrerencas.

não, infellizmente, porque á cultura da vinha se substituisse outra cultura mais ldcrativa, mas porque as viilhas deixaram de ser convenientemente renovadas, e o seu tratamento, a não ser nos bons Iogares, pouco cuidadosamente feito. Pelas estatisticas officiaes, feitas sobre os resultados da cobrança dos impostos, estatisticas que, não sendo absolutamente exactas, dão com tudo a lei que tem seguido a produccão dos vinhos, póde bem perceber-se o decrescimento Cessa producgão. E m 18 13 a producção foi, como dissemos, de 22,3 14 pipas ; subiu depois a quasi 30,000 pipas a producção na Madeira e PortoSanto : e m 184 7 a producção nas duas ilhas foi de 19,487 pipas; em 1849 de 14,445; em 1852, época em que o mal das vinhas se manifestou com evidencia nas ilhas, foi a prodiic@o calculada em 2,115 pipas, e na Madeira só em 1720 pipas. Eis aqui bem claramente provada a decadencia da producgo e do commiercio dos vinhos na Madeira; e conseguintemente conhecida uma das principaes causas da ruina da Ilha.

CAPITULO 11.

REGI*O DO SUL DA MADElRb.

ii~n
21 de intensidade, quando de mais perto se observavam os estragos eausados pelo terrivel flagello, que ha dois annos devasta aquella ilha. As folhas, como crestadas pelo fogo, tinham perdido o seu bello verde, e appareciam ennegrecidas n'umas localidades, n'outras de um vermelho lívido, cobertas de uma leve camada de pó branco acinzentado (o oidum) (+), com as fórmas extraordinariamente alteradas ás vezes por divisões profundas,-signal caracteristico de pouco vigor e de pouca fecundidade.-Engelhadas, e sem viço, as parras não se assemelhavam com as de nenhuma das variedades de vinha conhecidas. As varas novas, em vez de terem a sua côr natural, esta\-am @obertas de manchas escuras, e ás vezes com os tecidos corticaes em parte destruídos e como queimados; o seu desenvolvimento era muito pequeno, dir-se-hia que estavam atacadas de rachitismo; se esta p= lavra se podesse applicar ás plantas. Os fructos, parados na sua desenvolucão, estavam cobertos do uma camada espessa desse mesmo pó, que apparecia em manchas sobrc as folhas; hagos de uva havia endurecidos, e como lenhificados na sua superficie externa; o u t ~ o sbagos, abertos por tima fenda longitudinal, mostravam a descoberto o tecido polposo, requeimado e negro, e a s grainhas brancas e grossas a escaparem-se do interior. Por toda a parte se apresentavam os mesmos eEieitos calamitosos da doença; era evidente que a colheita de 1853 estava totalmente perdida. Restava-me, porêm, estudar a intensidade relativa da doenca nas diversas localidades da Ilha, e nas differentes variedades da vinha. Este estudo, infelizmente, de pouco resultado podia ser, porque a doenp quasi que não poupava localidade alguma, nem, em geral, fazia distincqão de variedades. As primeiras uvas quasi isentas de doença, que vi, estavam n'uma pequena vinha do sr. Abreu Castel-Branco em S. Joáo, junto do Fiinchal. Alguns cachos, dois ou tres ao mais, de negra-molle, que estavam caídos no ch;io, e u m cacho que estava encostado sobre uma vara d e um corredor e coberto de feno, não apresentavam signaes de doen~a, senão n'um ou n'outro bago; e ahi mesmo via-se que a doença parára, deixando apenas sobre a epiderme da uva maculasinhas escuras, em pequena quantidade. Este phenomeno notavel vi-o repetido depois bastantes vezes. Sempre que algum caeho de uyas estava em immediato contacto, ou pelo menos muito proximo, do só10 ou de algum pilar ou viga de um oorreclor, ou da propria cêpa, apresentava-se isento de ( ) A que genero pertença o fungus parasita das ~inhas,é objecto de discussão; nós, porêm, designti-Io-hemos pelo nome, com que geralmente elle B mais conhecido.

22 doenca; e quando esse benefico eflèito se não manifestava no cacho todo, pelo. menos elle era evidente nos. bagos do -cacho que ficavam mais perto desses corpos. Adiante entraremos cal maio-s particularidades a este respeito. Nas proximidades do Fimchal alguns exemplos, analogos a estes quecitei, enconQrei ein diversos logares e variadas exposilões, mas. seiilpre e m inui. diminuta quantidade; achando-se as uvas n'essa favoravel sit.ua~ão,tão propria para as guardar da doerica, quasisemprr por méro effeito do acaso. Devo confessar, com, tudo,. qile tiobein acliei alguns eaclios, n'uma situacão ein tudo semelhante á d'aqitelles que havia encontrado sãos, atacados do mal; sem que ine fosse possivel desc o b r i ~motivo para a excep$ão, para e não appareciillento de ii~nphe, nomeno qt.ie tantas vezes achei repetido. Ein todas. as vinhas profundamente aitacadas, inn outro p h e ~ i n e n *qqtavel se ,obsen:ava muitas vezes. AOS,ramos eneo$ados ao chào ,~ aos corredores, aos muros, ou que se estendiam sobre os tectos das palhocas dos colonos em que--se acendia ,amiudadas vezes lum:e, e nas velhas cêpas, appareciam rebentos, novos isentlos oii q~iasiisentos de doen~a,com folhas verdes e pe?, feitas, e, á:s vezes, coin uvas em mrcni@o sem signal algum de oi&ur/z.N'iiinia fazenda do Sr. Veiga, n o Montc, a 500 pés aciina do niyel do mar, i ~ x npé de verdelho, que, de proposito e com? expecieneia, r i cebeu pód,a tardia, deu cachos.bons;, e n.'esta me-r) fazenda ha$a em desenvolvid.as, mas iseqtas de doenqa,, d'Agqiio ~ v a s ~ m u i t o , em re$ents residente Madeira, e respeitada, pelos seus actos de caridade. Desie hcto no~awelfallarernos n'outro logar desta' llemoria.

na

23 Sa~ta-C9-uz.-Ew todo este concelho não houve nada de notavel. As vinhas atacadas em Abril, soffreram estragos considerabillissimos em todos os seus o r e o s annuaes. As poucas uvas livres do mal, que appareceram, nasceram quasi todas em vinhas rasteiras, nas quaes se havia semeado trigo ou outras plantas. Algumas cêpas velhas secaram, Machi60.-Aqui o inal fez estragos muito grandes, impedindo o erescimento das uuas e fazendo-as arregoar (fender longitudinalmente) muito cedo, ennegrecendo as varas, encrespando, deformando, e fazendo secar as parras. Só alguns mchos escaparam junto ao sólo,,ou escondidos entre verdura. Ganiaia de LOBOS.-O concelho de Camara de Lobos 6 um dos roncelhos, em que se produz mais vinho e de melhor qualidade. O estado das vinhas era deploravel em tS53, e a ruína causada pela nzangra (nome que na Madeira'se applicoii em particular á actual doenca das linhas) era n'este anno milito maior, do que o já tào grande estrago de 1852. Na Torre, onde se colhe vinho de muita estimacão, as planiagiies extensas, que ficam de tlm e outro lado da estrada que atravessa o silio assim denominado, estavam todas atacadas ela doenqa, e tinham na sua maxima parte as folhas de côr vermelha, pouco desenvolvidas e secas; no meio porêm d'essas plantagões, ao norte da estrada, n'uma exposigão ao nascente, e em viniía rasteira, escaparam algumas uvas, de que se pôde tirar, proximamente, almude e meio de vinho bom; n'este sitio, como ein muitos outros da Ilha, algumas cêpas, principalmente as velhas, tem secado. No Estreito tãobem algumas cêpas de Tinta escaparain, n'um logar exposto ao sudoeste. O vidonho mais a~acadono concelho de Camara de Lobos foi o malvasia, que produz n'este cnncelho uin vinho muito precioso, e estimado. ' Ponta do Sol.-As vinhas foram ataoadas, por todo este concelho, i~iuitocedo, e com vicalcncia; e só aqui-ou ali escaparam alguns caohos de u.i7a,ou por estarem perto do sólo, ou pela applicaciio topíca de algum remedio.- Na freguezia da Ribeira Brava, em um sitio chamado o Lombo da Apresentqão, alguns rebentos qne se desenvolveram nas vinhas, depois da dpoca em qne a actividade maior da vegetariia do oidiunz passou, consenaram cachos livres de doenea ai6 ao dia 15 de Septembro, época em que subitamente appareceram cobertos de naangra. N'este mesmo concelho, freguezia da Ponta do Sol, uma vinha de Negrinha o11 Negrete muito rasteira deu boas uvas; e algumas cêpas de uma variedade de malvasia dc pelle grossa, a que chamam a.ermejolho, tàobem escaparam. N'este concelho morreram algumas plantas velhas..

Calheta.-N'este concelho, como em todos os da Madeira, a doença foi muito mais violenta em 1853 do que no anno anterior. No Paul do Mar, frcguezia ahrigada ao nordeste por montanhas cortadas quasi a pique, e limitada ao sudoeste pelo mar, os estragos causados pela niangra em 1853 foram terriveis, e em 1852 haviam sido qiiasi nullos: no anno de 1853 apenas se pôde n'esta freguezia produzir uni óarrid, proximamente, de vinho são, producto de umas cêpas situadas no Icogar denominado o Cascalho, a meia encosta dos montes que abrigam a freguezia, com exposi$ão ao sudoeste. Na Ponta do Pargo, freguiezici crn que termina a Illia a oeste, a doenp este anno foi ainda pouco intensa em duas localidades. Na margem direita da ribeira dos Moinhos, n'uina encosta pouco elevada e com exposi$io ao siidoeste, mas abrigada do sul pela margem fronteira da ribeira bastante elevada, havia algumas vinhas de pé, trata'das com pouco esmero, com as cêjpas muito espacadas,-vinhas em que neste anno se havia secneaddo trigo, cuja palha abrigava em parte os cachos,-nas quaes as uvas pela maior parte estavam livres de wzangi.a. Na Fajam Grande, sitiiada á beira-mar, com exposi~ão para o sudoeste, ii'uiiia linha quasi no mesmo estado d'aquella que descrevemos agora, a ~ r ~ a n g r n tàohem se desenvolveu muito poiico.

Sio Yzcente.-Este concelho pertence a uma região agricola iiiuitto diversa d'aquella a qiie pertencem os concelhos, que descrevemos no pirecedente artigo: e com tudo a niangra manifestou-se aqui com tantai intensidade corno no sul, e causou estragos eguaes. Houve com tudo,, n'este e no outro concelho do norte, algumas vinhas livres da doenrca, de que faremos especial mencão, e que devem chamar a ataencãão dos qiie desejam colleecionar factos para a historia deste mal das winhas. Só quando essa historia for completa é que se poderá ter sohree a natureza da doença uma opinião tal, qiie ninguem ouse conè~ariaa-Ia;por ora é difficil fazer passar ao espirito dos outros, mesmo as coonvic$õffi que estiverem mais firmemente gravadas no nosso espiritco. Em sciencia só as verdades illiiminaclas pela evidencia c que

teem direiio de dominar sobre todas as intelligencias, e se nXo prestam á discussão, á duvida, ao protestantismo; todas as outras estào sujeitas á controversia, e, conseguintemente, não podem servir de base a theorias, que sejam universalmente aceitas. É esta a causa da grande çuperioridade, que teem em muitos casos as sciencias physico-matheinaticas sobre todas as outras sciencias. No Porto Moniz, no logar chamado a Que8rark-Nova, com exposicão ao noroeste e abrigado do sul, havia uma vinha com uvas sem mal; estando esta vinha cercada de outras, em situacão pouco difTerente, c em que o mal apparecia com violencia. Em S. Vicente, na Fajam da Areia, formada pelos detritos e qiiedaç de terras da montanha cortada a prumo, que constitue a costa pavorosa do norte da Ilha, e que fica assim entalada entre a montanha e o mar, n'um logar constaniemeute batido pelos ventos Elo norte, carregacios dessas emanacões salinas, que são como a poeira do oceano, na Fajam da Areia uma vinha d e pé deu muito boas uvas; no mesino logar, porem, n'um espaco separado, apenas por um muro pouco elevado, da vinha sã, havia algumas cêpas de gancheira, que estavam bastante atacadas. Parte desta vinha sã de S. Vicente estava entre feno, e não só apresentava as uvas boas, mas a propria vara tinha muito poucas manchas e amadureceu bem; as parras estavam qiiasi boas; na tinta de gancheira o ataque nas varas foi bastante forte. Tãobem n'este concelho alguns cultivador= se queixavam de lhe haverem secado as cêpas uelhas. 5ant'Anza.-Este concelho, que faz parte da mesma região norte a que pertence S. Vicente, apresentou vinhas, pouco atacadas, tãobem em situacões semelhantes ás da Fajam da Areia. No arco de S. Jorge, por exemplo, no terreno situado á beira-mar, houve uvas sãs n'uma fazenda pertencente ao sr. Rego, e em algumas outras fazendas; e destas uvas se extraiu vinho que teve um alto preco. Tãobem na Fajam do Mar da freguezia do Fayal, em situacão e éxposicão iclenticas ás da Fajain da Areia, n'nma quebrada ao abrigo do sul, houve n'uma vinha de latada, uvas sem n~azgra.

ILHA DE POníO-SAN'IO.

Na Ilha de Porto-Santo a vinha é cultivada em uma bacia pouco eleirada de terreno superficialmente arenoso; o seu modo de cultura é

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aquelle das vinhas, a que dissemos. se dava o nome de vinhas de pet Como lia muitos annos, pela extrema pobreza d'esta triste Ilha e pouco valor dos seus vinhos, n"a tem havido renovaqdo alguma nas vinhas, eiicontram-se ali espalhadas com muita irregularidade, a grandes distancias umas das outras, cêpas velhas, estragadas, com pobre apparencia, e n'um estado de quasi completa caducidade. As tivas de Porto-Santo foram atacadas pelo oidun~,mas cresceram em grande parte, e chegaram quasi a ponto de amadurecerem; uma chuva copiosa, porêm, que caiu no dia 14.d'Agosto fez arregoar, rebentar os bagos em muitos cachos, e diminuiu consideravelmente a colheita, que se esperava nào fosse este aniio extremamente pequena. Ras varas e nas folhas das vinhas de Porto-Çanto pude observar evidentes signaes de ntan,wa, e alem d'isso o avermelhamento das parras, e gangrena do§. tecidos epidermieos d'alguinas varas..

De todos estes factos observados nas ilhas da Madeira e PortoSanito n%oépossivel tirar leis geraes; entre todos elles ha certa incoherenacia, certa falta de nexo, que se oppõe a que os possamos grirpar e ctombinar, de modo a tirar delles consequeitcias positivas e cabalmeinie bem fundadas. Consequeiicias desta ordem seriam a satisfaç.ão do r~~ideratunz dos homens, que reem applicado a sua attencào e os seus esforos ao estudo deste mal das vmhas; o qual ameap aniquilar um dos mais preciosos elementos da riqueza agricola, e faz recteiar que um dia o homem se veja privado de um agente que actira a sua ai'ntentacão, e qiiasi a substitue, em parte, n'algnns paizes. 4 Não são com tudo paradespresar as rela~õesque existem entre a i g u ~ s dos, factos observados nas ilhas; porque d'elles, se se não podem tirar ~er~dadeiras leis, póde-se ao menos tirar a prova de que ha circumstancias exteriores á vinha, que sào capazes de modificar o seu estado, e impedir os progressos e até a apparecimento da doenca; e que na prorpria planta ha tãobem causas, que a predispõe mais oii menos a ser invadida pela mangrn. O ataque das vinhas pela mangm em 1853 foi geral em roda a

parte. Não iioiive variedade alguma de vinha exceptuada; nem exposi~", nem altura acima do uive1 do mar, que nào apresentasse signaes de doenca. Com tudo se attendermos bem aos factos relatados neste capitulo veremos: 1." Que os cachos de uvas, que nasceram e se desenvolveram proxiino do sólo, o que priiicipalmente succedeu nas vinhas cle pe'; os qrie estiveram sempre proximos de um corpo de extensa superficiemuro, pilar, viga dos corredores ou a propria cêpa-e principalmente sendo esse corpo de côr escura; os que ficaram cobertos por searas de grarnineas ou mesmo pelas folhas de outras plantas, ou escaparam totiilmente á doenp, ou foram por elPa pouco atacados. 2." Que em situacões identicas ás que salvaram alguns cachoa da mangra, isto é, na proximidade do sólo, nos tectos das palhocas etc., as cêpas rebentaram em Agosto e Septembro, dando hastes novas caihertas de folhas de um ~ ~ e r dmuito e bello, e com algnns cachos, cpe ciiegaram a adquirir consideravel deçenrolvimento. 3." Que as variedades de vinha, -em que se observaram mais casos de pouca intensidade de doenp, foram o verdeelllo, o nesrete, a izegra ozolle, a tirrta, e principalmente a vigorosa variedade americana denominada isaóelle. As variedades, ctijos fructos sào inuiro ricos em assucar, como mnltlasasia, ú d etc., á excepcào de alguns pés de verme sobre tudo a região'do norte, apresentava algumas vinhas pouco atacadas da doensa, quando se póde quasi diser, que na regiào do s ~ ! apenas rarissiiiios cachos escaparam, 5." Que essas vinhas pouco atacadas no norte estavam situadats a muito pequena altura, abrigadas do sul por eleyadas mon~anhas, e constantemente expostas á 13risa do norte, que, passando sobre uma iinmensa extensào de mar, vinha carregada de einanacões salinas. 6." Que, quando muitas destas circumstancias contrarias ao deselivolviinento da nzangra actuaram simultaneamente sobre uma vinha, esta apresentou appareiicias de vegetacão vigorosa, e deu frtictos de que se pode fabricar vinho; como, por exemplo, succedeu nas vinhas de pé ao norte da Madeira, e ein parte das vinhas de Porto-Santo. 7." Que algumas cêpas vcihas, que em 1852 já haviam soffrido a mangra. prinsipalinente nas folhas,.secarain n'este segundo anno de doeu-a; inaq em peqiiena quantirlade.

CAPITULO 111. IDA DOENCA DA YINKA,

É; b e m conhecida hoje de todos a historia do mal, que tem &vastado, as vinhas; com tudo, comodo modo por que teve Iogar o pri-. rneii.0. apparecimento deste mal n'um jardim em Inglaterra, e a sua, propagacão depois por todos os. paizes onde a. vinha é cultivada,. se, p'odem tirar algumas induccõcs;que ajudam o espirito na util invest i g a @ ~da sua natureza e. causas, por isso é util dar aqui abreviada, noticia d'esse apparecimento e-propaga~ào,. Foi nos annos de 1845 e 1846 que e m Inglaterra, nas estufas e latadas do.jardineiro M. Tucker, em Rlargate, se manifestou uma, doen~a-carácterisadapelo apparecimento de um pó branco, que cobria os cachios e as folhas da vinlia, impedia. logo o desenvolvimento destes orgáos,, e fazia enrugar as folhas, e rebentarem os fructos ein pouco, tempo; este pó, estiidado por M. Berkeley, reconheceu-se ser. tima ?}tucediizia, que, segundo aquelle botanico devia. considerar-se uma especie nova d8.o genero oirlizm, e-receber o n o m e de oiclium luckeri. Só em: 1 8 4 8 i é q u e a nova (?) doenqa, depois de se. liaver lentamente. pro-. pagado pela Inglaterra e de ter atravessado a Belgim, chegou ao n o n a da Frainca; Em 1849 manifestou-se a 17laizg?-a.coin intensidade nas vinhas das proximidades de Paris; dtepois, em 1 8 5 0 , o mal, que já, tinha e m Franca muitos elementos de propaga~ào, estendeu-se portodo o meiodia deste rico paiz, e appareceu. tãobem na Suissa, no Pie-. monte, na Toscana etc. Em' 185 1 e 1.852. a invasio. era muito mais. geral e .mais assustadora;. Hespanha, Portugal e Hungria foram assolados nestes annos; e em Argel, na Syria, na Asia-Menor appareceu tãobem: por parrtes o mal das vinhas. Por este resumo historico vê-se de u m modo cllaro que a propagag.20 da nzangrra.se feE gradual e successiv;a-

29m a t e ; havendo principiado em 184.5 n'um jardim da Inglaterra, e gastando sete a oito annos. a invadir toda a região das vinhas: Nos pimeiros annos, em que o numero das cêpas. atacadas pela rnucidiilzi~ era peqneno, e em que, conseguintemente os meios de propagacão d'essa mi~cedinia eram limitados, a doenca caminhou muito lenta-. mente. Para ir de Margate ao nor.te da Franca a liaangra levou mais de tres. annos. Quando, porêin,. havia já (em b849) uma immensa ex-~ tensno de vinhas cobertas do terriveljrngus, a propagacào podi* fazer-se com muito maior rapidez; e assim succedcu. Nos tres annos imniediatos a 184.8, em qt~asitodas as vinhas. appareceu, com. mais ou. menos forp,. a mangra: Na Madeira e Porto-Sant'o a hktoria da doenca das vinha merece ser conhecida; porque é ella um forte argumento a favor da opiniào. dos que julgam, que esta doenca 6 devida á'accão destruidora do oi&krn sobre: os iecid0s novos da vinha. Se sào exactos, ou proximamente exactos, os dados estatistieos fornecidos pelos documentos officiaes, a colheita do vinho foi em 1.850 abundante, comparativamente com as eolheitas dos dois aimos anteriores: Em 1850 a colheita foi calculada em 20,QOO pipas; mas a sua importancia, avaliadapela decima, foi's6 de 1:2,964 no anno, de 1849,. a. pr6d1ic$ào foi de 14,445 pipas; no anno de f848, de 1.3,7.30' pipas. Só e m 1.852, é que na Madeira se reconheceu a cxistencia da mangra-sobre todas asvinhas, e com tal violencia, que logo l a n p u o terror no espirito de todos os viticiiltores; e, com tudo, póde-se affirinar que o oicdim já em 1:85 1 estava.na Ilha. Se adoptarmos,. como fazem os negociantes inglezes para o vinho é:eguai a 92'galões; istoé, que a pipa cont&m. a de e+rta$o, 23 almudes; e considerarmos o barril com a capacidade de dois almudes,. concluiremos d o mappa official publicado no fim d:esia i me-moria, que em. 1.85.1 a produc$ào foi de 9 , N i pipas, qtmtidade de vinho muito inferior. á das colheitas dos annoe .anteriores,. e principalmente á do anno de 1850. Vejamos se algum facto.historico nos leva a attribuir esta diminuicão da 'podaicc%oá áxistencia da i~zungt-aem l-85 1..Segundo iiifbrma$es de pessoas muito dignas de,credito, e que tem seguido com atten~ãoa marcha do mal das vinhas na Madeira, em 1 8 5 1 no sitio do F~mch'al denominado as Hortas, uma vinha. adoeceu, mbrindo-se de @I brancos como.nas.immedia@Íes d9esta.vinha se andava entào trabalhando n'um caminho, este facto, que. provavelmente se repetiu n'outras vidas; passou quasi desapercebido. O que ha de mais notavel n'este facto é que elle coincide. com outro, com cr. 1.q parece ter íntima rela$ào..Eoi em Fevereiro deste mesmo. anno de.

t851. que chegou ao Funclial um inercador de plantas francez, que levava na sua colleccão algumas variedades de vinha, que haviam sido colhidas em localidades já n'esse anno infeccionadas pela doen~a.Quem, ao ter conhecimento destes factos, nZo acreditará possivel, que a doenca das vinhas fosse, por assim dizer, materialmente condiizida á Ilha, sobre plantas ja infeccionadas ? Qiiando se compára a produc$io dos di&rentes concelhos da Ilha da Madeira no anno de 1852 com a de 1551, acha-se o seguinte: 1Drodu'zlcpio de vinho nos concelhos da Ilha da Madeira. 1551 e 1552.

Por este inappa, vê-se qiie os dois concelhos d e S. Vicerrte e Ca9heta firam, relativamente, os menos atacados; isto é, foram menos :ii'iniinicava-se ás latadas, e só mais tarde ás vinhas de pé, qae

ieem o privilegio de escapar mais do que as outras aos ataques do oiúz'um. Logo em 1852 certos concelhos foram invadidos, de modo que a siia produccào n'esse anno diminuiu n'uina proporqào assustadora. No sul, Machico, Santa Cruz, Funchal, e Ponta do Sol foram os que maior perda soíirerain proporcionalmente; c no norte foi o concelho de Sant'Anna que perdeu quasi a totalidade da sua colheita. N'essc aniio de 1852, foram iàobem as vinhas de pe', as menos atacadas no sul; no norte escaparam principalinente as vinhas situadas á beira mar: o que está de perfeito acordo com os factos qiie eu em 1853 pude observar. A perda causada pelo mal das vinhas em 1852, foi offcialmente calculada do seguinte-modo: Perda causada pela doeqa das vinhas enz 18 5 2,

A perda bruta causada ein 1 8 5 s pela não producqào do vinho,. foi pois avaliada em 1.137:9908000 rs.: esia avaliapo é superior á verdade sem nenhuma duvida, se este çalculo se refere unicamente 5 falta do vinho, e se a determinaqào da grandeza d'essa falta foi feita por comparacào com o anno de 1851; porque, n'esse caso, sendo a dimiiiuicão na produceo em 1852 egual a 132,445 barris, era necessario que cada barril valesse 88592 rs. para que a perda se podesse calcular em 1.137:990$000 rs.; preco este quasi quadruplo do preso medio dos vinhos do sul ein 185 1 , e s~tperiorao i~iaximo p r e o arbitrado aos vinhos de primeira sorte no anno mesmo de 1 852. a verdade que se a perda fosse calculada pela comparacão do anno de 1852 com o d e 1850, em que a proditcgào foi, segundo calculos apro-

33 traram disposto^ a crer em todas aç extravagancias imaginaveis, nada se póde concluir de positivo; lembraremos aqui o que sobre uma doenca muito analoga, pelo menos, á da vinha, diz um escriptor italiano do seculo passado; e o que escreveram ha poucos amos, mas em época anterior a 1845, alguns observadores dignos de attenqão. N'iim livro intitiilado Alinzu~gia(.), Targioni-Tozzeti falila de uma mucedinia, que observou em 1766 sobre varias plantas, e que? segamdo elle, representa sobre as folhas da$ plantas, observadas a olho nú aina specie d'incipriatura di leggera aspersione di farinau e que, obsertada ao inicroscopio, sobre as folhas do sonchus Z~visparecia ucome una delicata e fragile tela di ragno attacata qua e l i alla cuticola dalla cicerbita, ed i suoi filolini tutti trasparenti, parte erano nodosi a foggia di coroilcine, o vezzi di inargheritine di vetro, non semplici ma rainosi, e parte erano tereti e lisci come capelli. Fra essi trovai molti corpiccioli siinilinente trasparenti, dattiliformi e grinzuti, ed anche talmente gualciti, che parevano ang~i1osi.oSobre o Plantago angzas-. t?$olia e o Melilotus italiea observou tãobem Targioni-Tozzeti parasitas, de que dá quasi iclentica descrip~ão.Ninguein poderá negar de certo que, entre a mz~cedilziadescripta por o escriptor italiano, e a que actualmente apparece sobre as vinhas ha, pelo menos, uma analogia evidente. Esta analogia torna-se, por assim dizer, mais intimà e mais completamente provada pelo facto de haver sido observado o oidizcm, pelo meu collega o Sr. Dr. Beirão, sobre as folhas do sonchus oleraceus, e por mim, nas folhas do pla?ztago lanceolata, plantas dos mesmos generos d'aquellas, em que Tozzeti fez as suas observaqões. É uerdade que sobre este objecto se não póde adoptar difinitivamente uma opiniào, sem correr o risco de cair em grave erro, porque na descriprão dos caracteres, attrihuidos pelo escriptor italiano á mucedinia por elle observada, não ha bastante clareza e exactidão, para que por essa descripqáo se possa concluir, que a mucedinia de Tozzeti é o oidium Tucheri das vinhas; e a difficiildade de adoptar uma opiniào é tanto maior, quanto ein plantas das ordens Mucednias, e Mucorimas lia uma grande multiplicidade de formas, uma grande variedade de apparencias e tima falta de fixidez nos caracteres, que torna muito difficil a determinacão das especies; e que é mesino n'estas ordens que alguns factos se teem encontrado, que podem levar a adoptar a opinião das geracões espbntaneas, ou pelo menos a opiniào da metamorphose das especies: accresce, de mais, que n'esta ordem das mucedinias ha (.)

D'esle livro só eonheco extractos.

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níuiaas plantas dos generw Botrujtir, sporothrhAum, o2&21lm etc, que vivem sobre orgàos vivos das plantas phanerogamicas. Segundo indicações tiradas pelo Dr. Bertola de escriptores iialianos, póde suspeitar-se que o mal das vinhas appareceu em Montferrat. em 1543, e em Novarra em 1780.No relatorio sobre a doenca das vinhas, apresm~adoá sociedtzde Zzneam%a-de Bwdzzu por uma comrnissào por ella namea&a para estudar esta doenqa, vem citado ilm WntIracEo feito emTurin. em 1743, em que se estipulava que, no casa de nas vinhas apparecex a pohigZio ou rogna., haveria reduqao na preço. tàobem notavel que, nos Annaes da socie&ade eVagricultnra de LJão clc 1539, venha uma noticia sobre a doenca das vinhas, como tendo apparecido no Rhodano em -1536. Fiobem se teni feito, em saciedades agricolas de Pranp, referencia ao apparecimento da actual d o e n p das *as em 1840 no cantáo de Sauveterre, O
os

A rnwgra. apresenta no seu p r i m e h aapare~imento,e post@c @lor~mente na sua desenvolu$ào, symptomas que perfeitamente a cara-. eterissam, . e a fazem distinguir das outras aoenças que atacam a vinha, e que %o ha mais tempo e mais geralmente eonhe~idas.O moda por q u e a mangrn. ataca os differentes orgàos da planta é, com peqnenlas diKerencas, o mesmo oa sna essencia; porêm os seus resuItados, os sevs effeitos. rnediatos e immediatos sgo di~,ersos,não só segundo os. wgtirns em que ella apparece, senào, tzobem segundo o. periodo da ve-. g e t a ~ à oem que esse appareciinento tem Iogar.. ~studaremos;pois, os. çjnlptomas. do mal das vinlias, e os seus effeitos nos diversos orgàos & ~egetta@oe da f~uctificacão;,e depois des.meverernos o,&izgus, .o bolox.

35 que, se por alguns physiologistas &o é considerado a causa mia da doenca, é por todos tomado como o seu signal pathognomonico. Raizes e cêpns.-Tem havido discussxo entre os observadore~ qiie se teem dedicado ao estudo do mal das vinhas, sobre o es~adodas raizes e cepas das plantas atacadas: uns dizem que a d o e n ~ aexerce directa ac@o sobre estes orgãos, outros que elles só padecem por causa dos estragos feitos pela doenca nos orgãos annuaeç da vegetasão. Mr. Gaschet de Bordeiis diz ter encontrado muito profundas lesões na& sadiculas dos pés de vinha doentes, que fez arrancar; que essas radiculas estavam em parte apodrecidas e cobertas de bolôr. Este facto é sem duvida da maior importancia, mas carece ainda estudado com atEenção. As radiculas sào orgãos que se renovam; as radiculas depois de exercerem durante um certo tempo as suas funccões de absorpqão perdem a actividade vital, e ficam assim sujeitas i destruicào como as folhas, e depois ao apodrecimento. E u observei as raizes de algumas plantas doentes, e achei n'umas, radiculas mortas mas pouco ciecompostas ao lado de radiciilas em plena actividade e perfeitamente sãs, n'outras, que estavam nas proximidades de uma levada onde constantemente corria agua, radiculas sãs, e radiculas apodrecidas e cobertas de bolôr; mas entre estes bolores nào se encontrava o oidium das vinhas. Estes factos persuadem-me, que não deve ser attribuida á mangra a destruicào das radiculas, mas sim a um phenomeno perfeitamente riormal. Era-me com tudo indispensavel fazer a comparaqào das raizes d e plantas illesas, com as das plantas enfermas, para poder assentar seguramente a niinha opinião; mas essa comparasão, forca é dize-10, na Madeira devia considerar-se impossivel, porque plantas que se podessem confiadamente reputar sãs, não as havia lá. Nas cêpas nào observei coiisa alguma, que me podesse indicar a presenp da mangra. Alguns observadores dizem ter notado na cêpa manchas lívidas, as quaes mais tarde se cobrem do fungo destruidor das vinhas; se isto srmcede é talvez no comeco d a vegetaqão annual da vinha, porque nos ultimos dias d e Julho, quando cheguei á Madeira, n ~ me o foi possivel observar, nem uma só vez, signaes da parasita das sinhas, sobre a parte lenhosa d'estas plantas; e mesmo razões ha para duvidar do facto, sendo uma das principaes a predileqzo que ofungu8 manifesta para as partcs verdes do vegetal, e o seu desapparecimenw d a superficie das varas, por exemplo, logo que estas coineqain a passar para o es~adolenhoso. Taras*-Nas ramificações da vinha a mangra póde desenvolver-se em duas épocas diRerentes; ou quando ellas já teem um csnsi1

deraviei deseavolvimento e bastante forca para resistirem á doensa, on logo quando coinepm os gomos a desabrochar. 0 s effeitos n'um e n'outro caso são muito diversos, e merecem particular desciipcào. Segundo o celebre naturalista M. Hugo von Mohl, o primeiro *pparecimento da mangra .sobre as varas ainda verdes da vinha é do ~eguintemodo:<sobre a casca verde dos ramos do anno, notam-se pontos,. .ou+e a produqão cryplogamica comcqa a vegetar, o que se refonhece por uma passageira altera$io na &r normal primitiva. N'esia' época o cogtunélo consiste n'tnn pequeno numero de filamentas, excessiv:amenie tenues, só visiveis pelo atixflio de uma baa lente, e que formam pela sua reunião na superficie da casca ama rêde irregular parecida com a têa d'aranha. Nos logares indicados, que o mais das vezes teem uma linha de diametro, a casca apresenta uma côr mais carregada. Mais tarde., com os progressos do mal, estas mandias alas-. tram--se, tornam-se confluei~tese tomam a côr escura do chocolate;^ Esta tdesçripcZo. do primeiro pcriodo da invasão da molestia é perfeitamcmte exacta. As manchas de que falla &i. fifohlsáo visiveiis; occupam ás vezes grande exiensão da superiicie das vamas. óutras apparecem isoladas umas das outras, com pequenas diinensiies; a sua côr varía do verde cscuro á côr de cliuinbo; ou a uma côr de castanha avermelhada. Ás vezes estas manchas tornam-se perfeitameme negras, . como ccirhonisadas; e até n'algumas varas ha o esfacelamento, de parte dos tecidos corticaes, ficacai~doo tecido:lenhoso a descoberto. Todas estas manchas .estãa coberias da vegetacào cryptogamica, que nunca é sobre a s vauas; tão abundante somo sobre as fulliaç, e princip.almeente s&re os fructos. É certo,. com tudo, que apesar destes exàeiBoss estragos causados pela doenca,,. as varas, quando são atacadas depois de. haverem adquirido. alg.um csescimento, podem continuar a ,$esenvolver-se, e chegarem a tornar-se lenhosas, a amadurecerem.; porênn, essas varas muito atacadas nunca se tornam vigorosas, nem promtettem muito para a futura vida da planta.. Deve, com tudo,setvir de prtova cabal de que ellas não perderam, em consequeiicia da mangrn; a v i ~ l i d a d ee as faculdades vegetativas, a facilidade com que na Madeira :- nos mezes de Agosto e Septembro aigti.n~asd'ellas, collocudis em,-sjituacões favoraveis, deram rebentos novos, cubertos, de folhas isentas de doenca. LOsestragos causadospela maizgra são n~uito.n~ais.le~riveis quando as valras são fortemente atacadas, logo ao saliir dos gomos; porqus im'este%caso a sua desenvolu@o 6 ljaralisada, iim como. racliltismo a s atroplhia,.a sua epiderme torna-se toda côr -+e chumbo, a lesa0 peneki ~

37 até ao intimo da inedulla, a s folhas que nascem d'essas rainificacões delgadas e como crestadas, são pequenas, encarquilhadas, e tàobem de côr escura; se dào origem a fructos, esses apenas com a grossura de um grào de chumbo grosso secam e morrem; tudo n'ellas, emfim, indica a existencia de uma lesào mortal. E, de feito, nos meados de Septernbro já as varinhas, que eu no me& anterior tinha observado no estado miseravel que descrevi, estavam sem folhas, inteiramente §&as e quebradips, a, quando quebradas, deixavam ~ ê todos r os seus tecidos inteiramente alterados por uma es~~ecie de gangrena. Deste deploravel estado dos rebentos annuaes observei um notavel exemplo ao sudoeste da estrada que vai de Funchal para a antiga ponte do Ribeira Sêco, e intiito perto desta ponte; do lado opposto da estrada, em pequena elevarão, havia uma vinha de pé taobem muito atacada de mangra, mas em que os estragos sobre as varas oram muito menos assustadores. I;oEhas.-As folhas, como a9 varas, podem ser mais ou menos Pesadas pela ~izalzgt-a,segundo a época em que teve logar o apparecimento do mal, e a intensidade com que elle se desenvolveu. Quandn as folhas sào atacadas pela doenp, depois de desenvdvidas, isto é, passadas algumas semanas depois de haverem saído dos gomos, entào as folhas continuam a crescer, conservam em grande parte a sua cbs normal, e nZo cessam de exercer as funcrões respiratorias n'esbe caso só se póde cenhecer que as folhas esfio com mangra, porque nas suas duas faces, mas principalmente na face superior, se notam superficiahmente manchas brancas, e como ligeiramente pnlver~iicntas, que se podem fazer com facilidade desapparecer por meio de uma ligeira fric$o, e quc, fazendo-se desapparecer por esta fórma, deixam a descoberto, no proprio tecido das folhas, outras manchas, umas vezes amarelladas, outras escuras e lívidas. Ordinariamente, esse pó branco que nlacúla a superficie das folhas, e que nào 6 outra cousa senão a cryptogamica de que jir temos fallado, cahe por si mesmo, ou sacudido pelo vento,. e então nas folhas só ficam, como signaes da doen~a,as nodoas amarelladas ou esciiras que existem nos proprios tecidos destes orgàos, e que sào r e s u l ~ d oda alteracão mais ou menos profunda que os tecidos sof?+eram. Não são, porêm, os estragos da doanca sobre as folhas de tão p ~ quena importancia, quando ella apparece logo no comeco do desenvolvimento destes orgàos; como siiccedeu em 1853 em algumas vinhau da Madeira. N'este caso as folhas cobrem-se todas doyungus; os setis tecidos tomam tima cor denegrida e lívida; a sua forma altera-se, tor-

nanda-se os Ióbos, 5s vezes, mais profundos e irregulares; e, como a d o e n ~ aataca ao mesino tempo os peciolos e os séca, as folhas cahem e as cêpas f i a m quasi inteiramente despidas dos seus importantes orgãos da respira$io. Claro ests que, mesmo 5s plantas novas, a falta destes orgàos niio pUde deixar de causar grande prejuizo; e, que esta destruipo das folhas se se repctir mais uni ou dois annos, lia de necessariamente trazer a destruicào das vinhas. Feiizmen~e a gizangra não se mostrou com esta violencia sohre as folhas da vinha, senào em rim niurnero de-plantas, consideraTel sim, mas relatiuamenze pouco importamte. Nas follias das vinhas da lfadeira uma outra alterarão, dieerente das que acabamos de de.;crcver como sendo resultados dos ataques da mangra, se mostrou muito geralmente; esta lesao, conhecida em diversos paizes vinhateiros, mas que na Madeira nào havia merecido ainda a atten$%edos viticultorcs, esta lesào a que em Franca chamam Bougect, e que já aqni ein Portugal eu tinha observado, consiste n'uma pniidain$a, não das membranas que constituein as paredes dos reciilos elemeintares qiie cntrain na composiqão do l i d o das follias, mas sim rr'uma alterayão dos liquidos contidos n'esses tecidos. As folhas com esta dioenea, ciljos en'eitos tem na Ilha siao tàobein attribuidos á terxivel maizgra, fazem-se, segundo as minhas observa~ões,vermelhas primexiro nas nervuras depois ein todo o parencbima, wnservando com iudo, a siia consistencia c flexibilidade naturaes; mais tarde, porêm, provavvelmente porqne as fiinccões das folhas se alteram, oii antes porqucie essa alterayào de funccões precccleu a coloracão verinelha, que qaPvez, sctja apenas um resultado d'ella, mais tarde, digo, os tecidos das folhas tornam-se rijos, quehradiros, e sêcos, e a folha irzarre, .e cahe dos ramos inteira, ou se esfacella pouco a powco. Paeendo a observaqlro microscopica de uma nervura corada de vermelho pmde vês, que no tecido^ cellular sub-epidermico, principaimeote no correspondente á pagina iinferior da follia, havia um liqiiido vermelho, que córava este tecido ccom bastante intensidade: no tecido fibroso, que ficava immediatanterriie por baixo d'eske tecido cellular, tàobeiií havia liquido córado, ,nas aai côr geral do tecido era mais pallida, provavelmente por cansa de ser- maior a espessura das paredes das fibras do que a das cellulas; no feiixe dos va5os, e principalinente nas trachéas, não havia fiquido verrne4li0, e quando se fazia uina ligeira pressào sobre estas ultimas ã'ellasi saiam bolliinhas de gaz. No ~arenehimada folha a coloracão verrnelhai é devida ao mesmo liquido córado; e quando o mal é bastante forte, este liquido penetra em toda a espessura d'esse tecido. Obser-

39 vando este liquido, que.se póde fazer sair dos tecidos por tima figeira preçção, vê-se que n'elle nada =ma. qnan$idade muifo considerivel de' globulos d'uma tenuidade extrema,. mas de.dimensões relativas &iiite differentes; estes globulos são incolôres, e deixam-se atravessar pelos raios luuiinosos. Quando se põem durante algumas horas as folhas vermelhas de infiisào no. alcool, este fica com inna côr semelhante á &o vinho tinto, pouco clarificado; se a esta infusão se juntam algumas gôtas d e um acido., a côr torna-se mais,clara,. e mais brilhante; se,. pelo. contrario, s e l a n ~ a mno. liquido gôtas de. amonia,. torna-se elYe werde um pouco escilro, isto é, da côr da materia córante da ohloroph&: para tornar a restituir a este liquido a sua primitiva cor davinho basta juntar-lhe o acido siifficiente para saturar a amonia. Seguindo todas estas' transf~rma~óes de côr com o microseopio,. pareceu-me sempre, que os.globidos de que hllei acima ficavam incolôres;; não suceedia assim quando ao alcool córado de vermelho juntava a tintura de iodo, porque n'este caso tornavam-se elles amarellos, o que prova que esses globulos não teem a composição da feciila, mas sim uma composicão azotada. Talvez esses globulos se dexram considerar, como os nucleos de grãos de clilorophille, que uma causa, i u e nos. 6 ainda desconhecida,. privou do seu invólticro verde. E não se podera suppôr, q i e - a. swbstancia que constituia o invólucro verde da ehlorophille,. transformada de um modo não. conhecido ainda, se achava, dissolvida na seiva. córaola e tomava a s w cor natural em presenga cla amonia? Para resolver estas quest6es são indispensaveis novas inda-~~ ga~ões;.e ellas não. serão-infructuosas Rara os physiologistas,. parque. talvez :possam dar-nos a explicacão das mudangas de &r, que as folhas de- muitas plantas a p r e s e n ~ mnaturalmente no outono. Eemb-remos. aqui que Mr. Leclerc, no seu relatorio sobre a doenga da vinha, diz. que encontrara nas uvas doentes uma transuda@o de u m li& viscoso com sabor ligeiramente acido, e que sào os aoidos que avermelham. os liqtiidos. de que fallei.. Alem d'isto é sabido qye os orgãos córados dos. vegetaes., as petalas, etc. teem em relagão. aos gases da atmosphera uma acgão opposta á que n'elles exercem os. orgãos verdes; ora, segundo observa~õesde Mr. Wersoz sobre a balsamina, n'esta planta, um liquido em que esteja dissolvida uma materia córante, sqrvido pelas radiculas perde a cor, mas torna a aórar-se outra vez ao chegar ás peklas; póde pois deduzir-se de -tu&o isto,. e de muitos uutros factos. que facilmente lembrarão aos que conhecerem a physj& Iqgia vegetal, que entre a coloragáo vermelha d a s folhas da vinha e onzõdo de ?:espirnciio devem existir intimas. relações- A r e s o ~ t l ~ b . ,

senso:+--

seu

40 d'esita questão está dependente de observa@es e experiencias novas. Por esta exposicáo que acabo de fazer das. minhas observa~õea sobre a doenp das vinhas, que os francezes chamam rouget, e qiae em 1 8 5 3 appareceu na Madeira quasi por toda a parte, vê-se evidentemente, e este facto está fóra de duvida em Franca e na Italia, que esta doenca nada tem com a ntaxgra. É com tudo de crêr que a mangra, inutilisando orgàos bào importantes para a vinha como são as suas folhas, e influindo de certo nos actos respiratorios e de nuesigZo, provoque o apparecimento de todas as oueas enferinidades, que atacam este delicado vegetal. ~/,.uctos.-h nos fructos que a ina)zgra se apresenta com mais intensidade; são as lesõcs dos fructos as que principalmente chamam a attengão dos que observam iiina vinha doente, nua só porqiie os sympornas do mal são aqui inuito mais visiveis, senão tãobem porque é a destrui$ão das Fvas a que causa pre,juizos mais immediatos aos viticulttores. A mnngra causa nas uvas, como nos outros orgàos da vinha estrragos maiores ou inenores segundo a sua intensidade, e a época em que as ataca. Se as uvas sào atacadas logo depois da queda da fiôr (uma uez pudte observar o oiáz'uin sohre os orgãos floraes da viilha[*]), ou se adoecem quaindo ainda são miiiio peqiienas, quando estão em n~unicâo,então o seu crescimento ou cessa desde logo, ou cessa pouco depois; as uvas parecem durante alguns dias como envolvidas n'um pó cinzento e ligeirro, que é o oiáz'izmi, e depois secam, tornam-se duras e negras, na sua superficie externa e na parte de seus tecidos internos que fica111 iiiaiis proximos da epiderine; até que, por Gm, o mal havendo atacado aãokbem os peduncuIos de cada bago, e até o pé que prende os caclios á pllanta, os fructos todos cahein, quando o vento ou a chuva veern acoiitar os ramos da vinha.-Se o oi&ul?z apparece inais tarde sobre os Gructos, isto é, quaildo elles teein as dinierisões de uma ervilha ou diinemsóes um pouco inaiores, então, umas vez= elle cobre a totalidade dos bagos outias só parte dos bagos do cacho, e mesmo se podem eaeonitrar bagos com ineiade ou um quarto apenas da sua s71perScie cohri.ta da cryptogainia, e o resto perfeitamente limpo. Nos logares atacaddos pelo oidiuin a pelliciila das uvas cobre-se de pontuacões, quasi semipre côr de castanlia a principio; depois, se o mal progride, as pequenas manchas se tornam confluentes; nào é raro encontrar manchas

( 1 Este aniio tem-ne sido possivcl observar o fungus parasita, muitas vezes, cu. brii~$~do pela parte exterior as fldrss ainda não abertas, ainda em botáo.

destas muito mais escuras, e lívidas, apanhando a inaior parte, e ás vezes toda a superficie dos bagos doentes. No caso, que estou descrevendo, quando as pontuacões escuras, e que são um poim salientes, se teeni tornado confluentes, ou mesmo antes d'isso quando ellas se teem disposto em linhas uin pouco irregulares do pedumuIo á extremidade opposta dos bagos, o que militas vezes succede, as uvas rebentam, abrem-se por uma fenda quasi tão regular corno se fora feita com um instrumento cortante, e põem a descuberto as grainhas, que continuam a crescer ás vezes, e tomam dimensões bastante consideraveis. Este incidente, qiie tantas vezes se repete, esta rasgadura dos tecidos epidermicos das uvas doentes facilmente se explica; basta para isso lembrar que a epiderme coberta das pequenas manchas escuras perde a faculdade de crescer e de se distender, em quanto qne a polpa cellular interna continúa a receber a seiva e a crescer; o antagonismo desta forca de distensão do tecido cellular das uvas, e da resistencia á distensão da epiderme, dá em resultado por fim a rasgadura dos tecidos. & sabido tãobem que entre o desenvolvimento das sementes e dos tecidos carnosos de qualquer friicto ha uma especie de antagonismo; as variedades de fructos mais succulentos e polposos dão geralmente sementes menos desenvolvidas e até em menor numero do que as variedades menos perfeitas aos olhos do pomicultor; não nos devemos pois admirar de que nos bagos de uva doentes, onde o desenvolvimento da polpa cellular é impedido pela rijeza da epiderme, e onde mais tarde, depois da rasgadura d'esta, elle cessa quasi inteirainente, as graínlias continuando a receber nutrisão se apresentem um pouco hypertrophiadas. Succede táobem ás vezes que os fructos atacados pela mangra neste segundo periodo de crescimento, não rebentam logo, mas continuam a crescer, e em vez de rebentarem, ou de endurecerem muito, amollecem interiormente, e soflfem uma especie de putrefac~ão;esta terminayxo do mal observei-a em alguns pés de vinha, na Madeira, mas observei-a muito mais vezes em algumas parreiras apparecisituadas nas proximidades de Santa-Cruz de Teneriffe.-O mento da inangra tãobein póde ter logar quando as uvas estão quasi a amadurecer, n'este caso a inucedinia já lhes não causa grande mal; as uvas continuam no seu desenvolvimento, passam ao periodo da maturacão, a cryptogamia cáe, e só ficam como signaes indeleveis da inangva as pontuacões escuras e um pouco elevadas, que, como disse já, se formam nos logares da epiderme dos fructos, onde a cryptogamia vegeta. Este terceiro modo de manifestacão da doenca, obser&-a muitas vezes sobre a variedade de vinha denoniinada Isa6elle.

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42 Os progressos da doenea podem ser atalliados nos fructos, appliteando-llies medica$òes tópicas como adiante direi, ou collocando-os perto do sólo, ou mesmo em irninediato contacto com elle; n'estes casos a cryptogamia cáe, mas as pontua~õesescuras da epiderme permanecem indeleveis, mesmo depois das uvas estarem limpas do oi&um. Estas pontua$ões, são devidas á modificacão que soffrem, não só a cuticula, inas os utriculos epidermicos, que ficam immediatamenie por haixo d'ella. Quando se observam estas manchas com o microscopio, vê-se que a sua côr é devida ao escurecimento da cuticula e das paredes das cellullas immediatamente subjacentes, e principalmente existencia dentro d'eçsas cellulas de um liquido amarellado, em que nadam globulos cuja côr é muito semelhante á que tomam os d o bulos azotados em presenca do iodo; as cellulas e a cuticula assim alteradas perdem a faculdade de distender-se, e é por isso que os bagos muito lesados pela mangra se fendem e rebentam. Nos bagos doentes q u e rebentam, o tecido cellular que constitue a sua pôlpa, em vez d e estar siiccu!ento e com a flexibilidade que lhe é propria, apresenta-se earnuso e rijo, semelhando-se ao tecido das folhas carnosas; cousa identica succede á pôlpa d'aqnelles bagos que, sem rebentarem, deixam de orescer por caiisa do excessivo endurecimento dos seus tecidos per iféricos. Pela descrip~ãodos symptomas da mangra em todos os orgãos da vinha vê-se, que o mais saliente, o mais conslante, o primeiro d e Ltodos elles 4 o desenvolvimento de uma cryptogamia, de um bolôr nia suprScic externa d'esses orgàos; é pois necessario, que eu dê aqui u m a descripcào succinta deste holôr, que tem sido objecto do estudo dios mai4 illustrados hotanicos da Europa, mas que é para todos elles assumpto ainda de duvidas e de incertezas. DoJungus dos vinhas,-Quando a doenp, que actualmente devasta as vinhas, appareceu em Margate em 1545, logo M. Tucker noloii a exiaencia de tini pó, branco, que cobria os orgZos da &uctificarão; este pó foi estudado por M. Berkeley, que reconlieceu sêr umlungus, ccom os. caracteres, seguudo este naturalista, que se attribwem 'ao geniem oidzum, e havendo considerado esteyungus como ainda &o desciripto, nem observado, deu-lhe o nome específico, peto q t d elle é hoje c
43 planta, que constitue o seu myce&w?iw,lo sei1 systema vegetativo, 6 formado de um numero consideravel de filamentos, teiliies, transpa-. rentes, divididos por dissepimentos de distancia a distancia, e entre-. tecidos uds com outros de maneira que formam uma rêde inextri-cavei e, muitas vezes, sobre os friictos, uma camada que encobre to-talmente a epiderme d'estes. Quando se separam uns dos outros comi m i a d o estes filainentos, é facil, em alguns, ver pequenos appendiceçs arredondados e curtos, qiie nascem do lado d'estes filamentos q u e voltados para a epiderme das uvas; estes appendices, que forann primeiro observados por Gasparrini, representam as raizes deste p e querio boIôr, e &o em tudo semelhantes aos prolongamentos radi-culares dos erisz$hes, fungus parasitas como este que estou descrevendo.^. Da parte superior do nyceliuna desta cryptogamia nascem duas espe-*cies diversas de orgãos reprodiictores; uns inuito simples, que se des,envolvem com grande rapidez e n'uma abundancia assustadora, oiitroqs menos abundantes, menos iaceis de observar, mas com uma orgaili-sacão mais perfeita. I? facil de ver, sobre tudo nos frnctos em que :a doença se tem manifestado uma ou duas semanas antes da observa$o), que da parte snperior dos filamentos estereis, que se fixam á epidermte cios fructos, se levanta immensa quantidade de outros filamentos d
aos spáros acima descriptoç, verdadeiros fructos formados por uma membrana cellulosa contendo dentro de si uma infinidade de corpusculos susceptiveis de germinar. Estes,fructos, que excedem ás vezes ein volume os sípóros acrogenios, foram primeiro observados pelo Sr.. Cesati, que os considerou o aparelha reproductor de umJungus diverso do oidizsm; opiniào queuma observa~áocuidadosa dos factos. torna inadpisçivel. O Sr. AmicP considera estes orgi.w cama,çerida,o afirelho reproductor do oi&&iz, mais. perfeito, e completo. E fóra de. d u ~ i d aque tanto os. spóros nUç, como. as granulas, que nascem dentro d:estes conceptaculos escuros de. que acabo de faliar; são. cqpazes de reproduzjr o cugumelo destruidor. da vinha; e que essa reprodiicção póde tãobem ter logar, quando um. fragmento, do myceliuvz se acha em circurnstancias de calor e de hu-midade proprias para excitarem a sua vitalidade. Para me convencer. &e que por toaos es* tres modos se podia reproduzi= o oidium, -cal-. Iwquei em tres vidros, de relogio fluctuando., sustentados. por umas. b~iasinhasde cortip, n'iim prato cam agua, e cobertos por uma campanula, 08 sp&os acrogenios, os corpusculosdos fructos capsulares, e . fragmentos de mnycelz'um; e abservei que todos estes orgãos davam, origem. a ramifica~õestransparentes* que em tudo se assemelliavarn. aos primeiro6 f i l a m t o s do o i b nascente.;. osl primeiros a ramifi-. car-se, o s que produziram orgãos de v,egeta@o mais, extensos, e ro-,. bnstos foram os fragmentos de mycelium;. seguiram-se depois.os spbros: nnís, que p s u w se desenvolv,eram;, fioalmente as granulas que uGram., emtre. si as suas ramifica@ãeh, e forminaram sobre o vidro de relogio, ujmq rê&sinha de uma tenuidade pasmosa.. Este bolor,, hoje tão. gçralmeute. conhecido, e por Èantas vezes des-. c ~ i p t oe, apesar d'isto objecto d& discussão entre os.mgcographos. Nãor s6 o nome de Oi&iu~:Xuckeri nao é adaptado por todos os botanicos, mas at.6 algu~s,põeme m duvida que elle pertknca ao genero oidium, e..outros até. qye, elle iertenca á classe natural das hyphomycetes. 0: Sir. Savi considerori estesJur~gus das vinhas como.devendr, servir de t m o a, u m genero noso, semelhante aa genero .qoridesmium; o Sr. Aimici, qge suppõe. tàobeni que elle d_eve constjtuir u m genero novo, jwlga com tudo que esse genero. tem analog.ia com o, ei.yst$he; M, Ekenberg, progae p r a o novo gener.0, que elle suppõe bem caracter.iisado,.pelo modo por que, segundo este k b i l observador, os spóros saiem dos-fructos oval are,^ da c~yptogamiaque lhe deve.sev:ir de. typo,. o nome de ~içinoboh~~Jlsren~inus,. e M. Castagne o , de let~eostomairaJmtahs.. Nào- 6 para admirar a diveigencia 'de opiniões &cercad'este' ,

45 bolor; as plantas simples, como esta, pertencentes B allianca das Fungulias, sào susceptiveis de tantas metamorphoses, deixam-se por tal fórma influenciar nos seus desenvolvimentos, e até nos seus orgCos mais esseneiaes, pelos agentes atmosphericos e pela natureza da ma.teria que lhes dá nutricào, tem caracteres iào fugitivos e difficeis dte Gxjlr bkm, que a divergencia de opiniões, as duvidas a respeito #estas plantas são quasi inevitaveis. Alguns mycographos ha que suppõenn r 2 0 ser o bolòr das vinhas uma especie nova, mas ama especie j& d'antes conhecida e descripta; sobre quak seja, porêm, essa especie hra Sobem entre estes myeographos opiniões divergentes. Uns suppõem, que esra planta é o oidiam lemonium, outros o erysiyhos eommunis. Como se vê d'esta rapida expsicào que fiz das opiniões de alguns botmicos notaveis sobre a parasita da vinha, miaiaos se inclinam, senào a suppo-10 um erys$he, ao menos a considera-lo como apresentando muitos caracteres analogos aos que distinguem este genero; a opiniào, porêm, de M. Tulasne, digna sem duvida da acten~ãodos mycographos, pelas excellentes razões em que se funda, vae a nada menos do que a identificar todo o genero oidium com o genero eryrl/[email protected]. Tulasne, depois de descrever os dois modos hoje conhecidos de fructificacào do denominado Oidiumn-Tuekeri, o dos spóros acrogenios moniliformes e o dos conceptaculos polysporos, mostra pela citacão de numerosos exemplos, que o pretendido oi&um é perfeitamente semelhante aos erys&hes na sua primeira +oca de desenvolvimento; e refnta a idéa, e m que esao alguns mycalogos, de que a uniào constante em que se acham certos oidium e e~:yst$he,por exemplo do 0.lef~conium Fr. com o E. pannosa Desmaz., do 6.moniZiuides com o E. Draminis etc. deve ser attribuida a serem os erys@he parasitas dos oidun~.Segundo M.. Tulasne os oidium são eris@hea que falta ainda o modo mais perfeito, e caracteristico de fructificacão, o dos fructos thecigeros; fructos globosos e negres contendo em si muftas thecas oligosporas. Sendo verdadeira- a opinião de M. Tulasne, o que posteriores observaqões po-derào só cabalmente demonstrar, o @i&u~u-Tuclleri não é mais do q u e iim eridphe ainda nào completo. E, d'este modo, &ca explicada a propagacão dos s-tipo&d'estes fungus das vinhas sobre ~laritaspertencentes a diversas outras ordens naturaes, e os estragos que elle produz em todas ellas; porque é bem sabido que es qsiphe &o Terdadeiros parasitas, muito funestos ás plantas phanerogamicas. Na Madeira pude observar nas folhas da ntenta viridis, do plrcntoga lgnceulrcta, de diversas abobreiras e roseiras, e nos pccegueiros elaritas cryptogamicas parasitas, com a fructificaçào moniliforme das

46 oicdium, e os germens que Iiaviain produzido estas parasitas parecia terem caído das folhas das vinhas; porque era principalmente nas pfantas, que viviain por baixo das parreiras doentes, que ellas appareciam. A semellianca entre a fructificacão moniliforine dos parasitas d'estas differentes plantas e a fructificacão do OirFium-TuclEe~tera perfeita; sóinente devo acrescentar, que nas roseiras e nos pecegueirgs pude obser-vas o terceiro modo de friictificago proprio dos erys@lle; e é sabido que n'uina e n'outra d'estas plantas citadas o O. lenconiunr se desenvolve associado com a erys+ht.pannosa, ou, segundo a opiniUo de M. Tulasne, n'estas diias plantas o erys$he apresenta todos os seus modos de fructifica$o. Uma outra planta em que encontrei tãobem o parasita da vinha foi na tabaqueira, com grande siirpresa minha, porque entre os muitos remedios recominendados contra o mal das winhas, apparecem as ablu~õescom a infusào de tabaco. Além doyzcn us que acabo de descrever, encontrei sobre as vinhas muito atacadas, a guns outros parasitas da mesma natureza, e, entre outros, no Euiido das fendas abertas pela doença nos bagos de uva, pude ver muitas vezes um bolôr pertencente ao genero moniha, e que me pareceu ser a monizia racemosa. Com a descripcgio do bolôr que caracterisa principalmenie a mangra temos terminado a descripcão dos symptomas d'esta molestia(.).

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Seria iinpossivel que diante de um acontecimento de tanta nta,giiitude e iiiiportancia, como a doenca das vinhas, os homens de sciencia ie os interessados na conservacão d'eslas iiteis plantas nào buscassem ]penetrar o segredo d'este grande phenomeno natural, nào procurasseni descobrir a origem, a causa prima d'este flagello. O impossivel não se (deu; pelo contrai~io,com o desejo de descobrir a verdade, o espirito ilanqou-se em idéas esyeculativas, em theorias mais ou menos singnllares, e até em extravagantes absurdos. Nào é intenqào minha discutir (*) Tenciono apresentar á Academia uma nota, em que exporei o resultado das iminhas observa$óes em 1854; nola que servir5 de complemenlo a esle arligo da pre'sente memoria.

aqui cada uma das Iiypotheses que se teem apresentado para explicar a mangra; algumas d'essas hypotheses não merecem nem as honras da discussão, e outras 3 foram discutidas por escriptores mais habeis do que eu: mas seja-me ao menos permittido fazer algumas consideratões sobre as principaes d'essas hypotheses, e filiar-me, por agora, entre os seguidores da que me parece ser a verdadeira. Quem nào tem, mais ou menos, em todas as coisas de sciencia e até em todas as coisas da vida a sua hypothese, verdadeira para o proprio espirito, ainda que falsa seja para o espirito dos outros, hypothese que o guia e o anima no estudo e no trabalho? De todas as Iiypotheses apresentadas até hoje para explicar o mal das vinhas, só quatro sào dignas de ser mencionadas: 1 .a Degenerescencia ou alteracào no organismo. 2." Excesso de saude, ou plethora das vinhas. 3." Estragos cansados por certo insecto da ordem dos thysaieU1'0S.

4 X l t e r a $ ã o produzida nos orgãos exteriores da vinha poa u m Funçus parasita. Degencresceneia ou dteeragão ieo organisi>rodas vwzlras. Os seguidares da Iiypothese que atiribue a doenca, que actualmente devasta a vinha, a uma alteracào no organismo d'esra pIanta, suppõem que essa alteracão é a causa grimi3iva da doenca e que o Oidunz-Tuckeri, e os insectos que, ás yezes, apparecam sobre os org;ios verdes da vinha sào unicamente resultados consecutivos d'essa primitiva alteracào. Esta hypothese é seguida por homens habeis e instriiidos, e com tudo ella, parece-me radicalmente falsa. Haverá porventura uma desgenerescencia geral da vinha, consequencia das culturas a qtie esta pplantri tem estado sujeita ha tantos seculos, e que teem modificado de tantos modos e iào profundamente as suas qualidades primitivas? Terá chegado, por assim dizer, a época de caducidade d'esta es~ecievegewl? Se a eultura, que tem produzido um =o grande numero de va-siedades d'esta especie, houvesse ao mesmo tempo causgdo uma altez a @ ~no seu modo de existir, tal que $ ' d a devesse necessariamente resultar unia serie de enfermidades, tadas consecutivas a essa alteragão, claro estd que os signaes de decadencia se deveriam mostrar simultaneamente em todos os indívidtios da especie, ou pele menas a ma9ifesta~;ioda decadencia dever-se-hia fazer, quando não fosse simultaneamente, pelo menos com irregtilaridade nos diversos districtos agricolas onde a vinha se cultiva; e 6 o que nào tem siiccedido, porq1.a

49 qual será esse agente?-Será uma influencia tellurica, d'essas influencias ligadas com a constituicão geologica do só10 oude existem as vinhas doentes, ou nakendo das revoluqões do globo, aualoga a uma de das suppostas origens telZu?.icas da cholera asiatia?-Ninguem certo o acreditará.-Será a doenqa causada por um modo particular de accão da electricidade atmospherica sobre a vinha? costume, em todos os grandes flagellos que desolam o mundo, ir buscar na electricidade atmospherica uma explicaqxo mysteriosa e grande ao mesmo tempo, que esteja, ao menos n'estas suas duas qualidades, em relacão com a causa dos nossos temores. Mas as provas faltam sempre, quando se busca demonstrar que ha relaqilo directa entre as niodifiucões da electricidade atmospherica, e as epidemias ou os outros phenoiuenos d'esta ordem que apparecem de tempos em tempos, e, faltam, porque o modo de existir da electricidade na terra e na atinosphera está longe de ser bem conhecido, e porque, ainda que o fosse, tornarse-hia difficil achar entre as suas altera~õesde intensidade, de direceão etc. e um plienomeno passado nos entes organisados a intima rela@o de causa a deito. Tem-se citado, para provar que a vinha padece de uma alteracão no organismo, de que o apparecimento da cryptogamica parasiia não é senão uma consequencia, observaqões, as quaes aiiida não foram verificadas por nenhum dos observadores que não seguem a opinião que estamos discutindo. Diz-se, que as vinhas, antes da apparirão do oi&tmz mostram alteraqões nos seus tecidos, uina apparencia morbida e nina côr pallida nos seus orgãos da vegetasão, e nos fructos aquellas pontua~õesescuras, que descrevi como um dos symptomas da nzangra. Todo isto, porêm, não é exacto segundo as minhas ohserVa~ões,que estão de acôrdo com as de muitos physiologistas notaveis: nenhum symptoma de mangra precede o ãppareciineuto dofungus parasita, o apparecimento d'esteyungus B o primeiro signal de doenqa nas vinhas (s). Se, por vezes se observam n'um ou n'outro bago de uva as manchas sem o oidium, $ quasi sempre facil ter em alguru outro bago do mesmo cacho a prova de que antes d'essas manchas existiu o parasita. Excesso de saude ou plethora das vinhas.-Esta hypothese absurda, a que se liga, porem, um methodo de tratamento das cêpas doentes, o inethodo das incisões ou sangrias de Guida, hoje totalmente abandonado, esta h~pothesequasi que não carece de refutarão. Todas Quando expozer o resultado das minhas oúserva@es u'este anno de i85.4, (e) direi o que hoje penso sobre este objecto.

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50 as observa@es até hoje. feitas, provam que a intensidade da d o e l a não tein rela~.ão.,algumacom o vigôr 'das cêpas; que ha plantas fracas muito atacadas,' qtie ha plantas robustas inteirhente isentas do 'mal. A variedade menos atacada. ná Madeira era uma das que ali .. mais robusta veg;etacão,. a Isdelle. Quem póde, depois d e apresentam meditar um pouca, acreditar que uma cêpa coberta 6e parras verdes e hrinosas, ~ e c a c h o em s flor,. ou de fructos abundantes seja uma cêpa $oente, e. que outra coin poucai parras de triste aspecto, com poug quissimos cachos,, e esses, pouco ricos e fructos,, se deva considerar e o m o . . ? ~ da p a . Sf! ~st&ag.os causacbspor tu11 izz~ectode ordem a5s thy~a-nunu~. Quando se observam os diversos orgãos. verdes. da vinba atacada pela manorara, ? e principalmente a s suas folhas, encontra-se bastantes vezes um iwe-. ctosinha da grandeza de dois millimeiros a e mais, de e& variauel, entre branco amarellado. e amarello, escuro, caminhando com: singular rapidez, quasi sempre Solitario, ora escondendo-se no mbelbn do fungus parasita,, ora o c r e n d . ~ao longo & s nerviiras. insecto , collocada por alguns naturalistas, na ordem dos ~hysanz~rus, este insecto que ás vezes, no f& de duas ou tres horas de observa~ô'essobre os orgãos da vinha doente, eu encontrei deas ow tres vezeç. apenas, i-dobem tem sido accusado de ser a causa primitiva de todas as lesões, que se ma-.. nifestam presentemente na planta productora do vinho. ,$. o. ncarus,. (al,gnns s"ppõern ser wn a c m s a insecto &s@uidbr) &cem os que seguem esta opiniào, que picando a epiderme das folhas ou dOs fructos: d a vinha causa a deso~ganisagão d'este orgào* e depois, consecuti-. ,Tamente a: essa desorganisacào, o. oi&ummdesenvolve-se e completa o mal principiado pelo terrivel animal.. Para mim- esta hypothese pro.posta como explica$ào da doensa d2%v,inhasié destitui& de plausibili{dade;.nào, porqqe seja4 absurda em si mesma,, como.algumas. outras 'bypoeheses, formuladas por escriptores de fertil. imaginacáo,. çen;os :porque não. tem segura. fundamento nos; factos.. A quanti&de dimi-. :nuta d e insectos que exisgcm nas- vinhas,. &o está ein propoqào com. ia intensidade e ertensào dos. males d è qiie o sjulgam causadores.; e, de. mais,. como observa o Dr. Bermla de Turin,. o insecto apparece emi ,Agosto e a mangra apparece niuit* antes d'esta época (*)., A&wacão pnodúziJ~.nos org@osexteriores;da.viniia.xor oJulrungus parasita..Accusa-se o s que adoptam a o~iniàode que .a.mal das vinhas ,

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(*) Nanota, que proximamente apresentarela Academia;.exporei Sobre estes pairasilas animaes. das vinlies factos dignos, talvez, da attencão dos que se interessam no.. iestndo das doeneas d'esta util planta.,

5r 6 unicamente devido á ae~ãodestruidora do oi&u,n parasita, de seguirem uma tal opiniào por ser mais simples do que todas as outras, e dispensar as profundas indagacões qiie sào neessarias para escrrutinar e descobrir a verdadeira e mysteriosa origem de um flagello t i o geral, o qual na sua marcha e propagacào apresenta bastante semieIhanca com as epidemias, as epizootias que, por vezes, atacam diversaas especies do reino animal. Esta accusa$ào é a melhor defesa, que se póde dar, da opini:%o dos que veem toda a origem do mal no terrível parasita. Para que se hào de inventar explicaqòes da m n n p a , perfeitamente arbitrarias, e sem fundamento nos factos, quando se pode vêr, se pode observatr, se pode apalpar, por assim dizer, a melhor das explieaqões da devaistadora doenca? Que analogia verdadeiramente admissivel existe entire o mal das vinhas, e a cholera ou a peste, para que se queira buscar para aquclla doenca e para estas uma explicaqào semelhante? Que Yemos nós na cholera ou na peste que nos possa explicar a origem dos terriveis symptomas que caraeterisam estas enfermidades, como o j%?zgus parasita nos explica os symptomas do mal das vinhas? A doenqa que ataca os Lichos de seda, n que os francezes dão o liorne de muscurdne, 8 uma das que maior analogia tem nos seus effeitos destruidores sobre orgàos superficiaes, com a doeiiqa das vinhais; e a causa d'csta doenp é um cogiiinélo do genero botfytis, ( b o t r f l s únssianuj gue se cleseilvolve sobre este insecto. Sobre vegetaes o ntumero de doencas ânalogas á & vinha, e tendo por origem uma cryptogamica parasita é muito consideravel. Assim a doenca das batatas, q u e a principio foi atfribuida a uma degenerescetneia da planta e a outras cansas muito variadas, sabe-se hoje muito bem que é devida ZQ bóotrytis i ~ f e s t a n s .A ferrugem dos trigos e a eária sáo devidos a parasitas fuiigoides. A rhisoctonia violacea que se desenvolve sobre a luzerna, o sanfeno, e o acafriio, e que já foi observada por M. Morntagne nos tuberculos da batata, causa a morte, muitas vezes, das plantas que ataca. Sobre as bagas da groselha M. de Schweinitz observou iim parasita, o erysiphe mors 7~vce,que causa a completa dest r u i ~ à od'estas bagas deixando os ramose folhas intactas.-Se oJu~zgus parasita das vinhas não é, como M. Tulasne suppõe de todos os oidurm, mais do que uma fórma incompleta de um ecys@he, entào n'ào pode haver nenhuma &fficuldade em considerar este f u n g u s con~oa causa unica dos padecimentos da vinha: os estragos eaiisados pelos erysiphe ás plantas, sobre as quaes elles se desenvolvem, s.20 bem conhecid66, e por ninguem contestados.

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A ezistencia sobre os orgãos verdes da vinha do oidum ou erys@he parasita é mais que bastante para explicar cabalmente todos os phenomenos que se observam na vinha doente. O contacto dos sugadoiros radiculares do fungus com a epiderme da planta, e a desenvolucão do mycetium por baixo da dita epiderme, explicam a morte das cellulas exteriores da planta, isto é, explicam a f o r m ~ ã odas manchas e das pontiiacões escuras, que são um symptoma caracteristico da mangra; a morte de grande parte das cellulas epidermicas da vinha explica a destruicão das folhas, o atrophiamento, a abertura, e o dessecamento dos friictos, emfim todos os outros estragos que se observam nas vinhas daentes. Todas as vezes que uma causa exterior, medicamen%oou posi$ãa vantajosa perto do só10 ou de uma superficie escura, impede o desenvolvimento do parasita nenhum symptoma da doeu9 se manifesta. Todas as vezes que o parasita apparece, como succedeu nas uvas da variedade americana muitas vezes citada n'esta memoria, só quando os fructos estão comeqando a amadurecer, os seus estragos reduzem-se apenas a algumas pontuacões escuras afastadas umas das outras, e sem inconveniente algum pará os fructos atacados, que completam o seu desenvolvimento e c h e g a á perfeita maturacão. Todas as plantas, outras que a vinha, onde a parasi8a da vinha* ou algum para5ita semelllante se desenvolve, a p r e s e n ~ mos mesmos. symptomas que caracterisam a mruagra. Onde o parasita apparece ha m a n g a : não ha masgra sem o fungus parasita. Estas razões, e as que se podem deduzir da exposigo que fiz dos symgtomas e marcha da doen~ada vinha na Madeira levam-me a suppôr que a causa d'esta doeu9 é c* parasita, que foi classificado, pcr H.B~rkeleycom o nome de Oidium-Tuckeri.

fóra de duvida. que o- mal. das vinhas não- respeita nenhuma das variedades d'esta planta, nào deixa isenta nenhuma localidáda,%. ~ e n h u msólo, nenhuma exposi@o; mas é tãobem certo que as Varie-

53 dades mais finas, e mais ricas em principias sacarinos, principalmente as variedades brancas, sào, em geral, as mais atacadas; é certo, e istio pode-se concluir das observacões de todos os que teem estudado est;a doenca, é certo que ella ataca mais as plantas que estão em sólo,~ fortes; lendo com attenGào alguns dos trabalhos que se teem escriptla sobre este mal das vinhas, e principalmente o relatorio de M. V. Rendu, pode tãobem concluir-se que a nhangra mostra certa prediilec@o pelas exposicões ao sul, ou antes a mangra parece ter menors predileccão pelas exposifles ao norte do que pelas exposicões ao suU. A vista d'isto, está claro, que a mangra devia encontrar na ilha d,a Madeira todas as necessarias con&i@es para ter um desenvolvimentca rapido e exuberante. A maior parte das variedades de vinha cilltivadas na Madeirai, principalmente no sul, S.% variedades muito finas e delicadas, e singularmente abundantes em assucar; de modo que n'ellas o Oidium-Twckeri achou, por assim dizer, um só10 perEeitamente preparado para o receber e o nutrir. O clima da Madeira é extremamente temperado. Em todas ais estacões a temperatura conserva-se bastante elevada, e a liumidade atmospherica é bastante grande para que os bolores se possam ahuindantemente desenvolver sobre os corpos organisados collocados em sit u a @ ~conveniente. E certo, come o provou, o Sr. Dr. Barral, que a Bnmidade na Madeira nào é tào excessiva como o suppôz por obserrvacões incompletas, e feitas n'um anno de grandes chuvas M. Masoni, porém, mesmo os que contestam as assercões de Mason, confessam que aa Ilha o ar tem quasi sempre em siispen&a grande quantidade d ~ e uapôres de agua. Segundo as observacões feitas no Funchal pelo Sr. Dir, Barra1 nos mezes, que decorreram de Septembro de 1832 até Abriil. de 185 3, eis quaes foram n'esses mezes a temperatura media, e a hauanidade atmospherica.

Observacüesfeitas

1852 e 1853.

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nei

Coniparando os resultados consignados n ' e s i ~tabella com os coiisignados nas tabellas seguintes, que sào tiradas das observa@es meieorologicas de Mason, vê-se que a temperatura media de todo o anno se conserva sempre aciiiia de 14" ceniigrados, e a huinidade da airnosphera é sempre inirito consideravel.

Ttxmperatura ntn~osplier.icano Fu;unclial, segundo Masoa.-1834-1835.

MEZES

I

MEDIATEMPHRATUBA

I

HBDIA MLXIXA TBId@ERATVnA

MEDI* X l \ l M & TEMPERATUBA

I

G+áo niedio de secura calculado pela cl"ièrenpz de dois chermonze~ros

um s2co 0uti.o huinido, segundo o methodo
As duas condi@es. rnals propicias. a o desenvolvimento dos boIores, o calor pouco variavel não descendo nunca abaixo de Pk0 centigrados, nem subindo muito acima de 26",.e a hbmidade pouco aRast,ada dò ponto^ de orvalho, sào as que o Oirr'ium-Tuckeriencontrou na >ladeira, e por isso elle ahi atacou as vinhas com uina pasmosa vio-~ lencia, e se tem conservado sempre. com umaintensidade assustadora, A natureza dos sólos em que a vinha 6 cultivada, e a exposicào da maior parte das encostas dos montes da Madeira, onde estào si-tiradas as Riais preciosas pYanta@es, devem ter cantribuido sobem parat tgrnar mais. intenso o mal que devasta -aquella-formosa Uha..

Antes de terminar este capitulo, direi duas palavras sobre os resultados obtidos na fabricalo do vinho com uvas atacadas pela mangra. Em 1.852 grande parte das uvas profundamente atacadas f6ram abandonadas pelos lavradores, porque se repntaVa, e com ravio, toda a despesa feira com a vindima de rào miseraveis fructos como toialmente perdida; no anno de 1853, porêm, a falta de vinllos ordinarios para o consuma da ilha da Madeira, e a total carencia de agiia-ar-

$6 dente, cuja importacão é prohibida na Ilha, levaram os possuidores de vinhas a fazer a vindima de uvas de liorrivel apparencia, cobertas de bolor, arregoarlas, isto é, fendidas longitudinalmente e com a pôlpa quasi inteiramente endurecida, de uvas emfim nas quaes um desgrap d o consumido pela fome hesitaria em tocar. De uvas n'este estado poder-se-hia tirar vinho? De certo que 60.O liquido que saiu immediatamente das uvas muito atacadas de mangra, que foram pisadas, foi um liquido um pouco mais denso que o mosto, com uma côr amarello-terrosa como a das aguas turvadas pela grêda, e com o cheira caracteristico da mangra, que é mais facil de reconhecer que de definir; cheiro repugnante e incómmodo, o qual se assemelha um pouco ao cheiro do cobre esfregado coin um acido pouco activo, o acido citrico, por exemplo. Este liquido, em que ha uma quantidade pouco consideravel de assucar, é susceptivel de fermentar, e fermenta eBectivamente, mas com bastante violencia e por pouco tempo; porque a proporyão en, que n'elle entra o fermento não está na devida relaqào com o pouco assucar das uvas doentes. Esse liquido, ao qual com difficuldade se póde dar o nome de vinlio, que resulta da fermentarào do sumo extraído das uvas doentes, é susceptivel de clarificarào, e toma unia côr alambreada a's vezes semelhante á do bom vinho; o sabor, porem, mesmo do mais bem preparado é deiestavel; porque a um amargôr muito sensivel, se junta o gosto insupportavel do fungus parasita. É certo, coin tudo, que do riso d'este vinho não resulta prejuizo i saiide do povo.

CAPITULO IV. TRA'FAMENTO DAS TINEAS DOENTES.

Não é minha tencào expor aqui a iiistoria de todos os processos, de que se tem usado com o fim de curar a terrivel doen~adas vinlias.

57

Ha uma tão grande multiplicidade de medicamentos empregados até hqje, e todos os dias se estào propondo tantos medicamentos novosinfelizmente, pela maior parte, nada proveitosos, sobre tudo para as a descripqào de todos elles sería um grandes cultiiras de vinha,-que trabalho fastidioso e iniitil. De mais, como n'esta memoria eu desejo unicamente narrar as minhas observayões nas ilhas da Madeira e PortoSanto, pouco a proposito viria a exposicào dos processos curativos empregados na Franca e na Italia, alguns dos quaes foram repetidos em Portugal pelo Sr. Dr. Beirão. Na Madeira o desalento apoderou-se dos peqnenos cnltivadores, e& ciijas màos está a quasi totalidade da terra, e por isso só excepcionalmente e ein pequena escala ali se fez uso de remedios contra a mangra. Antes, porêm, de dar conta d'esses pequenos ensaios feitos por ciiltivadores intelligentes, seja-me licito fazer algumas consideracões rapidas sobre os tratamentos das vinhas doentes, em geral. Logo que o mal das vinhas ãppareceu, os cultivadores assustados, julgando que a causa d'esse mal estava no modo de cultura geralinente adoptado, ou era o resultado de uma alterarão organica da planta, empregaram muitos meios, que deviam, segundo eIles, tornar-se curatiros; porque esses meios actuavam sobre toda a planta, ou sobre todo5 os orgãos em que a doenca apparecia. Fez-se o emprego da póda tardia, o da @da prematura; fez-se a renovaqão da vinha pela mergulhia; usou-se da sangria; arrancaram-se á vinha todos os orgCios novos, que se íain apresentando doentes; abandonaram-se as plantas, deixando-as sein cultura; e, apesar de todos estes meios empregados contra o mal, elle não desappareccu nem minoro11 sensivdmente. Segundo a opiniào dos que julgam a doença causada só pelo Oz&tdmn-Ttsckel-i, a inutilidade de todos estes tratamentos é facil de é a consequencia necessaria de nZo ter nenlium d'ellas accão directa sobre o fiingus parasita. Na Madcira algumas experiencias se fizeram dos tratamenlos de que acabo de fallar, e se n'um ou n'outro caso esses tratamentos pareceram dar utíl resnltado, deve isto attribiiir-se a outras causas, cuja influencia na mangra é bein manifesta sempre, deve attribuir-se a ficarem as varas e os cachos d'algumas plantas, em que as experiencias se fizeram, proximos do chão ou escondidos entre as hervas, ou a terem-se desenvolvido-alguns rainos, jh na época em que o OidumTuckeri não tem uma faculdade de reproduccão ião grande, como a que n'elle se manifesta no nieio da primavera ou nos principias do outono. 8

5s Em expcriencias praticadas no norte da Ilha, balseiras podadas em Janeiro e em Marco cobriram-se de mangrn. O sr. Veiga, na sua quinta da Levada de S. Luzia, fez varias experiencias, para vêr qual era a efficacia dos remedios propostos contra a mangra; consistindo uma d'essas experiencias em praticar a póda na época competente deixando dois, tres e quatro nós de vara, repetindo em Junho a póda nas varas em que se desenvolvêra a doenca; o resultado foi o nascerem ramos sem doenca que chegaram a fructificar. Mas em Septelmbro, quando eu visitei a quinta d'esie Sr., já n'essas mesmas varas apparcciam, sobre tudo nos fructos, evidentes signaes de mangra. Na Ribeira do Rato, no norte da Ilha, uma arvore, um til, que sustentava duas cêpas antigas, caíu nos fins do inverno de 1852 a 53: ein consequencia d'isto eortarain-se as cêpas perto do ehào, e OS novw rebentos vieram sem mangra, mas é de advertir que se conservaram estendidos sobre o sólo: isto mesmo succedeu em outras cêpas que por se julgarem sêcas foram cortadas á flor da terra. Tàobem na freguczia de S. Vicente eu vi uma pequena vinha, que fôra mergulhada, depois de ter sido em 1852 invadida pela doen~a,na qual havia varas sem manchas e que deu fructos que chegaram a amadurecer, sendo estes apenas levemente atacados dias antes da vindima. A sangria, que consiste n'uma incisào feita na cêpa a um ou dois palmos do chào, esta operacão praticada primeiro por Guida e que foi imitada na Italia e na Franca por muitos viticultores sem neuh~umautilidade, não me consta tàobem que fosse nsada com provento nas ilhas onde fiz as minhas observacões. Se de todos esses traiamentos, que só podem ter iafluciicia sobre , não póde dizer senào que a experiencia iem o estado geral da v i ~ h ase provado a sua completa iaefficacia, nàia swceae o mesmo aos tratamentos que actuam directamente sobre o oidium parasita. Esses tratamentos externos, ainda mesmo quandaelfes consistem unicamente na desiruicào do parasita por um meio mechanico, dào resultado satisfactorio, Experimentadores tem havido que, limpando as uvas amiiidadas vezes com um panno ou com pennas de pato, teem conseguido salvar alguns cac:hos da destruicão, mesmo sobre cêpas doentes. O inconveniente gravissimo de iodos estes remedios exteriores, cuja efficacia podemos as-. segurar, é serem de muito difficil applicacào nas grandes vinhas, e conseguintemenie causarem uma despesa, que difficilmenie póde ser compensada pelo valor dos productos obtidos dos vinhos, mesmo quando esttes subam a alto preso.

O enxofre tein sido applicado externamente ás vinhas doentes, ou puro ou em combinacáo com a cal, debaixo da forma d e hydrosulfato de cal. De todos os remedios que entram na segunda cathegoria, de todos os remedios externos, o enxofre é o mais simples, e o mais efficaz; mas a sua applicacào póde praticar-se de muitos modos. Foi Kyle, jardineiro inglez, quem primeiro empregou a flôr de enxofre; mas como o modo de applicacào adoptado por liyle era pouco corninodo M. Gontiér inventou para se fazer essa applicaqão um aparelho, que consiste n'uma bomba cilindrica terminada n'iim esferoide crivado de buracos, o qual espalha o enxofre em pó tenue sobre toda a superficie da vinha; varas folhas e friictos. Para que o enxofre fique bem adherente aos orgàos da planta a que se faz a applicacào, molha-se esta ligeiramente, antes de se lhe deitar o enxofre, ou faz-se esta ultima operaqào de madrugada quando a vinha está orvalhada; ha com tudo quem julgue de maior conveniencia applicar o enxofre sobre as vinhas sem serem hiimedecidas. Na Madeira a applicacào do enxofre ás varas doentes foi só mandada executar por Miss Caroline E. 6. Norton; e, ainda que o processo adoptado por Miss Norton seja menos perfeito, e, sobre tudo, menos economico do que o processo Gontiér, s30 com tudo muito dignos de ser conhecidos os resultados que S. Ex." obteve d'este medicamento. Deixaremos Miss Norton descrever, ella propria, o que obser~oiina sua quinta das Maravilhas. =As vinhas da minha quinta, escreve Miss Norton, rebentaram perfeitamente; e tanto que suppiiz que nào seriam este anno aconimettidas pela doenp; porêin antes de abrir a flor da uva observei que os cachos appareciain com pintas negras e alguma nznngra. aLogo que notei isto comecei a applicar-lhes o tratamento seguinte: aComprei flor de enxofre a 200 rs. a libra-e a misturei com estas em uma vaagua a ficar em consistencia de papas;-lanrando silha com a capacidade para n'ella serem mergulhados os cachos de uvas em todo o seu comprimento. <<Mandeipor uma pessoa mergulhar os cachos dentro da. dita vasilha, indo ao mesmo tempo outra pessoa mexendo a mistura para

6 i6 q u e o enxofke se náo precipitasse: alguns foram mergulhados mesmo antes de aberta a flôr e a maior parte já com bagos em mnni~ão. =Observei que os cachos antes de merg~ilhadosapresentavam uma côr de verde-amarello, e depois do processo uma melhor côr de verde-azulado e natural. ~Vendo'que esta operacão melhorava tanto a cor da uva, tratei logo de a applicar a todas as da quinta, comprando para isso enxofre de'canudo a 50 rs. a libra-que fiz pizar bem n'um atmofariz, e pe:neirar depois por peneira de rala das mais finas que encontrei. ~Infelizinentedepois de feita esta applicacào a todas as uvas, houve duas semanas de aguaceiros que levaram todo o enxofre que tinha ficado pegado ás uvas. Logo porêm que o tempo melhorou tornei a repetir o processo do mesmo modo, mas só n'um espaqo de tres aPqineires de terra. Quando depois appliquei o remeao ao resto das uvas
62 Canarias. Dizia-se que as cêpas que ha~iainsido caiadas, se tinham conservado sem doenca durante todo o anno de 1853. Se é verdade, como alguem suppõe, que as seminulas do oidium ficam, durante o inverno, depositadas nas escabrosidades das cêpas, os bons effeitos da caiadura d'estas póde, até certo ponto, explicar-se. O tratamento das vinhas que mais se vae generalisando na Filadeira, não tanto com tudo quanto seria para desejar, consiste eln coilocar as varas e os caclios doentes perto do chão ou mesmo encostados d terra, cercados pelas parras, por hervas verdes o11 mesmo sêeas, ou ernfim pela rama da batata doce. Este remedio, de uma extrema simplicidade, é de incontestavel efficacia; quasi todos os cachos de uvas collocados n'esta situacão, antes que a doenca Ilie houvesse causado grandes estragos, cresceram e chegaram a amadurecer; as varas, n'esta posicào deram parras novas de um verde excellente e sem naa~zgra; tudo emfim, tomou tal ou qual appareneia de saude. Este singelo metlhodo curativo achou um ardente defensor no Sr. Abreu Rego, possuiidor de algumas vinhas na Madeira; muitas vezes o Sr. Rego me mostrou uvas de boa apparencia, que haviam estado cobertas de mangra antes de terem sido encostadai ao clião; e a observayào d'estes factos, em cuja classe entram os multiplicados exemplos, que eu encontrei nas minhas explora~ões,de nvas sãs em vil~hasde pi, convenceram-me de que ha n'esta situacào, na proximidade do ~610,causas que impedem a desenvolu$io do fi~ngusparasita. Quaes são, porêm, essas causas? S~erápossi~e1 determina-las ? Para se desenvolverem, para nascerem, crescerem e se reproduziirein os bolôres carecem de liumidade e de uma temperatura não extremamente elevada, uein muito baixa, e pouco sujeita a grandes variacões; oç extremos de temperatura, ou mesmo as mudanps rapidas d'ella podem sem nenhuma duvida transtornar a vida dos Jung&s, cuja existencia delicada nào sabe resistir a nenhnma acyão violenta dos agentes externos. Ora, pensando bem nas influencias a que as uvas estào si~jeitas,collocadas sobre o sólo, reconhece-se claramente que ahi elllas devein receber durante algumas horas do dia um calor muito fowte, e de noute soffrer um resfriamento grande e serem lavadas pelo omallio abundante que, na maior parte das noites, d e na Madeira das falhas das plantas. Pela reverberaqào o só10 aquecido pelos raios solares aquece os corpos que lhe ficam proximos, e fa-10s subir a uma tempteratura muito superior á do ar atmospherico; esta accão do só10 é aproveitada pelos vitLcultores para apressar o amadurecimento das uvas; 6 para aproveitar esse calor que as vinhas sào na Madeira dispostas

horisontalmente a pouca distancia do cliào. Na altura, porêm, a que se acham as latadas, cinco palmos ou mais, a elevacão de temperatura produzida pela influencia do só10 aquecido é muito pequena, o que não siiccede a duas ou tres pollegadas do mesmo só10 onde essa temperatura sobe muito mais alto. A accào dos raios solares directos e muito grande na Madeira; a digerenca das temperaturas marcadas por dois thermometros, um ao sol e o outro á sombra, mostra claramente a grande intensidade d'essa accào. Eis aqui o qiie se encontra a este respeito no resumo das observações meteorologicas do Sr. Dr. Barral.

Deferen~asúe temperatura obseruadas no I;unchal, entre MA &ermometro de Fahrenheit á sombra, c rant thei.rnometro ao sol (o Sr. Barral não diz a-gue distancia do silo estava este segundo thermontetro),

Por estas observações já se pose concitiir a influencia que os raios do sol podem ter sobre um corpo qualquer, collocado a pouca distancia do 610, (porque de certo o therrnometro em que o Sr. Dr. Barral fez as suas observagões sobre a potencia dos raios solares estava n'esta situaçào). Para melhor se conhecer, porêm, a difl'erenp d e calor que recebem os cachos de uvas collocados n'uma parreira alta, ou mesmo sobre as latadas, e os que ficam encostados á terra, e para se ficar persuadido de que é principalmente a elevada temperatura a que estes ultimos esta0 expostos, que causa a destruicão do fungus parasita, reproduziremos aqui uma tabella extraída do livro de Mason - A treatise on the climate and meteorology $fMadeira.

riveIJungw, causa de toda a doenp. Quando os cachos doentes estão no chiio. e cercados da rama da batata, ou de outras plantas, a cura, diz-se, 6 mais rapida; parece-pos que a explicagão d'este phenomeno está na extraordinaria quantidade de orvalho que, em algumas noites, se deposita sobre as folhas verdes das plantas nos campos da Madeira, quantidade de orvalho que cáe sobre as uvas doentes e contribue para as limpar doyungus, que 9 calor do dia já amorteceu e desaggregou bastante; além de que, esia formapo de orvalho seguida depois de uma forte evaporacào, devendo causar um grande abaixamento de temperatura, a que succede poucas horas depois um calor de 75) e mais, origina taes e tão rapidas mudanps de calor e frio, que nenhumJungus as poderia supportar. Eis aqui o que ácerca dos remediw empregados na Madeira contra a doenca das uvas havia de mais interessante a dizer ; e, com este capitulo em que dei noticia completa, me parcca, d'eses remedios, julgo terminada esta minha tarefa. Seja-me, com tudo, permittido, antes de eoncBuir esta memoria, reunir em poucas palavras as principaea conel&s que d'ella se podem tirar.

1." As vinhas na Madeira teem valor@ muito diversos segrttido m a altura acima do nivel do mar, a exposicào, as variedades de que &o compostas etc. Debaixo d'este ponto de vista pode a Ilha dividir-se em duas regiões; a região do sul, e a do norte, sendo a primeira a que dá os vinhos mais preciosos,' 2." O modo de planta~áoe de cultura, a disposicão do terreno onde se fazem as plantacões, a necessidade das regas, tudo faz w m que &as vinhas se dispenda muito capital e muito trabalho; o que, junto 9 à

66 á necessidade de renovar as pfantagões com frqueneia por causa da sita pouca duragão, faz com que os vinhos sáiam ao lavrador por um prego elevado, e consegiiintemente não possam ter no mercado u111 .baixo prego. 3." A producg.ão e o eommercio de vmhos da Madeira kein nestes nltimos vinte e ciaco annos, pouco mais on menos, diminuido gradualmente, e esta diminuiqào tem sido acompanhada de uma baixa assustadora no peco, mesmo dos vinhos mais preciosos; de modo que a catastrophe, que a doenp das vinhas causou subitamente na @adeira, devia necessariamente acontecer algum annos rnãis tarde, a n% ter apparecido esta doenca, só pelas effeitos das terriveis tendencias do commercio, e da falta de previdencia dos cultivadôres da Ilha. 4." Das observacões feitas nas ilhas da Madeira e Porto-Santo conclue-se: Que as uvas e varas perto do sólo, ou entre plantas herbaceas, estão mais isentas da doenga, da que as collocadas a distancia d"elle. Que as variedades de viiiha mais rieas em assucar são as atacadas com maior violencia. Que o extremo oeste e o norte da Madeira padeceram meilos, eoinparativamente, do que o sul d'esta Illia. Que o vento norte, carregado de einanaqões salinas, parece coiitiariar o desenvolvimento da mangra. Que a doenca das vinhas já provavelmente existia na Madeira eni 185 1, mas que só em 1 852 se manifestou com toda a violencia. Que a doenga foi, provavelmente, transportada á Illia sobre rariedades de vinha que ahi foram introduzidas em 185 1. 5." A doenga das vinlias não d talvez nova; mas a este respeito iião se póde adoptar uma opiniào bem segnra por falta de doci:incntos positivos. 6." A doenca das vinhas é devida a um fingzls parasita, que é, pro%avelmente,um erys@he, em que não apparcce a forma mais perfeiia da friictiíica~ào. 7." Sendo a tnangm devida a uinJu~gw, a tenlperatura regular, o calor humido da atmospliera da Madeira deve considerar-se a causa prinripal da grande intensidade &a doenca naqueila Ilha. 8.' Todos aç remedios capazes de impcdir o desenvolvimento
?O." O coiibocto com o 5610 cura os orgsos doelitos da viriliia; e estc resultado é devido á elevada temperatura do só10 nas ilhas dai Xadeira e Porto-Santo dtiraiite as horas do dia, ein que o sol dardeja c0111 mais forca os seus raios calorificos. i 1." A extiilcção total da mangra na Xadeira iião pode vir senão de uma ii~fliienciacliiilaterica; mas com iiledicamentos pode minorar-se o iiial, que d'esta doeya resulta para os lavradores da Ilha. 13." Todos os exforcos dos lavradores e do governo devem terr p o r liin prir~cipaisiih5titiur á cultura cln viiilia outra cultiira lucratli~a,

FINHO BRAXCO

CCallieta

......................

Ponta do Sol.. .............. Ponta do S o l . . .............

s d'fstas qualidades.

O Secretario Geral, J. S. de A. rla Guerra Quavesma.

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