Sustentabilidade E A Sociedade Pos Moderna

  • May 2020
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AS BASES DA SOCIEDADE PÓS-MODERNA E A SUSTENTABILIDADE THE FOUNDATIONS OF POST-MODERN SOCIETY AND SUSTAINABILITY

Anderson Gomes Bastos¹ ¹Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, [email protected]

Resumo

A doente humanidade se apóia em cancerígenos pilares para se desenvolver e conduzir seu incerto futuro. Diante disto, uma intensa degradação dos meios naturais e uma população que sofre com a desigualdade e carece de meios para perceber a dimensão da problemática mundial. Ao longo da história, pensadores libertários criticaram a organização da máquina social e deixaram importantes contribuições para a importante e atual

crítica

à

nossa

sociedade.

Este

artigo

procura

relacionar

a

sustentabilidade com o comportamento do homem pós-moderno. A religião, a propriedade, o governo e o consumismo são alguns dos aspectos abordados.

Palavras-chave: sustentabilidade; pós-modernidade; governo; propriedade; cristianismo; consumismo; anarquia; primitivismo; anarco-primitivismo

Abstract

The sickness humanity is based in carcinogenic pillars to develop and lead its future uncertain. Considering this, an intense degradation of natural resources and a population that suffers from the uneven and lacks the means to realize the magnitude of the problem worldwide. Throughout history, thinkers libertarians criticized the organization of the social machine and left important contributions to the important and critical to our current society. This article seeks to link sustainability with the behavior of post-modern man. The religion, property, government and consumerism are some of the points raised.

Keywords: sustainability, post-modernity, government, property, Christianity, consumerism, anarchy, primitivism, Anarcho-primitivism

INTRODUÇÃO

O que é sustentabilidade? A definição de desenvolvimento sustentável surgiu na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, a Eco-92. Tal progresso busca o equilíbrio entre a proteção ecológica e o avanço econômico. O capitalismo global gerou duas tensões fundamentais [...], a estagnação dos níveis de miséria e pobreza – e o agravamento na concentração de renda - [...] uma crise ambiental sem precedentes, provocada pelo próprio modelo econômico “sucateador” de produtos e “esbanjador” de energia (Dupas, 2008). A miséria embrutece o homem e, para destruir a miséria, é preciso que os homens possuam a consciência e a vontade. A escravidão ensina os homens a serem servis, e para se libertar da escravidão é preciso homens que aspirem à liberdade. A ignorância faz com que os homens não conheçam as causas de seus males e não saibam remediar esta situação; para destruir a ignorância, seria necessário que os homens tivessem tempo e meios de se instruírem (Malatesta, 1903). Quando se fala em desigualdade e problemáticas do sistema, se está incluindo além do sistema econômico, características culturais já interiorizadas e provavelmente ignoradas a primeiras vista. A propriedade privada, a religião, o governo, são apenas prelúdios das principais influências da organização sócio-cultural. Já em 1762 Russeau questionava a legitimidade da convenção social pré estabelecida. “O homem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros. De tal modo acredita-se o senhor dos outros, que não deixa de ser mais escravo que eles. Como é feita essa mudança? Ignoro-o. Que é que a torna legítima?”. Trata-se de uma discussão que vai além do sistema escravocrata e a organização social. O que é que torna o governo e a herança dos milênios passados dignos de destituírem a nossa liberdade inerte? Quem deliberou que tantos homens pudessem possuir tanto, e tantos outros nada? Bakunin afirma a influência absurda do cristianismo no sistema de dominação. “Que a crença em Deus, criador, ordenador, juiz, senhor, amaldiçoador, salvador e benfeitor do mundo, tenha se conservado no povo, e

sobretudo nas populações rurais, muito mais do que no proletariado das cidades, nada mais natural. O povo, infelizmente, é ainda muito ignorante e mantido na ignorância pelos esforços sistemáticos de todos os governos que consideram isso, com muita razão, como uma das condições essenciais de seu próprio poder.” A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (Jacobi, 1997). Que tem a ver todas essas esferas com a problemática ambiental? Todas as coisas. Tal relação quando ignorada torna a crítica ingênua. As características aqui citadas não são apenas os moldes nas nossas relações sociais, é principalmente o que conduz nossas atitudes, nossa aceitação e, logicamente, o modelo insustentável, fadado a total destruição, que vivemos neste século XXI.

UMA SOCIEDADE QUE INCOMODA O consumismo é a principal característica da sociedade atual. As bases ideológicas do mundo se abalaram completamente após a revolução industrial, enquanto que a produção em larga escala mudou significativamente o comportamento das indústrias, da mídia e principalmente das massas. O resultado para este „boom‟ na produção repercutiu ideologicamente em todos os segmentos da sociedade. Comprar indefinidamente e produzir equipamentos necessários ou não para a população são duas ferramentas que sustentam o consumo. Além disso, a indústria midiática que também lucra neste processo induz diariamente o público a modernizar-se, comprando muito, fazendo o capital girar. Espalhar „a riqueza [...] assim você encoraja a esperança e a oportunidade‟ (Bush, 2006). Ligue a TV e verá uma tentativa de equilibrar o consumo e o meio ambiente. O consumo consciente, conceito que aponta para a sustentabilidade. Como então, tenta se adequar os problemas ambientais aos moldes do sistema? Não é mais sensato inverter esta lógica? É como um animal ferido, que tenta convencer seu predador a não devorá-lo. O capitalismo está sim em

sua decadência, a nova crise e os conflitos geopolíticos (oriente e ocidente) evidenciam uma época tensa. Segundo

Unabomber

(1995)

conseqüências foram um desastre

“a

Revolução

para a

raça

Industrial humana.

e

suas

Aumentou

enormemente a expectativa de vida daqueles que vivem em países <>, mas desestabilizou a sociedade, tornou a vida um inferno, submeteu seres humanos a indignidades, provocou sofrimento psicológico (no terceiro mundo sofrimento físico) e infringiu um dano severo ao mundo natural”. Kaczynski (Unabomber) ainda teoriza que o contínuo desenvolvimento piorará a situação, trazendo estilhaços até mesmo para os países desenvolvidos. A linha de pensamento de Unabomber nos leva a uma discussão revolucionária. É necessário se ter alguma perspectiva a respeito das possíveis soluções para uma sociedade que está ruindo e levando consigo todo meio natural. Antes de mais nada, o capitalismo não será destruído enquanto os trabalhadores, tendo se livrado do governo, não tiverem se apoderado de toda a riqueza social e organizado, eles próprios, a produção e o consumo, no interesse de todos, sem esperar que a iniciativa venha do governo, que, de resto, é incapaz de fazê-lo (Malatesta, 1903). Unabomber (1995) contrasta com a idéia de Malatesta, de certa forma indo no cerne do consumo. Afirma que “tudo que podemos fazer é delinear de uma forma geral as medidas que aqueles que odeiam o sistema industrial deveriam tomar para preparar o caminho para uma revolução contra esta forma de sociedade. Não deve ser uma revolução POLÍTICA. Seu objeto não será derrubar governos, mas as bases econômicas e tecnológicas da sociedade atual”. Tem-se então que o capitalismo, o consumismo e o governo agem em conjunto para sustentar as bases econômicas. Em contrapartida, o proletariado não tem preparação ideológica para assumir uma humanidade com bases mais libertárias. "O melhor governo é o que absolutamente não governa , e quando os homens estiverem preparados para ele, tal será o tipo de governo que terão. Na melhor das hipóteses, o governo não é mais do que uma conveniência, embora a maior parte deles seja, normalmente, inconveniente − e, por vezes, todos os governos o são”(Thoreau, 1849).

A MODERNIDADE E SUA HERANÇA Os pilares da modernidade criaram valores como a crença na verdade, alcançável pela razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso. Foi também ela convencionou o mecanicismo como a maneira de se „ler‟ o mundo. Não é por nada que por tanto tempo se ignorou as conseqüências do avanço tecnológico. O mundo era visto como uma máquina e o natural como algo a parte. Unabomber percebe as condições anormais que „caracterizam as sociedade industriais modernas‟, “a excessiva densidade populacional, o isolamento do homem da natureza, o excesso de rapidez nas mutações socieais e o desaparecimento das pequenas comunidades naturais, como o clã, a aldeia ou a tribo”. A sociedade moderna aglomerou então as pessoas, homogeneizando seus comportamentos e trazendo o desenvolvimento a frente das necessidades e anseios individuais. Giddens (1991) ao estudar Marx, Durkheim e Weber conclui que o trabalho industrial da modernidade era considerado por ambos como degradante. Entretanto, não foi previsto que existia um potencial destrutivo imenso em relação ao meio ambiente. Além disso, o totalitarismo, freqüente nos estados-nações modernos emergentes, aliava-se ao militarismo e construiu um ambiente mais que hostil, associado a degradação e a exploração das reservas naturais. “O tirano não opõe a liberdade do homem à sua necessidade, mas sim a liberdade do homem ao constrangimento, à passividade (Rotenberg, 2000)”. Uma nação que utiliza da tirania, do armamento e das disputas armadas, além do alto custo do desenvolvimento rápido „custo o que custar‟, está fadada a uma degradação e, condicionando de certa forma a população a acreditar que esta é a maneira que se deve conduzir uma sociedade „evoluída‟. DISCUTINDO CONVENÇÕES

O que é este governo americano senão uma tradição, embora recente, que se empenha em passar inalterada à posteridade, mas que perde a cada instante algo de sua integridade? Não possui a vitalidade e a força de um único homem vivo, pois pode dobrar−se à vontade deste homem. É uma espécie de

arma de brinquedo para o povo, mas nem por isso menos necessária, pois o povo precisa ter algum tipo de maquinaria complicada, e ouvir sua algazarra, para satisfazer sua idéia de governo. Assim, os governos demonstram até que ponto os homens podem ser enganados, ou enganar a si mesmos, para seu próprio benefício. Isto é excelente, devemos todos concordar. E no entanto, este governo, por si só, nunca apoiou qualquer empreendimento, a não ser pela rapidez com que lhe saiu do caminho. Ele não mantém o país livre. Ele não povoa o Oeste. Ele não educa. O caráter inerente ao povo americano é que fez tudo o que foi realizado, e teria feito ainda mais se o governo não houvesse às vezes se colocado em seu caminho. Pois o governo é uma conveniência pela qual os homens conseguem, de bom grado, deixar−se em paz uns aos outros, e, como já se disse, quanto mais conveniente ele for, tanto mais deixará em paz seus governados. Se não fossem feitos de borracha, o comércio e o tráfico em geral jamais conseguiriam superar os obstáculos que os legisladores continuamente colocam em seu caminho. E se tivéssemos que julgar estes homens inteiramente pelos efeitos de seus atos, e não, em parte, por suas intenções, eles mereceriam ser punidos tanto quanto aquelas pessoas nocivas que obstruem as ferrovias (Thoreau, 1849). Thoreau enxergou como ninguém o problema de um pensamento estabelecido, um órgão consolidado, e a total falta de questionamento e inércia. Não é porque existe uma sociedade organizada, com caminhos traçados e cargos a serem preenchidos, para se dar continuidade à maquinaria social, que se deve imaginar que esta maneira pré-estabelecida deve ser obedecida e tornar indissociável e imutável nossa maneira de habitar e conduzir o planeta. Muito facilmente se indica como Utopia, tudo aquilo que parece ser inalcançável e virtualmente inconveniente para a humanidade. Abalar todas as bases e costumes da sociedade é uma tarefa realmente complicada e desafiadora, pois invade as ideologias e dogmas mais profundos. Todavia, numa situação sem precedentes de decadência social e ambiental, é necessária uma profunda reavaliação das condutas das massas. Para se chegar a sustentabilidade é necessário não apenas a avaliação da trajetória da humanidade que conduziu-a a este lamentável quadro irrecuperável. É necessário começar novamente, destruindo os pilares mais antigos e injustos que formaram nossas nações. Do Deus tirano ao Estado

tirano se encontram falhas ideológicas que promovem a ordem injusta e ideologicamente engessada. Pode-se ter um governo que luta em prol dos seus governados, pode-se ter um Deus que acolhe seus fiéis, mas tem-se a miséria irrecuperável para tantos e o inferno, sem direito a perdão posterior, para os pecadores, independente de seus motivos. A liberdade, que nos é inata, aparentemente só existe no mundo das idéias. Não se pode morar nem viajar para qualquer lugar, sem premissas burocráticas

por

convenções

seculares.

Tornaram

nossos

recursos

propriedades inquestionáveis e, o desenvolvimento tecnológico e econômico contrapõe as necessidades do povo. O mesmo, se vê fadado a sobrevivência, impossibilitado de desenvolver-se na educação e na crítica/percepção da problemática mundial injusta. Também, o mesmo governo e a mesma indústria suja não irá repentinamente mudar e revolucionar a humanidade. Entretanto, não se pode negar, nem ignorar a possibilidade de evolução quando se há uma intensa pressão ambiental. O regresso ao mundo natural, o freio desenvolvimentista e finalmente o primitivismo, como precursor das primeiras sociedades humanas, poderia ser a perspectiva que falta à nossa sociedade. Chegará um momento que não será mais uma problemática na escolha. Em algum instante, as pessoas não terão mais opções e, para sobreviver, se possível, ao que restou do planeta exaurido de recursos, completamente consumido, terão que reconstruir novamente, com outras bases, a maneira como se pensa a sociedade e a organização da nossa, infeliz família, humanidade. REFERÊNCIAS

BAKUNIN, Mikhail Aleksandrovich. Deus e o Estado. São Paulo: Cortez, 1988.

DUPAS, Gilberto (org). Meio Ambiente e Crescimento Econômico: tensões estruturais. São Paulo: Editora UNESP, 2008.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991.

JACOBI, P. Cidade e meio ambiente. São Paulo: Annablume, 1999.

MALATESTA, Errico. Programa Anarquista. 1903.

PROUDHON, Pierre-Joseph. A Propriedade é um Roubo: e Outros Escritos Anarquistas. Editora L&M Pocket. 2005.

ROTENBERG, Izrael. História da Insensatez Humana. 2000.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. 1762. Disponível em: < www.cfh.ufsc.br/~wfil/contrato.pdf >

THOREAU, Henry David. A Desobediência Civil. Editora Martin Claret, 2005.

UNABOMBER. A Sociedade Industrial e Seu Futuro. Manifesto de „Unabomber‟.

1995.

Disponível

em:


SOCIEDADE-INDUSTRIAL-E-SEU-FUTURO-Manifesto-de-Unabomber?page=9>

ZERZAN, John. Futuro Primitivo. Sabotagem, 1999.

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