Somente O Muro Um muro enorme e branco dava a volta em todo o terreno, um enorme terreno cheio de árvores. Alto e inabalável muro, impecavelmente branco ao redor de uma terra cheia de outras cores, de vida e de morte. Parecia não ter fim o enorme muro, era, no entanto interrompido por um pesado portão de ferro fundido e batido, um bonito portão. Dentro do terreno, do outro lado do muro, parecia haver um jardim, um belo e extenso jardim, muitas plantas quase nenhuma construção. Pessoas entravam e saiam deste terreno, animais invadiam por sobre o alto e branco muro, gatos, sagüis, e pássaros, além de alguns roedores. O Muro era mantido branco e imaculado às custas de muito suor e muita tinta, o terreno parecia ser também muito bem cuidado, olhando-se pelo portão, mas era enorme, muito pouco se via, apenas uma pequena porção. Havia sinais de muita vida, havia traços de morte e de putrefação, havia de tudo um pouco por trás do muro branco e do seu pesado e negro portão. Nada pode ser mais enigmático que a neutralidade do branco, e que a grande muralha colocada ao redor daquele terreno. Não havia sinais de crença religiosa, não parecia um cemitério, era um enorme e lindo jardim, não havia qualquer construção como túmulos. Tirando-se o mau gosto da arte tumular cemitérios são lindo jardins, era uma possibilidade, uma possibilidade nada remota. As pessoas entravam ali em grandes grupos e saiam, mas nada de anormal parecia haver, nenhuma grande tristeza se abatia sobre elas, parecia um parque público, eu nunca tentei entrar lá. Os funcionários que pintavam incansavelmente de branco, o alto e extenso muro trabalhavam com vigor, não se abatiam por nada, dia após dia estavam lá cobrindo de branco a enorme muralha, ânimo não lhes faltava. O que se passa do lado de lá?