Sobre O Feminismo E O Que Se Pensa Dele

  • November 2019
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Sobre o feminismo e o que se pensa dele... Ontem à noite, escrevi pra umas amigas que, no final das contas, apesar da blogagem ter sido um enorme sucesso, ao passear por alguns blogs me deu uma certa tristeza. Gostaria muito de escrever mais sobre isso, mas estou saindo pra visitar um outro médico (esse, especialista em "Wolff") e depois vou, finalmente ver a exposição Dada, porque preciso relaxar, ontem foi muito cansativo. Mas, resumindo, fiquei triste porque são tantos os preconceitos contra o movimento feminista... Eu tenho muito orgulho de dizer que sou feminista, sim, e sempre admirei o movimento, que não é nada do que as pessoas imaginam. Afinal, do mesmo jeito que existem pessoas de todo tipo, também existem feministas de todo tipo. Mas, a essência e a história do movimento é desconhecida da maioria. Bom, como tem muita gente nova, por aqui, resolvi re-editar esse post que é mais do que atual, sobre os mitos que se têm em relação ao movimento e, assim que puder escrevo outro, mais recente, OK? Beijos e até breve! "Compreendemos o feminismo como uma teoria e uma prática política que se preocupa com a condição das mulheres e que está comprometida com a transformação das relações de gênero e dos sistemas de dominação em direção à igualdade entre homens e mulheres. Esta definição implica no questionamento de todas as relações de poder e hierarquia e no compromisso geral de alcançar justiça social." (Manual Idéias e Dinâmicas para trabalhar com Gênero, SOS Corpo, 1999) Hoje, eu comprei um livro lindo, The Power of Feminist Art e redescobri Barbara Kruger, artista que fez todas as imagens que ilustram esse post... as belas obras de arte do livro me fizeram pensar como as coisas podem soar tão diferente pra cada um(a) de nós. Feminismo, pra mim, é uma palavra linda, que me lembra libertação, alegria, felicidade, conquista, fraternidade, força, luta. Infelizmente, essa não é a imagem que o feminismo tem pra maioria das pessoas. Isso é o resultado da estigmatização do movimento. Eu fico mesmo impressionada como o feminismo conseguiu, entre todos, ser um dos movimentos sociais com maiores conquistas concretas, que refletem na vida de todas as pessoas e, ao mesmo tempo, ser um dos movimentos socias mais desacreditados e vítima de agressões de pessoas completamente desinformadas (ou mal intencionadas).

Não vou escrever sobre a história do movimento. Isso levaria muito tempo e muito espaço, então, sugiro a leitura de alguns dos arquivos que coloquei aí abaixo. Mas, acho que seria importante, pra todo mundo que a gente refletisse e discutisse, aqui, o que sabemos e como vemos esse Movimento que tem tido uma influência direta nas nossas vidas, mesmo sem a gente pensar nisso. Convido todos vocês, homens e mulheres, a participar desse debate. Eu comecei a "me sentir feminista" mais ou menos em 86, 87 e, nessa época, já tinha gente fazendo história, há muito tempo. Mulheres às quais eu peço a benção, porque elas têm nos ajudado a exercer direitos que, hoje, nos parece tão naturais: ao voto e à eleição; a ter maior igualdade de salários perante aos homens; a alguma proteção contra os assédio sexual no ambiente de trabalho; a alguma proteção contra a violência doméstica (vejam as delegacias das mulheres, por exemplo) muito mais direito a exercer sua sexualidade saudavelmente (menor importância da virgindade antes do casamento, maior pressão sob os homens para que "contribuma" para o prazer e orgasmo feminino etc.); a ser vista, em termos de saúde, integralmente, em todas nossas fases, não apenas como parte da "saúde materno-infantil"; a licença-maternidade de 120 dias; a uma legislação civil menos sexista; e por aí vai... (alguém quer acrescentar outras conquistas?) Imaginem, as meninas que estão começando a vida agora, como estão encontrando o caminho muito mais "fácil"? por isso acho que essas mulheres que lutaram, para que tivéssemos assegurados todos esses direitos, merecem, no mínimo, muito mais do nosso respeito, né? Ainda assim, a difusão de idéias equivocadas perpetua uma situação em que, infelizmente, as pessoas não têm a mínima idéia do que realmente é uma feminista. Vejamos alguns mitos (e verdades), repetidos como um "moto contínuo": "As feministas dizem que as mulheres são iguais aos homens" Essa é um dos equívocos que mais me irritam e que as pessoas repetem "ad eternum" sem pensar no que estão falando. Claro que sabemos que somos diferentes, mas o que discutimos é que não é possível aceitar que essas diferenças biológicas determinem o poder de um gênero sobre o outro. Não é porque parimos e amamentamos, que vamos ter que ser as únicas a cuidar das crianças, por exemplo. Talvez, em algum momento, há décadas atrás, as mulheres estivessem aprendendo a se colocar no mundo e a bandeira fosse a existência de uma igualdade total dos sexos, mas

existe uma evolução e uma compreensão das diferenças biológicas. Adoramos essa diversidade, desde que ela não seja usada para tolher nossos direitos. Então, por favor não saiam repetindo isso, por aí. "As feministas são amargas, mal amadas, rancorosas" Francamente, vocês acham que eu sou alguma dessas coisas aí acima? sou muito feliz, tenho um altissimo astral e muito orgulho de me colocar no mundo como feminista. Claro que existem mulheres sofridas no movimento, como em qualquer outro situação, local de trabalho, família. Amargura está por todo lado, mas ser feminista não significa ser amarga. Pra ser honesta, encontrei, entre as mulheres do movimento, pessoas muito "bemamadas" porque a consciência adquirida fez com que elas não precisassem ter sempre um homem que justificasse a sua existência. São bem amadas por elas mesmas. Também encontrei, entre as feministas, muitas vezes, casamentos bem ajustados, por serem baseados em valores muito sólidos de companheirismo, compartilhamento da vida, sem exploração de um pelo outro. (Um exemplo é da nossa querida Beth S com Ivan, que viveram felizes quase 25 anos. Beth S. foi uma das fundadoras do SOS Corpo um dos grupos mais importantes do Brasil e é uma dessas feministas maravilhosas a quem peço a benção.) "Sou feminina, não sou feminista" Acho engraçado que algumas pessoas que conheci no blog, quando me encontraram pessoalmente, comentaram que eu sou muito "feminina". Na verdade, não fico procurando ser uma coisa ou outra, nem acho que uma está dissociada da outra. Sou apenas a mulher que aprendi a ser. Sim, porque como dizia Simone de Beauvoir, "não nascemos mulheres, nos tornamos mulheres". Esse comportamento considerado "feminino" é adquirido, aprendido e ele não é determinado biologicamente. Da mesma forma que ser feminista não significa abrir mão do salto agulha. Lembro, sempre, de uma reunião da qual participei, que aconteceu em Nova York (95), preparatória para a Conferência Internacional da Mulher (Beijing). Estava no "caucus" (grupo) de mulheres da America Latina, sentada lá e admirando aquele monte de mulheres fortíssimas, inteligentes, cheias de idéias pra mudar o mundo, entre espelhos e batons, compartilhados fraternamente. Isso é ser feminista, pra mim.

Esqueça o estereótipo. Como todas as mulheres, as feministas são diversificadas, umas um pouco mais, outras um pouco menos vaidosas, mas poucas das que eu conheci se encaixa nem de longe no estereótipo de mulher com perna cabeluda e "malarrumada", que muita gente imagina do que é "uma feminista". "Feministas são radicais demais" Isso é parcialmente verdade e, na minha opinião, precisa ser. Todos os movimentos estão na vanguarda, precisam empurrar o trem da história, que só pega no tranco, se não forçar um pouco a barra, não sai do lugar. Se a gente não tiver alguém que seja radicalmente a favor do direito da mulher a "decidir sobre o próprio corpo", nunca conseguiremos exercer esse direito, portanto, antes de falar que as feministas são "radicais", pensem que esse radicalismo delas já significou - e ainda vai significar - muitas conquistas para vocês. "Feministas são muito raivosas" Não diria raivosas, mas "mulheres difíceis", sem dúvida. Já vi e me meti em muita briga dentro do movimento. Mas como vimos nesse post aqui, isso não é característica apenas das feministas, né? Digamos que, no movimento de mulheres, temos concentrada uma boa quantidade de figuras muito difíceis porque são fortes, inconformadas com a condição de passividade, poderosas e temperamentais. Mas não fomos nós, mesmas, que decidimos, no final da nossa longa e interessantíssima discussão, que "as boazinhas não fazem história"?! "Feministas odeiam os homens" Hahahaha... essa é outra que só rindo... nós namoramos e nos entregamos a relações intensas. Acontece que nós amamos homens que nos respeitam, que nos tratam com igualdade, que lutam do nosso lado. Bom, pra dizer a verdade, até amamos, de vez em quando, os homens "errados" também, porque isso é difícil de controlar, né? hehehe... Mas, não queremos os homens de "outro lado", queremos que eles sejam nossos companheiros, porque num mundo que que as mulheres têm direito iguais, as condições da sociedade melhoram como um todo, pra todo mundo. O problema é que os homens têm medo disso. E aí é mais fácil ridicularizar o que não se sabe como lidar, né? Francamente, tenho apenas pena dos que estão perdendo a oportunidade de viver relações adultas e, realmente, satisfatórias.

Agora, quanto aos homens que batem nas mulheres, matam e estupram... esses queremos apenas na cadeia, que é o lugar deles. "Feminismo não combina com a maternidade" Conheci feministas que são mães maravilhosas. Amamentaram, tiveram partos naturais, dedicaram-se às suas filhas ou filhos, mas, sempre sem esquecer que elas têm outros papéis no mundo, que antes de mães são mulheres, e acho que isso cria, até, uma relação bem mais saudável. "Feministas são todas lésbicas" Sem dúvida, as lésbicas são muito benvidas no movimento e temos todo respeito por elas. Porque são mulheres, como nós. Porque estão lutando pelo direito a exercer a sua sexualidade da mesma forma que todas nós estamos. Mas esse rótulo de que toda feminista é lésbica é uma das coisas mais machistas que se repete como forma de se reduzir a profunda diversidade do movimento. Não, nem toda feminista é lésbica. Mas, ainda bem, temos várias companheiras lésbicas no movimento, que só vêm enriquecer nossos pensamentos, com sua diversidade. "Feministas são frígidas" Até a Blitz, nos anos 80, cantava: "Frígida, Betty Frígida... rígida, eu não consigo relaxar", se referindo à Betty Friedan, figura histórica do feminismo nos EUA, dos anos 60. Acontece que foram as feministas que empurraram a mulher pra se conhecer melhor, aprender a se tocar, se olhar com um espelhinho para conhecer todas as suas "partes". Foram elas que disseram que masturbação não é pecado e não faz mal, mas ajuda a mulher a conseguir o orgasmo. Aliás, elas foram a primeiras a lembrar que orgasmo é um direito... Portanto, querid@s, de frígidas, não temos nada, muito pelo contrário, em alguns casos, somos até mais espertinhas que a maioria ;-) Conclusão Enfim, somos "rancorosas e amargas" ou "super mulheres"? nada disso. Somos mulheres como todas as outras. Entramos em crise, somos contraditórias, temos TPM, sofremos por ser difíceis, muitas vezes temos que optar entre investir na vida profissional ou a maternidade e tudo isso talvez se agrave porque temos, também, essa

consciência de que temos que lutar por direitos iguais, num mundo com tantas injustiças contra as mulheres. Enfim, viver já é complicado. Pra todo mundo. O melhor seria se a gente pudesse vencer esses estereótipos, ter mais respeito e ver cada um(a) como é, com todas as suas nuances... Se estamos aqui, na blogosfera, discutindo temas tão polêmicos como aborto ou orgasmo, devemos isso a essas mulheres que muitas de vocês, hoje, têm horror... vamos rever esses conceitos, meninas e meninos... Leia mais: Uma História do Feminismo no Brasil, Céli Regina Jardim Pinto Breve História do Feminismo no Brasil, Maria Amélia de Almeida Teles Texto de Denise Arcoverde in Síndrome de Estocolmo

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