A PATA DO MACACO Um roteiro de THAYSA TEÓFILO, THIAGO BAZZI E JUNIOR SILGUEIRO
Adaptado da obra homônima de W. W. Jacobs
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CENA 1 - EXT.CEMITÉRIO.DIA ALFREDO E MADALENA PEREIRA deixam uma flor em um túmulo. Alfredo permanece de pé enquanto Madalena faz uma oração. Ao longe, SGT BRANDÃO observa o casal com expressão de culpa enquanto fuma um cigarro. (take 1 - câmera em plano aberto. Vê-se a figura do Sgt. ao longe. take 2 - câmera atrás do Sgt. pessoas longe. 1º foco nele, depois foco nas pessoas seguido de pan PG) CENA 2 - EXT.CASA - VARANDA.NOITE ALFREDO sentado na varanda, cinzeiro cheio, copo de babida por terminar, introspectivo, olhar vago. Alterna cena com flashbacks de momentos felizes com o filho (partidas de xadrez, família em oração, momentos e olhares de cumplicidade). CENA 3 - INT.CASA - QUARTO.NOITE Durante mais uma noite de insônia o casal revira na cama. Madalena se levanta, caminha perdida pelo quarto, encosta na janela, olhar vago, de repente tem um estalo e diz ao marido. MADALENA (firme) Pede ele de volta! Alfredo olha assustado, incrédulo para Madalena. ALFREDO Você não tem idéia do que está me pedindo! CENA 4 - INT.CARRO.NOITE Sgt. Brandão dirige por estrada de terra. CENA 5 - EXT.CASA - VARANDA.NOITE Alfredo e Helberth jogam uma partida de xadrez onde nitidamente o filho leva vantagem. HELBERTH Xeque!
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ALFREDO (Indiferente, move uma peça qualquer) Mas também, de todos os lugares possíveis e existentes para se morar a gente escolheu o mais longe. Madalena dá um leve sorriso para Helberth. HELBERTH (sorrindo) Mate! Alfredo balança a cabeça negativamente. Sgt. Brandão chega de carro e o estaciona no quintal. Helberth fecha o portão e Alfredo adianta-se para recepcionar o Sgt. Brandão e acomodá-lo. CENA 6 - EXT.CASA - VARANDA.NOITE MOMENTOS DEPOIS Alfredo e Sgt. Brandão tomam whisky e conversam. Madalena e Helberth servem a mesa de jantar. ALFREDO Sargento Brandão... Ainda ontem era o Leonardo, brincando no armazém. SGT. BRANDÃO É, sêo Alfredo... o tempo voa... Fui para o exército e viajei peo mundo depois disso. ALFREDO Deve ter visto muita coisa por aí, né? SGT. BRANDÃO (rindo) Até mais que eu gostaria... MADALENA O jantar está na mesa, vamos comer? Durante o jantar o Sgt. Brandão conta sobre suas aventuras na Índia. HELBERTH Meu pai comentou que você foi para a Índia, sargento... Como é lá?
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SGT. BRANDÃO É. A Índia é um lugar muito bonito, com uma cultura fantástica. MADALENA Dizem que a religiosidade é muito forte por lá... SGT. BRANDÃO É mesmo. A maioria da população é hinduísta e eles endeusam a vaca como um animal sagrado... É um lugar muito interessante mesmo... FUSÃO PARA Todos conversam sentados na varanda após o jantar. Sgt. Brandão acende um cigarro. ALFREDO Outro dia você comentou algo sobre uma tal... pata de macaco, sargento... SGT. BRANDÃO (interrompendo) Acho melhor mudarmos o rumo dessa conversa. Prefiro não falar sobre isso. ALFREDO Tudo bem, tudo bem... (toma um trago) mas... tinha algo a ver com magia, não tinha? SGT. BRANDÃO (com ironia) Não vou conseguir desconversar né? (toma um trago) Aparentemente é só uma patinha... comum... ressecada. ALFREDO E o que tem de especial nela? SGT. BRANDÃO (remexe os bolsos enquanto conversa) Foi encantada por um homem muito santo... um faquir indiano que queria provar que quem rege a vida das pessoas é o destino e ninguém tem o direito de interferir. Disse que ela passaria por três homens e (MORE)
4. SGT. BRANDÃO (cont’d) que cada um deles poderia fazer três pedidos e eles seriam atendidos. HELBERTH Mas pode pedir qualquer coisa, tipo... casa, carro, dinheiro... mulheres? SGT. BRANDÃO Qualquer coisa, mas... ALFREDO E você fez os seus pedidos? Eles foram atendidos? SGT. BRANDÃO (Seco. Se atrapalha com o copo) Sim. MADALENA E mais alguém fez os pedidos? SGT. BRANDÃO O primeiro homem realizou os três desejos... MADALENA E você sabe quais foram? SGT. BRANDÃO Os dois primeiros não. (toma um trago, puxa forte o cigarro) Mas o último pedido foi para morrer. Foi assim que eu consegui a pata (tira A PATA do bolso). Um silêncio toma conta do ambiente. É CORTADO por ALFREDO Se você conseguiu realizar os três desejos, então ela não te serve mais... Por que ainda está com ela? SGT. BRANDÃO Não sei. Cheguei até a pensar em vendê-la, mas desisti... Ela já espalhou muita desgraça por aí... Acho que eu deveria destruí-la... (começa a esmagar a pata, fazendo menção de quebrá-la).
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ALFREDO Bom... se não tem mais uso pra você... que tal se eu ficasse com ela? SGT. BRANDÃO Sêo Alfredo... eu não poderia. Zoom in para o rosto de Alfredo ALFREDO Que que tem? Você não acredita nessa bobagem toda que acabou de contar, né? PA SGT. BRANDÃO Acredito sim! Close ALFREDO Leonardo. Me dê a pata! PA SGT. BRANDÃO (tentando argumentar) Sêo Alfredo, o senhor não entende... Close zoom out para PG ALFREDO (compassadamente. Visivelmente irritado) Me dá a pata! SGT. BRANDÃO (decepcionado) É... é a regra...Ela não me serve mais e você a deseja... Sgt. Brandão entrega a pata e Alfredo a pega bruscamente de sua mão. Madalena dá um leve cutucão em Alfredo e o recrimina com o olhar. Com o cutucão, Alfredo cai em si. CORTA PARA O carro deixa a propriedade. A família acompanha a partida com o olhar e entra na casa.
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CENA 7 - INT.CASA - SALA.NOITE Alfredo, Helberth e Madalena conversam. HELBERTH Será que funciona mesmo? MADALENA Não brinca com essas coisas. Vamos dormir que já tá tarde. HELBERTH E se a gente pedisse... sei lá... muito dinheiro?! MADALENA A gente não precisa de muito dinheiro. ALFREDO Mas um dinheirinho pra pagar aquele empréstimo não seria nada mal... HELBERTH Pede aí pai... uns mil e duzentos reais. Ãhn?! MADALENA (irritada) Eu vou dormir e vocês dois deviam fazer o mesmo. Boa noite. Madalena SAI. HELBERTH Acho que a gente devia ir dormir também. Isso é besteira. Zoom in para o rosto de Alfredo ALFREDO (O.S.) Mil e duzentos reais. Mil e duzentos reais... HELBERTH (O.S.) Pai... Pai! Ô pai! Alfredo fecha a mão em volta da pata. Zoom out para PC
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ALFREDO (Cont’d) Eu quero mil e duzentos reais! Luz pisca e a pata TREME na mão de Alfredo, que a atira num canto da sala. ALFREDO (assustado) Tremeu na minha mão. HELBERTH Para com isso pai. Você bebeu demais, isso sim. ALFREDO É... vamos dormir que o senhorzinho aí tem que trabalhar amanhã. Alfredo olha a PATA no canto da sala e apaga a luz. Alfredo e Helberth SAEM. CENA 8 - INT.CASA - COZINHA.DIA - MANHÃ Alfredo, Helberth e Madalena tomam café da manhã. ALFREDO Filho, passa essa manteiga, por favor. Helberth pega a manteiga e entrega para Alfredo. MADALENA Helberth, já está na hora meu filho. Não vá se atrasar. HELBERTH (Se levantando da mesa) É mesmo. Até a noite. Tchau. Helberth para na porta, olha para os pais e acena. Helberth SAI. CENA 9 - INT.CASA - COZINHA.DIA - MAIS TARDE Som de PALMAS no portão. Pela janela é possível ver um homem vestindo terno preto e com uma valise na mão. Madalena recepciona-o.
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NIVALDO Boa tarde senhores. Madalena e Alfredo o cumprimentam com um movimento rápido de cabeça. NIVALDO Meu nome é Nivaldo Moraes. Venho representando a Siderúrgica TWT, onde o... MADALENA Ai meu Deus. É Helberth! ALFREDO Calma Madá. Deixa o homem falar. NIVALDO (cont’d) Onde o filho de vocês, Helberth, trabalha. Hoje, durante a manhã ele sofreu um acidente e... MADALENA Como ele está? NIVALDO Foi um acidente com a fornalha... MADALENA E ele está machucado? Alfredo assiste ao diálogo em choque. NIVALDO Sim. Foi um acidente grave e ele se mahucou muito. Mas não está sofrendo. Madalena esboça uma reação de alegria, mas ao perceber o que o homem quer dizer, cai em prantos. Alfredo abraça Madalena. Alguns instantes de silêncio enquanto Alfredo traz para Madalena uma água com açúcar. NIVALDO (cont’d) Devo dizer aos senhores que a TWT não teve responsabilidade sobre o ocorrido, mas em consideração à dor da família, lhes enviou este cheque no valor de mil e duzentos reais.
9. Ao ouvir as últimas palavras Alfredo pega o cheque e fica em choque sentado no sofá ao lado de Madalena em prantos. CENA 10 - VÁRIOS TEMPOS E LUGARES LAPSE TIME das cenas anteriores rebobinadas aceleradamente. O tempo desacelera para velocidade normal em trechos importantes do enredo. FADE OUT CENA 11 - INT.CASA - QUARTO.NOITE MADALENA (firme) Pede ele de volta! Alfredo olha assustado, incrédulo para Madalena. ALFREDO Madalena, você tem idéia do que está me pedindo? Zoom in para o rosto de Madalena. MADALENA Alfredo, pede ele de volta! PA ALFREDO Já não basta de sofrimento? Close MADALENA (gritando) Você matou o nosso filho por uma merda de dinheiro!Agora pega aquela pata desgraçada e pede ele de volta! AGORA! Zoom out para PG ALFREDO (saindo de cena) Você não sabe o que está pedindo... Alfredo SAI. Alfredo ENTRA com a PATA na mão direita. Olha para a pata e diz.
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ALFREDO Eu quero o Helberth de volta Nada acontece. Alfredo busca um copo de água e traz para Madalena. Algum tempo de espera. Alfredo pega no sono, mas Madalena fica revirando na cama. Som de PEGADAS fora da casa. Som de BATIDAS leves à porta. Madalena cutuca Alfredo. MADALENA Alfredo, você ouviu isso? ALFREDO O que Madá? Não deve ser nada... MADALENA É ele, é Helberth! O cemitério fica a mais de dez quilômetros daqui, por isso ele demorou! Madalena começa a se levantar. Alfredo a segura pelo braço. ALFREDO Madalena, não é mais o nosso filho. Ele já está enterrado há três semanas. Você tem idéia de como ele deve estar? MADALENA Não quero saber. É meu filho e eu o amo. (Gritando) Já estou indo meu filho! Madalena SAI. CENA 12 - EXT.CASA - PORTA DA COZINHA.NOITE - PENSAMENTO DE ALFREDO POV DE HELBERTH A porta da cozinha se abre e revela Madalena com um sorriso no rosto que instantaneamente se transforma em um GRITO DE PAVOR. Helberth ataca Madalena, que se protege com seus braços. VOLTA À CENA
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CENA 13 - INT.CASA.NOITE SÉRIE DE PLANOS A) Alfredo procura pela PATA pelo quarto. B) Madalena se dirige à porta da sala. C) Alfredo tateia pela cama em busca da pata. D) Madalena não encontra nada na sala e vai para a porta da cozinha. E)Alfredo continua tateando pela cama em busca da pata. F) Madalena pega o molho de chaves e se atrapalha tentando abrir a porta. G) Alfredo pega a pata. H) Madalena consegue colocar a chave na fechadura e a gira. CENA 14 - INT.CASA - QUARTO.NOITE Alfredo ainda ajoelhado segura a pata na mão direita e diz. ALFREDO Eu quero que ele desapareça! CENA 15 - INT.CASA - PORTA DA COZINHA.NOITE O barulho de batidas cessa. Madalena abre a porta e não há nada do lado de fora. CENA 16 - EXT.CASA - QUINTAL.NOITE Madalena à porta com expressão de decepção. Alfredo chega por trás com um cobertor e o deposita sobre seus ombros. A porta se fecha. FADE OUT O FIM