Resenha – Show – Kvork / Paul Di Anno – 24/11/2007 – Blackmore Rock Bar – SP Por Eduardo “Jack The Ripper” Junior. Sábado à noite, geralmente um dia de curtir uma balada, uma cerveja com os amigos e um bom Rock N Roll, é, isto seria normal se fosse um sábado normal, mas esta noite era a noite de um encontro com uma das maiores lendas do Heavy Metal Mundial, Paul Di Anno, a primeira e lendária voz do Iron Maiden. A casa estava preparadíssima para o evento, sem mesas na parte inferior do palco como de costume, e com o local repleto de inúmeros maidenmaniacos (o que era de se esperar obviamente). O clima na casa estava ótimo, animado, com muitas caras conhecidas (a mim), já que a banda de abertura era integralmente composta por músicos da baixada santista, minha terra natal. Pouco após as 23 hrs, já podíamos ver a movimentação em cima do palco e os integrantes da banda Kvork sendo eles: Rodrigo BV (Voz), Yves Martins (Guitars), Raphael Mattos (Guitars), Edu Simões (Bass), Luciana Campos (Teclados) e Fernando Faustino (Bateria). Após os acertos começa o show e o que se vê é uma ótima banda, com ótimos músicos. Destaques para Rodrigo BV com uma voz muito bem encaixada na temática da banda e com uma influência explícita de Tim Owens, além do ótimo guitarrista Raphael Mattos que despejou muita técnica e riffs matadores na galera presente, além de um desfile de guitarras que chamou a atenção pela excentricidade delas (ora com bolinhas brancas, ora estilo vaquinha rs). Os sons próprios da banda são muito bem recebidos pelo público, possuem peso, melodia e agressividade. Alguns covers foram muito bem executados, sendo eles: Holy Diver (Dio), Bark At The Moon (Ozzy) e Rock You Like a Hurricane (Scorpions) e deu aquela chacoalhada na galera. A mim foi uma grande surpresa ver esta banda de pessoas relativamente conhecidas, devido a minha vida em Santos e região e também aos contatos que tenho no Underground por lá, inclusive já tendo realizado uma resenha da ex-banda de alguns dos integrantes do Kvork, o Dream Land (na ocasião abrindo para o Primal Fear) a evolução desta banda para a anterior é inegável a meu ver. Fim de show de abertura, e a ansiedade toma conta do local, os maidenmaniacos que estavam pegando uma cerveja, trocando idéia e acompanhando o show de abertura de longe, começam a se aglomerar junto ao palco e aguardar a entrada em cena do grande nome da noite e uma das maiores lendas vivas e figura carimbada da NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal). O primeiro que surge ao palco é o ótimo baterista Dado Romanholi e logo em seguida o restante da banda (formada por integrantes do projeto Diamond Dogs de Minas Gerais.) e já incendeiam a galera com a clássica e imortal “The Ides Of March” (cantada em coro pela galera presente e por quem vos escreve) e onde já víamos Paul Di Anno de canto esperando para soltar a voz. Nota: a visão que temos é de um homem marcado pela idade, pelos anos e anos de extravagâncias e falta de cuidado consigo mesmo, sua dificuldade de locomoção devido ao trauma em seu joelho (agravado por um imbecilóide durante a passagem da banda por Belo Horizonte) é uma cena à parte. Logo acaba o primeiro petardo da noite, o ótimo e carismático baixista Raone Franco começa a executar uma das
músicas que imortalizaram a voz de Paul Di Anno e que é executada até os dias de hoje pelo próprio Iron Maiden, trata-se de “Wrathchild” que fez com que os maidenmaniacos presentes se esgoelassem para acompanhar Paul, que em vários momentos levou o microfone ao público e deixou que seus fans cantassem essa que sem dúvida é uma de suas melhores músicas e que ajudaram a transformá-lo em uma lenda. A dificuldade de locomoção de Paul é rapidamente deixada de lado tamanha a simpatia, carisma e entrosamento entre Paul e o público presente, mostrando que não importa a idade, as décadas que se passam, quando se possui o talento e a bagagem, não tem nada que apague isso. O show segue, e mais um grande clássico da era Paul Di Anno é executada, “Prowler” também cantada em uníssono pelo público. Entre uma música e outra Paul sempre simpático e degustando uma cervejinha gelada brinca com o público, cita o publico de Campinas (comparando-os ao de São Paulo), e em uma de suas falas antes de anunciar a próxima faixa ele deixa escapar um “Scream for me” (frase característica de seu sucessor no Iron, nada menos que Bruce Dickinson) e logo em seguida solta um “Ohhh fuck you Scream for me” e solta um sorriso cheio de ironia e aquela velha alfinetada de sempre. Seguem-se “Marshall Lockjaw” do ótimo álbum “Murder One” de sua época de Killers, seguida por “The Beast Arises” e “Children of Madness” do Battlezone. Para quem pensou que os clássicos de sua era Iron Maiden tinham acabado se enganou completamente, todo fan de Iron que se preza tem em sua coleção os cds gravados por Paul, e todos citam “Murders in The Rue Morgue” como sendo uma das melhores faixas já gravadas por Paul e pelo próprio Iron e é justamente ela que se inicia, mais um petardo que arrepia a galera e faz pensar “Se hoje em dia, esta música causa essa energia no público, o que dizer a 30 anos atrás?” Paul detona e mostra mais uma vez que a idade está com ele, mas a velha voz inconfundível também. Segue-se mais uma faixa de sua carreira pós Maiden, “Faith Healer” e em seguida mais um clássico imortal da donzela de ferro, “Remember Tomorrow” que foi em minha opinião o ponto alto do show, pois não havia quem não a estivesse cantando e onde Paul pode mostrar que os agudos ainda estão lá apesar do cigarro, idade, bebida gelada e etc, práticas que todo vocalista cuidadoso evita, mas chamar Paul Di Anno de cuidadoso e até mesmo ajuizado diante de sua carreira e história é forçar um pouco a barra. Segue o show com “A Song For You” do álbum “Menace to Society” do Killers, a melhor coisa que Paul Di Anno gravou em sua vida pós Maiden. O que vem a seguir é uma seqüência fenomenal, executada com maestria pela banda que acompanha. Ë notório pelo visual e pela atitude que Paul Di Anno, não abandona aquele ar punk rebelde que o consagrou no Iron Maiden, e toda aquela coisa da Anarquia, da revolta contra o sistema e coroando isso tudo, faz um discurso carregado de raiva e opiniões fortes a respeito do presidente americano George W. Bush convenhamos que não é preciso ser punk, nem fazer parte de nenhuma tribo em específico para odiar esta pessoa, e sim ter um QI maior que de uma rolha, mas Paul Di Anno é contundente e claro em sua desaprovação ao governo Bush e o cita como assassino, iniciando assim sugestivamente aquela que se tornaria mais um hino dos anos 80 “Killers” do seu clássico e derradeiro álbum como
vocalista do Iron Maiden, seguidas por nada mais nada menos que “Phantom Of The Opera” onde a banda que o acompanha demonstra total entrosamento e competência, pois trata-se de uma música a qual todo fan de Iron conhece de cabo a rabo e eles não decepcionam, destaque para o guitarrista Nanji (ex Sarcófago) que detonou pela presença de palco. O que acontece a seguir é algo que não ocorreu durante toda essa turnê de Paul por terras tupiniquins, uma Jam com um vocalista local, Rodrigo BV sobe novamente ao palco, para dividí-lo com uma lenda, e cantar com ele uma das maiores músicas de uma das maiores bandas de Heavy Metal de todos os tempos “Running Free” segue e incendeia a galera, a emoção do fan cantando com o ídolo é clara a qualquer um que acompanha o underground e o Rock n Roll, Paul Di Anno totalmente à vontade e tranqüilo no palco, Rodrigo BV demonstrando e desempenhando muito bem o seu papel no palco, o de um fan com muito potencial e com uma voz potente e de muito futuro dentro da música pesada, em particular a mim pelo fato de ser também de Santos, foi algo incrível de se presenciar e de ver que apesar das barreiras criadas entre a cena underground de SP e do litoral, a baixada santista tem muitos músicos e pessoas competentes do meio Rock N Roll, e faço votos que situações como essa se tornem corriqueiras seja na baixada Santista, em SP ou em qualquer outro local do Brasil. Após o fim de “Running Free”, a banda sai de cena, com Paul demonstrando mais dificuldade ainda de se locomover e também um claro cansaço. O público pede o tradicional BIS e Paul mesmo debilitado, mesmo tendo de enfrentar alguns degraus ingratos entre o palco e os camarins, volta ao palco com sua banda para fechar a noite com “Transilvania”, “Blitzkrieg Bop” dos Ramones (o que deixa claro sua influência Punk e aquela pitada de rebeldia da sua época de Maiden) e “Sanctuary” outro clássico imortalizado em sua voz desde os idos do “SoundHouse Tapes”, uma noite perfeita para qualquer fan de Rock N Roll e de Heavy Metal, que ficará guardada na memória especialmente ao sortudo Rodrigo BV que ainda conseguiu passar o dia de domingo escoltando Paul Di Anno pela cidade, e recebeu do mesmo um elogio e a frase “Você e sua banda foram os únicos que eu quis assistir e que chamaram minha atenção durante esta turnê”, enfim, se uma pessoa com mais de 30 anos de estrada, com a bagagem e o nome de um Paul Di Anno diz isso, é porque existe potencial e futuro a banda e ao músico, parabéns a todos os envolvidos e ao público presente. Agradecimentos especiais: Blackmore Rock Bar, Brunno “pagador de comandas” Oldrine, Banda Kvork e Banda Diamong Dogs (pela simpatia e atenção nos bastidores). Ponto Negativo: Um segurança de camarim que devia ser funkeiro ou algo do gênero e estava de muito mau humor tratando todas as pessoas de forma hostil e desnecessária, lamentável em uma noite sem nenhuma confusão e onde o bom e velho espírito rock n roll estava presente com todos, exceto com esse cidadão. Contato Banda Kvork: www.kvork.linceeventos.com.br