Navegar não é preciso. É fundamental. Regina Cajazeira RESUMO Este trabalho faz uma explanação sobre a história da Educação a Distância, no Brasil e no mundo, visando estudar a possibilidade da sua utilização na educação musical. Define a Educação a Distância, após a implantação das novas tecnologias, que permite a interação do aluno com o professor. Traz o resultado de uma pesquisa sobre os curso e os segmentos da sociedade interessados em estudar música através desse modalidade de ensino. E conclui com uma recomendação ao professor para a utilização de novas tecnologias como recurso pedagógico.
A educação, como um todo, está passando por um período transitório devido à utilização da tecnologia. Os computadores, hoje presentes nas escolas, nas universidades, nos bancos, nas empresas, nas residências, enfim, em toda parte, estão mudando a maneira de se obter informações e de se adquirir competência. Este trabalho propõe repensar a Educação Musical a partir das mudanças que vierem em decorrência da nova tecnologia. Além do uso do vídeo e do CD Rom, como recurso didático, existem a internet, o telefone e o fax, que permitem interatividade a longas distâncias. Esta possibilidade está fazendo modernizar e ampliar a Educação a Distância, uma antiga modalidade de ensino, surgida em 1728. Quando ainda era chamada de Ensino por Correspondência, a EAD1 oferecia cursos através dos jornais. Um anuncio publicado na Gazeta de Boston, nos Estados Unidos, oferecia assim um curso de taquigrafia: “toda pessoa da região desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa varias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston.” (Lobo Neto,1995, 3) Em 1856, surgiu a primeira Escola de Língua por Correspondência, em Berlim. Mas só em 1891 foi criado o International Correspondence Institute, na Pennsylvania, nos Estados Unidos. No ano seguinte a Universidade de Chicago, que já tinha experimentado o ensino por correspondência para formação de professores de lº grau, implantou a Divisão de Ensino por Correspondência do Departamento de Extensão. Alguns anos depois a Suécia, criou o Instituto Hermond, voltado exclusivamente para o ensino a distância. 1 Leia-se Educação a Distância
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No século XX a Educação a Distância se consolidou e se expandiu, transformando o antigo Ensino por Correspondência, numa simples estratégia da nova Educação a Distância (Lobo Neto, 1995, 5). Pesquisa publicada em 1984, em jornal dos Estados Unidos, constatou que há registro e documentação de funcionamento de EAD em cerca de 80 países, com mais de 2 milhões de estudantes inscritos; que existem mais de 696 programas, em 26 línguas; e que há programas de EAD em todos os níveis: educação permanente, educação temporária e educação emergêncial (Ibid., 5). Na Conferência Mundial de Ensino a Distância, realizada em Oslo, na Noruega, em 1988, foi apresentado um levantamento mundial da EAD sobre a escola pós secundária, mostrando que existem 4 milhões de alunos matriculados. A partir da Conferência de Oslo, antigas Universidades incorporaram a EAD e novos institutos foram abertos na Espanha, Alemanha, Tailândia, Venezuela, Costa Rica, Colômbia, assim como a famosa Open University, na Inglaterra. Nesses paises a EAD já ultrapassou, há muito, a fase experimental (Lobo Neto, 1995, 7). No Brasil, o Diário da União publicou em 1998 um Decreto regulamentando a
Educação a Distância. Mas outros artigos também mencionam a EAD2 (Lobo Neto, 1995, 2) que esta deixando de ser um sistema de ensino esporádico, a serviço de projetos experimentais, emergenciais ou paliativos, para libertar-se do preconceito de ensino de 2º classe e tomar-se uma nova modalidade de ensino3. Aqui no Brasil, desde a fundação do Radio-Motor, em 1939, e do Instituto Universal Brasileiro, em 1941, várias experiências foram iniciadas na EAD (Guaranys, 1979, 18 apud Ivônio, 1994, 13), porém ela só começou a projetar-se na década de 60, com a comissão para Estudos e Planejamentos de Radiodifusão Educativa, que criou o programa nacional de Teleeducação. No nordeste foram desenvolvidos programas de EAD no Rio Grande do Norte, Maranhão, Ceará e aqui na Bahia
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2 Art. 32*4. Determina o ensino presencial para jovens exeto em caso de complementação e emergencial. Art. 47*3, quando trata de ensino superior e isenta professor e aluno da presença nos programas de educação a dist6ancia. Art.31*1, quando
diz
que
“os
sistemas
educacionais
assegurarão
...
oportunidades
operacionais apropriadas consideradas as características do aluno e seus interesses, condições de vida, e de trabalho mediante curso e exame.”e o Art.2º * 1º , tratará especificamente de programas de Mestrado e Doutorado. 3 Lei 9.394/96, nas Disposições Gerais.
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através do IRDEB. Em nível nacional os programas mais conhecidos do sistema EAD, são o Tele Curso 2º grau, iniciativa da Fundação Padre Anchieta e da Fundação Roberto Marinho. A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, fundada em 1971, também veio dar grande contribuição a EAD, organizando seminários e publicando a revista Tecnologia Educacional (Preti, 1996, 19-21). No Brasil uma das primeiras experiências universitárias de EAD foi feita pela Universidade de Brasilia-UnBna década de 70. Com o sucesso da Open University, na Inglaterra, a UnB, que pretendia ser a Universidade Aberta do Brasil, comprou direitos autorais da Open, traduziu e implantou alguns dos seus cursos (Ivônio, 1994, 28). Entre os curso traduzidos estava o Curso de Música, que abrangia fundamentos da música, notação musical, harmonia, textura, estilos musicais; forma, análise formal e orquestração. O curso continha 16 fascículos (com exercícios de treinamento auditivo e auto avaliação), cinco discos, quatro cadernos com partituras e uma flauta doce. Nos últimos 20 anos, apesar dos resultados aparentemente positivos, aconteceram alguns problemas que abalaram a estabilidade do ensino a distância: a desatualização do material didático, melhor atendimento ao aluno, o sistema ultrapassado de avaliação e a não consideração das diferenças regionais (Preti, 1996, 23). Muitas vezes a EAD é confundida como um sistema de alta tecnologia pronto para liquidar o ensino tradicional e seus professores, que seriam substituídos por monitores de TV. Na verdade a internet e o vídeo são apenas dois recursos utilizados pela EAD. Mas ela pode ser desenvolvida por meios econômicos e populares (Ivônio, 1994, 18). O uso de modernas tecnologia só é recomendável quando a EAD ganha dimensão de educação de massa. Por conta de todos esses contratempos criou-se no Brasil um preconceito ou um conceito errado sobre EAD, tentando compara-la com a educação presencial. Estudos recentes apontam para uma conceituação mais precisa e homogênea da EAD. Como característica básica a EAD “estabelece uma comunicação de dupla via, na medida em que professor e aluno não se encontram juntos na mesma sala” exigindo meios que possibilitem a comunicação entre ambos. Porém um texto isolado de instrução programada, um vídeo instrutivo ou um CD Rom, não chegam a 3
caracterizar a EAD (Walter Perry e Graville Rumble, 1987, 1-2 apud Ivônio, 1994, 16). O ensino a distância “pressupõe um processo educativo sistemático e organizado que exige, não somente a mão dupla de comunicação, como também a instauração de um processo continuado, onde os meios ou multimeios devem estar presentes na estratégia da comunicação.” A EAD também pode ser definido como uma série de métodos de instrução, onde a ação do professor é executada à parte da ação do aluno, incluindo as situações que podem ser feitas presencialmente (Desmond Keegan, 1991, 29 apud lvônio, 1994, 16).
A Pesquisa A questão era saber quais segmentos da sociedade tinham interesse em estudar música a distância. O método usado na pesquisa foi o descritivo, incluindo coleta de dados através de questionário, que incluía perguntas abertas e fechadas. O questionário traz uma definição sucinta sobre EAD e pede ao entrevistado um breve relato do seu dia a dia, para verificar a carga horário disponível, fator importante para o aluno de EAD. O questionário só foi aplicado com adultos que tinham alguma relação com a música. Os questionários foram entregue por mim, em mãos e, apenas os questionários destinados à localidade que não possuía escola de música, foram aplicados por outra pessoa. Para saber a opinião sobre o ensino da música através da EAD, apliquei 35 questionários, divididos em 5 segmentos: 1- o cidadão comum que, pelas tarefas do dia a dia, não dispõe de tempo para freqüentar um curso de música tradicional; 2- o profissional de música que busca ampliar seus conhecimentos como maneira de permanecer ativo no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo; 3- o estudante que tem interesse em receber uma orientação especializada; 4- as pessoas que residem em localidades onde não existem escolas de música; 5- a professora de classe que, mesmo sem preparo, utiliza música na sala de aula;
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6- o musicoterapeuta que se utiliza da música, mas carece de conhecimento específico; 7- o deficiente físico, que nem sempre tem condições de se locomover até uma escola de música tradicional. Apenas um questionário D, para deficientes físicos foi preenchido. Conclui que não
poderia incluir os deficientes físicos neste programa. Para os deficientes físicos é necessário um projeto especial e exclusivo, devido aos variados tipos de lesões. Os resultados da pesquisa apontaram:
Tem ou não tempo livre
Sim Não
Desejam fazer curso de música
Sim Não
Fariam EAD Sim Não Não sabe
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Viabilidade de tempo
Porque fariam.
Curiosidade Rapidez Comodidade Praticidade Para atualização
Qual curso deseja fazer
Regência Instrumento História da MPB Teoria e Percepção Harmonia Ensaio de Coro Improvisação História da Música Erudita Jazz Composição
Porque não fariam Desconhece a modalidade Precisa da presença do professor
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Para dar continuidade à pesquisa , poderíamos optar por dois estudos: 1- Estudar com mais profundidade cada um dos segmentos 2- Desenvolver um curso a distância com assuntos de interesses comum a todos
Conclusão A chegada do computador, principalmente da internet, não vai funcionar apenas para repassar os antigos conteúdos através de uma nova tecnologia. Mais do que isso, o computador vai influenciar a maneira de pensar, de aprender e consequentemente, vai mudar o perfil do professor e do aluno. Sendo assim, somos forçados a estender a questão da tecnologia não apenas à substância produzida, como também ao acidente produzido. Cada tecnologia programa, produz e provoca, um acidente especifico. Por exemplo, quando inventaram a estrada de ferro, o que foi que inventaram ? Um objeto que permitia que você fosse mais depressa, que Lhe permitia progredir uma visão à la Julio Verne, positivismo, evolucionismo. Ao mesmo tempo, porém inventaram a catastrófe ferroriária. (Virilio, 39,40). Se Virilio tem razão no seu argumento, em relação ao acidente, como enfrentaremos as conseqüências catastróficas que virão em conseqüência da invenção do computador? Segundo Pierre Levy, estudioso da Cibercultura, as novas gerações deverão aprender a nadar, a flutuar e a navegar (p. 15). Levy diz ainda, que estamos vivendo um segundo dilúvio que, ao contrario do primeiro, em que Noé trancou os bichos que deveriam ser perpetuados em uma única arca, teremos várias arcas que se comunicam, se cruzam, se interpelam, se chocam ou se misturam no ciberespaço, construído pela conexão dos computadores. Para participar é necessário duas palavras chaves: conexão e interação. A tecnologia, base para Educação a Distância, já vem sendo utilizada pelos músicos por todo este século. Ela está presente nas primeiras gravações em disco (1919 no Brasil), através do rádio e da televisão, (a partir das décadas de 40 e 50), na chegada dos instrumentos eletrônicos (década de 60 e 70), na música tecno (década de 80 e 90) que utiliza sons previamente gravados para gerar os “sarnples”. Alguns programas foram criados para serem utilizados na educação musical: o Frelmos, para análise das melodias, Programa de Treinamento para Percepção de Graves e Agudos, ambos desenvolvido por Jamary Oliveira; o projeto EDUCOM Educação por Computadores da Universidade Federal de Pernambuco, que sob a orientação de Nelson de Almeida desenvolveu programas em LOGO e BASIC para computadores MSX, com o objetivo de trabalhar conteudos da disciplina Educação Musical da Escola de Aplicação de Pernambuco5. Também podem ser encontrados em lojas especificas CD-Rom de teoria musical, análises de músicas de Beethoven, Mozart, entre outros. A EAD está aí com todos as suas virtudes e defeitos. Ela deverá ser testada, avaliada, reconhecida e finalmente implantada. As suas virtudes devem ser apreendidas para, em seguida, serem aplicadas. Os seus defeitos tem que ser reconhecidos, analisados, revistos e finalmente corrigidos. É necessário que cada professor, diante do compromisso de se atualizar para oferecer aos alunos uma educação coerente com a realidade, também se interesse em utilizar a tecnologia como recurso pedágógico. A EAD está aí, de forma crescente em várias áreas do ensino. E a Educação Musical não pode abrir mão de um sistema tão importante. -
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