Prouni Mod 1

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  • Pages: 32
História Fazer a História

Organizadoras e elaboradoras

Katia Maria Abud Raquel Glezer

1

módulo Nome do aluno

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Governador: Geraldo Alckmin Secretaria de Estado da Educação de São Paulo Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP Coordenadora: Sonia Maria Silva UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor: Adolpho José Melfi Pró-Reitora de Graduação Sonia Teresinha de Sousa Penin Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária Adilson Avansi Abreu FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian Coordenadores de Área Biologia: Paulo Takeo Sano – Lyria Mori Física: Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta Geografia: Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins História: Kátia Maria Abud – Raquel Glezer Língua Inglesa: Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór Língua Portuguesa: Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto Matemática: Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan Produção Editorial Dreampix Comunicação Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr. Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro

Cartas ao Aluno

Carta da

Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno, Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento. Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos de forma sistemática e de se preparar para uma profissão. Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência, muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública. O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer situação de vida e de trabalho. Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia. Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor para o presente desafio. Sonia Teresinha de Sousa Penin. Pró-Reitora de Graduação.

Carta da

Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno, Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual, os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório. Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa da educação básica. Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente construído para esse fim. O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes. Prof. Sonia Maria Silva Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

Apresentação da área Fazer a História Durante sua vida escolar, você já estudou História em várias séries. Então, você sabe que essa disciplina estuda as ações humanas ocorridas no tempo, em diferentes lugares. Também já percebeu que existem muitas referências a fatos históricos e momentos significativos em diversas formas de comunicação, como séries de televisão, filmes, músicas, propagandas, livros, roupas etc. Isto é uma característica da sociedade ocidental – ter o passado como parte formativa e informativa de sua cultura, para que qualquer pessoa que nela viva, em qualquer lugar, possa se localizar no tempo, entender as referências e compreender o momento em que vive. Você deve ter observado que o programa de História solicitado para os exames vestibulares é longo – das origens dos seres humanos até os dias atuais. Nos seis módulos em que a disciplina História vai se apresentar, não há a intenção de percorrer todos os momentos históricos, nem a de seguir uma seqüência no tempo. A intenção é mostrar como o mundo que nos cerca contém referências históricas e como estas podem ser lidas e entendidas, por meio da exploração de fontes históricas. Compreender como a nossa sociedade vê a História é importante, porque estamos em uma sociedade histórica, que constantemente se interroga sobre seu passado. Vamos procurar mostrar como o historiador trabalha com o material que seleciona para sua pesquisa, o conhecimento que resulta dessa pesquisa e como você pode fazer alguns exercícios que permitem o entendimento dos textos e das afirmações sobre os momentos históricos. Incluímos indicações de alguns filmes, livros e sítios na internet, para complementação dos itens desenvolvidos, para que você perceba como a História é parte fundamental da cultura na sociedade ocidental, da qual a sociedade brasileira faz parte e na qual todos nós estamos mergulhados.

Apresentação do módulo Para que o estudo de História se realize, o historiador, aquele que pesquisa os fatos históricos, faz uso de muitos materiais, os quais contêm vestígios, registros, resíduos, sinais da sociedade que estuda. Tais materiais são conhecidos como fontes históricas. As fontes históricas podem ser escritas (manuscritas ou impressas), iconográficas (imagens contidas em fotos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos, DVDs, CDs, impressas em veículos de comunicação, cartazes, panfletos, folhetos, etc.), materiais (objetos concretos, produzidos pelo homem para uso social, como vestuário, enfeites e jóias, móveis, construções, veículos de transporte, meios de comunicação), fontes expressas de forma oral. Neste módulo, que inicia esta fase de seus estudos pretendemos estudar alguns fatos históricos, incluídos nos programas de História para o vestibular, que contam com fontes orais para sua compreensão. A utilização desse tipo de fonte é recente, na pesquisa histórica e, por isso, os fatos que se baseiam nesse tipo de pesquisa, são também próximos temporalmente. As fontes orais transmitem uma versão de um participante de um fato ou o depoente conta uma história que lhe foi transmitida por outra pessoa, alguém de sua família, um amigo, por exemplo. Os depoimentos orais são escritos para serem analisados pelos pesquisadores, mas também se analisam a inflexão da voz e as emoções que são expressas por quem conta a história. São confrontados com outras fontes, para que comparando informações, o fato histórico fique mais compreensível. Neste módulo, vamos trabalhar com fontes orais relatadas por participantes diretos dos fatos que são narrados e procuraremos também colocar ao lado, explicações construídas por historiadores para os fatos que são narrados. Há algumas atividades que deverão ser realizadas, com a finalidade de ajudá-lo a analisar as narrativas para compreender o fato histórico e perceber por que sua compreensão pode auxiliá-lo a tomar atitudes e elaborar sua própria vida cotidiana.

Unidade 1

As ditaduras sul-americanas nas décadas de 1960 e 1970

Elaboradoras Katia Maria Abud Raquel Glezer

Introdução Nesta unidade, vamos desenvolver alguns trabalhos para perceber como as fontes nos contam a História, quando a elas dirigimos perguntas: O que é?

Quem produziu?

Para quê?

Por quê?

Quando?

Onde?

Começaremos por estudar como as fontes orais podem ser exploradas. Leia com muita atenção o pequeno texto abaixo. É a transcrição de um depoimento oral, colhido por um historiador. O narrador participa, expressando sua memória, que pode decorrer do fato dele mesmo ter vivido a experiência narrada ou dela ter sido contada a ele por alguém. Vamos buscar nesse texto as respostas para as perguntas listadas acima (O que é? Quem produziu? Para quê? Por quê? Quando? Onde?) para colher informações sobre o fato histórico que é o seu assunto principal. Este é um depoimento de alguém que participou diretamente do fato que narra. Porque minha prisão foi uma prisão incomunicável, ninguém, nem meu pai nem minha mãe puderam me localizar, saíram à minha procura em cima de seis dias que ninguém sabia do meu paradeiro. Não só a minha família, como também a família de muitos companheiros. Inclusive quem mais sofreu é a família dos prisioneiros é que as mãezinhas, quantas mãezinhas que tiveram suas crises, caíram por dentro de casa ou nas ruas de ataque e quantas foram hospitalizadas e quantas mãezinhas morreram com a prisão dos seus esposos, com a prisão dos seus filhos. O silêncio dominava o campo, e o silêncio dominava dentro das fábricas e o silêncio dominava diante dos companheiros...” Antonio Torres Montenegro. “História oral, caminhos e descaminhos”. Revista Brasileira de História, v. 13, n. 25-26

Antonio Torres Montenegro é o historiador de história oral que colheu este depoimento na cidade do Recife, Pernambuco, na década de 1980.



O documento O que é? É um depoimento oral transcrito, que foi feito por José de Aguiar, um homem de idade avançada, militante comunista e católico praticante, que conta sua prisão logo após o golpe militar de 1964.

Quem produziu? O historiador Antonio Torres Montenegro, que o colheu, transcreveu e publicou em seu artigo “História oral, caminhos e descaminhos”, publicado na Revista Brasileira de História, vol. 13, n. 25-26.

Para quê? Para preservar a memória de militantes políticos que foram perseguidos após o golpe militar de 1964.

Por quê? Os participantes de um momento histórico guardam na memória elementos significativos do acontecimento e com ele constroem a sua versão da história.

Quando? O fato histórico referencial ocorreu em 1964. O depoimento foi gravado mais de 20 anos depois, no final da década de 1980.

Onde? Na cidade de Recife, Pernambuco.

O que o documento conta? Que pessoas foram perseguidas e aprisionadas sem apoio legal e ficavam isoladas, sem que suas famílias pudessem localizá-las. Em tom emocional, o narrador enfatiza o sofrimento das mulheres, mães e esposas dos prisioneiros. Dele se extraem informações sobre as relações familiares características daquele momento na sociedade brasileira. Conforme se depreende do texto: a estrutura familiar era forte e o núcleo central das relações, como se pode observar na preocupação de mães e esposas dos presos políticos. Transmite também informações sobre um fato classificado em história política: fala das prisões de militantes políticos pró-reformas de base, que ocorreram após o golpe militar de 1964. Refere-se às condições de prisão, à incomunicabilidade dos presos e ao desrespeito aos direitos individuais, como liberdade de expressão, liberdade de opinião política, direito à informação e direito de defesa perante os organismos legalmente constituídos. Está implícita a questão da violência, que não é citada claramente. Este não é um fato único e singular, que tenha acontecido somente em Recife, somente na década de 1960 e somente no Brasil. Em todos os países em que houve Ditadura ocorreram fatos semelhantes e existem documentos semelhantes.



 

Lembre-se de que: Em março de 1964 o Presidente João Goulart foi deposto por um golpe dirigido por militares e políticos conservadores, descontentes com as políticas de reforma de base que estavam sendo propostas e defendidas pela esquerda brasileira. Esta era composta por católicos progressistas, membros dos Partidos Comunistas e de outras organizações políticas de orientação marxista que foram perseguidos logo após a tomada de poder pelos militares. João Goulart foi presidente do Brasil no período de 1961 a 1964. Em 1960 foi eleito vice-presidente de Jânio Quadros, que renunciou em 25 de agosto de 1961. A renúncia provocou uma grave crise política, pois as forças conservadoras se recusavam a aceitar Goulart como presidente. Embora pertencesse a uma família de grandes proprietários e criadores de gado do Rio Grande do Sul, Jango – como era conhecido – era um político ligado ao trabalhismo, já fora Ministro do Trabalho do governo de Getúlio Vargas (1950-1954), no qual sua atitude mais polêmica tinha sido, em 1954, reajustar em 100% o salário mínimo, que não sofria reajustes desde 1947. As posições políticas do então vicepresidente eram contestadas pelos políticos e militares conservadores, que pretendiam impedir sua posse como presidente. Partidários de Jango reagiram e, numa proposta conciliatória, instalou-se no Brasil o sistema parlamentarista, o qual, após um plebiscito em janeiro de 1963, foi revogado, tornando-se o país, novamente, uma República presidencialista. De janeiro a junho de 1963, Celso Furtado, Ministro do Desenvolvimento, elaborou um plano trienal para o país, com medidas que implicavam profundas mudanças na organização econômica. Esse projeto, reformista e nacionalista, tinha apoio de várias organizações, entre as quais se destacavam as Ligas Camponesas, que lutavam pela reforma agrária e atuavam principalmente nos estados do Nordeste. Também os sindicatos, o movimento estudantil e uma ala progressista da Igreja Católica (representada pela Juventude Estudantil Católica (JEC), Juventude Operária Católica (JOC) e Juventude Universitária Católica (JUC)) cerraram fileiras ao lado do governo federal. Em oposição ao projeto, os grupos conservadores (políticos, empresários, militares, o clero con-

I Congresso Nacional de Lavr adores e Trabalhadores Agrícolas. B elo Horizonte, 1961. Fonte: Revista Nossa História, v. 5, p. 29.



Presidente João Goulart, sua esp osa d. Maria Tereza, Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil e Oswaldo Pacheco, presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores. Fonte: Nossa História, n. 5, p. 32

 servador da Igreja Católica) se articularam em organizações como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES), cujo porta-voz era Carlos Lacerda, então governador do Estado da Guanabara (hoje município do Rio de Janeiro). Os Estados Unidos da América do Norte temiam a expansão de regimes comunistas na América Latina, principalmente depois da revolução vitoriosa em Cuba. Assim, a oposição a Jango contava com seu apoio.

Comício de 13 de março de 1964. Fonte: Revista Nossa História, n. 5, p. 35.

As propostas de reforma assustavam as camadas conservadoras da população, o crescimento da inflação aumentava o custo de vida, e juntos criavam um clima de radicalização entre as forças oponentes. Comícios e passeatas aumentavam a instabilidade. Em 13 de março de 1964 realizou-se um grande comício no centro do Rio de Janeiro, junto à Estação Central do Brasil. Nele o Presidente João Goulart anunciou o Plano de Reformas de Base: • a reforma agrária, com a desapropriação de terras improdutivas, mediante pagamento em títulos públicos; • extensão de voto aos analfabetos; extensão do direito de votos aos praças de pré (soldados rasos); • reforma universitária; • extensão de poderes legislativos aos presidentes da República e realização de plebiscito para aprovação das reformas. Cartaz do comício da Central. Fonte: Re v. Nossa História, n. 5, p. 33.



  Como uma resposta ao “Comício da Central”, a direita organizou grandes manifestações de rua contra aquilo que considerava uma ameaça comunista. Deste modo, nesse mesmo mês, nas grandes cidades brasileiras, realizaram-se as passeatas da “Marcha de Família, com Deus, pela Liberdade”, com uma grande participação das mulheres da classe média.

A crise política agravou-se até que, na madrugada de primeiro de abril, as forças militares se mobilizaram, comandadas pelo general Mourão Filho, a partir de Minas Gerais e depuseram o presidente eleito constitucionalmente, que se exilou no Uruguai.

Imagem da “Marcha de Família, com Deus, pela Liberdade.” Fonte: Rev. Nossa História, n. 5, p. 43.

Até dezembro de 1968, apesar da edição de quatro atos institucionais que cassaram políticos ligados ao governo deposto, tornaram indiretas as eleições para o presidente do Brasil e para os governadores dos Estados e de prisões de aliados do governo deposto, não havia sido imposta ainda uma censura férrea à imprensa e às manifestações de pensamento. Alguns direitos dos cidadãos, passados os primeiros dias do golpe, de alguma forma, eram preservados. O teatro, a música popular e o cinema manifestavam sua oposição ao governo militar e o movimento estudantil teve momentos de maior efervescência, apoiado por alguns segmentos da população civil. Logo após o golpe, assumiu a presidência o marechal (então general) Humberto de Alencar Castelo Branco, dando início à série dos presidentes militares. A ele se seguiram: general Artur da Costa e Silva (substituído por uma junta militar, em decorrência de um acidente vascular cerebral), general Emílio Garrastazu Médici, general Ernesto Geisel e general João Baptista de Figueiredo.

O comunista Gregório Bezerra, de 64 anos. Fonte: Elio Gaspari. A Ditadura Envergonhada. S. Paulo: Cia. das Letras, 2002.



 Como reação à reorganização das forças de esquerda, em 13 de dezembro de 1968, no governo Costa e Silva, foi editado o Ato Institucional n. 5, que cassava as liberdades individuais no Brasil. Com a ausência de habeas corpus (instituto de Direito que garante a liberdade de quem ainda não tem culpa formada), as prisões incomunicáveis, a cassação de deputados e senadores, a aposentadoria compulsória de funcionários públicos (entre eles, de professores universitários) e, sobretudo, com a institucionalização da tortura, a ditadura militar se consolidou e vigorou até 1980. Auxiliaram na preservação do regime militar até a década de 1980, medidas que provocaram crescimento econômico, aumento de emprego, a criação de um sistema de habitação popular e unificação do sistema previdenciário. Além disso, em 1970, o Brasil ganhou o tricampeonato mundial de futebol, recebendo como prêmio a posse da Taça Jules Rimet. Este fato foi também assumido pelo governo como uma de suas realizações. Se estas medidas tiveram o poder de tornar o regime militar aprovado pela população, outras medidas foram impopulares, como o fim da estabilidade no emprego – substituída pelo FGTS –, o controle dos sindicatos, proibição dos direitos civis, (inclusive o direito de greve), a censura prévia imposta aos meios de comunicação e a repressão aos movimentos sociais organizados. Impopular se tornou também a imposição de um sistema bi-partidário, no qual conviviam um partido de apoio ao governo (a Arena, Aliança Renovadora Nacional) e um partido de oposição consentida (o MDB, Movimento Democrático Brasileiro). Os dois primeiros presidentes. Fonte: Elio Gas pari. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.

Apesar do investimento econômico (responsável pela dívida externa com os organismos internacionais – FMI, Banco Mundial) para a abertura de fronteira agrícola e modernização de estradas, da expansão das telecomunicações e formação de numerosas empresas estatais, o período dos governos militares é lembrado pela repressão aos movimentos populares, pelo desrespeito aos direitos humanos e civis e à liberdade de pensamento e expressão. O governo militar é lembrado também pela dívida externa, deixada como herança aos governos democráticos que o sucederam.



  Responda agora, depois da leitura do texto: Para saber mais sobre o golpe de 1964:

1 Descreva a situação política do Brasil, no período entre 1961-1964.

Leia na Revista História Viva, ano 1, n. 5, mar. de 2004, os artigos:

2. Qual a função dos Atos Institucionais editados entre 1964 e 1968, inclusive?

• “Crônica de um golp e anunciado”, de Lucília de Almeida Neves Delgado (p. 26-32); • “O c omício revisto”, de Jorge Ferreira (p. 32-39);

3. Durante o regime militar houve investimentos econômicos e crescimento do país, como resultado de empréstimos internacionais. Tais empréstimos se tornaram um problema para o Brasil atual. Pondere os fatos que considera positivos e os que considera negativos para a sociedade brasileira.

Consulte os sítios: • www.universiabrasil.net • www.bibvirt.futuro.usp.br • www.historianet.com.br • www.br.dir.yaho o.com/ Ciencia/Ciencias Humanas/Historia/Historia do Brasil/ • www.culturabrasil.pro.br/ historiabras

4. Assinale as alternativas corretas: ( ) João Goulart era muito respeitado pelas forças conservadoras, no início da década de 1960, a ponto de ser considerado o candidato das Forças Armadas à Presidência do Brasil, em 1965.

• www.tvcultura.com.br/ aloescola/historia

( ) O dinheiro para os investimentos nas empresas estatais e para a abertura de estradas, durante o regime militar, era proveniente de empréstimos de organismos internacionais.

Veja os filmes:

( ) Às vésperas do golpe de 1964, a Igreja Católica estava profundamente dividida entre aqueles que apoiavam as reformas de base e o clero conservador, que via na sua implantação a chegada do comunismo ao Brasil. ( ) As camadas médias brasileiras se manifestaram em apoio à Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro e por isso temiam que o governo João Goulart transformasse o Brasil num país comunista. ( ) A edição do AI-5, em dezembro de 1968, foi “um golpe dentro do golpe”: acabou com o hábeas corpus, o que permitiu que pessoas fossem presas e ficassem incomunicáveis sem julgamento prévio.

• O Bom Burguês • Cabra Marcado para Morrer • Comício Diretas • Imagens do Brasil República (1946-1984) • Em Nome da Segurança Nacional • Folha Conta 70 anos de Brasil • Que Bom te Ver Viva

Lembre-se

• Lamarca

de que, na década de 1970, no chamado Cone Sul (o Sul da América do Sul) instalaram-se várias ditaduras, como por exemplo no Chile, Argentina e Uruguai. Leia o texto a seguir extraído do sítio:

• Pra frente Brasil

www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria11/terceiromundo–america1/htm, para entender o que aconteceu com os três países vizinhos.



• O Que É Isso, Companheiro?



Chile Os anos 70 foram extremamente difíceis também para outros países da América Latina. Muita violência política aconteceu no Chile, onde o presidente socialista Salvador Allende foi derrubado por um golpe militar, em 1973. Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhado de perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditaduras militares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo. No Chile, a CIA colaborou com um golpe de estado em 1973 contra o presidente Salvador Allende. Eleito democraticamente em 1970, Allende estava realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas sociais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do saneamento básico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas. Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização estimulada por Washington, que resultou no golpe militar de setembro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado morto no Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou às mãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num clima de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu os adversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração, lotado de presos políticos. Muitos deles desapareceram. Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas nacionalizadas por Allende. Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, uma nova Carta Magna institucionalizando o regime autoritário. Apesar da repressão, a ditadura começou a declinar a partir de 1983, com as manifestações contra os planos econômicos recessivos do governo, que comprimiram os salários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. A repressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes. Em 1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não à proposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposições se uniram para eleger à presidência o democrata-cristão Patrício Aylwin, em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua permanência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julgamento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte de mais de 2.200 presos políticos durante o regime militar. Em março de 1998, Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio a fortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.



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Argentina Na primeira metade da década de 1970, Brasil e Chile eram os principais países da América do Sul onde vigoravam ditaduras. Em 1976, no entanto, a Argentina passaria a integrar o grupo. Durante sete anos, os argentinos viveram sob um regime militar repressivo que passaria à história como o período da “guerra suja” empreendida pela ditadura contra os seus opositores. No final dos anos 60, a Argentina vivia uma crise política e um período de mobilização popular contra o governo do general Juan Carlos Onganía. Em 1970, Onganía foi deposto. Vários militares se sucederam no poder até que, em 1973, novas eleições livres foram convocadas. O novo presidente, Hector Câmpora, permaneceria apenas 3 meses no cargo. Em junho de 1973, renunciou à presidência para permitir a eleição de Perón, um líder carismático e populista que voltava à Argentina depois de um longo exílio na Espanha. Perón havia sido presidente de 1946 a 1952, quando foi então deposto em meio a acusações de corrupção. Nesse período, alcançou grande prestígio popular com a ajuda da esposa, Evita. Eleito novamente em setembro de 1973, com mais de 60% dos votos, Perón não conseguiu pacificar o país. Seu próprio partido, o Justicialista, dividiu-se em duas facções antagônicas que recorreram à violência para resolver suas divergências. Com a morte de Perón, em julho de 1974, sua segunda mulher, a vice-presidente Isabelita, assumiu a chefia do governo e ampliou o espaço dos políticos conservadores do Partido Justicialista. Em conseqüência, os grupos guerrilheiros intensificaram a luta contra o governo.

Guerra suja e Malvinas Isabelita foi deposta em março de 76 por um golpe liderado pelo general Jorge Rafael Videla. Uma junta militar passou a dirigir o país. Fechou o Congresso, dissolveu os partidos políticos e iniciou a chamada “guerra suja” contra os oposicionistas. Até o fim da ditadura, em 83, desapareceriam mais de 30 mil pessoas na Argentina. Em 1982, o regime militar argentino enfrentava dificuldades políticas provocadas por uma forte crise econômica. Para desviar a atenção e apelar ao nacionalismo dos argentinos, o presidente, general Leopoldo Galtieri, ordenou a invasão das Ilhas Malvinas, ou Falkland, um território britânico situado no Oceano Atlântico a sudeste da Argentina. Inicialmente, a decisão de Galtieri atingiu seu objetivo. Milhares de argentinos foram às ruas para apoiar a ocupação das Malvinas. A ação militar, no entanto, não teve apoio internacional. Além disso, Galtieri precisou enfrentar o poderio bélico da Grã-Bretanha, que possui uma das frotas navais mais sofisticadas do mundo. Os conflitos armados entre Argentina e Grã-Bretanha pela posse das Ilhas Malvinas, um arquipélago com cerca de duzentas ilhas sob domínio britânico desde o século XIX, duraram apenas dois meses, do início de abril a meados de junho de 1982.



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Anos 80: Argentina livre Com a derrota, o general Galtieri foi forçado a renunciar. Em seu lugar assumiu o general Reynaldo Bignone, que iniciou as negociações para devolver o poder aos civis. Em dezembro de 1983, o candidato da União Cívica Radical, Raul Alfonsín, venceria as eleições, pondo fim à ditadura na Argentina. Em 1984, os ex-presidentes militares foram presos. Uma comissão liderada pelo escritor Ernesto Sábato constatou a existência de campos de prisioneiros, onde quase 9 mil opositores do regime militar foram comprovadamente mortos entre 1976 e 1982.

Uruguai Também o Uruguai ficou sob regime ditatorial, entre 1973 e 1985. Em 7 de junho de 1973, o presidente uruguaio Juan María Bordaberry, com apoio dos militares, deu um golpe de estado no país. Em cadeia de rádio e televisão foi divulgado o decreto presidencial, dissolvendo o Congresso e substituindo-o por um Conselho de Estado, formado por dez militares e dez civis. Bordaberry, eleito democraticamente, dera plenos poderes para que os militares combatessem os guerrilheiros tupamaros logo que assumiu, no início de março do mesmo ano. Os tupamaros eram um grupo de guerrilheiros de esquerda que lutavam para transformar o Uruguai num país socialista. A repressão foi tão brutal quanto a da Argentina e do Chile, deixando um grande número de militantes mortos e desaparecidos, além de provocar o exílio de grande número de oponentes do regime. Há também inúmeros relatos de pessoas que viveram sob a repressão das ditaduras dos países vizinhos. Veja os textos a seguir: Em 28 de novembro de 1975, por volta das 5h da madrugada, quando me encontrava em minha residência, (...) em companhia de minha esposa e de minha filha de 5 anos, minha casa foi invadida por um grupo de agentes da DINA, cerca de 10, 12 pessoas, vestidas à paisana e armadas de pistolas e metralhadoras (...). Uma vez dentro de minha casa, os agentes começaram a golpear-me, me algemaram e também à minha mulher. Logo trataram de invadir os outros cômodos, quebrando e roubando tudo que era de seu interesse. Em seguida nos levaram para fora e nos colocaram nos veículos que estavam mais próximos. Fui colocado na parte traseira de uma caminhonete. Minha esposa e minha filha foram colocadas em outro veículo. Ao iniciar o movimento do carro, colocaram fita adesiva nos olhos, que também foram cobertos com óculos. Fizeram o mesmo com minha mulher e minha filha, no outro veículo. Os carros se dirigiram a leste de Santiago e depois de atravessar o Canal San Carlos começaram a me bater para que eu perdesse o sentido de orientação. Eu supunha que estavam me levando a um lugar conhecido como Vila Grimaldi, que eu só conhecia por ter ouvido falar. Depois de um longo trajeto, o veículo em que era conduzido entrou em um lugar, depois de abrir-se um portão metálico que produzia um ruído característico. Um toque de buzina foi a senha para que o portão se abrisse. Uma vez dentro, fui tirado do carro e conduzido imediatamente a uma das dependências (...) eu supunha que minha milher e minha filha também estivessem nesse lugar. Depoimento do chileno Oscar Patricio Orellana Figueroa, publicado no site www.memoriaviva.com/testimonios – traduzido e adaptado para este material.



  Fui sequestrada por um grupo fortemente armado na noite de 19 de abril de 1977, em minha residência, estando eu em repouso, por ordens médicas, devido ao estado de gravidez em que me encontrava. Desde essa data até novembro de 1977, permaneci no campo de concentração chamado Vesúvio. Meu seqüestro estava relacionado com o seqüestro de meu companheiro, que vivia no mesmo endereço que eu. Meu seqüestro está relacionado com o dele, que tinha ocorrido no mesmo dia, numa rua de Buenos Aires. Hoje, ele é um dos desaparecidos. Aproximadamente à meia-noite, irrompeu em minha casa um grupo fortemente armado. Tiraram-me da cama e me levaram para o piso inferior, debaixo de pancadas e insultos. Reviraram a casa toda, roubando tudo que lhes apeteceu. Dizendo que iam me levar para encontrar meu companheiro, fui violentamente jogada no chão de um carro. Durante o trajeto taparam meus olhos com fita adesiva. Quando cheguei ao Vesúvio, fizeram-me assistir as torturas a que estavam submetendo meu companheiro. Eu mesma fui torturada com choques elétricos e com ameaças de morte para o meu filho. Em várias oportunidades me permitiram ver meu companheiro, até que em 23 de maio houve um traslado de 16 prisioneiros. Em um comunicado oficial, comunicou-se à população que “em um tiroteio, foram mortos no dia 24 de maio de 1977, 16 delinqüentes subversivos”. Ao aviso seguiu-se uma lista com o nome dos 16 prisioneiros que haviam sido retirados do campo. Depoimento da argentina Elena Alfaro, publicado no site www.desaparecidos.org./arg/testimonios – traduzido e adaptado para este material.

Você acabou de ler um breve histórico das ditaduras militares em países da América do Sul e dois depoimentos de presos políticos que caíram nas malhas da repressão no Chile e na Argentina. Agora, resolva as atividades a seguir: 1. Analise as semelhanças e diferenças entre o Brasil, o Chile e a Argentina, nos momentos que precederam os respectivos golpes militares.

2. Embora também tenha passado por um período ditatorial, o Uruguai apresenta diferenças em relação à instalação da ditadura. Qual a mais importante dessas diferenças?

3. Quais os elementos comuns nos dois depoimentos de militantes presos?

4. Quais indicações podem ser extraídas dos textos sobre o respeito aos direitos humanos, no Chile e na Argentina, durante o período em que estes países estiveram sob a ditadura militar?





Para saber mais a respeito do que estava acontecendo no Cone Sul:

5. Explique por que se afirma que a Guerra das Malvinas foi um dos fatores mais importantes para o fim da ditadura militar na Argentina, esclarecendo: a) quais foram os países envolvidos na guerra; b) quais motivos levaram o governo argentino a promover o conflito;

Leia: • Osvaldo Coggiola. Governos militares na América Latina. São Paulo: Contexto, 2001.

Veja os filmes: • Chove Sobre Santiago • Desaparecido: Um Grande Mistério • A Casa dos Espíritos • A História Oficial

c) a reação da população argentina ao final da Guerra das Malvinas.

6. Pode-se afirmar que nos anos 70, os mais importantes países da América do Sul eram governados por regimes ditatoriais. Isso significava que: ( ) Na Bolívia, México, Venezuela e Argentina não se respeitavam os direitos humanos. ( ) No Brasil, Argentina, Peru e Venezuela vivia-se sob um regime constitucional. ( ) No Uruguai e Paraguai estava reunida uma assembléia constituinte, da qual resultaria uma Constituição para os dois países. ( ) No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai havia ditaduras que não respeitavam os direitos dos cidadãos. ( ) No Brasil, Argentina, Chile e Uruguai estava se formando o Mercosul, que para produzir necessitava de regimes fortes.



Unidade 2

Os indígenas

e a ocupação do território americano Elaboradoras Katia Maria Abud

Em algumas situações especiais, documentos orais foram anotados, transcritos e são divulgados impressos, mas mantêm características de fontes orais.

Raquel Glezer

Os trechos apresentados a seguir pertencem ao documento conhecido como “O que ocorre com a Terra recairá sobre os filhos da Terra. Há uma ligação em tudo”, que é uma anotação de um discurso de um chefe indígena norte-americano, datado de 1887, anotado pelo dr. Henry Smith, que publicou o primeiro registro dele no jornal Seattle Sunday Star. O chefe citado é conhecido como Chefe Seattle, dos índios Duwamish, que habitavam o extremo noroeste dos Estados Unidos – fronteira com o Canadá, hoje estado de Washington. O chefe indígena se expressa com muita emoção, no momento em que estava sendo deslocado de suas terras para uma reserva federal e que o governo norte-americano se propunha a pagar pelas terras que sua gente ocupava. Este documento também é conhecido como “o discurso do Chefe Seattle” e possui diversas versões, pois é muito utilizado em nossos dias. Talvez você já tenham tomado conhecimento dele nas suas aulas de História. O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade. Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra... Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo... A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho... Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos... O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si... De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence a terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. O que ele fizer à trama, a si próprio fará. Texto extraído e adaptado do site www.morcegolivre.v et.br

Lembre-se Para ler um texto de história é necessário responder: • O que é? • Quem produziu? • Para quê? • Por quê? • Quando? • Onde?

 Nos trechos apresentados na página anterior há algumas informações sobre a situação vivida pela tribo do Chefe Seattle. Leia atentamente o texto e responda as questões: 1. Explique o sentido das palavras que aparecem no texto: Grande chefe Homem branco Homem vermelho

2. Em que local foi publicado?

3. Em que ano foi o discurso do Chefe Seattle anotado e por quem? 4. Qual a percepção do Chefe Seattle na relação com o governo norte-americano?

5. O Chefe Seattle respeitava as atitudes dos homens brancos?

6. Como o Chefe Seattle entendia a relação do homem com a terra?

7. Relacione as idéias do Chefe Seattle com as do movimento de preservação do meio ambiente.

8. Assinale as informações corretas: ( ) o Chefe estava vendendo as terras tribais por espontânea vontade; ( ) o governo federal norte-americano estava forçando a tribo Duwamish a vender suas terras e a viver em reserva federal; ( ) os motivos do governo federal norte-americano para forçar o Chefe Seattle a vender as terras eram de ordem religiosa; ( ) os brancos sabiam explorar melhor a terra que os índios Duwamish; ( ) a relação dos índios norte-americanos com a terra era uma relação de ordem econômica.



  O país que hoje conhecemos como Estados Unidos da América do Norte foi colonizado por ingleses, que no século XVII foram obrigados a se afastar da Inglaterra, porque eram vítimas de perseguição política e religiosa. O processo de colonização no norte do continente americano é denominado de colonização para povoamento, o que significa que nele ocorreu o deslocamento de famílias e grupos familiares para as áreas escolhidas, para dar início a um novo sistema administrativo e religioso, independente da Coroa da Inglaterra. Mantinham, porém, os traços considerados relevantes dos sistemas administrativo, jurídico e educacional de seu pais de origem. De início, formaram-se 13 colônias autônomas e independentes entre si na Costa Leste. Foram essas colônias que, ao se tornarem independentes no século XVIII, deram origem aos Estados Unidos da América do Norte. Os primeiros ingleses que se transferiram para a América se localizaram em regiões de clima temperado, o que facilitava uma produção diversificada, tendo como finalidade atender o mercado interno, produzindo similares dos produtos europeus. A produção era baseada na pequena propriedade, na policultura e no trabalho livre.

As 13 colônias. Fonte: Régis Benichi et al . Histoire: Heritages Européens. Paris: Hachette, 1981. p. 116.

No processo de conquista e colonização de parte do continente norte-americano, na área que hoje corresponde aos Estados Unidos da América do Norte, a relação com a população indígena foi variável: amistosa em alguns momentos, agressiva em outros, do século XVII em diante.

Um exemplo de relação amistosa foi como os primeiros colonizadores, chamados de pioneiros, foram recebidos na Costa Leste, por indígenas que cederam alimentos até a primeira colheita, o que é até hoje comemorado no maior feriado nacional nos Estados Unidos – o Dia de Ação de Graças. Contudo, na expansão da ocupação de terras pelos colonizadores surgiram vários conflitos, que tiveram continuidade nos séculos XVIII e XIX. No século XIX, no processo de expansão da ocupação das terras da Costa Leste para o Meio-Oeste e Costa do Pacífico, houve um momento destacado: a corrida para o Oeste, que teve como objetivos: • abertura para a exploração de terras férteis nos vales dos grandes rios, para o cultivo de gêneros alimentícios; • ocupação de terras em grande extensão para criação de gado; • busca de peles de animais silvestres; • exploração do ouro. Para facilitar a posse da terra, foi feito o Homestead Act, ato legal que dava direito à propriedade de até 160 acres àqueles que permanecessem na posse da terra por cinco anos e nela fizessem benfeitorias (casas, estábulos, poços etc.). Assim, muitos se arriscaram a partir para o Oeste, buscando sua própria terra. Simultaneamente, as estradas de ferro começaram a cortar o continente de Leste a Oeste, acelerando o processo de expansão e de integração econômica com a venda de produtos industrializados no Oeste e de gêneros alimentícios no Leste.



 Todo esse processo de conquista e ocupação foi violento: as tribos indígenas foram destruídas; manadas de bisões foram dizimadas; as disputas pela terra eram resolvidas a bala; populações de outras origens foram subjugadas, quer por compra – como aos franceses da Louisiania –, quer por guerra – com os espanhóis na Flórida –, ou por derrotas militares – como a dos mexicanos no Oeste.

Expansão ter ritorial dos Estados Unidos. Fonte: Jean Monnier. Histoire. Paris: Nathan, 1960.

O processo de colonização da Costa Leste, os conflitos com os grupos indígenas na penetração para o interior, a ocupação do Meio-Oeste e a corrida para o Oeste, as conquistas de territórios de outros grupos – como Flórida, Louisiania, os atuais estados de Novo México, Texas, Arizona, Nevada, Califórnia e Alaska – se tornaram elementos de identidade nacional: fatos heróicos de criação da Nação.

Só nos anos 80 do século XX é que foram sendo apresentadas outras visões do processo, principalmente a partir da recuperação da história dos grupos indígenas norte-americanos, que formaram movimentos para recuperar suas terras, seus direitos, sua história. Encontramos na literatura, no cinema – especialmente no gênero faroeste –, nas histórias em quadrinhos e nos mais variados meios de comunicação as várias posições sobre o processo de ocupação das terras e destruição das comunidades indígenas na América do Norte, que até nossos dias são questões polêmicas na sociedade norte-americana.

À direita: imigrantes indo para a região do Nebraska. À esquerda: Ilustração de funcionários da companhia de tr em caçando búfalos, para que o trem pudesse passar. Fonte: J ean-Baptiste Duroselle. Histoire. Paris: Nathan, 1961.



  Você deve ler com atenção os textos acima, antes de resolver as questões a seguir: 1. Conforme o texto acima, associe os termos com as atividades econômicas correspondentes: • extração de peles __________________________________________ • criação de gado ___________________________________________ • urso ____________________________________________________ • estrada de ferro ___________________________________________ • rio _____________________________________________________ • planície _________________________________________________ • montanha ________________________________________________ • extração de ouro __________________________________________ • plantação de milho ________________________________________ 2. Comente a frase, que aparece nos filmes e histórias em quadrinhos mais antigos: “Índio bom é índio morto”.

Para saber mais a respeito dos Estados Unidos: Leia: • Leandro Karnal. Estados Unidos da Colônia à Independência. S. Paulo: Contexto, 1996. Leandro Karnal. Estados Unidos: a Formação da Nação. São Paulo Contexto, 2001. Mary A. Junqueira. Estados Unidos: a Consolidação da Nação . São Paulo: Contexto, 2001. Consulte os sítios: • www.universiabrasil.net • www.bibvirt.futuro.usp.br • www.historianet.com.br • www.br.dir.yaho o.com/ Ciencia/Ciencias Humanas/Historia • www.tvcultura.com.br/ aloescola

3. Nos filmes e seriados de televisão, de origem norte-americana, como os índios são apresentados em geral?

Veja os filmes: • Álamo • Dança com Lobos • Enterrem meu Coração na Curva do Rio • ...E o Vento Levou • Jerônimo • Pequeno Grande Homem

4. Relacione, nas linhas a seguir, os games, as histórias em quadrinhos, as séries de televisão, os filmes e os livros que conhece sobre o assunto.



• O Último dos Moicanos

 Ao contrário do que ocorreu nas colônias inglesas, que eram de povoamento, nas ilhas do Caribe, na área sul da parte norte e na central do continente americano, e no sul, o processo de colonização criou colônias de exploração, dependentes diretamente das Coroas ibéricas – espanhola ou portuguesa. Como colônias de exploração, mais homens sozinhos do que com famílias se dirigiram para tais espaços, buscando formas de enriquecimento e retorno rápido para a terra natal. Não foi apenas no norte do continente americano que existiram populações com organizações sociais estruturadas antes da chegada do homem branco. Os castelhanos (espanhóis) começaram o processo de ocupação e exploração das novas áreas encontradas a partir de 1492, por Cristóvão Colombo, pelas ilhas no mar do Caribe, buscando metais preciosos. Encontraram duas sociedades complexas, que ainda hoje são objetos de estudo, quer pela organização social e econômica, quer pela riqueza arquitetônica e cultural. No atual México existiam os astecas e, no atual Peru, os quíchuas, conhecidos como incas. Essas duas sociedades possuíam complexa organização social, econômica e política e realizaram grandes obras públicas: sistema de irrigação, assim como palácios e templos, tanto na Mesoamérica (América Central) – onde se encontravam os Astecas –, como no Altiplano Andino – onde se desenvolveu o Império Inca. Os astecas desenvolveram um sistema de plantio baseado nos “jardins flutuantes”, em região pantanosa que passou então a servir para a produção. As comunidades camponesas conservavam uma pequena parcela de terra para uso familiar, mas a maior parte das terras pertencia a sacerdotes e elites locais. Entre os incas, a terra era divida em: Terra do Estado, Terra dos sacerdotes e Terra comunitária, nas quais cada família possuía um lote para cultivo próprio, onde produziria após trabalhar as terras do imperador e dos sacerdotes. A exploração do trabalho dos camponeses pelo Estado ainda era realizada por meio da mita, ou seja, toda comunidade estava obrigada a fornecer homens para as obras públicas ou para o trabalho nas minas. Os incas desenvolveram de fato um império centralizado e teocrático, onde o imperador, chamado Sapa Inca, era considerado um deus, descendente direto do sol, supremo legislador e comandante do exército, suplantando a antiga unidade social, o Ayllu (clã).

Fonte: A.G. Manr y. Documents d´histoire. Paris: Delagrave, 1971. p. 153.



Na região do México, em uma ilha do Lago Texcoco, os mexicas ou astecas construíram uma grande cidade, capital do Império – TENOCHTITLAN – onde havia palácios, templos, mercados e canais de irrigação, demonstrando grande desenvolvimento. Sobre as ruínas dessa cidade, os espanhóis construíram a Cidade do México, atual capital do país do mesmo nome.

  Tanto entre astecas como entre incas havia uma elite de sacerdotes, militares e artífices do Estado e uma grande massa de camponeses, que era responsável pelo trabalho. A religiosidade caracterizava-se pela crença em vários deuses, normalmente vinculados a elementos da natureza, como sol, chuva ou fertilidade, influenciando suas manifestações artísticas, principalmente a construção de grandes templos. Os povos da Mesoamérica (América Central e parte da atual América do Norte) realizaram obras arquitetônicas colossais, representadas por templos e palácios em terraços com forma piramidal; também produziram objetos com caráter decorativo, obras de ourivesaria de prata, ouro e pedras preciosas dos astecas, utilizadas para decorar palácios e templos. No Altiplano Andino, os incas realizaram imponentes construções em blocos de pedras, com poucos elementos decorativos, cujos restos demonstram um domínio da técnica de construção, caracterizada ainda por uma grande frieza expressiva. Eram também exímios na fabricação de armas, no artesanato têxtil e na cerâmica. Nessa última atividade, dedicaram-se à produção de peças pequenas e estatuetas antropomórficas. O México foi conquistado por Cortez e o Império Inca por Pizarro. Após a conquista, representantes da coroa espanhola, agindo de modo violento, dizimaram a nobreza dirigente e auxiliaram as ordens religiosas no processo de cristianização da população, modificando importantes aspectos das culturas indígenas. O contato com o europeu provocou um processo de deculturação, acelerado pela violenta diminuição da população nativa, provocada pela violência da conquista, por doenças que até então eram desconhecidas e pelo sistema de trabalho compulsório. Este era aplicado mediante o sistema de mitas e encomiendas, trabalho obrigatório nas minas e nas fazendas, o que levou a uma reordenação espacial das comunidades indígenas, formando novos povoados de acordo com os interesses do colonizador. A tradição oral dos povos da Mesoamérica passou por gerações e guardou a memória da conquista e destruição, provocada pelo choque entre os povos nativos e os conquistadores da América, num canto registrado pelo pesquisador M. Leon-Portilla. Leia trechos do “canto” que registra a visão dos conquistados: ( ...)

(....)

E tudo isso sucedeu conosco

Nos puseram preço: preço de jovem, preço de sacerdote

Nós os vimos perplexos

Pelos caminhos jazem as flechas partidas De criança e de donzela Basta: o preço de um pobre Os cabelos espalhados As casas estão destelhadas

Era um punhado de milho

Os muros calcinados

Dez tortas podres era nosso preço

As paredes estão salpicadas de miolos

Vinte tortas de grama salitrosa

Vermes enxameiam as ruas e as praças

Colhido por Miguel Léon Portillo, in RIBEIRO, As águas estão rubras, tingidas de sangue e Darcy. As Américas e a Civilização. Estudos de Antropologia da Civilização. Petrópolis: Tem gosto de salitre. Vozes, 1979, p. 123.



 Para saber mais a respeito da colonização espanhola: Leia também: • Mustafá Yazbeck. A Conquista do México. São Paulo: Ática, 1998. • Leandro Karnal. A Conquista do México. São Paulo: FTD, 1996.

Para assegurar a posse de tanta terra e garantir a exploração de suas riquezas, os castelhanos criaram o Código de Índias – uma legislação especial, para as áreas de colonização e exploração fora do continente europeu; testaram formas de organização administrativa e construíram cidades reais, com planejamento urbano, planejamento este que ainda não existia no continente europeu. Os portugueses optaram por outra estratégia, definindo os territórios conquistados como domínios de ultramar, mantendo de modo geral o mesmo sistema de leis e uma forma de administração que ligava cada um dos pontos de colonização ao sistema metropolitano. 1. Compare a colonização ibérica – castelhana e portuguesa – com a inglesa, na Costa Leste dos Estados Unidos.

Consulte os sítios: • www.universiabrasil.net • www.bibvirt.futuro.usp.br • www.historianet.com.br • www.br.dir.yahoo.com/ Ciencia/Ciencias Humanas/Historia

2. Apresente as características da conquista espanhola.

• www.tvcultura.com.br/ aloescola

Veja os filmes:

3. Interprete as partes do poema colhido por Leon Portillo, indicando:

• 1942

• quem é o autor;

• Aguirre, a Cólera dos Deuses

• qual é o tema principal; • de que ocorrências o texto trata;

• O Capitão Castela

• qual a visão do poeta sobre o assunto que aborda.

• Cristóvão Colombo



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