Primeiras Casa No Ceara

  • June 2020
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  • Pages: 2
:. Autor: Bàbálórìsà Alessandro de Ayrá

PRIMEIRAS CASAS DE CANDOMBLÉ NO CEARÁ É sabido que o Ceará é um dos poucos Estados nordestinos que não teve uma tradição negra muito presente nos séculos passados. Devido aos grandes períodos de seca que castigavam, e ainda castigam, o Estado, aqui não se cultivava uma lavoura de expressão, como em Pernambuco; então, para o Ceará não vinham escravos em grande quantidade, pois não havia a necessidade de sua mão-de-obra. Sem escravos, sem tradição negra. Assim, o Estado do Ceará não cultivou uma tradição negra, nem a sua religiosidade, nem a sua cultura.

Até 1970, não se em notícias de Casas ou Terreiros de Candomblé neste Estado. Apenas a Umbanda era difundida e exercida em Templos que criaram nome e tornaram os seus Sacerdotes renomados, como os pais-de-santo João-Cobra e José Alberto (tendo este último participado de um longa-metragem sobre a Umbanda feito por um estúdio de cinema americano), e a Mãe-de-santo Tia Júlia, todos, entretanto, já falecidos. Há partir de meados da década de 70, começaram a surgir as primeiras pessoas ligadas ao Candomblé no Ceará. Nomes como o da baiana Iraciana de Santana, também conhecida como Iracy de Lògúnede, foram surgindo e ganhando notoriedade na Cidade de Fortaleza, não apenas como alguém que jogava búzios, mas como iniciadora dos primeiros Ìyáwo cearense que se tem notícia feitos nestas terras. Nesta época, cearenses que haviam feito Santo noutras Capitais e retornavam a Fortaleza, abriram suas Roças como os Bàbálórìsà Déo de Òsun e Xavier de Omolu, iniciados na Goméia, que abriram o Ile Ibá Possun Aziri, e a Ìyálórìsà Ilza de Òsun, iniciada por Dona Amália de Òsùmàrè em Salvador, que abriu, em 1976, o Ile Òsun Oyeye Ni Mo. A partir daí, desta década, foram feitos no Ceará dezenas de Ìyáwo, criando-se uma tradição religiosa afro-descendente. Na década de 80, mais e mais pessoas foram feitas, e surgiram nomes como o de Nilton de Lògúnede, descendente da Casa Branca que, vindo de Brasília-DF fixou residência em Fortaleza por alguns anos e fez alguns Ìyáwó. Também nesta década surgiu o Ile Àse Oba Otitó, do Bàbálórìsá Olegário de Sàngó, iniciado, assim como Ìyá Ilza, por Dona Amália de Òsùmàrè, posteriormente transferido para Manaus-AM. Tendo feito santo em 13 de abril de 1971, no Ile Angazú do conhecido Bàbálórìsà Agiu Efan, em Duque de Caxias-RJ, pelas mãos do Bàbálórìsà Valdemiro de Sàngó, conhecido como Pai Baiano, a Ìyálórìsà Obássi, ou Francy de Oba, retornou a Fortaleza em 1981, fixando aqui residência. Em 1990 ela inaugurou, juntamente com o Bábà Valdemiro de Sàngó, o Ile Àse Oloyobà, iniciando em fortaleza a tradição dos Candomblés baianos do Olorokê e do Gantois, axés dos quais descende esta Casa. Ìyá Obássi reinou absoluta, como referencial do Candomblé cearense de tradição baiana, até 1996, quando foi assassinada brutalmente durante a Festa das Ìyábás. Na década de 90 surgiram no Ceará o Ile Àse Omo Tifé, da Ìyálórìsà Valéria de Lògúnede, filha-de-santo da finada Iraciana de Santana, hoje filha de Pai Léo de Lògúnede de São Paulo; o Ile Lògún Boyé Lola, do Bàbálórìsà Guaracy de Lògúnede, filho-de-santo de Mãe Ilza d’Òsun, hoje pertencendo ao Àse Ògún Torodé do Rio de Janeiro-RJ; O Ile Alaketu Omi Ìyá Ògún, do Bàbálórìsà Silvio de Iyemonjà, filho-desanto do Bàbálòrìsà Xavier de Omolu, e que hoje pertence ao Àse de Tonhão de ÒgúnSP, descendente do Àse Alaketu de Muritiba-BA; o Ile Àse Oya Liri, da Ìyálórìsà Leda de Oya, filha-de-santo de Pai Déo de Òsun, posteriormente tendo tomado suas obrigações com pai Valdemiro de Sàngó; o Ile Àse Igbo Miuwà, do Bàbálórìsà Cacá de Osóòsi, filho-de-santo do primeiro barco de Ìyá Obássi e Pai Valdemiro; e o Ile Àse Adjebowaba, da Ìyálórìsà Lúcia de Yansán, filha-de-santo de Mãe Ilza d’Òsun.

Em 2003, foi inaugurado o Ile Àse Òsáníyn Yansán, do Bàbálórìsà Roberto Osanìynidé, filho-de-santo do Bàbálórìsà Ògún Jobi, descendente do Àse Opó AfonjàRJ. Como se vê, em apenas 30 anos de existência, o Candomblé cearense cresce a passos largos, com casas descendentes da Goméia, do Gantois e Olorokê, de Muritiba, do Opó Afonjà e de outras matrizes, levando, desta forma, a tradição ritual de nossos antepassados ao conhecimento de uma sociedade alheia, a princípio, à questão negra e afro-descendente, fazendo verdadeiramente, o papel de arautos da fé no Òrìsà neste Estado onde primeiro se aboliu a escravidão e onde foram os navios negreiros proibidos de desembarcarem escravos em nossos portos, fazendo o Ceará ser chamado de “Terra da Luz”. Apresentação Ayrássi: Escrever sobre Ile Àse e Egbè Òrìsà - Casas e Comunidades de Candomblé, é o que me propus, como colaborador do Jornal. Creio que para sabermos ao certo QUEM NÓ SOMOS, precisamos, indubitavelmente, saber DE ONDE VIMOS. "Quem não tem descendência não tem raiz", é assim que muitos egbonmi dizem e eles estão certos. Saber das nossas origens, dos nossos ancestrais, de suas lutas, de seus feitos, é fundamental para que possamos dar continuidade ao que nos foi legado. As Casas, os Terreiros de Candomblé, nasceram, de acordo com cada nação, basicamente, de uma casa matriz... Matrizes como o Ile Ìyá Nasó Oká (Casa Branca do Engenho Velho), Ile Àse Osúmàré (Casa de Oxumarê),Ile Maroialaje (Alaketu), Zogodô Bogum Malê Ki-Rundo (Bogum) e Àse Yangbi Oloroké ti Èfón (Olorokê) são casas-mãe de centenas de terreiros de candomblé da tradição JejeNagô... Ancestres de nossa descendência... Sacrário de nossas tradições. Assim, buscando um elo de ligação entre o passado e o presente, com o objetivo de termos, no futuro, a concretização de nossos ideais enquanto omo-Òrìsà e enquanto partícipes de uma tradição, elevando, a cada dia, a religião que professamos a superiores patamares de respeitabilidade e ética, entro como colaborador deste Jornal cuja seriedade e respeito ao leitor internauta, faz do saber a linha de frente, dispensando maiores apresentações. Que os Òrìsà nos bendigam, sempre! Ire o, Àse!!! Bàbálórìsà Alessandro de Ayrá (Ayrássi) foi iniciado em 1994 pela saudosa Ìyálòrìsá Obássi, em Fortaleza-CE, filha de santo de Valdemiro de Sàngó. Com a trágica morte da Ìyálórìsà, ocorrida em dezembro de 1996, Bàbá Alessandro tomou as suas obrigações com Pai Valdemiro (Àse Oloroké e Gantois). Bàbá Alessandro está, desde 2002, aos cuidados do Bàbálòrìsà Alexandre de Lògúnede (descendente do Àse Òsùmàrè). Bàbá Alessandro de Ayrá

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