O pensamento de Platão sofre uma clara mudança ao longo de sua vida no que concerne à teoria das ideias. Um primeiro esboço da doutrina das formas começa a ser traçado no Ménon, uma obra provavelmente do segundo período do pensamento platônico. Essa obra é centrada no problema do aprender. Segundo Platão, todas as virtudes são saberes e, por isso, podem ser ensinadas e aprendidas. De acordo com o mito da anamnese, a alma é imortal e nasceu e viveu muitas vezes, tendo visto todas as coisas, tanto nesse mundo como no Hades. Assim, quando a alma se recorda de uma só coisa, pode encontrar por si todo o resto, bastando para isso ter ânimo para a pesquisa. Aprender é, assim, recordar-se. O mito da anamnese exprime, assim, o princípio da unidade da natureza: a natureza do mundo é uma só, sendo também uma com a natureza da alma. Dessa forma, partindo de uma coisa singular, o homem pode aprender outras coisas, ligadas à primeira. Esse princípio se faz necessário por tornar possível a hierarquização e organização do mundo das ideias segundo princípios lógicos. O diálogo começa com uma pergunta feita por Ménon a Sócrates: “a virtude pode ser ensinada ou adquirida pelo exercício ou é recebida de nossa própria natureza?”. Essa questão inicial é gradualmente convertida em uma outra questão, a saber, o que é a virtude. Isso abre caminho para a formulação de um problema nuclear, ou seja, o que é o caráter pelo qual as coisas, como coisas, se assemelham. Essa transição é feita elegantemente por Platão com a elaboração de três perguntas: 1) “O que é essencialmente a abelha?”, à qual Ménon responde “as abelhas são numerosas e várias”. 2) As abelhas são numerosas e várias?”, cuja resposta é “as abelhas, como abelhas, não se distinguem umas das outras. 3) “O que é esse caráter pelo qual elas não diferem de modo algum?”, à qual o próprio Sócrates dá a resposta: “Pois o mesmo se dá com as virtudes. Por mais numerosas e várias que sejam, haverá sempre um certo caráter geral que as abrange a todas e por força do qual elas são virtudes. É este caráter geral que se deve ter em vista, para saber o que é virtude”. Esse pequeno trecho exprime a primeira noção da teoria das ideias platônica. A substância (ousia), aqui, tem o sentido tanto da existência real de uma coisa como de uma essência concebida como realidade inteligível imanente aos particulares. Isso corresponde perfeitamente ao sentido de ideia como uma realidade não sensível em relação à qual é nomeada uma classe de indivíduos e que não tem diferença ontológica com os particulares, que tiram dela sua natureza e seu nome. Em outras palavras, a noção de ideia nessa fase do pensamento platônico equivale à de causa epônima. No Fédon, já se percebe uma diferença de compreensão da teoria das formas. Surge uma concepção realista das formas separadas dos particulares. Cada uma das formas tem existência própria e é delas que as coisas sensíveis participam e recebem o nome. Substância adquire o sentido de uma essência ontologicamente diferente das realidades nomeadas a partir dela e a ideia, separada do sensível, é tomada como uma realidade não-sensível em relação à qual é nomeada toda uma classe de indivíduos. Tal posição é chamada de realismo platônico ou realismo dos universais.