150 anos de trabalho e tradição Historiadores e pesquisadores analisam as raízes econômicas e culturais de Pirabeiraba
Usina de Açúcar de Pirabeiraba, início do século XX
Engenho de mate de Abdon Baptista, na Estrada Dona Francisca
Um presente à minha terra Apresentação da revista Pirabeiraba 150 pelo ex-vereador e ex-presidente da Câmara Fabio Dalonso
Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica Dilney Cunha - Historiador, graduado e pós-graduado em História pela Univille
Pirabeiraba ontem e hoje Milton Benkendorf – Licenciado em História e mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille.
O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba Wilson de Oliveira Neto – Professor de História em São Bento do Sul e mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille.
Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba Brigitte Brandenburg – Engenheira agrônoma da Epagri e fundadora do Instituto de Geneologia de Santa Catarina.
Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço Fernando Cesar Sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Udesc e professor de História na Univille.
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Reunião da família Pabst (Rio da Prata) com o pastor luterano C. Bartelmann (com chapéu na mão)
A revista Pirabeiraba 150 é uma publicação comemorativa dos 150 anos de Pirabeiraba editada pelo ex-vereador Fabio Dalonso. Contato:
[email protected] Jornalista responsável: Domingos de Abreu Miranda (DRT-SP 18.888). Fotos: Nilson Bastian e Arquivo Histórico de Joinville e Grupo Folclórico Windmühle. Diagramação: Marcelo Duarte •
[email protected] Impressão: Gráfica: Grafinorte.
Um presente à minha terra
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niversário sem presente não é aniversário. Há cerca de seis meses já pensava o que poderia oferecer a esta comunidade – que me viu nascer e que tantas alegrias têm me dado – quando ela completasse 150 anos de existência. Queria dar um presente que agradasse a todos: jovens, idosos, homens, mulheres, católicos, luteranos, ricos ou pobres. Então decidi oferecer a esta boa gente uma revista que relatasse um pouco da história deste aprazível pedaço de chão. Portanto estamos entregando a vocês Pirabeiraba 150. Este projeto foi idealizado com a ajuda do meu leal amigo e jornalista Domingos Miranda e do conceituado historiador Dilney Cunha. A vocês dois o meu eterno agradecimento por ter permitido concretizar este antigo sonho meu. Para esta empreitada contei também com o apoio dos amigos Marisa Fock, Clóvis Seefeldt, Mário Sérgio, proprietário da Criacom e a participação especial do fotógrafo Nilson Bastian. Aqui não poderia deixar de destacar a compreensão de Marcelo e Jonas, diretores do Perini Business Park, que entenderam o significado desta publicação para a comunidade, investindo na publicidade. Mas a revista Pirabeiraba 150 não sairia sem o trabalho abnegado e gratuito de um grupo de conceituados pesquisadores, alguns deles com raízes em Pirabeiraba. Quem coordenou esta empreitadada foi o historiador Dilney Cunha, autor dos livros “Suíços em Joinville: o duplo desterro”e “História do Trabalho em Joinville – gênese”. Ele também escreve o artigo de abertura, “Primórdios de Pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica”. Já a pesquisa “Pirabeiraba ontem e hoje” foi feita por um filho da terra, Milton Benkendorf, licenciado em História e mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade, da Univille. Wilson de Oliveira Neto, professor de História e co-autor do livro “O Exército e a cidade” escreveu sobre “O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba”. A engenheira agrônoma e pesquisadora da realidade local, Brigitte Brandenburg, trouxe à tona um interessante levantamento, “Estradas e famílias: colonização em Pirabeiraba”. Fechando o ciclo de estudos o professor de História da Univille e mestre em educação, comunicação e tecnologia pela Udesc, Fernando César Sossai, nos apresenta “Pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço”. Tenho certeza que estes trabalhos de alta qualidade servirão a todos aqueles que queiram entender melhor nosso passado, conhecer o presente e vislumbrar perspectivas sobre o futuro desta comunidade. Obrigado a todos. Pirabeiraba, 15 de abril de 2009. Fabio Dalonso
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Primórdios de
Pirabeiraba
Aspectos obscuros da sua gênese histórica Estrada Dona Francisca, no alto da serra, caminho usado para o transporte do mate
* Dilney Cunha – Historiador, graduado e pós-graduado em História pela UNIVILLE, autor dos livros “Suíços em Joinville – O duplo desterro” (Ed. Letra d´Água, Joinville, 2003,
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Dilney Cunha*
ocupação humana da região hoje denominada de Pirabeiraba data de pelo menos 5 mil anos atrás, quando grupos de coletores-caçadores-pescadores estabeleceram-se preferencialmente às margens de rios como o Cubatão e da baía da Babitonga. Os únicos vestígios deixados por essas populações são os sambaquis, montes de conchas nos quais se encontraram artefatos de pedra como pequenas esculturas em forma de animais (zoólitos), pontas de flecha, utensílios domésticos e até mesmo ossos humanos. Grupos indígenas também passaram pela região, como os carijós (guaranis) no século 15 e os xoklengs (botocudos ou “bugres”) já no século 19, os quais protagonizaram vários confrontos com os colonos europeus, alguns mais graves, como o que vitimou o casal Lenschow em 1876 na Estrada da Serra (atual SC-301). Embora não se tenha comprovação, é possível que os guaranis tenham aberto o caminho mais antigo da região, chamado de Peabiru, cujos trechos hoje são conhecidos como Estrada Três Barras e Caminho do Monte Crista. A trilha foi utilizada ao que parece pelos exploradores espanhóis e portugueses no século 16 e serviu também de passagem para os padres jesuítas e os tropeiros que se deslocavam entre o planalto curitibano e o litoral norte catarinense, onde estavam a vila e o porto de São Francisco do Sul.
traduzido para o alemão e lançado na Suíça em 2004 pela Editora Limmat, de Zurique) e “História do Trabalho em Joinville – Gênese” (Ed. Todaletra, 2008).
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No final do século 18 e início do século 19, parte das terras devolutas adjacentes a Pirabeiraba, que então pertenciam à freguesia de São Francisco do Sul, foram cedidas a famílias de origem luso-brasileira, muitas das quais possuíam escravos. Nas sesmarias (como eram denominadas essas propriedades) cultivavam-se principalmente mandioca e cana-de-açúcar. Um e outro pequeno engenho produzia cachaça, melado e açúcar mascavo. Descendentes desses primeiros povoadores ainda hoje residem na região, como as famílias Cercal, Dias, Cidral, Cristino e Araújo. Narrando suas memórias, Manoel de Oliveira Cercal conta que seus antepassados chegaram de Portugal há cerca de 250 anos. Adquiriram terras nas regiões de Araquari, do Boa Vista e do Cubatão, dedicando-se a agricultura, com a utilização do trabalho escravo.
Ana Dias, nascida em 1907, neta de escravos de sesmeiros da região do Cubatão, recorda que após a abolição (1888), muitos cativos e seus descendentes foram trabalhar para famílias germânicas de Pirabeiraba. Ela mesmo foi empregada da família Bächtold, da Estrada da Ilha. Entretanto, o povoamento sistemático e em maior escala da região começou com a criação da Colônia Dona Francisca e a chegada dos imigrantes europeus a partir de 1851. Desde o princípio era intenção da Sociedade Colonizadora de Hamburgo e do representante do Príncipe e da Princesa de Joinville, Léonce Aubé, ocupar as terras mais ao norte da Colônia. Para isso, foi projetada uma estrada que ligaria Joinville ao planalto de Curitiba e serviria para estabelecer o comércio entre essas regiões. Também foi construída em 1854 uma grande serraria às margens
Carroção “Sãobentowagen”, com sua cobertura de lona, era o meio de transporte mais comum na Estrada Dona Francisca
do rio Cubatão, na altura da confluência com o rio da Prata. A “Serraria exército francês, escritor de obras militares e à época, dono da maior do Príncipe” como ficou conhecida, foi por vários anos o maior emprefortuna da França, estimada em 66 milhões de francos, herdada do seu endimento da Colônia, exportando madeira para fora da Província de padrinho, o príncipe Bourbon-Condé. Da herança fazia parte também o Santa Catarina. famoso castelo de Chantilly, que abriga hoje uma das principais coleções O que determinou porém a criação de Pirabeiraba foi um encade arte do mundo, doada pelo duque. deamento de fatos: em 1855 a Sociedade Colonizadora de Hamburgo Em troca dessa ajuda, o Duque d´Aumale recebeu uma extensa área de terras situadas na margem esquerda do rio Cubatão, que ficou coestava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e o dinheiro prometido pelo governo imperial brasileiro não veio. A Conhecida como Domínio Pirabeiraba. Ali mandou construir na década de lônia Dona Francisca por sua vez vivia um momento delicado: muitos 1860 uma enorme fábrica de açúcar, que funcionou até o início do século 20, sendo considerada a maior e mais moderna de toda a Província de colonos, frustrados em suas expectativas, em virtude das inúmeras diSanta Catarina e comparada aos melhores estabelecimentos do gênero ficuldades encontradas, preferiram transferir-se para outras localidades no Brasil. Suas instalações foram orcomo Curitiba. A rivalidade entre os negócios do Príncipe de Joinville, adçadas em cerca de Rs 120.000$000 ministrados pelo seu representante, (cento e vinte mil contos de réis), O que determinou porém a criação de Léonce Aubé, e os negócios da Sodos quais Rs 40.000$000 em máPirabeiraba foi um encadeamento de fatos: ciedade Colonizadora, aumentava a quinas (importadas da França), uma em 1855 a Sociedade Colonizadora de tensão. O diretor da Colônia, Benno quantia fabulosa para a época. Suas von Frankenberg und Ludwigsdorff, caldeiras a vapor operavam com Hamburgo estava à beira da falência; seus profundamente descontente com motores de 96 cavalos de força, carecursos financeiros estavam esgotados e o a situação, pede demissão. Dois inpazes de produzir até 800 hectolitros terventores assumem a Direção, mas (80.000 litros) de caldo por dia. dinheiro prometido pelo governo imperial Havia cerca de 4 quilômetros também acabam se desentendendo. brasileiro não veio. Foi nesse exato momento de trilhos, fixos e móveis, atravessando as plantações. Assim, a cana que, percebendo que o seu próprio empreendimento estava ameaçadepois de cortada e enfeixada, era do, o Príncipe de Joinville enviou Aubé a Hamburgo para assinar um colocada em vagões e conduzida até a fábrica, onde então iniciava-se o contrato com a Sociedade Colonizadora, mediante o qual se tornou seu processo de moagem, destilação e produção de aguardente (cachaça) e sócio-acionista, com a aquisição de 800 ações. Comprometia-se a pagar açúcar. Também foi construída uma escola para os filhos dos empregados da fazenda. O conjunto de construções (casa de máquinas, engenho por elas 50.000 tálers (moeda alemã da época) e dar 30.000 morgos (75 milhões de m²) de terra à Sociedade. Também ficou acertado que Aubé de moagem, residência do administrador, galpões e rancho dos empreseria o novo diretor da Colônia. gados etc) tinha o aspecto de uma “pequena cidade”, segundo expressão Ocorre porém que o Príncipe ainda encontrava-se exilado na usada pelo escritor joinvilense Ernst Niemeyer. Inglaterra, em uma situação financeira desconfortável. Embora não se Inicialmente produzia-se apenas cachaça e açúcar mascavo, e a tenha a documentação comprobatória, é quase certo que aquele dinheipartir da década de 1870, foi a pioneira na produção do açúcar branco e ro veio do seu irmão Henri d´Orleans, Duque d´Aumale, general do refinado, premiado em exposições agroindustriais, como a de Porto Ale-
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gre em 1881. Para que se tenha uma idéia do impacto na economia local, a produção total de açúcar da colônia saltou de 1.350 arrobas (cerca de 20.000 quilos) em 1867 para 8.760 arrobas (cerca de 128.000 quilos) em 1868, enquanto a de cachaça pulou de 28.000 medidas (aprox. 73.000 litros) para 64.800 medidas (aprox. 170.000 litros). Além de suprir o mercado local, a fábrica exportava seus produtos para Desterro (atual Florianópolis), Blumenau, Laguna, São Bento do Sul e também para as Províncias do Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Embora a fazenda possuísse extensos canaviais, a fábrica era abastecida também por inúmeros agricultores da região. Pela sua grandiosidade, pelas suas instalações modernas, pela sua administração inovadora para época e lugar, a fazenda do Duque d´Aumale transformou-se em um empreendimento-modelo no país. Atraiu a atenção de ilustres visitantes, como o conde d´Eu, esposo da princesa Isabel, o dinamarquês Henningsen, representante do Duque de Chartres (irmão de d´Aumale) e o príncipe austríaco Windischgratz. A população também parece ter feito da fazenda um ponto “turístico”: associações e grupos de pessoas costumavam realizar “excursões” de Joinville até o local. Aubé era agora, além de representante do Príncipe de Joinville e do Duque d´Aumale, o novo diretor da Colônia Dona Francisca. Assim, uma das primeiras medidas que adotou foi garantir a mudança do traçado da futura estrada que ligaria a colônia ao planalto. O projeto inicial da antiga direção fazia com que ela passasse pela região de Anaburgo (atual Vila Nova). Aubé, vendo que isso seria extremamente prejudicial para os interesses do Príncipe, iniciou com recursos próprios e do governo da Província, a construção de uma outra estrada em 1852. Partindo do centro de Joinville (atual rua Dona Francisca), ela atravessava justamente as terras do nobre francês, o que viabilizaria a sua colonização e consequentemente provocaria sua valorização, além de garantir o escoamento da produção dos futuros empreendimentos (serraria e fábrica de açúcar). Acumulando os cargos, não foi nada difícil para Aubé fazer valer o seu projeto. Esse fato foi fundamental para o surgimento de Pirabeiraba. No seu relatório de 1857, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo já mencionava a criação de um novo povoamento na região do Cubatão e no relatório seguinte fala da “cidade (Stadtplatz) projetada para situar-se ao longo da estrada que leva até o planalto e promete por causa de sua localização, rápido progresso”. Em 1859, a chamada “Estrada da Serra” (atual SC-301) estava concluída até a “nova cidade a ser construída às margens do rio Cubatão”. Estava tudo preparado para iniciar a colonização da região. Naquele mesmo ano, o governo imperial enviou à colônia o conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, para que fiscalizasse o andamento
Estrada Dona Francisca (Km 20) no início do século XX
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das obras públicas, em especial a Estrada da Serra. Para homenageá-lo, a Direção da Colônia ofereceu-lhe o primeiro lote do novo núcleo populacional, que também em sua homenagem recebeu o nome de Pedreira. Localizava-se no ponto onde se encontravam as estradas da Serra, Cubatão e Três Barras. O título de propriedade traz a data de 15 de abril, tida hoje como a data de fundação do distrito de Pirabeiraba; mas os primeiros assentamentos ocorreram ao que parece ainda em 1858 na Estrada Cubatão (trechos da Estrada Anaburgo e BR-101). Os registros imobiliários da Direção da Colônia indicam por sua vez que o primeiro lote na Estrada da Ilha foi vendido ao imigrante alemão Heinrich Demuth em 15 de setembro de 1859. Independente da data, é fato que esse ano marcou o início da colonização em maior escala da região de Pirabeiraba, com a chegada de inúmeras famílias de origem germânica, em sua absoluta maioria oriunda de pequenas aldeias rurais da Pomerânia, região localizada no leste do antigo Reino da Prússia (atuais Alemanha e Polônia). Vieram ainda muitos imigrantes de Mecklemburgo, Saxônia e da Suíça. Em 1867, ou seja, menos de dez anos depois, residiam naquele distrito 974 pessoas (em toda a Colônia moravam 4.667 habitantes), das quais 628 eram estrangeiras (ou seja, imigrantes). Fontes CIESLINSKI, Carolina; COELHO, Ilanil. Os luso-brasileiros em terras de alemães: a história que não foi contada. In: Caderno de iniciação à pesquisa. Vol. 6-novembro/2004. Joinville: UNIVILLE, p.204. FICKER, Carlos. História de Joinville: subsídios para a crônica da Colônia Dona Francisca. Joinville: Ipiranga, 1965. QUANDT, Olavo Raul. Mil pomeranos. Joinville: edição do autor, 2003. SCHMALZ, Odete. Um ducado francês em terras principescas de Santa Catarina. Monografia. Joinville: FURJ, 1989. JORNAL O TRABALHADOR. Joinville. Ano I - no 1 - Fevereiro de 1999. Acervo: Comunidade Evangélica Luterana de Pirabeiraba LIVROS de registros de batismos, casamentos e óbitos. 1859-1870. Acervo: Arquivo Histórico de Joinville (AHJ) LISTAS de imigrantes. Diversas. RELATÓRIOS da Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo. 1851-1892. Traduzidos por Helena R. Richlin. HOLTERMANN, C. A. Die deutsche Kolonie Dona Francisca in Brasilien in historischen – statistischer Beziehung. Mittheilungen der geographischen Gesellschaft in Hamburg, 1876-1877 STATISTIK der Kolonie Dona Francisca vom Jahre 1867 (levantamento realizado pela Subdelegacia e pela direção da Colônia Dona Francisca). CERCAL, Manoel de Oliveira; MEYER, Maria de Lourdes Cercal; Araújo, Maria Luiza Cercal de; e CERCAL, Flávio Lúcio de Oliveira. Entrevista concedida a Janine Gomes da Silva e Jeisa Rech. Joinville, 10 set. 2002. Núcleo de Pesquisa Histórica do AHJ. DIAS, Ana; CRISTINO, Antônio Davi. Entrevista concedida a Dietlinde Clara Rothert, Maria Judite Pavesi e Milton Benkendorf. Joinville, 16 de março de 2000. Núcleo de História Oral. AHJ.
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Escola hoje
educação sempre recebeu atenção especial dos moradores de Pirabeiraba. Na foto a escola agrícola inaugurada na década de 60. Abaixo escola as margens da Estrada Dona Francisca, em 1910.
Escola ontem
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Pirabeiraba
ontem e hoje Serraria do príncipe de Joinville, às margens do Rio Cubatão, confluência com o Rio da Prata (1865)
“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.”
* Milton Benkendorf - É licenciado em História e Mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille.
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Marc Bloch
Milton Benkendorf*
screver um pouco da história de Pirabeiraba é escrever minha própria história, pois, aqui nasci e dei meus primeiros passos nas letras. Primeiramente na Escola Isolada Estadual da Estrada da Ilha, comunidade onde residia e conclui o ensino fundamental na Escola de Educação Básica Olavo Bilac, em pleno período da ditadura militar. Ampliei meus horizontes, passei a interagir com as outras comunidades através dos Grupos de Jovens, vinculada à Igreja Evangélica Luterana, o que me permitiu ter uma idéia da extensão do nosso Distrito.
Este, que já ocupou quase metade do território do Município e hoje, mesmo com a transferência de todo o Distrito Industrial Norte para a sede do Município, ainda possui mais de um terço da superfície do município de Joinville. Mas a polêmica no período era outra: Pirabeiraba arrecadava sessenta por cento dos impostos pagos ao Tesouro Municipal, e surgiu a possibilidade de emancipação. Isto na primeira gestão do Prefeito Wittich Freitag, que prontamente tratou de mudar a legislação, incorporando a Zona Industrial à sede, pondo um ponto final nas aspirações dos emancipacionistas. O Distrito de Pirabeiraba tal como a localidade de Anaburgo, hoje situada no bairro Vila Nova, nasceu sob o signo de ser a sede da então recém-fundada Colônia Dona Francisca. Como ambas fugiram ao
controle de seus primeiros administradores, a sede acabou mesmo ficando onde hoje se encontra o centro do município de Joinville. O Distrito de Pirabeiraba se encontra ao Norte do município, na direção da Serra do Mar e é ponto de passagem para quem deseja ir a Curitiba pela BR-101, antiga Estrada de Três Barras, que corta as comunidades da Estrada do Oeste, Estrada Canela, Estrada Bonita, a Estrada Palmeira e a localidade de Rio Bonito. Já a SC-301, antiga Estrada Dona Francisca, leva a Campo Alegre e São Bento do Sul, que dá acesso às comunidades de Estrada Mildau, Estrada do Pico, Estrada Rio da Prata, Estrada Quiriri, Estrada Rio do Júlio, alto da serra, e a chamada Vila Dona Francisca na altura do quilômetro 21 já no sopé da Serra do Mar. Complementam ainda o Distrito as comunidades da Estrada da Ilha,
Vista aérea de Pirabeiraba
Estrada Ribeirão do Cubatão, cujo der as necessidades básicas. Cabia Com a ocupação do solo da Colônia, a acesso é anterior ao centro urbano ao chefe da casa então prover esta do Distrito. primeira atividade foi o desmatamento, para carência, e para isso ele acabava traCom a ocupação do solo da balhando como bóia fria para outros que na seqüência pudessem utilizar as terras Colônia, a primeira atividade foi o colonos, que dispunham de capital desmatamento, para que na seqüênpara a atividade agropastoril, que, depois da para iniciar suas atividades. Estes cia pudessem utilizar as terras para pagavam para derrubar a mata e iniextração da madeira in natura, tornou-se a a atividade agropastoril, que, depois ciar o cultivo nas suas propriedades da extração da madeira in natura, ou como outra opção, os colonos atividade econômica que trouxe o sustento tornou-se a atividade econômica que insolventes trabalhavam como emdos agricultores e de suas famílias. pregados da Administração da Colôtrouxe o sustento dos agricultores e de suas famílias. nia, na abertura de novas estradas, A vocação agrícola das comudemarcação de lotes, derrubada de nidades criadas ao longo da Estrada Dona Francisca e da Estrada de árvores e na construção de pontes. Três Barras, nem sempre encontrou solo fértil para assegurar o sucesso A agricultura permaneceu como principal atividade do Distrito, até o início da década de 30. Passou a dividir com as Serrarias, que benedestas recém criadas comunidades. Mas, a grande maioria encontrou os recursos necessários para se desenvolverem, apesar das adversidades que ficiavam a madeira extraída da floresta, o espaço econômico da região. Levantamento feito por volta do ano de 2001 pelo Núcleo de História este tipo de pioneirismo costuma enfrentar. Oral do Arquivo Histórico de Joinville, aponta entre os anos de 1930 a Suprimida a vegetação, plantada a primeira safra, era preciso es1970, a existência de mais de trinta Serrarias em atividade só na região perar a primeira colheita para poder aos poucos matar a fome da família, de Pirabeiraba. e ainda cuidar dos animais domésticos, que tal como o grupo familiar Como as comunidades que se estabeleceram foram se desenvoltambém tinha que ser alimentado. A produção da propriedade nem sempre era suficiente para atenvendo, abriu-se espaço para que estabelecimentos comerciais fossem sur-
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gindo ao longo das principais vias. Estes, além de fornecerem mantimentos para suprir os colonos, adquiridos na sede do município, acabavam também adquirindo produtos destes, que os revendiam. Com isto, criouse uma relação de comércio de troca, também conhecida como escambo. Muitos destes comerciantes transformaram-se em pequenos “banqueiros”, pois para não perder o controle das finanças, criaram um controle de caixa para cada colono. Uma espécie de conta corrente, onde eram anotados os valores das mercadorias adquiridas do agricultor, como crédito e noutra coluna as compras efetuadas pelo mesmo do comerciante, e numa terceira coluna era anotado o saldo do correntista, a cada vez que a conta era movimentada. Muitos dos colonos deixavam seu dinheiro na mão do comerciante, e isto explica de certa forma o sucesso dos comerciantes da região. Alguns destes ainda existem e atuam com secos e molhados, açougues, hotelaria e restaurantes, que em algumas situações, estão há várias gerações nas mãos de uma mesma família. Outro fator que contribuiu para o sucesso dos comerciantes foi o fluxo de carroções vindos do planalto, com o ciclo da erva-mate, que durou aproximadamente de 1890 a 1930. Transportavam até o porto do Bucarein a erva beneficiada, e até as ervateiras, a matéria prima vinda do Planalto Serrano. Os comerciantes se beneficiavam oferecendo pousada para os carroceiros e também pasto e cocheiras para os cavalos destes. Nas últimas quatro ou cinco décadas, foi possível sentir as mudanças de forma mais rápida. Situada numa região de exuberante Mata Atlântica, Pirabeiraba sofreu com o enrijecimento da Legislação Ambiental, na década de 1970, que provocou a desativação de praticamente noventa por cento (90%) das madeireiras existentes, e também em muitos casos tornando-a uma atividade econômica quase inviável. Com esta imposição, muitos agricultores acabaram por desistirem da roça para se empregarem em empresas como forma de buscar o seu sustento. A Pirabeiraba de hoje, pouco lembra a do passado, pois aos poucos, com a construção da BR-101, na década de 1960, e mais tarde na
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década de 1990 a construção da SC-301, o Distrito passou a ser ocupado por um número cada vez maior de indústrias que buscavam terrenos com localização privilegiada e também mão de obra disponível para contratação. A mão de obra além de ser farta, era formada por ex-agricultores e ou os filhos destes, que precisavam empregar-se nas empresas face a nova conjuntura. Estes habituados às lides do campo, e não fugindo do trabalho pesado, ao qual estavam acostumados, foram muito disputados por diversas das grandes empresas como Cônsul, Tupy, Embraco, Dohler e Tigre. Aos poucos a atividade econômica de Pirabeiraba acabou ficando cada vez mais parecida com a do município sede (Joinville). Até mesmo o perfil dos agricultores acabou se modificando: muitos dos que permaneceram na atividade passaram a ser monocultores, como é o caso da banana, outros agregaram a atividade do turismo rural para incrementar sua renda. Mas, muitos desistiram e venderam suas propriedades que acabaram virando sítios de lazer de moradores urbanos em busca da tranqüilidade oferecida pelo campo. Atualmente, Pirabeiraba tem uma população de aproximadamente 25 mil habitantes, responde por um quinto da arrecadação do município e sua atividade agrícola mais significativa é a produção de banana. Encerro o texto utilizando uma frase do historiador inglês Eric J. Hobsbawm, “...as pessoas vivem um presente permanente, esquecendo-se de seu passado cuja memória há muito ficou esquecida”. Bibliografias consultadas FICKER, Carlos. História de Joinville. Joinville: Ipiranga, 1965. CUNHA, Dilney. Suíços em Joinville – O duplo desterro. Joinville: Letra D´ Água, 2003. ____________. História do Trabalho em Joinville – Gênese. Joinville: Todaletra, 2008. HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. SINODO LUTERANO. Lutherische Kirche in Brasilien. São Leopoldo: Rotermund & CO, 1955.
Instalações no interior da Usina de Açúcar de Pirabeiraba, uma das mais modernas da época
Canavial da Fazenda Pirabeiraba com a vila operária ao fundo, na primeira década do século XX
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O associativismo teuto-brasileiro em Pirabeiraba Participantes da Sociedade de Atiradores de Pirabeiraba, no início do século passado
* Wilson de Oliveira Neto – Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade na Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE). Professor de História no Colégio Global (São Bento do Sul, SC). Co-autor do livro O Exército e a cidade (Editora da UNIVILLE, 2008).
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Wilson de Oliveira Neto*
existência de uma intensa vida associativa é um dos aspectos que mais chama a atenção daqueles que estudam a história e a cultura teuto-brasileiras. São recorrentes na bibliografia especializada menções à grande quantidade de agremiações, associações, clubes ou sociedades das mais variadas matizes que, no exercício de suas funções, foram além do mero espaço de sociabilidade entre os membros das comunidades teuto-brasileiras formadas no sul do Brasil a partir do século 19. Como afirma a antropóloga Giralda Seyferth (1999), o associativismo foi um espaço de manutenção de etnicidade. Locais de expressão da Kultur alemã.
No Brasil, as primeiras sociedades teuto-brasileiras surgiram no meio urbano. Elas eram chamadas genericamente de Germania e estavam ligadas ao comércio e à indústria. Apesar de sua natureza econômica, esses clubes possuíam bibliotecas e desenvolviam uma intensa vida cultural, com apresentações de canto, música e teatro. A respeito dessas organizações pioneiras, sabe-se ainda que: “[...] celebravam datas históricas alemãs, possuíam bibliotecas com predominância de textos em língua alemã, organizavam apresentações teatrais e de música instrumental e coral privilegiando a tradição alemã. Sob este aspecto, portanto, não se diferenciavam muito das sociedades de Tiro e de Ginástica, apesar destas exibirem mais ostensivamente as práticas esportivas nas suas denominações. As sociedades Germania, porém, eram mais do que simples espaços de recreação, sendo consideradas [...] precursoras das câmaras de comércio teuto-brasileiras” (SEYFERTH, 1999, p. 25).
Com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine (Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine (Sociedades de Agricultores), Sängervereine (Sociedades de Cantores), Schützenvereine (Sociedades de Atiradores), Turnvereine (Sociedades de Ginásticos), entre outras. De acordo com a historiografia, as agremiações teuto-brasileiras surgiram, basicamente, a partir de duas razões: a) Pela falta de amparo aos imigrantes por parte do Estado brasileiro; b) Por uma tradição associativa existente na Alemanha há séculos (FOUQUET, 1974 e SEYFERTH, 1999). Nas Colônias, tudo estava por ser feito e durante os seus primórdios, diante de toda a precariedade material, as sociedades foram locais em que os problemas comunitários eram enfrentados e superados. Na Alemanha contemporânea, o associativismo ainda é visto como algo de importância nacional, que tem suas raízes na época medieval. Existem no país em torno de 345 mil associações, das quais participam cerca de 70 milhões de sócios. É o que afirma o Perfil da Alemanha (2000), guia publicado em vários idiomas pelo Departamento de Imprensa e Informação do Governo Federal. O papel social do associativismo teuto-brasileiro pode ser visualizado
através, por exemplo, das sociedades Em Pirabeiraba, as associaCom o passar do tempo, outras associações de tiro (Schützenvereine). Suas origens ções religiosas e escolares foram as surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine primeiras a serem criadas. Os coloestão situadas nas corporações de atiradores que, na Idade Média, eram (Sociedades de Socorro-Mútuo), Kulturvereine nizadores, quase todos agricultores responsáveis pela defesa dos burgos e com uma religiosidade evangélica (Sociedades de Agricultores), Sängervereine localizados em diversas regiões da Eufortemente arraigada, formaram em ropa Centro-Ocidental. Contudo, as 1863 uma “comunidade eclesiástica (Sociedades de Cantores), Schützenvereine e escolar” (Kirche-und Schulgemeinatividades dessas confrarias não eram Turnvereine (Sociedades de Atiradores), apenas militares. Periodicamente, de) na Estrada da Ilha e em 1864 o mesmo ocorreu na vila de Pedreira eram realizadas competições de tiro (Sociedades de Ginásticos)... (atual Pirabeiraba). Nos anos postee demais celebrações que, segundo a historiadora Sueli M. V. Petry (1982), riores, à medida que surgiam novos são os embriões das festas de atiradores de hoje. núcleos populacionais nas recém-abertas estradas do distrito, associações Fora isso, em muitos momentos as associações ou clubes teutodo mesmo gênero eram criadas. Um outro tipo de agremiação bastante presente entre os colonos brasileiros prestaram vários serviços de utilidade pública que ultrapassateuto-brasileiros eram as associações de tiro. Em 1894 surgiu a “Schützenram as fronteiras das Colônias. Em Dona Francisca, atual Município de verein Pirabeiraba”, que se reunia para treinos e torneios no Salão SchröJoinville, por exemplo, a Schützenverein zu Joinville junto com o Corpo de Bombeiros Voluntários foram as primeiras formas de defesa da Colônia. der, na Estrada Dona Francisca km 9, esquina com a Estrada da Ilha. Em Inclusive, foram mobilizados em virtude da passagem da Revolução Fe1906 foi fundada na mesma estrada, no km 21, a “Schützenverein Tell”. De acordo com a pesquisadora Brigitte Gern, essas associações deralista pela região, durante o final do século 19 (GUEDES, OLIVEIforam fechadas durante a Segunda Guerra Mundial por determinação RA NETO e OLSKA, 2008). No Rio Grande do Sul, informa o memorialista Carlos Fouquet (1974) que, o primeiro Tiro de Guerra gaúcho foi governamental e mais tarde passaram a integrar as sociedades culturais criado a partir da sociedade de atiradores de Porto Alegre. e recreativas da região. Surgiram assim os clubes de tiro das associações Porém, o associativismo praticado por imigrantes alemães e seus recreativas Guarany, Mildau, Rio da Prata e Dona Francisca (estes dois últimos substituíram a Sociedade de Tiro Tell). descendentes era visto com desconfiança por muitas autoridades brasiDevem ser citadas ainda outras associações relevantes na históleiras. Especialmente as Schützenvereine e as Turnvereine, as quais tinham ria da comunidade: a sociedade de teatro amador e recreação “Unter um caráter militarizado, evidenciado na cultura material e nas práticas Uns Pedreira” (Entre Nós Pedreira), que atuou de 1889 a 1938, a “Turpertencentes a essas agremiações. Pairava uma suspeita de que tais insnerbund (Liga de Ginastas) Dona Francisca” mais tarde “Sociedade de tituições estimulavam a formação de “quistos étnicos” nas regiões coloGinástica Dona Francisca”, a “Musikverein (Sociedade Musical) Dona niais (SEYFERTH, 1999). Esses fatos associados aos contextos de guerras Francisca” e o “Sängerchor (Coral) Pedreira”. mundiais e de nacionalismos resultaram em intervenções ocorridas duAlém de constituírem-se em espaços de sociabilidade, tecendo ou rante a Campanha de Nacionalização (1938) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nesta última, a partir da entrada do Brasil no conflito, fortalecendo os laços de solidariedade como forma de vencer as adversiem 1942. Durante essa guerra, as agremiações teuto-brasileiras foram dades iniciais, essas instituições promoveram a conservação de costumes e tradições, tidos pelo grupo como autenticamente germânicos (Deutsduramente atingidas, sendo suas sedes fechadas e depredadas, tal como mostram historiadores e memorialistas diversos. A dimensão étnica que chtum), reelaborando- e ressignificando-os em uma nova identidade (teuas associações teuto-brasileiras possuíam foi o principal motivo que levou to-brasileira), em oposição aos demais grupos étnicos. o governo a intervir nos seus interiores durante as décadas de 1930 e 40 (SEYFERTH, 1999). Contudo, após o término do conflito, em 1945, Referências pouco a pouco elas foram reabertas e apesar dos pesares, voltaram a ser DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E INFORMAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL. Perfil da espaços de sociabilidades e de tradições criadas pelos primeiros imigranAlemanha. Frankfurt; Meno: Societäts-Verlag, 2000. FOUQUET, Carlos. O imigrante alemão e seus descendentes no Brasil (1808 – 1824 – 1974). tes alemães que chegaram ao Brasil há mais de 180 anos atrás.
Associações em Pirabeiraba Tanto em Joinville (sede da Colônia Dona Francisca) como mais especificamente no distrito rural de Pirabeiraba, o associativismo constituiu-se em um traço cultural marcante da sociedade local. As primeiras agremiações surgiram com a chegada dos imigrantes germânicos.
Grupo Folclórico Windmühle
São Paulo / São Leopoldo: Instituto Hans Staden / Federação dos Centros Culturais “25 de julho”, 1974. GERN, Brigitte Brandenburg. Breve história dos clubes de tiro alvo-seta e de bolão da Sociedade Cultural e Recreativa Guarani – Pirabeiraba. Joinville, 2009. Digitado. Não publicado. GUEDES, Sandra Paschoal Leite de Camargo; OLIVEIRA NETO, Wilson de; OLSKA, Marilia Gervazi. O Exército e a cidade: Joinville e seu batalhão. Joinville: UNIVILLE, 2008. HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho. Joinville: Fundação Cultural, 1987. PETRY, Sueli Maria Vanzuita. Os clubes de caça e tiro na região de Blumenau: 1859 – 1981. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1982. SEYFERTH, Giralda. As associações recreativas nas regiões de colonização alemã no sul do Brasil: kultur e etnicidade. Travessia, São Paulo, p. 24 – 28, maio – ago. 1999.
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estradas e famílias colonização em Pirabeiraba
Casal Fritz e Bertha Bennack com os filhos Paulo e Gustavo, na Estrada Anaburgo
Vista parcial da antiga Pirabeiraba (Pedreira)
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O
Brigitte Brandenburg*
Distrito de Pirabeiraba, além do núcleo urbano, é cortado por 16 estradas, abertas quase todas na fase de colonização, pelos imigrantes germânicos (sobretudo pomeranos) e por luso-brasileiros que começaram a chegar à região na década de 1860. A história da sua ocupação por essas famílias é muito parecida e como são várias localidades, optamos por descrever duas delas e em seguida mencionar as demais, informando os nomes das famílias que as colonizaram e/ou que nelas residem há mais tempo.
Brandenburg é engenheira agrônoma na Epagri e fundadora do Instituto de
1 – Assentamentos de colonos na Estrada do Oeste e sua relação com o Domínio Pirabeiraba A maioria dos produtores rurais da Estrada do Oeste no século 19, produzia cana-de-açúcar para a Usina do Duque D’Aumale, também chamada Fazenda Pirabeiraba. Até o início do século 20, era a maior indústria instalada no município de Joinville. A Fazenda Pirabeiraba tinha produção própria de cana, mas comprava de todos os produtores residentes na região, devido a alta demanda de matéria-prima. Os funcionários da usina eram moradores ou proprietários em vários distritos da Colônia Dona Francisca, que, atraídos pela oferta de trabalho e pagamentos de acordo com a natureza das tarefas, trabalhavam mais ou menos frequentemente na usina. O projeto de produção centralizada de açúcar, aguardente e álcool e a necessidade de maior produção para abastecer a usina de matéria-prima, criou a oportunidade de oferta de lotes aos colonos já com alguma experiência no manejo da cultura. Sendo assim, vários colonizadores, incluindo brasileiros já residentes na região de Três Barras, celebraram contratos de arrendamentos com o Domínio Dona Francisca, que variavam em períodos de 30 a 50 anos. Mais tarde, os lotes foram adquiridos, com a oferta para compra. A ocupação dos lotes iniciou em torno de 1865, conforme mostra a lista de arrendatários: Número Adquirentes ou arrendatários Área 116 Evaristo Alves 17 há 117 Johann Michel Gehnke 312.500mq Frederico Jordan Carl Greffin 118 Hermann Friedrich Wilhelm Gehnke 310.000 mq August Brandenburg 119 Wilhelm Friedrich Graper 245.000mq Repartido em duas partes iguais: 119a Wilhelm Friedrich Graper 12,65 há 119b Ferdinand Boldt 11,85 há 120 August Friedrich Kersten 23,50 há terreno dividido em 1868: 120A August Haak 12,50 há 121 Johann Friedrich Benkendorf 24 há 122 Francisco Bento 19,50 há Augusto Ziebarth transferido em Gustav Henning transferido em Johann Loth transferido em 123 Basilio Gonçalvez Araujo 19 há 124 Manoel Nunes da Silveira 47,5 há 125 Antonio Soares Lopes 600.000mq/60 ha 57 Franz Behling - riscado 25 há Gustav Johannsen 179a Wilhelm Martens 13,75 há 179b Albert Ristow 13,75 há 180 Wilhelm Bergemann 26 há 181 Friedrich Wilhelm Benkendorf 22 há 182 August Kersten 22 há 182/1132 Adolf Kersten 183 August Martens 22ha 184 Christian Feissel 26 há 185 Wilhelm Bertling 27,5 Ferdinand Piske 186 Joaquim Padilha 32,5 Laurindo Correa Bento Padilha 187 Schulz - marceneiro 28,50 há
* Brigitte
Data contrato 1/1/1868 1/1/1868 29/12/1876 1/1/1868 8/10/1876 1/1/1868 8/2/1874 8/2/1874 1/1/1863 1/1/1878 1/1/1871 1/1/1868 25/8/1872 31/5/1873 29/7/1876 1/1/1871 1/1/1871 1/1/1871 1/1/1874 1/1/1870 1/1/1874 1/1/1871 1/1/1870 1/1/1870 1/1/1871 1/1/1871 1/1/1873 1/1/1873 1/1/1874
188 189 100 101
Johann Friedrich Tabbert August Lenz Wilhelm Schramm August Friedrich Wilhelm Schramm Friedrich Brüggemann Carl Gustav Danielsen Friedrich Otte
28,50 há 28,50 há 50.000BQ 25 há 50.000BQ transferido a
1/1/1873 1/1/1874 1/7/1865 1/7/1865
Genealogia de Santa Catarina
Entre os imigrantes, havia pessoas de várias origens, com predomínio de pomeranos e saxões. Da mesma forma como ocorreu em outras localidades, imigrantes e descendentes casaram com membros da comunidade. Os imigrantes luteranos criaram uma associação eclesiástica, a partir da construção de uma escola em 1883, que servia também aos cultos religiosos e manutenção de cemitério, sendo que a partir de 1893 recebiam uma pequena subvenção da Intendência Municipal (Prefeitura). A partir do trabalho remunerado na usina, os agricultores iniciaram o desmatamento de seus lotes para o cultivo da cana, e ao longo das décadas seguintes, instalaram engenhos e criaram suas próprias associações, como a “Landwirtschaftliche Verein für Brüderschaft Pedreira”(Associação Agrícola Fraternidade Pedreira), ligada aos produtores rurais da Estrada da Ilha, também parcialmente envolvidos com o cultivo da cana. Em 1911 criaram a Usina Sindicada, associação de produtores de cana-de-açúcar, com engenho próprio instalado no início da Estrada do Oeste, através de uma associação de produtores da Estrada do Oeste, Estrada da Ilha, e Estrada Pirabeiraba e Estrada Três Barras. A influência da usina de açúcar instalada pelo Duque D’Aumale foi fundamental para uma economia regional que perdurou até a década de 70, em Pirabeiraba. Esta antiga usina precursora da atividade na região, contava em 1897 com a seguinte estrutura, conforme o inventário do Duque, falecido neste ano, e que consta do acervo do Arquivo Histórico de Joinville: 1) 4.361 hectares de terras da dita Fazenda Pirabeiraba (obs.: na avaliação final foram citados 3.000 hectares) 2) Duas casas de moradia 3) Uma casa para residência do feitor 4) Uma casa para abrigar trabalhadores 5) Um edifício onde funcionam as máquinas para moenda de cana e fabricação de açúcar. 6) Uma máquina a vapor para fabricação de açúcar, com moendas para cana, centrífugas, caldeiras de defecação, de evaporação e de cristalização, caldeiras a vapor com tanques de caldo para os movimentos e evaporação. 7) Quatro filtros e máquina para a preparação do carvão. 8) Um aparelho de destilação com oito cubos de fermentação. 9) Um galpão para depósito de lenha 10) Um galpão construído de madeira e tijolos para depositar diversos. 11) Um galpão para fabricação de barricas 12) 2.500 metros de trilhos para vagonetes. 13) 20 vagonetes 14) Um galpão para abrigar a balança de pesar cana 15) Um galpão para depósito de bagaços 16) Um galpão para estrebaria. 17) Um guindaste de ferro e madeiras 18) Uma oficina de ferreiro com seus pertences 19) Uma balança decimal, grande, para pesar açúcar
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Álbum de família Bodas de prata de Otto Schulze e Lene Bächtold, na Estrada da Ilha
Casal Louis Duvoisin e Anna Tanner. Ele veio para Joinville em 1850, antes da fundação da cidade, e ela com o barco Colon, se estabelecendo mais tarde em Pirabeiraba
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20) Duas carroças de quatro rodas 21) Três mil aduellas para fazer barricas 22) Onze barricas novas 23) Dois mil quilos de açúcar cristalizado 24) Nove tanques de lata para depósito de açúcar 25) Nove tonéis, sendo quatro de madeira e cinco metálicos 26) Quatro e meio hecates (dezoito morgens coloniais) de cana plantada, em quinta ressoca 27) Quatro arados 28) Duas grades 29) Um rolo de ferro para abater a terra arada 30) Dois capinadores de ferro 31) Oito cavalos de tiro 32) Nove bois 33) Dezessete vacas 34) Doze novilhas 35) Quatorze bezerros 36) Seis bezerros de dois meses TOTAL = 172:797$500 (cento e setenta e dois contos, setecentos e noventa e sete mil e quinhentos réis) Procurador dos bens – Friedrich Brüstlein Esta estrutura foi instalada às margens do Rio Cubatão, no início da Estrada do Oeste. A única estrutura que resiste ao tempo é o galpão onde foi instalada a caldeira, e construída em pedra de granito. Os maiores investimentos em construções foram feitos em 1873, época de grande absorção de mão de obra. Entre os trabalhadores, diaristas da usina constam os nomes dos seguintes imigrantes e brasileiros residentes em diversas regiões da Colônia Dona Francisca, como pode ser observado abaixo: ANO 1873 Nome do funcionário Stein Stein Hindlmeier Ledebuhr Ledebuhr Beulke Hardt Benkendorf Kühne Kühne Jr. Seger Bössow Graper Baarz Kersten I Kersten II Struck Junior Martens Feissel senior Feissel Junior Feissel Feissel Genke senior Struck senior Jensen Ganske Marre senior Alves José Manoel Correa Gonçalves da Maia Borges Padilha velho Bahia Alves Alves Klug Boldt Martens Genke
Fritz Emil Johanna Wilhelm August Carl Ludwig Wilhelm Heinrich Heinrich August Jochen Wilhelm August August August August
Mine Anna August Jens
Evaristo Joaquim Manoel José José Maria Francisco Johann Ferdinand August Hermann
Stoll Hoff Graper Graper Holz Holz senior Holz Holz Ganske Nennemann Elling Nass Trapp Haak Hoffmann Hoffmann Beulke Beulke Beulke Beulke Schier Hardt Krüger Ganske Polnow Kienbaum Kienbaum Wiener Seiler Krelling Santos Rosa Struck Junior Struck Struck Struck Bertling Elmer Böge Graper Graper Klug Johannson Kersten II Kersten I Martens Bertling Bergemann Bergemann Bergemann Brandenburg Brandenburg Loth Loth Abraham Grosse Köhn Boldt Lenz Genke Genke Senior Manoel Letzner Elling Elling Schmöckel Schmöckel Lenz Holz Nass Nass Feissel Ganske Bössow Wandersee Wandersee Manoel Jr.
Ferdinand Friedrich Ernst Wilhelm Doris Mine Ricke August Friedrich Fritz & comp. August Bertha August Carl Ludwig Johanna I. W. Friedrich Johanna Tine Carl Fr. W. Auguste Bertha Kunigunde Franz Maria Ida August Bertha Emilie Ernestine Carl Joachin e Comp. (família) Jedde Ernst August Johann Gustav August August Wilhelm Carl Wilhelm Emilie Bertha August Eduard Johann Carl Carl August Wilhelm Wilhelm August Johann Joaquim Carl August Friedrich Wilhelm Julius August Ferdinand August Carl Wilhelm August Johann Reinhard Albert José
Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada da Ilha Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada da Ilha Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada da Ilha Estrada do Oeste Estrada da Ilha Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada do Oeste Estrada Annaburg Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada Catharina - depois Garuva Idem acima Estrada do Oeste Estrada da Ilha Annaburg Annaburg Estrada do Oeste Estrada Blumenau Estrada do Oeste Estrada do Oeste
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Álbum de família
Família Erzinger. Vê-se a matriarca Maria Müller Erzinger, imigrada em 1855 de Schaffhansen, Suíça
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Reunião da família Pabst, em Rio da Prata
Manoel Manoel Padilha Padilha Padilha Borges Bibiano Bibiano Bibiano Correa Correa Alves Alves Neitzel Hartkopf Ramnow Ramnow Zander Zander Lütke Radünz Schulz Schulz Demuth Habeck Habeck Sal Sann Lorenz Garz Langanke Kühne Kühl Elmer Trapp Schwalmann Graviel Daberkow Daberkow Korn Wendler Benkendorf Baron Krüger Haak Bössow Prust Schier Fehrmann Gesing Boss Hermann Boska Fábrica Müller Ledebuhr Ledebuhr Schlichting Bauer Abraham Schmalz
José Antonio Bento Aguida Marco Preis José Gregório Francisco Jofefa Anna Caroline João Friedrich Albert Ernst Emil Cristian Wilhelm
Wilhelm Ferdinand Carl Johann Francisco de Wilhelm Ferdinand Heinrich Julius Wilhelm Gustav Joachin Carl Johann José Gottlieb Wilhelm Friedrich August Franz Thomas Hermann August Johann Ferdinand August Hermann Wilhelm Johann Cristian Martin Heinrich Wilhelm August Gustav Gustav Carl Jacob
Estrada do Oeste
Tres Barras
Estrada da Ilha Estrada da Serra Estrada Da Ilha Estrada da Ilha Estrada da Serra Estrada da Serra Estrada da Serra Mildau Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada da Tromba Estrada da Tromba Estrada do Oeste Annaburg Annaburg Estrada Rio da Prata Estrada da Serra Estrada Mildau Estrada da Ilha Estrada da Tromba
Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada Pirabeiraba Estrada da Ilha Estrada do Oeste
Estrada da Ilha Serrastrasse Joinville Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada da Ilha Estrada da Ilha Joinville Estrada da Ilha Estrada da Ilha Joinville
Desta forma, conclui-se que a atividade da cana-de-açúcar para fabricação de açúcar refinado iniciou-se com este empreendimento, estendendo-se por mais de 100 anos entre os agricultores da região. 2 - Assentamento inicial da Estrada Mildau A estrada Mildau, cuja extensão em 1869 pertencia, em parte ao Domínio Dona Francisca (propriedade dos Príncipes de Joinville), e em parte à Sociedade Colonizadora de Hamburgo, foi colonizada a partir de 1870 por imigrantes que arrendaram as terras, em contrato firmado por 50 anos. A área dos lotes variava de 9 a 22 hectares. Os primeiros arrendatários assinaram contrato no final de 1869 e em janeiro de 1870, firmado pelo representante do Domínio D. Francisca, Sr. Friedrich Brüstlein, sendo estes arrendatários abaixo relacionados, como também sua origem por distrito e Província Prussiana (atual Alemanha e parte da
Polônia): Carl Lanz – (1869) – Schlawee, Köslin, Pomerânia Luiz Duvoisin, que transferiu seu contrato para João Gomes de Oliveira, em 7 de novembro de 1871, Suíço, Louis Gustav Wiener – Rivolsdorf, Köslin, Pomerânia Carl e Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia, Hermann Neitzke (1869) – Köslin, Pomerânia August Hardt – Putzernin, Köslin, casado com Karoline Boness Carl Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Wilhelm Christof Beulke – Köslin, Pomerânia August Ferdinand Friedrich Struck – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Karl Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin , Pomerânia Johann Friedrich Wilhelm Radünz – Neustettin, Köslin, Pomerânia Entre 1870 e 1875 aproximadamente, a Sociedade Colonizadora, proprietária da parte sul do Mildau, que confrontava com o limite norte das terras da Colônia, vendeu lotes de aproximadamente 25 hectares, localizados na parte interior e mais próxima do morro da Tromba, a imigrantes pomeranos, em totalidade, oriundos em sua maioria de Köslin e Regenwalde, dois dos três distritos localizados naquele período, no centro e oeste da Província da Pomerânia, de influência eslava. Os nomes destes imigrantes, que com as suas famílias, se instalaram neste período na Estrada Mildau são: Friedrich Fick - da Pomerânia Franz Polzin – Saatzig, Stettin, Pomerânia Carl Malon – Belgard e Köslin, Pomerânia Johann Beulke - Köslin, Pomerânia August Hardt - Putzernin, Köslin, Pomerânia, (repassou o lote a Hermann Bahr a partir de 1875) Wilhelm Wegener, Belgard, Pomerânia cuja viúva repassou o lote a Heinrich Buttke em 1875. Heinrich Buttke – Köslin, Köslin, Pomerânia Friedrich Wegener, Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia, que mudou-se para a estrada do Oeste em 1883 e repassou o lote a Ernst Trapp (Belgard, Stettin, Pomerânia – vivia na Estrada Oeste) Carl Trapp (filho de Ernst Trapp)– Belgard, Stettin, Pomerânia Wilhelm Greffin – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Gottlieb Finger Wilhelm Hoffmann – Regenwalde, Pomerânia Wilhelm Dumke – Grandhof, Köslin, Köslin Pomerânia Fritz Gumz – Schiefelbein, Belgard, Stettin, Pomerânia Hermann Bahr – Bublitz, Köslin, Pomerania Wilhelm Friedrich Tabbert – Piritz, Stettin, Pomerânia August Kühl – Rogow, Regenwalde, Pomerânia Carl Dummer – Schiefelbein, Belgard, Pomerânia Gottlieb Dabberkow - Pomerânia Wilhelm Wodke – Putzernin, Köslin, Pomerânia Johann Garz – Stolp, Köslin, Pomerânia Gottlieb Ledebuhr - Pomerânia Heinrich Treptow – Schlawee, Köslin, Pomerânia Friedrich Baarz – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Friedrich Krumnow – Regenwalde, Stettin, Pomerânia Algumas famílias, trabalhavam inicialmente para a usina de açúcar do Duque D´Aumale, como pode ser observado nos registros de pagamento de diaristas e mensalistas da usina, situada no local denominado Pirabeiraba, ou Fazenda Pirabeiraba, na margem esquerda do Rio Cubatão. Em 1873, Albert e Bertha Wiener, Carl Trapp, August e Gustav Kühl, Carl e August Struck, Carl Friedrich Struck, August Hardt, Hermann Hardt, Carl Neitzke, Wilhelm Beulke, Carl e Johann Radünz trabalhavam em atividades agrícolas nesta fazenda com suas esposas e alguns filhos. A Serraria do Príncipe estava instalada desde o final da década de (18)50 na Estrada da Serra, no Km 17, e é possível que eventualmente absorvesse a madeira derivada do desmatamento das áreas dos lotes ocupados pelas famílias. Assim também ocorria com a construção da Estrada da Serra, para cujas obras eram contratados os trabalhadores residentes no local e de outras regiões da cidade. Luiz Duvoisin inicialmente vendia madeira, quando instalado na
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estrada Mildau, sendo que transferiu seu contrato de arrendamento a João Gomes de Oliveira, natural de Paraty (Araquari), que produzia canade-açúcar, processada em seu engenho através de trabalho escravo. Outros agricultores como Wodke, Ledebuhr, Trapp, Baarz já possuíam propriedades na Estrada da Ilha, sendo que em alguns casos, suas propriedades passaram a ser exploradas pelos filhos. Instalados em suas propriedades, as famílias, todas luteranas, estavam associadas à comunidade Evangélica de Pedreira, na qual oficializavam casamentos, batizados, confirmações, e óbitos. Havia nesta época duas escolas em Pedreira, uma pública e uma comunitária, construída com recursos da própria comunidade. O grupo de famílas instaladas na Estrada Mildau criou entre si, laços e vínculos através de casamentos entre os seus membros. A partir de 1900, aproximadamente, os descendentes começaram a relacionar-se fora da comunidade e iniciaram-se alguns casamentos com filhos de moradores da Estrada da Serra, próximo a Pedreira. Também neste período ou até mesmo antes disso, em torno de 1880 houve uma migração de imigrantes e de jovens casais, da Estrada Mildau, para ocupação de novos lotes na Estrada Rio da Prata, como a das famílias Dumke, Malon, Hardt. Além disso, membros de outras famílias como Greffin, Wegener e Maass passaram a residir na Estrada do Oeste, a partir da medição e venda de lotes do domínio Dona Francisca a colonos dispostos a produzir cana-de-açúcar para a Usina Pirabeiraba. A família Struck vendeu seu lote a família Gomes de Oliveira e passou a ocupar a outra parte de seu lote na Estrada da Tromba. Não cabe relatar aqui todos os casamentos ocorridos entre imigrantes e os de seus descendentes, quando o objetivo é exemplificar as relações iniciais e inclusive antecedentes à colonização, de grupos de imigrantes que deixavam sua pátria em grandes grupos de famílias, originárias de mesmas vilas ou próximas, como no caso dos naturais de Köslin e Regenwalde, da Estrada Mildau. Aqui estabeleceram comunidades com identificação cultural, parentesco e compadrio. Devido ao isolamento do período, relacionavam-se entre si, originando casamentos dentro das mesmas famílias. Essa característica de agrupamento conforme a origem, reflete-se em vários outros núcleos populacionais dos diversos distritos rurais de Joinville no século 19. Das famílias instaladas na Estrada Mildau, vários deixaram a localidade e outros, devido a casamentos, passaram a se instalar nesta comunidade. As famílias ainda residentes no local envolvem descendentes principalmente das famílias Wiener, Kühl, e Artmann. Os filhos dos colonos desta comunidade freqüentavam a escola comunitária de Pedreira, assim como também a escola pública instalada até 1872. Os primeiros imigrantes e seus descendentes eram sepultados invariavelmente, no cemitério de Pedreira. 3 – Pirabeiraba É o núcleo urbano e a sede do Distrito. Chamado inicialmente de Pedreira, sua fundação data de 1859. Entre as famílias que colonizaram o local ou que ali residem há mais tempo estão: BOLDT, HENNING, DUVOISIN, SEEFELDT, BRAATZ, SCHRÖDER, SCHRAMM, SCHOLZ, DUVOISIN, DÖRLITZ, KOHN, ELLING, BIRCKHOLZ, , OHDE, GILGEN, EBERHARDT, MAIER, ERZINGER, KLAAS, NOACK, SCHMIDT, FEISSEL, BERTLING, BEHLING, BÜHNEMANN, SCHNEIDER, FRÖHLICH, PENSKY, AHLANDT, RAHLF, RIEPER, KÜSTER, KÖNIG, CARDOSO, NEHLS no século 19. Outras famílias passaram a residir em Pedreira, mais tarde, e especialmente no século 20, devido a relações de casamento e migração de famílias ou profissões, defintiva ou temporariamente, como Budal, Nass, Kunde, Ohde, Hattenhauer, Strehlow, Hoffmann, Haveroth, Baggenstoss, Hardt, Castella, Dumke, Haak, Teuber, Brandenburg, Piske, Züge, Romig Kortmann, Monich, Hardt, Blume, Schmalz, Letzner, Brito, Meerholz, Parucker, Engelke, Rudnick e muitas outras.
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4 – Estrada Dona Francisca (atual SC – 301) Primeiras famílias entre 1861 e 1872: José Manoel Correa, Ernst Boese, Johann P. Siert, Franz Cornehl, Ernst Hanemann, Friedrich Henke, Ernst Bartsch, Pierre Boclet, Johann G. Tanner, François Davet, Fabiano Gonçalves, José Gonçalves da Maia, Friedrich Schmidt, José Souza da Silveira, Antonio Soares Lopes, Manoel Gomes de Oliveira, João
Gomes de Oliveira, Gaspar Gonçalves de Araújo, José Machado Lima, Victorine Doudet, Fr. Panzenhagen, Carl Krelling, Louis Berlie, Francisco Xavier Nunes da Silveira, Rudolf Voigt (da Silésia), Rudolf Voigt (da Pomerania), Wilhelm Voigt, Domingos Coelho Gomes, Johann Rudnick, Friedrich e Gustav Lütke, Bento Gonçalves de Oliveira, Ludwig Voigt, Wilhelm Bergmann, Otto Hartkopf, , Ernst Ullmann, Dora Schwitzky, Cristian Heiden, Carl Struck, André Gomes da Silveira, Manoel Gomes de Oliveira, João José Gomes de Oliveira, Wilhelm Markwarth, Martin Maul, Johann Becker, Wilhelm Bölcke, Manoel José da Cruz, José Souza da Silva, Fr. Morbach, Joh. Knüppel, Joh. Zimmermann, Julius Raabe, J. Auerwald, Peter Paké, Friedrich Treichel, C.J.Roggenbau, Joh. Daniel Schmidt, Joh. Lenschow, Rösler, Nennemann, Kunde, R. Ammon, A. Balmat, Kunde, Honorato Fernandez Indalêncio, Joh. Lenschow, Ritzmann, Meyer, Parucker, Polzin. Thiele, Pries, Kortmann, Bächtold, Fock, Fentzlaff, Sell. No final do século 19 e início do século 20, migraram para a Estrada Dona Francisca, ou estabeleceram-se outras famílias, através de casamentos, ou aquisições como: Parucker, C. Baumer, Thiele, Pries, Kortmann, MAYA, DUMKE, SCHMIDT, LOPES PEREIRA, VALE, HOFFMANN, SIMM, ROCHA, VEIGA COUTINHO, HARDT, PABST, SCHNEIDER, PETSCHOW, TEUBER, LAUER, RIEPER, SCHOLZ, BUDAL, SEEFELDT, SUTTER, LARSEN, CLEMENTE, e muitas outras que continuam a se formar e a se estabelecer. 5 – Estrada Guilherme Famílias: RUDNICK, TROMM, MULLER, FORSTER, SCHRAMM. Atualmente a maioria dos lotes é composto de chácaras e migrantes recentes. 6 – Estrada do Pico Primeiras Famílias: Goudard, Monney, Piske, Gomes de Freitas, Lopes, Batista, Machado, , da Rosa, Fleith, Vieira, Luz. Mais tarde, após a década de 30, constam os nomes de Eleutério Indalêncio, José Machado da Luz, e descendentes destes primeiros moradores, além das famílias que para lá migraram como: TROMM, ESSER, BARTSCH, HINSCHING, SCHMIDT, DAVET, PABST, PRIES, ARTMANN, PFUNDNER, SCHMIDT, SCHROEDER, ERZINGER, VOIGT, JANNING, SCHULZ, BENKENDORF, PRIES, SEEFELDT E OUTRAS. 7 – Estrada da Tromba Famílias: SCHRANK, JOÃO GOMES DE OLIVEIRA, STRUCK, SCHULZ, SCHWALBE, STRUCK, BÄHRWALDT, PABST, BARTSCH, SELL, NASCIMENTO. 8 – Estrada Francisco Antônio Fleith (DO MORRO) Famílias: BARTSCH, JÖNCK, SELL, HARDT, BÖGE, FRÖHLICH, SUTTER, HARDT, KOHLSCHEN, AHLANDT. 9 – Estrada Rio da Prata Primeiras famílias: Gonçalves da Maia, Bauer (herança de Ritzmann), Sellmer, França, Henning, J. Wittmack, Bruhn, Pabst, Barth, Lanz, Silva, Gonçalves de Oliveira, Nunes de Souza, com migração posterior de imigrantes da estrada do Mildau e outras localidades, como ARTMANN, DUMKE, SCHMIDT, BEULKE, MAIA, BRÜSKE, SCHULTZ, MALON, HARDT, BAARZ, STRUCK, GAARZ, RUTZEN, SCHWALBE, VATER, CRUZ, TOLLER, LOPES. 10 – Estrada Isaac Famílias: CARDOSO, DEMATE, MACHADO, FRANÇA, SILVA, PEREIRA, RAMOS. 11 – Estrada Quiriri Famílias: KRELLING, BERGMANN, ROCHA, PABST, SCHWITZKY, KLÄHR, VOIGT, BRÜSKE, PISKE, RUDNICK, LOPES, BÜHNEMANN, MEYER, LAATSCH, POPP, NEGENDANK, NICKEL, QUANDT, MORAES, SCHNEIDER, MAIA, CORREIA, SOUZA, ARAÚJO, FARIAS, BORBA, SCHULZE, SCHROEDER, FAGUNDES, SILVA, KOHN, PEREIRA, VIEIRA, CUNHA, RAMOS, HARDT, VEIGA, PRIES, NASS, INDALÊNCIO, NEITZEL, CARVALHO, PISKE, BENINCA, KERSTEN, SCHULTZ.
12 – Estrada da Ilha Primeiras famílias: PROCHNOW, LEDEBUHR, MÜHLMANN, NIELSEN (NIELSON), NICKEL, BUSS, SCHIER, NASS, BAUER, FINDER, CORDTS, BAARZ, LEMKE, DABERKOW, ELLMER, MOLL, BEILFUSS, RETZLAFF, KLUG, FRANKE, HEIDEN, NEITZEL, PONICK, BEETZ, SEEGER, KORN, TREPTOW, KRICHELDORF, FRENZEL, BOSKA, HENNING, HOFF, KARNOP, BEYER, FISCHER, TOBLER, FRÖHLICH, KRÜGER, POLLNOW, MERKLE, WODKE, BANDT, HEIN, POLZIN, KERSTEN, FRIEDEMANN, BÖGE, MEIER, SCHROEDER, BÖGE, HARDT, SCHULZ, SCHULTZE, LETZNER, BÄCHTOLD, HOLZ, BENKENDORF, BUDAL ARINS, VOSS, SANTIAGO, NASS, KARNOPP, WOLFGRAMM, BENNACK, RISTOW, SCHRAMM, BERGEMANN. Mais recentemente estabeleceram-se as famílias GAULKE, TEUBER, POFFO, HARGER, DAROZ, KRELLING, PFUNDNER, PABST, SCHROEDER, HARDT, RODRIGUES, BERKENBROCK, HEINZ, HENTSCHEL, HÄNSCH, HIRATA, BLÖMER e outras. 13 – Estrada Caminho Curto Famílias: BENKENDORF, SCHROEDER, NICOLETTI, HAENSCH, FISCHER. 14 – Vila Canela Famílias: CORREA, ALVES, SCHATZMANN, KERSTEN, PARADELA, HARDT, BACH, SCHRAMM, PISKE, GONÇALVES, NASS, BRANDENBURG, WEGENER, FERREIRA, MACHADO, VOLLES, CORREIA, BÄCHTOLD, CAETANO, COUTINHO, BORGES. 15 – Rio Bonito Famílias: MEWS, KERSTEN, BENKENDORF, HEUSY, POPP, RAHLF, SCHULZ, PISKE, SCHOLZ, WETTIG, LOEFFLER, SEEFELDT, DUVOISIN, WITT, ZIETZ, HENCKE, HATTENHAUER, TROMM, POHL, SCHATZMANN, KUNDE, FISCHER, BUTTKE, HARTMANN, BELLOW, BÄCHTOLD, SCHMÖCKEL, HORNBURG.
16 – Estrada Palmeiras (parte da antiga Estrada Três Barras) Famílias: GRIESBACH, TROMM, FOCK, NEITZEL, HOLZ, SCHWESZER, ITTNER, TROMM, MARQUARDT, BRAMMIGK, REINHOLD, STOLLE, LOEFFLER, MÜLLER, ZIETZ, RAUCH, SCHIESSL, SCHMIDLIN, HERTENSTEIN, ZILS, VENTURI, ALBRECHT, BUTZKE, PROCHNOW, POSANSKI. FONTES DE PESQUISA Acervo do Arquivo Histórico de Joinville - Fundo Domínio Dona Francisca: Documentos da Fazenda Pirabeiraba. Documentos de arrendamento de terras do Domínio Pirabeiraba. Folha de pagamento dos funcionários da -Fazenda Pirabeiraba. Livro de registros de terras e transferências. Fundo Domínio Dona Francisca. Lista de pagamento de Lotes – Sociedade Colonizadora de Hamburgo 1849. - Mapa da Colonia Dona Francisca, 1859, Fr. Heeren. - Mapas da Colônia Dona Francisca –1868 e 1886- Escala 1:50.000 – J. Köhler`s Lith. Institut Hamburg. - Kolonie Zeitung – 1863-1898. - Inventário dos Bens do Duque D’Aumale. - Lista de lotes arrendados dos Príncipes de Joinville-Estrada Dona Francisca, Estrada da Tromba, Estrada Rio da Prata, Pedreira, período 1861-1875, Fundo Domínio Dona Francisca. - Lista dos Proprietários de terras da Colônia Dona Francisca, Sociedade Colonizadora de Hamburgo. - Relatórios da Sociedade em 1859-1861-1864; tradução Helena Richlin. Acervo da Comunidade Luterana de Pirabeiraba - Livros de Registros eclesiásticos, batizados, casamentos, confirmações e óbitos – 1862 a 1910. Transcrição do Banco de dados de registros eclesiásticos da Igreja Luterana, acervo particular de Brigitte Brandenburg. Acervo particular de Brigitte Brandenburg - Registros de óbitos de 14 cemitérios de Pirabeiraba e Annaburg. Elaboração e acervo de Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias da Estrada Mildau – Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias de Pedreira – Brigitte Brandenburg. - Genealogia das famílias de Pirabeiraba. - Livro de estatutos da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar da Usina Sindicada, de August Brandenburg - Arquivo de notícias sobre Pirabeiraba – século 19 – Brigitte Brandenburg. Outros - Cadastro de Produtores rurais de Joinville, ACARESC, 1994. - CORRÊA, Roseana Maria & ROSA, Terezinha Fernandes da.(coords.)“História dos Bairros de Joinville”. Arquivo Histórico de Joinville, 1990.
Paulo Karnopp e família em frente à residência, na Estrada da Ilha
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pirabeiraba:
FRAGMENTOS PARA PENSAR UM PEDAÇO1
Fernando Cesar Sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela
U
Fernando Cesar Sossai2
ma cidade se faz nos pedaços. Neles as cidades são imaginadas, inventadas, significadas e produzidas. Dizer que as urbes constituem-se a partir de fragmentos díspares não é exatamente uma novidade. Em um período em que todas as coisas parecem despedaçar-se, o verbo fragmentar pode ser empregado para designar praticamente tudo o que se passa ao longo de nosso cotidiano. Hoje, provavelmente, a máxima de Marx – tudo que sólido desmancha no ar – é muito mais sentida do que quando foi escrita.
Em tempos em que global e local misturam-se de tal maneira que um parece produzir o outro, não há muitas certezas onde podemos nos agarrar. Para do curso de História além do fato de nossa única certeza ser a de que vivemos em meio a incertezas, da Univille é preciso lembrar que pretensões de solidez, segundo o historiador Diego Finder Machado, alimentam desejos de passados no mundo contemporâneo3. É como se a evocação do passado funcionasse como uma espécie de âncora capaz de assegurar certa estabilidade diante dos terrenos movediços que constituem as sociedades modernas. Assim, na gramática cultural que vivemos, o presente tem se transmutado em passados e o passado tem se convertido em presentes num movimento dialético e ininterrupto que escapa ao controle de instrumentos como relógios e calendários. Dialogando com os meandros desta economia temporal, eventos comemorativos ...o Stammtisch, um encontro têm sido meticulosamente preparados com que reúne os “chegados” do a intenção de reanimar, por intermédio de pedaço para conversar, comer e festejos pomposos, histórias sobre supostos pioneiros que ocuparam e desenvolveram uma beber, restaurantes que oferecem determinada região. Segundo a historiadora Helenice Rodrigues Silva, toda comemoração “a gastronomia típica alemã... é alimentada por aspirações que pretendem demonstrar ao presente como o passado pode ser-nos uma substância pedagógica. É como se ao celebrarmos os “grandes feitos” praticados por outros, pudéssemos, ao mesmo tempo, aprender um conjunto de lições que nos instrumentalizam a compreensão do tempo em que vivemos. Ao carregar consigo um devir de memória que denuncia projetos de futuro arquitetados por vontades presentes que enxergam o passado como uma possibilidade de redenção, tem-se configurado uma infinidade de usos e abusos daquilo que experimentamos como sendo o tempo. Trata-se, então, de deslocamentos do passado sobre o porvir, convertendo-o em memória e a memória no próprio tempo. Logo, o que temos em jogo durante eventos comemorativos não são apenas processos de identificação e de diferenciação, de pertencimento e de exclusão, de adequações do ontem ao agora, mas também o da transmissão de memórias sociais e a própria passagem da memória à história. Há aproximadamente quinze quilômetros do centro da cidade, um dos pedaços de Joinville parece ser índice do consumismo de passados que alimentam o presente. A Freundenfest, com suas atividades desenhadas para celebrar “o aniversário de Pirabeiraba”4, o Stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem “a gastronomia típica alemã”5 e atrativos turísticos como a Estrada Bonita e a Casa Krueger são apenas alguns dentre os muitos exemplos dos excertos que remontam ao pretérito na tentativa de produzir um presente mais palatável. Conforme relata-nos a cronista Elly Herkenhoff o atual distrito de Pirabeiraba possui uma relação salutar com a antiga Estrada da Serra (posteriormente denominada Estrada Dona Francisca). Segundo ela, um ano após o início das obras de construção dessa estrada (1859), chegou a então Colônia Dona Francisca o conselheiro Luiz Pedreira de Couto Ferraz “a fim de inspecionar o andamento das obras, percorrendo com essa finalidade, em companhia do diretor da Colônia Dona Francisca, Leoncé Aubé, as diversas estradas em construção [...]”6. Nesse momento, tratava-se de programar estratégias de controle da paisagem imediata Udesc e professor
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de forma a desenvolver com sucesso um projeto de colonização. Assim como em outras regiões do país, o meio ambiente era entendido como um obstáculo a ser vencido: se por um lado fornecia as condições básicas para a sobrevivência imediata, de outro, também era o que precisava ser “domado”. Prosseguindo, Elly Herkenhoff chama-nos a atenção para as primeiras atividades econômicas da então localidade de Pedreira. Após o loteamento dos cerca de dois quilômetros que compunham, em 1859, o perímetro da região, um número significativo de pessoas, muitas delas imigrantes, já haviam ali se instalado. Além disso, ainda se situava a margem da Estrada da Serra “a serraria pertencente ao Príncipe de Joinville [...], assim como também se localizava nas proximidades a grande propriedade do Duque de Aumale, irmão do Príncipe de Joinville, propriedade esta chamada de Fazenda do Curtume, onde já na década de sessenta grandes plantações de cana-deaçúcar foram formadas”7. Diferentemente do passado em que três ícones representavam os aspectos econômicos da região de Pirabeiraba (a Estrada Dona Francisca, uma serraria e uma grande propriedade produtora de aguardente), atualmente o cenário modificou-se de sobremaneira. Como nos lembra o geógrafo Dionicio Kunze, o Distrito de Pirabeira, hoje, resulta da mistura entre pequenas propriedades agrícolas e traços da urbe8. Grandes empresas, que diariamente interagem num cenário econômico globalizado, também integram a paisagem da região. Mais recentemente, frente a uma modalidade de turismo, que por vezes emprega de maneira fácil e aleatória o adjetivo “sustentável”, muitos passeantes têm sido atraídos na intenção de visitar aquela que é considerada uma das últimas regiões bucólicas da cidade de Joinville. Todo este conjunto complexo de situações sócio-econômicas revela-nos um dado extremamente interessante: o trânsito de fluxos globais no Distrito de Pirabeira. Turismo rural, embebido em ideais de sustentabilidade, coexistindo com empresas que comercializam em mercados que se organizam de acordo com uma escala global: como negar que isso não é um indicativo crasso da produção local da globalização? Ainda nesta mesma acepção, a configuração de diferentes usos históricos do meio ambiente, substituindo, ainda que retoricamente, ideais socioambientais pautados no colonizar/desenvolver a qualquer custo pelos de preservar/conservar os recurso naturais, também não seriam pistas das tentativas de inserção do Distrito de Pirabeiraba no mundo globalizado? Sentidos e dilemas de um pedaço da Cidade. Questionamentos que se envolvem com práticas de comemoração que consomem passados no âmago do tempo presente. Nesse cenário, narrativas históricas sobre economia, meio ambiente ou qualquer outro tema são fragmentos de um mundo contemporâneo que se achega no pedaço e, ao mesmo tempo, é ele também imaginado, inventado, significado e produzido no e pelo próprio pedaço. REFERÊNCIAS Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em:
Acesso em março de 2009. HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação Cultural, 1987. p. 203. KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville, 08 de março de 2007. MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em uma Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em História. Florianópolis, 2009. VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14 de julho de 2003.
Usina de Açúcar de Pirabeiraba. Em primeiro plano à direita, trilhos na fazenda para o transporte de cana
Transporte de cana cortada para a Usina de Açúcar de Pirabeiraba
A escrita deste artigo contou com as sugestões de dois historiadores que comigo fazem parte de um grupo de pesquisas interessado em discutir as nuanças culturais que atravessam a Joinville contemporânea. De antemão, deixo aqui registrado a Diego Finder Machado e Ilanil Coelho meus mais sinceros agradecimentos. 2 Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Atualmente é professor do curso de História da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE. Contato: [email protected] 3 Cf.: MACHADO, Diego Finder. Redimidos Pelo Passado? Desejos de Passado em uma Cidade Contemporânea (Joinville 1998-2009). Dissertação. 187 p. Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em História. Florianópolis, 2009. 4 Cf.: Folder de divulgação da Freundenfest. Disponível em: Acesso em março de 2009. 5 Cf.: VICENZI, Herculano. Atrações gastronômicas em Pirabeiraba. A Notícia, Joinville, 14 de julho de 2003. 6 Cf.: HERKENHOFF, Elly. Era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação Cultural, 1987. p. 203. 7 Ibidem. 8 Cf.: KUNZE, Dionicio. As Pequenas Propriedades Agrícolas de Joinville. Informativo O Economista, Joinville, 08 de março de 2007. 1
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