Pesquisa Participante: a construção do conhecimento pela e para as classes populares. Componentes do Grupo: Ana Carolina Santos Barbosa – Matrícula: 2002.1.02232.11 Anselmo Ferreira Assumpção – Matrícula: 2005.2.06059.11 Giselle Dias Nên – Matrícula: 2003.2.05036.11 Julio Barbosa da Silva – Matrícula: 2002.1.02637.11
“Os diferentes ‘modos participantes’ de realização do trabalho ‘com’ ou ‘sobre’ as classes populares forçaram pouco a pouco a emergência de multiplicadas experiências onde pessoas como camponeses, indígenas e operários foram convocados a responder por formas e por atos de supostos ou reais ‘saber-epoder’ novos para eles e, pelo menos em teoria, capazes de renovar suas experiências de vida cotidiana e de participação na vida social(. . .)”1
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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Educação como cultura. Mercado das Letras, Campinas, São Paulo, 2002.
Podemos conceber a pesquisa participante como uma realização surgida através da união de pesquisadores militantes com indivíduos e comunidades oriundos das camadas que ocupam a base da pirâmide social. Um elemento inovador e até certo ponto revolucionário da pesquisa participante, é que a construção do conhecimento voltado para a solução de questões relativas a esses grupos sociais, conta com a participação direta desses mesmos indivíduos que integram esses grupos. Desta forma, ao invés da tradicional dicotomia - pesquisador / pesquisado, temos agora a interação dialética entre esses entes na construção inovadora do conhecimento, direcionado a uma práxis social imediata, a saber, a transformação positiva da realidade desses grupos; a apropriação do conhecimento com fins culturais, de conscientização e organização política e o uso do conhecimento construído para a resoluções de questões do próprio cotidiano e visando a emancipação cidadã. A participação de elementos populares na construção do conhecimento decorrente da pesquisa participante, não significa que esta prescindirá de uma metodologia rígida, ou deixará de se submeter à legitimidade epistemológica de uma pesquisa científica tradicional das ciências humanas; pois, se assim o fosse, o resultado da pesquisa seria alvo de questionamentos os quais poderiam comprometer seriamente a validade desse novo saber cientificamente constituído. Assim sendo, a pesquisa participante contará com uma estruturação coerente e edificante, e também com etapas pré-estabelecidas, quais sejam: a) uma organização institucional e metodológica e escolha dos pesquisadores que irão organizá-la; b) estudo preliminar da região e da população que deverá se envolver e participar diretamente, de forma ativa na obtenção dos resultados; c) análise crítica dos focos e problemas considerados prioritários e cujos participantes se propõem a ajudar a solucionar; d) elaboração e aplicação de um “plano de ação”, o qual contribua para uma solução efetiva dos problemas encontrados. Em linhas gerais: a organização para construir / criar, a construção / criação e, por fim, a aplicação do Conhecimento.
Assim, essa pesquisa submete-se aos rigores
epistemológicos para a construção do conhecimento, sem abrir mão de seu caráter prático e inovador, constituindo-se em uma nova ciência popular, a qual oferece aos indivíduos populares total acesso a sua manipulação, uma vez que estes participaram desta importante construção coletiva, a qual terá objetivos práticos, culturais, políticos e, porque não dizer, de acesso ao poder.
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O horizonte de desdobramentos e conseqüências positivas advindos da construção de um conhecimento popular, cientificamente legitimado, inclui ainda a possibilidade de uma “educação popular” que leve em conta não apenas o que de melhor existe no saber enciclopédico/burguês, o qual orienta decisivamente a formação dos currículos escolares, mas também o riquíssimo saber oriundo de populações indígenas, afro-brasileiras, mestiças, operárias e campesinas. Saberes que estão presentes na vida dos filhos desta nação muito, muito antes da criação de instituições acadêmicas de ensino, mas que, entretanto, foram relegados a um plano inferior e de menor prestígio social, estereotipados como “crendices” ou denominados de outros termos pejorativos, sendo assim estigmatizados e rebaixados. Assim, a pesquisa participante transformada em educação e em ação popular exerce uma ação redentora, dando àqueles que antes foram dominados e marginalizados, por terem sido afastados dos meios de acesso ao conhecimento tradicional ministrado nas escolas, a possibilidade de (re)criação do seu próprio saber popular, fazendo uso deste para sua emancipação cidadã e para sua organização cultural e política, abrindo possibilidades de acesso ao poder que, por seu turno, é conseqüência indissociável do saber legitimado e institucionalizado.
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