México - Epidemia de lucro Adital - 28.04.09 - MUNDO Silvia Ribeiro * Tradução: ADITAL A epidemia de gripe suína que dia-a-dia ameaça expandir-se por mais regiões do mundo, não é um fenômeno isolado; é parte da crise generalizada e tem suas raízes no sistema de criação industrial de animais dominado pelas grandes empresas transnacionais. No México, as grandes empresas de criação de aves e suínos têm proliferado amplamente nas águas (sujas) do Tratado de Livre Comércio da América do Norte. Um exemplo é Granja Carroll, em Veracruz, propriedade de Smithfield Foods, a maior empresa de criação de porcos e processamento de produtos suínos no mundo, com filiais nos EUA, na Europa e na China. Em sua sede de Perote começou há algumas semanas uma virulenta epidemia de enfermidades respiratórias que atingiu 60% da população de La Gloria, fato informado por La Jornada em várias oportunidades a partir das denúncias dos habitantes do lugar. Eles, há uns anos travam uma dura luta contra a contaminação causada pela empresa e têm sofrido, inclusive, repressão das autoridades por denunciar. Granjas Carroll declarou que não está relacionada nem é a origem da atual epidêmica, alegando que a população tinha uma gripe "comum". Não foram feitas análises para saber exatamente de que vírus se tratava. Em contraste, as conclusões do painel Pew Commission on Industrial Farm Animal Production (Comissão Pew sobre Produção Animal Industrial), publicadas em 2008, afirmam que as condições de criação e confinamento da produção industrial, sobretudo em suínos, criam um ambiente perfeito para a recombinação de vírus de distintas cepas. Inclusive, mencionam o perigo de recombinação da gripe aviária e da suína e como finalmente pode chegar a recombinar em vírus que afetem e sejam transmitidos entre humanos. Mencionam também que por muitas vias, incluindo a contaminação das águas, pode chegar a localidades longínquas, sem aparente contato direto. Um exemplo do que devemos aprender é o surgimento da gripe aviária. Ver, por exemplo, o relatório de GRAIN, que ilustra como a indústria avícola criou a gripe aviária (www.grain.org) Porém, as respostas oficiais diante da crise atual, além de ser tardias (esperaram que os Estados Unidos anunciassem primeiro o surgimento do novo vírus, perdendo dias preciosos para combater a epidemia), parecem ignorar as causas reais e mais contundentes. Mais do que enviar cepas de vírus para sua sequenciamento genômico a cientistas, como Craig Venter, que enriqueceu com a privatização da investigação e seus resultados (sequenciamento que, com certeza, já foi feita por investigadores públicos do Centro de Prevenção de Enfermidades em Atlanta, EUA), o que se necessita é entender que esse fenômeno vai continuar repetindo-se enquanto existam os criadores dessas enfermidades. Já na epidemia, são também transnacionais as que mais lucram: as empresas biotecnológicas e farmacêuticas que monopolizam as vacinas e os antivirais. O governo anunciou que tinham um milhão de doses de antígenos para atacar a nova cepa de influenza suína; porém, nunca informou a que custo. Os únicos antivirais que ainda têm ação contra o novo vírus estão patenteados na maior parte do mundo e são de propriedade de duas grandes empresas farmacêuticas: o zanamivir, com nome comercial Relenza, comercializado por GlaxoSmithKline, e o
oseltamivir, cuja marca comercial é Tamiflu, patenteado pela Gilead Sciencies, licenciado de forma exclusiva pela Roche. Glaxo e Roche são, respectivamente, a segunda e a quarta empresas farmacêuticas em escala mundial e, igualmente como no restante de seus remédios, as epidemias são suas melhores oportunidades de negócio. Com a gripe aviária, todas elas lucraram centenas ou milhões de dólares. Com o anúncio da nova epidemia no México, as ações da Gilead subiram 3%, as da Roche 4% e as da Glaxo 6%; e isso é somente o começo. Outra empresa que persegue esse lucrativo negócio é a Baxter, outra farmacêutica global (ocupa o 22 lugar), tece um "acidente" em sua fábrica na Áustria, em fevereiro de 2009. Enviou um produto contra a gripe a Alemanha, Eslovênia e a República Checa, contaminado com vírus da gripe aviária. Segundo a empresa. "foram erros humanos e problemas no processo", do qual não pode dar detalhes, "porque teria que revelar processos patenteados". Não necessitamos enfrentar somente a epidemia da gripe; necessitamos enfrentar também a epidemia do lucro. [Publicado em La Jornada, México. Copyright © 1996-2009 DEMOS, Desarrollo de Medios, S.A. de C.V.] * Pesquisadora do Grupo ETC
Antibióticos: O mal que entra pela boca do homem 13.03.09 - MUNDO Ana Candida Echevenguá * Adital - A indústria animal está crescendo rapidamente na Ásia, América Latina e Caribe. E, em 2020, América Latina, Ásia e África serão os líderes na produção industrial de produtos animais. Crescendo? Por quê? Porque nessas "Ilhas de Riqueza" ainda é permitida a produção animal intensiva com técnicas de confinamentos em cubículos insalubres. As altas temperaturas, a falta de higiene e a superpopulação facilitam a proliferação de bactérias. (O professor José Lutzenberger chamava estas granjas de "campos de concentração e extermínio de animais"). Para sanar o problema, os produtores utilizam hormônios e antibióticos que, além de evitar infecções, aceleram o crescimento animal. Vários países do terceiro mundo já enfrentam bactérias resistentes a antibióticos devido a essa técnica de produção. Com o advento da gripe aviária, a Câmara dos Lordes, na Grã-Bretanha, admitiu, em seu território, a resistência humana aos antibióticos advinda da ingestão de carne tratada com essas drogas. E que tais alimentos viriam dos países latino-americanos. Com a carne do Chile e Argentina fora importada a Escherichia coli 0157 (que provoca problemas renais graves), por exemplo. Por isso, a antibioticoterapia já está presente em vários países desenvolvidos. A Noruega nunca permitiu o uso de antibióticos para animais de corte. A Suécia proíbe o uso desde 1986; a Austrália, desde 2004. A Dinamarca, produtora de 130 milhões de frangos ao ano, desde meados dos anos 90, baniu o uso de antibióticos para bovinos, aves e porcos. E a União Européia já interditou a utilização de 2 antibióticos na criação
de frangos. Isto é fruto da pressão do consumidor que, ciente dos malefícios desse medicamento ao organismo humano, exige em sua mesa produtos produzidos segundo altos padrões de segurança alimentar, de bem-estar animal e de proteção do meio ambiente. Ou seja, quer alimentos mais naturais, livres de transgênicos, de agrotóxicos, de antibióticos... Mesmo assim, este consumidor consciente está com problemas. O jornalista Henrique Cortez (1) trouxe à tona uma notícia assustadora: mesmo que você não coma carne, que você exija produtos orgânicos, vai ingerir os antibióticos usados em animais porque estão presentes nos vegetais cultivadas em solo adubado com dejetos animais. Apresentou dados do Environmental Health News: - "perto de 70% do total de antibióticos e drogas afins produzidos nos Estados Unidos são utilizados em bovinos, suínos e aves"; - cerca de 90% dessas drogas são excretadas na urina ou no estrume; - a contaminação por antibióticos também ocorre em vegetais cultivados em culturas biológicas já que o "estrume é largamente utilizado como um substituto dos fertilizantes químicos na agricultura biológica". No Brasil, impera a criação intensiva em cativeiro, com uso indiscriminado de antibióticos e outros insumos... A estes problemas sanitários acumulam-se os problemas ambientais provocados pelo lançamento de dejetos de aves e suínos no solo e água, sem qualquer tratamento. A bacia hidrográfica do oeste catarinense - aonde está a maior produção de animais de corte do estado - está morrendo em decorrência disso. Mas estes problemas, cuja solução é vital para a exportação brasileira de carne, não estão na pauta das nossas políticas econômicas, ambientais e sanitárias. E o consumidor brasileiro desses produtos nem pensa em comprar briga com a indústria farmoquímica, nem com os produtores que apostam nessa droga para aumentar o volume de produção. Se nos EUA a proibição dos antibióticos para animais só ocorreu após uma batalha judicial de 5 anos entre laboratórios e governo, quanto tempo levaria para ser implementada aqui??? Se a proibição parece impossível agora, há outras coisas que podemos fazer. Acho que podemos brigar por um programa de certificação para granjas que criarem seus animais ao ar livre, com alimentação natural e medicação alopática (já ouviram falar dos probióticos para animais?). Podemos brigar também por um programa de rastreabilidade de aves e porcos (identificação e monitoramento individual destes do nascimento às prateleiras do supermercado). Não se trata de ficção científica porque já é aplicado ao rebanho bovino. (2) Além disso, podemos brigar por um programa sério de rotulagem que nos informe sobre as técnicas aplicadas na produção dos alimentos expostos para o consumo. Notas:
(1) Artigo ‘Antibióticos usados em animais são absorvidos pelas hortaliças cultivadas em solo adubado com resíduos animais’ http://www.ecodebate.com.br/2009/01/13/indice-da-edicao-de-13012009/ (2) http://taquari.emater.tche.br/sistemas/sirca/rastreabilidade/rastreabilidade.php * Advogada ambientalista. Coordenadora do Programa Eco&Ação, presidente da ong Ambiental Acqua Bios ---------------------------------------------------------------------------------------------------------Ao publicar em meio impresso, favor citar a fonte e enviar cópia para: Caixa Postal 131 - CEP 60.001-970 - Fortaleza - Ceará - Brasil Para receber o Boletim de Notícias da Adital escreva a
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30 de abril de 2009 PARIS, França (AFP) - A gripe suína, que causou 20 casos de mortes confirmadas no México e dez casos de infecção confirmadas nos Estados Unidos, vem sendo motivo de muitas interrogações entre a população ante o alerta das autoridades sanitárias. P. O que é a gripe suína? R. Trata-se de uma doença respiratória que começa em criadores de porcos, um vírus gripal do tipo A que pode se propagar rapidamente. P. É transmissível ao ser humano? R. Sim, começando, em geral, por pessoas que estejam em contacto com esses animais. P. Pode-se contrair a doença comendo carne de porco? R. Não, como recordou neste sábado em Paris o Ministério da Agricultura. "A gripe de origem suína no México não se transmite pela carne, mas por via aérea, de pessoa para pessoa". A temperatura de cozimento (71º Celsius) destrói os vírus e as bactérias, precisam os Centros de Controle de Enfermidades dos Estados Unidos (CDC). P. Trata-se de um novo tipo de gripe suína? R. Assim como no ser humano, os vírus da gripe sofrem mutação contínua no porco, um animal que possui, nas vias respiratórias, receptores sensíveis aos vírus da influenza suínos, humanos e aviários. Os porcos tornam-se, então, "crisóis" que favorecem o aparecimento de novos vírus gripais, através de combinações genéticas, em caso de contaminações simultâneas. Esses tipos de vírus híbridos podem provocar o aparecimento de um novo vírus da gripe, tão virulento como o da gripe aviária e tão transmissível como a gripe humana. Esse tipo de vírus que o sistema imunológico humano desconhece poderia ter as características necessárias para desencadear uma pandemia de gripe. P. Quais são os países afetados até o momento? R. Exceto México e Estados Unidos, únicos países em que se registraram casos, as autoridades de Peru, Chile, El Salvador, Honduras, Colômbia, Nicarágua, Brasil e Costa Rica ativaram planos de vigilância sanitária. No Canadá, a ministra da Saúde, Leona Aglukkaq, pediu à população para manter-se alerta.
P. Existe vacina contra esta doença? R. Só para os porcos. Não para o ser humano. Segundo as autoridades mexicanas, que citam a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina existente para humanos é para uma cepa anterior ao vírus, com o qual não é tão eficaz. Mas "a produção de vacina pode tornar-se possível na medida em que o vírus tenha sido identificado". O Tamiflu, o medicamento que contém oseltamivir, utilizado contra a gripe aviária, é eficaz diz a OMS. A vacina contra a gripe estacionária humana não protege contra a gripe suína. P. Por que a OMS está em estado de alerta? R. "Porque há casos humanos associados a um vírus de gripe animal, mas também pela extensão geográfica dos diferentes focos, assim como pela idade não habitual dos grupos afetados", explicou a OMS em comunicado.