GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA DE ESTADO DE AÇÃO SOCIAL
PENSANDO JUNTOS MANUAL DO FACILITADOR
BRASÍLIA 2003
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2003 – GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA DE ESTADO DE AÇÃO SOCIAL INFORMAÇÃO EDIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Secretaria de Estado de Saúde - Diretoria de Estratégia de Saúde da Família Gerência de Sup. da Estratégia de Saúde da Família - Diretoria de Promoção e Assistência a Saúde Programa de Atenção Integral e Saúde do Adolescente Fone 3254900
Diretoria de Vigilância Epidemiológica Gerência de DST - V. E. Doenças e Agravos não Transmissíveis SIA Trecho 1, lote 1730 à 1760, bloco E, 3º Andar - Brasília-DF E mail: divep@saúde.df.gov.br
Secretaria de Estado de Educação - Diretoria de Apoio Pedagógico Gerência de Apoio Psicopedagógico SGAN 607 Projeção “D” – Sala 145 Fone: 61 – 3485132/3485141 Fax: 61 – 3485147 CEP 70850-510 Brasília – DF Secretaria de Estado de Ação Social - Diretoria de Assistência Social Gerência Programática de Proteção Especial Anexo Palácio do Buriti – 4º andar – Sala 411 Fone: 61 – 2258911 Fax: 61 – 2252331 CEP 70075-900 Brasília – DF
ORGANIZADORES Cláudia Habil Brabdão Parise – Gerência Programática de Proteção Especial Édisa Brito Lopes – Vigilância Epidemiológica de Doenças e Agravos não Transmissíveis Maria Ivanilde Ferreira Alves – Gerência de Apoio Psicopedagógico Maria José Bonfim Lopes – Gerência de Apoio Pedagógico Maria do Perpétuo Socorro Miranda Torres – Gerência de Apoio Psicopedagógico Maria Thereza Alves Conforto – Gerência de Apoio Psicopedagógico Olga Maria Parente Macedo de Andrade – Gerência de Supervisão e Estratégia de Saúde da Família Wânia Teles Moraes – Gerência de DST PROGRAMAÇÃO VISUAL – Demétrius Reis de Carvalho - CEDRHUS REVISÃO – Maria de Lourdes Ferreira – Graduada em Letras Direção do Centro Educacional Origem FICHA CATALOGRAFICA Adolescentes: pensando juntos – manual do facilitador – Brasília 279 p: 210x297 cm Conteúdo: 1. Cidadania e garantia de direitos 2.Sexualidade 3. Adolescência 4. Prevenção de DST 5. Prevenção do uso de drogas 6. Educação para a saúde 7. Planejamento e avaliação. Distrito Federal (Brasil). Secretaria de Saúde. 2003
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AGRADECIMENTOS Ás Instituições que colaboram com o manual Área de Saúde do Adolescente e do Jovem – Ministério da Saúde Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN Centro Educacional Origem Coordenação Nacional de DST/Aids - Ministério da Saúde Estudos e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana - ECOS Fundação Odebrech Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual – GTPOS Instituto de Sexualidade e Orientação Familiar - ISOF Instituto Nacional de Câncer – INCA Centro de Sexologia de Brasília - CESEX Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD Universidade Holística Internacional de Brasília– UNIPAZ Aos profissionais que ofereceram seus textos Ana Carolina Bessa Linhares Ana da Costa Polonia Ana Sudária L. Serra Ângelo Motti Aline de Melo Soares Antônio Carlos Gomes da Costa Cecília de Farias Franco Cláudio Picazio Cláudia Habli Brandão Parise Carla Magda A. S. Domingos Córdélia de Souza Castelo Branco Débora de Oliveira Cruz Disney Antezana Edir Nei Teixeira Mandú Édisa Brito Lopes Elioenai Dornelles Alves Gabriela J. Calazans Helvécio Bueno Içami Tiba Ivan França Júnior Ivanéia Maria Pastorelli Ivone Perez de Castro Jerusa Figueiredo Netto José Domingos dos Santos Júnior José Ricardo M. Ayres José Ivo Pedrosa Ligia Maria Paixão Silva Lívia Romero Sant’Anna Luis Antônio Bueno Lopes
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Mabel Cavalcante Marcos Ribeiro Margarete A. da Fonseca Ariosa Maristela dos Reis Alves Maria Cecília Pereira da Silva Maria José Bonfim Lopes Maria Ivanilde Ferreira Alves Maria do P. Socorro Miranda Torres Maria Madalena Maria Teresa Machado Luz Maria Thereza Alves Conforto Mônica Mulatinho Paulina Vieira Duarte Patrícia Goodson Pierre Weil Ricardo de Castro e Silva Rita de Cássia Ferreira Roseane Pereira de Deus Rosângela Corrêa Sandra Scivoletto Sebastião Rocha Sérgio C. Alves Neves Sérgio Nicastre Suely Andrade Silvia Cavalcante Valdir Craveiro Bezerra Walter Ude Vicença Paula Soares Querrer
À Maria de Lourdes Ferreira, do Centro Educacional Origem pela revisão dos manuais Às equipes regionais, que muito têm contribuído neste trabalho em REDE Á todos que acreditam no sonho: de um trabalho integrado e articulado; de uma equipe transdisciplinar e interinstitucional; de garantia dos direito das crianças e adolescentes; na Paz, como um instrumento de trabalho diário
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Sumário Informação, edição e distribuição Organização Programação visual Revisão Ficha catalográfica Agradecimentos
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CIDADANIA E GARANTIA DE DIREITOS Ética Redes Sociais – Possibilidades metodológicas para uma prática inclusiva Viver em Paz Sexualidade, Droga e Violência Metodologia para a resolução de conflitos Pedagogia da presença A função social do educador O papel social da criança A criança é vulnerável Vulnerabilidade e adolescências O adolescente como protagonista Diga não à Violência
8 16 23 30 31 39 43 47 49 51 54 57
SEXUALIDADE Sexualidade e adolescência O prazer pelos cinco sentidos Puberdade e adolescência: grandes mudanças Adolescência: saúde, sexualidade e reprodução O pênis nosso de cada dia Mitos, crendices e tabus sexuais Identidade papéis sexuais e orientação do desejo sexual Sexualidade: desatando os nós na adolescência Gostar de si mesmo abre o caminho para o amor Ligações afetivas Métodos anticoncepcionais Gravidez e gênero Gravidez na adolescência Reprodução humana Aspectos psicológicos do aborto em adolescentes Aborto na adolescência, uma opção? O que fazer na escola afinal? Educação sexual ou orientação sexual?
64 68 70 80 95 96 102 107 111 113 117 126 130 136 138 140 142
PREVENÇÃO AS DSTS/AIDS Epidemiologia da AIDS Situação epidemiológica da AIDS no Distrito Federal Vulnerabilidade do adolescente ao Hiv/AIDS Doenças sexualmente transmissíveis Redução de danos
146 148 149 160 170
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PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS Redes Sociais:uma nova forma de prevenir Família: primeiro passo para a prevenção A família, o adolescente e o uso de drogas A prevenção do uso indevido de drogas na escola Orientações para trabalho com crianças e adolescentes sobre prevenção ao uso de drogas na escola Drogas: classificação e efeitos no organismo Tratamento
174 178 184 192 196 199 209
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE Educação e saúde Ações educativas em saúde: repensando paradigmas Exercícios físicos e saúde Os problemas nutricionais do Brasil Vacinação Câncer e seus fatores de risco Você está querendo para de fumar? Conceitos básicos sobre hanseníase Tuberculose Dengue
211 213 224 226 233 238 246 250 254 256
PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO Planejamento, acompanhamento e avaliação Avaliação Planejamento
258 273 275
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APRESENTAÇÃO Pensando Juntos e Fazendo Juntos foram elaborados com o intuito de contribuir para o aperfeiçoamento e qualificação de recursos humanos envolvidos no atendimento e defesa dos direitos da cidadania, em especial aqueles profissionais que atuam na rede de atenção à criança e ao adolescente do Distrito Federal. A sua elaboração baseia-se na ética e cidadania: princípios fundamentais da vida democrática, numa perspectiva de fomentar uma constante atitude crítica, de reconhecimento dos limites e possibilidades, de problematização das ações e relações e dos valores e regras que as norteiam Pensando Juntos apresenta uma coletânea de textos de reverência de diversos autores; abrange assuntos que possibilitam maior reflexão acerca do desenvolvimento humano e propõe ações que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Fazendo Juntos oferece uma metodologia de trabalho de oficinas e técnicas de trabalho em grupo de diversas fontes. Enfatize-se que a realização deste trabalho somente se tornou possível com a colaboração e anuência de autores individuais, organizações governamentais e não-governamentais, que permitiram a divulgação de seus trabalhos e estudos. Partindo do princípio de que um conjunto pode ser maior do que a soma de seus elementos, este trabalho toma corpo pela complementariedade e sinergia entre suas partes. O sentido de coletividade de “Pensando Juntos “ e “Construindo Juntos “ está presente em todos os aspectos do trabalho e, certamente, vai além do seu título. Estes manuais buscam oferecer subsídios teóricos e metodológicos às ações de promoção e prevenção com ênfase na saúde, na sexualidade, na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, no uso indevido de drogas e na garantia de direitos, e também instrumento potencializador das ações da Rede Institucionalizada de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente – REDE RIR/DF. A REDE RIR, bem como este trabalho, é o resultado de um esforço de profissionais das Secretarias de Estado de Ação Social, Educação e Saúde, que há alguns anos vêm buscando sensibilizar parceiros para implantação de uma metodologia de intervenção e articulação compartilhadas em que se faça valer a doutrina de proteção integral e garantia da condição plena de cidadão para crianças e adolescentes. As ações da REDE RIR vêm sendo desenvolvidas pelas seguintes equipes: Secretaria de Estado de Ação Social • Diretoria de Assistência Social • Gerência de Assistência Social • Gerência Programática de proteção Especial à Criança e ao Adolescente • Núcleo de Proteção Especial que tem por objetivo a proteção integral à criança e ao adolescente em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social Secretaria de Estado de Educação • Diretoria de Apoio Pedagógico/Gerência de Apoio Psicopedagógico apoiam as Unidades de Ensino no desenvolvimento de ações em sexualidade, auto-estima, relações interpessoais e prevenção à gravidez na adolescência, ao uso indevido de drogas, DST/Aids e violência. Secretaria de Estado de Saúde • Vigilância Epidemiológica de Doenças e Agravos não Transmissíveis - tem como objetivo a promoção à saúde, prevenção dos fatores de risco das doenças crônicas (hipertensão arterial, diabetes mellitus, câncer...) e da violência. • Gerência de DST/Aids - tem como um dos seus objetivos a prevenção destes agravos por intermédio de intervenções na área de sexualidade, prevenção do uso de drogas e da violência.
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Programa de Saúde da Família - representa uma concepção de saúde centrada na promoção e qualidade de vida. Um dos seus principais objetivos é gerar práticas de saúde que possibilitem a integração de ações individuais e coletivas. Programa de Atenção Integral à Saúde do Adolescente (PRAIA) - tem como objetivo promover a Saúde biopsicossocial do adolescente e família. Pretende viabilizar a atuação dos serviços de promoção à saúde, prevenção e assistência ao adolescente no Distrito Federal.
A elaboração deste trabalho vem de encontro aos princípios das ações articuladas desenvolvidas pela REDE RIR no Distrito Federal que preconiza: • A construção de um modelo integral para a infância e para a adolescência que expresse os conceitos de integridade, prioridade, multiprofissionalidade, interinstitucionalidade, participação comunitária e cidadania; • A compreensão e atenção às necessidades específicas da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, emocional e social, conforme o Estatuto da Criança e Adolescente. Esta ação fortalece a necessidade da implementação de redes nas esferas governamentais e não governamentais, articulando programas e serviços. Com isto, otimizam-se os recursos humanos e materiais, tornando os serviços prestados à clientela mais integrados e resolutivos para o atendimento de suas necessidades.
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CIDADANIA E GARANTIA DE DIREITOS ÉTICA Maria José Bonfim Lopes No decorrer do tempo, as sociedades mudam e também mudam os homens e as mulheres que as compõem. Ao longo da história, as sociedades construíram e modificaram seus sistemas morais, focalizando a cada momento, diferentes questões e interpretando os princípios de forma às vezes surpreendente para o que se coloca hoje, e freqüentemente paradoxal, como se pode verificar ainda nos sistemas contemporâneos. Para viver em sociedade é preciso possuir valores, critérios e, mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses valores. Todas as instâncias da vida social têm uma dimensão moral, ou seja valores eleitos como necessários ao convívio entre os membros da sociedade. A dimensão moral das ações implica em um posicionamento tanto em relação aos valores, como em relação aos deveres. Por se caracterizarem como seres livres, com capacidade de superar, de alguma maneira, o determinismo da natureza, os seres humanos têm possibilidades de escolha. Escolher implica comparar e valorar. Assim, torna-se necessária a elaboração de critérios que classifiquem as ações como boas ou más, corretas ou inadequadas, e que orientem e justifiquem a escolha, que se configura com a resposta diante das prescrições da sociedade. A responsabilidade é, portanto, o núcleo da ação moral, constituído com vários elementos que nele se cruzam. O primeiro deles é a liberdade, traduzida na possibilidade de fazer escolhas, de tomar partido. Se o indivíduo não pode fazer escolha entre a obediência e a transgressão, não pode ser responsabilizado por sua ação. A moral sofre transformação, principalmente quando submetida à reflexão crítica realizada pela ética. A ética não tem um caráter normativo, pois, ao fazer uma reflexão ética, pergunta-se sobre a consistência e a coerência dos valores que norteiam as ações, busca-se esclarecer e questionar os princípios que orientam essas ações, para que elas tenham significado autêntico nas relações. Há uma multiplicidade de doutrinas morais que , pelo fato de serem históricas, refletem as circunstâncias em que são criadas ou em que ganham prestígio. Assim, são encontradas doutrinas morais cujos princípios procuram fundamentar-se na natureza, na religião, na ciência, na utilidade prática. As questões que se coloca a respeito das ações encontram respostas, de imediato nas diversas doutrinas. Para a pergunta “por que devemos agir de determinada maneira?”, encontramse respostas diversas, como: “porque está escrito nos Mandamentos”, “porque está demonstrado pela teoria X”, “porque traz vantagens”, etc. A pergunta crítica colocada pela ética é de natureza diferente, pois sua intenção é problematizar exatamente os fundamentos. Ela indagará: “que valores sustentam os mandamentos”, “qual o suporte da teoria X”, “para quem tal ação traz vantagens?”. A ética serve, portanto, para verificar a coerência entre práticas e princípios, e questionar, reformular ou fundamentar os valores e as normas componentes de uma moral, sem ser em si mesma normativa. Na Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, encontram-se princípios éticos que devem reger a sociedade, entre eles, o artigo 3º a saber: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, entre outros: “construir uma sociedade livre, justa e solidária”; “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”; “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Possibilitar aos adolescentes o desenvolvimento de atitude crítica, de reconhecimento dos limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstâncias, de problematização das ações, das relações e dos valores e regras que os norteiam, bem como o desenvolvimento de sua autonomia, entendida como a capacidade de posicionar-se diante da realidade, é um desafio para todos profissionais das diversas instituições sociais que atuam junto aos adolescentes, de modo a
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contribuir para o processo de sua formação e da sua dimensão moral, devendo portanto proporcionar-lhes oportunidade de refletir criticamente sobre os valores que possui, os que procuram experimentar e os que estão a sua volta, buscando sempre a ética nas suas relações. Para tanto, requer por parte dos adultos o reconhecimento das características psicológicas e sociais dessa fase. Nessa etapa da vida, os adolescentes ampliam a sua capacidade de analisar situações complexas, de considerar diferentes fatores envolvidos e de construir critérios de justiça. As relações sociais efetivamente vividas, experimentadas, têm influência decisiva no processo de legitimação dos valores de formação ética e no desenvolvimento de atitudes desejáveis pautadas por princípios de respeito, justiça, solidariedade e diálogo na busca do viver e conviver bem, conhecendo, participando, opinando, ousando e transformando. (Fonte -Adaptado dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS)
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ENTENDENDO O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE "Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais e a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento" O que é o Estatuto da Criança e do Adolescente "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão." Art. 227º da Constituição Federal O Estatuto da Criança e do Adolescente é um marco e um divisor de águas na história recente da cidadania de meninos e meninas no Brasil. Ele substitui o Código de Menores (criado em 1979) que ditou regras e normas durante 10 anos. Entretanto, sua presença cultural – termos, vícios de linguagem, visão estrutural das instituições – ainda perdura, impedindo que a própria sociedade reconheça os direitos e deveres das crianças e dos adolescentes. Embora o Estatuto seja uma lei que garante a proteção integral de crianças e adolescentes, obedecendo ao artigo 227 da Constituição Federal, o que vem ocorrendo na prática é que alguns municípios e comunidades ainda não exercitam as normas expostas em seus artigos e, na maioria dos casos, as desconhecem ou omitem o reconhecimento de suas regras. Redigido por uma comissão composta por representantes do setor jurídico, das políticas públicas e dos movimentos sociais, o Estatuto agrega o mérito de resultar de um trabalho conjunto, no qual os mais diversos segmentos da sociedade puderam ser ouvidos. Composto por 267 artigos, o Estatuto garante os direitos e deveres de cidadania a crianças e adolescentes, determinando à família, à sociedade, à comunidade e ao Estado a coresponsabilidade pela proteção integral desses meninos e meninas; antes tarefa exclusiva do antigo juiz de menores. Além disso, define um sistema participativo de formulação, controle e fiscalização das políticas públicas entre Estado e sociedade civil. O Estatuto da Criança e do Adolescente não se resume a um conjunto de leis isoladas. Sua proposta é muito mais ampla porque prevê a criação de uma rede de atendimento, caracterizada por ações integradas. Dessa rede, fazem parte as organizações governamentais e não-governamentais, os movimentos sociais, comunidades locais, grupos religiosos, entidades nacionais, organismos internacionais, categorias de trabalhadores e a própria população. Todos devem participar da discussão dos problemas locais, formulando propostas, negociando, optando pela melhor política a ser desenvolvida e, principalmente, oferecendo serviços. Para garantir a criação dessa rede, o Estatuto estipula a implantação, em cada município brasileiro, de órgãos que têm a responsabilidade de assegurar o cumprimento das políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente. São eles: o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, os Conselhos Tutelares e as delegacias especializadas. Com atribuições diferentes, todos devem atuar de acordo com suas competências e em consonância com o juiz da Infância e da Juventude, personagem que ganhou um novo papel a partir do Estatuto, e com o Ministério Público. Deixou de ser autoridade única e máxima no tocante às questões relacionadas com crianças e adolescentes. Democraticamente, vive-se hoje não só a divisão de poder, mas também a de idéias, de trabalho, de iniciativas e de responsabilidades.
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Direitos e Deveres "Criança tem prioridade absoluta. Toda pessoa tem o direito de ser atendida em suas necessidades básicas. O princípio da prioridade absoluta garante à criança e ao adolescente a inclusão em programas de orientação e promoção em todas as áreas: saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, lazer e outras" Família, Sociedade e Estado "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária." Art. 4º do ECA A questão dos direitos e deveres da criança e do adolescente, pela primeira vez na história brasileira, tem prioridade absoluta, e a sua proteção é dever da família, da sociedade e do Estado. A nova ética está fundamentada no artigo 227 da Constituição Federal de 1988, e na lei federal 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). O princípio constitucional afirma que é dever da família, da sociedade, da comunidade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária. São obrigações bastante amplas, escritas em leis que a população deve conhecer. Contudo, é comum verificar que muitas pessoas acreditam somente na existência dos direitos das crianças e dos adolescentes. Para que essa visão equivocada não se perpetue e para que haja esclarecimento sobre os reais direitos e deveres destes cidadãos, em entrevistas e na elaboração de textos mais aprofundados, acompanhe a nova visão. O grande mérito do Estatuto foi transformar crianças e adolescentes em cidadãos sujeitos de direitos e deveres, estabelecendo regras de prioridade absoluta das políticas públicas. Ele traz inovações, amplia e divide a responsabilidade da família, do Estado, da sociedade e da comunidade na proteção integral de crianças e adolescentes, e estabelece um sistema participativo de formulação, controle e fiscalização das políticas públicas de atendimento entre o Estado, a sociedade civil e o Município. Para entender esses avanços, compare as significativas mudanças implementadas, no quadro abaixo, e as diferenças entre o extinto Código de Menores e as atuais regras do Estatuto. Estatuto da Criança e do Adolescente Crianças e adolescentes tornam-se sujeitos de direito e deveres civis, humanos e sociais previstos na Constituição e em outras leis. Passam a ser considerados cidadãos em desenvolvimento, tendo o seu universo protegido (doutrina da proteção integral). Distingue a criança (0 a 12 anos incompletos) do adolescente (12 a 18 anos). Estabelece os direitos referentes à saúde, à educação, à alimentação, à informação, ao lazer, ao esporte, entre outros. Determina a obrigatoriedade de pais e responsáveis matricularem seus filhos e acompanharem sua frequência e seu aproveitamento escolar. Amplia e divide a responsabilidade pelo cumprimento de direitos e deveres entre a família, a sociedade e o Estado, tornando-os responsáveis. Exige a efetivação de políticas públicas que permitem o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança e do adolescente e define seu atendimento por intermédio de um conjunto de ações governamentais, da União, dos Estados e dos Municípios. Para tanto,
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estabelece um sistema participativo de formulação, controle e fiscalização dessas políticas, dividindo as responsabilidades entre o juiz e outros setores da sociedade. Foram criados órgãos como os Conselhos Tutelares, municipal, Estadual, Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente e as delegacias especializadas que devem atuar em consonância. Código de Menores Crianças e adolescentes eram tratados pela Legislação como seres "inferiores", objetos tutelados pela lei e pela justiça. Na prática, o Código de Menores dispunha sobre a assistência, proteção e vigilância da criança e/ou do adolescente ( Doutrina da Situação Irregular ) que se encontrasse abandonado, exposto, carente, ou que apresentasse desvio de conduta. Não havia distinção entre crianças e adolescentes. Todo indivíduo com idade inferior a 18 anos era considerado "menor" e, portanto, sujeito ao Código de Menores. O bem-estar de crianças e adolescentes era reduzido aos serviços sociais prestados por entidades públicas ou privadas. Determinava que todas as atividades que os atingissem seriam regradas; entretanto, não os caracterizava como sujeitos de direitos. O Poder Judiciário era a única instância que controlava as omissões e os abusos. Cabia ao juiz de menores atuar em vários segmentos da sociedade, caso constatasse a existência de situação que pudesse causar danos ao "menor". A criança ou adolescente portador de desvio de conduta, de acordo com o entendimento do juiz, neste caso, poderia ser submetido a tratamento educacional em instituições. Na prática, a saída para aquele que se encontrava em situação irregular (abandono material, vítima de maus-tratos, autor de infração penal etc.), era a privação de sua liberdade de ir e vir e a perda dos vínculos familiares. Estabeleceu o conceito e a aplicação de medidas sócio-educativas quando a criança ou o adolescente comete ato Infracional (crime, delito ou roubo) contra a lei criminal vigente. No caso da criança, esta prática está sujeita a medidas de orientação e acompanhamento. Já para os adolescentes, há possibilidade de medidas que vão desde a advertência até a internação (em última hipótese). De acordo com o Estatuto, a intervenção tanto da polícia quanto da justiça, passou a ser permitida somente em situações em que ocorre ato infracional contra a lei criminal. Também ficou impossibilitada a privação de liberdade do adolescente sem o devido processo legal. No caso da prática de ato infracional por adolescentes portadores de deficiência mental, o Estatuto prevê tratamento individual especializado, em local adequado. O Estatuto passou a atribuir a condição de filho ao adotado, proporcionando-lhe os mesmos direitos e deveres dos filhos naturais. Também determinou medidas mais rígidas para a adoção; visando salvaguardar o direito das crianças e adolescentes e coibir o tráfico internacional de jovens brasileiros. Maiores de 21 anos, independentes de seu estado civil, tornaram-se aptos a adotar, desde que o adotante tenha 16 anos a mais que adotado. Estabeleceu tipos penais aos atos praticados contra crianças e adolescentes, por ação ou omissão, e determinou medidas específicas aplicáveis a pais ou responsáveis na hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual. Uma vez infrator, a criança ou adolescente não possuía mais condições de permanecer junto à Família e/ou sociedade, passando a ser assumido pelo Estado. Presumia-se que, desta forma, a criança ou o adolescente seria mais bem protegido, visto que o seu ambiente de origem o predispunha à situação de marginalidade. Era permitido à polícia e à justiça intervir diante de qualquer ato cometido pela criança ou pelo adolescente que infringisse uma convenção social, como por exemplo nos casos referentes à etiqueta , aos costumes e à religião. O "menor", autor da infração penal, podia ser detido fora do flagrante, sem ordem escrita da autoridade judicial. Neste caso, não havia garantias aos direitos dos excepcionais. O único direito da criança e do adolescente era o da assistência religiosa. O adotado não possuía expressamente os mesmos direitos e deveres, incluindo os sucessórios, dos filhos naturais. Havia a possibilidade de o adotado herdar dos pais biológicos e/ou receber pensão alimentícia. Não havia critérios tão rígidos referentes a adoção internacional. Somente aos maiores de 30 anos, com no mínimo 5 anos de casados, era permitida a adoção. Não existiam medidas específicas aplicáveis a pais ou responsáveis em situações de maus-tratos, opressão ou abuso sexual.
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Referências Bibliográficas: VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos de Crianças e dos Adolescentes. SP, LTr,1999 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direito Penal. Parte especial 6ª ed. SP. Atlas, 1991. V.2. Política de Atendimento "Um dos piores males que acomete a sociedade é a nossa condição de co-responsáveis pelo caos social em que vivemos e também resulta de nossa omissão em ocupar os espaços democráticos que nos são reservados pela lei e pela Constituição Federal" Berthold Brechet Políticas Públicas "A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais, da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios" Art. 86º do ECA. Rede de Atendimento Todos os municípios devem manter uma rede de atendimento que assegure atenção global às necessidades da criança e do adolescente. Isso pressupõe que tanto as organizações governamentais quanto as não-governamentais devem atuar de forma articulada e complementar, disponibilizando serviços e programas que visem obter resultados positivos e de impacto. O importante é mudar os quadros de omissão, abuso e violação de direitos, evitando-se e reduzindose os índices de negligência, maus-tratos, exploração, crueldade e opressão contra crianças e adolescentes. O Estatuto tem normas claras. Regulamentadas pela Constituição Federal, elas reconhecem a cidadania das pessoas e o direito a reunir-se em grupos. Mais do que isso, dá a palavra e o voto às comunidades organizadas por meio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança. Dessa forma, a comunidade tem possibilidade de mover ações públicas contra o Governo, obrigando-o a ajustar sua conduta às normas da Constituição e do próprio Estatuto, em caso de omissões ou abusos. Cabe ao Município organizar e garantir o acesso da população aos programas de orientação e apoio sócio-familiar sempre que for necessário. Esses programas devem ser organizados nas comunidades, junto às famílias, às escolas, a postos de saúde, a programas de esporte, cultura, lazer e capacitação para o trabalho. São ações que objetivam proteger e encontrar formas de resolver casos individuais de ameaças e violações de direitos. Municípios sem programas de atendimento, sem conselho (Conselhos de Direitos e Tutelar), não alcançarão efetividade em suas ações. Os programas de proteção e sócio-educativos têm a responsabilidade de promover a proteção dos cidadões em suas necessidades básicas e em seus direitos. Tirando Dúvidas "Olhar a criança e o adolescente com os olhos do Estatuto é desejar para os filhos dos outros o que desejamos para os nossos filhos".
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Quem é Quem no ECA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) – Órgão paritário para deliberar a política infanto-juvenil, formado por 15 representantes do Governo e 15 representantes de organizações não-governamentais. É responsável pela formulação de políticas públicas e pela decisão sobre a aplicação de recursos destinados ao cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Presidido pelo Ministro da Justiça, tem a participação dos ministros da Saúde, Bem-Estar Social, Trabalho, Educação e Planejamento. Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – Órgão paritário, composto por cidadãos do Estado. Deve garantir a promoção e defesa dos direitos da população infantojuvenil estadual. Cabe a seus integrantes acompanhar e avaliar programas sócioeducativos e de proteção de meninos e meninas, além de interferir em casos de desvios, abusos e omissões ocorridos nas entidades (governamentais ou não) que atuam na área da infância e da juventude. Alguns Estados brasileiros adotam siglas para o Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente, como, por exemplo: Condeca, Cedca, entre outras. Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – Órgão composto por cidadãos do Município, tanto do Poder Público quanto da sociedade civil organizada. Deve garantir o cumprimento das políticas públicas da cidade, a promoção e a defesa dos direitos da população infanto-juvenil local. Cabe ao Conselho priorizar programas de atendimento. Conselho Tutelar – Órgão colegiado composto de cinco membros escolhidos pela sociedade para fiscalizar e garantir que os direitos de crianças e adolescentes não sejam ameaçados ou violados. Nestes casos, cabe ao Conselho requisitar serviços públicos. Cada Município deve definir em lei municipal quantos Conselhos Tutelares terá, se os conselheiros serão remunerados ou não, e a forma de participação da comunidade, quando da sua escolha. Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – Composto por recursos geridos pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Deve ser criado por lei municipal, apesar de estar previsto no Estatuto. Pode ter dotações orçamentárias do próprio Município ou utilizar a arrecadação obtida com as multas aplicadas pela Justiça por violações dos direitos infanto-juvenis. Além disso, pode receber doações de 1% do imposto de renda a pagar das pessoas jurídicas. Em alguns Estados, este fundo é chamado de FIA – Fundo da Infância e da Adolescência. Juiz da Infância e da Juventude (Poder Judiciário) – É um juiz de direito. É a autoridade local competente para julgar as causas decorrentes das normas do Estatuto da Criança e do Adolescente. O Juiz da Infância e da Juventude ganhou um novo papel a partir do Estatuto, deixou de ser autoridade única e máxima no tocante às questões relacionadas com crianças e adolescentes. Cabe a ele julgar casos de atos infracionais praticados por adolescentes, decidir sobre pedidos de adoção, guarda, tutela e sobre a destituição do pátrio poder, autorizar crianças e adolescentes a viajar, a ir a bailes, bares, shows e casas de espetáculos, entre outras atividades. Vara da Infância e da Juventude – O Estatuto autoriza os Estados a criarem varas especializadas e exclusivas da Infância e da Juventude. Sua função pode ser exercida por um ou mais juízes especializados, em conjunto com uma equipe técnica. Esta equipe não só assessora o juiz, como também tem um papel importante na realização de estudos e pesquisas, além de acompanhar as medidas de proteção, orientar e supervisionar a família, promover o entrosamento dos serviços do juizado com os técnicos do Conselho Tutelar, acompanhar a execução das medidas socioeducativas, entre outras. A equipe técnica é formada por psicólogos, assistentes sociais, educadores, representante do Ministério Público, promotor de Justiça da Infância e da Juventude, além de advogados especializados. As varas fazem parte do Sistema de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente e mantêm-se abertas ao atendimento do público para qualquer informação. Assistência Judiciária – É um serviço gratuito, prestado por defensor público ou advogado nomeado. O Estatuto da Criança e do Adolescente garante que a criança e o adolescente têm direito à defesa. Portanto, no caso do adolescente acusado, que deve responder perante um juiz da Infância e da Juventude, é dever do Estado colocar a sua disposição um advogado que o defenda. Dessa forma, a lei também garante o acesso da criança e do adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e o Poder Judiciário, por meio de quaisquer de seus órgãos.
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Promotor de Justiça (Ministério Público) – Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, o promotor é quem zela pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e aos adolescentes. O promotor propõe as ações que, se aceitas, serão julgadas pelo juiz. São suas atribuições: promover medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis, entre elas: conceder a remissão (exclusão) do processo; promover e acompanhar procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes; atuar em todos os procedimentos de competência da Justiça da Infância e da Juventude; instaurar sindicâncias e requisitar diligências para investigações e apuração de infrações às normas de proteção infanto-juvenil. Segurança Pública – É composta pelas polícias Militar e Civil, que têm o dever de conhecer e aplicar o Estatuto da Criança e do Adolescente, cuidando para que meninos (as) e jovens tenham garantidos todos os direitos fundamentais previstos em lei e respeitem os deveres básicos da cidadania. Polícia Militar – Cabe-lhe a atuação ostensiva e a preservação da ordem pública, ou seja, a prevenção da prática de atos infracionais contra a lei criminal por parte de adultos, adolescentes ou crianças. É sua função repreender tais atos e agir, se necessário, com o uso da força (não com o abuso nem com a omissão). Polícia Civil – È sua função investigar a prática de atos infracionais contra a lei criminal (cometidos por adultos, adolescentes e crianças) e reunir provas para que a Justiça possa julgar seus autores e para que o Conselho Tutelar aplique as medidas cabíveis, no caso de crianças. Defensoria Pública – "O acesso à Justiça engloba a pessoa saber o que é o Ministério Público e que esta instituição existe para defender os interesses e os direitos da sociedade; não significa apenas a possibilidade de levar ao Poder Judiciário uma determinada demanda ou direito de recorrer à Defensoria Pública, quando o cidadão não tem dinheiro para pagar um advogado. É importante o cidadão saber que pode recorrer ao Judiciário, caso seu direito seja violado, e que tem o direito de ser ouvido por um membro do Ministério Público para ingressar no sistema de justiça e a ele ter acesso, mesmo sem recursos financeiros. Dessa forma, a Defensoria Pública advoga contra o Estado, quando este atua em desacordo com suas atribuições ou quando se omite no cumprimento delas.”* * Luzia Cristina Fonseca Frischeisen, procuradora da República em São Paulo (Fonte – “Manual da Imprensa e da Mídia”- Ivanéia Maria Pastorelli – Realização – Orange Star Comunicação e Marketing Social).
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REDES SOCIAIS - Possibilidades metodológicas para uma prática inclusiva Walter Ude Trabalhar dentro da perspectiva de redes sociais implica em tentar reconstruir nossa maneira de enxergar e compreender o mundo em que vivemos. Significa admitir que tudo está em relação com tudo e que não há como isolar uma parte sem considerar o todo e nem trabalhar o todo desconsiderando suas partes mais específicas, pois, na partícula mais minúscula do universo, encontramos a complexidade que a caracteriza. As tradicionais tentativas de isolar elementos de um sistema num ambiente totalmente imune são impossíveis e ilusórias para quem concebe o mundo funcionando em constante interação – ora passando por momentos mais regulados, ora por conflitos e contradições. Adotar essa postura diante da vida representa assumir a busca de uma prática e de uma ciência mais ativas e mais conscientes (Morin,1996). Na verdade, o mundo sempre funcionou sem rede, mas a lógica capitalista produziu e desenvolveu formas extremamente setorizadas e fragmentadas de lidar com a realidade que, tem gerado uma crença naquilo que Dejours (1999) chama de um “individualismo triunfante”. Temos presenciado mudanças significativas no mundo diante do chamado mercado globalizado, do livre comércio, da terceirização de serviço público, do enfraquecimento do Estado, da acelerada substituição do trabalho humano pelas denominadas novas tecnologias e do conseqüente desemprego estrutural , o qual tem gerado altos índices de pobreza e miséria no atual contexto brasileiro. Esse quadro, aqui brevemente comentado, tem produzidos diversos problemas sociais e vem gerando níveis elevados de violência, de corrupção e de descaso com a vida. Constata-se um certo relaxamento em relação a determinados princípios morais e éticos fundamentais para a regulação de uma sociedade que pretende garantir aspectos básicos para uma vida cidadã. Essa configuração do contexto atual impõe que a sociedade civil reveja sua forma de participação. Parece que a idéia de que atualmente se pertence a um mundo globalizado retirou das pessoas um pouco do sentido de pertencimento a uma nação e a um local de origem. A velocidade das aceleradas transformações implementadas pelo denominado projeto neoliberal tem impedido, avaliações coletivas sistemáticas quanto às conseqüências das atuais propostas políticas, econômicas e sociais para a vida do povo brasileiro. Optar por um mundo regido pelo imediatismo – segundo as normas de um mercado global – é uma postura arriscada. Por outro lado, nossa história apresenta-se marcada por uma relação de dependência com o Estado, como se fosse o único responsável pelas políticas de assistência e de seguridade da população. Esse traço social tem nos impedido de construir uma avaliação coletiva para pensarmos uma outra forma de organização social, na qual o Estado fosse regulado por decisões surgidas da coletividade. Quanto às relações de emprego, nossa trajetória histórica, social e cultural se deu de uma maneira semelhante. Sempre ficamos esperando do patrão sua oferta de emprego e o conseqüente pagamento de um salário pelos serviços prestados. Enfim, não aprendemos a construir juntos um projeto coletivo de sociedade. Criou-se uma relação dualista em que, de um lado, ficou o Estado e o patrão e, do outro, o usuário e o empregado. Diante disso, as pessoas têm encontrado algumas dificuldades em buscar apoio, construir elos com outras pessoas, grupos, movimentos e instituições, para tentarem organizar novas propostas de vida, apesar da solidão, do sofrimento, da precariedade ou da insegurança que enfrentam no seu cotidiano. Em outras ocasiões, têm o desejo de compartilhar idéias, invenções, propostas ou alegrias e não conseguem encontrar espaços de expressão e de comunicação. No entanto, o ser humano e nenhuma outra forma de vida existente nesse planeta nasceram para viver isolados. Do contrário, adoecem ou até mesmo morrem. Contudo, vivemos numa sociedade capitalista que, cada vez mais, tem estimulado a segregação das pessoas, levando-as, muitas vezes, a ações individualistas e particulares, como, por exemplo, construir condomínios fechados e aparelhados com diversos sistemas particulares de segurança, pagar seguros de aposentadoria, de moradia, de veículo e de vida, entre outros, em vez de tentar discutir as condições que estão produzindo a violência e a insegurança na nossa sociedade. Enfim, buscam-se soluções individuais sem considerar o coletivo. Essa lógica favorece a ideologia dominante, pois aumenta a lucratividade dos agenciadores de seguros, e esses processos não são avaliados ou questionados. Em síntese, existe uma indústria da violência e
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outra da proteção privada, sendo que elas se complementam, apesar de aparentarem ter uma lógica oposta. Como se observa, essas transformações no mundo atual têm atingido de uma maneira ou de outra a todos nós, independentemente da classe social a que pertencemos. Obviamente, as pessoas pertencentes às camadas pobres ou miseráveis estão mais expostas a situações de precariedade social que são muito mais graves, sendo que algumas delas chegam ao estado de uma verdadeira indigência. Nesse sentido, Castel (1998) nos alerta que, quando um indivíduo rompe com sua comunidade de origem e se sente desgarrado, a ponto de se sentir estranho ou ser estranho pelos outros que o rodeiam num lugar que antes era familiar, ele vive um processo que esse pesquisador nomeia de desafiliado. Nessas condições, sua noção de vínculo torna-se profundamente comprometida em termos de uma cidadania possível. Situações externas como essas necessitam ser revistas e repensadas, para que se possa criar várias formas de convivência, pois uma sociedade humana não pode deixar de adotar seus filhos e suas filhas. Mas quantos compatriotas estão aí jogados na rua ou na sarjeta? Quanto a isso Gadotti (1998:107) comenta: “Amar uma criança é amar todas as crianças, também a criança espancada, violentada, vítima da sociedade injusta (...) Não posso realmente amar plenamente meu filho enquanto existirem tantas crianças vítimas de violência.” Contraposições entre um olhar fragmentado e uma perspectiva de redes sociais Como podemos construir um mundo mais humano se optarmos pelo isolamento social? Dia após dia, fica mais evidenciado que aquela forma tradicional de se pensar o trabalho social onde cada um ficava isolado no seu setor -, atuando como se fosse o único trabalho possível de se realizar, não produz resultados que possam contribuir para uma vida em coletividade. Mesmo porque, no contexto atual, as instituições já não contam com as condições de trabalho que tinham até há alguns anos atrás, quando o assistencialismo e as medidas repressivas eram as principais estratégias para tentar conter níveis elevados de fome e de pobreza. Nesse início de século, constata-se que a idéia de um pretenso especialista, capaz de deter todos os conhecimentos possíveis de uma determinada área científica, vai se tornando cada vez mais inviável, quando se pensa no resgate e no fortalecimento de uma sociedade civil, capaz de responsabilizar-se pelos rumos políticos, culturais e econômicos do seu povo. O profissional especializado numa única visão “técnica” corre o risco de tratar sua clientela de forma fragmentada, setorizada e desconexa em relação ao mundo social mais amplo. Dentro dessa lógica, funcionam mais como adaptadores do que como agentes de transformação social. Com isso, não se nega a importância de que se desenvolva uma certa especialidade ( Demo, 1997) numa determinada linha de trabalho ou de criação. Do contrário, pode-se perder as noções de fronteiras que distinguem os diferentes campos do conhecimento. Trabalhar de forma interdisciplinar, em que se trocam saberes, crenças e experiências diferentes, não significa perder a própria identidade. Outro problema sério do especialista é sua aspiração em se meter a decidir a vida dos outros. Ao se nomear e ser nomeado de “técnico” assume uma postura de tentar prescrever, prever e predizer a existência das pessoas, sem considerar a história, as necessidades, os desejos e o pensamento de um ser humano que comparece diante de si. Esse verdadeiro vício institucionalizado gerou relações de dependência entre profissionais e pacientes em vez de construir relações de cooperação, de emancipação, de reciprocidade e de responsabilidade pessoal e coletiva. Diante dessas constatações, propõe-se aos educadores sociais que devolvam aos sujeitos do seu atendimento a competência que eles têm para pensar e entender seus próprios problemas e sofrimentos, evitando assim, que fiquem submissos à perspectiva de um outro que, supostamente, teria a plena capacidade de definir suas vidas. Essa possibilidade só se efetiva em espaços de conversação, onde segredos e demandas sejam revelados e compartilhados por todos os participantes, de uma maneira sincera e num clima de confiança e de ética coletiva. Nesse contexto educativo, o trabalhador social se posiciona como um promotor de encontros, onde articula redes de apoio e de ajuda mútua. No entanto, deve capacitar-se para escutar o dito ( Habermas, 1989), ou seja, mais do que ouvir o falado, deve escutar o dito – aquilo que está por trás do aparente ou do manifesto, pois apresenta níveis mais profundos de compreensão. Com
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essa meta, busca-se compreender o outro para que ele se compreenda e, com isso, toda rede que participa do processo possa elaborar suas próprias reflexões críticas. Contudo, torna-se fundamental o desenvolvimento de uma perspicácia, que habilite o educador social a formular boas perguntas, com o intuito de estabelecer diálogos que provoquem novas construções, ou seja, propostas e ações que vão além do que já se conseguiu construir. Estamos num momento histórico onde se busca uma nova visão de mundo, em que as coisas sejam vistas nas suas diversas interações e trocas constantes e simultâneas, passando por permanentes momentos de conflitos e de sínteses ou acordos provisórios. Nesse sentido, não se concebe o caminho da vida como uma mão única, e acredita-se que para mudar é necessário mudar-se, para transformar é necessário transformar-se e para inovar é necessário inovar-se (Demo, 1997). Nesse sentido, um pensamento em rede substitui um pensamento fragmentado: Todavia hoje temos grandes dificuldades para incorporar o ponto de vista implicado na metáfora da rede, tanto no nível das organizações propriamente ditas como da sociedade em seu conjunto. A maioria das pessoas seguem pensando-se como indivíduos isolados (partículas elementares) e como parte de múltiplas redes de interações: familiares, de amizade, laborais, recreativas ( ser membro de um clube), políticas (formais: ser membro de um partido; informais: ser votante, simpatizante de uma organização), culturais (pertencer ou participar atualmente de uma instituição cultural ou educativa ), informativas (ser leitor, escritor ou produtor em meio de comunicação) etc. As disciplinas científicas seguem em muitos casos pensando em termo de compartimentos estanques e territórios exclusivos, crendo-se independentes da cultura e da sociedade que a nutre (Najmanovich, 1995:61). Por outro lado, o trabalho interdisciplinar não exclui o saber popular ou outras formas de saber. Antes de tudo ele é inclusivo. Sendo assim, num grupo de trabalho que se propõe trabalhar de forma aberta e cooperativa, todos os atores envolvidos devem participar de forma ativa. Num trabalho com crianças e adolescentes, por exemplo, eles devem opinar e cooperar na construção das propostas e das definições que dizem respeito ao seu ambiente educativo e social. Por outro lado, toda a sua rede social (familiares, amigos, vizinhos, movimentos sociais e culturais, etc) devem comparecer nas discussões sempre que for do interesse da comunidade em questão. Isso significa que as mudanças se darão em rede e não de forma isolada. Aliás, o pensamento em rede não crê que possa ocorrer uma verdadeira transformação de forma segmentada. Por muito tempo acreditamos que deveríamos mudar os denominados “desviantes” da sociedade, sem alterar os demais sistemas que participavam da vida desses indivíduos. Segundo a visão tradicional, teríamos que recuperá-los, reintegrá-los e readaptá-los, pois a família, a escola, a indústria e a sociedade, dentre outros parâmetros sociais, eram concebidos como harmoniosos (Marques, 1993 e Souza Patto, 1993). Dentro da perspectiva de redes sociais, essas idéias exclusivistas não encontram eco. Contudo, essa idéia não impede que haja momentos mais distintos, em que os diferentes participantes possam aprofundar suas questões mais específicas. Não podemos cair na armadilha de adotar posturas extremas, como a defesa de um coletivismo ou de um individualismo. Temos que buscar sínteses construtivas, embora tenham caráter provisório. Em seguida, passo a considerar como esses processos podem ocorrer nos níveis pessoal, institucional e comunitário, com o intuito de oferecer aos educadores sociais alguns instrumentos de trabalho.
A importância das redes sociais no contexto pessoal, institucional e comunitário Como fora comentado anteriormente, estamos presenciando processos sociais complexos, que têm contribuído para a segregação, apartação e isolamento das pessoas. Quando um indivíduo, por exemplo, perde seu emprego e não enxerga alguma possibilidade próxima ou um apoio social para retomar sua capacidade produtiva, ele sente-se desvalorizado, ignorado e desgarrado. Essa situação pode afetar sua auto-estima e torná-lo depressivo. Alguns estudos têm demonstrado que o ser humano tende a adoecer quando percebe que sua rede social foi reduzida ou rompida nos campos da amizade, do trabalho, da família, da cultura, da comunidade, do lazer, da vizinhança, do estudo e dos acessos aos serviços de saúde. Porém, quando o sujeito sofre uma redução significativa do seu vínculo em uma dessas áreas, mas encontra suporte afetivo, material, religioso e solidário em outros espaços da sua rede de relações,
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ele tende a enfrentar seus problemas e sofrimentos com maior habilidade, criação e segurança, pois se percebe incluído e reconhecido na sociedade em que vive. Gostaria, portanto, de ilustrar a aplicação dessa metodologia a partir de uma experiência que vivi, no ano de 1999, com o Grupo de Apoio às Entidades que Atuam com Meninos e Meninas com Vivência de Rua – GIRARUA, de Belo Horizonte/Minas Gerais. Na época, fui convidado por esse grupo, constituído por entidades governamentais e não-governamentais, para construirmos um projeto político-pedagógico para a abordagem de crianças e adolescentes em situação de rua no centro da cidade. Esse projeto levou em consideração o fato de que as diferentes organizações que compunham a rede de atendimento do GIRARUA adotavam posturas bastante distintas durante os contatos com essa população de rua, tendo em vista as diferentes correntes religiosas, ideológicas e partidárias que participavam do grupo. Os próprios educadores sociais que compunham o GIRARUA, nas suas conversas formais e informais, perceberam que não seria possível desenvolver um trabalho político e social sem uma certa convergência das suas metas e objetivos, pois tinham clareza de que uma prática fragmentada, esfacelava não só os destinatários das suas propostas, mas também todo os agentes envolvidos nessa questão. Diante dessa constatação, foram realizados vários encontros para se discutir aspectos conceituais e metodológicos sobre o tema. Num determinado momento do processo, verificamos que não tínhamos fôlego e nem instrumentos organizados para a elaboração de um projeto político-pedagógico, devido a falta de um suporte teórico mais consistente, quando avaliamos que as diferentes posições seguiam pensamentos científicos diferenciados. Tal impasse gerou um certo desconforto no grupo: “E aí, vamos abandonar o nosso projeto inicial? Temos outra alternativa a ser criada?”. De repente, um participante do grupo disse: “Por que não tentamos construir alguns princípios e diretrizes para nortear nossas ações junto à abordagem de rua?!”. Essa proposta provocou debates relevantes, e, como outros participantes já haviam participado da construção de uma iniciativa semelhante junto às moradias de crianças e adolescentes com trajetória de rua, a aprovação da idéia foi unânime entre os participantes. Essa situação, aqui sumamente relatada, mostra como a resposta do grupo está no próprio grupo. Minha atuação como coordenador desse episódio se limitou a sistematizar e problematizar, coletivamente, a organização de um documento que nomeamos Princípios e diretrizes da abordagem de rua para educadores sociais que atuam junto a crianças e adolescentes no Município de Belo Horizonte, Minas Gerais. No entanto, ficou evidenciado, para todos os agentes envolvidos, que esse documento não representa uma versão final do processo. Outras construções emergirão desse ponto de partida. Tal conclusão foi retirada em assembléia, e estabeleceu-se que essa nova metodologia será avaliada semestralmente com a participação dos destinatários, visando as melhorias no atendimento e a formalização de subsídios para um projeto político-pedagógico do GIRARUA. Tendo em vista estas constatações, cada vez mais tem-se acreditado que a tentativa de fortalecimento dos vínculos das nossas redes pessoais, sociais e com o ecossistema mostra-se como uma maneira de viver, que precisamos tecer para que haja mais saúde entre as pessoas e melhoria das condições de vida do planeta como um todo. Nesse sentido, trata-se de religar tudo aquilo que foi desconectado. Um pesquisador argentino chamado Sluzki (1997), que trabalha com esse assunto, nos dá vários exemplos sobre essas questões em seu livro A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. Nesse trabalho, o autor apresenta alguns casos de pessoas que migraram para outras regiões ou que se divorciaram e tiveram problemas de saúde, já que encontram dificuldades de restabelecer novos laços sociais e afetivos. Isso pode acontecer também em outras circunstâncias quando, por exemplo, um trabalhador se depara com a efetivação de sua aposentadoria, um estudante chega ao término de um curso escolar ou um adolescente em conflito com a lei se vê condenado ao internamento por medida judicial. Diante dessas possibilidades, o melhor caminho é tentar preparar o sujeito para enfrentar esses desafios e, simultaneamente, mapear e articular sua rede de apoio. Obviamente, dependendo da história pessoal e social de cada pessoa, as reações são diferenciadas. Alguns indivíduos conseguem passar por situações constrangedoras sem sofrer demasiadamente e encontram recursos internos e externos para se reorganizarem e recomporem suas energias de forma surpreendente. Outros já se abatem e levam mais tempo para retomarem suas vidas, porém alguns entram em quadros de profundo sofrimento e podem recolher-se na solidão. Nessa multiplicidade de características individuais, podemos observar também que existem pessoas para quem basta um consolo e um abraço carinhoso para reerguê-las. Entretanto,
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encontramos aqueles que exigem mais atenção. Enfim, são inúmeras possibilidades que precisamos reconhecer e respeitar, considerando a diversidade do ser humano. Quanto a isso Sluzki nos ensina: De fato, o “apoio social” é a razão de ser de inúmeros grupos de autogestão e auto-ajuda de pacientes e de familiares de pacientes que sofrem de transtornos físicos ou emocionais crônicos; os programas de hospitalização parcial, ou hospital-dia, contêm, como um de seus mais importantes componentes, a possibilidade de favorecer o desenvolvimento e a consolidação de uma rede estável de relações informais e a aprendizagem ou reaprendizagem das habilidades necessárias para estabelecer, nutrir e manter relações sociais ativas; a “integração social” é o objetivo de boa parte dos programas de prevenção terciária para pacientes psiquiátricos crônicos; e a noção de “experiência psicossocial reabilitante” fundamenta as filosofias terapêuticas dos programas mais avançados para adolescentes com problemas de adaptação e comportamento. ( Sluzki, 1997: 15-16) Como se nota, o apoio mútuo entre pessoas e grupos representa o melhor caminho para se construir alternativas pessoais e sociais, que possam trazer bem-estar para todos os atores envolvidos. No entanto, não podemos ser ingênuos e acreditar que todas as redes existentes estão organizadas e mobilizadas para esse fim; pelo contrário, temos constatado uma certa expansão das redes envolvidas com corrupção, com narcotráfico e com prostituição infantil, dentre outras. São redes articuladas para satisfazer a lucratividade de alguns privilegiados e que não apresentam um sentido coletivo de valorização da vida. Sendo assim, quando buscarmos relações que possam promover laços de cooperação, teremos de avaliar onde vamos ativar nossas ligações e onde vamos desativá-las. No que se refere ao trabalho educativo com a criança e com o adolescente, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA propõe uma perspectiva articulada em rede, como se pode observar no art. 86: “A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente farse-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios”. Sendo assim, tanto no âmbito da Lei quanto no campo científico e social, encontramos subsídios para o desenvolvimento de trabalhos socioeducativos, construídos de forma compartilhada e aberta junto aos vários segmentos comprometidos com uma sociedade mais justa para todos. Mas esse processo coloca alguns desafios, que necessitam ser considerados para que possa trazer resultados relevantes. Em primeiro lugar, torna-se necessário avaliar a rede social pessoal enquanto referência difusora dessa idéia. Ou seja, não adianta propagar e defender essa concepção de vida no mundo externo e levar uma vida que não apresente vínculos significativos nos seus diferentes campos: amizade, família, relações de trabalho e participação comunitária. Num segundo plano, devemos indagar sobre a organização da rede interna da própria entidade ou da instituição em que se atua: trabalha-se de forma fragmentada? A hierarquia é composta dentro de uma visão piramidal? A comunicação entre os grupos de trabalho acontece de forma fluida? Os projetos sociais e educativos são construídos com a participação dos destinatários? As decisões são centralizadas? Há um clima cooperativo entre os colegas? As políticas são propostas de forma segmentada ou setorizada? Essas e outras interrogações podem contribuir para a visualização de como está articulada a rede dentro do próprio ambiente de trabalho. Em seguida, buscando uma dimensão mais ampla, deparamos com os demais contextos com os quais pretende-se interligar, diante das diversas frentes de atuação, em busca de trocas, apoio, fortalecimento de propostas sociais e expansão de idéias, crenças e valores a serem compartilhados na coletividade em que se pretende inserir. Nesses momentos, os grupos e as pessoas necessitam posicionar-se de uma maneira aberta e flexível, partindo do princípio que, num trabalho em rede, não existem propostas acabadas, prontas, únicas, perfeitas ou completas quando se trata de seres humanos. Esse aspecto deve ficar claro, considerando que algumas organizações governamentais e não-governamentais, pretensiosamente, tendem a defender seus pontos de vista como se fossem dogmas ou doutrinas a serem seguidos, já que acreditam que têm as melhores proposições. No entanto, isso não significa que cada grupo de trabalho deva abrir mão de seus ideais e de suas diretrizes, mas devem ter a humildade necessária de quem busca uma convivência respeitosa e cooperativa com outros seres humanos que, também, sonham e imaginam um mundo melhor.
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Aqui, constata-se um ponto fundamental para a efetivação desses objetivos: a criação de espaços de conversação e expressão coletivas. Esses processos nem sempre se dão de forma muito tranqüila e simples, como está esboçado neste texto . Há momentos de tensão, de conflitos e de discórdias, porém isso não impossibilita que se possam construir consensos e acordos, retirados a partir de diálogos estabelecidos na comunidade em que se trabalha: Em algum momento, a partir desses processos e como parte dessas conversações, se produz um ato reflexivo através do qual esses grupos humanos se vêem a si mesmos, definem um campo de interesses, formalizam suas preocupações e suas práticas, suas linguagens e suas estratégias, traçam uma borda ou uma fronteira ao redor de si mesmos, propõem objetivos, distribuem funções, fundem, enfim, a si mesmos, diferenciando-se de outros.( Pakman, 1995: 297) Com essa configuração, construir-se-á uma identidade que é coletiva, mas que também é pessoal e institucional. São vários níveis inter-relacionais que atuam simultaneamente, ora dando um sentido de pertencimento a um grupo maior, ora dando um sentido de diferenciação ao sujeito que participa dessa dinâmica. Em resumo, deve ser um espaço onde caibam todas as dimensões possíveis de expressão no território em que se atua, porém sem a perda da referência social e pessoal. Do contrário, não seria uma vida em rede, mas uma alienação coletiva que segue uma única maneira de pensar e de agir. Diante dessas breves considerações, parto para uma breve conclusão sobre os apontamentos levantados nesse texto. Breve conclusão Em síntese, a idéia e a prática de trabalhar em redes sociais propõem uma ruptura com o pensamento fragmentado e sua prática setorizada. Trata-se de uma tentativa de estabelecer um novo olhar diante do mundo em que estamos vivendo, com vistas a contribuir para a modificação desse quadro de extrema pobreza e miséria apresentado nos últimos anos, ao consolidarmos processos de organização da coletividade humana. Sabemos que a divisão social representa um dos principais pilares de sustentação do capitalismo nas suas diversas dimensões produtivas e reprodutivas. Considerando o atual quadro social de altos índices de inclusão marginal, não se vislumbra outra perspectiva a não ser o resgate dos vínculos sociais e da sociedade civil como um todo – por meio da construção de redes sociais – enquanto estratégia de retomada de uma vida coletiva e solidária. Essa construção não se efetivará sem grandes desafios, pois contradiz a lógica do sistema dominante. No entanto, esse argumento não serve como justificativa para que seres humanos permaneçam desgarrados do nosso tecido social. Sendo assim, que se façam laços e se constituam muitos nós nas redes que podemos e devemos tecer. (Fonte – UDE, Walter. Redes sociais: possibilidade metodológica para uma prática inclusiva. In: Carvalho, ª et al. (org.). Políticas Públicas. Belo Horizonte, Editora UFMG/PROEX, 2002. Cap. 5, p. 127-139)
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BIBLIOGRAFIA BRASIL Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, Belo Horizonte: FCC, 1990 CASTEL, Robert. Os marginais na história, Ser Social 3: Revista do Programa de PósGraduação em Política Social da UnB, Brasília, n. 3, p. 55-66, jul/dez, 1998. DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social, Rio de Janeiro: FGV, 1999. DEMO, Pedro. Conhecimento moderno, Petrópolis: Vozes, 1997 GADOTTI, Moacir. Amor Paterno: o quanto é necessário, o quanto é insuficiente. In: SILVEIRA, Paulo (Org.). Exercício da paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GUARÁ, Isa M. Ferreira da Rosa et al. Gestão municipal dos serviços de atenção à criança e ao adolescente. São Paulo: IEE/PUC-SP; Brasília: SAS/MPAS, 1998. HABERMAS, Jurgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. MARQUES, Walter Ernesto Ude. Produção social da criança e do adolescente marginalizados. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. MIERMONT, Jacques et al. (Col.). Dicionário de terapias familiares: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. NAJMANOVICH, Denise. El lenguage de los vínculos: de la independencia absoluta a la autonomia relativa. In: DABAS, Elina; NAJMANOVICH, Denise(Comp.). Redes: el lenguage de los vínculos. Buenos Aires: Paidós, 1995. PAKMAN, Marcelo. Redes: uma metáfora para práctica de intervención social. In: DABAS, Elina; NAJMANOVICH, Denise (Comp). Redes: el lenguage de los vínculos, Buenos Aires: Paidós, 1995. SLUZKI, Carlos E. A rede social na prática sistêmica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. SOUZA PATTO, Maria Helena. A produção do fracasso escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
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VIVER EM PAZ Píerre Weil Muitos de nós sonhamos com uma existência plena de felicidade, paz e harmonia. Embora esta paz se encontre ao nosso alcance todo o tempo, poucos são os que sabem realmente viver em paz, pois ignoram onde ela se encontra. Muitos são os que a procuram no companheiro, no marido ou na esposa, nas honrarias de um título de doutor ou de alto executivo, num partido político, numa ideologia, no Japão ou no Himalaia. Elas acabam não encontrando e continuam infelizes, brigando com todo mundo, procurando refúgio num excesso de atividade e trabalho febril, acabando estressados e doentes. Hoje, são conhecidas as áreas em que se pode atuar para encontrar esta paz que perdemos. Poucos são os pais e educadores contemporâneos que possuem estes conhecimentos e estão realmente em condições de transmiti-los aos seus filhos ou educandos. Onde podemos encontrar paz e serenidade? O texto a seguir é um caminho em direção à paz. Requer disposição e disciplina para seguir as indicações e conclusões destas descobertas. Elas estão ao alcance de qualquer um. As três ecologias e as três consciências Existem três direções nas quais podemos enxergar a Paz. Cada uma delas necessita de uma forma de consciência e de um tipo de ecologia. A primeira é consigo mesmo, ou melhor ainda, dentro de cada um. Há momentos em que estamos em paz e há outros em que estamos tensos e agitados, nem sempre sabendo o porquê. Há, por conseguinte, necessidade da consciência individual para definir e localizar a paz dentro de nós mesmos, para em seguida dizer como alcançá-la. É o que se chama de ecologia interior ou ecologia do ser, que se apóia na consciência individual. A ecologia individual é o estado de harmonia do ser pessoal. A segunda direção é a Paz com os outros. Esta paz também é instável nas nossas relações com marido, mulher, amigos, colegas, pais e filhos etc. Como se caracteriza esta paz e como torná-la estável é uma questão de ecologia social, ou seja, de harmonia com a sociedade e dentro dela. A ecologia social pressupõe, exige e depende da consciência social de cada cidadão e de uma consciência social coletiva maior do que a soma das consciências individuais. Enfim, existe a Paz com o meio ambiente em que vivemos, com a natureza em torno de nós. Poucas pessoas hoje têm uma idéia clara de que jogar o lixo num riacho ou usar um spray consiste numa violência para com a natureza, e de que é uma forma de contribuir para o nosso próprio extermínio. A Paz na ecologia ambiental, e como contribuir para ela, é a terceira questão essencial para vivermos com qualidade. A ecologia ambiental é um estado de equilíbrio dos ecossistemas. Este equilíbrio, ao que tudo indica, é uma expressão da Consciência Universo. Com a intervenção destrutiva, pelo ser humano, no equilíbrio ecológico, foi e continua sendo indispensável o despertar da consciência ecológica individual em cada cidadão do planeta. Roda da Arte de Viver – A interdependência das três ecologias A Roda da Arte de Viver nos mostra o quanto são interdependentes os diferentes tipos de consciência, de ecologia e de vivência da paz. No centro dela se encontra a consciência do próprio universo, ou universo autoconsciente. Vamos então iniciar com a Arte de Viver em Paz consigo mesmo.
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Ecologia do Ser a Arte de Viver em Paz Consigo Mesmo Como já expressamos anteriormente, sabemos que muitos procuram a Paz fora de si. Para descobri-la, precisamos saber que isto exige uma tomada de consciência de onde e como encontrá-la. Há três grandes espaços do nosso ser mais íntimo, onde podemos encontrar a paz: o nosso corpo físico, o nosso espaço emocional e a nossa mente. Vamos, para cada um destes níveis, mostrar como, de maneira bem concreta, podemos experienciar e vivenciar a paz. A Paz do Corpo A paz pode ser vivenciada através do relaxamento. Vivemos constantemente numa agitação frenética. Emoções como raiva e ciúme, criam tensões no nosso corpo. A melhor resposta é o relaxamento. Relaxamento se aprende. Você pode realizar a experiência agora, durante esta leitura. Basta para isto fechar os olhos, ficar bem à vontade, fazer umas três respirações profundas, soltar os músculos, imaginar que você está num lugar ideal de descanso, como uma praia ou uma rede na montanha. Fique uns dez minutos neste estado relaxado. Tome consciência do seu estado físico. “Bem estar”, “descontraído”, “em paz”, “solto”, “repousado”, são, entre outras, as declarações dos que estão saindo de um relaxamento. No caso de você ter gostado, convém fazer um curso de relaxamento ou de ioga. Sua vida cotidiana vai mudar se você resolver praticar relaxamento todos os dias, de manhã e de noite. Esta melhora será muito maior se você tratar da fome das tensões musculares: as emoções que não te fazem feliz. É disto que vamos tratar agora. A Paz do Coração Por que e como lidar com as emoções que te incomodam? Se você quiser despertar a paz do seu coração, aprenda a lidar com essas emoções. Estudos das causas do estresse indicam tais emoções como sendo as suas grandes causadoras. Quais são essas emoções? Podemos defini-las como as que causam conflitos com os outros e para si mesmo. São as expressões internas e externas das nossas neuroses. Uma boa definição do neurótico é a que o descreve como uma pessoa que sofre e faz sofrer os outros; e o que faz sofrer os outros, senão o ciúme, o apego exagerado às coisas, pessoas ou mesmo idéias, a rejeição e a raiva, o orgulho e a indiferença? Nas próximas semanas observe bem você mesmo e os outros ao seu redor. E veja se o que está sendo questionado aqui não corresponde a uma grande verdade. Como então lidar com estas emoções, já que elas são tão destrutivas? Grande parte da humanidade costuma se deixar levar por elas, perdendo o autocontrole. Tomemos o exemplo da raiva. As pessoas gritam, ofendem, magoam, muitas vezes a quem amam, e depois se sentem culpadas e sofrem. Existe uma terceira alternativa, uma espécie de caminho do meio. Em vez de soltar a raiva ou de dominá-la, o melhor é tomar consciência dela e deixá-la passar, como uma nuvem de tempestade que passa e deixa o céu azul e o sol brilhando novamente. É claro que você precisará de certo tempo, algumas semanas ou meses para conseguir bom resultado. Quanto mais cedo, você se tornará um ser livre das emoções pesadas. A verdadeira liberdade é esta. No início , a gente se esquece, mas aos poucos acaba constatando que chegou ao ponto de ver a emoção chegar. Você poderá dizer com um certo senso de humor: “lá vem ela de novo!” Este será um excelente sinal de sucesso. Você não pode se livrar de todo da raiva, mas pode fazer com que ela transfome em sentimento de amizade ou mesmo de amor. E aos poucos, isto se transformará numa segunda natureza. Você começará a irradiar paz e serenidade em torno de você, sobretudo se paralelamente você praticar o relaxamento diário do corpo. Você obterá mais alegria e harmonia, se além de lidar com estas emoções, você cultivar altos sentimentos humanos como alegria, amor, compaixão e eqüidade. A alegria, por compartilhar
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felicidade com as pessoas. O amor, por querer a felicidade das pessoas ao seu redor. A compaixão, significando o sentimento e o ato de ajudar o outro a aliviar o sofrimento. E a eqüidade, no tratamento igual a todos os seres do mundo, sem preferência por um ou outro. Assim você terá adquirido a paz do coração, além da paz do corpo. A Paz de Espírito Mas mesmo tendo adquirido a paz do corpo e a paz no nível das emoções, isto é, a paz de coração, a sua mente continua agitada, gerando uma hiperatividade no mundo externo e uma invasão, para não dizer uma inflação, de pensamentos, idéias, imagens, formas, símbolos, memórias, que desfilam numa dança incessante. No fim do dia você só tem uma vontade: ir para a cama e dormir. Esta é a atividade típica da sua mente com as suas infinitas produções e funções bastante úteis para o nosso cotidiano. A mente nos permite raciocinar, lembrar, apreciar, comparar, julgar, decidir, avaliar, nos defender, ou melhor, defender a nossa existência. Só que às vezes ela nos atrapalha por funcionar demasiadamente, sobretudo se fomos educados para sermos intelectuais e hipertrofiamos esta função. Embora seja uma atividade normal do espírito, em certas ocasiões a mente gera emoções destrutivas. Basta, por exemplo, lembrar-se de um inimigo para você ficar com raiva. Com isso, perde-se a paz de espírito. A atividade da mente, gerada pelo espírito, acaba obstruindo a nossa via de acesso à paz natural característica do próprio espírito. Resultado: perdemos o controle de nós mesmos. Mais ainda, existe um aspecto muito sutil do pensamento. É próprio de sua natureza tudo dividir. Particularmente, o conceito de “EU” divide a nossa percepção em duas partes: eu e o mundo. O espaço interior e o espaço exterior. Você e os objetos. E assim por diante. Na realidade, esta divisão é ilusória. A ciência nos ensina que tanto o ser humano como todos os objetos e o mundo ao seu redor são constituídos de energia. Da mesma energia. Assim sendo, nada é separado neste nível de compreensão da verdadeira natureza das coisas. Esta ilusão ou fantasia é que constitui a causa primordial de todos os nossos problemas. Por causa desta miragem da separação, nós nos apegamos a tudo que nos dá prazer, evitamos ou rejeitamos o que nos causa dor, e ficamos indiferentes ao que não nos causa nem prazer nem dor. Isto se refere a coisas, pessoas ou mesmo idéias. Esta é a raiz da raiva, da possessividade e da indiferença. Por exemplo, porque estamos percebendo o mundo como exterior a nós, exploramos a natureza até não sobrar mais nada. A possessividade dos madeireiros, seu apego ao lucro sem fim, causam a devastação das florestas tropicais. Mas pode-se observar o mesmo apego e suas conseqüências nefastas bem junto de nós mesmos, dentro de cada um. O exemplo mais clássico é o que acontece no início de um namoro. Ele e ela se encontram pela primeira vez; trocam carinhos, acham gostoso, querem a continuidade do prazer À medida que o outro não atende a todas as suas expectativas, o apego vai se manifestando sob várias formas. Eles vão ficar ansiosos e com medo de não se encontrarem ou com ciúmes por ignorarem se existe outra pessoa. Se um chegar muito atrasado ao encontro o outro ficará com raiva ou, no mínimo, ressentido. Se soubessem que não estão separados, mas originados e constituídos da mesma essência, o próprio apego cairia por si só, pois é a energia se apegando a ela mesma. Na espera do novo encontro, cada um cuidaria das suas coisas e dos seus afazeres, sem expectativa nem medo, com abertura para o que vier a acontecer. Se cada um vier, será uma nova alegria; se um falhar, não vai haver decepção pois não se esperou nada. Como então dissolver esta ilusão de separabilidade, já que ela é a fonte última de todo sofrimento? Isto pode ser feito através da meditação diária, uma ou duas vezes por dia, de manhã e/ou de noite. Meditar consiste em aquietar-se, recolher-se, adentrar-se. Deixar passar os pensamentos e as emoções que aparecem na mente. Neste ato de tranqüilizar a mente, aparece a verdadeira natureza do Espírito em vivência a indivisibilidade do espírito pessoal e do espírito universo. O cosmo é autoconsciente; a nossa consciência percebida pela mente como individual é a
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Autoconsciência do Universo. Ela é representada no meio do círculo da Arte de Viver em Paz – mais adiante neste texto. Inexiste separação entre as duas consciências. Elas são uma só, absolutamente indivisíveis. Existem muitos cursos de meditação à sua disposição. Faça uma escolha prudente e lúcida. Antes de tomar uma decisão, informe-se junto a amigos ou conhecidos, sobre a idoneidade e a competência do professor ou da instituição que pretende escolher. A verdadeira paz de espírito encontra-se no espaço entre dois pensamentos. Lá, de onde saem e para onde voltam os pensamentos. É este espaço que a prática da Meditação lhe ajudará a descobrir de modo vivenciado. Para você ficar mais consciente ainda do que é a Paz consigo mesmo, e de como você se situa em relação a ela, preencha agora a Escala de Auto-avaliação, a seguir: ESCALA DE AUTO-AVALIAÇÃO Nunca Raramente Às vezes Alegria e bom humor fazem parte 1 2 3 do seu dia-a-dia? Você se sente harmônico, 1 2 3 equilibrado, consigo mesmo? Você decide e age com lucidez e 1 2 3 consciência? Pisando no seu calo, você 1 2 3 conserva a serenidade e paciência? Você se sente bem ajudando os 1 2 3 menos favorecidos? Diante de bonitas paisagens você 1 2 3 entra em estado de contemplação? Você cuida do bem estar do seu 1 2 3 corpo? O seu coração está aberto para 1 2 3 aprender a amar incondicionalmente? Você se sente em comunhão com 1 2 3 a Natureza ou com Deus? Você cuida da sua saúde física, 1 2 3 emocional, mental e espiritual?
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Avaliação Verifique agora a quais perguntas você respondeu nas categorias 1 e 2. Estas categorias indicam que você precisa examinar a sua postura, refletir, reler o texto sobre a Paz Consigo Mesmo e começar ou aprofundar as práticas indicadas. E uma oportunidade de fazer uma revisão de vida e ter acesso a paz e serenidade constantes. Está nas suas mãos. Ecologia Social - A Arte de Viver em Paz com os Outros Se despertarmos a paz dentro de nós, estaremos aptos a viver em paz com os outros, isto é, com os familiares, os amigos, e assim por diante. Mas a ecologia social exige de nós uma consciência e uma vigilância constantes, se quisermos ser verdadeiros cidadãos do mundo em que vivemos. Assim sendo, precisamos levar em consideração a cultura que nos influencia o tempo todo, a vida social e política e, além disto, os aspectos econômicos como, por exemplo, a nossa relação com o dinheiro.
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A Paz na Cultura Precisamos, em primeiro lugar, definir o que entendemos por cultura de uma determinada sociedade. A cultura é um conjunto de normas, leis jurídicas, costumes, produções artísticas e hábitos que caracterizam uma sociedade. A cultura dita a maneira de ser de cada um dos seus cidadãos. Por exemplo, enquanto o inglês, para cumprimentar um amigo, acena com a cabeça, o indiano se curva e junta as mãos, o francês dá as mãos, e o brasileiro dá um abraço com o seu corpo inteiro. A cultura, por conseguinte dita o que é e o que deve ser considerado como normal. Ora, nem tudo que é visto como sendo normal é sadio e construtivo. Por exemplo, fumar era ainda há pouco tempo considerado como normal, inclusive o fato de aspirar a fumaça dos outros. Hoje o ato de fumar é considerado como anormal e nocivo. Há muitos outros hábitos ou mesmo leis que ditam normas, mas são na realidade nocivos à saúde, à harmonia e à paz. Por isso, cuidar da paz na cultura exige do cidadão uma vigilância constante e permanente, em duas direções simultâneas. De um lado, a pessoa precisa constantemente estar consciente dos aspectos em que ela mesma se deixa levar pela cultura em que vive, decidindo se isto lhe convém do ponto de vista ético. De outro lado, naquilo que não convém seguir, do ponto de vista da ética, a pessoa poderá, se assim o quiser ou puder, atuar para modificar os aspectos nocivos da cultura. É normal, por exemplo, comer açúcar refinado. Mas se você descobrir que isto afeta os seus dentes e seus ossos e que o açúcar mascavo é mais saudável e nutritivo, será um ato razoável e consciente limitar-se a consumir açúcar mascavo. Outro exemplo. Hoje é normal assistir a programas violentos na TV. Mas se você descobrir que isto o torna pessoalmente tenso e lhe tira a paz interior, você pode decidir parar de assisti-los. Essa é uma decisão pessoal. Mas você pode ampliar o alcance de sua reação. Pode decidir, por exemplo, aderir a um movimento para reduzir estes programas ou mesmo procurar o deputado da sua região pedindo para apresentar um projeto de lei neste sentido. Tudo isto poderá ser feito de modo calmo e harmonioso, sem perder a Paz. A Paz na Vida Social e Política Desde muito cedo, na nossa infância, somos estimulados a disputar vagas, prêmios, medalhas, lugares com irmãos, colegas de escola e depois de trabalho. Vivemos num mundo de competição que leva a conflitos, violência e guerras. Se você quer contribuir para um mundo de paz, comece por examinar o quanto você mesmo se deixa levar por esta competição desenfreada. Diminuindo a sua luta pelo poder na família, no trabalho e até nos jogos esportivos, você viverá mais em paz com os outros e poderá dar sua contribuição para a paz social. E, se for pai, mãe ou educador, introduza jogos cooperativos no seu parque de brinquedos, e tire os que remetem à violência e levam a criança a considerar o ato de matar e a guerra como algo normal. Se você quiser ficar em paz com os outros, seja tolerante com quem tiver opiniões políticas e religiosas ou outras idéias diferentes das suas. A Paz Econômica Uma das maiores fontes de conflito e de violência é a disputa da posse de bens materiais, mas particularmente do dinheiro. A preocupação exagerada pela moeda também é responsável pela perda da paz interior – resultado de emoções destrutivas como o apego e a possessividade. Quem passa fome por não ter emprego, tem motivos justos de se preocupar em ganhar dinheiro. Para os executivos, ganhá-lo é uma necessidade vital e fora de qualquer espécie de contestação. Os recursos do planeta não são inesgotáveis como se dizia. Eles também estão se exaurindo rapidamente.
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Já falamos das medidas econômicas que cada um pode tomar para dar a sua contribuição pessoal. Esta contribuição pode ser estendida a ações práticas que dependem de sentimentos de solidariedade próprios à cidadania planetária. Com esta finalidade, vamos considerar a natureza sob três aspectos principais que encontramos em todos os sistemas do Universo: a matéria, a vida e a programação da natureza. A Paz com a Matéria Viver em paz com a matéria consiste essencialmente em viver em harmonia com seus elementos: terra, água, fogo, ar e espaço. Esta harmonia é mais essencial do que estamos pensando, pois nós também somos feitos destes elementos. Se poluirmos a terra com agrotóxicos, os nossos ossos serão poluídos, pois são feitos de terra que o nosso corpo absorve através do cálcio dos alimentos. Do mesmo modo, se poluirmos o ar que respiramos vamos afetar a nossa saúde. O mesmo é verdade para a água. Até o espaço está sendo poluído com irradiações atômicas. Por todas estas razões, viver em paz com a matéria consiste em cada um de nós evitar poluir seus elementos. Se, além destas razões intelectuais, você amar profundamente a Terra, como a Mãe que nos nutre e nos hospeda, então terá conseguido a atitude mais adequada para ser um protetor da natureza. A Paz com a vida O mesmo podemos dizer da vida. Amando-a sob todas as suas formas, você terá o respeito por ela. Respeitá-la consiste em evitar o destruir por destruir. Existem pessoas que deixam de comer carne para não fazer sofrer os animais. Elas se tornam vegetarianas. As Nações Unidas recomendam o regime vegetariano por uma outra razão ainda, a proteção das matas virgens devastadas para cultivar pastos para eventuais candidatos a hamburgers, em vez das culturas de grãos. Segundo cálculos divulgados, diminuindo em 10% o consumo de carne, somente nos EUA, seria o suficiente para alimentar com grãos toda a população faminta do mundo. As razões aventadas para se harmonizar com a matéria, valem também para a vida, pois temos vida dentro de nós, e se trata da mesma vida que existe fora. O mesmo se dá com a informação e a programação do universo. É o que vamos examinar a seguir. A Paz com a Programação da Natureza A tese segunda a qual o Universo é auto-consciente, está caminhando a passos largos nos meios científicos de ponta. Os programas e a informação genética, assim como a nossa própria inteligência são a expressão desta consciência e espírito do Universo. Aceitando esta tese, podemos aplicar o mesmo princípio que usamos para a matéria e a vida. Do mesmo modo que há a mesma matéria e a mesma vida dentro e fora de nós, existe inteligência e plano dentro e fora de nós. Trata-se da mesma inteligência. Por isso, podemos nos perguntar se não será perigoso intervir na programação atômica da matéria e genética da vida, pois esta intervenção está desorganizando a programação e interferindo na inteligência do próprio universo. As conseqüências são imprevisíveis para a própria humanidade. O que está acontecendo com a intervenção na programação atômica já fala por si só. O que dizer então da clonagem? Outras perguntas devem ser feitas. Será que os indiscutíveis benefícios compensam os riscos destrutivos ainda pouco conhecidos? Temos direito de esperar o futuro para poder julgar, sabendo que estamos pondo em risco a vida dos nossos filhos e netos? O que iremos responder a eles, quando nos perguntarem por que não fizermos nada, apesar de termos sérias dúvidas quanto ao risco? Vamos, então, à auto-avaliação da sua disposição em contribuir para a ecologia ambiental.
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Você usa produtos biodegradáveis? Fecha as torneiras ou apaga a luz por causa da ecologia? Ao caminhar no mato, você evita destruir os ecossistemas? Surgindo a oportunidade, você protege a vida dos animais? Você evita jogar lixo e plástico em qualquer lugar? Usa papel reciclado para diminuir o desmatamento? Evita arrancar flores e plantas inutilmente? Compra frutas e verduras orgânicas, sem agro-tóxicos? Apóia movimentos em defesa do meio ambiente? Você liberta pequenos animais presos?
ESCALA DE AUTO-AVALIAÇÃO Nunca Raramente Às vezes 1 2 3
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Avaliação Verifique e faça um exame de consciência nas perguntas onde você respondeu nas categorias 1 e 2. Esta é uma oportunidade de fazer uma revisão da sua maneira de se comportar com a natureza e de contribuir para a Paz. Seja Um Beija-Flor da Paz Diante da magnitude e complexidade dos problemas da nossa época, muitas são as pessoas desanimadas, achando que não têm nem competência, nem poder para resolvê-los. Acham que isto é atribuição de governos, ou de organismos das Nações Unidas. Isto é apenas um aspecto da questão. Outro aspecto pode ser ilustrado por uma fábula indiana. É a história de um beija-flor que está no meio de um incêndio na floresta em que vive. O beija-flor, vendo a floresta pegar fogo, enche o bico d’água num rio próximo e a derrama sobre as chamas. Repete incansavelmente este gesto. Os outros animais zombam do beija-flor e indagam se ele está louco. O pássaro responde: “Sozinho, sei que não vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte. Se todos fizerem o que podem, juntos apagaremos o fogo” Se você quiser realmente viver em paz, pratique as Ecologias do Ser, Social e Ambiental. A sua existência irá melhorar de uma maneira que você nem imagina! Para obter tal resultado, aplique com assiduidade as recomendações desta explanação. Faça a sua parte. Seja um beija-flor da paz! Pierre Weil é educador, PHD em psicologia pela Universidade de Paris, consultor para a UNESCO na área de educação voltada para a paz e reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília (UNIPAZ)
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SEXUALIDADE, DROGA E VIOLÊNCIA Jerusa Maria Figueiredo Netto - PhD. Vive-se atualmente num mundo em que a vida está quase perdendo o seu significado. Não se sabe porque se vive e acha cansativo refletir sobre este tipo de questão. Alimenta-se do que se recebe, sem saber se é bom ou ruim. Não se pergunta sobre o que se quer da vida, muito menos delinea-se um projeto de vida. Reina o imediatismo, o aqui e o agora, sem a menor preocupação com as conseqüências dos atos de hoje que se concretizarão no amanhã. Não é à toa que as enfermidades mais comuns na atualidade são ansiedade (pelo viver), o estresse (de viver), a depressão (no viver). Afinal o que é viver? Por que e para que se vive? O processo vital vai se tornando um labirinto sem saída, transformando a existência numa prisão que escraviza. Multiplicaram-se as crenças, desde as de origens pagãs, greco-romanas, ao esoterismo mais complexo e eclético o que, ao invés de clarificar, apenas destrói os referencias humanizantes e confunde os caminhos que possibilitam o encontro consigo mesmo, com o outro e sobretudo com aquele-que-é: o amor. Amar é estar com, é o prazer de viver sendo e fazendo-se mais humano, no sentir e no existir. O prazer é indispensável no processo de personalização, na integração social, na realização profissional, mas sobretudo na construção dos vínculos amorosos que nos envolvem e nos nutrem, alimentando o ser e o viver. A carência do Amor destrói o prazer legítimo, nega o valor pessoal, anula a auto-estima, cria a ansiedade, alimenta o estresse, deprime e mata. Sem conhecer a saída verdadeira para o prazer de viver, as pessoas acabam encontrando as fontes do prazer ilegítimo, que prometendo afinal o encontro desejado, aparece na forma da promiscuidade sexual, da violência, do uso de drogas, ou seja da agressão contra si mesmo ou contra o próximo, produzindo-se o círculo vicioso do medo, da rejeição, da discórdia, da dor e da morte, processo que começa na negação do outro e que finaliza com a destruição de si mesmo. A Sexualidade é o Dom maior da vida, pois ao encerrar em si mesma o próprio mistério da vida, constrói-se e realiza-se através das funções da reprodução, do prazer e da comunicação/relação, cuja expressão maior é o Amor. No berço da vida, começa-se a aprender a sentir o prazer de viver, que se enraíza na função reprodutiva dos pais, no prazer do cultivo da vida expresso pelos pais. E se realiza na comunicação que constrói os vínculos amorosos relacionais consigo mesmo, com a família, com o meio social. Ao faltar esse berço que se cultiva no prazer nutriente do amor, constrói-se a carência e a frustração, alicerces naturais do uso de drogas e da agressão. O jovem sem referências, cheio de carência e de dores existenciais, torna-se vulnerável ao apelo do prazer ilegítimo e entrega-se facilmente à rede que aprisiona e escraviza a vida. Esse apelo, às vezes, surge com brilhos falsos do amor afetivo-sexual, veja-se bem, não apenas sexual; outras vezes na aprovação grupal que promete a elevação da auto-estima, a segurança e confiança mútua, a amizade. Sem os referenciais históricos das relações saudáveis intrafamiliares, embalado pelo vazio da carência afetiva sexual (amor e prazer sexual), aprisionado na solidão, busca eros (vida) e encontra thanatos (morte), desejando o amor, envolve-se com o ódio; perseguindo o prazer encontra-se frente a frente com a dor. A Sexualidade, dimensão integradora essencial do ser humano, é fonte da vida, proporciona a realização do existir, é o espaço natural do prazer, base intrínseca do projeto de vida constituída pelos pilares da reprodução (às vezes) e da comunicação/relação (sempre). O desenvolvimento da Sexualidade saudável exige o exercício consciente, pleno e constante do Amor, cultivado pelo prazer de ser e estar com, cujo processo resulta na realização do projeto de vida que dá significado à própria vida, uma vez que é alicerçado nos referenciais que apontam para o valor intrínseco do existir. Dessa forma, nós pais, educadores e sociedade em geral estaremos descobrindo e construindo o Amor, fonte legítima da vida. Dessa forma, estaremos dizendo o não definitivo às drogas e à violência, fonte ilegítima de prazer. Só o prazer legítimo constrói o Amor. Só o Amor verdadeiro nutre a vida.
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METODOLOGIA PARA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS Rosângela Corrêa Estamos no século XXI e ainda não aprendemos a resolver os conflitos de forma construtiva, justa e não-violenta. Para muitas pessoas, o conflito é visto como algo negativo e que precisa ser evitado a qualquer preço. Esta idéia existe porque estamos pensando na forma como habitualmente se resolve as coisas no mundo: a guerra, a violência. Daí que identificamos o conflito como algo negativo; quando na realidade o que é negativo é a forma de resolvê-lo. Muitas vezes tentamos fugir dos conflitos, encontrando culpados e nos distanciando das pessoas, e não nos damos conta de que o conflito é algo vivo, que segue o seu curso, mesmo quando fugimos de enfrentar os problemas. Não é estranho que tenhamos esta imagem. Se olharmos bem, a história da humanidade está cheia de guerras e são poucos os modelos baseados no consenso e parceria entre os envolvidos. Se olharmos para a programação televisiva, os jogos (videogame e no computador), os modelos de resolução de conflitos são sempre violentos. Se acrescentarmos a isto a situação de violência estrutural (desemprego, miséria, desigualdades, etc) presente no nosso país e no mundo, teremos o caldo de cultivo perfeito para que os atos de violência sejam cada vez mais um fato cotidiano. Na educação para paz, vemos o conflito como algo positivo e iniludível que deve ser o centro do nosso trabalho. Para isto, trabalhamos com o que, cotidianamente, temos mais perto (interpessoais, intergrupais, etc.) e que chamamos de microanálises, e aprendemos a entender os grandes conflitos (internacionais, mundiais) a que chamamos de macroanálises. A idéia de que o conflito é uma coisa positiva, parte das seguintes considerações básicas: Consideramos a diversidade e a diferença como um valor. Vivemos em um só mundo, plural e em que a diversidade, desde a cooperação e a solidariedade, é uma fonte de crescimento e enriquecimento mútuo. Isto está longe das proposições totalitarista e fascista de homogeneidade, “todos somos iguais”(perante a lei?). Conviver na diferença leva ao contraste e portanto às divergências, disputas e conflitos. Consideramos que através do conflito com as pessoas, analisando os fatos e as estruturas injustas que tentam impor suas normas, é que a sociedade pode avançar em modelos melhores, ou seja, consideramos o conflito como um trampolim para a transformação social. Como podemos educar no conflito? Como aprender a analisá-lo e a interferir nele de uma forma não violenta? Este é o nosso desafio. A seguir daremos algumas pistas para trabalhar nesta direção. 1. Enfoque sócio-afetivo Quando nos aproximamos de temas como a educação para a paz, educação para os diretos humanos e outros similares, o primeiro que nos chama atenção é a importância de encontrar métodos coerentes com os conteúdos a serem transmitidos. A experiência de educação para a paz nos países europeus mostra o aparecimento de um tipo de aluno/a capaz de aprender/memorizar qualquer coisa, incluindo problemas ecológicos, racistas, exclusão social, etc. Quando este aluno/a era abordado sobre a sua atitude frente a estas pessoas ou zonas do mundo que sofriam destes problemas, sua resposta era de “que eu não estou nem ai” ou “eu não tenho este problema”. Saber muito sobre os conflitos de uma zona do mundo, ou o conflito de racismo não pressupõe mudar a atitude da pessoa. Para mudar, foi criado o enfoque sócio-afetivo, ou seja, “vivenciar na própria pele” aquilo que se quer trabalhar, para assim ter a experiência na primeira pessoa que passa a sentir o que se está trabalhando, motivando a pesquisa e desenvolvimento de uma atitude de empatia que leve a mudança de valores e formas de comportamento. Para conseguir isto, cria-se um clima em que cada pessoa viva uma situação empírica, sinta-a, analise-a, descreva-a e seja capaz de comunicar o que a experiência lhe causou.
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Sugerimos os seguintes passos: Criar um clima adequado através de exercícios de criação de grupo, confiança e apreço. Vivenciar/experimentar uma situação, através de uma simulação (ex: júri), um experimento, uma leitura (ex: jornal). Avaliação pessoal tanto do que sentiu como do que aconteceu. Tenta-se generalizar a discussão, compartilhar as impressões comuns, lembrar de experiências da vida real que se conhece. Uma vez conseguida a motivação a partir da vivência pessoal, se recolhe e analisa a informação sobre as causas e os efeitos do problema, passando a tratar o tema a fundo. Compromisso transformador: o que nós podemos fazer desde o nosso espaço e com nossos recursos para ajudar a mudar essa realidade. 2. Prevenção
Normalmente falamos de “prevenção dos conflitos” para fazer a referência de que atuamos antes de acontecer a crise, e de se manifestar na sua forma mais brutal. Entretanto, este termo tem conotações negativas: não faz frente ao conflito, não o analisa nem busca as causas profundas. Por isto falamos de prevenção como o processo de intervenção, que ao anteceder à crise, possibilita-nos: • uma explicação adequada do conflito • um conhecimento das mudanças estruturais necessárias para eliminar as causas • um fomento ou promoção das condições que criam um clima adequado e favoreça relações cooperativas que diminuam o risco de novos problemas, solucionando as contradições, antes que cheguem a se converter em antagonismos. Para isto, podemos desenvolver uma série de habilidades e estratégias que nos permitam enfrentar melhor os conflitos.
2.1 Desenvolvimento da confiança: técnicas e jogos que nos permitam criar um clima de confiança em nós mesmos e nos demais, que nos permitam enfrentar os conflitos sem medo do que o Outro possa pensar, falar ou fazer, colocando sobre a mesa as coisas sem hipocrisia e confrontando-as, dirigindo-as às pessoas diretamente. 2.2 Trabalhar a auto-estima e equilibrar as bases do poder: técnicas e jogos que nos permitam desenvolver o próprio auto-conceito e dos demais, descobrindo, valorizando e saindo à luz para o reconhecimento, também por parte dos demais, de todos os potenciais que temos. Isto permitirá reconhecer e utilizar nossas bases de poder, permitindo-nos enfrentar melhor os conflitos, com recursos suficientes aonde existir um grande desequilíbrio, o que impossibilita negociar e colaborar na busca de soluções mutuamente satisfatórias. Nesse sentido podemos/devemos trabalhar não só os valores individuais, mas também os valores coletivos, por exemplo, os valores das diferentes culturas com que convivemos (rural, indígena, classe econômica baixa, etc). 2.3 Trabalhar a comunicação e a tomada de decisões: jogos e dinâmicas que nos permitam desenvolver uma comunicação efetiva, que realmente nos possibilitem dialogar e escutar de uma forma ativa. Técnicas que permitam um reparto justo da palavra, que desenvolvam os canais de comunicação e que nos permitam não só transmitir as idéias, como também as emoções e sentimentos presentes em todo conflito. Técnicas que nos permitam aprender a tomar decisões consensuadas, de forma igualitária, participativa e não-sexista. Para poder aprender isto é preciso colocar em prática, o que pressupõe ceder parcelas de poder/responsabilidade, e dar espaços para tomadas de decisões. 2.4 Trabalhar a cooperação: estabelecer um tipo de relações cooperativas que nos ensine a enfrentar conflitos entre todos/as, desde o descobrimento de todas as percepções, utilizando a força de todos/as num objetivo comum. Técnicas que nos permitam descobrir e interiorizar que a diferença é um valor e uma fonte de enriquecimento mútuo, que nos ensinam a descobrir os valores do outro/a como alguém com quem podemos colaborar e não como um inimigo a eliminar, porque pensa ou é diferente de nós, e que pode converter-se em um obstáculo para nossos fins.
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3. Ferramentas de análise e de desenvolvimento da criatividade na hora de buscar novas soluções
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Técnicas de visualização: como o próprio nome indica, trata-se de técnicas que nos permitem visualizar o(os) conflito(s) com características próprias: a) considerar não só o aspecto racional mas também o emocional; os sentimentos, que tantas vezes, no conflito, são os que têm mais importância na hora de marcar uma percepção e uma postura. b) Permitirmos nos “distanciar”, a uma distância que nos permita ver as diferentes percepções com menos paixão. c) Colocarmo-nos no lugar das outras pessoas e das outras percepções do conflito para compreendê-las e ter uma idéia mais completa do conflito, assim como desenvolver uma certa empatia que nos predisponha melhor, não só para entender o que sente a outra pessoa, mas também para buscar soluções satisfatórias para ambos. Nos casos de conflitos distantes e que pensamos que não têm nada a ver conosco (o problema entre países ricos-pobres, xenofobia, racismo, etc), permitir, nos aproximarmos deles e os sentirmos como próprios, motivando-nos a tratá-los e a descobrir que vivemos em um só mundo, que temos responsabilidades e coisas a fazer na solução desses conflitos. d) Permitimo-nos, numa espécie de pequeno laboratório, ensaiar soluções e aproveitar ao máximo as potencialidades do grupo/aula que estivermos trabalhando, na hora de ajudarnos a analisar e buscar soluções para os conflitos. Desenvolver a imaginação e romper o bloqueio típico de limitar-mo-nos a pensar que existe uma única solução, normalmente a mais clássica, que tantas vezes temos ensaiado com desastrosos resultados, por exemplo, expulsar o aluno considerado “problema”.
Entre as técnicas de visualização, podemos destacar as seguintes:
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Jogo de Papéis: sugere-se uma situação de conflito e são eleitas as pessoas que serão as protagonistas da situação. Joga-se em tempo real, evitando todo tipo de simulação e dramatização. Os papéis contêm algumas ordens básicas que devem ser cumpridas, e a partir das quais temos de deixar campo livre para o que aparecer inclusive os sentimentos no momento, a partir provavelmente das interações que acontecerem e das referências e experiências passadas. É importante o papel dos observadores, anotando tudo que vêem e escutam: atitudes, frases significativas e respostas que agudizaram ou que moderaram o conflito, como se comunicaram, etc. A observação tem que evitar tudo que seja juízo de valor e/ou opiniões dos observadores. Os jogos de papéis têm que evitar cair no psicodrama, sendo melhor parar e avaliar se for nesta direção. Pode-se utilizar diversas formas com respeito às pessoas no conflito: observadoras, protagonistas ou que joguem no papel contrário ao que têm no conflito. • Jogos de simulação: a diferença com os jogos de papéis é que não funcionam em tempo real, trabalha-se com regras pré-estabelecidas ao princípio. Assim mesmo, as interações entre posições e reações não se vivenciam, a não ser as que forem decidas no plano teórico. Estes jogos são utilizados, principalmente, para trabalhar com estratégias a médio e longo prazo, em que podemos colocar em jogo e contrastar os possíveis problemas gerados pela situação problema. Também servem para analisar conflitos de grandes dimensões (macroanálises). • Dramatizações: dramatiza-se a situação de conflito que se quer trabalhar, permitindo que o resto do grupo a veja de fora. A partir de um determinado momento, dá-se a oportunidade aos espectadores de substituírem os atores que quiserem e, então, ensaiar possíveis alternativas ou soluções para a situação sugerida.
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Marionetes: funciona especialmente com as crianças; é um meio mais próximo e fácil de ser utilizado por elas. Sugere-se uma situação de conflito, fazendo uma pequena obra que a represente, mas sem um final. A elaboração do final da história levará à busca de possíveis soluções para o conflito sugerido. Mapas de conflitos: trata-se de esquemas detalhados que dão um itinerário de perguntas concretas e que permitem considerar, analisar e interferir em todos os aspetos do conflito, fazendo-o visível. Um tipo de análise, a partir da educação para a paz, que separa três aspectos: pessoas, processo e problema. Em cada um deles, e de forma resumida, podemos considerar os seguintes elementos:
Pessoas: Quem está envolvido no conflito e de que forma? Quais são suas bases de poder e/ou influência? Qual é a percepção que têm do conflito e como afetá-las? Processo: Analisar o processo seguido até agora: quem começou o conflito, quais os fatores que aumentaram o conflito, quais as influências moderadoras possíveis, quais as soluções que já foram testadas e com que resultado? Como está a comunicação? Distorções: estereótipos, fofocas, má informação, etc. Problema: Descrever o “miolo”: Quais são os interesses e necessidades que estão por trás da posição em que se mantêm cada uma das partes envolvidas no conflito? Levantar as necessidades humanas básicas e a diferença de valores que terão que ser consideradas para a resolução do conflito.. Fazer uma lista de problemas a serem resolvidos. Analisar os recursos existentes que podem ser utilizados: pessoas que podem ser construtivas (mediadores/as), interesses e necessidades em comum, ou ao menos, que não sejam excludentes; ofertas que estão disponíveis para se fazer algo a respeito do conflito. Jogos: Brincar não é só coisa de criança Através das brincadeiras, nós perpetuamos o tipo de sociedade que queremos, reproduzimos os modelos de socialização, criamos expectativas, formamos conceitos, atitudes e valores, criamos a imagem de mundo que temos. Crescemos e nos “esquecemos” de brincar. As crianças ficam horas na frente de uma televisão ou de um computador, sem tempo para brincar. Muitas críticas são feitas contra a televisão, mas o fato é que ela ocupa um lugar importante dentro da família e serve como referência para crianças e adultos; o problema não é a televisão em si, mas o tipo de informação que ela difunde e que oculta. A banalização da violência constante e permanente na televisão nos deixa impotentes, inseguros ou agressivos e não somos capazes de encontrar soluções para os problemas internacionais, nacionais e/ou locais que nos afeta no dia-a-dia. Aparece a violência física (roubos, homicídios, seqüestros), deixando oculta a violência estrutural, aonde radica as verdadeiras causas da primeira (desigualdades sociais, racismo, concentração de renda, xenofobia, etc). Numa sociedade altamente competitiva, todos os dias precisamos cumprir nossas obrigações com horários e tarefas, sem termos tempo ou vontade de parar, pensar, conversar, para tomar decisões que digam respeito a “minha vida”, a “nossa vida”. Parece que a competição proporciona a motivação necessária para a aprendizagem e o sucesso pessoal, mas o que estamos vendo cada vez mais são pessoas estressadas, deprimidas, sem sentido na vida. O jogo é uma experiência através da qual se conhece a realidade e se aprende modelos de relação social. No entanto, os adultos se esquecem de que o jogo, as formas de jogar, as
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relações que se estabelecem nele, são questões importantes para todos aqueles que se pretende transformar, para as relações humanas e para o modelo de sociedade. Tanto podemos dar alternativas aos jogos já existentes nas horas de ócio, quanto a sua utilização como instrumento pedagógico, lúdico, participativo, horizontal e criativo. O jogo não é só uma forma de diversão, apesar de que a diversão é um dos elementos mais valiosos num jogo, mas a criação de um ambiente de troca entre os presentes que permite estabelecer relações interpessoais mais humanas e gerar uma corrente de sentimentos que impregna a vida diária. A cooperação é básica para relações pessoais harmoniosas, deve ser o objetivo mais importante na educação dos cidadãos, crianças ou adultos. Os jogos como experiência de grupo são um fator importante para sua evolução. Os mecanismos que se utiliza baseiam-se em certos valores, estimulam um tipo de relação ou provocam situações concretas, poucas vezes valorizadas. Por isso, sugerimos alguns jogos que podem ser uma forma motivadora ou facilitadora para contribuir na resolução de conflitos de forma criativa, trazendo a discussão, após o jogo, para situações da vida cotidiana, com problemas ou situações similares, a fim de manifestar os sentimentos e as emoções que tudo isto gera em cada um. Quais são os caminhos para a Paz? Quando compreendemos quem realmente somos, uma transformação total se processa em nossas vidas; o verdadeiro conhecimento vem de dentro de nós mesmos e se transforma na verdadeira experiência do “aprender”. Não existe nenhum poder mais poderoso e responsável do que nós. Não existe nada ou ninguém, em nenhum lugar do Universo, que irá consertar as coisas por nós. Quer consideremos esta alternativa em termos existenciais ou espirituais, em termos masculinos ou femininos, a solução, para nós, é assumirmos a responsabilidade pela nossa vida e viver em interdependência com os outros. Nós não precisamos de inúmeras atividades profissionais, mas apenas do nosso trabalho. Não precisamos de muitos amores e, sim, daqueles que realmente nos satisfazem. Talvez não precisemos de tantos bens materiais, mas de dar realmente valor àqueles que temos, porque eles refletem algo que existe dentro de nós mesmos. Talvez não precisemos nem mesmo de tanto dinheiro, porque muitas vezes o gastamos em coisas e atividades das quais nem sempre gostamos. De forma lenta, porém segura, começamos a descobrir que não precisamos subir a escada do sucesso para sermos felizes, precisamos apenas ser plenamente nós mesmos. Se o fizermos, teremos tudo. Ser consciente significa despertar e adotar um novo tipo de responsabilidade, sendo sincero consigo mesmo e com os membros construtivos da espécie humana. É isto que significa a existência real – estar plenamente desperto em seu corpo, sentindo os seus sentimentos; ser capaz de expressar no mundo o que realmente é; e estar disposto a assumir a responsabilidade pela vida. Em lugar de ver a si mesmo como uma pessoa doente, inepta ou desajeitada ou de viver pensando nos erros do passado ou do futuro, você pode simplesmente confiar em si mesmo de forma absoluta e saber que você escolhe e escolherá tudo o que lhe acontece, tendo em vista o seu próprio crescimento e desenvolvimento. Esta linha de ação devolve dignidade e aventura à vida e transforma até mesmo as circunstâncias mais negativas em oportunidades para o crescimento individual. Agir de acordo com o que se sabe ou se quer é o ato curativo mais poderoso à nossa disposição. A nossa cura está em nossas mãos, à medida que aprendemos a fazer exercícios e a ter uma alimentação saudável; a ser sinceros e profundos em nossos relacionamentos pessoais; a pensar com mais clareza e rigor lógico; e a desenvolver estratégias para permanecermos fiéis às nossas fontes espirituais. Somos solitários apenas quando nos conformamos, quando nos escondemos ou nos recusamos a compartilhar com outras pessoas aquilo que sabemos. Quando temos coragem de ser nós mesmos – ver aquilo que vemos, saber o que sabemos e agir com base nesse conhecimento – podemos encontrar outras pessoas na mesma situação que a nossa. E então, juntos, poderemos criar novos mundos.
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Para nos beneficiarmos da diversidade de riquezas culturais existentes no mundo, onde as distâncias foram encurtadas, e essas riquezas tornaram-se disponíveis graças à explosão de conhecimentos e aos meios de comunicação de massa, precisamos renunciar a ilusão de que qualquer um de nós é superior a qualquer outra pessoa. Nesta nossa época, o heroísmo reverencia necessariamente a diversidade, porque ele reconhece que cada indivíduo ou cultura é esse todo. Nós precisamos uns dos outros. A natureza, Deus(s) e o universo não cometeram nenhum engano ao fazer alguns de nós marrons e alguns brancos, alguns homens e outros mulheres, alguns heterossexuais e alguns gays e lésbicas. A meta é que nenhum grupo declare a própria superioridade e pretenda moldar os restantes. Quando compreendemos plenamente o nosso potencial enquanto indivíduos e culturas, e quando nos tornamos humildemente abertos para aprender coisas uns com os outros, aí então, teremos a capacidade de resolver os grandes problemas da nossa época. Este é o desafio com o qual a humanidade se defronta hoje. A velha ordem, na verdade, está morta. De fato, estamos todos passando por uma metamorfose – morte e renascimento – para que possamos realmente amar e valorizar uns aos outros. Isso começa com a conservação do melhor que foi produzido no passado e com a criação de condições para que haja um intercâmbio fecundo entre essas diversas tradições e sabedorias, para que a sua sinergia produza algo maior ainda do que aquilo que veio antes. Na continuação, faremos uma série de sugestões para gerar a Paz dentro de você, a partir da proposta de Luiz Lobo (2001): • eliminar o fingimento e ser completamente sincero acerca do que é verdadeiro num dado momento – esperanças, temores, vulnerabilidades e feridas. Enquanto estiver usando máscaras e tentando aparentar ser mais do que realmente é, não conseguirá estar inteiro nas suas relações; • amar o próximo como a si mesmo, respeitando e defendendo os seus direitos, como gostarías de ver os seus sendo defendidos. Quando se permite amar, ser amado, viver de forma criativa e, portanto, quando se deixa de tentar se adaptar à vida que não serve, e se decide viver vidas que nos fazem realmente felizes, a liberdade e a alegria podem ser experiências normais em nossa vida. • dar carinho físico, atenção, respeito, apoio e limites aos filhos e às crianças em geral; • desenvolver a empatia, aprender a ouvir com atenção, consideração e respeito, refletir os sentimentos, que é a melhor maneira de mostrar que se coloca no lugar do outro e entende seu ponto de vista; • ser paciente, reclamar do que não gosta sem ofender, humilhar ou atacar, para não provocar contratempos, revolta, resistência e contra-ataque; • negociar, atacar problemas e não pessoas. Não se preocupar em ganhar ou perder, mas em encontrar uma solução; • não discutir, preferir o debate, expor os pontos de vista com clareza e procurar clarificar os argumentos alheios para que as idéias possam ser devidamente confrontadas; • evitar ao máximo o autoritarismo e tentar resolver os impasses e conflitos por consenso, inclusive e principalmente, na relação com as crianças/adolescentes; • estabelecer limites claros, justos, consistentes (isto é, valendo o tempo todo) e coerentes (valendo igualmente para todos), tanto para as crianças/adolescentes como para as pessoas que você liderar; • controlar suas emoções e conhecer bem seus sentimentos, a base da inteligência emocional. Decisões emocionadas raramente são boas e impulsos emocionais geralmente são desproporcionados. Aprender a controlar a raiva antes que ela o controle; tentar entender o motivo da sua raiva. • ser capaz de elogiar, sinceramente, para criar um clima de harmonia e boa-vontade. Procurar o lado bom e positivo das coisas e pessoas. Carinho e gentileza são essenciais nos relacionamentos familiares e sociais; • valorizar as pequenas alegrias, desenvolver sua auto-estima e promover a auto-apreciação das pessoas à sua volta. O gosto pela vida é um modo de apreciá-la mais e de viver melhor;
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descarregar as tensões inevitáveis de modo bem saudável, caminhando, praticando exercício, para que a tensão acumulada não seja destrutiva para você ou para os outros. A vida moderna é estressante a cada momento e todos nós temos nossos limites: não deixe que os seus limites sejam ultrapassados e crie uma rotina de extravasar as tensões. (Em uma escola, depois que a professora criou a “caixa do grito”, para que as crianças gritassem à vontade, mas em surdina, a tensão diminuiu e a disciplina melhorou muito). Não se esqueça de que, no momento inicial, drogas legais (álcool, estimulantes e tabaco) e ilegais (cocaína, maconha, crack, etc) são “uma saída” para as tensões, mas terminam por provocar mais tensão e problemas; aceitar as diferenças, aprender a aceitar que outros pensem e ajam de modo diferente do seu ou do que você deseja. Desenvolver a solidariedade; compreender os desejos, as opiniões, os modos de ser, os credos, as paixões do Outro; é preciso proteger a diversidade das espécies para salvaguardar a biosfera, é preciso proteger a diversidade de idéias e opiniões. não usar de violência para estimular a disciplina ou colocar limites: a violência só educa para a violência e nada é mais educativo do que o exemplo. Ser firme, sereno, consistente e perceber que as palavras e gestos também agridem; praticar os valores fundamentais da paz: solidariedade, cooperação, gentileza, generosidade, compaixão, consideração; reconhecer ligações especiais – pessoas, lugares, épocas, objetos, trabalho, um caminho espiritual – que nos conferem o nosso poder e nos fazem felizes. Precisamos estar física, emocional e espiritualmente ligados à grande teia da vida. O nosso poder real origina-se do reconhecimento da nossa dependência – em relação à Terra, às outras pessoas e à nossa fonte espiritual. Cada um de nós é apenas uma pequena parte de uma realidade maior; precisamos uns dos outros porque, enquanto estamos sozinhos, podemos experimentar as nossas próprias percepções subjetivas do universo. fortaleçer a resiliência, que é a capacidade de minimizar e superar os efeitos das adversidades, das contrariedades, das situações difíceis ou desagradáveis, das injustiças, tirando delas a força para sobreviver e ir em frente; melhorar a comunicação em casa, no trabalho, no grupo, na comunidade, porque a boa comunicação é um dos recursos para a paz. ser congruente entre o discurso em sala de aula ou em casa, e os fatos, as atitudes e os valores estimulados, pois não se pode aprender algo que não se pratica;
Articular um projeto pela paz exige parcerias; as partes envolvidas em uma mesma situação comungam suas habilidades e talentos para criar uma meta compartilhada. Necessitamos caminhar juntos em direção a uma meta, conscientes do processo que isso implica, esta é a verdadeira parceria, na qual os opostos descobrem que são absolutamente complementares. Qualquer um de nós pode transformar o mundo em que vivemos e onde atuamos de forma consistente com todo o nosso ser, sabendo que nossa atividade terá um efeito multiplicador e que projetará a nossa influência para além de nós mesmos. Bibliografia ABAMOVAY, M. et al. (Coord). “Gangues, galeras, chegados e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades de Brasília”. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. BARREIRA, C., et al. (Coord). “Ligado na galera, juventude e Cidadania na cidade de Fortaleza”. Brasília: UNESCO, 1999. BOFF, L. “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”. Petrópolis: Vozes, 1999. BYINGTON, C.A.B. Pedagogia Simbólica: a construção amorosa do conhecimento do ser. Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Ventos, 1996. BRADSHAW, J. Voltar ao lar: como resgatar e defender sua criança interior. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. BRANDEN, N. Auto-estima: como aprender a gostar de si mesmo. São Paulo: Saraiva, 2000. BRAHMA, K. Vivendo valores na escola: manual para professores. São Paulo: Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, 2000.
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PEDAGOGIA DA PRESENÇA Antonio Carlos Gomes da Costa* A Pedagogia da Presença representa um passo na direção do grande esforço que se faz necessário para a melhoria das formas de atenção direta aos jovens em situações especialmente difíceis, de um modo geral, e, de forma muito especial, aos adolescentes a quem se atribui autoria de ato infracional. Mas, afinal, o que é precisamente a Pedagogia da Presença? Se quisermos compreender a sua essência, o melhor caminho é buscarmos uma análise, termo a termo, do seu conceito. Segundo Paulo Freire, “Pedagogia é a teoria que implica os fins e os meios da ação educativa”. Vejamos, separadamente, o significado de cada expressão desse importante conceito. Teoria É prática conceptualizada. Transformar alguma coisa em conceito, em pensamento. Pensar sobre a prática; transformá-la em pensamento; comunicar isso de maneira organizada sob a forma de pensamento pedagógico. Isso é uma teoria. Implica Lidar, trabalhar, tratar, mexer. Fins da educação Duas pedras angulares da teoria curricular: I) Que tipo de homem queremos formar? II) Que tipo de sociedade para cuja construção queremos contribuir com o nosso trabalho? O Ocidente desenvolveu um ideal de homem muito autônomo e pouco solidário. Pessoas que se enriquecem e querem ostentar, ao máximo, sua própria riqueza. Por outro lado, no Leste (mundo socialista) desenvolveu-se o ideal de um homem muito solidário e pouco autônomo. São pessoas sem liberdade para viajar, por exemplo. Trata-se de um controle muito grande do Estado sobre a vida do cidadão. Quanto a segunda questão básica condizente às finalidades da educação - Que tipo de sociedade para cuja construção queremos contribuir com o nosso trabalho? - O artigo 3 0 da Constituição Federal aponta para o nosso ideal de sociedade: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: • construir uma sociedade livre, justa e solidária; • garantir o desenvolvimento nacional; • erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; • promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” Acreditamos, portanto, que a pessoa autônoma e solidária é o ideal de homem que corresponde ao nosso ideal de sociedade. Temos que trabalhar para que isso aconteça. Meios Constituem o ferramental para o desenvolvimento do nosso trabalho. São os métodos e técnicas da ação sócio-educativa, que compreendem: • A Pedagogia da Presença; • O Protagonismo Juvenil; • A Relação de Ajuda; • A Resiliência*; • A Educação pelo Trabalho; • Os Códigos da Modernidade.
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* O termo resiliência foi extraído da física e indica a capacidade de um material voltar ao seu estado normal, depois de ter sofrido uma pressão. Em relação às ciências humanas, o termo representa a capacidade de um indivíduo de possuir uma conduta sã num ambiente insano; ou seja, a capacidade do indivíduo sobrepor-se e construir-se positivamente frente às adversidade. Ação Educativa Constitui a base para o desenvolvimento pessoal e social do jovem. Uma completa educação inclui os demais direitos (lazer, cultura e profissionalização) para que os educandos cresçam como pessoas e como cidadãos. Presença Trata-se de um relacionamento onde duas pessoas se revelam uma para a outra. O educador tem que deixar sua vida ser penetrada pela vida do educando. Isso requer abertura, troca, respeito mútuo, reciprocidade, ou seja, tem de haver um comércio singelo entre as pessoas. Na realidade, é uma troca de “pequenos nadas”. E o que são esses “pequenos nadas?” Um bom dia, um olhar, um toque, uma palavra, um incentivo, um gesto, um conselho, um sorriso, enfim, são gestos e atitudes que não custam nada, mas que podem modificar inteiramente nosso trabalho sócio-educativo. Isso, entretanto, nunca é feito ou, então, é feito de maneira muito aquém da necessidade. Aqui está o segredo de todo o processo educativo. É preciso compartilhar momentos de alegria ou de tristeza que o educando está sentindo. É possível construir uma unidade de ação sócio-educativa com os melhores computadores, quadras, oficinas, bibliotecas, salas de música etc., mas se ali não houver Presença, aquele local começa a se tornar um lugar insuportável para se viver. Por outro lado, podemos ter um lugar sem sofisticação, bastante simples, mas, tendo Presença, ele pode se tornar um lugar onde é possível desfrutar de muitos momentos felizes. O educador, que atua junto a adolescentes em dificuldade, situa-se no fim de uma corrente de omissões e transgressões. Sobre seu trabalho recaem as falhas da família, da sociedade e do Estado. Sua atuação, freqüentemente, é a última linha de defesa pessoal e social do educando. Podemos afirmar, portanto, que a Presença é uma necessidade básica, pois o primeiro e mais decisivo passo para o educando superar suas dificuldades pessoais é a sua reconciliação consigo mesmo e com os outros. Muito mais importante que alimentação, lugar para dormir, roupa, matrícula na escola etc., esse educando precisa que suas necessidades de estima sejam satisfeitas, isto é, sua imperiosa necessidade de sentir-se compreendido e aceito. Aquele que não se sentir compreendido e aceito, pelo menos por uma pessoa nesse mundo, se torna um perigo para si mesmo e para os outros. Fazer-se presente na vida do educando é o dado fundamental da ação educativa dirigida ao adolescente em situação de dificuldade pessoal e social. A Presença é o conceito central, o instrumento-chave e o objetivo maior desta pedagogia. A capacidade de fazer-se presente, de forma construtiva, na realidade do educando, não é, como muitos preferem pensar, um dom, uma característica pessoal intransferível de certos indivíduos, algo de profundo e incomunicável. Ao contrário, esta é uma aptidão possível de ser aprendida, desde que haja, da parte de quem se propõe a aprender, a disposição interior (abertura, sensibilidade, compromisso), para tanto. Esta, vale salientar, é aptidão que apenas em parte pode ser aprendida de forma conceitual, “saber de experiências feitas”, a Presença é uma habilidade que se adquire fundamentalmente pelo exercício do trabalho social e educativo. Entretanto, sem uma base conceitual sólida e articulada, fica muito mais difícil para o educador proceder à leitura, à organização e à apropriação e domínio do seu aprendizado prático. Diante de adolescentes com sérios problemas de conduta, os educadores seguem, de um modo geral, um dos seguintes enfoques básicos: •
AMPUTAÇÃO das más condutas, correspondente ao enfoque correcional-repressivo. É aquela idéia de que é necessário “tirar” do jovem os seus valores errados, os seus
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vícios, as suas más atitudes, os seus comportamentos negativos. Essa idéia é praticada pela manipulação, pelo castigo, pela punição, pela violência. •
REPOSIÇÃO é o enfoque assistencialista. O jovem é percebido como um ser carente bio-psico-sócio-cultural. A idéia é repor tudo na sua vida, ou seja, alimentação, carinho, afeto, tratamento psicológico, estimulação cognitiva, motivação, escola, profissionalização, cultura etc. A ilusão que se tem aqui diz respeito à idéia de que repondo-se o que faltou ao jovem, ele terá o seu comportamento construtivamente modificado como decorrência natural do processo de reposição. Não é assim. Trata-se de uma questão muito mais complicada.
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AQUISIÇÃO (Enfoque Educativo). A motivação é uma porta que só se abre por dentro. Ela só se abre de dentro para fora. E para o jovem educar-se, ele tem de estar motivado. É importante falar para o nosso educando que: “Você está aqui para educar-se, estamos aqui para ajudar você a educar-se”. Temos que estar presentes como educadores na vida dos educandos, o que requer abertura e reciprocidade.
Enquanto teoria que implica os fins e os meios desta modalidade educativa - AQUISIÇÃO (enfoque educativo) - a Pedagogia da Presença se propõe a viabilizar este paradigma emancipador, através de uma correta articulação do seu ferramental teórico com propostas concretas de organização das atividades práticas. Sem ignorar as exigências e necessidades da ordem social, o educador somente não aceita a perspectiva de que sua função venha a ser apenas adaptar o jovem a isso que aí está. Ele vai mais longe. Ele quer abrir espaços que permitam ao adolescente tornar-se fonte de iniciativa, de liberdade e de compromisso consigo mesmo e com os outros, integrando de forma positiva as manifestações desencontradas do seu querer-ser. Do ponto de vista da Pedagogia da Presença, esta desarticulação entre necessidades e ofertas vem do fato de que, enquanto os educadores oferecem aos adolescentes meios para moderar-se e viabilizar-se, eles buscam prioritariamente as vias que lhes permitirão encontrar-se. Explorar a sua situação, compreendê-la e agir de forma construtiva em relação a ela, a partir de confrontos progressivamente maduros com a sua realidade, é tarefa que na ordem de importância, antecede a todas as demais. Sua realização é que permite ao educando superar o isolamento e a solidão. Vista a situação por este ângulo, os aspectos sociais subordinam-se à perspectiva do equacionamento da problemática pessoal do jovem a quem dirigimos nosso trabalho social e educativo. Uma das grandes tarefas de nosso tempo é possibilitar ao educando com o qual trabalhamos a sensação/certeza de que ele tem valor para alguém, desenvolvendo, a partir disso, o seu autoconceito, a sua autoconfiança e a sua auto-estima. Essa é a nossa grande missão. O método da Pedagogia da Presença é super simples. O educador tem que se educar para escutar e educar-se para observar o conjunto dos acontecimentos reais que transcorrem ante os seus olhos, desde a hora que chega até a hora de dormir. A observação atenta e metódica dos comportamentos que lhe são próprios tentará conhecer, entre os ganhos e perdas de sua vida, aquilo a que dá mais importância, atenção, valor. Enfim, será necessário descobrir neste adolescente aptidões e capacidades que apenas um balanço criterioso e sensível permitirá despertar e desenvolver. Só assim, ele encontrará o caminho para si mesmo e para os outros. E este é o sentido e o objetivo maior da presença construtiva e emancipadora do educador na vida do educando. Quando não temos a disposição de deixar o educando penetrar a nossa vida com a sua experiência, nós o veremos na sua pura exterioridade, perdendo de vista a sua interioridade. Assim, não conseguiremos captar as dificuldades e impasses reais do educando. Faremos uma leitura apenas do seu comportamento, da sua conduta. Veremos o que sair, mas não o que estiver por dentro. Apenas o que estiver na fachada e, não, o que está por detrás dela. A explicação para mudanças radicais na vida de uma pessoa que estava indo para o caminho da delinqüência ou que já estava nela, muitas vezes se dá pela identificação de uma pessoa-chave na vida do outro. Uma pessoa capaz de estabelecer com ela uma relação de reciprocidade, de abertura e de respeito mútuo. É isso, fundamentalmente, que leva o educando
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“difícil” a um sucesso inesperado. Ouve-se comentários do tipo: “Fulano mudou. O que aconteceu com ele? Todo dia havia ocorrência disciplinar da parte dele e agora tudo isso acabou”. Quando vamos investigar o que aconteceu, constatamos que esse educando encontrou uma pessoa-chave na sua vida que lhe restituiu a consciência de que era compreendido e aceito, de que tinha valor para alguém. Na verdade, o adolescente já foi responsabilizado pela justiça. Está pagando pelo seu ato infracional, com medidas sócio-educativas. Portanto, não podemos assumir a postura de ficar cobrando dele acerca do que ele é. Temos que aceitá-lo incondicionalmente. Sem ressentimentos. Afinal, ele muda porque é compreendido e aceito e, não, é compreendido e aceito porque muda. A compreensão e a aceitação do educando constitui um pré-requisito fundamental e indispensável para a sua mudança. Isso tem que ser mostrado aos educandos mais pelo curso dos acontecimentos do que pelo discurso das palavras. Eles têm uma experiência de vida muito sofrida e, portanto, não possuem motivos maiores para serem fãs do mundo adulto. O educador deve criar no quotidiano do trabalho dirigido ao jovem em dificuldade oportunidades concretas, acontecimentos estruturadores que evidenciem a importância das normas e limites para o bem de cada um e de todos. Só assim, o jovem começa a comprometer-se consigo e com os outros. É deste compromisso que nascem as vivências generosas e o calor humano, bases do dinamismo, capaz de enriquecer e de transformar sua vida. Ao exercer sua função específica, guiado por uma consciência transformadora e crítica da realidade, o educador reconhecerá que os dois pólos de sua atividade, o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento social do adolescente em dificuldade, são duas faces de uma mesma moeda. Ele sabe, mais do que ninguém, que a presença do jovem em si próprio é a condição de sua presença nos outros em todos os espaços onde se processa a sua socialização: família, escola, comunidade, trabalho e outros. Para encontrar os outros, o adolescente precisa encontrar-se consigo mesmo, para encontrar-se consigo mesmo, o jovem precisa ser compreendido e aceito; sentindo-se compreendido e aceito, vai aumentar sua auto-estima, seu auto-conceito e sua autoconfiança, porque vai ter a sensação de que tem valor para alguém; se tiver a sensação de que tem valor para alguém e de que é compreendido e aceito, vai olhar o futuro sem medo; e se olhar o futuro sem medo, será capaz de plasmar, de construir um projeto de vida; se construir um projeto de vida, sua vida passará a ter um sentido; se a vida passar a ter um sentido, ele começa a ver com outros olhos os estudos, a obediência, a profissionalização, o seguimento das regras, o tratamento com as pessoas etc. Tudo isso se modifica na sua vida. Isso é a Pedagogia da Presença. *Pedagogo, diretor presidente do MODUS FACIENDI
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A FUNÇÃO SOCIAL DO EDUCADOR A chave E de repente O resumo de tudo é uma chave. A chave de uma porta que não abre Para o interior desabitado No solo que inexiste, Mas a chave existe. ________________________________ A porta principal, esta é que abre Sem fechadura e gesto. Abre para o imenso. Vai-me empurrando e revelando O que não sei de mim e está nos Outros. ________________________________ E aperto, aperto-a, e de apertá-la, Ela se entranha em mim. Corre nas veias. É dentro em nós que as coisas são, Ferro em brasa – o ferro de uma chave. Carlos Drummond de Andrade A educação é uma chave. Chave que abre a possibilidade de se transformar o homem anônimo, sem rosto, naquele que sabe que pode escolher, que é sujeito participante de sua reflexão, da reflexão do mundo e da sua própria história, assumindo a responsabilidade dos seus atos e das mudanças que fizer acontecer. Esta chave nos permite modificar a realidade, alterando o seu rumo, provocando as rupturas necessárias e aglutinando as forças que garantem a sustentação de espaços onde o novo seja buscado, construído e refletido. Num país com imensas desigualdades e contradições, a educação se apresenta como um fator de esperança e transformação para a sociedade, não apenas permitindo o acesso ao conhecimento, à participação, mas propiciando condições para que o indivíduo construa sua cidadania. Falar de cidadania é falar de igualdade de oportunidades entre as pessoas, da consciência de que é possível transformar e conviver com as diferenças, e que o bem-estar individual passa pelo bem-estar coletivo. A construção da cidadania exige transformações profundas na sociedade e mudança de paradigmas a partir de uma visão ético-política. Essas mudanças ocorrem simultaneamente nas pessoas e no contexto em que estão inseridas. As possibilidades de mudança acontecem através do exercício da cidadania participativa, que vai se construindo de muitas formas, sendo uma delas o desenvolvimento de iniciativas comunitárias que têm gerado e efetivado projetos de transformação, articulando entre si uma teia de experiências que têm diferenciado o movimento social nos últimos anos. Nas décadas de 80 e 90, intensificaram-se as iniciativas sociais em favor das crianças e adolescentes, com o surgimento de entidades governamentais e não-governamentais de atendimento a essa parcela da população, inaugurando um novo tipo de parceria entre o público e o privado, na busca de alternativas para a questão social do país, encarada e assumida não mais como responsabilidade única do Estado. O conceito de “público” passou a ser rediscutido e redimensionado, levando a uma maior participação dos diversos segmentos sociais nas questões de interesse coletivo. Nesse contexto histórico-social se insere o educador popular, cuja ação é comparável a uma chave que abre horizontes. Este educador, no seu trabalho com jovens, sabe que há portas que podem ser abertas e outras cujas chaves só os adolescentes possuem. Cabe-lhe desenvolver ações que respondam aos anseios dessa população, que se encaminha para a idade adulta com baixos ou inexistentes níveis de escolaridade e sem capacitação específica para o mundo do trabalho, cada vez mais complexo, exigente e competitivo.
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Aos educadores que atuam em comunidades populares, é necessária a consciência de que se pode construir novas relações consigo mesmo, com o outro, com o mundo, a partir de um processo educativo que leva em conta a realidade da população, acreditando ser possível tomar um rumo novo, mudar o destino, quebrar preconceitos e livrar-se de estereótipos. Educadores, provenientes ou não do meio popular, podem se identificar no nível do desejo, das crenças, dos referenciais teóricos, porém, há uma qualidade do ser, diferente entre eles. Talvez sejam as raízes, as memórias infantis, aquilo que se entranha em nós e que chamamos de “cultura do lugar”. Nas comunidades populares, as contribuições dadas pelo educador proveniente de outro segmento social e pelo educador do meio popular são diferentes, mas igualmente importantes. O primeiro solidariza-se com uma classe e sua causa, comprometendo-se e identificando-se com ela. O segundo dedica-se a uma causa que é sua. Qualquer que seja a origem deste educador, é preciso que ele se distancie, em alguns momentos, para ser espectador da própria prática e assim percebê-la com um olhar mais crítico e menos emocional. Em contrapartida, em outros momentos, é necessário inserir-se no meio, fazer parte dele, viver sua realidade, solidarizando-se com ela. E solidarizar-se significa colocar à disposição dos jovens todo o saber e bagagem pessoal, buscando em conjunto viabilizar ações, novas experiências, maneiras diferentes de ver, perceber, agir e se relacionar com o mundo. A função social do educador é ser agente de transformação. Cabe a ele auxiliar na organização dos desejos e necessidades da população com a qual trabalha. Ele se constitui numa referência para a comunidade, participando da estruturação do movimento popular a partir do seu trabalho com os jovens. Sua função não se restringe ao trabalho com os grupos, mas se amplia para as famílias e a comunidade em geral. Ao educador, no desempenho do seu trabalho com os grupos, chamamos facilitador. O que, no entanto, pretende ele facilitar? Para responder a esta indagação, é preciso compreender que o facilitador ajuda a descobrir caminhos, a pensar alternativas e revelar significados. Não se trata de um condutor, pois na condução o outro é passivo, segue, obedece. Na facilitação, o outro participa. O maior desafio do educador é justamente equilibrar-se entre a tendência a conduzir, pensando saber o que é melhor para o jovem, e o deixar-se conduzir, não colocando limites, compensando necessidades com permissividade. Para alguns adolescentes, os limites são muito amplos, são a rua, o mundo. E o mundo é grande demais. Estar no mundo pode tornar-se assustador. Criando um vínculo com o educador através da troca e do afeto, os limites podem ser mais facilmente aceitos, e os espaços, internos e externos, ganham contornos, tomam forma. O caminho mais fácil para o entendimento entre o educador e o adolescente é a história de vida. É preciso saber um pouco da história de vida do adolescente para conhecer suas potencialidades e dificuldades. Esse conhecimento facilita o diálogo entre adolescente, educador e grupo. Assim, o educador fica mais forte, tem mais inspiração para viver sua aventura pedagógica. Através da compreensão e do conhecimento da realidade de vida do adolescente, o facilitador pode perceber o sentido e o significado de suas ações e atitudes, passando a funcionar como um espelho no qual o jovem vai se mirar para reconhecer a sua própria imagem. Imagem que reflete a confiança, o respeito e o afeto do educador pelo adolescente, assim como aquilo que acredita ser possível a este alcançar. Tal espelhamento propicia o vínculo e permite que o compromisso entre educador e adolescente se estabeleça. Este compromisso é, antes de tudo, reciprocidade e empatia, fazendo do diálogo um método de trabalho adequado para o desenvolvimento pessoal e social. Sabemos que nem sempre, ao se mirar, o adolescente aceita o que vê. A imagem refletida, às vezes, é negada, ignorada ou até guardada em algum lugar desconhecido dentro dele, ressurgindo, ou não, tempos depois. Ao realizar um trabalho de desenvolvimento pessoal e social de jovens, o educador precisa ter cuidado para resistir à ilusão de que pode dar ao adolescente tudo que este necessita. A necessidade de “colo”, a “carência”, o mobiliza. É fácil entrar nesse jogo, perder a dimensão e querer abraçar mais do que pode. Para escapar, é preciso buscar clareza da sua identidade, da sua função e do seu papel. É freqüente, ao envolver-se, esquecer de que desempenha uma
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função específica cujo propósito é educar. Educar para a cidadania. Nessa função, o educador não é igual ao adolescente. Seu papel é diferenciado. O educador tem um lugar. Às vezes, precisa ser firme, fazendo intervenções determinadas e específicas. Precisa ter e colocar limites, pois a demanda é tão grande, que corre o risco de se perder, sem saber a que atender primeiro. É preciso estabelecer limites sem ser brusco, de uma forma delicada, fazendo uso da palavra, perguntando ao adolescente o que quer expressar, relembrando as regras de convivência e mostrando as conseqüências de sua ação. E isso só é possível se souber qual é o seu papel. Sem papel definido, o educador acredita atender a todas as demandas, descobrindo, ao longo do processo, que é impossível dar conta dessa exigência. Faz-se necessário interpretar as demandas e priorizá-las, porque, muitas vezes, o que é pedido não corresponde ao que se pode dar e a tudo o que os adolescentes necessitam. Nem sempre o que é solicitado expressa um desejo que deve ser atendido. É comum o educador, quando inicia a sua atuação, pensar que pode suprir todas as faltas. Ao perceber a realidade, assusta-se, passando a considerar a sua ação ineficaz: ela de nada adianta por ser tão pequena diante das necessidades trazidas pelos adolescentes. O educador sofre. Desse sofrimento surge uma constatação: sonhar o impossível, mas realizar o possível. A seqüência de realizações possíveis leva ao que parecia impossível. Pequenos projetos funcionam como uma escada para alcançar os sonhos. Ao fazer esta descoberta, o educador torna-se capaz de aceitar o alcance e os limites de sua ação: realizar algo, dar de si, receber, trocar, ensinar e aprender. Nesta dialética, as mudanças se processam, acontecem as transformações. Quando o educador aceita os seus limites, possibilita também ao adolescente aceitar os seus. Na verdade, trabalhar o desenvolvimento pessoal e social de jovens facilita o crescimento do próprio educador. Vivenciar esse processo permite-lhe a reavaliação de suas posturas, valores, sonhos e projetos e a reconstrução de comportamentos e atitudes. Finalmente, na convivência com grupos de adolescentes, adquirimos uma certeza: a de que o trabalho com jovens se pauta mais na construção de um vínculo de caráter libertador, fundamentado na confiança e no respeito, do que em discussões formais sobre temas objetivos. Libertador é o vínculo, é a relação que permite a expressão das questões pessoais sob as mais variadas formas, que possibilita a descoberta de que é possível somar diferenças, que garante a existência do individual dentro do coletivo, que viabiliza a percepção das contradições pessoais e grupais e a construção de novos caminhos. Construir um Novo Ser e um Novo Mundo a partir de uma nova relação é a chave da função social do educador O vínculo que se estabelece entre educador e adolescente abre possibilidades para novas formas de sentir, querer e agir. Portas que se abrem, portas que permanecem fechadas. Mas a chave existe. “É dentro de nós que as coisas são — desejo e força”. Educador/adolescente em sua paixão. Adolescente/educador de si mesmo através do outro. Viagem pelo espelho, imagens refletidas de sonho e realidade em que é possível descobrir-se, revelar-se, construir-se. Ser sendo e convivendo. (Fonte – Manual “Aprendendo a Ser e a Conviver” – Margarida Serrão e Maria Clarice Baleeiro – Fundação Odebrech – Editora FTD)
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O PAPEL SOCIAL DA CRIANÇA Ângelo Motti Um ponto de partida O ponto de partida é que devemos pensar, sentir e agir em relação à criança e ao adolescente enquanto pessoas humanas. E, além disso, como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento pessoal e social. A capacidade infanto-juvenil Indissoluvelmente ligada à visão da criança e do adolescente como pessoas, humanas, em condição peculiar de desenvolvimento, que, em cada etapa de sua evolução, são capazes de se expressar e ter levado em conta a sua opinião em assuntos que lhe digam respeito A força nucleadora A força nucleadora da criança faz convergir , em torno da causa da promoção e da defesa de seus direitos, pessoas, grupos e lideranças públicas, privadas, religiosas e comunitárias, numa constante advocacia, para que o ponto de vista e os interesses das novas gerações sejam encarados com a máxima prioridade. O direito de ter direitos Para qualquer pessoa e em qualquer faixa etária, a primeira manifestação de cidadania se dá quando a pessoa exerce o direito de não ser violada em seus direitos fundamentais. Então, percebendo melhor a dimensão social de cidadania, vamos constatar que hoje a sociedade verifica que, além do que é formalmente estabelecido como direitos, é preciso criar mecanismos públicos para o seu exercício, na perspectiva de que, ter direitos signifique poder exercer direitos. O que deve ser observado O interesse superior da criança e do adolescente; O interesse superior das crianças e dos adolescentes passa a constituir-se num critério essencial para a tomada de decisões em qualquer assunto capaz de afetar a população infantojuvenil. Um ser social, um ser em movimento A criança, enquanto pessoa humana, é um ser essencialmente de relações sociais e em permanente movimento. Estamos sempre nos transformando, apesar de, aparentemente, mantermo-nos iguais na vida adulta. Nosso mundo interno se forma e se transforma a partir dos conteúdos que vêm do mundo externo e, como nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre processando o que dele recebemos, portanto, sempre em movimento e em processo de transformação. A interdependência e influência do meio sobre a criança É importante conhecermos o tipo de comunicação que se estabelece entre as crianças e o meio onde se dá suas relações. É preciso percebermos o processo de interdependência e de influência entre a criança e as pessoas com quem se comunica, buscando compreender como se dá a influência, as características das mensagens e os processos psicológicos envolvidos na comunicação.
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A mecânica da atitude da criança A partir da percepção do meio social e dos outros, a criança organiza as informações, relacionando-as com afetos e desenvolvendo uma predisposição para agir em relação às pessoas e aos objetos presentes nesse meio. A criança, como nós, não toma atitudes, e sim, desenvolve atitudes (crenças, valores, opiniões) em relação aos objetos do meio social. Atitude X Conduta social Acreditamos que as atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações, afetos, comportamentos ou situações. É nosso desafio disponibilizar mecanismos para que o meio social tenha uma compreensão mais adequada a respeito do valor humano das crianças. Mecanismos que geram mudanças de atitude. As atitudes são importantes, pois, muitas vezes, são elas que norteiam o comportamento. O processo de socialização da criança A criança deve ser vista como membro de um determinado conjunto social, de seus códigos, suas normas e regras básicas de relacionamento, apropriando-se do conjunto de conhecimentos já sistematizados e acumulados por esse conjunto social e, a partir desse mecanismo desenvolver sua socialização. O papel prescrito Compreendendo a sociedade como um conjunto de posições sociais (cultura, gênero, renda, raça, etnia), as expectativas de comportamento estabelecidas pelo conjunto social para as crianças, das diferentes posições, determinam o chamado papel prescrito. A interação dos papéis sociais Quando aprendemos um papel social, aprendemos também o papel complementar, isto é, quando a criança se utiliza de um determinado serviço, desde o início, está também aprendendo os papéis dos outros com quem interage. A capacidade de adaptação social da criança Os diferentes papéis sociais e a nossa enorme plasticidade como seres humanos permitem que crianças se adaptem às diferentes situações sociais e que sejam capazes de se comportarem diferentemente em cada uma delas. Aprender os papéis sociais é, na realidade, apreender o conjunto de rituais que nossa sociedade criou. A auto referência Crianças costumam se ver a partir de como o meio social se comporta em relação a elas. Os pequenos progressos da criança ao enfrentar o mundo, sempre incentivados pelos que a cercam, vão sedimentando seus sentimentos quanto às suas habilidades e ao seu próprio valor enquanto pessoa. Mais tarde, com a predominância da lógica sobre o afeto, costumam contrariar o comportamento do meio, pois passam a se perceberem por si mesmas – isso é adolescer.
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Quando há problemas no autoconceito Assim ao longo da vida vai checando todos os adjetivos que lhe foram ditos. Quando há problemas no autoconceito, a pessoa não confia em seu julgamento, fica dependendo da opinião dos outros para tomar decisões. A visão de si Durante a adolescência, ocorre uma verdadeira metamorfose com o corpo e com a cabeça do adolescente e isso parece explicar sua preocupação excessiva consigo mesmo. Parece que todas as pessoas estão reparando nessas mudanças, o que faz o adolescente acreditar que aonde vai, é o centro das atenções. Em certo sentido, o adolescente se percebe sobre um “palco”, sendo visto e criticado por uma platéia imaginária. Critérios na definição da adolescência: A palavra adolescência é derivada do verbo latino "adolescere" que significa crescer até a maturidade. Critério sociológico: adolescência é o período de transição da dependência infantil para a auto-suficiência adulta. Critério cronológico: adolescência é o período que se estende de aproximadamente doze anos até vinte e um anos, com grande variações individuais e culturais. Critério psicológico: período de extensa reorganização da personalidade, no qual novos ajustamentos que distinguem o comportamento infantil do comportamento adulto têm que ser feitos. A incorporação legal dos preceitos Art. 3º - As crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana...., assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais . Art.18 - É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 70 - É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. Os Donos do Mundo O mundo que temos nas mãos não foi herdado de nossos pais, mas sim, emprestado de nossos filhos. Provérbio africano (Ângelo Motti – Gerente de Programa- SEAS/MPAS)
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A CRIANÇA É VULNERAVEL Cordélia de Souza Castelo Branco "A criança é vulnerável, devassável, ou seja, não tem um sistema de defesas (fronteiras) desenvolvido e depende dos pais para protegê-la. Essa falta de limites entre o eu e o outro faz com que as crianças sejam normalmente egocêntricas e se sintam misturadas com tudo a sua volta, explicando o mundo baseadas em si mesmas. A frustração gradual de algumas necessidades da criança faz com que ela perceba que o mundo não é parte intríseca dela. Por outro lado, toda vez que fica frustrada, a criança responde com irritação, birra e desagrado. Isso é normal e os pais precisam aceitar esses impulsos agressivos sem se deixarem pessoalmente destruir por eles. A expressão da emoção é uma necessidade fisiológica do organismo em busca de uma homeostase que foi perdida. Se a emoção não for expressa ela retroflete, voltando-se para o Eu da criança. Assim a raiva, por exemplo, que não pode ser dita, acaba voltando para o próprio Eu e gera sintomas." Rosa Cukier A autora nos alerta para o fato da criança não poder ser abandonada a seus próprios impulsos e desejos sem o norteamento dos adultos responsáveis por sua educação. A raiva sentida pela frustração, além de esperável, é necessária enquanto descarga tensional. A postura a ser adotada frente a expressão da raiva, é dizer à criança que entende o seu sentimento, mas na vida, não é possível termos sempre o que queremos. Tentar materializar sempre o desejo de um filho, é jogá-lo num mundo do irreal, semelhante ao que os alucinógenos produzem no organismo: falsa realidade. Muitos pais se deixam destruir pelas manifestações de raiva da criança, como menciona a autora, em virtude de suas inseguranças, suas culpas pela ausência no lar ou até mesmo pelo desejo, às vezes inconsciente, dessa ausência. O receio de perder o amor dos filhos frustrando-os ou a recusa em parecer com seus próprios pais na intransigência e/ou incompreensão levam muitas mães e pais a esquivarem-se da sua tarefa de impor limites. Infelizmente, há uma outra razão porque os genitores acabam cedendo às insistências dos filhos: querem sossego. O cansaço potencializa a impaciência e a ausência do desejo em conviver com os aspectos diários mais "chatos" do processo educacional. Nesse caso, o domínio dos filhos pelos rumos da situação vão se expandindo progressivamente. Mais cedo ou mais tarde, os filhos percebem esse enfado dos pais em relação a discussão dos limites, e isto causa nas crianças e jovens sentimentos ambivalentes de satisfação pela realização dos seus quereres e por outro lado, um vazio pela sensação de abandono aos próprios impulsos e desejos. Muitos pais vivem confusos entre aspectos indesejáveis da educação recebida(e que não querem repartir) e a busca por um modo que leve em conta as necessidades emocionais das crianças. Filhos dos anos sessenta ou setenta, essa geração de pais foi influenciada por um momento histórico em que a educação pautava-se pela idéia da auto-regulação, pela descoberta das próprias capacidades e criatividade que não deveriam receber nenhuma interferência restritiva ou coercitiva. Esta preocupação pode ser superada quando estabelecidos os valores da família e as regras coerentes com esses valores. Vale lembrar que a diferença entre a educação atual e a de gerações anteriores é a presença da explicação em todos os momentos em que se está cumprindo com o estabelecido. Aqui, se apresenta um desafio para os pais: a coerência em suas próprias atitudes. Utilizar-se do poder de adulto para fazer "dois pesos e duas medidas" além de covardia, é extremamente maléfico para a saúde emocional das crianças. Quando alertados pelos filhos sobre os "furos" no cumprimento das regras, os adultos deveriam agradecer por terem sido lembrados.
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Também é preciso ter claro que a explicação dos porquês aos filhos não vão, necessariamente, fazê-los desistir de suas intenções. A atitude de explicar tem valor pela coerência e tradução da organização do viver. Outra atitude emocionalmente desestabilizadora é condicionar a existência do afeto dos pais aos atos adequados dos filhos. Transformar a relação em palco de negociatas de afetos ou objetos materiais chega aos filhos como ausência de continência emocional dos pais. A flexibilidade nas regras geralmente acontece com a capacidade de argumentação dos filhos, à medida que crescem. Havendo negociações, é preciso ser colocada a idéia de se estar abrindo uma exceção, pois as regras são a rotina e não a exceção. Chantagens emocionais são absolutamente nocivas à saúde emocional. As regras não têm que ser vividas porque mamãe e/ou papai vão ficar mais alegres ou porque vão achar os filhinhos lindos. As regras existem como garantia da nossa preservação e sobrevivência física, emocional e social. A construção de ações dentro dessa perspectiva possibilitará à criança caminhar para uma adolescência (e posterior vida adulta) preservada emocionalmente, mais segura de si e do que pode ou não esperar do seu meio, bem como o que pode ou não oferecer ao meio. Desse conhecimento das possibilidades, situações de risco são reduzidas, pois o jovem preparado desde sua infância ingressa num sistema social mais complexo, estando capaz de fazer escolhas segundo referenciais claros que lhes foram sendo apresentados ao longo de seu desenvolvimento.
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VULNERABILIDADE E ADOLESCÊNCIAS Maria Teresa Machado Luz Ricardo de Castro e Silva “A noção de Vulnerabilidade busca estabelecer uma síntese conceitual e prática das dimensões sociais, político — institucionais e comportamentais associadas às diferentes suscetibilidades, de indivíduos, grupos populacionais e até mesmo nações, a infecção pelo HIV e suas conseqüências indesejáveis”. A grande pergunta para os profissionais que trabalham diretamente com adolescentes é: como fazer com que nossas intervenções realmente possam contribuir para que o e a adolescente consigam cuidar-se e prevenir-se de situações que coloquem em risco sua integridade e sua felicidade? E ainda por que para alguns adolescentes, mesmo participando de grupos e tendo acesso às informações sobre prevenção, não conseguem se cuidar e acabam tendo de enfrentar situações que podem constrangê-los. Embora estar vulnerável a alguma situação seja próprio do ser humano, só muito recentemente este conceito foi retomado, ajudando a clarear os objetivos e contribuindo na estruturação, realização e avaliação do trabalho junto a adolescentes. A definição colocada acima, por Ayres, tem sido utilizada por nós, profissionais de diversas áreas, no trabalho de prevenção das DSTs/Aids. Na verdade essa definição vem sintetizar uma idéia que já vem sendo desenvolvida há algum tempo e que hoje passa ser a questão central: o reconhecimento da diversidade humana e, como decorrência, a necessidade do reconhecimento da diversidade própria nas adolescências. Traduzindo, podemos dizer que a vulnerabilidade vem confirmar e de certa forma, institucionalizar a visão de homem, que deverá sempre permear nossas ações educativas — o homem plural, construído na sua diversidade. Na prática, significa que não podemos mais pensar a prevenção a partir de um único referencial, de uma idéia de universalidade de sujeito, que não existe. Somos diferentes: homens, mulheres, pobres, ricos, crianças, adultos, brancos, negros, adolescentes, jovens, brasileiros, europeus, do norte, do sul e assim por diante. Diferenças estas que são construídas e mantidas por mecanismos sócio-históricos, o que significa que estão em constante mudança. Passamos por épocas nas quais outros conceitos foram criados e institucionalizados, como grupos de riscos e comportamento de risco. Hoje, o conceito da vulnerabilidade marca uma nova etapa nessa trajetória. Estamos nos distanciando de uma compreensão limitada dos mecanismos da contaminação, passando a compreendê-la de forma mais real, mais coerente, menos influenciada dos preconceitos que marcam nossa cultura. Em relação aos adolescentes, o que o conceito da vulnerabilidade traz de novo? Em primeiro lugar, nos remete à seguinte questão: quando falamos do adolescente, estamos falando de quem? Perguntando de outra forma: qual o conceito de adolescente que está presente no momento em que o defino? • Etapa entre a infância e adolescência? • Um homem do futuro? • Época de rebeldia com o mundo adulto?
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Época de luto por tudo o que se está perdendo? Qual a imagem que tenho? Aborrescente? Irresponsável? Responsável? Violento? Irreverente? Sadio?
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Inocente? Sacana? Criativo? Um segundo movimento, que o conceito de vulnerabilidade traz, é começarmos a olhar o “ao redor, ou em volta” deste e desta adolescente: Como vivem estes e estas adolescentes? Estudam? Trabalham? Comem? Divertem-se? Têm amigos? Como moram? Quem são as pessoas de sua família? Que visão têm de mundo, de Brasil, de futuro? Estamos falando das adolescências, e não mais da adolescência. Essa postura, que devemos adotar, reconhece a pluralidade da adolescência e não mais a idéia da universalidade. As adolescências são delimitadas, portanto, definidas por aquilo que está ao redor, pela sua realidade. Uma terceira e talvez última questão, que norteia o conceito de vulnerabilidade, é a forma como esses homens e mulheres adolescentes vivem suas sexualidades e, aí, entramos na área dos valores, conceitos, pré-conceitos e vivências de cada uma dessas pessoas • Transam? Com quem? Por quais razões? Não transam? • Como o vemos e portanto como o tratamos? Pessoas sexualizadas, assexualizadas?
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Com qual visão de sexualidade trabalhamos junto a esses homens e mulheres adolescentes? Direito ao prazer com responsabilidade? Vivência perigosa que poderá levar a problemas como a gravidez, DST e outros? Trabalhar com o conceito de vulnerabilidade é passar a fazer perguntas a respeito do sujeito sobre o qual estamos falando. Perguntas nas três dimensões definidas no conceito: social, política institucional e pessoal. E aí, vamos conhecer as inúmeras questões que podem aumentar o grau de vulnerabilidade do e da adolescente: • Questões de gênero — relações desiguais de poder entre homens e mulheres; • Condições de vida; • Condições de saúde; • Acesso ou não à informação; • Possibilidade de reflexão sobre diversas questões que perpassam sua vida, inclusive as questões de sexualidade; • Relação que estabelece com a vivência do prazer e do desprazer em sua vida; • Falta de políticas públicas em Saúde e Educação para os e as adolescentes brasileiras; • Falta de serviços de saúde adequados para adolescentes; • Falta de participação do adolescente no planejamento, execução e avaliação de ações, planos e políticas de saúde e educação; • Tirar o e a adolescente do lugar de ouvinte e mero expectador do mundo e colocá-lo no lugar de autor, realizador e criador de ações no mundo. Sem dúvida, possibilitar que toda essa estrutura funcione positivamente vai favorecer que o/a adolescente possa conhecer-se melhor, para se reconhecer como sujeito de sua história pessoal e social. O que significa valorizar-se como pessoa, importar-se consigo mesmo para poder relacionar-se com seus pares, ver-se ativo e responsável por sua trajetória, por prevenir-se de situações que possam prejudicar seu desenvolvimento dando passos que o ajudem a crescer sem perder-se de si mesmo, ao mesmo tempo em que possa ver no outro a possibilidade de complementar sua felicidade. Lugar de adolescentes, a escola poderia servir de porto-seguro para que o adolescente, ao gostar de conhecer, pudesse encontrar prazer em aprender e, assim, ver-se como pessoa participante de um mundo cientificamente organizado, com uma história e uma cultura próprias, e conseqüentemente, também como autor e ator deste processo. Ser parte integrante dessa organização social pode ser o caminho para que o adolescente, tendo seus direitos preservados, fique menos vulnerável aos apelos da sociedade para afastar-se de si, alienar-se de sua condição de sujeito e ver-se como objeto fácil de consumo certo de produtos que “engole” sem nem saber o porquê. Entenda-se aqui por produtos não só aqueles comprados legalmente nas casas
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comerciais, mas as drogas ilícitas, e também os valores, o uso do corpo e a ideologia de que adolescente só serve para atrapalhar, que é aborrescente, que é a idade do guarda-roupa. São os adultos os responsáveis por, ao excluir o adolescente de sua função na sociedade, colocá-los mais vulneráveis a toda sorte de exposição, facilitando que as DST/Aids realmente sejam ameaças muito próximas de suas vidas. Bibliografia AYRES, José Ricardo de C., Vulnerabilidade e Avaliação de Ações Preventivas. Editora eletrônica casa de Edição, SP 1996 MARIA TERESA MACHADO LUZ Psicóloga, coordenadora de grupos e adolescentes, coordenadora do Movimento de Adolescentes Brasileiros (MAB). RICARDO DE CASTRO E SILVA (Extraído do Cadernos, Juventude, Saúde e Desenvolvimento – Ministério da saúde – Área de Saúde do Adolescente e do Jovem – Brasília, 1999) Psicólogo Psicodramatista, mestre em Educação, instrutor do Sistema Rio Aberto, consultor na área e Orientação Sexual, vice-presidente do GTPOS, consultor da Fundação Odebrecht, professor do curso de especialização em Sexualidade Humana da Unicamp.
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O ADOLESCENTE COMO PROTAGONISTA Antônio Carlos Gomes da Silva Ao perguntar-nos acerca do tipo de jovem que queremos formar, concluímos que é aquele autônomo, solidário, competente e participativo. Refletindo sobre essa questão, surgiu-nos a idéia de protagonismo juvenil, conceito que veio preencher uma lacuna teórico-prática neste campo. A palavra protagonismo é formada por duas raízes gregas: proto, que significa “o primeiro, principal”; agon, que significa “luta”. Agonistes, por sua vez, significa “lutador”. Protagonista quer dizer, então, lutador principal, personagem principal, ator principal. Uma ação é dita protagônica quando, na sua execução, o educando é o ator principal no processo do seu desenvolvimento. Por meio desse tipo de ação, o adolescente adquire e amplia o seu repertório interativo, aumentando assim sua capacidade de interferir de forma ativa e construtiva em seu contexto escolar e sócio comunitário. O centro da proposta é que, através da participação ativa, construtiva e solidária, o adolescente possa envolver-se na solução de problemas reais na escola, na comunidade e na sociedade. Um dos caminhos para que isso ocorra é mudar nossa maneira de entender os adolescentes, e de agir em relação a eles. Para isso, temos de começar mudando a maneira de vê-los. O adolescente deve começar a ser visto como solução, e não como problema. No interior dessa concepção, o educando emerge como fonte de iniciativa (na medida em que é dele que parte a ação), de liberdade (uma vez que na raiz de suas ações está uma decisão consciente) e de compromisso (manifesto em sua disposição de responder por seus atos). Assim quando o adolescente, individualmente ou em grupo, se envolve na solução de problemas reais; atuando como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso; temos, diante de nós, um quadro de participação genuína no contexto escolar ou sócio-comunitário, o qual pode ser chamado de protagonista juvenil. Na perspectiva do protagonismo juvenil, é imprescindível que a participação do adolescente seja de fato autêntica e não simbólica, decorativa ou manipulada. Essas últimas são, na verdade, formas de não-participação que podem causar danos ao desenvolvimento pessoal e social dos jovens, além de minar a possibilidade de um convívio autêntico entre eles e seus educadores. A participação é a atividade mais claramente ontocriadora, ou seja, formadora do ser humano, tanto do ponto de vista pessoal como social. Educar para participação e criar espaços, para que o educando possa empreender, ele próprio, a construção de seu ser. Aqui, mais uma vez, as práticas e vivências são o melhor caminho, já que a docência dificilmente dará conta das múltiplas dimensões envolvidas no ato de participar. Na vivência dessa pedagogia, o educador já não pode limitar-se à docência. Mais do que ministrar aulas, ele deve atuar como líder, organizador, animador, facilitador, criador e co-criador de acontecimentos, por meios dos quais o educando possa desenvolver uma ação protagônica. A adesão à perspectiva pedagógica do protagonismo juvenil vai muito além da assimilação, pelo educador, de algumas noções e conceitos sobre o tema. Antes de tudo, essa adesão deve traduzir-se em um compromisso de natureza ética entre o educador e o adolescente. O protagonismo deve ser vivido como participação do adolescente no ato criador da ação educativa, em todas as etapas de sua evolução. Além de um compromisso ético, a opção pelo desenvolvimento de propostas baseadas no protagonismo juvenil exige do educador uma clara vontade política no sentido de contribuir, pelo seu trabalho, para a construção de uma sociedade que respeite os direitos de cidadania e aumente progressivamente os níveis de participação democrática. Mas a clareza conceitual, o compromisso ético e a vontade política só potencializam verdadeiramente sua ação, quando o educador está comprometido em níveis que ultrapassam em profundidade o conhecimento do assunto, ou seja, quando ele está emocionalmente envolvido com a causa da dignidade plena do adolescente. Para que isso ocorra, o educador deve evitar posturas que inibam a participação plena dos jovens. Eis um pequeno elenco de posturas assumidas pelos adultos ao trabalhar com adolescentes:
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Anunciar aos jovens decisões já tomadas, reservando-lhes apenas o dever de acatar; Decidir previamente e depois tentar convencer o grupo a assumir a decisão, tomada pelo educador, como se fora sua própria decisão; Apresentar uma proposta de decisão e convocar o grupo para discuti-la; O educador apresenta o problema, colhe sugestão dos jovens e depois decide; O educador apresenta o problema, colhe sugestões dos jovens e decide com o auxílio do grupo; O educador estabelece os limites de determinada situação e solicita aos adolescentes que tomem decisões dentro desses limites; O educador deixa a decisão a cargo do grupo, sem interferir no processo que a originou. A evolução do trabalho com um grupo de adolescentes empenhados em decidir, a partir de uma ação protagônica, segue de modo geral as seguintes etapas:
Apresentação da situação-problema A situação-problema deve ser apresentada do modo mais realista e desafiante possível. É necessário embasá-la em dados, informação e objetivos. Proposta de alternativas ou vias de solução Deve-se procurar extrair do grupo o maior número possível de alternativas de solução para o problema apresentado. Discussão das alternativas de solução apresentadas As propostas devem ser discutidas e criticadas livremente. O grupo deve estar consciente de que são as idéias, e não as pessoas que as apresentam, que estão em julgamento. Tomada de decisão Durante a discussão, o grupo vai descartando as alternativas mais inviáveis e inconscientes, até chegar à decisão final, que pode ser unânime ou majoritária. Só em caso de omissão da maioria do grupo, a solução deve ser minoritária. Essa, contudo, é uma situação indesejável, que deve ser evitada ao máximo pelo educador. Em seu trabalho com jovens envolvidos na realização de ações protagônicas, cabe ao educador: Ajudar o grupo a identificar situações-problema e a posicionar-se diante delas; Empenhar-se para que o grupo não desanime nem desvie dos objetivos propostos; Favorecer o fortalecimento dos vínculos entre os membros do grupo; Animar o grupo, não o deixando abater-se pelas dificuldades; Motivar o grupo a avaliar permanentemente sua atuação, quando necessário, replanejá-la; Zelar, permanentemente, para que a ação dos jovens seja compreendida e aceita por todos os que com ele se relacionam no curso do processo; Manter um clima de empenho e mobilização no grupo; Colaborar na avaliação das ações desenvolvidas pelo grupo e na incorporação de suas conclusões nas etapas seguintes do trabalho. O educador que se dispuser a atuar como animador de grupos de adolescentes em ações de protagonismo deverá: Ter consciência de que a participação na solução de problemas reais da comunidade é fundamental para o desenvolvimento pessoal e social de um adolescente; Conhecer os fundamentos, a dinâmica e a evolução do trabalho com grupos; Ter algum conhecimento a respeito da situação ou problema que se pretende enfrentar; Compreender, adequadamente, o projeto e ser capaz de explicá-lo quando necessário; Ter participado de ações grupais, ainda que não tenha sido na condição de animador;
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Estar convencido da importância da ação a ser realizada e estar disposto a transmitir a outras pessoas esse conhecimento; Ter capacidade de administrar oscilações de comportamento entre os adolescentes, como conflitos, passividade, diferença, agressividade e destrutibilidade; Ser capaz de conter-se para proporcionar aos educandos a oportunidade de pensar e agir livremente; Acolher e compreender as manifestações verbais e não-verbais emitidas pelo grupo; Respeitar a identidade, o dinamismo e a dignidade de cada um dos membros do grupo. Essa maneira de trabalhar com os adolescentes, certamente, irá contribuir para que muito do que hoje é considerado problema transforme-se amanhã em solução. Para isso, é preciso enfrentar de modo efetivo os problemas da escola, da comunidade e da vida social. O fundamental é acreditar sempre no potencial criador e na força transformadora dos jovens. A construção pedagógica do jovem solidário, autônomo, competente e participativo por meio do protagonismo juvenil deve, portanto, ser considerada uma forma superior de educação afetivo-sexual. (Extraído do Cadernos, Juventude, Saúde e Desenvolvimento – Ministério da saúde – Área de Saúde do Adolescente e do Jovem – Brasília, 1999)
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DIGA NÃO À VIOLÊNCIA Claúdia Habli Brandão Parise*
Quem de nós não se sensibiliza com a violência do dia-a-dia, com a miséria, a fome, a injustiça, o preconceito ? Vivemos numa sociedade que cultiva o mito da cordialidade como forma ideológica de mascarar a prática histórica e cotidiana da violência em suas várias modalidades. Basta vermos os noticiários de TV, lermos jornais, revistas, para nos certificarmos de que, comumente, a violência é empregada no enfrentamento dos conflitos urbanos, familiares e institucionais. A violência e a agressividade entram em nossas vidas em meio ao trânsito, à pressa e às obrigações que enfrentamos diariamente, fazendo-nos sentir impotentes, temerosos, indefesos, ou pior, indiferentes. O fenômeno da violência vem a cada dia tomando maiores proporções, e ações de prevenção precisam acontecer, a partir das organizações governamentais e não-governamentais e da sociedade civil como um todo. A violência estrutural característica da sociedade brasileira, marcada por profundas desigualdades na distribuição da riqueza social, faz com que aumente progressivamente o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, gerando a injustiça social. Milhares de pessoas têm os seus direitos mais elementares violados devido ao profundo processo de espoliação a que são submetidas: direito à vida; à moradia; à saúde; à alimentação; à educação; à segurança; ao lazer, entre outros. A violência estrutural aliada à violência das relações de gênero e outras formas de violência (física, psicológica, sexual, negligência/abandono) ocorrem tanto no interior das famílias como nas demais instituições sociais: escolas, creches, hospitais, abrigos, etc. O conceito de violência segundo Loll (1993), é “ toda ação/omissão que pode cessar, impedir, deter ou retardar o desenvolvimento pleno dos seres humanos. Aparece, em geral, em relações assimétricas e hierárquicas de desigualdade e/ou subordinação, onde o violador toma decisões sobre a vida do violado, sem avaliar as necessidades básicas e os desejos deste, levando em conta as suas próprias necessidades e seus desejos”. A violência doméstica/intrafamiliar é um fenômeno que acontece em todas as classes sociais e vem atingindo cifras espantosas, constatando-se não só episódios de violência contra a criança e o adolescente, mas também a violência da criança e do adolescente no ambiente familiar, escolar e comunitário. Entretanto, falar da violência doméstica/intrafamiliar que ocorre no espaço doméstico contra crianças e adolescentes não é tarefa fácil. É necessário, primeiro, combater alguns mitos, como, por exemplo, o da maldade da infância e da bondade dos pais, os quais são reproduzidos ideologicamente de forma a tornar indiscutível, sagrada, a autoridade dos pais sobre os filhos e a obediência inconteste dos filhos perante os pais. Uma autoridade que, a princípio, seria exercida no mais legítimo interesse dos filhos. Um outro mito é o da família perfeita, harmoniosa, isenta de conflitos, e por isto mesmo incapaz de um gesto de violência. Uma das maiores dificuldades para enfrentar a questão é que as pessoas e, às vezes, até as próprias vítimas, consideram as agressões como normais, como se fizessem parte do processo disciplinador de educação. E por acontecer entre quatro paredes, num espaço privado, costuma ser camuflada por um verdadeiro “complô do silêncio”, do qual costumam participar pais, parentes, vizinhos e, infelizmente, até mesmo profissionais de diversas áreas. “No Brasil, 12% dos 55,6 milhões de crianças com menos de 14 anos sofrem anualmente algum tipo de agressão em casa, de acordo com a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e à Negligência na Infância. Por ano, são 6,6 milhões de vítimas da violência, uma média de 18 mil por dia. A cada hora, 750 crianças são agredidas, um problema que atinge 12 menores por minuto. O pior é que apenas 40% das ocorrências são notificadas” (UCHÔA, M. Violência doméstica atinge 750 menores por hora. Jornal do Brasil, 20 fev. 1994.i). O enfrentamento da violência doméstica/intrafamiliar contra crianças e adolescentes é responsabilidade de todos. Trata-se de fenômeno complexo, multicausal, provocado por fatores conjunturais, sociais, econômicos, políticos, religiosos, culturais, temporais, situacionais e até mesmo patológicos. Exemplos: conflitos do casal, desemprego, dívidas constantes, gravidez não aceita, abuso de remédios, alcoolismo, isolamento da família, distúrbios psicológicos etc., que,
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conjugados aos estruturais, podem predispor a eclosão da violência contra crianças e adolescentes no seio de uma instituição familiar, na qual o poder se distribui desigualmente e onde a opressão dos mais fracos seja a regra socialmente aceita. O que podemos fazer frente a este fenômeno ? É nosso dever comunicar às autoridades competentes todo caso de maus tratos suspeitos ou confirmados, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 13, pois a omissão é passível de pena legal e pode até ter conseqüências fatais para as vítimas. Entretanto não basta notificar, a intervenção nestes casos requer sensibilidade, habilidade e alguns conhecimentos específicos. Apresentaremos, a seguir, conceitos e indicadores para a identificação dos tipos de violência doméstica/intrafamiliar, a fim de contribuirmos com os profissionais que lidam com crianças e adolescentes, pois é importante que o profissional seja: • competente no trato da questão da violência doméstica/intrafamiliar contra crianças e adolescentes, estudando, pesquisando o fenômeno, inquirindo com curiosidade, interesse e disciplina intelectual; • comprometido com a “causa da infância vitimizada”, cultivando a indignação e a participação, em vez da mera indiferença ou banalização; • liberto de “reticências psicológicas”, o que só se adquire através do autoconhecimento e da crítica permanente; o que é seu e o que é do outro, evitando transferências. Violência Doméstica/Intrafamiliar “Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima, implica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento” (AZEVEDO e GUERRA, 1989). Violência Física “É entendida como o emprego de força física contra a criança, de forma não acidental, causando-lhe diversos tipos de ferimento e perpetrada por pai, mãe, padrasto, madrasta ou responsáveis” (AZEVEDO e GUERRA, 1989). Indicadores para Identificação da Violência Física INDICADORES FÍSICOS DA CRIANÇA / ADOLESCENTE
COMPORTAMENTO DA CRIANÇA / ADOLESCENTE
CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA
Presença de lesões físicas, como hematomas, queimaduras, escoriações, fraturas que não se adequam à causa alegada. Ocultamento de lesões antigas e não explicadas.
Muito agressivo ou apático. Extremamente hiperativo ou depressivo; assustável ou temeroso; tendências autodestrutivas; teme os pais; alega sofrer agressão dos pais; alega causas pouco viáveis às suas lesões; apresenta baixo conceito de si; tristeza; foge constantemente de casa; tem problemas de aprendizagem, faltas constantes à escola.
Oculta as lesões da criança ou as justifica de forma não convincente ou contraditória; descreve a criança como má e desobediente; defende disciplina severa; abusa de álcool e/ou drogas; tem expectativas irreais da criança; tem antecedentes de maustratos na família.
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Síndrome De Münchausen “Em 1977, o Dr. Roy Meadow atribui o nome de Síndrome de Münchausen by proxy (por procuração) aos casos em que havia a fabricação de uma história clínica ou de sintomas para uma criança, feita pelos pais, com o objetivo de conseguirem avaliações médicas desnecessárias, bem como procedimentos clínicos e hospitalizações. Várias maneiras são utilizadas pelos pais para produzirem tal síndrome, as quais variam desde histórias falsas e casos em que estes produziram ativamente sintomas nos filhos”. Violência Psicológica É entendida como agressão ao mundo mental a desvalorização, expectativas negativas, não reconhecimento de qualidades, permanente acusação – destrói o sujeito ao retirar-lhe a autoestima e danifica sua subjetividade como: • rejeitar – quando não se reconhece o valor da criança, nem a legitimidade de suas necessidades; • isolar – quando se afasta a criança de experiências comuns à sua idade e meio social, impedindo-a de ter amigos e fazendo-a crer que está só no mundo; • aterrorizar – quando se pratica agressões verbais à criança, instaurando clima de medo, aterrorizando-a e fazendo-a crer que o mundo é hostil; • ignorar – quando não se estimula o crescimento emocional e intelectual da criança;
•
corromper – quando se induz a criança à prostituição, ao crime, ao uso de drogas; ou, ainda, criar expectativas irreais ou extremadas sobre seu rendimento escolar, intelectual, esportivo e outros. Indicadores para a Identificação da Violência Psicológica
INDICADORES FÍSICOS DA COMPORTAMENTO DA CARACTERÍSTICAS CRIANÇA / ADOLESCENTE CRIANÇA / ADOLESCENTE DA FAMÍLIA Problemas de saúde; obesidade; distúrbios do sono; afecções da pele; dificuldade na fala; comportamento infantil: urinar na roupa ou na cama, chupar o dedo.
Problemas de aprendizagem; comportamentos extremos de agressividade ou de timidez, destrutivo ou autodestrutivo; problemas com o sono; baixo conceito de si; depressivo; apático; inseguro; tendência suicida.
Tem expectativas irreais sobre a criança; rejeita; aterroriza; ignora; isola; exige em demasia; corrompe; descreve a criança como muito má, diferente das demais.
Violência Sexual Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, cujo agressor é um adulto ou pessoa que esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança ou o adolescente e utilizá-los para obter satisfação sexual. Inclui manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual, “voyerismo”, pornografia e exibicionismo, e o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência. Outras definições importantes a saber
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Incesto - “Toda atividade de caráter sexual, implicando uma criança de 0 a 18 anos e um adulto que tenha para com ela, seja uma relação de consangüinidade, seja de afinidade ou mera responsabilidade” (AZEVEDO e GUERRA, 1989). Estupro - “Do ponto de vista legal, é a situação em que ocorre penetração vaginal com uso de violência ou grave ameaça, sendo que, em crianças e adolescentes de até 14 anos, a violência é presumida; sedução, quando há penetração vaginal, sem uso de violência, em adolescentes virgens de 14 a 18 anos incompletos; atentado violento ao pudor, quando se constrange alguém a praticar atos libidinosos, sem penetração vaginal, utilizando violência ou grave ameaça, sendo que, em crianças e adolescentes de até 14 anos, a violência é presumida, como no estupro” (COLEÇÃO Garantia de Direitos n.º 02, Abrapia, 1997). Assédio sexual - “É caracterizado por propostas de contato sexual, quando é utilizada, na maioria das vezes, a posição de poder do agente sobre a vítima, que é chantageada e ameaçada pelo agressor” (COLEÇÃO Garantia de Direitos n.º 02, Abrapia, 1997). Exploração sexual - “É definida como a utilização ou participação de crianças ou de adolescentes em atos sexuais com adultos ou outros menores, em que não está necessariamente presente a utilização de força física, mas pode estar presente outro tipo de força, como a coação. Ocasionalmente, pais que vivem em situação miserável vendem seus próprios filhos” (COLEÇÃO Garantia de Direitos n.º 02, Abrapia, 1997). Indicadores para Identificação da Violência Sexual INDICADORES FÍSICOS DA CRIANÇA / ADOLESCENTE
COMPORTAMENTO DA CARACTERÍSTICAS CRIANÇA / ADOLESCENTE DA FAMÍLIA
Dificuldade em caminhar. Apresenta, nas áreas genitais ou anais, dor ou inchaço; lesão ou sangramento; infecções urinárias; secreções vaginais ou penianas; baixo controle dos esfíncteres. Pode apresentar DSTs; excessiva vergonha; enfermidades psicossomáticas; alega ter sido abusada.
Vergonha excessiva; autoflagelação; comportamento sexual inadequado para a sua idade; regressão a estado de desenvolvimento anterior; tendências suicidas; fugas constantes de casa.
Muito possessiva com a criança, negando-lhe contatos sociais normais; acusa a criança de promiscuidade ou sedução sexual; acredita que a criança tem atividade sexual fora de casa; crê que o contato sexual é forma de amor familiar; conta estórias, alegando outro agressor para proteger membro da família; (o agressor pode já ter sofrido esse abuso na sua infância).
Negligência Ato de omissão do responsável pela criança ou pelo adolescente em prover as necessidades básicas para seu desenvolvimento, quando tal falha não é resultado das condições de vida além de seu controle. A negligência poderá ser considerada moderada ou severa, dependendo do risco para a criança. Indicadores para Identificação da Negligência INDICADORES FÍSICOS DA CRIANÇA/ADOLESCENTE Padrão de crescimento deficiente; apresenta vestimenta inadequada ao clima; problemas físicos ou necessidades não atendidas; fadiga constante e
COMPORTAMENTO DA CRIANÇA / ADOLESCENTE Comportamento extremo: hiper ou hipoativo; assume responsabilidades de um adulto; comportamento infantil ou depressivo; contínuas ausências
CARACTERÍSTICAS DA FAMÍLIA Apática e passiva; não parece se preocupar com a situação da criança; não busca resolver as necessidades de atenção da criança; baixa auto-estima; abusa
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pouca atenção.
ou atrasos à escola e a consultas de álcool e/ou drogas; apresenta médicas. severo desleixo com a higiene e a aparência pessoal.
O profissionalismo no atendimento a casos de violência doméstica/intrafamiliar exige que os profissionais envolvidos: • acreditem sempre na criança ou no adolescente, até que evidências muito fortes o desaconselhem; • tenham o compromisso de proteger a vítima e todas as demais crianças e/ou adolescentes presentes na família abusiva; • compreendam que a eficácia de sua atuação para interromper o ciclo da violência dever ter como alvo a família abusiva, em sua dinâmica interna e externa; • estabeleçam relação amistosa com a família, evitando promessas que não poderão ser cumpridas; • saibam que o seu objetivo é identificar o problema e ajudá-los e não culpabilizar; • não deixem que seus preconceitos, valores, suas próprias cognições e emoções distorçam o processo de atendimento; • saibam atuar cooperativamente, evitando cair nas tentações do individualismo e da onipotência; • registrem de forma fidedigna os fatos relatados por cada indivíduo envolvido no caso, checando as informações e estando atento a dados sem lógica e incompatíveis; • observem o ambiente físico, as relações familiares e sociais; • notifiquem obrigatoriamente os casos identificados de violência doméstica/intrafamiliar ao Conselho Tutelar de sua localidade e, no caso de inexistência deste, à Vara da Infância e Juventude; • mobilizem os recursos necessários, a fim de se promover uma rede de apoio e prevenção de reincidências. Vale ressaltar que é necessário abordar o tema sob o ponto de vista das relações familiares como responsabilidade de todos os integrantes, em suas interações internas e externas, devendo o atendimento ser dirigido a todos os membros da família, inclusive ao agressor. A intervenção deve buscar ajudá-los a resolver conflitos por consenso e mediação, meios não violentos, a controlar a impulsividade/agressividade, a se perceberem desmitificando mitos e tabus em relação ao fenômeno da violência doméstica/intrafamiliar. Acreditamos que a forma mais eficaz de combater a (re) produção da violência doméstica/intrafamiliar em suas várias modalidades é a estratégia de sistematização das ações em três níveis preventivos, sendo garantida a retaguarda necessária, conforme preconiza o artigo 86 do ECA, que estabelece que a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente dar-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, isto é, a proteção integral só será garantida pela integração das políticas públicas, tendo como estratégia o trabalho em rede. Prevenção primária É o conjunto de estratégias dirigidas a toda a população, visando reduzir a incidência ou o índice de ocorrência de novos casos, sensibilizando e orientando a comunidade. As estratégias podem incluir encontros, palestras, debates, reuniões, etc. Prevenção secundária É o conjunto de estratégias que visam à detecção precoce de crianças e de adolescentes em situação de risco, impedindo atos de violência e/ou sua repetição. Incluem estratégias, como visitas domiciliares, atendimento para oferecer orientação e encaminhamento especializado, quando necessário. Atua em situações já existentes.
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Prevenção terciária É o oferecimento de tratamento especializado às famílias vítimas de violência doméstica/intrafamiliar, visando reduzir as conseqüências do fenômeno ou a evitar sua repetição. As estratégias consistem em intervenções terapêuticas de diversas modalidades, tendo por objetivo o acompanhamento integral da vítima e do agressor. Precisamos contribuir para mudar a mentalidade, condicionada durante séculos, de viver numa “cultura de guerra”, “salve-se quem puder”... É necessário um movimento articulado de pessoas, grupos, instituições, programas, serviços, reunindo esforços do poder público e da sociedade civil para prevenir, combater e superar toda e qualquer forma de violação de direitos de crianças e de adolescentes. “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” Artigo 4º do ECA. “Muitas pequenas coisas feitas em muitos pequenos lugares por muitas pessoas miúdas podem mudar a face do mundo.” Provérbio chinês *Assistente social, com especialidade em violência doméstica pela USP/Lacri-SP Bibliografia ABRÁPIA Coleção garantia de direitos FIA – cadernos 1 e 2. Rio de janeiro: 1997. AMENCAR/FMSS e outros Atendimento de crianças e de adolescentes em rede: uma proposta para a proteção integral - Rio Grande do Sul AZEVEDO, M.A. e GUERRA, V.N.A. Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder - São Paulo: Iglu, 1989. AZEVEDO, Maria Amélia e GUERRA, Viviane Módulos Laboratório de Estudos da Criança (LACRI): São Paulo, 1997. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Cortez. São Paulo: 1991. CBMM/ABRINQ 10 medidas básicas para a infância brasileira - São Paulo: outubro/1994. DESLANDES, Suely Ferreira Prevenir a violência: um desafio para profissionais de saúde Rio de Janeiro: CLAVES Jorge Carelli, 39 p. (Superando a violência; v.2) 1997. GUERRA, V.N.A. Violência de pais contra filhos: procuram-se vítimas. 1º edição - São Paulo: Cortez, 1985. GUERRA, V.N.A. Violência física doméstica contra crianças e adolescentes e a imprensa: do silêncio à comunicação. São Paulo: PUC, 1996. VIOLÊNCIA contra a criança e o adolescente – proposta preliminar de prevenção e assistência à violência doméstica - Brasília: Ministério da Saúde, 1993. PARISE, Cláudia Habli Brandão. SOS Humanidade. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA ESCOLA DE PAIS, 6., 1999. A família do Século XXI: nossos filhos serão bons pais ? Brasília: Escola de Pais do Brasil, Secção de Brasília / DF, 1999. p. 22-23. Sugestão De Filmes 01. A sombra da dúvida. Dirigido por ALINE ISSERMAN, Paris Vídeo Filmes, 147 minutos. 02. Longa jornada noite adentro. Dirigido por SIDNEY LUNET, Paris Vídeo Filmes, 136 minutos 03. Um dia de fúria. Dirigido por JOEL SCHUMACHER, 1992, 133 minutos. 04. Um dia para não esquecer. Vídeo Arte do Brasil, 1991, 90 minutos. 05. Mamãe faz 100 anos. Dirigido por CARLOS SAURA, Look Vídeo, 1990, 100 minutos. 06. Paisagem na neblina. Dirigido por THEO ANGELOPOULOS, Look Vídeo, 1976, 105 minutos 07. Cria Cuervos. Dirigido por CARLOS SAURA, Look Vídeo, 976, 150 minutos. 08. A família. Dirigido por ETTORE SCOLA. América Filmes.
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09. Parente... é serpente. Dirigido por MÁRCIO MOUICELLI, Itália, Look Filmes, 1993, 100 minutos. 10. Em nome do amor. Dirigido por MAIK HANBER. EUA, Hallimark, 1996, 120 minutos. 11. Pai Patrão. Dirigido por PAOLO e VITTORIO TAVIANI, Itália, Vídeo Pole, 113 minutos. 12. Acidentes Mortais. Dirigido por SANDOR STERN, USA, Hallmark. 13. A Sombra da Dúvida. Dirigido por ALINE ISSERMANN. França, Look Filmes, 1995, 107 minutos. 14. Traída pela Justiça. EUA. Califórnia Home Vídeo, 1994, 95 minutos.
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SEXUALIDADE SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA Ana Sudária de Lemos Serra1 Sexualidade é energia vital que nasce com o ser humano e continua até a sua morte, manifestando-se como um fenômeno biopsicossocial que influencia no seu modo de estar, compreender e viver o mundo como ser sexuado. Homem e Mulher. Sendo assim, a sexualidade e suas expressões se ampliam além do foco das respostas genitais e estão submetidas às modificações decorrentes das experiências de aprendizagem proporcionadas pelo meio ambiente vivencial e das transformações anatômicas e fisiológicas das diferentes fases que fazem parte do contínuo processo evolutivo do ser humano. Na adolescência, a sexualidade se manifesta em novas e surpreendentes sinestesias corporais, em desconhecidos desejos e nas novas necessidades de relacionamento interpessoal ocasionadas pelas alterações hormonais trazidas pela puberdade, sendo um foco importante de preocupação e curiosidade para adolescentes de ambos os sexos. A maneira como o adolescente vai lidar com a sua sexualidade, a maneira como vai expressá-la e vivê-la, é influenciada por vários fatores entre os quais estão a qualidade da relação emocional e afetiva que vivenciou com pessoas significativas na infância e vivência no aqui e agora, pelas transformações psicológicas e cognitivas trazidas pelo crescimento e desenvolvimento, até os valores, normas morais e crenças da sociedade na qual ele está inserido. Como um fenômeno biopsicossocial carregado de profundas transformações nessa fase evolutiva e como parte inerente da identidade, a expressão da sexualidade no adolescente é colorida pela busca de sua identidade adulta, o que acarreta algumas características específicas que valem a pena serem enfatizadas. Os conflitos que vivem com seu corpo em mudança oscilam entre o prazer do crescimento e o medo e estranheza das novidades que esta mudança acarreta. As comparações que ele faz entre o corpo ideal, criado por modelos de beleza de uma cultura de massa consumista, e o seu corpo real podem influenciar de maneira negativa no seu auto-conceito. Conseqüentemente, podem se refletir depreciativamente na sua auto-estima e auto-afirmação, tão necessárias ao descobrimento de si mesmo como pessoa que tem qualidades, que tem defeitos e com um potencial criativo a ser desenvolvido e utilizado durante a vida, para responder saudavelmente às demandas de um mundo influenciado por constantes e rápidas transformações e com valores mutáveis, que repercutem na sua maneira de viver e exprimir a sua sexualidade. Organizando-se como uma pessoa separada emocionalmente dos pais, afastando-se do seu papel de criança e experimentando papéis de adulto, o adolescente vivencia conflitos ambivalentes de dependência e independência expressos na maneira como questiona as atitudes, comportamentos e valores de sua família e sociedade. Ele constrói sua referência de valor, de ética, de moral, sua maneira de pensar e estar no mundo, relacionando-as, às vezes, contrariamente aos valores familiares e sociais. Essa reorganização de si mesmo passa por condutas peculiares transitórias, que podem se refletir na maneira de vestir e no uso de adereços, na higiene e na organização pessoal e do espaço em que vive e nas atitudes sociais reivindicatórias. Querendo saber mais sobre o mundo que o cerca, avaliando-o com critérios diferentes, utiliza, ao lado dos pensamentos concretos de sua infância, a sua mais recente aquisição: o pensamento abstrato, que traz elementos novos para essa avaliação. Essa nova maneira de ver e avaliar o mundo pode gerar pensamentos onipotentes, mágicos que determinam hipóteses avaliativas equivocadas que atuam como verdades e interferem no comportamento do adolescente e conseqüentemente no seu comportamento sexual. No mundo onipotente juvenil, como resultado 1
Psicóloga, Técnica Especialista da Área da Saúde do Adolescente e do Jovem
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da idéia - “comigo isso não acontece, só com os outros” - aparecem as gravidezes não planejadas e os comportamentos de risco no trânsito e na atividade sexual, entre outros. Nessa etapa de reorganização de si mesmo é fundamental o grupo de companheiros como suporte para o adolescente. Nesse espaço, o adolescente se identifica com outras pessoas, vivencia novos papéis, assimila outros valores que não os familiares. Enfim, o grupo fornece, atrativamente, uma nova estrutura de padrões sociais e sexuais que se somará aos outros fatores anteriormente assinalados, na adoção de um estilo de vida que vai se espraiar nos seus comportamentos e maneira de viver, de expressar a sua sexualidade, com alto ou baixo risco para a sua saúde biopsicossocial. Para contraponto dessa situação é importante que o meio ambiente, e com maior ênfase o ambiente educacional familiar e escolar, favoreça o desenvolvimento do senso crítico do adolescente. Isto melhorará a qualidade da sua análise com relação a si mesmo e ao mundo em que vive, o que repercutirá favoravelmente em suas escolhas e decisões. As escolhas e decisões, nessa faixa evolutiva, são decisivas na geração de um projeto de vida compatível com os sonhos e os desejos do adolescente e que será factível com a interrelação de seus esforços, de suas atitudes e comportamentos perante a vida, com as possibilidades que a sociedade, na qual está inserido, lhe proporcionar. Na sociedade brasileira moderna, os diversos estratos sociais, culturais e religiosos, com suas normas, valores e crenças cobrem diferencialmente a visão que se tem da sexualidade. Dentro desta policromia trafega o adolescente buscando referenciais para si mesmo. O que ele encontra? Por um lado o modelo machista de expressão da sexualidade como poder, como competição, delimitando e estereotipando papéis sexuais para os homens e mulheres, propondo uma educação liberal para os meninos e repressora para as meninas que faz da sexualidade um instrumento de submissão, dificultando as relações interpessoais e impedindo a experiência relacional liberadora de energias criativas. De outro lado, a sexualidade vista através da educação coercitiva e preconceituosa, por ação ou omissão, mostrada como algo feio, errado e proibido e que só tem como conseqüência as doenças sexualmente transmissíveis e as gravidezes indesejadas. O prazer sexual é relegado a segundo plano, é desmerecido. não sendo visto como parte da vida afetiva do ser humano. A sexualidade passa a ser vivenciada racional e objetalmente, afastada do seu significado mais humano que é o prazer da comunicação afetiva, de reciprocidade, de interação e como determinante de uma relação integradora e prazerosa. No entanto, por força do relógio biológico, os adolescentes assumem a sua sexualidade. Começam a conhecer e experimentar o corpo através de atividades auto-eróticas. Com as amigas íntimas e os amigos inseparáveis preparam-se para se aproximarem do sexo oposto. Nesta etapa, é comum acontecerem aproximações mais intimas entre adolescentes do mesmo sexo, o que não determina a definição do homossexualismo, e sim a prática de experiências exploratórias na busca de sexualidade genital adulta. As primeiras paixões eclodem, o relacionamento com outros adolescentes acontecem de diferentes maneiras e graus, de acordo com os comportamentos prevalentes e mais aceitos no grupo e na sociedade a que pertence o adolescente. Com olhares, com tapinhas e risinhos, através das declarações de amor nas agendas, na troca de pequenos presentes, bilhetinhos e recados, nos encontros nos pátios das escolas, com o gostar mais da sensação de estar amando, do que mesmo amar o outro, com os amassos, no ficar, com as relações sexuais com e sem penetração, eles e elas vão construindo a rede de experimentações da sexualidade genital, de trocas afetivas, buscando o amor à base do vínculo afetivo entre dois seres, iniciando um novo pensar sobre a sexualidade, um pensar mais aberto, mais verdadeiro, mais humano. Mas estes jovens começam a se defrontar, de maneira diferenciada, conforme a classe social a que pertencem, também com questões ambientais, econômicas e sociais muito importantes porque vão influenciar na sua vida, na sua saúde e no seu comportamento sexual. Os fatores acima se mesclam a outros como a influência dos meios de comunicação, cada vez mais explícita no que se refere às manifestações da sexualidade, à diminuição no controle familiar e às questões de foro íntimo que favorecem o início mais cedo e o aumento das relações sexuais na adolescência, muitas delas não protegidas, o que é um fator de risco a mais nesses tempos de AIDS.
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Necessário, portanto, que se dê atenção diferenciada aos adolescentes para que vivam de maneira saudável e protegida a sua sexualidade, cuidando-se e cuidando do outro, a fim de evitar situações difíceis e de ameaça à sua saúde sexual, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como: “a integração positivamente enriquecedora e que fortalece a personalidade, a comunicação e o amor”. Assim conceituada, a saúde sexual abrange todos os aspectos importantes da vivência plena e do encontro entre duas pessoas, norteando o enfoque educativo, principalmente preventivo, que se vai estabelecer no trabalho de promoção da saúde, dentro desta área, com adolescentes. Evidencia-se o indivíduo, - ser sexual -, com todas as suas necessidades, potencialidades e especificidades da faixa evolutiva da adolescência, como centro do processo. A partir dele, com ele e para ele construir-se-ão as redes de educação preventiva, considerando-se o desenvolvimento de habilidades e práticas pessoais para viverem em sociedade, superarem problemas, e o reforço ou a mudança para atitudes positivas frente à saúde, vista integralmente, como indispensáveis à promoção de uma qualidade de vida saudável e prazerosa. Na constituição dessas redes de educação preventiva deve-se considerar: 1) O adolescente como parceiro social no processo de aprendizagem, cujo potencial de recursos e conhecimentos prévios são valorizados, utilizados e potencializados, constituindo o núcleo inicial e de troca na aprendizagem; 2) O educador como facilitador do processo, atuando através de uma postura dialógica, participativa, de estimulação à reflexão crítica da realidade, de respeito aos adolescentes e às suas especificidades e conhecedor da indissolubilidade entre cognições e afetividade. 3) Um conteúdo que não use subterfúgios nas análises das relações sociais e das questões de gênero, dos mitos, preconceitos e tabus que envolvem os temas abordados. Um conteúdo que retrate a vivência do dia a dia, que esteja perto da realidade do educando e satisfaça seus interesses, que reflita seus sentimentos e suas necessidades. Um conteúdo que repense a significação e a experiência erótica investida em determinadas práticas sexuais dentro de diferentes culturas e contextos sociais, não só como barreiras para o processo decisório racional, mas como matéria prima para fundamentar estratégias facilitadoras de mudanças de atitudes não saudáveis. Enfim, um conteúdo que retrate a vida e que traga no seu bojo a abertura para outros olhares em direção a mudanças sociais e de relação de poder entre as pessoas, indicando que a plenitude do prazer só pode ser alcançada quando nenhuma outra dimensão da personalidade do ser humano - homem ou mulher - for impedida de se desenvolver. Sendo parte inerente deste contexto metodológico, evidencia-se o desenvolvimento da criatividade como um foco irradiador e facilitador de mudanças e apreensão de novos conhecimentos. Através da vivência integradora do ato criativo, adquire-se uma flexibilidade mental que torna mais permeáveis os conceitos, as hipóteses, percepções e opiniões, favorecendo a aprendizagem significativa a qual, uma vez adquirida, se espraia sobre todos os contextos vivenciais do ser humano. A criatividade passa a ser uma atitude da pessoa no enfrentamento da dinâmica do cotidiano. Como pano de fundo nesta metodologia ainda se insere, de maneira especial, a ludificidade que liberta a pessoa através da alegria, resgatando a idéia de que a sexualidade, também, é prazer. Prazer criador, prazer de viver, prazer de estar consigo mesmo e de estar com o outro, prazer de amar. prazer sexual. Educar para a vida é educar para a vivência satisfatória da sexualidade em todas as nuances do Ser Sexual. É encontrar o outro e viver esse encontro com toda a plenitude e satisfação. É viver o amor e a felicidade, o que vai ao encontro do que os jovens brasileiros priorizam na vida, e que está expresso no recado mandado por eles através da pesquisa - O Adolescente por Ele Mesmo. Recado dos jovens sobre a felicidade “Felicidade para nós é, primeiramente, ficar com a pessoa que amamos, em segundo lugar construir ou pertencer a uma família que se entenda bem e viva harmoniosamente, e, em terceiro, ter um trabalho que remunere bem. Só assim poderemos nos dizer realizados”.
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Educados para a vida, os adolescentes têm condições para exercer a sua cidadania, atuar modificadoramente em seu meio ambiente e conseqüentemente influenciar em políticas públicas e na reorientação de serviços para que os atendam em suas necessidades, promovendo, eficazmente, a sua saúde integral. Referências Bibliográficas Aberastury, A. Knobel, M.: Adolescência Normal; Porto Alegre; Artes médicas; 1988. Tiba, I.; Sexo e Adolescência; São Paulo; Mica; 1986. Donas, S.; Marco Epidemiológico Conceitual de Saúde Integral do Adolescente; Brasília; OPS/OMS; 1992. Chelala, C. A. e outros; La Salud e los Adolescentes y los Jóvenes en las Américas: escribiendo el futuro; Washington: OPS/OMS: 1995. Católicas por el Derecho a Decidir; Consciencia Latinoamericana; VII; (4): pág. 1; Montevidéu; 1995. Guimarães, V. e outros; Sexualidade na Adolescência; Recife; Fundação Roberto Marinho; 1992. Zenker, I.; Adolescente também é Gente; São Paulo; Summus; 1985. Costa, A. coordenador; Amor e Sexualidade: a Resolução dos Preconceitos; São Paulo; Editora 1994. Madaleno, M.; Munist, M.M.; Serrano, CV.; Silber, T.J.; Ojeda, E.N.S.; Yunes, J.; La Salud del Adolescente y del Jovem; OPS/OMS; Publicación Científica 582, Washington; 1995. Parker, R.; A Construção da Solidariedade; Rio de Janeiro; Relume Dumará; 1987. Saffioti, H.I.B.; O Poder do Macho; São Paulo; Ed. Moderna! 6 edição; 1992. Almeida, S.F.C.; Finalidades da Educação: das concepções tradicionais a uma concepção dialética; Revista Criança: revista do professor de educação infantil; MEC; 28. Pág. 22 a 26/1995. Rogers, R.C.; Tomar-se Pessoa; Artes Médicas; Porto Alegre; 1981. Zaguíy, T.; O Adolescente por Ele Mesmo; Rio de Janeiro; Ed. Record;1996.
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O PRAZER PELOS CINCO SENTIDOS Mônica Mulatinho Você sabe o que é Sensar ?? SENSAR é a capacidade de sentir prazer pelos cinco sentidos!! É o próprio exercício da sexualidade em sua plenitude!! É de SENSAR que vem o SENSUAL, e por aí já se tira que estar sensual tem tudo com estar sentindo prazer! E como podemos sentir prazer? AAAAAH!! Já sei!! É pelo ORGASMO! Sim, também! Porém não devemos fazer um reducionismo tão grande, sem dúvida alguma o orgasmo é uma sensação intensa de prazer, mas não a única em nosso corpo. Na verdade, o corpo humano é uma fonte inesgotável de prazer , e... para nossa decepção, sentimos prazer o tempo todo, mas pouco nos contamos sobre isto! Pouco nos conectamos com isto! Que grande vacilo!... As maiores dádivas que tivemos da natureza no que toca às fontes de prazer do nosso corpo, não se reduzem apenas a um clitóris , uma vagina ou um pênis, isto já é a conclusão da história! As maiores dádivas são os nossos fabulosos Cinco Sentidos: o Tato, a Visão, o Olfato, a Audição e o Paladar. É por aí que tudo de bom começa , Invariavelmente! É por aí que se tem TODA a percepção da VIDA , mas é preciso estar disponível para nos percebermos! Como poderíamos sensar com a VISÃO? Sentir Prazer... -HUUUMMMMMM... Você vai me dizer que é vendo tipos como a Daniela Ciccareli ou o Thiago Lacerda nus , olhando para você com cara de “vem cá meu bem”ou algo do gênero... -Acertou!! -E o que mais??!! -AAH! O Dado Dolabella?!... -Sim, mas saia também da espécie HUMANA! -HHHHHHEEEEIIIINN !! -Sim, o que mais pode ser um prazer visual? Ver um pôr do sol, é o exercício da Sexualidade, Admirar um belo jardim, é o exercício da Sexualidade, Contemplar o mar, é o exercício da Sexualidade... E no que toca o tato? Além do toque da pessoa amada, uma massagem deliciosa, um beijo, uma ducha de cachoeira, a brisa fresca do vento, tudo isto é o exercício da Sexualidade!! Lembro-me do filme “A Ostra e o Vento” , que conta a história de um faroleiro que vive só numa ilha com sua filha adolescente. Ela, muito isolada, sensava com o vento que era seu namorado, e o chamava de Eduardo! Bela cena! Sentia-se abraçada e acariciada pelo vento! E quanto ao paladar? Além do gosto da pele da pessoa amada, o gosto daquele temperinho baiano ou mineirinho... Huuuuuuummmmm... Comer gemendo... Isto é um grande exercício da sexualidade!! E o olfato? O cheiro da pele da pessoa desejada, o perfume de uma flor, cheiro de café, de um bom tempero, chocolate... Tudo isto é usufruir da faculdade de SENSAR...
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E quanto à audição? Huuuuuuummmmmmm...O sussurro da pessoa amada... Uma bela música que nos embale... Delícia! O canto dos pássaros... O barulho do vento ou da água caindo... Pois é... Depois de tanto prazer... Vem uma triste constatação: Quem se permite usufruir de todos estes poternciais? Quem se percebe sensando no dia a dia? Nesta engrenagem capitalista, quando nos descuidamos ,não temos tempo sequer para perceber as nossas sensações físicas, imaginem os nossos sentimentos!! Há uma grande falta de autoconexão e autoconhecimento a que esta nossa cultura ocidental nos induz ... Que lamentável, perdermo-nos de nós mesmos e desperdiçarmos a oportunidade de degustar o belo da vida e o belo das próprias pessoas que amamos!... -Incêndio? Aonde? E é!!! Está pegando fogo!! -Estragado?!! Xiiiiiiiiiii... Já comi!! Enquanto isto ,no que toca ao usufruto dos cinco sentidos, o casalzinho indiano, em sua lua de mel , passa uma semana com vida sexual ativa e sem penetração! ÉÉÉ!!! Pasme! Sem penetração! Apenas sensando com os cinco sentidos! A mulher faz mais de 64 artes antes de se casar, dentre elas massagem, dança, canto , uma bandeja de deliciosas frutas, essências afrodisíacas, e um cenário com cores quentes como vermelho e dourado fazem parte das preocupações pré-nupciais. Assim sendo, não há um reducionismo da sexualidade à genitalidade! O exercício da mesma é praticado por todos os poros! Todos os átomos e com uma grande amplitude de possibilidades! Agora eu te pergunto: Desta forma, precisa de VIAGRA?!?
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PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA: GRANDES MUDANÇAS ECOS Conceitos No Guia de Orientação Sexual1 (GPTOS, ABIA, ECOS), a puberdade é caracterizada por profundas mudanças físicas, que podem ser acompanhadas por alterações de humor, instabilidade emocional, questionamentos e conflitos. Já adolescência é definida por transformações psicossociais e a busca de uma identidade autônoma, rompendo com laços familiares de dependência infantil. Esta busca de autonomia, freqüentemente, é acompanhada de comportamentos agressivos e de oposição aos valores familiares e sociais. A Organização Mundial da Saúde define esse período da vida a partir do aparecimento das características sexuais secundárias, do desenvolvimento de processos psicológicos e de padrões de identificação que evoluem da fase infantil para a adulta; e pela transição de um estado de dependência para outro, de relativa autonomia. Hoje, no Brasil, crianças e adolescentes são considerados sujeitos com direitos especiais porque são pessoas em processo de desenvolvimento físico, moral, espiritual e social. O ECA Estatuto da Criança e do Adolescente, lei federal criada em 1990, e a constituição de 1988, art. 227, determinam que o atendimento das necessidades e dos direitos das crianças (até 12 anos) e adolescentes (12 a 18 anos) seja prioridade absoluta das políticas públicas do país e dever da família, da comunidade e do Estado. Crescimento e Mudanças do Corpo Neste período da vida, grandes mudanças ocorrem: do ponto de vista biológico, por volta dos 11, 12 ou 13 anos, uma área que fica no cérebro (o hipotálamo) manda mensagens para a hipófise (uma glândula) que, por sua vez, começa a produzir dois hormônios: o Luteotrófico e o Folículo Estimulante. Estes dois hormônios se deslocam pelo sangue até os testículos dos meninos e os ovários das meninas. A partir desse momento, o corpo de criança começa a sofrer várias modificações: o crescimento é mais rápido e desproporcional, o cheiro de suor e dos genitais fica mais forte, os pêlos vão surgindo aos poucos. As meninas começam a desenvolver os seios, os contornos do corpo ficam mais arredondados, a menstruação vem pela primeira vez. Os meninos têm sua voz alterada, os testículos aumentam, o saco escrotal fica mais baixo, mais comprido e enrugado, o pênis e o saco escrotal ficam mais escuros e começam a ter ejaculação. É a partir desta fase que as meninas e meninos se tornam capazes de gerar um/a filho/a se tiverem uma relação sexual e não usarem métodos anticoncepcionais. Para entender melhor as mudanças que ocorrem nessa faixa etária, Jozenir Alves de Oliveira nos lembra que “ser um adulto significa, para o adolescente, perder a sua condição de criança e isso não é apenas passar por uma série de mudanças corporais. A maturação física e psíquica depende das influências internas de cada pessoa, bem como das influências do meio onde ela vive. No que diz respeito ao desenvolvimento psicológico do adolescente é importante uma nova relação com os pais e com o mundo, para que ele possa ser considerado um adulto” 2.
1
GTPOS/ABIA/ECOS. Guia de Orientação Sexual: diretrizes e metodologia. 5ª ed. – São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. 2 OLIVEIRA, Jozenir A. A fase adolescente e as motivações para a droga. In Prevenção ao Uso Indevido de Drogas. CEAD/CORDATO, Universidade de Brasília, 1991.
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Segundo Aberastury3, isso só vai ser possível quando o/a adolescente elaborar as perdas, ou lutos, decorrentes dessa fase do desenvolvimento: a perda do corpo infantil, a perda da identidade infantil e a perda da relação com os pais tal como era na infância. No que diz respeito ao corpo, é preciso tempo e paciência para que o/a jovem passe a aceitar as suas mudanças e elaborar a perda do corpo que até então conhecia e dominava. Oliveira afirma que até a entrada da puberdade, a criança experimenta uma situação de dependência lógica e natural, principalmente em relação aos pais. Com a perda do corpo infantil, e com esta também a de seu papel de criança, ocorre, então, uma confusão de papéis, já que não pode manter a dependência infantil, mas ainda não pode assumir a independência adulta. Dessa forma, o/a adolescente acaba atribuindo uma grande importância ao grupo e aos pais/mães, a responsabilidade e as obrigações pelo seu sustento. E se para a criança, pais e mães eram vistos/as como seres perfeitos e sem fraquezas, na adolescência, a conclusão a que geralmente chegam é que os/as pais/mães, na verdade, são pessoas passíveis de erros. Neste momento, iniciam-se as discussões e a contestação da autoridade paterna e materna, que não devem ser traduzidas como sinais de abandono ou ressentimento, mas sim, que o/a adolescente tem necessidade de encontrar outros pontos de referência, que não os da família. Segundo vários especialistas, certas características e atitudes são facilmente observáveis na adolescência: • os/as adolescentes adquirem novas capacidades de pensar sobre si mesmos/as e sobre o mundo; • entram numa fase chamada egocentrismo, onde a autocrítica é muito intensa, partem da suposição que os/as outros/as estão sempre pensando alguma coisa sobre eles/as, e têm a impressão de serem os/as únicos/as a terem certos tipos de problemas. Este pensamento egocentrado vai diminuindo à medida que aumenta o contato social, compartilhando-se as experiências; • são muito idealistas, acreditam-se capazes de “mudarem o mundo”; • usam, como mecanismo de defesa, a negação (“isso não aconteceu” ou “isso não vai acontecer comigo”) e a intelectuação (tentam provar que o comportamento que tiveram é racional e justificável, logo, digno de aprovação social); • socialmente, começam a sentir a necessidade de terem uma identidade e uma filosofia de vida próprias e, geralmente, encontram essas respostas no grupo de amigos/as. O grupo funciona como uma sociedade em escala reduzida, oferece um laço com outros/as jovens que estão tendo as mesmas dúvidas e problemas; • o relacionamento amoroso é muito importante nessa fase como possibilidade de desenvolver a auto-estima e a autoconfiança. Entretanto, uma relação de intimidade (tal qual nós adultos/as compreendemos) só aparecerá depois da adolescência; • no que diz respeito às relações com a família, é importante saber que, apesar do impulso de independência ser uma característica natural, a perspectiva de uma independência completa é assustadora. A crítica contínua que fazem a pais/mães é uma forma de aliviar a crítica que têm sobre si mesmos/as. Pesquisas têm demostrado que, a despeito do conflito entre pais/mães e filhos/as, no final das contas, existem bem poucas diferenças entre os valores de ambos. Por dentro das mudanças: os hormônios Na infância, a glândula hipófise envia suas ordens químicas, em forma de moléculas chamadas gonadotrofinas, para o corpo fabricar os hormônios sexuais detonadores da puberdade. Mas, quando eles caem no sangue e alcançam o sistema nervoso, uma área cerebral conhecida por hipotálamo logo manda interromper essa produção. Na puberdade, o hipotálamo não só deixa o crescimento acontecer em paz, como o estimula, secretando o chamado hormônio libertador de gonadotrofinas (GnRH). Como o nome indica, a substância faz a hipófise liberar ainda mais gonadotrofinas, que são estimulantes das glândulas sexuais (ovários, no sexo feminino, e testículos, no sexo masculino). 3
ABERASTURY, Arminda. Adolescência normal e patológica. SP, Artes Médicas, 1988.
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A glândula hipófise Com pouco mais de 1 cm de diâmetro e cerca de 0,5 grama de peso, a glândula hipófise é uma das protagonistas do processo da puberdade. Situada na base do cérebro, ela produz uma série de substâncias importantes. Entre elas, as gonadotrofinas, que disparam o estopim da explosão de mudanças com liberação dos hormônios sexuais pelos testículos e ovários. FSH e LH As gonadotrofinas fabricadas na hipófise formam uma dupla de nome complicado: o FSH (do inglês, hormônio folículo-estimulante) e o LH (hormônio luteinizante). As duas substâncias são idênticas em meninos e meninas, mas têm efeitos diferentes conforme o sexo. • Nos garotos Neles, o FSH ativa a linha de produção dos espermatozóides, enquanto o LH induz a fabricação do hormônio testosterona nos testículos. Esse hormônio é o responsável pelas principais transformações físicas nos garotos. • Nas garotas Nelas, o FSH estimula os ovários a produzir o estrógeno, um dos hormônios femininos. Ele é encarregado das alterações na corpo das meninas. O LH, por sua vez, prepara um óvulo para ser fecundado a cada mês. O fenômeno da ovulação libera o segundo hormônio sexual das mulheres - a progesterona. Outras substâncias Os hormônios do crescimento, também produzidos na hipófise, é que provocam o estirão típico da puberdade. A substância chamada somotomedina C, fabricada no fígado, é outra que participa do crescimento. Os hormônios tireoidianos, da glândula tireóide, localizada no pescoço, aceleram o metabolismo e o funcionamento geral do organismo. Finalmente, os andrógenos, liberados pelas glândulas supra-renais, fazem aparecer os pêlos nas axilas e na região pubiana. Estatura A glândula hipófise, que já liberava substâncias chamadas hormônios do crescimento desde quando a criança era pequena, passa a trabalhar em um ritmo mais contínuo na puberdade. Os hormônios de crescimento, junto com uma substância fabricada no fígado, a somatomedina C, ligam-se às cartilagens que ficam nas extremidades dos ossos e desencadeiam a formação de novas células ósseas. Isso vai acontecendo devagar e sempre, até os hormônios sexuais entrarem em ação. A partir daí, o menino ou a menina começa a crescer a uma velocidade espantosa. É comum uma garota de 14 anos que ainda não menstruou ser a baixinha da classe. Isto acontece porque a ausência da menstruação é sinal de que seus hormônios sexuais ainda irão se elevar e ela inevitavelmente ganhará alguns centímetros de altura. O mesmo vale para o menino que ainda não teve a primeira ejaculação. Problemas de coordenação Na puberdade, todos/as ficam desengonçados/as. O responsável por esse período de descoordenação, que pode durar mais para uns/as do que para outros/as, é um órgão próximo da nuca, chamado cerebelo. Ele coordena todos os nossos movimentos, geralmente com precisão milimétrica. Mas sua eficiência falha nessa época da vida, pois o sistema nervoso continua comandando uma perna pequena quando no lugar dela já existe uma perna bem maior. Para se adaptar às novas dimensões do corpo, ele demora de seis meses a um ano, em geral, depois do chamado estirão da puberdade. A prática de esportes facilita essa adaptação.
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Que fome! É preciso muita energia, literalmente, para um organismo infantil se tornar adulto. Além da tremenda demanda por nutrientes, que fornece a matéria-prima para um músculo dobrar de tamanho ou um osso crescer alguns centímetros, há outros fatores que aumentam a fome do/a adolescente, como a prática de esportes, que costuma ser mais intensa nessa idade e também consome energia, e a ansiedade. Espinha e cravos A pele, principalmente a do rosto e das costas, fica mais gordurosa na puberdade por causa dos hormônios sexuais. Eles entram em ação nessa fase e estimulam as glândulas sebáceas a trabalhar dobrado. Em condições normais, a gordura das glândulas sebáceas lubrifica e protege a superfície cutânea. Em excesso, ela provoca o surgimento de cravos e espinhas. A oleosidade costuma ser transitória. Quando o corpo se adapta à presença dos hormônios, no final da puberdade, a pele volta ao normal ou pode até se tornar ressecada. Nem espinhas, nem cravos devem ser manipulados, sob a pena de deixarem marcas para sempre. Os casos mais graves devem ser tratados por um/a médico/a, que pode receitar loções adstringentes para reduzir a gordura ou até antibióticos específicos para combater as bactérias. Os pêlos Tanto nos meninos quanto nas meninas, duas glândulas que ficam sobre os rins - as chamadas supra-renais - começam a secretar dosagens cada vez maiores de hormônios chamados andrógenos. Eles produzem, entre outros efeitos, o aparecimento dos pêlos na região pubiana e nas axilas. Os outros hormônios sexuais, fabricados nos ovários das garotas e nos testículos dos garotos, engrossam os pelinhos minúsculos e quase transparentes, espalhados pelo resto do corpo. Daí a barba e o peito peludo, que vão ser mais ou menos acentuados conforme a programação genética de cada um, e que leva o rapaz a comemorar e a mocinha, a se preocupar com o visual das pernas ou com aquela penugem escura no buço. O que eles/as precisam saber, nesta etapa, é que os pêlos ainda não são sinal de pele adulta. E a menina vaidosa tem que saber que a primeira depilação deve ser feita um ou dois anos depois do aparecimento dessa pelugem, pois as ceras e as lâminas vão machucar os folículos estruturas em forma de saquinho, de onde saem os pêlos - e provocar o surgimento de pequenas espinhas. Se os pêlos incomodarem demais, a adolescente pode usar produtos descolorantes, mas nunca sem testá-los no braço, antes, para verificar se provocam alergias. Os rapazes, por sua vez, não devem escanhoar a barba, raspando-a na direção contrária à dos pêlos, pois o método triplica as chances de irritação da pele jovem. De onde vem este cheiro? As glândulas sudoríparas trabalham pouco na infância, mas liberam muito suor na puberdade, outra vez por causa dos hormônios sexuais. Em contato com certas bactérias do ar, esse suor em maior quantidade produz um cheiro ruim, sinalizando que chegou a hora de usar desodorante. Higiene é fundamental Do mesmo modo que o resto do nosso corpo, nossos genitais precisam de uma boa higiene: para começar, a melhor coisa a se fazer é tomar banho todos os dias. • A mulher deve lavar a região da vulva (a parte externa) somente com água e sabonete. Desodorantes, álcool ou quaisquer outros produtos podem causar irritação. Agora, caso apareça alguma ferida ou um cheiro ruim, é possível que a mulher esteja com alguma infecção, portanto, está na hora de procurar um/a médico/a . • O homem também deve lavar o seu pênis e seu saco escrotal com água e sabonete, lembrando-se sempre de puxar a pele que envolve a parte superior do pênis (prepúcio)
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porque embaixo desta região se acumula uma secreção, que provoca um cheiro ruim e, às vezes, irritação ou mesmo uma infecção. Cérebro maduro Todos nós nascemos com um número definido de células cerebrais ou neurônios. Mas nem todos os neurônios nascem prontinhos para entrar em operação, ao menos a todo vapor. Isso vai acontecendo à medida em que eles vão sendo recobertos por uma capa gordurosa e branca chamada mielina. Nas áreas cerebrais ligadas à linguagem, por exemplo, esse processo de revestimento é acelerado justamente por volta dos 6 anos. Na adolescência, as regiões relacionadas ao raciocínio abstrato mais complexo começam a funcionar e o cérebro fica em condições de pensar como gente grande. Nas mulheres, o processo tem início em média 18 meses antes que nos homens. O processo de amadurecimento cerebral só termina, para ambos os sexos, por volta dos 25 anos de idade. Será que eu sou normal? No caso dos adolescentes... O pênis A testosterona, um hormônio fabricado pelos testículos, faz o pênis crescer. Os garotos acompanham atentos o processo, milímetro a milímetro, e muitas vezes ficam muito angustiados. O tamanho do pênis como medida da virilidade e da capacidade de obter e proporcionar prazer sexual é um mito, isto é, ninguém é mais ou menos homem pelo tamanho do pênis e nem o seu prazer é maior ou melhor por causa disto. Ginecomastia: o que é isto? Os hormônios não aparecem de uma hora para a outra, já na dosagem ideal. Até que se equilibrem, alguns adolescentes passam pela experiência de ver seu peito crescer em graus variados. O problema, chamado ginecomastia, não afeta a masculinidade e costuma desaparecer em dois anos. Os gordinhos têm ginecomastia com mais freqüência, nem tanto pelas dobrinhas extras, mas pelo excesso de uma enzima chamada aromatase. Tratamentos hormonais não resolvem nada, o que adianta é fazer dieta e ter paciência. Irritação Os adolescentes costumam falar alto, gritam, dão respostas atravessadas e perdem a paciência por qualquer bobagem. É assim mesmo. A testosterona aumenta a agressividade nos meninos ao entrar no cérebro, via corrente sangüínea. Até o corpo se acostumar com a presença dessa substância em doses significativas, os nervos podem ficar mesmo à flor da pele. No caso das adolescentes... Seios O primeiro sinal de que a menina entrou na puberdade é o crescimento das glândulas mamárias. Se parecem desproporcionais num primeiro momento, em relação à estatura e aos contornos, não significa que ela terá busto avantajado. Depois que os quadris e as coxas arredondam, sob o efeito dos hormônios femininos, que provocam o acúmulo de gordura nessas regiões, suas formas ficarão harmoniosas e suas mamas, mais proporcionais. Entre os 16 e 18 anos, as meninas devem começar a fazer o auto-exame das mamas uma vez por mês, logo depois da menstruação. A presença de algum caroço dolorido nos seios, nessa
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idade, pode indicar a existência de displasia mamária, uma deformação provocada por desequilíbrio hormonal, comum na juventude, que costuma sumir mais tarde. Que tristeza!!! A fonte de lágrimas não é somente psicológica. Os fatores biológicos pesam bastante. Enquanto os hormônios masculinos aumentam a agressividade dos meninos, na puberdade, os femininos intensificam a melancolia. Quando os hormônios atingem as dosagens adequadas e entram em equilíbrio, o humor melhora. Menstruação A chegada da menstruação anuncia que a jovem já tem os órgãos reprodutores amadurecidos: portanto, pode engravidar e ser mãe. Uma vez por mês um dos óvulos da mulher amadurece e é expelido do ovário para a trompa. A menstruação propriamente dita tem a duração média de quatro dias. Algumas mulheres ficam menstruadas dois dias e outras até oito dias. Algumas têm pouco fluxo (perda de sangue), enquanto para outras o fluxo é intenso. Cerca de metade das mulheres nota pequenos coágulos (placas) em seu fluxo. Nos primeiros dois ou três anos em que se começa a menstruar, ela pode ser irregular, chegando mesmo a demorar de seis meses a um ano entre a primeira e a segunda menstruação. Isso significa que a liberação de óvulos não ocorre regularmente. O organismo leva certo tempo para aperfeiçoar seu mecanismo biológico. Depois de firmado o ciclo menstrual, ele pode ser alterado por outros fatores, como doença, uma dramática perda ou um súbito aumento de peso, nervosismo ou expectativa. A suspensão da menstruação chama-se menopausa. Ela ocorre entre os 45-52 anos e é parecida com o início, vai se tornando irregular nas primeiras vezes, até que desaparece. A partir daí a mulher não pode mais ter filhos, porque o ovário cessa de expelir óvulos. Mas ela continua a ter desejo e prazer sexual, mesmo durante a velhice. A menstruação não impede a relação sexual: é uma escolha do casal. Ciclo menstrual O ciclo menstrual é formado por três fases, das quais a menstruação é a fase do meio. O ciclo é controlado pelo hormônio estrógeno, na primeira fase e progesterona, na segunda fase, produzidos pelos ovários. O ciclo menstrual varia de uma mulher para outra. O número médio de dias do ciclo é de 28 ou 29. Mas pode variar de 21 a 35 dias e assim mesmo ser normal. É importante para toda mulher saber seu ciclo menstrual para poder determinar o período fértil. Para saber o seu, marque o primeiro dia da menstruação como o primeiro dia do ciclo, e o dia anterior ao início da menstruação seguinte como o último dia do ciclo. Faça essa anotação durante pelo menos 8 meses. Veja no exemplo: O primeiro dia de sangramento no mês de maio foi no dia 24. No mês de junho, o período menstrual começou no dia 20. Se contarmos o número de dias entre o primeiro dia de um ciclo e a véspera do outro, teremos o número de dias do ciclo dessa pessoa: 27 dias. MAIO S T 7 14 21 28
1 8 15 22 29
Q 2 9 16 23 30
Q 3 10 17 24 31
S 4 11 18 25
S 5 12 19 26
D 6 13 20 27
JUNHO S T 4 11 18 25
5 12 19 26
Q 6 13 20 27
Q 7 14 21 28
S 1 8 15 22 29
S 2 9 16 23 30
D 3 10 17 24
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Fases do Ciclo Menstrual Enquanto o óvulo amadurece, graças ao hormônio estrógeno, as paredes do útero começam a engrossar para receber o ovo, que é o óvulo fertilizado. Isso demora mais ou menos 12 dias. Depois que o óvulo fica maduro, ele viaja pelas trompas entre 3 e 4 dias. Até as primeiras 24 horas, a mulher está fértil, podendo engravidar. Quando o óvulo sai do ovário, as paredes do útero já estão mais grossas, preparadas para alimentar o óvulo, se ele chegar fertilizado. Outro hormônio feminino, a progesterona, é que provoca a preparação do útero para uma possível gravidez. Caso o óvulo chegue ao útero sem estar fecundado por um espermatozóide, o fluxo da progesterona e do estrógeno vai diminuindo. Essa é uma mensagem para o útero de que o óvulo não foi fertilizado. Se o óvulo não encontrar um espermatozóide, ele morre. Então o útero expele (através da vagina) toda essa camada que havia sido preparada para receber o óvulo fertilizado. Esse fluxo - mistura de sangue, óvulo e outras células que se descamam do útero - é a menstruação. Se o óvulo for fertilizado, a progesterona continua a ser fabricada e as paredes do útero permanecem grossas até o final da gravidez. Normalmente, não ocorre menstruação em mulher grávida. As dores associadas à menstruação são disparadas por substâncias irritantes chamadas prostaglandinas. A menstruação vai escoar com mais facilidade depois que o canal cervical, que liga o útero à vagina, alargar, em decorrência da primeira gestação, diminuindo as cólicas. O que pode ajudar: • • •
a longo prazo: pode-se procurar reduzir as cólicas praticando exercícios diários regulares, especialmente os que são capazes de fortalecer e dar maior elasticidade aos músculos abdominais; a curto prazo: exercícios, principalmente deitada de barriga para baixo, com as pernas esticadas, levantando somente o tronco e cabeça, ou, na mesma posição, segurando as pernas e balançando; uma bolsa de água quente ou garrafa com água quente, na parte baixa do abdômen pode ajudar.
Quando procurar um médico • • • •
Se a dor for muito forte em todas as menstruações. Se menstruar por mais de uma semana seguida, saindo sangue em volume igual ao do primeiro dia. Se tiver ciclos menstruais seguidos com duração menor que dezoito dias ou maior que trinta e cinco dias entre um e outro. Se sair um corrimento malcheiroso, branco ou amarelado, que coça ou queima, provavelmente causado por alguma bactéria.
Tampões e Absorventes O absorvente é feito de uma massa compacta de algodão e é descartável. Hoje em dia a maioria dos absorventes são aderentes, isto é, têm uma cola que gruda na calcinha. O tampão é uma espécie de tubo de algodão que se coloca dentro da vagina. Geralmente é usado por mulheres que já tiveram relação sexual. Para uma adolescente que ainda não teve relações sexuais, mas que deseja usar um tampão, o mais seguro é procurar um/a ginecologista para examinar o tipo de hímen da menina e ver se é possível colocar o tampão sem rompê-lo.
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O tampão vem em três tamanhos e deve ser colocado no interior da vagina. O fio fica para fora, para ser puxado, e deve ser retirado de 4 em 4 horas, mesmo se o sangramento for pouco. O hímen possui um orifício, cujo tipo varia de mulher para mulher. O tipo mais comum tem somente um orifício em forma de anel, por isso se chama anular. Existem himens com 3 ou 4 orifícios. É através desse orifício que as secreções e o sangue da menstruação saem da vagina. Alguns hímens sangram ao se romper, outros não. Mesmo através de exame médico, é difícil de garantir se uma pessoa já teve ou não relação sexual. Existe um tipo, que 15% das mulheres têm, chamado “hímen complacente”. Ele é mais grosso e elástico e, em vez de romper durante as relações sexuais, ele cede e depois volta a posição anterior. A virgindade, tanto no homem como na mulher, deveria ser algo que se mantém ou não por escolha, com alguém de quem se gosta, em condições adequadas de espaço e de tempo, conversando antes sobre métodos contraceptivos e prevenção da aids e usando camisinha sempre. Entretanto, tem muita gente que considera a virgindade feminina uma coisa muito importante. Órgãos genitais masculinos e femininos Damos o nome de genitais àquelas partes do corpo que estão diretamente ligadas às atividades sexual e reprodutora. Os genitais se localizam no púbis, ou seja , na região do baixo ventre que se cobre de pêlos durante a puberdade. Os órgãos genitais da mulher e do homem podem ser divididos em externos e internos. Os externos são os responsáveis pelo prazer. Já os internos, tanto do homem quanto da mulher, são os responsáveis pela reprodução. Tanto para o homem quanto para a mulher, a relação sexual implica sentimentos e emoções, além do contato sexual propriamente dito. Exige também que se converse sobre anticoncepção e prevenção das DST/aids e, nos dias de hoje, que se use camisinha em todas as relações sexuais, para evitar conseqüências como doenças ou gravidez não planejada. O Corpo da Mulher Órgãos Genitais Externos Monte de Vênus -> é a parte onde existe maior quantidade de pêlos. Tem o formato de um triângulo com a ponta voltada para baixo e recobre o osso pubiano. Clitóris -> é um órgão arredondado e bem pequeno que fica acima da entrada da uretra. É muito importante porque é o responsável pelo prazer da mulher. Abertura da Uretra -> é o orifício por onde sai a urina. Abertura da Vagina -> é uma abertura alongada, por onde saem os corrimentos, o sangue menstrual e o bebê. Nas mulheres que ainda não tiveram relações sexuais com penetração, essa abertura é recoberta por uma pele chamada hímen. Grandes Lábios -> é a parte mais externa da vulva, recoberta por pêlos. Pequenos Lábios -> podem ser vistos quando afastamos os grandes lábios com os dedos. Não tem pêlos e são muito sensíveis. Seios -> na puberdade, os hormônios dos ovários (estrógeno e progesterona) estimulam o desenvolvimento das glândulas mamárias e o crescimento dos seios. Seu interior é feito de tecido gorduroso e cheio de pequenos canais e cavidades (alvéolos) nos quais o leite se armazena durante a gravidez e a amamentação.
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Órgãos Genitais Internos Útero -> é um órgão do corpo da mulher onde o feto se desenvolve durante a gravidez. Quando a mulher não está grávida, o útero tem o tamanho de um punho fechado. Colo do Útero -> é a parte inferior do útero e tem um orifício por onde vai passar a menstruação. Num parto normal, esse orifício aumenta para dar passagem ao bebê. Corpo do Útero -> é a parte maior do útero que cresce durante a gravidez e retorna depois do parto ao tamanho normal. É constituído por duas camadas externas: uma membrana chamada peritônio e um tecido muscular chamado miométrio. A camada interna é uma mucosa chamada endométrio que se desprende durante a menstruação, renovando-se mensalmente. Tubas Uterinas ou Trompas de Falópio - são duas e ficam uma de cada lado do útero. Quando chegam nos ovários, elas se abrem lembrando uma flor. É por dentro das trompas que os óvulos se deslocam para o útero. Ovários -> são dois, um do lado esquerdo e outro do direito. São o local onde os óvulos estão armazenados e se desenvolvem. Produzem também os hormônios femininos. Vagina -> é um canal que começa na vulva e vai até o colo do útero. Por dentro, é feita de um tecido semelhante à parte interna da boca, só que cheia de preguinhas que permitem que ela estique na hora da relação sexual ou para que o bebê passe na hora do parto.
O Corpo do Homem Órgãos Genitais Externos Pênis -> é um membro que , quando fica excitado, endurece. Tem duas funções: urinária e reprodutora. Num relacionamento sexual, solta um líquido chamado esperma. Esse líquido contém espermatozóides que fertilizam o óvulo da mulher para formar o bebê. Prepúcio -> é a pele que cobre a ponta do pênis. Precisa ser puxada para trás na hora do banho para evitar o acúmulo de uma secreção que pode provocar irritação, infecção e mau cheiro. Glande -> conhecida também por cabeça do pênis, é muito sensível e sua pele bem macia. Saco Escrotal -> tem o formato de um saco. Dentro dele ficam duas bolas chamadas testículos. Órgãos Genitais Internos Testículos -> são as glândulas sexuais masculinas. Têm forma de ovos e produzem os espermatozóides e os hormônios masculinos. Uretra -> é o canal por onde saem a urina e o esperma. Epidídimo -> é um canal, ligado aos testículos, onde ficam armazenados os espermatozóides até amadurecerem e serem expelidos pela ejaculação. Canais Deferentes -> são dois canais muito finos que saem dos testículos e servem para conduzir os espermatozóides até a próstata.
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Próstata -> glândula que produz grande parte do esperma e onde se misturam os espermatozóides. Vesículas Seminais -> são duas bolsas que contribuem com fluidos para que espermatozóides possam nadar.
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Canal Ejaculatório -> canal por onde passa o esperma na hora da ejaculação.
Bibliografia Sexo para Adolescentes, Marta Suplicy, SP, Editora FTD, 1988 e Revista Cláudia Família, set./96. Fonte - Extraído do Manual Corpo – Matriz da Sexualidade – ECOS. São Paulo.1998
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ADOLESCÊNCIA: SAÚDE, SEXUALIDADE E REPRODUÇÃO1 Edir Nei Teixeira Mandú2 O adolescer O adolescer é nomeado como um momento do processo de crescimento e desenvolvimento humano, em que observamos rápidas e substanciais mudanças na vida e corpos infantis, abrangendo: • acentuado crescimento pondo-estatural e o surgimento de novas formas físicas e estéticas; • transformações no funcionamento orgânico – sobretudo no sexual e reprodutivo; • construção de novas relações intersubjetivas;
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manifestações peculiares de novos sentimentos, modos de pensar e se comportar – refletindo novas identidades e inserções no mundo interno e externo à família. Tais mudanças resultam de processos que organizam nossa existência e situam as pessoas em suas relações com outros e com os ambientes. Apesar de as transformações tidas como próprias da adolescência possuírem um forte componente físico-corporal, apontado como de todo e qualquer adolescente, elas não são naturais ou decorrentes unicamente de um processo evolutivo orgânico. A vida adolescente e necessidades em saúde relacionadas são, antes de qualquer coisa, processos produzidos no âmbito das sociedades e grupos, definindo-se e modificando-se na interação com seus diversos componentes - econômicos, institucionais, políticoéticos, culturais, físico-ambientais - em meio a dinâmicas de reprodução e criação. É no concreto da vida, na construção/reconstrução e apropriação ou não de seus bens e valores materiais e culturais, na interação destes com processos somáticos, genéticos e físicoambientais, que se definem os diversos modos de vida adolescente. As transformações que se realizam no período de vida convencionado “adolescência” abarcam distintos e integrados processos de desenvolvimento social, grupal, familiar, físicopubertário, psico-emocional e intelectivo. Questões de saúde-doença relativas a esses componentes só podem ser adequadamente dimensionadas se forem situadas nos contextos específicos em que ocorrem e são traduzidas com a participação de quem as vive. De modo geral, porém, certos problemas têm sido uma constante na vida de parte significativa de segmentos adolescentes brasileiros, como: • pobreza; violências; trabalho precoce; afastamento escolar; • conflitos familiares; sofrimentos psico-emocionais; uso de substâncias psicoativas; • atrasos no desenvolvimento psico-intelectual; • distúrbios ortopédicos, fonoaudiológicos, odontológicos, oftalmológicos; transtornos nutricionais e metabólicos; • doenças crônicas como tuberculose, hanseníase, diabetes, câncer;
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violências corporais e sofrimentos no exercício da sexualidade; exposição a doenças sexualmente transmissíveis e aids; maternidade/paternidade indesejada. Na estruturação dos cuidados em saúde esses problemas, e outros, devem ser considerados. Ao mesmo tempo, as definições e encaminhamentos devem se pautar no reconhecimento dos processos sociais, institucionais, subjetivos e biológicos que se encontram na base da qualidade de vida dos vários segmentos adolescentes e que os tornam mais ou menos vulneráveis a agravos e problemas diversos em saúde. 1
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Texto publicado em Adolescer: compreender, atuar, acolher. ABEn/Ministério da Saúde. Brasília, 2001. p. 61-76 - revisado e adaptado, pela autora, para esta obra. Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela USP/RP, Professora da Área Sexualidade e Reprodução Humana da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da UFMT, Grupo de Pesquisa Argos – Bases Tecnológicas do Processo de Trabalho em Saúde e Enfermagem.
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Neste capítulo, de modo abrangente, fazemos menção a alguns desses processos relacionados aos componentes da sexualidade e reprodução do desenvolvimento adolescente, destacando proposições tecnológicas para o trabalho em saúde, levando em consideração medidas abrangentes, de caráter individual e coletivo, em torno da oferta de apoio social, articulada a outros setores sociais e a comunidades, do gerenciamento dos serviços de saúde e ações profissionais, de medidas assistenciais em saúde e processos educativos e de comunicação. As indicações que apresentamos servem como um guia geral para a prática assistencial em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, a ser adaptado segundo necessidades, possibilidades, dinâmicas locais, e específicos exercícios profissionais. Vulnerabilidades e cuidados em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes O termo sexualidade, criado no século XIX, representa um conjunto de valores e práticas corporais culturalmente legitimado na história da humanidade. Mais do que pertinente à atividade sexual e sua dimensão biológica, ele diz respeito a uma dimensão íntima e relacional que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações corporais com seus pares e com o mundo 3. A sexualidade, tal como a concebemos aqui, abarca aspectos físicos, psico-emocionais e socioculturais, relativos: • à percepção e controle do corpo; • ao exercício do prazer/desprazer;
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a valores e comportamentos em processos afetivos e sexuais. A reprodução humana é tida como uma dimensão referente ao processo biológico e psicossocial de: • geração de novos seres; • regulação da fecundidade;
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valoração dessas experiências. Esses dois campos envolvem questões vivenciais como concepção, contracepção, práticas corporais, afetivas e sexuais, e certos problemas, como violências e sofrimentos nas interrelações, maternidade/paternidade indesejada, aborto em condições indevidas, doenças de transmissão sexual, contaminação pelo HIV, dentre outros4. A saúde sexual diz respeito à qualidade das relações de homens e mulheres, no tocante às trocas corporais, ao prazer, ao erotismo, às sensações do corpo, às imagens corporais, às experiências afetivas e práticas sexuais, de forma independente da concepção e maternidade/paternidade. Como tal, ela é um processo construído/reconstruído socialmente na infância e ao longo da vida. A saúde reprodutiva é uma dimensão relevante no ciclo de vida de mulheres e homens. As condições biológicas e psicossociais que os preparam para a geração ou não de filhos iniciamse com a vida, ainda no período gestacional, e se estendem ao longo dela. Embora, comumente, se defina o período reprodutivo, por referência à biologia feminina, entre mais ou menos 10 e 50 anos, a reprodução masculina mantém-se como uma possibilidade após essa fase e, também, a feminina, em função dos avanços científicos atuais na área da reprodução assistida. A saúde sexual e a reprodutiva dependem, além de fatores biológicos, de uma série de condições socioculturais propícias, como adequadas condições de vida, serviços de saúde de qualidade e padrões culturais de subjetividade e comportamentos favoráveis. De acordo com o acesso a certas condições sociais e a tradição, dos grupos sociais e familiares de referência, dos valores e comportamentos legitimados em torno dos corpos e suas interações, modelam-se as necessidades em saúde sexual e reprodutiva na adolescência.
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HEILBORN. M. L.. Construção de si, gênero e sexualidade. In: HEILBORN. M. L. (Org.) Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. Parte I: Sexualidade: perspectivas de análise em antropologia. p. 40-58. HEALTH, EMPOWERMENT, RIGHTS, AND ACCOUNTABILITY (HERA) Salud, y derechos seuales y reproductivos de las mujeres. Hora de acción. Traducción de Isabel Bericat. Secretariado de HERA c/o Internacional Women’s Health Coalition. New York, s/d.
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Todo adolescente traz consigo componentes genéticos e biológicos, conhecimentos e valores construídos ao longo de suas experiências de vida, além de uma estrutura psico-emocional e potencial para questionamento e criação. As marcas sociais dessa fase e, particularmente, dos exercícios da sexualidade e reprodução fundam-se nas origens e classes sociais, na história familiar e de socialização, nas relações de igualdade/desigualdade vividas, no compartilhamento de preceitos de moralidade e hierarquizações, entre outros tantos processos que dão contorno a subjetividade humana. Convenções, regras, censuras culturais produzidas compõem um conjunto de definições sociais acerca das intersubjetividades e relações a serem exercidas entre mulheres e mulheres, homens e mulheres, homens e homens ou, ainda, individualmente, por ambos. Elaborações culturais, plurais e em constante transformação, entre outros processos, traçam alternativas aos modos e usos do corpo e às relações sexuadas entre os pares (envolvendo o outro no nível dos desejos e emoções). Certos acontecimentos, nas sociedades modernas, têm se revelado particularmente importantes nos contornos das atuais relações nas esferas da sexualidade e reprodução. O aprofundamento da industrialização e urbanização tem gerado novas formas de vida, trabalho e relações entre as pessoas, refletindo-se particularmente nesses dois campos5. Relacionado à subsistência do capitalismo e industrialismo, um aspecto que se destaca é o da geração de novas e crescentes necessidades de consumo. Essas necessidades, de modo muito próprio, modificam desejos, sentimentos e práticas no universo subjetivo e relacional. Um bom exemplo são o erotismo e o sexo como constituintes de processos de mercantilização dos corpos, encorajados continuamente pelos vários meios de comunicação. Um dos grandes objetos de consumo nas sociedades modernas é o corpo, estimulado através de inúmeros processos de criação e introjeção de ideais, atitudes e práticas que interferem diretamente na saúde das pessoas. Por exemplo, atributos físicos estimulados, como a cobrança de corpos magros, atrelados a redes de produtos e serviços, freqüentemente tornam adolescentes vulneráveis a distúrbios de imagem, de adequação social e a alterações alimentares. De outro modo, definições culturais de gênero, que abarcam normatizações socioculturais acerca do feminino e masculino, construídas e modificadas ao longo da história ocidental, interferem no relacionamento e intimidade entre os sexos6. Os exercícios da sexualidade são profundamente marcados pela desvalorização do feminino e domínio do masculino, que geram conflitos, frustrações e violências que atingem a ambos (ainda que de modos distintos), em suas vivências do prazer, sexo e afetividade. Em função das desigualdades de gênero, classificam-se direitos e deveres de homens e mulheres frente à maternidade e paternidade que, num extremo, passam pela responsabilização da mulher pela reprodução, pelo cuidado e educação dos filhos e da atribuição, ao homem, do sustento financeiro e comando da família. No âmbito da sexualidade, a despeito das mudanças de valores, ainda se sustenta a idéia de que o prazer sexual feminino é lícito no relacionamento conjugal e amoroso; em decisões nesse campo, sobrepõe-se a autoridade masculina, abrindo espaço a práticas de violência contra a mulher. Cobranças também são dirigidas aos homens, como comportamentos de virilidade, de força, de competição e controle, que atuam como marcadores de avaliação do seu bom ou mau desempenho social e sexual. Em inúmeras práticas institucionais e, especificamente, no setor saúde, localiza-se um continuado reforço às discriminações e responsabilizações com peso diferenciado entre homens e mulheres - como práticas incorporadas de concepção e contracepção dirigidas quase que exclusivamente a mulheres e a oferta restrita de ações voltadas à saúde sexual e reprodutiva de homens. Valores incorporados em torno do masculino e do feminino, bem como sua hierarquização, resultam em riscos e problemas para homens e mulheres, sobretudo a partir da adolescência, com o início das atividades sexuais. O modo cultural dos adolescentes lidarem com o próprio corpo, 5
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GIDDENS. A.. As conseqüências da modernidade. (Tradução de Raul Fiker). São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1991 (Biblioteca básica). VILLELA, W. V. e BARBOSA, R. M. Repensando as relações entre gênero e sexualidade. In: PARKER, R. G. e BARBOSA, R. M. (Orgs) Sexualidades brasileiras. Rio de Janeiro, Relume Dumará: ABIA: IMS/UERJ, 1996. p. 189-199.
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com o de outros, com afetos, com o sexo, com desejos, frustrações, fantasias e idealizações; como vêem e enfrentam o mundo e o que nele acontece; o que identificam ou não como risco à sua saúde, leva-os a se exporem ou não a problemas variados no âmbito da sexualidade e reprodução. Práticas sexuais clandestinas e não planejadas, delegação, ao outro, do cuidado com a própria vida, submissão aos desejos do outro, excessiva preocupação com o ato e desempenho sexual, inibição para conversar e negociar com o parceiro a satisfação de desejos, preocupações e cuidados dificultam o lidar com experiências saudáveis nas esferas em questão. Do mesmo modo, também interfere o desconhecimento do funcionamento corporal, os preconceitos e padrões hierárquicos incorporados acerca do comportamento heterossexual, bissexual ou homossexual. O caráter de novidade das relações sexuais, desejos inconscientes de testar a virilidade ou a capacidade reprodutiva, cobranças do grupo em torno do início da experimentação sexual, traduções negativas da sexualidade, a ausência de projetos e perspectivas futuras de vida implicam, freqüentemente, no descuido com a prevenção. Vergonhas, inseguranças, medos, estereótipos e preconceitos ampliam a vulnerabilidade de adolescentes a problemas relativos à sexualidade e reprodução, sobretudo quando essas vivências esbarram na falta de apoio familiar e social. Adolescentes, diante da possibilidade de reprodução e de uma nova experimentação da sexualidade, requerem um amplo suporte dos setores sociais, via políticas, recursos e processos de trabalho intersetoriais, interdisciplinares e participativos, em que se disponibilize uma atenção integral, específica e apropriada ao cuidado de suas vidas, mediante ações abrangentes encaminhadas em diferentes espaços, com a participação dos próprios adolescentes e das diversas áreas profissionais. Inúmeros serviços de saúde encontram-se despreparados para o trabalho com adolescentes, para a atenção às peculiaridades e complexidade das suas necessidades. Faltam espaços e suporte apropriados às suas demandas, seja no campo da orientação, proteção ou recuperação da sua saúde sexual e reprodutiva. Os sentidos do corpo e as desigualdades e diferenças de distintas ordens são freqüentemente ignorados, num processo de homogeneização e simplificação da saúde adolescente. A definição de ações promocionais em saúde, a serem desenvolvidas com adolescentes e suas famílias, de acordo com cada realidade local, pode se referenciar em uma classificação de necessidades em saúde sexual e reprodutiva, construída com base em: • direitos em saúde sexual e reprodutiva; • demandas legitimamente apresentadas por adolescentes, suas famílias e grupos de referência; • informações epidemiológicas;
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consideração aos fatores concretos geradores dos processos de saúde-doença sexual e reprodutiva. Assim, apresentamos, em anexo (1), referências internacionais no campo dos direitos sexuais e reprodutivos e, adiante, um quadro geral de fatores sociais, institucionais, individuais e biológicos (Quadro 1), que comumente se encontram na base dos processos de saúde-doença sexual e reprodutiva, numa relação com processos que ampliam a suscetibilidade dos indivíduos e grupos adolescentes7. Em seqüência, a partir dessas referências, fazemos algumas indicações para a assistência em saúde sexual e reprodutiva destes, referenciadas em uma classificação de necessidades construídas em torno de seis eixos básicos: apoio social; acesso a tecnologias gerenciais e participativas favoráveis; suporte familiar; acolhimento dos sujeitos adolescentes e de suas necessidades e demandas; acesso a práticas educativas e de comunicação em saúde, geradoras de autonomia e participação; acompanhamento individualizado de processos físicoemocionais. Constitui parte das responsabilidades fundamentais dos que se dedicam ao processo de cuidar da saúde de adolescentes: • a busca da eqüidade na realização das práticas em saúde / profissionais; 7
Toma-se por base o conceito de vulnerabilidade trabalhado por Johnattan Mann, acrescendo-se aos fatores apresentados por ele, os de ordem biológica. Consultar item 02 de sugestões de leitura complementar.
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contínuo questionamento das normatizações sociais hierárquicas e dos valores desiguais em torno da sexualidade e reprodução; • a ampliação da autonomia e co-responsabilização de adolescentes homens e mulheres no lidar com a vida, a saúde-doença, a sexualidade, a maternidade/paternidade, resgatando o seu caráter relacional; • a prevenção de agravos que trazem sofrimentos à vida adolescente. A participação integrada de profissionais, e destes com os sujeitos que necessitam e demandam atenção, deve se dar em espaços de inserção do trabalhador nos serviços de saúde e junto a outros setores, instituições sociais e espaços comunitários, mediante práticas de assistência, educação, gerenciamento, participação e controle social. Quadro 1 – Fatores que influem na saúde sexual e reprodutiva de adolescentes • • • • • • •
Fatores sociais Modelo de sociedade • Nível de investimento social / em saúde Condições de vida e trabalho Amparo legal Qualidade da atenção à saúde • Acesso à educação/informação Modelos culturais e processos de comunicação de massa (padrões estimulados de • comportamento social, sexual e reprodutivo) • •
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Aumento da vulnerabilidade Características do modelo de sociedade presente: competitiva, consumista, pouco solidária, em processo permanente de concentração das melhores condições de vida e exploração do corpo como objeto de consumo Barreiras sociais decorrentes da pobreza (acesso restrito à alimentação, lazer, abrigo, proteção, transporte) Condições impróprias de saneamento e qualidade ambiental Falta de oportunidades sociais (perspectivas de emprego e melhoria das condições de vida) Escassez e inadequação de suporte social de proteção à saúde sexual e reprodutiva (reduzido acesso e condições inadequadas de educação, comunicação, informação, apoio jurídico, atenção à saúde) Práticas de violência sexual e uso do corpo e sexo como objetos de compra e venda Inserção precoce no mercado de trabalho Exposição a diferentes formas sociais de violência (física, conflitos urbanos, desigualdades sociais) Padrões de sociabilidades desfavoráveis - de exploração, dominação, hierarquização, discriminações de qualquer ordem Avanço de uma cultura de desresponsabilização com o outro, de reconhecimento pelo destaque no campo financeiro e sexual, de insatisfação e consumo Falta de sensibilidade social para com o universo e conjunto de problemas vividos, de modo particular, por adolescentes
Fatores Institucionais Aumento da vulnerabilidade • Grau de comprometimento dos diferentes • Ausência/escassez de investimentos financeiros setores sociais e econômicos com a proteção e em programas específicos de saúde sexual e resolução dos problemas sociais / em saúde reprodutiva de adolescentes sexual e reprodutiva
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Desenvolvimento de programas e ações assistenciais e educativas em saúde / saúde sexual e reprodutiva Financiamento de medidas e ações sociais específicas em saúde sexual e reprodutiva Qualidade do gerenciamento nas áreas sociais / da saúde – planejamento, avaliação e participação da sociedade / de adolescentes Incorporação de direitos e necessidades em serviços e programas sociais, em saúde, saúde sexual e reprodutiva Qualidade dos processos e relações familiares
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Ausência de eqüidade na oferta de serviços e ações em saúde/saúde sexual e reprodutiva Definição abstrata e inflexível de necessidades a serem incorporadas no atendimento Restrição de medidas e ações educativas em saúde/saúde reprodutiva e sexualidade (dirigidas a crianças, adolescentes e suas famílias) Práticas assistenciais e educativas coercitivas e discriminatórias em saúde / saúde sexual e reprodutiva Ações e medidas de intervenção em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, centradas unicamente em processos de ordem biológica Isolamento do trabalho em saúde (de outros parceiros, das comunidades e famílias) Gerenciamento distanciado de necessidades concretas dos adolescentes Fragilidade, da sociedade civil em geral e de grupos adolescentes, na organização e representação de direitos, interesses e necessidades Grau reduzido de participação dos adolescentes em processos cotidianos de decisão nos serviços de saúde, sobre questões que lhes dizem respeito Falta de apoio social e familiar em situações em que o adolescente se vê precisando de ajuda Dificuldades dos pais de compreenderem as transformações e comportamentos dos adolescentes, inclusive na esfera da sexualidade e reprodução Vivência de situações sociais e familiares cotidianas de estresse
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Dificuldades familiares em apoiar emocionalmente a adolescente grávida e o adolescente pai • Acesso familiar restrito a meios e processos de educação sexual e reprodutiva • Práticas familiares de violência, abuso e coerção sexual • Projeções de necessidades e valores dos pais sobre os filhos Processos subjetivos/comportamentais Aumento da vulnerabilidade • Grau de autonomia presente entre adolescentes • Acesso reduzido a processos favoráveis à compreensão crítica da realidade vivida • Grau de apropriação e participação no exercício • Educação coercitiva em relação ao corpo, e cotidiano e institucional de poder afetividade • Potencial de criatividade • Falta de apoio na vivência adolescente de • Estilo de vida adolescente possíveis processos, tais como sensação de • Práticas preventivas e terapêuticas de invulnerabilidade, intranqüilidades, dificuldade autocuidado em saúde em optar, projeção imediata de resposta a
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necessidades, dúvidas e angústias sobre si e sobre a realidade que os cerca • Desconhecimento do próprio corpo - de sua biologia e sentidos socioculturais que o perpassam • Vergonha do próprio corpo e dificuldades em lidar com o corpo do outro • Baixa auto-estima • Percepção corporal e autoconceito negativo • Dificuldades no modo de lidar com limites e processos de dependência-independência • Relações, com os pares e familiares, baseadas em práticas de controle e dominação • Relações intersubjetivas discriminatórias • Bloqueio à criação, ao autodesenvolvimento, à expressão do universo subjetivo • Interpretações restritas de saúde-doença sexual e reprodutiva • Estilos, hábitos e práticas de vida desfavoráveis à saúde / saúde sexual e reprodutiva • Padrões de exercício da sexualidade que geram exposição a agravos • Medo de exposição da vida privada, de possíveis julgamentos e cobranças, negação de processos vividos (como gravidez, problemas sexuais), que dificultam a procura de serviços de saúde e/ou outros apoios Fatores biológicos Aumento da vulnerabilidade • Qualidade da dinâmica de funcionamento da • Características hereditárias e genéticas biologia corporal desfavoráveis • Comprometimento de funções orgânicas: nutricional-metabólica, eliminação, atividaderepouso, cognição-percepção, respiraçãocirculação, proteção, sexualidade, reprodução • Distúrbios orgânicos nos padrões de comunicação e autoresposta de adolescentes e suas famílias.
Princípios a serem considerados na atenção à saúde sexual e reprodutiva de adolescentes • • •
As necessidades em saúde sexual e reprodutiva dos vários indivíduos e grupos adolescentes, embora possam ser comuns em determinados aspectos, são sempre diversas, segundo as realidades sociais e histórias vividas. Não só adolescentes mulheres vivenciam necessidades relacionadas aos processos psicofísicos e sociais da fertilidade e geração de um novo ser, mas também homens adolescentes e famílias envolvidas. A sexualidade e reprodução são processos que dizem respeito a homens e mulheres, tanto do ponto de vista das necessidades em saúde, quanto das responsabilidades individuais a serem compartilhadas.
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As ações em saúde devem levar em conta os processos que tornam os sujeitos e grupos adolescentes mais vulneráveis a agravos na esfera da sexualidade e reprodução, assim como seus direitos e demandas específicas.
Tecnologias em saúde e enfermagem – sexualidade e reprodução na adolescência Objetivos • • •
Ampliar a base de apoio social à vivência da adolescência, sexualidade e reprodução. Propiciar condições e medidas favoráveis à redução/eliminação de vulnerabilidades, problemas e suas conseqüências, em situações relacionadas à reprodução, maternidade/paternidade e sexualidade adolescente. Proporcionar elementos para o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade adolescente com a vida e a saúde sexual e reprodutiva.
1. Apoio social • • • • • •
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Articular, com comunidades, processos político-sociais para a viabilização de creches, casas comunitárias e serviços de apoio a adolescentes em processos de reprodução. Fomentar / participar da criação de novas estruturas, grupos, serviços e ações sociais que ampliem a qualidade de vida de adolescentes e suas famílias. Advogar em prol da adoção de leis, programas específicos e medidas amplas de comunicação, favoráveis à saúde / saúde sexual e reprodutiva de adolescentes. Advogar em prol de alternativas que favoreçam a educação formal, emprego e lazer para adolescentes. Promover / estimular o desenvolvimento de práticas educativas e de comunicação em sexualidade e reprodução, voltadas a crianças, adolescentes e suas famílias. Estabelecer ampla crítica político-social aos processos de produção e reprodução de padrões de sociabilidade que estimulam o individualismo, o consumo desenfreado, a hierarquização de diferenças entre homens e mulheres, comportamentos sexuais, identidades culturais, raciais e geracionais. Ampliar a visibilidade dos problemas enfrentados pelos diferentes grupos de adolescentes, através da participação política, do incentivo e participação na produção e divulgação de conhecimentos e informações específicos. Advogar em prol da oferta de ações abrangentes, articuladas, intersetoriais e interdisciplinares, favoráveis à saúde sexual e reprodutiva de adolescentes – abrangendo assistência, educação e apoio jurídico / criação de programas de saúde e educação sexual baseados na igualdade de gênero, de acordo com cada grupo e idade, abrangendo as famílias. Participar / estimular a criação de práticas de controle social em torno da atenção à saúde sexual e reprodutiva. Buscar medidas de apoio legal, psico-emocional e médico (acesso à contracepção de emergência e aborto legal) em casos de violência sexual, orientando e apoiando o adolescente e sua família. Adotar / viabilizar meios legais para proteção da adolescente grávida em casos de violência.
2. Práticas gerenciais e de participação favoráveis •
Propor / programar ações em saúde/saúde sexual e reprodutiva adolescente, com base em direitos formulados, em informações sócio-epidemiológicas específicas (causas de
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vulnerabilidade, adoecimento e morte) e em demandas negociadas, considerando as diferenças encontradas. Adotar medidas favoráveis ao funcionamento dos sistemas de referência e contrareferência – divulgar fluxos, serviços e adotar uso de cartão do adolescente. Produzir / divulgar informações que retratem o grau de saúde sexual e reprodutiva de adolescentes em suas localidades. Abrir espaço / pôr em prática possíveis processos de participação dos adolescentes e suas famílias nas definições das ações em saúde e em sua avaliação. Desenvolver medidas e rotinas de atendimento valorizando a captacão precoce, agendamento e busca das adolescentes grávidas para acompanhamento pré-natal. Organizar espaços específicos para práticas de apoio à paternidade adolescente. Adotar normas/rotinas de funcionamento pré-natal e atenção à maternidade / paternidade, que favoreçam o acesso amplo e continuado da adolescente, do pai e família ao serviço/atendimento. Implementar fluxos específicos e criativos de entrada e circulação de adolescentes nos serviços favoráveis ao seu acesso e ao acolhimento de suas necessidades e demandas. Avaliar o impacto das ações desenvolvidas em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes. Envolver os adolescentes em todas as decisões terapêuticas que dizem respeito à sua saúde/saúde sexual e reprodutiva. Investir na preparação de recursos humanos para o trabalho assistencial e educativo em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes. Capacitar trabalhadores e agentes de saúde em processos de comunicação / interação com adolescentes e suas famílias e na abordagem de questões da sexualidade e reprodução. Estimular o desenvolvimento de novos conhecimentos em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, a partir da realidade local e modos comunitários de viver.
3. Suporte familiar • • • • •
Planejar ações de saúde, apoiando física, emocional e educativamente as famílias dos adolescentes. Viabilizar, apoiar e estimular o acompanhamento familiar em processos de atenção a adolescentes que passam pela experiência de geração de um novo ser. Promover a participação da família e companheiro/pai no acompanhamento e cuidados com a adolescente grávida / mãe e recém-nascido. Propiciar espaços de comunicação e troca com os familiares de adolescentes. Promover ações de apoio e aconselhamento familiar em casos de exposição dos adolescentes às DST e HIV.
4. Acolhimento dos sujeitos e de suas necessidades e demandas • • • • •
Reconhecer as diferenças entre adolescentes, lidar com elas sem qualquer discriminação ou rejeição. Tratar todo adolescente de forma personalizada. Estabelecer um relacionamento de confiança e comunicação dialógica. Abrir espaço à expressão de suas demandas e necessidades sentidas. Respeitar o modo particular de cada adolescente expressar e enfrentar suas necessidades e problemas.
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Dialogar abrindo espaço à expressão de satisfação/insatisfação com os cuidados recebidos. Criar um ambiente de apoio e segurança a adolescentes e a suas famílias, em processo de reprodução e maternidade/paternidade. Abrir espaço à exposição de medos, curiosidades, expectativas, valores, considerando as motivações, vivências e soluções encontradas pelos adolescentes e suas famílias. Comunicar-se através de linguagem acessível, valorizando processos de troca. Relevar as manifestações verbais e não verbais dos adolescentes, buscando captar suas necessidades e elementos favoráveis à interação e proposição de cuidados. Respeitar sua intimidade e garantir privacidade em torno de seus universos e experiências.
5. Práticas educativas e de comunicação em saúde
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Encaminhar / participar de trabalhos educativos em saúde, sexualidade e em reprodução, dirigidos aos sujeitos em diferentes momentos do seu ciclo de vida8. Abrir espaço à reflexão dos padrões sociais estabelecidos em sexualidade e reprodução. Sensibilizar homens e mulheres, crianças, adolescentes, pais, professores, etc., para a superação das discriminações sociais – de classe, raça, etnia, gênero, sexualidades. Estimular / criar espaços específicos de reflexão em sexualidade, concepção e contracepção. Orientar pais sobre a adolescência e seus processos. Preparar para o parto, autocuidado e cuidado do recém-nascido, envolvendo adolescentes de ambos os sexos e familiares. Apoiar a expressão de conhecimentos, valores, códigos culturais, experiências, sentidos de prazer/sofrimento, nos contatos individualizados e de grupo. Apoiar o desenvolvimento da capacidade de exigir dos responsáveis condições e elementos favoráveis à saúde. Abrir espaço para o debate de adolescentes e seus pais acerca de seus direitos sociais e benefícios legais da maternidade/paternidade. Estimular a autovalorização dos adolescentes, trabalhando a partir das suas situações de vida e subjetividades. Lidar com a subjetividade adolescente integrando conhecimentos, afetividade e aspectos socioculturais. Assumir uma postura ética e crítica no trabalho educativo, respeitando os valores, conhecimentos e comportamentos dos adolescentes, promovendo reflexões em torno da avaliação de códigos, normas sociais e da construção conjunta de alternativas. Considerar a possibilidade de a experiência da maternidade/paternidade na adolescência ser rica e positiva para quem a vivencia, fugindo do pré-julgamento “gravidez adolescente – problema – recusa”. Respeitar os adolescentes que optam pela interrupção da gravidez, discutindo sem préjulgamentos a decisão tomada, os possíveis riscos, direitos, legalidade e, necessariamente, o apoio social. Atentar para questões importantes para os adolescentes e avaliar a apropriação de serem abordadas de forma individual ou grupal.
Nesse sentido, valorizar práticas educativas que coloquem em evidência as crianças, considerada a importância do desenvolvimento da sexualidade infantil, no exercício da sexualidade e reprodução adolescente e adulta.
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Debater / apoiar / buscar referências de apoio em situações em que os adolescentes encontram-se expostos ao uso de substâncias psicoativas. Educar para o enfrentamento de situações de exposição à violência sexual e reprodutiva - identificá-las, refletir sobre elas, pensar suas causas e os direitos legais de amparo que os adolescentes têm. Educar para práticas de negociação em torno do exercício satisfatório e saudável da sexualidade. Articular a criação de variados espaços para que adolescentes e suas famílias dialoguem, reflitam, tirem dúvidas, troquem informações e se comuniquem sobre: suas vidas, seus medos, desejos, sentimentos, inter-relações, mudanças corporais; mitos, tabus, preconceitos, estereótipos, hierarquizações, intolerâncias de qualquer ordem, comportamentos femininos / masculinos, questões raciais e étnicas, identidades e orientações sexuais, comportamentos e práticas sexuais, divisões e mecanismos de poder utilizados entre gerações; direitos dos adolescentes que os protegem e à sua saúde sexual e reprodutiva; sexo, afetividade, prazer, auto-erotismo; responsabilidades sociais/institucionais e grupais/individuais nos processos de prevenção e enfrentamento de problemas relacionados; vulnerabilidades e prevenção de problemas como violência sexual, exposição a infecções genitais, gravidez não planejada ou desejada, dificuldades de relacionamento afetivo e sexual; modos de enfrentar agravos vividos; vivência da solidariedade, do respeito às diferenças, do cuidado consigo e com outros, responsabilidades compartilhadas; projetos futuros; comunicação, auto-responsabilidade e trocas na busca do prazer sexual; problemas sexuais e reprodutivos – mecanismos de transmissão, prevenção, manifestações, cuidados, adoção do sexo seguro. Envolver adolescentes no trabalho educativo dirigido ao grupo, em processos de multiplicação. Aproximar serviços e ações institucionalizadas dos espaços em que vivem os adolescentes, trabalhando com eles em seus locais de trabalho, lazer, formação. Adotar enfoque participativo no trabalho assistencial e educativo – privilegiar espaços informais, trabalhar a motivação dos participantes, valorizar suas experiências, sentimentos e conhecimentos, tomar como referência a cultura local, usar linguagem simples, trabalhar com exemplos, escutar, não impor verdades, propiciar discussão, reflexão e troca. Recorrer a linguagens artísticas, a experiências como teatro, música, dança e expressão corporal, em processos educativos, utilizando material produzido pelos próprios adolescentes.
6. Acompanhamento físico-emocional • • • • • •
Adotar medidas de estímulo ao aleitamento materno e interação família – pai – mãe – bebê. Investir na preparação materna para aplicação de outras medidas, em casos de contraindicação do aleitamento materno. Desenvolver e aplicar tecnologias de diagnóstico, cuidado e avaliação de medidas e ações de atenção individual à saúde sexual e reprodutiva de adolescentes. Executar medidas de acompanhamento e cuidados de nutrição e ganho de peso, eliminação, edema, atividade e repouso, alterações pressóricas na gestação e puerpério. Acompanhar rotina estabelecida de imunização para proteção fetal e materna do tétano. Manter controle sobre as condições de funcionamento e comprometimento dos vários sistemas corporais.
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Acompanhar condições fetais e adotar medidas cabíveis em situações problema. Acompanhar as mudanças emocionais apresentadas com o desenvolvimento da gravidez, parto, puerpério e maternidade/paternidade e aplicar medidas pertinentes de cuidado e conforto. Trabalhar em torno de mudança de práticas prejudiciais à grávida e seu filho, como uso de substâncias psicoativas, práticas sexuais com riscos. Identificar desconfortos físicos comuns na gravidez e propiciar medidas de alívio. Propiciar formas de autoconhecimento do corpo/gravidez no atendimento individualizado. Identificar a vivência de processos dolorosos e adotar/viabilizar acesso a medidas à sua remissão. Promover meios/medidas para recreação e lazer em processos prolongados de internação. Acompanhar continuamente aqueles que se encontram em situação de dependência física e psico-emocional. Aplicar práticas assistenciais alternativas de atenção a adolescentes – valorizando as artes e o lúdico. Oferecer elementos que permitam aos adolescentes homens e mulheres planejarem a constituição de suas famílias, mediante práticas livres de coerção. Realizar procedimentos de apoio à contracepção para ambos os sexos – viabilizando orientação, apoio à decisão e oferta de recursos contraceptivos, acompanhando o seu uso, efeitos, dificuldades e problemas. Acompanhar o desenvolvimento físico-pubertário – com atenção aos estágios de maturação físico-sexual ou surgimento dos caracteres sexuais secundários e aquisição da capacidade reprodutiva. Investigar alterações genitais masculinas e femininas. Investir na aprendizagem do auto-exame dos testículos, mamas e reconhecimento dos genitais. Realizar o exame ginecológico e coleta de material para exame colpocitológico (CCO), nas adolescentes sexualmente ativas. Investigar distúrbios menstruais. Identificar possíveis dificuldades de aceitação corporal e sentidos e repressões culturais em torno do corpo. Realizar procedimentos de prevenção e controle das doenças de transmissão sexual e aids – realização de avaliação genital, identificação de sinais características das DST, exame preventivo de câncer, oferta de meios de prevenção (camisinha feminina e masculina),e ações educativas para negociação de seu uso, acompanhando dificuldades e problemas. Promover aconselhamento em situações de avaliação de contaminação pelo HIV.
Sugestões de leitura complementar Orientações políticas e legais à atenção à saúde adolescente CENTRO BRASILEIRO PARA A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Estatuto da Criança e Adolescente. Brasília (DF), 1993. MORLACHETTI, Alejandro, J.D., LL.M. Situación actual: obligaciones de Latinoamérica y el Caribe ante el derecho internacional de adolescentes y jóvenes. Washington: OPS, 1999. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Organização Mundial da Saúde. Fundação W. K. Kellog. Projeto de apoio a iniciativas nacionais de saúde integral do adolescente na região das Américas. Diretrizes para a programação da saúde integral do adolescente e módulos de atendimento. OPS/OMS, s/d. Adolescência e vulnerabilidade
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AYRES, J. R. de C. M. HIV/AIDS, DST e abuso de drogas entre adolescentes. Vulnerabilidade e avaliação de ações preventivas. São Paulo: Casa da Edição, 1996. Fundamentos para o trabalho em saúde do adolescente ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. Projeto Acolher: Um encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro. Organizadoras: Ramos, F. R. S., Monticelli, M., Nitschke, R. G. Brasília (DF): ABEn / Governo Federal, 2000. Abordagem prática da saúde sexual e reprodutiva de adolescentes FRANÇOSO, L. A.; GEJER, D.; REATO, L. de F. N. Sexualidade e saúde reprodutiva na adolescência. São Paulo: Atheneu, 2001. (Série atualizações pediátricas) MINISTÉRIO DA SAÚDE. Assistência pré-natal. Manual técnico. Equipe de elaboração: Janine Schirmer et al. 3ª edição, Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde / MS, 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. Adolescentes promotores de saúde: uma metodologia para capacitação. Brasília (DF): Ministério da Saúde, agosto de 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes: norma técnica. 1a ed., Brasília (DF): Ministério da Saúde, 1999. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Secretaria de Assistência à Saúde. Coordenação de Saúde da Comunidade. Aprendendo sobre aids e doenças sexualmente transmissíveis: livro da família. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 1999. Bibliografia consultada AYRES, J. R. de C. M.; JUNIOR, I. F. Saúde do Adolescente. In: Schraiber, L. B.; NEMES, M. I. B.; MENDES-GONÇALVES, R. B. (Orgs) Saúde do adulto. Programas e ações na unidade básica. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 66-85. AYRES, J. R. de C. M. HIV/AIDS, DST e abuso de drogas entre adolescentes. Vulnerabilidade e avaliação de ações preventivas. São Paulo: Casa da Edição, 1996. CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha Explica) CARPENITO, L. J. et al. Diagnósticos de enfermagem. Aplicação à prática clínica. 6a edição, Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - Lei 8069/90. (Reprodução PROSOL, Cuiabá, 2000) FRANÇOSO, L. A.; GEJER, D.; REATO, L. de F. N. Sexualidade e saúde reprodutiva na adolescência. São Paulo: Atheneu, 2001. (Série atualizações pediátricas) FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. GIDDENS. A.. As conseqüências da modernidade. (Tradução de Raul Fiker). São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1991 (Biblioteca básica). GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA EM ORIENTAÇÃO SEXUAL. Projeto trance essa rede. Adolescência e vulnerabilidade (Álbum seriado). São Paulo: Ministério da Saúde / CN DST/AIDS, 1998. HEALTH, EMPOWERMENT, RIGHTS, AND ACCOUNTABILITY (HERA) Salud, y derechos sexuales y reproductivos de las mujeres. Hora de acción. Traducción de Isabel Bericat. Secretariado de HERA c/o International Women’s Health Coalition. New York, s/d. HEILBORN. M. L. (Org.) Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. Caítulo II: Sexualidade e juventude. p.77-153.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Assistência pré-natal. Manual técnico. Equipe de elaboração: Janine Schirmer et al. 3ª edição, Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde / MS, 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde e desenvolvimento da juventude brasileira. Construindo uma agenda nacional. Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde / MS, 2000. MANDÚ, E. N. T.; CORRÊA, A. C. de P. Educação sexual formal na adolescência: contribuições à construção de projetos educativos. Revista Acta Paulista de Enfermagem, v. 13, n. 1, jan/abr/2000. MANDÚ, E. N. T.; CORRÊA, A. C. de P.; VIEIRA, M. A. Conhecimentos, valores e vivências de adolescentes acerca das doenças de transmissão sexual e aids. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. Vol. 10, n. 1; jan/jun 2000. p. 74-90. MANDÚ, E. N. T. Dimensões político-éticas na atenção básica à saúde sexual e reprodutiva em Cuiabá. 2002. Tese (doutoramento) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP. Ribeirão Preto. MORLACHETTI, Alejandro, J.D., LL.M. Situación actual: obligaciones de Latinoamérica y el Caribe ante el derecho internacional de adolescentes y jóvenes. Washington: OPS, 1999. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Saúde reprodutiva de adolescentes: uma estratégia para ação. Uma declaração conjunta da OMS/FNUAP/UNICEF. Genebra: OMS, 1989. VILLELA, W. V. e BARBOSA, R. M. Repensando as relações entre gênero e sexualidade. In: PARKER, R. G. e BARBOSA, R. M. (Orgs.) Sexualidades brasileiras. Rio de Janeiro, Relume Dumará: ABIA: IMS/UERJ, 1996. p. 189-199.
Anexo 1 – Direitos sexuais e reprodutivos Declaração aprovada durante o XV Congresso Mundial de Sexologia ocorrido em Hong Kong, China, em agosto de 1999, na Assembléia Geral da World Association for Sexology Para que o ser humano e a sociedade desenvolvam uma sexualidade saudável, os seguintes direitos sexuais devem ser reconhecidos, promovidos, respeitados, defendidos por todas as sociedades de todas as maneiras: • O direito à liberdade sexual – A liberdade sexual diz respeito à possibilidade dos indivíduos de expressar seu potencial sexual. No entanto, aqui se incluem todas as formas de coerção, exploração e abuso em qualquer época ou situação de vida. • O direito à autonomia sexual – Integridade sexual é a segurança do corpo sexual – este direito envolve habilidade de uma pessoa em tomar decisões autônomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoal e social. Também inclui o controle e o prazer de nossos corpos livres de tortura, mutilações e violência de qualquer tipo. • O direito à privacidade sexual – O direito de decisão individual e aos comportamentos sobre intimidade, desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros. • O direito à igualdade sexual – Liberdade de todas as formas de discriminação, independentemente de sexo, gênero, orientação sexual, idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas. • O direito ao prazer sexual – O prazer sexual, incluindo auto-erotismo, é uma fonte de bem estar físico, psicológico, intelectual e espiritual. • O direito à expressão sexual – A expressão sexual é mais que um prazer erótico ou atos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de expressar a sexualidade através da comunicação, toques, expressão emocional e amor.
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O direito à livre associação sexual – Significa a possibilidade de casamento ou não, ao divórcio e ao estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis. O direito às escolhas reprodutivas livres e responsáveis – É o direito em decidir ter ou não ter filhos, o número e o tempo entre cada um, e o direito total aos métodos de regulação da fertilidade. O direito à informação baseada no conhecimento científico - Informação sexual deve ser gerada através de um processo científico e ético e disseminado em formas apropriadas e a todos os níveis sociais. O direito à educação sexual compreensiva – Este é um processo que dura a vida toda, desde o nascimento, e deveria envolver todas as instituições sociais. O direito à saúde sexual – O cuidado com a saúde sexual deveria estar disponível para a prevenção e tratamento de todos os problemas sexuais, preocupações e desordens.
Plataforma para Ação, Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, Beijing1995 / Programa de Ação, Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, Cairo, 1994 Os direitos reprodutivos abarcam certos direitos humanos, que se baseiam no: Direito de decidir livre e responsavelmente sobre o número de filhos e o espaçamento entre os nascimentos; • Direito de adotar decisões relativas à reprodução sem sofrer quaisquer discriminações, coações ou violência. • Direito ao respeito pleno à integridade, privacidade e consentimento informado. • Direito de controlar os próprios corpos, sem coerção, discriminação ou violência. • Direito a serviços de saúde reprodutiva - integrais e de boa qualidade: • com enfoque integrado de necessidades, em matéria de nutrição, saúde reprodutiva, educação, orientação e promoção de capacidades criativas; • permeáveis ao acesso a informações e meios para alcançar o nível mais elevado de saúde reprodutiva, incluindo medidas de apoio ao autocontrole da fertilidade e proteção da gravidez, do parto e puerpério; • relações baseadas no respeito aos valores culturais e religiosos. • Direito à promoção de relações de respeito mútuo e de igualdade entre homens e mulheres. (Fonte – Manual “Adolescer – Compreender, Atuar, Acolher” – Associação Brasileira de Enfermagem e Ministério da Saúde – Área de Saúde do Adolescente e do Jovem – Brasília, 2001). •
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O PÊNIS NOSSO DE CADA DIA Valdir Craveiro Bezerra* - Qual o tamanho do pênis ideal? - O tamanho que o seu tem! Toda esta história começou há muitos, muitos anos, quando o homem percebeu a associação entre a relação sexual e a gravidez. Era o homem que depositava um novo ser no corpo da mulher e este corpo feito um ninho, o acolhia e nutria até o nascimento. Esta história subiu à cabeça dos homens e o pênis e seu dono, passaram a ter uma importância muito grande e logo o pênis passou a ser um símbolo de poder, de força, de vitalidade, de vida. Quase que de imediato identificaram e/ou surgiram outros símbolos de poder simulando um pênis: o cetro real, (que é um pintão bem grande) a espada, a lança, e muitos outros. Muito mais tarde, Freud os chamou de símbolos fálicos, inclusive como só pensava nisso, chegou à conclusão de que a mulher tinha inveja do pênis, ou era do poder representado por ele?!... Ter o poder deve ser algo muito bom, mas ao mesmo tempo, esse poder começou também a pesar muito sobre a cabeça de cima do homem e este passou a se preocupar, é claro, com o tamanho do seu pênis. Pênis maior, maior o poder! Não demorou muito a se perguntar: Será que é normal? De uma maneira geral, o tamanho do pênis em ereção fica entre 12 a 14cm. É considerado micro pênis, quando é menor que quatro cm. Mas para a relação sexual, quanto maior não é melhor? Só se fosse para uma briga de chibata, pois no final da vagina tem o colo do útero que é bem sensível e facilmente traumatizado e isso dói, e às vezes, muito. Por isso, o homem tem que diferenciar bem entre a expressão de prazer e de desconforto de sua parceira, no momento da penetração. Nós, pobres homens, pensamos que uma penetração profunda e vigorosa dá prazer à mulher. Não podemos nos esquecer de que a parte da vagina mais sensível, que estimulada leva a mulher ao orgasmo, são justamente os quatro primeiros centímetros da entrada. O restante do pênis só serve de encaixe. E para as mulheres, tamanho é ou não é documento? Com certeza, para a grande maioria das mulheres, a maneira como ela é tratada, curtida é que é documento. Eu me refiro às preliminares, aos carinhos, “aos entretantos”.. Confirmar a mulher com quem você está e fazê-la se sentir uma deusa, a mulher mais linda do mundo, a mais importante naquele momento, o tesão de sua vida, isso é que vai fazer a grande diferença. A relação sexual deixou de ser a muito tempo só para fins procriativos, e passou a ser uma grande fonte de prazer para os dois envolvidos, os quais são responsáveis pela construção desse prazer. Por outro lado, existem algumas mulheres que aprenderam a dar um sentido e um significado muito grande para o tamanho do pênis, assim como o homem para o tamanho dos seios, por exemplo, mas isso fica no mundo da fantasia de cada um, se tornando importante para seu estímulo sexual. É deixar de lado um corpo inteiro e ficar preso só a uma pequena parte. Às vezes a preocupação com o tamanho do pênis chega a ser um problema tão sério ao ponto do seu dono procurar um profissional para consulta. De todos adolescentes que chegaram me pedindo ajuda para fazer o pênis ficar maior, no final das contas, o problema era outro e não o pênis. Foi como no caso do fanho, que se preocupava muito com isso e por sorte ou azar achou uma garrafa com um gênio preso dentro. O fanho quase enlouqueceu, pois ia resolver seu grande problema. Quando o gênio mandou que ele fizesse três pedidos, o fanho não contou conversa e disse: “ Eu éro um ‘întão’ ém ande!”: Pluft, apareceu um cinto de 5 metros. O fanho olhou e não acreditou e disse: “ Eu éro um ‘ênis’ inórme!” Pluft, apareceu um tênis de um metro e meio. O fanho quase que enlouquecido grita: “ Seu urro, eu éro qê meu ínto arraste no chão!” Pluft, o gênio cortou as pernas do fanho! Bem, o problema não era o tamanho do pênis, era ser fanho, pois isso sim, dificultava sua comunicação. Finalizando, o tamanho do pênis não é documento já que a camisinha é a mesma, e nunca deve ser esquecida. Com certeza é muito saudável termos uma grande preocupação, mas com o tamanho do prazer dos dois envolvidos na relação, e não só com um, alíás, com uma pequena parte, o pênis! *Hebeatra (Clinico de Adolescente) Gestalt Terapeurta, Terapeuta de Família e Coordenador do Adolescentro - SES
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MITOS, CRENDICES E TABUS SEXUAIS Patrícia Goodson Mabel Cavalcanti Comecemos com a questão dos mitos. Não porque seja a mais importante, simplesmente porque o mencionamos em primeiro lugar, no título. É bom sabermos que o termo mito, de início, comporta alguns significados diversos. Talvez o mais conhecido por aqueles especializados em farejar odores intelectuais, seja o significado filosófico de que o mito é uma fala. Explicando melhor: mito é uma maneira especial de se falar sobre as coisas, a natureza, a vida humana. Mas, convém lembrar que o mito (nesse primeiro sentido que estamos analisando) não é um jeito qualquer de falar sobre as coisas da vida. É um jeito de falar que precisa ser decifrado, precisa ser interpretado. Talvez ficasse mais claro compreender este sentido do termo “mito”; se pensássemos em outro termo: “ciência”, por exemplo. Ciência também é um jeito de falar sobre as coisas, a natureza, a vida humana. Só que é um jeito de falar diferente do mito, porque a ciência, ao contrário do mito, revela claramente os significados das coisas, explica e decifra as mensagens que, segundo ela, estão contidas nas coisas. A ciência é um jeito explícito de falar. O mito é um jeito encoberto de falar. Sendo assim, será que, talvez, pudéssemos afirmar que o mito é erótico e a ciência é pornográfica? Um dos principais problemas para quem estuda este jeito de falar, que é o mito, é a relação entre mito e verdade. Vejamos um mito cuja origem desconhecemos mas que é pelo menos, bastante poético: o mito da origem da estrela-do-mar. Dizem que um pequeno grão de areia apaixonou-se, ao olhar para o céu, por uma estrela. Imaginou, então, coisas de amor. Passaram-se muitos e muitos anos. Ela no céu, ele no mar. Nunca se encontraram... Mas, muito tempo depois - sem que ninguém pudesse explicar como, apareceu a estrela-do-mar! Se lançarmos sobre este mito a pergunta: - Isto é verdade? Sabemos que, cientificamente, não é. Mas, se apelarmos para a ciência, já estamos deixando de falar do jeito que o mito fala, e estamos falando como a ciência fala. As relações entre os mitos e a pergunta fatal: - “Mas é verdade?” são muito complexas. Tão complexas que acabaram gerando um outro significado para o tema mito. Este é o significado mais usado hoje em dia: o de que o mito é algo “sem realidade”.; Usamos a palavra mito, muitas vezes, quando queremos dizer “mentira” ou “não-verdade”. No dicionário de língua portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda, encontramos como um dos significados do termo mito: “Coisa inacreditável, fantasia, irreal; utopia” (Holanda, s/d: 931). Há, portanto, pelo menos, estes dois significados para o termo mito. Interessa-nos aqui mais este segundo sentido – o mito como uma não-verdade. Dizer que aquilo que é mito não é verdade, contudo, traz alguns problemas. Tomemos como exemplo o seguinte mito: “Os negros têm maior impulso sexual que os brancos” (Mac-Cary, 1978:47). Cientificamente sabemos que não há qualquer causa para sustentar a opinião de que uma raça seja sexualmente mais ativa que outra. Mas se não há bases científicas que comprovem este mito, por que tantas pessoas – muitas vezes “cultas” e “educadas” – através da história, creram e ainda crêem nisso? Esta é a pergunta fundamental: se a ciência já disse que isto ou aquilo não é verdade e, além do mais, já o provou com seus argumentos, por que muitas pessoas (apesar de saberem o que diz a ciência) ainda acreditam nos mitos? A resposta a esta questão tão fundamental é pouco simples. Entretanto, os estudiosos dos mitos parecem apontar-nos alguns caminhos de resposta. Em primeiro lugar, os mitos não desaparecem quando a ciência se impõe, porque os mitos são de outra natureza. Ou seja, tudo que é mito tem a ver com os desejos (conscientes ou
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inconscientes, individuais ou coletivos) das pessoas. O mito tem muito pouco a ver com a razão. A ciência, ela sim, tem tudo a ver com a razão humana, e pouco a ver com os desejos. São, portanto, níveis diferentes, raízes diferentes... Em segundo lugar, os mitos são criados, muitas vezes, para expressar o modo de pensar de toda uma sociedade, para expressar as relações que os homens mantêm (e devem manter) entre si e as relações que mantêm com o mundo que os cerca. Os mitos, portanto, têm uma função social importante: expressam aquilo em que determinados grupos querem acreditar. Crer que o homem negro tem mais impulso sexual que o homem branco serviu, muitas vezes durante a história, para justificar o “perigo” que o negro representava para o branco. A verdade deste “perigo” era bem outra: temia-se o negro porque sabia-se que a liberdade confiscada gera ódio e o desejo de vingança... Mas esta era uma verdade que não podia aparecer. Melhor criar outra “verdade” em seu lugar. Este é o papel do mito muitas vezes. Ele tem uma função que denominamos de “ideológica”. E é por isso que a informação somente e a ciência somente não conseguem derrubar a força que o mito tem. A “verdade” científica também tem uma função: só que esta função não perpassa os caminhos dos desejos humanos - e acaba, às vezes, perdendo força. Concentrando nossa atenção especificamente sobre os mitos relacionados à sexualidade humana, percebemos, talvez um pouco mais facilmente, porque é tão difícil para algumas pessoas livrarem-se das redes de mitos em que deitam e balançam suas vidas: é que a sexualidade humana e tudo que lhe diz respeito transcende, vai muito além das simples verdades científicas. As “coisas” ligadas á sexualidade têm muito mais a ver com os desejos, do que quaisquer outros assuntos sobre os quais a ciência fala. E, embora seja difícil desfazer certos mitos e substituir sua verdade pelas verdades científicas, é bom lembrarmos de alguns dos perigos que os mitos representam. Por exemplo, alguns mitos podem provocar uma inadequação séria entre os parceiros sexuais. Relata-se o caso de um casal que chegou à terapia sexual com problemas porque acreditavam no mito de que a mulher ejacula no orgasmo, assim como o homem. O marido queixava-se ao terapeuta: - Dr.! O senhor tem que me ensinar um jeito de ejacular mais rápido, porque é só eu botar a mão nessa mulher, que ela já goza!”. Para este homem, a lubrificação vaginal representava (e confirmava) o mito da ejaculação feminina e, por causa disso, ele estava prestes a tornar-se um ejaculador precoce e ela, uma mulher que nunca sentiria orgasmo nas relações! Outro mito que pode causar sérios danos psicológicos é o de que o tamanho do pênis está diretamente relacionado com a potência masculina (“quanto maior o pênis, mais homem”) e com o orgasmo feminino (“um pênis grande é importante para a gratificação sexual da mulher”) (MacCary, 1978:32). O mito do tamanho do pênis tem perturbado muitos adolescentes que, ao se compararem com outros rapazes de sua idade, mergulham numa insegurança terrível por não saberem se o deles tem o “tamanho certo”. Outro perigo “embutido” nos mitos sexuais (e nós já falamos um pouco sobre isso no começo) é o de alimentarem certas ideologias, certos conceitos que são manipulados por alguns, para a dominação de muitos. Há inúmeros mitos, por exemplo, que alimentam concepções de mundo machistas. O mito de “a mulher que demonstra seu desejo sexual por um homem, “não presta” tende a afirmar a concepção machista de que somente ao homem é permitido pensar em sexo e demonstrar seu desejo, conquistando o maior número possível de mulheres, sem que isto seja visto como algo “indecente”. Mais um perigo sobre o qual precisamos refletir com relação aos mitos sexuais: o uso (abuso) dos meios de comunicação que só veiculam estes mitos (quase nunca a realidade) e sempre de maneira sensacionalista (é só observar as publicações nas bancas de jornal...). É para prevenir estes perigos, que precisamos educar. Educar para a vivência da sexualidade sem preconceitos, sem medos, sem culpas, sem “falsas verdades”. E educar para a sexualidade saudável e feliz, é educar para a vida – igualmente saudável e feliz, como já sabemos. Todas as considerações que tecemos até aqui são válidas, igualmente para as crendices e os tabus.
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As crendices estão mais ligadas àquela idéia de “distorção da realidade” que dissemos ser apenas um dos significados do termo mito. E a crendice, muitas vezes, tem uma raiz religiosa – envolve algum elemento de fé. As crendices correspondem a uma necessidade do espírito de aceitar uma certa “verdade” sem submetê-la a uma avaliação lógica, racional. Atualmente, entretanto, na maioria das vezes, mitos e crendices são a mesma coisa. A diferença acabou sendo tão sutil que é quase inútil, em termos práticos do dia-a-dia. Os tabus sexuais, contudo, diferem dos mitos e das crendices. Quando se pensa em tabu, pensa-se em uma regra que tem que ser cumprida, senão... O preço pago por quebrar as regras do tabu é, geralmente muito alto. A expressão “tabu” é de origem polinésia, mas sua idéia básica está presente desde culturas antigas, como a dos gregos, romanos, hebreus e até a dos povos africanos, asiáticos e americanos. O significado do termo tabu está ligado aos conceitos de “sagrado”, e às noções de pureza / impureza” e “permitido / proibido”. O mito de Édipo, por exemplo, nos narra uma situação em que um tabu muito antigo foi quebrado: Édipo casa-se com sua própria mãe – Jocasta – após matar seu pai, Laio, sem saber, em ambas as situações, que eles eram seu pai e sua mãe. O tabu do incesto (ter relações sexuais com pai, mãe e irmãos) é quebrado e, mesmo que Édipo não soubesse que aquela mulher era sua mãe, ele é, inevitavelmente, punido com uma série de “desgraças” que lhe acontecem: Jocasta se suicida assim que sabe que Édipo é seu filho; Édipo se pune arrancando os próprios olhos e é expulso do reino por seus próprios filhos e morre, algum tempo depois, “engolido” pela terra durante um terremoto (Rocha, 1985:51-58). O incesto é, ainda hoje, considerado um tabu em muitas sociedades no mundo inteiro. Mas outros tabus vão e vêm - dependendo muito do momento histórico e da cultura em que aparecem. É preciso deixar claro que o tabu também se alimenta de crenças irracionais e, por isso mesmo, torna-se passível de mudança quando essas crenças começam a ser trabalhadas em um determinado grupo. A virgindade, por exemplo, é algo que até bem pouco tempo era um tabu muito forte nas sociedades ocidentais: a mulher que não se casasse virgem era, no mínimo, pouco digna de confiança. Na década de 60, no entanto, com a revolução sexual e dos costumes, o tabu da virgindade começou a perder a sua força. Mitos, crendices e tabus – de que nos interessa esta discussão? Enquanto educadores sexuais e, principalmente, educadores de adolescentes, necessitamos: • reconhecer a coexistência de mitos, crendices e tabus, paralelamente às verdades científicas; • lembrar que os mitos, as crendices e os tabus têm sua lógica própria (muitas vezes baseada nos desejos conscientes e inconscientes) e por isso, não se deixam substituir facilmente pela lógica da ciência e por suas verdades; • reconhecer que nossos alunos adolescentes estão numa fase de vida em que, inevitavelmente, reformulam conceitos adquiridos e estão “abertos” para novas informações e posturas; • admitir que nosso papel de educadores tem grande impacto sobre essa fase de reformulação de conceitos; • prevenir os perigos que os mitos, as crendices e os tabus podem representar para o exercício saudável e feliz da sexualidade: os perigos dos preconceitos, do medo, da culpa, das “falsas” e “meias” verdades; • e, por último, necessitamos fornecer todos os elementos possíveis para que os nossos alunos escolham - adequadamente - que tipo de verdade irão adotar para suas vidas. É imprescindível a nós, educadores, detectarmos e discutirmos com nossos alunos os seus mitos, suas crendices e os seus tabus. Não com a postura de: - “Isso não presta, porque não é verdade”. Mas, sim, com a postura de: - “Isto não é verdade. Mas por que você acredita nisso ? Vamos conversar a respeito ? “.
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Antes, contudo, cabe-nos a tarefa constante de refletir acerca de nossos próprios mitos - averiguando suas origens, suas características, suas funções e os valores que lhes atribuímos, perguntando-nos sempre: - “Por que é que eu acredito (acreditei) nisso ?”. A fim de que possamos levar a cabo estas reflexões, precisamos conhecer alguns dos muitos mitos e crendices que “rondam” a sexualidade brasileira. Gostaríamos, para isto, de enumerá-los, dividindo-os em dois grandes grupos: • mitos e crendices relativos à anátomo-fisiologia da resposta sexual; e • os relativos ao desempenho sócio-cultural das pessoas. I - Mitos e Crendices relativos à anátomo-fisiologia da resposta sexual Fisiologia da Resposta Sexual Achamos mais conveniente enumerar as crendices com relação à fisiologia, tomando por base as diferentes fases da relação sexual. Fase da apetência sexual. A mulher tem menos apetite sexual do que o homem e aquela que não se enquadra nesses padrões poderá ser rotulada de ninfomaníaca. Observemos que isto é estandartizar e generalizar opções, tendo em vista as diferenças individuais. Cada mulher pede apenas para ser respeitada e aceita, no seu direito de ser diferente. A ligadura tubária, a dos canais deferentes e/ou a histerectomia tornam a mulher ou o homem inapetentes. Está bem patente aí a identificação do sexo com a reprodução, esquecendo-se que nem sempre a atividade sexual é posta a serviço do ato reprodutivo. A mulher só desenvolverá sua capacidade apetitiva e orgástica depois que se tornar mãe. As virgens não têm as mesmas necessidades sexuais das outras mulheres. Fase da excitação sexual A lubrificação e a ereção são sinais que há uma exigência de coito. Isto está vinculado a uma crença de que a mulher ejacula como o homem. Ora, se ela já ejaculou, precisa que se complete o coito rapidamente. A mulher deve estar sempre pronta para satisfazer o homem. Mas, por outro lado, a mulher decente deve disfarçar a sua excitação. A mulher só se excita na fase reprodutiva (o uso do anticoncepcional torna a mulher assexuada). Novamente aí vemos o sexo ligado à reprodução. A mulher jamais se excita durante o sono, como ocorre com o homem. Fase Orgástica O homem tem o dever de dar orgasmo à sua mulher. Ora, sabemos que orgasmo não se dá, nem se exige. Ele acontece. É ato reflexo. Existe um orgasmo vaginal e um clitoridiano, identificando-se aquele como maduro e este último como infantil. A divulgação deste fato se deve às especulações psicanalíticas, aceitáveis na época de Freud, mas totalmente desmitificadas após as descobertas de Masters/Johnson. Junto a esta falsa crença sobre orgasmo, surgem outras tantas divulgadas por publicações sensacionalistas, tais como: • a mulher mais sexy deve ser multiorgástica; • o supermacho deve ter mais de uma relação por encontro; • o orgasmo simultâneo indica perfeição e harmonia do relacionamento; • o orgasmo na gravidez faz mal ao bebê; • a vagina “frouxa” impossibilita o orgasmo;
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se a mulher for lenta para atingir o orgasmo deve fingir que conseguiu para agradar ou prender seu parceiro; a ejaculação precoce está vinculada a causas físicas, como a hipersensibilidade da glande. Daí decorre a crença de que a circuncisão poderá desencadear esse problema.
Anatomia Sexual Do ponto de vista puramente anatômico, encontramos a crença de que o tamanho do pênis, do clitóris ou do seio é indicativo de maior capacidade sexual. Sabemos que esta é uma crendice comum entre adolescentes quando, ao perceberem o desenvolvimento do pênis ou seios, sentem-se mais credenciados como homem ou como mulher. Esclarecer e desmitificar o conceito não implica menosprezar o tamanho dos seus órgãos, mas, ao aceitá-los, não se deve prender à idéia mítica de que o seu desempenho como homem ou como mulher estará vinculado às dimensões deles. Ainda com relação ao tamanho do pênis, é interessante observar as crendices de que o tamanho do pé, do nariz ou outro órgão seja proporcional às dimensões penianas. Há também os que crêem que o negro é mais bem dotado e mais sexy que o branco. Esta afirmativa, entre nós, talvez se prenda a fatos históricos, onde a promiscuidade das senzalas e falta de lazer do negro escravo deixaram-lhe como última opção os jogos sexuais. Outra crença afirma que o útero é capaz de sugar o fluido seminal, mesmo que a ejaculação tenha ocorrido no intróito vaginal ou interfêmura. Outrossim, há quem acredite que o homem pode ficar preso num coito vaginal com determinadas mulheres. O declínio da sexualidade no homem ou na mulher de meia-idade também está eivado de mitos e crendices. Assim, surge a seguinte crença: A mulher na menopausa “virou homem” e perdeu seu poder apetitivo, enquanto que o homem deve ter seus cuidados, porque cada um tem um número determinado de ejaculações e aquele que abusou de sua sexualidade verá extinta sua capacidade de desempenho. II - Mitos e Crendices relativos ao desempenho sócio-cultural das pessoas Encontramos outras tantas crenças, a saber: • • • • • •
O papel da mulher deve ser passivo. A virgindade da mulher é importante para a manutenção de um casamento ou relacionamento duradouro. A virgindade é o maior tesouro da mulher. A ausência do hímen prova a não-virgindade. A mulher que já teve outros relacionamentos (ou não é virgem) tem maior possibilidade de vir a ser adúltera. A mulher é romântica e assexuada por natureza. O homem, não.
Sobre práticas alternativas: • • • • • •
Relação entre homens e animais gera monstros meio-homem/meio-animal. O homem que se masturba fica fraco, inseguro ou louco. A masturbação não é coisa para a mulher e aquela que se masturba é doente. Sexo oral ou anal é sujo e repugnante, e quem o pratica é degenerado. Fantasias sexuais não são para mulher decente. Toda mulher é masoquista por natureza e todo homem é sádico em maior ou menor grau.
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Além disso, é comum a crença de que um casamento sério não comporta certos tipos de variação sexual, no que implica a crendice de que todo casamento, com o tempo, se torna entediante. Em defesa de certos extremismos machistas, surge a crendice de que: - a mulher só é violada porque provocou. E a outra diz: - a mulher que nunca teve relação sexual é histérica e fracassada. Ou ainda: - toda mulher inveja o pênis (daí as afirmativas de que as lutas pelo poder e as campanhas feministas são apenas formas mascaradas de desejar um pênis). Com respeito à homossexualidade, também surgem crendices que têm quase a força de mito: • Toda mulher feminista é homossexual. • Os homossexuais são mais criativos e sensíveis que os heterossexuais. • A mulher que é profissional também é homossexual (principalmente a que se dedica a certos trabalhos). • A mulher ou homem quando admite sexo oral tem tendências á homossexualidade. • O homem que sente prazer com a estimulação dos mamilos é homossexual latente. • A homossexualidade é congênita e hereditária. E outras tantas que se somam a estas, com maior ou menor força, dependendo do grupo cultural em que se desenvolve. É comum encontrar quem creia que a pornografia leva à prostituição e à violência, como também se fala que os jovens de hoje são depravados sexuais. (Fonte – Manual “Saúde Sexual e Reprodutiva – Ensinando a Ensinar” – Ricardo Cavalcante e outros – Brasília, Artgraf Editora)
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IDENTIDADE, PAPÉIS SEXUAIS E ORIENTAÇÃO DO DESEJO SEXUAL Cláudio Picazio Compreender os aspectos que compõem a sexualidade é fundamental para entendermos as várias formas de manifestações sexuais. Podemos, para facilitar a exposição, dividir a sexualidade em quatro pontos fundamentais, que no entanto se misturam, interagem e são dinâmicos dentro de nós. Cada pessoa tem a sua própria combinação, que a busca de prazer e relacionamento seja diferente da de outras pessoas. Os quatro aspectos são: sexo biológico, identidade sexual, papel sexual e orientação do desejo sexual. Sexo biológico (características genotípicas e fenotípicas do corpo) O sexo biológico é constituído pelas características fenotípicas e genotípicas de nosso corpo. Geneticamente somos homens ou mulheres. Na sexta semana de gestação, o gene xy começa a determinar a diferenciação do feto masculino do feminino, que tem o gene xx. Começam então a serem formados o pênis e o saco escrotal no homem e o útero, o ovário, a vagina e o clitóris na mulher. Quando nascemos, são essas características que determinam se seremos tratados como meninos ou meninas. Conforme crescemos, as nossas características sexuais secundárias vão sendo determinadas pelos hormônios que produzimos. Na puberdade, os meninos adquirem barba, peito largo e voz mais grave devido a uma maior descarga de hormônio masculino, os androgênios, em seu sangue, enquanto as meninas vão desenvolvendo mamas e quadris arredondados devido ao estrogênio. Todos nós temos uma mistura dos dois tipos de hormônio e às vezes uma pequena variação faz com que mulheres tenham pêlos na face, – apresentam um pouquinho mais de hormônio masculino do que a média das mulheres – e alguns homens tenham mamas – produzem um tanto a mais de estrogênio. Estas características não têm absolutamente nada a ver com o comportamento sexual da pessoa ou com a orientação do seu desejo. O coquetel de hormônio de uma pessoa é determinado pelos seus gens e também pelo ambiente intra-uterino, ou seja, pela saúde da mãe durante a gestação. Uma mãe sob estresse ou dependente de algum tipo de medicamento ou entorpecente pode alterar o equilíbrio natural de seus hormônios, criando um ambiente diferente para o feto justamente quando qualquer pequeno distúrbio altera seu desenvolvimento. Nunca é demais ressaltar que fumar, beber, consumir drogas e passar por estresse durante a gestação pode causar danos ao bebê. Existem casos bem mais raros, em que os órgãos genitais de ambos os sexos aparecem no corpo da pessoa. A estes casos dá-se o nome de hermafroditismo Identidade Sexual.( quem se acredita ser) O sexo biológico é o referencial inicial da construção de nossa identidade sexual. Se temos pênis, seremos considerados do grupo masculino e chamados de homem. Se temos vagina, seremos do grupo feminino e chamadas de mulher. A partir da diferenciação homem-mulher iremos receber do mundo um tratamento de acordo com os valores da sociedade, da escola, dos pais, dos amigos, que nos darão uma direção do que é ser masculino ou feminino. Não nascemos sabendo ser homem ou mulher, isso precisa ser aprendido a partir de nós mesmos. Conforme crescemos, vamos nos identificando com atitudes, profissões, roupas, ídolos, independentemente de serem considerados masculinos ou femininos. Entretanto, vamos sendo encorajados pela sociedade a abrir mão das escolhas que não são consideradas condizentes com o nosso sexo biológico. Na adolescência, a identidade de gênero, ou seja, o gênero sexual a que pertencemos, masculino ou feminino, se evidencia pelo fato de aparecerem os caracteres sexuais secundários no corpo.Socialmente, ser masculino ou feminino pode variar de época e cultura. A identidade sexual está muito mais vinculada à idéia de quem acreditamos ser. Ela é formada ao longo da vida através da imagem física, de como a pessoa é tratada e como ela se sente.
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Papeis sexuais (comportamentos) Papéis sexuais podem ser definidos como os comportamentos masculinos ou femininos dos indivíduos na sociedade. Como vimos, as identidades sexuais, que é um sentimento interno, geralmente se manifesta em um comportamento externo, que denominamos papel social sexual. Desde pequenos vão nos atribuindo uma série de papéis em relação ao que esperam de nós.Por exemplo, o papel de um bom filho, estudioso e educado; de boa filha, estudiosa e delicada. Muitos desses conceitos são passados em decorrência do que o núcleo familiar considera adequado ao sexo biológico da criança. Tudo que associamos a “coisa de homem” ou “ típico de mulher” faz parte dos papéis sociais e sexuais que a pessoa está exercendo ou adquirindo. Uma mulher que não entenda de futebol está se comportando de uma maneira que acredita ser adequada à sua condição feminina. Socialmente, ela é aceita e estimulada pelos homens para que não entenda do assunto. É claro que ela pode, caso queira, entender e jogar tão bem quanto qualquer homem, mas se resolver fazer isso estará desempenhando algo que, na nossa cultura, é tido como papel sexual típico de homem. Essa conduta, no mínimo causará alguma estranheza. É muito difícil encontrarmos alguém que só corresponda ao que é determinado ao seu papel. Esses papéis variam de acordo com a época e a cultura. Hoje, o comportamento social é diferente de ontem e, provavelmente, amanhã será diferente de hoje. A sociedade está tentando perder a rigidez em relação aos papéis estabelecidos de homem-provedor e mulher-submissa. Hoje em dia, a mulher está mudando essa posição e se equiparando em igualdade de direitos ao homem; o homem por sua vez está tendo que se equiparar à mulher em relação aos deveres que ela tem. Orientação do desejo A orientação do desejo, também chamada de orientação sexual, é o sentimento de atração direcionado à pessoa com quem desejamos nos relacionar amorosa e sexualmente. Este talvez seja o conceito mais difícil de ser entendido, porque ele independe de uma escolha consciente ou de um aprendizado e, na literatura, não se encontram definições claras a respeito. A orientação do desejo é a moradia de nossos amores e desejos eróticos, nossas fantasias e paixões. É a orientação do desejo que indica não só a pessoa sexual (homem ou mulher) que nos atrai, mas também o seu tipo. Existem várias teorias sobre a formação da orientação do desejo sexual. O que se acredita é que a junção de vários fatores psicológicos, genéticos e sociais determina a orientação de nossos desejos. O mais importante, porém, é termos claro que a atração pela pessoa amada não é uma opção. Opção significa uma escolha consciente entre dois ou mais objetos que tenham a mesma carga de valor satisfatório. Pois bem, podemos nos perguntar se em alguns momentos de nossas vidas paramos para optar, por exemplo, entre gostar de uma pessoa de sexo biológico diferente do nosso e uma de sexo igual. Com certeza a resposta será “não”, mesmo daqueles que se sentem atraídos tanto por homens quanto por mulheres – os bissexuais. Se há uma escolha, ela é inconsciente e, como acreditam alguns teóricos das ciências humanas, deve ocorrer antes dos quatro anos de idade, sendo completamente desvinculada de qualquer arbitrariedade. Existem vários estudos que tentam mostrar a existência de uma configuração genética no DNA que determinaria a homo ou heterossexualidade, mas ainda são estudos e nada há de certo. De qualquer modo, somos muito mais passivos do que pensamos em relação a quem vamos dirigir o nosso desejo. A orientação sexual não é mutável. O que pode ocorrer é uma descoberta da própria orientação em idades diferentes. Muitos só conseguem descobri-la na maturidade ou mais tardiamente, dependendo das repressões sociais e regras que se sintam no dever de cumprir. Talvez seja importante que as pessoas reflitam sobre seus posicionamentos. Será que são as pessoas que têm de se moldar aos padrões tidos como “normais” da sociedade? Ou é a sociedade – nós mesmos – que deve aceitar a diversidade e mudar seus padrões? Não há mais lugar para especulações baseadas em conceitos rígidos. Muitos religiosos, médicos e até psicólogos, por desconhecimento, acreditam que a orientação afetiva sexual pode
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ser modificada, que todo ser humano é heterossexual e que tudo o que seja diferente é uma doença. Estão usando um padrão de maioria para tentar estabelecer uma verdade universal. Há trinta anos a homossexualidade perdeu seu caráter de doença (CID), e tentativas de “cura” foram publicamente repudiadas pelo Conselho Federal de Psicologia em 1999. Doença é não respeitar a naturalidade de cada um tentar determinar a quem se deve amar e desejar eroticamente. Respeitarmos as várias formas de orientação do desejo é condição básica para que respeitemos o nosso próprio desejo. A orientação do desejo, por mais diferenciada que seja, por mais doloroso que possa ser admiti-la, tem que ser levada em conta, pois expressa o seu real desejo e a verdadeira possibilidade de a pessoa se realizar afetiva e sexualmente. Na orientação sexual moram os afetos, as emoções de paixão e amor. Não sentimos que escolhemos a pessoa amada, porque muito mais forte que nossa escolha é o impulso amoroso. Muitas vezes pegamo-nos em questionamentos abstratos sobre as razões de amarmos tal pessoa e não encontramos qualquer resposta, mas sabemos que a amamos e que este amor é mais forte do que nossa vontade de abrir mão deste sentimento. É muito difícil negar o amor, porém podemos escolher se vamos ou não vivê-lo. Negá-lo traz muito mais sofrimento e angústia do que admiti-lo. Podemos nos abster de uma ação em relação ao que desejamos, mas a saúde pessoal constituise na admissão de nossos desejos e, na medida em que nos sentirmos mais fortes em sua realização. A nossa sexualidade resulta do entrelaçamento entre os aspectos biológicos, de identidade sexual, papéis sexuais e orientação do desejo. São estes quatro pilares que vão determinar em estrutura, forma e ação a sexualidade de cada um. As inúmeras variações que podemos perceber entre quatro elementos propiciam diversidades de expressão da sexualidade. Heterossexualidade Podemos definir a heterossexualidade como a atração afetiva e sexual por pessoa de sexo diferente do próprio. A sua configuração dos quatro elementos que compõem a sexualidade é a da maioria das pessoas, porém não é a única existente. Vamos tomar como exemplo uma mulher heterossexual. Ela tem o sexo biológico feminino, a sua identidade sexual é também feminina, ela se comporta no mundo de acordo com os papéis sexuais esperados de uma mulher e sua orientação de desejo é dirigida a uma pessoa do sexo oposto ao seu. Essa mulher, em outras palavras, se percebe biologicamente como mulher, se comporta como tal e deseja um homem. Até aqui, tudo parece muito tranqüilo e de fácil compreensão, mas vemos variações dentro da própria heterossexualidade. Por exemplo, podemos ter uma pessoa que biologicamente seja mulher, que se perceba como mulher e tenha uma atração sexual direcionada ao sexo oposto, mas que se comporte de acordo com os papéis sexuais masculinos. Essa mulher é tão heterossexual quanto a outra, uma vez que as duas têm a mesma orientação de desejo e se identificam como mulher, mas provavelmente sofre discriminação por estar “invadindo” funções que não são esperadas dela e é considerada masculinizada. Ela é, de certa forma, rechaçada pelo grupo justamente por não corresponder à postura e aos gostos tidos socialmente como femininos. Homossexualidade Homossexual é a pessoa que sente desejos afetivos e sexuais pela pessoa do mesmo sexo. O único elemento que se altera entre a composição da heterossexualidade e a homossexualidade é a orientação do desejo. O homem homossexual é aquele que tem o sexo biológico masculino e se sente em acordo com ele, ou seja, sabe que é um homem e se identifica como tal, comportando-se de acordo com os papéis sociais e sexuais tidos como masculinos. Sua atração afetiva sexual é direcionada às pessoas do mesmo sexo biológico que o seu. A maioria das pessoas diagnostica alguém como homossexual pela sua forma de se comportar socialmente – se homens, mais efeminados, e se mulheres, mais masculinizadas -, o que consiste em um grande erro, uma vez que já vimos que uma pessoa pode ter a sua orientação de desejo direcionada para uma pessoa do sexo oposto e ter esses mesmos comportamentos. A homossexualidade ainda causa muita polêmica, apesar de ter sido eliminada do código de doenças (CID) há 30 anos. Ainda é considerada, erroneamente, por muitos, como uma doença
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ou um desvio de comportamento. A sociedade mistura valores e palpites pessoais, maiorias e minorias, com o que é certo ou errado. Muitos homossexuais tentam negar seu desejo ao adotar uma atitude sexual heterossexual, vinculando-se a alguém do sexo oposto e vivendo uma vida distanciada do seu desejo. Alguns se casam e na grande maioria das vezes não conseguem refrear seus impulsos, levando uma vida dupla e “estragando” a possibilidade de satisfação para todos os envolvidos. Quando falamos em desejo sexual, compreendemo-lo como movimento interno erótico impulsionado por uma carga de atração física e emocional. Ao falar em atitude sexual, referimonos a uma resposta física, um ato em que a outra pessoa entra simplesmente com um corpo para satisfazer uma necessidade biológica e psíquica sexual. Desejo sexual é parte fundamental da orientação afetiva sexual, ao passo que uma atitude sexual pode existir independente da orientação do desejo. Por exemplo, na época da Segunda Grande Guerra, muitas mulheres tinham relações sexuais entre si, assim como muitos homens, no campo de batalha. Muitos meninos têm uma relação que se chama “troca-troca” que está longe de ser considerada homossexualidade, porque para a maioria o objeto desejado internamente é uma pessoa do outro sexo. O que há é um exercício da sexualidade, um descarrego da energia que está vibrando nos corpos com toda a sua força, e é vivida com um(a) colega. Em suma, todo ser humano pode ter uma atitude sexual com qualquer sexo, mas seu desejo interno, aquele para o qual é essencialmente voltado como resposta de uma vontade interna, a libido, é o determinante de uma conduta homo, hetero ou bissexual. É muito provável que, à medida que a sociedade avance e amadureça, vá gradativamente propiciando condições para que as diferenças convivam e esses desencontros não se perpetuem. Bissexualidade Bissexual é a pessoa que sente desejos afetivos sexuais por pessoas de ambos os sexos. A sua orientação do desejo não está direcionada para um dos sexos, mas sim aos dois. Talvez a bissexualidade, entre todas as orientações, seja a que mais polêmica cause. Geralmente, os bissexuais são vistos como pessoas “não resolvidas”, “ em cima do muro” ou muito promíscuas. Tanto os grupos homo quanto os heterossexuais excluem os bissexuais, não compreendendo tal orientação. Quando estão vinculados afetivamente com alguém, seus pares se desesperam porque não sabem quem será o seu competidor, de quem devem sentir ciúmes, e temem não ter como lutar pela posse do amado. Se um homossexual é visto como uma pessoa hiperssexualizada, o bissexual é visto como duas vezes mais. Homens e mulheres bissexuais são encarados como incapazes de formar vínculos afetivos mais profundos com uma só pessoa, e que sempre estarão insatisfeitos sexualmente se tiverem apenas um parceiro. A verdade é que o bissexual sente desejo afetivo sexual por ambos os sexos e sente-se satisfeito com qualquer um deles, descaracterizando uma necessidade de relacionar-se com duas pessoas de sexo diferente ao mesmo tempo. Acredita-se que bissexuais tenham mais chances de serem felizes do que os hetero ou homossexuais porque sentem desejos por pessoas de ambos os sexos. Isto é um engano, porque independentemente da quantidade de pessoas que possamos desejar, sabemos que, para amar e sermos amados, necessitamos aprender a criar vínculos e saber escolher o nosso(a) parceiro(a) de amor. Não é a quantidade que satisfaz, mas com quem estamos que nos satisfaz. Se acharmos que nas relações somente o sexo é importante, então o bissexual poderá ter mais chance de ser feliz, mas não é assim. Escolhemos alguém por tantos outros motivos quanto o sexo. Transexuais Transexuais são pessoas que nascem com um determinado sexo biológico mas que se sentem pertencentes ao gênero oposto. Os transexuais nascem biologicamente normais, não tendo nenhuma duplicidade em sua aparência ou estrutura física sexual. No entanto, sentem que seu corpo não corresponde à “sua alma”, sua identidade. Os transexuais sentem um desconforto enorme ao olhar para os seus genitais. Muitos não conseguem nem se lavar direito, não se tocam e não permitem que outra pessoa os toque. No
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caso dos biologicamente homens, tentativas de mutilação do pênis podem ocorrer, tamanha a aversão de não terem o seu corpo em correspondência com o seu sentimento. A base da compreensão da transexualidade é entendermos que o sexo biológico não corresponde à identidade e que independe da orientação do desejo. Isto nos faz confirmar que a identidade sexual não é estruturada assim no físico do indivíduo, mas está muito mais enraizada na percepção que a pessoa tem de seus sentimentos e conceitos sobre si mesma. Hermafrodita São pessoas que nascem com uma anormalidade biológica, ou seja, com as características sexuais dos dois sexos. Durante a formação do feto, pode ocorrer um erro na combinação cromossômica ou uma mutação no código genético, ou ainda um desequilíbrio na dosagem hormonal – são as conclusões mais prováveis -, e forma-se um ser humano com “órgãos sexuais dúbios, onde os sexos, macho e fêmea, são fundidos”, como afirma Pamplona (Pamplona, Ronaldo. Os Onze sexos, pág. 192). Os hermafroditas, em sua maioria, não possuem esses órgãos com aparência adulta. O pênis é de tamanho reduzido, com capacidade ejaculatória mas raramente apresentando espermatozóides. A vagina e a vulva são de aparência infantil, havendo apenas uma pequena menstruação. Internamente o hermafrodita pode ter testículos e ovários. A partir da década de 60 começaram a ser desenvolvidas as cirurgias de correção do aparelho genital. Hoje, quando o hermafroditismo é percebido no nascimento, o bebê é logo encaminhado para uma cirurgia de correção de sexo. Geralmente, os médicos optam por deixar aquele genital que a criança tem mais desenvolvido. Na adolescência, às vezes faz-se necessário a correção hormonal com medicamentos, devido a uma ligeira baixa na produção de tais e quais hormônios. A identidade sexual do hermafrodita vai se construir em parte baseada na sua educação. Já percebemos que o sexo genital não é a base da identificação, e que esta reside em quem o sujeito sente ser, como as pessoas o tratam e como ele se comporta socialmente. A atração sexual destas pessoas também tem a mesma multiplicidade de orientações sexuais. Tanto podem ser hetero, homo ou bissexuais. Fonte – Extraído do livro “Sexo Secreto” de Cláudio Picazio. São Paulo, Summus. 1998)
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SEXUALIDADE: DESATANDO OS NÓS NA ADOLESCÊNCIA Por Marcos Ribeiro* Um pouco dessa história começa por volta dos 10/12 anos, quando meninos e meninas começam a sofrer as primeiras transformações físicas, que vão ser responsáveis pelo amadurecimento da sexualidade. Durante todo o desenvolvimento do indivíduo, desde o nascimento até a puberdade, as mudanças físicas ocorrem muito lentamente. Mas é por volta dessa idade, que essas mudanças vão se dar num processo bastante acelerado. No menino, agora rapaz, ocorrerá um amadurecimento dos testículos e da bolsa escrotal . Em seqüência, o crescimento do pênis. Um ano depois, mais ou menos, acontece a primeira ejaculação; vai haver também uma intensificação na transpiração, no aparecimento de acne (cravo), no desenvolvimento da musculatura e no engrossamento da voz. Já na menina, há o surgimento da menarca (que é o nome da primeira menstruação), o crescimento dos seios, o aparecimento dos pêlos nas axilas e na genitália (vulva) e o aumento da oleosidade da pele, com o surgimento da acne. Podemos considerar que é na adolescência que ocorre a grande descoberta da sexualidade e dos sentimentos de namoro, “ficar” e paixão. A partir dessas mudanças que falamos, o que estava, de certa forma, a nível do imaginário passa a ser real. É na adolescência que se intensificam a masturbação e, muitas vezes, ocorrem as primeiras relações sexuais. Vale dizer que a masturbação faz parte do desenvolvimento da sexualidade de todas as pessoas: não causa doença, não vicia e nem mesmo é feio, sujo e pecaminoso. Essa “brincadeira”de descoberta do próprio corpo e prazer, cada um pratica da forma que melhor lhe convém. Dúvidas da garotada: A masturbação faz acabar com o esperma? (Léo, 13 anos) Não, Léo, porque os homens não nascem com uma quantidade “X”de esperma. É uma produção, podemos dizer assim, contínua. A moça pode perder a virgindade masturbando-se? (Bia, 15 anos). É bastante difícil, porque normalmente as moças se masturbam manipulando o clitóris. É preciso ter cuidado com objetos pontiagudos, porque, estes sim, são perigosos e machucam. Qual a idade em que uma pessoa deve começar a se masturbar e qual a freqüência certa? (Celso, 15 anos). Não existe uma idade certa. As pesquisas na área da sexologia mostram que ela é mais freqüente na adolescência e na velhice, quando os idosos ficam mais sozinhos, nessa cultura que acredita que o idoso não tem desejo sexual ou que a “velhinha é sem-vergonha” se ela sai para namorar. E na adolescência, porque a sexualidade está “ à flor da pele”, com a mudança do corpo, da cabeça e dos hormônios que estão “trabalhando a todo vapor”. Outra coisa: não existe uma freqüência certa. Cada pessoa tem um “relógio interno” muito próprio e um prazer muito individual que decide o que lhe é apropriado. Por isso, a freqüência normal vai depender do ritmo “ïdeal” para cada um..
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E mais: A garotada NÃO deve acreditar que... • • • • • •
A masturbação faz crescer os peitos dos homens, parecendo que têm “pedrinha” dentro; O homem fica fraco; Todo mundo percebe quando uma pessoa se masturba; Masturbação dá espinha; Provoca esterilidade ou, Faz crescer os órgãos sexuais.
Mas essa(s) descoberta(s), muitas vezes, extrapola o próprio corpo e, meio que por curiosidade, chega ao outro, o colega, através de brincadeiras, como o “campeonato de ejaculação” no banheiro: rapazes ficam querendo ver quem ejacula mais rápido, quem goza mais longe ou quem “segura mais”. Isso faz parte dessa descoberta a que nos referimos e não significa que ele tenha interesse sexual pelo amigo ou colegas. Ou ainda as meninas que começam a estabelecer a intimidade com as amigas, justamente no momento da descoberta dos seios, da menstruação, dos segredos e interesse por “aquele garoto que nem lhe dá bola”e do medo que dá o início do primeiro namoro: “como é que se beija?”, “E se ele quiser transar comigo?”, entre outras interrogações. O que percebemos claramente é que todo esse processo ainda está muito preso aos papéis - com todas as cobranças - do que significa ser homem e mulher na nossa sociedade. E não tem escapatória, cobram mesmo!: O rapaz, ao entrar na adolescência, tem que provar sua masculinidade, cantando todas as meninas, porque, se ela “der mole”e ele não for, vão dizer que ele é bicha. E justamente o oposto acontece com as garotas: se ela sair com dois, três rapazes, será logo chamada de “galinha”. A manifestação do desejo na adolescência é bem mais difícil para as moças do que para os rapazes. Isso porque as mulheres são bloqueadas desde cedo nos seus desejos e nas suas primeiras manifestações sexuais. É aquela velha história: o homem tem mais necessidade de sexo do que a mulher. E a gente sabe que isso não é verdade . Sendo assim, a adolescente se sente muito culpada e angustiada quando percebe que também tem uma manifestação de sexualidade, que sente desejo pelo namorado ou mesmo que o acha um tesão e, também que tem vontade de transar com ele. Inclusive, é bastante comum as moças atribuírem à transa, caso ela ocorra, a insistência do namorado ou “quando percebi já tinha acontecido”. É raro encontrarmos moças admitindo que tiveram relação sexual com o namorado por opção. E o risco de uma relação não planejada é que ela ocorre sem os devidos cuidados ou a prevenção necessária: que é usando camisinha. Não podemos esquecer que sexo é, também, responsabilidade. É ser responsável por si e pelo outro. É ser responsável pelas conseqüências. Dúvidas da garotada: •
...tenho 16 anos, sou virgem. Namoro um rapaz e gosto muito dele e ele de mim. Sinto muito tesão por ele quando a gente namora e vontade de transar. Mas tenho medo que possa doer muito... (Mariana)
A dor da primeira relação tem muito mais de mito do que de realidade. Pode doer um pouco, sim. Mas quanto mais estiver relaxada, menos dor ou nenhuma terá. A postura e compreensão do namorado serão muito importantes. Se além de relaxada, a garota estiver consciente de que é isso mesmo que está querendo, e não está ali apenas para satisfazer ao outro ou para ele não transar com a colega, melhor será esse encontro. Creio que a moça, em todas essas situações, deve conversar abertamente com o rapaz. Ele – principalmente se for adolescente – também estará temeroso. É um engano pensar que os
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homens tiram essa situação “de letra”. Quanto mais jovem, mas difícil será. Igualzinho às mulheres. Outra coisa: se a adolescente – e o mesmo recado vai para os rapazes – estiver com muita dúvida na cabeça, certamente esse não é o momento certo para iniciar uma vida sexual. •
...todas as minhas amigas já cresceram e eu continuo parecendo uma criança. (Raquel, 12 anos.)
Cada garota é diferente da outra, como toda pessoa na verdade. Algumas com 12 anos já têm o corpo bem formado, enquanto outras, ainda estão se desenvolvendo. Os responsáveis por essas mudanças são os hormônios, igualzinho como acontece com os rapazes. •
...quase todo dia quando acordo, eu estou com a cueca melada... (Luis Cláudio, 13 anos.)
O que acontece com o Luis, e todos os garotos nessa faixa etária, é super natural. Ao atingir a puberdade e adolescência, quando o rapaz ainda não se masturba ou transa, pode acontecer dele gozar à noite, durante o sono, num sonho associado a sexo. A isso chamamos produção noturna. É sinal que está produzindo espermatozóide. •
...e o meu pênis toda hora fica duro. (Rafael, 13 anos.)
É sinal de que está excitado. Os garotos já pararam pra pensar em que momento isso ocorre? Creio que é quando está beijando, fazendo carinho ou pensando em sexo ou em alguma moça. Na adolescência é mais freqüente isso ocorrer “toda hora”, porque o garoto está se descobrindo e a própria sexualidade, sem ter muito controle sobre suas reações. Também é comum o pênis ficar ereto (duro) quando não se está excitado, mas com a bexiga cheia, freqüentemente quando acorda pela manhã, com vontade de fazer xixi. Popularmente se costuma chamar, nesse caso, “tesão de mijo”. Como estamos vendo, a adolescência é um processo de “busca” de uma identidade, sendo a identidade sexual peça determinante. E durante essa “busca”, são comuns as fantasias ou os contatos com o mesmo sexo. Quer dizer, a iniciação sexual se faz, muitas vezes, entre rapazes com rapazes e entre moças com moças. O que não significa que eles serão homossexuais quando se tornarem adultos. Esse tipo de comportamento não é mais que uma etapa na evolução afetiva. Podemos dizer que, até os 10/12 anos, eroticamente, o indivíduo está muito voltado para si mesmo, para coisas suas. A partir daí, percebe que a excitação do seu pênis ou da vagina, assim como o tocar o próprio corpo, emana sensações muito prazerosas. Nessa idade, existe uma excitação muito grande e um desejo enorme, e que dá muito medo. Então, o que pode ser mais fácil de acontecer? No momento inicial, é procurar algo mais semelhante para exercitar essa sexualidade. Consideramos isso mais uma etapa de exercitar consigo mesmo, para depois conseguir o outro, o diferente, a pessoa do sexo oposto. Uma adolescência que não tenha as fantasias de desejo em relação ao próprio sexo, assim como em relação ao sexo oposto, algo pode estar errado. Agora, mesmo que esse(a) garoto(a) venha a ter uma orientação homossexual, é importante que seja respeitado(a) como qualquer outra pessoa. Como é.
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O Grupo: Nessa idade, o que o grupo fala é lei! Vocês já notaram, por exemplo, como os amigos, a “patota”, influenciam no comportamento dos jovens? É porque estão passando por um período que não é mais de criança, nem ainda de adulto. Então, nessa fase, vivenciam uma identidade grupal. E é através do grupo que vão buscar a autonomia - negando a criança, que lembra a dependência dos pais - para continuar crescendo e atingir a maturidade. Finalizando, como fica pai e mãe nessa história? O papel de pai e mãe - ou de quem cuida do jovem - , abertos ao diálogo e não fazendo o papel de censores, será decisivo para que a garotada tenha uma vivência saudável de sexualidade. No entanto, é importante sabermos que por mais que tenhamos pais abertos e presentes, essa experiência inevitavelmente ocorrerá, porque são experiências muito individualizadas e únicas. E quanto mais próximos estiverem, sem aquela indecisão costumeira - “Não faz isso. Afinal, você já é um homem!”. Para em seguida, “nada de chegar tarde em casa, hem?, você não tem idade pra isso” - , característica de quem tem dificuldade em aceitar que o(a) filho(a) já cresceu, melhor será para que o adolescente passe por essa etapa da vida sem maiores problemas. Não acha?
* Sexólogo. Consultor para a Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Coordenador Geral do CORES – Centro de Orientação e Educação Sexual, ONG localizada no Rio de Janeiro. Autor, premiado pela Academia Brasileira de Letras, de livros sobre sexualidade.
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GOSTAR DE SI MESMO ABRE O CAMINHO PARA O AMOR Marcos Ribeiro* É possível chegar ao amor, esse gostoso sentimento com que todos sonham. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso, antes, buscar o amor no fundo de si mesmo. Não adianta querer ouvir uma bela declaração de amor de alguém se ela não flui de seu próprio interior. Há uma historinha que diz: "Havia criaturas que eram muito grudadas - com quatro pernas, duas cabeças, um pênis e uma vagina. Eram completas, felizes. Tão felizes que provocaram a inveja de Zeus, que, com um raio, as separou em duas pessoas: um homem e uma mulher, mas com a maldição de que uma metade jamais encontraria a outra". Quando a paixão toma conta do coração, a pessoa tem a ilusão de que encontrou essa metade, muito procurada e desejada. É um sentimento forte, violento talvez, que leva muita gente a um estado quase insano em prol do desejo do outro, mais do que o de si mesmo. É por isso que, quando se vive uma paixão, cada um tem a sensação de completitude, de integração, de poder até compartilhar o sono. Vivenciar o sonho. Como se fosse o que faltava para caminhar. Quando ocorre a perda disso, se dá a perda de si no outro. Esse é o grande "nó" das relações de paixão: atribuir a felicidade ao outro, acreditar que o amor faz parte do outro. É o contrário: esses sentimentos devem estar em cada um, fortalecendose com a presença do outro. A pessoa a quem se ama não pode ser a responsável pela felicidade da outra, mas "co-autora" dessa história. O maior empecilho para a vivência de uma paixão é a visão oposta que homens e mulheres constroem em relação ao próprio corpo e ao do outro, a sexualidade e a amorosidade. Uma genitaliza o desejo, o outro erotiza o corpo todo. De um lado, temos mulheres que experimentam a paixão visceralmente: de outro, homens com dificuldade de se entregar e um medo enorme de ficar "na mão" da amada. Assim, constatamos que a entrega feminina é mais intensa - e dolorosa - do que a masculina. Dolorosa porque, quando a relação termina, o sofrimento da mulher se apresenta mais claramente do que o do homem. Ela, em geral, se dá um tempo para refletir sobre as perdas e ganhos. Ele parte logo para novo relacionamento. Aos pedaços, muitas vezes, mas sem pensar em profundidade sobre o que representou o envolvimento. A nova relação, certamente, estará fadada ao fracasso. Essa "administração amorosa" diferenciada - resultado da noção de sexualidade que é transmitida a meninos e meninas - fica evidente, por exemplo, na relação extraconjugal. Enquanto a mulher apaixonada, mesmo casada, larga tudo pelo amado, o homem se divide em relações paralelas sem a coragem feminina de viver intensamente esse estado de ilusão. Mas porque ilusão se cada um fica feliz e satisfeito? Porque essa emoção não se mantém por muito tempo. E isso ocorre por ser real, diferente do amor, que proporciona o contato consigo, com o outro e com o mundo que o(a) cerca. O que temos de entender é o que há por trás dessa busca. Ás vezes, ela vai atrás da necessidade que já tem, que vem de sua história, como necessidade de carinho, atenção, aprovação, cuidado, proteção ou sexo. É como se o outro fosse preencher o vazio que ela tem. E muitas vezes até preenche, mas não é verdadeiro, apesar de ser intenso. Isso porque uma relação se constrói na reciprocidade e no amadurecimento, como no amor. Na paixão, não. Há certo desnivelamento. Com a sensibilidade mais aflorada nos momentos de paixão, é comum aparecerem sentimentos de rejeição. E o que acontece é que ninguém sabe lidar com ela, até porque é desestruturador perceber que está sendo rejeitado pela pessoa em quem se está investindo tudo. Só que, na realidade, ninguém rejeita ninguém. Isso também é ilusão. É a própria pessoa que se rejeita e projeta esse sentimento no outro. Ela acaba achando alguém que a rejeita, para, no fundo, confirmar o que sente por si mesma. É como se cada um tivesse um "radar" para ir buscar nas relações do cotidiano o que vai reforçar suas crenças interiores. A paixão só pode ser integradora se a pessoa perceber que o gostar está em si, não no outro. Podemos dizer, até, que esse é o caminho para o amor: "Não posso amar o próximo se não gosto de mim ..." É preciso primeiro procurar esse amor no fundo de si mesmo. Não adianta querer ouvir a melhor declaração de amor, se ela não flui primeiro de dentro para fora, quando, no fundo, a pessoa não se curte. Por isso, para que a paixão fortaleça e vire amor, é importante abrir o espaço interior para torná-lo cada vez mais sensível.
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É preciso amadurecer para construir o amor, em que há compreensão, trocas e cumplicidade. A partir daí, cuide da forma. Do jeito. Do gesto. Cuide do cuidado. Cuide do (com) carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do próprio amor e só assim tentar fazer seu amor feliz.
* Sexólogo. Consultor para a Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Coordenador Geral do CORES – Centro de Orientação e Educação Sexual, ONG localizada no Rio de Janeiro. Autor, premiado pela Academia Brasileira de Letras, de livros sobre sexualidade.
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LIGAÇÕES AFETIVAS Cláudio Picazio Muito se mostra aos adolescentes sobre relacionamentos afetivos, seja nas novelas diárias na televisão, seja por meio das uniões de seus familiares. Pouco se discute, no entanto, o que cada forma de relacionamento significa e quais suas vantagens e desvantagens. Este tema pretende dar ao educador a oportunidade de fazer com que seus alunos reflitam sobre esta área tão experimentada mas tão pouco pensada em suas vidas, e que tantas conseqüências – como gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, casamentos na adolescência podem acarretar. O texto a seguir foi redigido de modo a poder ser lido pelos próprios adolescentes, sendo uma das dinâmicas sugeridas, a discussão sobre cada item apresentado. Necessidade de nos relacionarmos Todos nós temos necessidade de nos relacionar e criar vínculos, de nos sentirmos queridos e desejados, aprovados e aceitos. O ser humano, desde o seu nascimento, depende do outro para a sua sobrevivência. Conforme vamos crescendo, a nossa dependência vai se transformando, passando das necessidades físicas para psíquicas. Necessitamos do outro para uma existência emocional. Isto pode ser um incômodo ou um prazer. Na verdade, o incômodo e o prazer acontecem concomitantemente. Existe um certo desconforto em percebermos que precisamos do outro, mas é de extrema satisfação quando encontramos alguém com quem nos identificamos e podemos trocar nossas experiências e afetos. O maior exemplo é quando estamos amando alguém. Quando essa pessoa nos frustra, sentimos ódio e percebemos que nunca alguém vai nos satisfazer em tudo o que desejamos. Mesmo assim, em geral, existem outras coisas na relação que são satisfatórias e nos fazem ir em busca dessa pessoa para nos relacionarmos. O amor parece ser mais um mistério. Percebemos que algumas pessoas nos atraem, mas podem não ser atraentes para nossos amigos, por exemplo. Muitos fatores funcionam nesse momento, a maioria inconscientes. Não estamos falando aqui da orientação sexual, que determina se o desejo é hetero, homo ou bissexual, mas de quais características despertam o nosso interesse em uma pessoa. A atração física é muito determinada pelo meio em que vivemos, pela cultura, pela época e pela moda. Os símbolos sexuais são variáveis e flexíveis. Há um século, as mulheres magras eram desprezadas, enquanto as mais gordinhas eram atraentes para os homens. Os homens mais desejados na década de 70 eram supermagros, tinham cabelos compridos e costeletas imensas. Emocionalmente, “escolhemos alguém que tenha as características das pessoas que desde a sua infância nos deram afeto e atenção, como o pai, a mãe, uma tia, um padrinho, ou todos ao mesmo tempo. Procuramos, quando adolescentes e adultos, pessoas com aquelas características e que poderiam suprir o afeto que não tivemos ou resgatá-lo, caso o tenhamos perdido.” Misturando esses dois elementos, a atração física e a emocional, formamos inconscientemente o perfil da pessoa por quem sentiremos atração. Podemos concluir que esta atração será sempre particular, individual, porque cada um tem uma história e percebe sua vida de uma determinada forma. Existem certos aspectos que são comuns e quase sempre desejados numa pessoa com quem se vai tentar um relacionamento. São eles: confiança (segurança), carinho (amor), e respeito (fidelidade física e emocional). Quando uma das pessoas não corresponde a esses aspectos, a relação é abalada e tende a se romper caso não haja um resgate desses fatores. Consideração e dignidade são características muito importantes para desenvolvermos em nós, porque elas é que vão nos dar mais condições de nos relacionarmos satisfatoriamente com as pessoas em qualquer tipo de relacionamento, seja com um colega de estudos, seja com um grande amor.
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Consideração pode ser entendida como a capacidade de respeitar o outro, de se colocar no lugar do outro e tentar compreendê-lo, escutá-lo, percebê-lo em seus desejos e atos. Já a dignidade é a capacidade de sentir-se merecedor, ter apreço por si próprio, valorizar o que de bom possui e tentar dar ao outro esse melhor e, provavelmente, receber o melhor do outro. Quando conseguimos desenvolver dentro de nós essas duas características, ficamos mais aptos para administrar uma relação afetiva amorosa, que pode acontecer através de uma paixão, de um amor ou de um tesão. Paixão, amor e tesão Ao contrário do que popularmente se diz, cega é a paixão, não o amor. Geralmente nos apaixonamos por alguém a quem não conhecemos direito, basta um olhar, um sorriso e a nossa alma se enche de uma sensação de completude. Surge um estado de felicidade e excitação que faz disparar o coração e a outra pessoa se transforma no que existe de mais importante. É incontrolável, prazeroso e, ao mesmo tempo, desesperador. É como se tivéssemos encontrado a pessoa que vamos amar para sempre e que nos fará satisfeitos e felizes pelo resto de nossas vidas. Cega é a paixão porque não conhecemos a outra pessoa. Às vezes nos apaixonamos por um artista, uma atriz, um professor ou um personagem de um romance ou novela. Nem precisamos nos relacionar com a pessoa, basta a imagem ou a lembrança. Ficamos presos ao detalhe que nos encanta e imaginamos o todo. Idealizamos a pessoa conforme queremos que ela seja e depois, quase sempre, descobrimos que ela não é como havíamos fantasiado. Ficamos tristes e desconsolados, mas depois muitos de nós se apaixonam novamente, com a sensação ilusória de que sentimos amor e que é dessa forma que ela surge. O amor, para existir, não pode ser cego, porque no amor cabem os defeitos do outro, ou melhor, suas diferenças. No amor não basta a imagem, tem que haver a outra pessoa. As relações de amor podem começar com uma paixão, só que, como elas implicam conhecimento do outro, é necessário que haja uma aproximação e que se vá verificando se a pessoa desejada corresponde ao que era então sonhado. Muitas vezes escolhemos alguém para amar não simplesmente pelo que de bonito e gostoso ele tenha ou possa nos oferecer, mas também considerando o que não pode nos oferecer, desde que não seja fundamental essa satisfação. Abdicamos sabiamente de querer tudo, conseguindo valorizar e usufruir o que de bom o outro é capaz de nos proporcionar. Nunca uma pessoa vai satisfazer a outra totalmente, as frustrações são inevitáveis porque a insatisfação em nós também o é. A simples atração física ainda é mais difícil de ser admitida abertamente pelas pessoas. Com isso, muitas relações se complicam, porque as pessoas inventam paixões onde não existem e suportam namoros que não levam a nada, mas são recheados de desejo físico. A desonestidade emocional é a maior responsável pelas conseqüências desagradáveis nas relações afetivas. Claro que nem sempre podemos ou devemos viver o tesão que sentimos, cada qual sabe a melhor hora para as suas experiências. Mas faz parte da responsabilidade sobre nossos atos conseguirmos admitir o que desejamos, ou seja, descobrirmos se é amor, tesão ou paixão aquilo que sentimos, e sermos emocionalmente honestos conosco e com a outra pessoa. Formas de relacionamento afetivo Estão surgindo novas formas de relacionamento entre as pessoas, algumas inéditas, outras apenas mudando de nomes e sofrendo algumas transformações. Todas elas podem ser válidas e satisfatórias para quem as vive, não existindo forma de relacionamento correta ou errada em si. O importante é que as pessoas conheçam as suas vantagens e desvantagens e se responsabilizem ao optarem por viver qualquer uma delas. O ficar e o rolo No “ficar” as pessoas se encontram, se beijam e trocam carícias, às vezes chegando a ter relações sexuais. Não está no contrato do “ficar” o ato sexual, mas sim uma erotização sem
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compromisso de continuidade. É um treino da sexualidade, sendo a satisfação imediata a tônica, e o prazer da conquista o que se guarda na memória. Existe um componente de competição no “ficar” que surge nas conversas com os amigos, quando cada um se vangloria de quantos homens ou mulheres conseguiu atrair. Como no “ficar” ninguém se responsabiliza por ninguém e não há o dia seguinte, é importante definir os limites da relação para evitarmos conseqüências desagradáveis. Se houver uma relação sexual que resulte em gravidez ou doença sexualmente transmissível, o outro não se sentirá no dever de dividir o problema. Muitas pessoas escondem a dificuldade de criar vínculos com o “ficar”, tendo a sensação de estar com alguém quando na verdade só estão com o corpo de outra pessoa. É bom lembrar que tesão mata a fome de tesão e afeto mata a fome de afeto. Ficar com a mesma pessoa várias vezes não significa namoro, isto é denominado “rolo”. O “rolo” tem todas as características do “ficar”, mas acrescentando um treino de relação afetiva. O “rolo” seria um namoro com carinho, mas sem compromisso, não exigindo a entrada na esfera de uma relação amorosa. Assim como no “ficar”, não existe a exclusividade do parceiro. Se as pessoas envolvidas no “rolo” começam a sentir um afeto maior – paixão ou amor -, automaticamente a relação começa a se transformar em namoro, quebrando o direito que cada um tinha de “ficar” com outras pessoas. Namoro No namoro, como existe amor, já se exige fidelidade, pois fazem parte do amor o ciúme e o desejo de um ser único para o outro, coisa nada desconfortável quando as duas pessoas estão envolvidas da mesma maneira. No namoro é que começamos a barganhar as diferenças de gostos, aprendemos a juntar as igualdades e criamos um espaço para o outro na nossa vida. É estando com uma outra pessoa que vamos percebendo como sentimos o próprio amor. Em geral descobrimos que ele pode ser difícil e prazeroso. Difícil, por exemplo, porque nos percebemos com sentimentos de posse e com medo de perder o outro. Prazeroso porque também descobrimos o prazer do sexo feito com amor. Querer ser a única fonte de felicidade para a outra pessoa é uma das maiores dificuldades das relações amorosas, e administrá-la torna-se primordial para o seu sucesso. Todos nós necessitamos de outras satisfações e sentimos prazer em relações com outras pessoas, mesmo quando estamos namorando. Precisamos de vários tipos de vínculos, como de amigos e colegas, e, às vezes, de ficar sozinhos. O amor, para ser satisfatório, não tem de preencher toda a nossa vida, mas sim o que compete a ele. Um futebol ou uma novela também nos traz felicidades, e temos outras necessidades além das amorosas, como de trabalho, família, amizades. Ao tentarmos preencher tudo com nossa relação amorosa, corremos o risco de sufocá-la ou nos sentirmos sufocados por ela. Casamento Emprestando a definição de Aurélio Buarque de Holanda, casamento é unir, compartilhar, aliançar. É estarmos juntos com alguém compartilhando a vida e criando alianças, ou seja, um sendo o melhor amigo do outro, incentivando e dando apoio nas conquistas. A grande maioria de nós deseja se unir a alguém e manter uma ligação estável, não importa qual seja a sua orientação afetiva sexual. Capacidade para se vincular e o desejo de amor, como já vimos, são sentimentos e desejos humanos. Um dos maiores problemas do casamento é que muitas pessoas, depois que se casam, sentem-se mais seguras em relação ao amor conquistado e esquecem que ele deve ser cultivado constantemente e que o namoro pode ser permanente. O casamento não exclui o namoro, que é a alma dessa união. Muitas pessoas se casam sem serem reconhecidas pela lei, outras se casam e conseguem ter um relacionamento monogâmico e feliz, outras optam por aventura sexual esporádica, outros tantos se envolvem em relações extraconjugais mais firmes, aparecendo então a figura do amante ( muitas vezes com o conhecimento e consentimento do seu parceiro ou
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parceira) Há também os casamentos em que as pessoas moram em residências separadas e, até mesmo, em cidades diferentes. Enfim existem muitas formas de se relacionar e ser no casamento. As pessoas podem descobrir qual é a melhor forma de casamento para si e desenvolver o mais importante, sua capacidade de amar. Fonte – Extraído do livro “Sexo Secreto” de Cláudio Picazio, São Paulo, Editora Summus) e-mail
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MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS Ecos Métodos anticoncepcionais são recursos que podem ser usados, tanto pelos homens como pelas mulheres, para evitar a gravidez. Apesar de existirem várias formas de evitar que o espermatozóide encontre o óvulo, alguns métodos são mais seguros e oferecem mais vantagens que outros. Além disso, é bom saber que somente as camisinhas masculina e feminina previnem também do contágio do vírus da aids e das outras DST (doenças sexualmente transmissíveis). Os métodos anticoncepcionais podem ser divididos em várias categorias: Métodos de Barreira São métodos que utilizam produtos ou instrumentos para impedir a passagem dos espermatozóides através da vagina. A camisinha e o diafragma são dois métodos muito bons porque, além de eficazes quando usados corretamente, não prejudicam a saúde da mulher e do homem. São eles: Camisinha A camisinha masculina, conhecida também como preservativo, camisa de vênus ou condom, é uma capa de borracha bem fina, flexível e resistente que, colocada no pênis, retém o sêmen quando o homem ejacula. Portanto, ela funciona como uma barreira que impede a fecundação porque evita o contato dos espermatozóides com o óvulo. Além de método anticoncepcional, serve também para prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis e aids. Para se ter mais segurança, é importante observar o prazo de validade da camisinha, se a embalagem não está rasgada ou furada e se ela é lubrificada. As camisinhas lubrificadas são mais resistentes e, se colocadas corretamente, raramente rasgam. A camisinha não tem contra-indicação e não traz prejuízo para a saúde da mulher nem do homem. Como usar: • • • • • • •
Deve ser colocada antes da penetração vaginal e quando o pênis já estiver ereto. Desenrolar a camisinha só um pouco e colocá-la na cabeça do pênis, deixando uma folga na ponta para servir de depósito para o sêmen. Antes de desenrolar o restante, segurar essa pontinha de forma a fazer sair o ar, evitando assim que a camisinha estoure na hora da ejaculação. Desenrolar cuidadosamente até a altura dos pêlos, evitando rompê-la com as unhas. Depois da ejaculação, retirar o pênis ainda ereto da vagina, segurando a borda da camisinha para não escapar o líquido seminal. Retirar a camisinha do pênis e jogá-la fora. A camisinha é descartável, isto é, não pode ser reaproveitada. Caso a relação continue, colocar uma nova camisinha antes da penetração.
Atenção! • A camisinha pode e deve ser usada em todas as relações sexuais, inclusive sexo oral e anal. • Não precisa de receita médica e não traz riscos à saúde. • É fácil de ser comprada em supermercados e farmácias ou adquiridas em postos de distribuição gratuita de serviços de saúde. • A umidade, a luz e o calor podem afetar a borracha. Se a camisinha estiver com cheiro ácido e desagradável, é sinal que a borracha está deteriorada e não deve ser usada. • Usar apenas lubrificantes à base de água.
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• O uso da camisinha permite ao homem participar ativamente da contracepção, que é algo que lhe diz respeito também. • Pedir para usar camisinha é uma atitude positiva que pode vir tanto do homem quanto da mulher, e não deve ser encarada com desconfiança. A camisinha feminina é um canudo de poliuretano fino, de mais ou menos 25 cm de comprimento, com um anel em cada ponta. O anel menor fica na parte fechada do canudo e é introduzido na vagina, para se encaixar no colo do útero, como um diafragma. O anel maior fica no lado aberto e se prende à parte externa da vagina. É lubrificada e descartável. Atenção! • A camisinha feminina oferece as mesmas vantagens que a do homem. • A camisinha feminina, assim como o preservativo masculino, não permite o contato das secreções genitais masculinas e femininas, evitando também a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e aids.
Diafragma É uma concha de borracha fina que a mulher coloca na vagina para cobrir o colo do útero. Deve ser utilizada sempre com um espermicida, que é um creme ou geléia feito com substâncias químicas que, quando colocado na vagina, cria um ambiente hostil e imobiliza os espermatozóides. O diafragma é um método anticoncepcional recomendado tanto para adolescentes como para mulheres adultas porque não interfere no ciclo menstrual, ajuda a conhecer melhor o corpo e raramente provoca efeitos colaterais. Antes de optar pelo uso do diafragma, é preciso fazer um exame ginecológico completo para saber o tamanho, modelo e a forma correta de colocá-lo e tirálo. Quando está no tamanho certo e bem colocado, ele é um método bastante eficaz na prevenção da gravidez e não atrapalha a relação sexual. Como usar: • •
•
O diafragma é colocado com as mãos, na posição que a mulher preferir: deitada, de cócoras ou em pé. Recomenda-se usar o diafragma em todas as relações sexuais e sempre associado ao uso do espermicida. Como os espermicidas não têm ação duradoura, é importante colocar o diafragma na hora da relação sexual ou, no máximo, duas horas antes. A cada nova ejaculação, é preciso colocar mais espermicida na vagina, sem deslocar o diafragma. Somente oito horas depois da última ejaculação é que ele pode ser retirado. O diafragma não deve permanecer na vagina por mais de 24 horas para evitar riscos de infecção. Todas as vezes que for colocá-lo, examinar contra a luz para ver se não furou ou se está pegajoso ou enrugado. Nestes casos, precisa ser substituído por outro.
Atenção! O diafragma não protege os parceiros contra as DST/aids. Pode ocorrer alergia ao espermicida, problema que em geral se resolve trocando a marca. Métodos Comportamentais São práticas que dependem basicamente do comportamento do homem ou da mulher e da observação do próprio corpo. Entretanto, esses métodos não protegem da contaminação das DST e da aids.
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São eles: Tabelinha É um método que permite conhecer o ritmo do ciclo menstrual da mulher e localizar os dias do “período fértil”, isto é, os dias com possibilidade de engravidar, para evitar ter relações sexuais com penetração vaginal nesse período, a não ser que se use camisinha ou diafragma. Para usar este método, é necessário ter disciplina para marcar no calendário o 1º dia de cada menstruação, para conhecer o tamanho dos ciclos e o período fértil. Como identificar o período fértil: • • •
Marcar no calendário o primeiro dia de menstruação. Fazer isto durante 8 a 12 meses seguidos, para perceber as alterações dos ciclos. Passado esse tempo, contar e anotar quantos dias durou cada ciclo, montando um diagrama conforme o exemplo abaixo:
1º dia de cada menstruação ___________________________________ 4/3 - 31/3 - 28/4 - 29/5 - 27/6 - 25/8 - 27/9
27 28 31 29 29 30 33 ______________________ Duração dos ciclos em dias
•
•
Verificar nas anotações feitas no calendário qual foi o período mais curto e o mais longo, e aplicar uma regrinha muito fácil que já vem pronta: Pegar o número de dias do ciclo mais curto e subtrair 18, para obter o início do seu período fértil. Ex.: 27 - 18 = 9º dia. Pegar o número de dias do ciclo mais longo e subtrair 11, para obter o fim do período fértil. Ex.: 33 - 11 = 22º dia Nesse exemplo, o período fértil corresponde ao período do 9º ao 22º dia. Se o casal não deseja ter filhos/as, deve evitar transar com penetração entre o 9º e o 22º dia do ciclo (ambos os dias, inclusive).
Vale a pena saber... • a ovulação sempre ocorre 14 dias antes da menstruação seguinte, independentemente do tamanho do ciclo menstrual. A tabelinha não identifica, com exatidão, o dia em que o óvulo é expulso do ovário. • o tempo de vida dos espermatozóides no interior dos órgãos femininos é, em média, de 72 horas. • o tempo médio de vida do óvulo, depois da ovulação, é de um dia (24 horas).
Atenção!
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• Não é um método indicado para adolescentes e mulheres que têm o ciclo menstrual irregular. • É muito comum o ciclo menstrual variar de tamanho entre uma menstruação e outra, principalmente na adolescência. Por isso, vale a pena assinalar mensalmente no calendário ou na agenda, o primeiro dia de cada menstruação, para conhecer as variações do ciclo. • Quando houver diferença de mais de sete dias entre o maior ciclo e o menor, a tabelinha não deve ser usada. Temperatura É um método que permite identificar o momento da ovulação através da medição diária da temperatura do corpo da mulher. Quando a mulher ovula, sua temperatura aumenta de 0,3º C a 0,5º C . Como usar: • • •
Colocar o termômetro sempre no mesmo lugar (por exemplo, na axila), todos os dias, ainda a cama, antes de se levantar, a partir do 1º dia da menstruação. Anotar as temperaturas em um caderno. Após três meses, é possível montar uma tabela que indique quando ocorre o período fértil. Durante o período fértil, não manter relações sexuais com penetração.
Atenção! O método de temperatura não é recomendado para as adolescentes e mulheres com ciclo menstrual irregular, nem para aquelas que têm dificuldade de pôr em prática a disciplina exigida pelo método. Muco O muco é uma secreção vaginal, produzida pelo colo do útero, que às vezes pode ser vista na calcinha ou no papel higiênico. O ciclo menstrual apresenta dias secos (sem muco) e dias molhados (com muco). É possível identificar o período fértil a partir dessas variações. Como usar: •
Colocando o dedo na vagina, todos os dias, à mesma hora, vê-se que o muco muda de consistência conforme o período do ciclo:
Dias secos: - terminada a menstruação, a vagina fica seca por dois ou três dias; Dias molhados: - começa com um muco grosso, opaco, que aos poucos vai ficando ralo; - no período da ovulação, o muco se torna transparente e elástico, como clara de ovo cru; - depois volta ficar grosso e pastoso; Dias secos: - a vagina torna a ficar seca por alguns dias antes de descer novamente a menstruação. O período fértil corresponde aos dias molhados. Evitar ter relações sexuais com penetração vaginal nesses dias. Atenção!
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• Este método não é recomendado para adolescentes e mulheres com ciclos irregulares, pois fica difícil observar as mudanças no muco. • Quando a mulher não se sente à vontade para colocar o dedo na vagina, convém não usar este método. • Corrimento ou infecção vaginal, stress, uso de produtos vaginais ou de lavagens, excitação sexual, são coisas que podem dificultar o reconhecimento do muco. Coito Interrompido É uma prática que consiste em retirar o pênis da vagina antes de ejacular. Se a ejaculação ocorre fora, mas perto da vagina, existe o risco de engravidar, mesmo a garota sendo virgem. Portanto, não é aconselhável porque não é eficaz. Outro motivo para ser desaconselhado como método é porque nem sempre o homem consegue retirar o pênis no momento preciso e ejacular longe da entrada da vagina. Isso pode ocorrer em várias situações, como por exemplo: não percebe o momento em que a ejaculação vai ocorrer, a excitação fala mais alto, a posição dificulta, está sob o efeito de bebida alcoólica ou drogas, tem ejaculação precoce ou inexperiência. Além disso, o vírus da aids está presente nos fluidos sexuais que antecedem a ejaculação. Métodos Hormonais São comprimidos ou injeções feitas com hormônios não naturais. Evitam a gravidez porque não deixam o óvulo sair do ovário, engrossam o muco que fica na vagina, não deixando o espermatozóide passar. De maneira geral, os métodos hormonais atuam segundo um princípio comum: interferem no equilíbrio hormonal do corpo, alterando o desenvolvimento do endométrio, o movimento das trompas, a produção do muco cervical e também impedindo que a ovulação ocorra. Antes de adotar um desses métodos, é imprescindível passar por uma consulta médica para receber as orientações necessárias, avaliar o estado geral da saúde da mulher e verificar se ela está em condições de usá-los, pois nem todas as mulheres podem fazer uso da pílula ou de implantes. Pílulas Anticoncepcionais É um comprimido feito com hormônios não naturais e diferentes dosagens. Aconselha-se às adolescentes esperar no mínimo 2 anos de menstruação regular para tomar. Este método exige acompanhamento médico, no mínimo, de 6 em 6 meses. Como usar: • •
Há vários tipos de pílulas. Todas são ingeridas por via oral, diariamente. A orientação de como tomá-la deve ser feita de forma cuidadosa por profissionais da área de saúde, em consultórios, postos de saúde públicos ou serviços especializados.
Atenção! • As adolescentes, até 18 anos, não têm ainda o metabolismo hormonal plenamente desenvolvido. A ingestão de hormônios sintéticos nessa fase pode não ser indicada. • O acompanhamento médico é importante para evitar prejuízos à saúde e o uso errado da pílula.
Injeções e Implantes
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• •
As injeções, como Perlutan ou Depo-Provera, são administradas por via intramuscular de uma só vez e são válidas por um período que varia de 1 a 3 meses. Os implantes, que aparecem sob o nome de Norplant, são inseridos no corpo através de bastonetes de hormônios colocados sob a pele, geralmente na parte interna do braço. Sua ação pode ser de 3 a 5 anos.
Atenção! • As injeções e implantes são eficazes na prevenção da gravidez, mas podem afetar Dispositivos Intra-Uterinos - D.I.U. seriamente a saúde da mulher em qualquer idade, porque provocam alterações menstruais. É um objeto que, colocado no interior do útero através da vagina, evita a concepção. O único dispositivo utilizado no Brasil é o DIU (dispositivo intra-uterino). Há vários modelos de DIU, com formatos e tamanhos diferentes. Alguns têm um fio de cobre enrolado, porque esse metal modifica a acidez do útero e dificulta a sobrevivência dos espermatozóides. Como usar: •
• •
•
O uso do DIU exige cuidados especiais. Antes de colocar, a mulher deve fazer um exame ginecológico completo, ver se há alguma infecção para ser tratada, verificar se está grávida ou não, avaliar o tamanho e a posição do útero e as condições gerais de sua saúde. Isso porque são muitas as contra-indicações para o seu uso. A colocação é feita em consultório ginecológico por médico/a ou pessoa especialmente treinada para isso. As mulheres que colocam DIU devem observar rigorosamente seu corpo, porque há uma tendência maior para desenvolver doença inflamatória do aparelho genital, gravidez extra-uterina e, em alguns casos, infertilidade causada por essas doenças. Quem usa DIU deve ir à consulta ginecológica no mínimo duas vezes por ano. O DIU também deve ser retirado por profissionais treinados/as, em consultórios que tenham condições adequadas.
Atenção! • O DIU não é recomendado para adolescentes ou mulheres que nunca engravidaram. • Pode ocasionar infecções ginecológicas mais graves, se a mulher não tratar rápida e adequadamente das infecções vaginais mais simples, como corrimentos. • Pode aumentar a duração e a quantidade de sangramento menstrual, provocando anemia. • O DIU não evita as doença sexualmente transmissíveis, inclusive aids. Métodos Cirúrgicos ou Esterilização A esterilização não é exatamente um “método” anticoncepcional, mas uma cirurgia que se realiza no homem ou na mulher com a finalidade de evitar definitivamente a concepção. A esterilização feminina é mais conhecida por laqueadura ou ligação de trompas. A masculina, por vasectomia. Laqueadura ou ligação de trompas A operação consiste em cortar ou obstruir/amarrar as trompas, impedindo o encontro do óvulo com o espermatozóide. Ela pode ser feita através da vagina ou por uma incisão na barriga, com anestesia geral ou local. É um método praticamente definitivo. Por isso a mulher só deve fazêlo se estiver bem informada, segura de sua escolha, depois de refletir muito. Muitas mulheres
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pensam que operando de novo podem voltar a ter filhos, mas essa nova operação é complicada, cara e na maioria das vezes não dá resultados positivos. Atenção! • A ligadura de trompas não diminui o prazer da mulher. • Não protege dos riscos da contaminação pelo HIV - vírus da aids - e de outras doenças sexualmente transmissíveis.
Vasectomia É uma operação que corta ou bloqueia os canais deferentes que levam os espermatozóides dos testículos até o pênis. É uma cirurgia rápida, dura menos de meia hora, feita com anestesia local. Não provoca a impotência e nem afeta o desejo sexual do homem. Quando um homem faz essa operação, ainda é capaz de gerar filhos por algum tempo. Ele precisa ejacular cerca de 20 vezes para que isso não aconteça. Por isto, neste período, ele tem que usar a camisinha para evitar a concepção. A vasectomia não protege contra as doenças sexualmente transmissíveis e a aids. Importante • A anticoncepção é responsabilidade tanto do homem quanto da mulher. • Antes de começar a utilizar qualquer método, é preciso buscar informação sobre todos eles, porque só assim poderemos escolher o melhor para o nosso caso. • O direito à contracepção está assegurado pela Constituição Federal. • Antes de optar por algum método anticoncepcional, é necessário passar por uma consulta médica para aprendermos mais sobre o nosso corpo e sabermos quais os métodos adequados para garantir nossa boa saúde. • A esterilização só é permitida por lei para mulheres com mais de 25 anos. • A camisinha masculina é o único método usado pelo homem e o seu uso permite que ele participe da contracepção. • A camisinha (masculina e feminina) é o único anticoncepcional que também previne doenças sexualmente transmissíveis e aids. Extraído Do Manual Corpo Matriz da Sexualidade - ECOS. São Paulo. 1998 Adolescentes Diferentes, Necessidades Diferentes Embora todos/as os/as adolescentes precisem de informações e serviços adequados, alguns/as adolescentes têm necessidades especiais. Nós somos diferentes e, em qualquer grupo existirão sempre necessidades e interesses diferentes. É importante não rotular os/as adolescentes, ou qualquer grupo especial de adolescentes. O HIV, por exemplo, não é transmitido por causa de quem somos, mas sim por causa do que fazemos e sobretudo como fazemos. No entanto, há pessoas que vivem em situações que podem torná-las mais expostas a riscos ou que talvez as impeçam de obter informação ou assistência. Quando trabalhamos com adolescentes é importante não os/as olharmos como se fossem todos/as iguais. Devemos respeitar as suas diferenças, não os/as criticar sem primeiro ouvi-los/as ou tentar entender os seus comportamentos. A maioria dos/as adolescentes têm entusiasmo, idéias claras e grande energia. Um bom programa usa estas capacidades e oferece aos/às adolescentes a possibilidade de se educarem a partir das suas próprias experiências, conhecimentos e escolhas. Trabalhar nas escolas
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A escola é um lugar excelente para envolver os/as adolescentes. Os programas de sexualidade e saúde reprodutiva assim como a prevenção de DST/aids funcionam melhor quando são integrados no currículo, em vez de se organizarem sessões especiais. Isto implica ter que conversar com pais, mães ou responsáveis e com as autoridades escolares, explicando-lhes a importância destas informações. Antes de começar, é importante ajudar os/as professores/as a sentirem-se à vontade para discutir estes assuntos e para trabalhar com menos formalidade. Por vezes, é difícil fazer exercícios de participação e jogos na sala de aula. Talvez seja boa idéia sair da sala, dar uma aula fora, ou arrumar as mesas de outra forma (em círculo, por exemplo) para permitir uma discussão mais aberta. Programas fechados No exército, em internatos, fábricas e prisões, grande parte da população é jovem e sexualmente ativa. É provável que não tenha acesso a informações sobre saúde sexual, aids e outras DST ou métodos de prevenção, como os preservativos. Nestes ambientes, muitas vezes homens têm relações sexuais com outros homens. Os programas de sexualidade e atenção ao HIV devem reconhecer esta realidade e tentar inserir informações nas atividades já existentes nesses lugares. Alcançar os/as adolescentes nestes ambientes implicará ter que conversar com os/as diretores, patrões/as ou outros/as trabalhadores/as. Programas informais de educação, reuniões dos sindicatos ou outras atividades já programadas podem ser usadas para educação em sexualidade. Estes ambientes podem ser boas oportunidades para oferecer serviços adequados, como, por exemplo, o acesso a preservativos e a informações de como usá-los corretamente. As adolescentes As meninas têm necessidades de saúde e vulnerabilidades específicas. As adolescentes sofrem particularmente com a gravidez não planejada, o aborto sem assistência médica adequada, DST e outros problemas ligados à saúde reprodutiva como a infertilidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 60% das infecções pelo HIV em mulheres de todo o mundo acontece antes de completarem 20 anos de idade. Alguns comportamentos culturais e tradições também prejudicam a sexualidade das adolescentes. Em muitas sociedades, o sexo antes do casamento e o uso de contraceptivos não são aceitos socialmente e o aborto é ilegal. Isto limita o acesso das meninas a informações que as ajudem a fazer escolhas seguras. Na maioria das sociedades, as mulheres têm menos poder que os homens, sobretudo as mulheres adolescentes. As meninas têm menos acesso à educação e a emprego, e ganham menos do que os meninos pelo mesmo trabalho. Por estas razões, têm mais dificuldade de negociarem relações sexuais mais seguras. Deve-se ter uma atenção especial para a situação das meninas que trabalham em ambientes menos visíveis que meninos, como empregadas domésticas, por exemplo. Esta situação expõe as meninas a muito mais abusos e exploração dificilmente conhecidos pelos programas voltados para adolescentes. Os programas que trabalham com meninas devem dar informações sobre como terem uma vida sexual e reprodutiva saudável e aprenderem a ter confiança, auto-estima e capacidade para insistir em seu direito à contracepção e à prevenção. Da mesma forma, as adolescentes devem aprender a resistir à pressão dos que tentam convencê-las que um homem tem que ter muitas mulheres. É importante que os rapazes compreendam a necessidade de criar uma relação de igual para igual com a parceira sexual e aprender a assumir as suas responsabilidades na relação sexual, afetiva e familiar. Tanto meninos como meninas devem ter oportunidade de falar abertamente sobre o que pensam sobre sexualidade. É possível que os/as adolescentes prefiram trabalhar em grupos do mesmo sexo durante uma parte do tempo para terem mais confiança em defender os seus pontos de vista com o grupo do outro sexo.
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Adolescentes que vivem com o HIV Muitos programas só pensam na prevenção do HIV/aids. Entretanto, é cada vez maior o número de adolescentes que sabem que têm o vírus HIV. Muitos/as outros/as estão infectados/as com o HIV sem saberem. Também grande parte das informações existentes para adolescentes sobre sexualidade e HIV são voltadas para a prevenção, apesar de ser igualmente importante aprender a viver com o HIV de forma positiva. Um programa para adolescentes deve procurar apoio para que os/as adolescentes possam receber aconselhamento adequado, especialmente antes de fazerem o teste, no caso de quererem saber se foram infectados/as pelo HIV. Nunca se deve obrigar alguém a fazer um teste para detectar o HIV. Os/as adolescentes com HIV precisam de informação sobre cuidados e tratamentos que os/as ajudem a viver uma vida saudável e protegida, como também sobre a sua alimentação ou os problemas da gravidez em mulheres com HIV. Adolescentes com HIV devem ser apoiados/as para decidir como negociar sexo sem risco, novos relacionamentos sexuais ou formas de poderem falar sobre a condição de ter o HIV sem serem discriminados/as. É importante questionar os medos injustificados que muitas pessoas têm em relação aos/às soropositivos/as. O/A educador/a, de preferência, deve fazer um levantamento de grupos de apoio à soropositividade, caso seja solicitado. Adolescentes que vivem na rua É muito difícil chegar aos/às adolescentes que vivem na rua através de programas formais de educação. Estes/as adolescentes enfrentam constante violência como espancamentos, abuso sexual, estigma, preconceito, a negação dos seus direitos, inclusive o da própria vida. É compreensível que demonstrem pouca confiança em quem deles/as se aproxime. Por serem freqüentemente vítimas de figuras que representam autoridade, a exemplo da polícia, dificilmente respeitam alguém pelo simples motivo de se apresentar como uma “autoridade”. Por estas razões, os/as educadores/as e trabalhadores/as de saúde não podem esperar que estes/as adolescentes se dirijam ao programa, mas terão que ir até os lugares onde os/as adolescentes vivem e, com paciência, ganhar e corresponder à sua confiança. A maioria dos/as adolescentes que vivem na rua não têm acesso a informação ou a serviços. As questões de saúde, especialmente a prevenção do HIV, não constituem uma prioridade para a maioria dos/as adolescentes e muito menos para este grupo que tem necessidades urgentes no seu dia-a-dia, como arranjar comida, um lugar para dormir e sobreviver na rua. A prevenção da gravidez ou das DST torna-se difícil para quem não pode comprar ou ter grátis os preservativos, ou para quem é forçado a ter relações sexuais para sobreviver. Para além destas razões, muitos/as adolescentes têm relações sexuais com amigos/as ou adultos por sentirem necessidade de companhia, proteção ou provar afeto. Por estas razões, um programa dirigido a este grupo deve ser desenvolvido em lugares de fácil acesso, horário flexível ou, idealmente, através de unidades móveis que possam ir até onde esses/as adolescentes se concentram. As pressões da vida na rua tornam difícil a esses/as adolescentes concentrarem-se por muito tempo, sobretudo quando usam drogas. É importante adaptar as atividades à realidade do grupo com quem trabalha. Por exemplo, há adolescentes na rua que não consideram a atividade sexual como sexo mas como uma brincadeira ou uma forma de violência ou controle. Por isso, é essencial escutar e conhecer a sua linguagem e as diferentes situações. A educação sexual deve ajuda-los a saber se defenderem em situações difíceis e a se protegerem das pressões negativas dos outros. Prefira jogos e materiais com imagens, evitando usar material escrito. Utilize as palavras e a linguagem específica do grupo para se comunicar e entender os seus problemas, e só utilize material escrito ou gravado se os/as adolescentes preferirem.
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Extraído do Manual Corpo – Matriz da Sexualidade – ECOS. São Paulo. 1998
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Gravidez e Gênero Maria Thereza Alves Conforto
“ Nada no mundo pode impedir o homem de se sentir nascido para a liberdade. Jamais, aconteça o que acontecer, ele pode sentir a servidão, pois ele pensa.” Simone Weil No último século, processos sociais e econômicos imputaram a homens e mulheres mudanças significativas em seus comportamentos. Essa evolução pôde ser observada, mais acentuadamente, na mulher, uma vez que o seu comportamento sexual passou por transformações, evoluiu e acompanhou seu novo papel na também nova sociedade. O movimento feminista, por volta dos anos 60, promoveu a emancipação sexual feminina e profundas mudanças no modo como a mulher passou a viver sua sexualidade. Os avanços da medicina colocaram à disposição da mulher o controle da sua fertilidade, assegurando-lhe maior capacidade de decisão sobre seu corpo e promovendo a emancipação de suas vivências sexuais. O papel feminino foi amplamente modificado, uma vez que a ela foi dado também o direito de usufruir da sexualidade independentemente da reprodução. Conforme mencionado na publicação “Cadernos Juventude, Saúde e Desenvolvimento” do Ministério da Saúde,1 “as mudanças de valores e costumes observados na sociedade contemporânea, que se refletiram na dinâmica das relações familiares, levaram a uma reestruturação das regras de comportamento, e abriram possibilidades reprodutivas nesse período da vida . Os resultados sobre o comportamento reprodutivo do adolescente vêm considerando o tema da maternidade e paternidade dentro do amplo contexto social do prolongamento da transição da adolescência para a independência da fase adulta na sociedade pós-industrial” 1. Diferenciando sexo de gênero Ao nascermos, temos um sexo biologicamente definido pela combinação dos cromossomos X e Y, presentes, o primeiro nas células sexuais (gametas) e o segundo, apenas no masculino. Somos, então, classificados como macho ou fêmea. A partir dessa definição, culturalmente nos serão impostas diferenças na forma como seremos educados. Desde a infância, são impostas uma série de distinções entre os dois sexos. Podemos observá-las no vestuário, nos brinquedos oferecidos aos meninos e às meninas, no treino de tarefas domésticas atribuídas às meninas, ficando os meninos fora delas ou ainda no estímulo ao desenvolvimento da intuição feminina em detrimento da inteligência. E assim, dá-se a educação sexista. Alguns conceitos acerca da vida e do amor também são transmitidos às meninas que incitam a passividade e a dependência emocional ao homem. Vários encargos entendidos como peculiares ao sexo feminino referem-se a valores sociais introjetados por meio da educação, pelas gerações passadas. Tais valores vêm sendo questionados na atualidade e já se vê homens e mulheres vivenciando os mesmos papéis. As características biológicas estabelecem diferenças sexuais entre machos e fêmeas. Em 1949, Simone de Beauvoir apontou a distinção entre sexo e gênero com sua célebre frase: “Não se nasce mulher. Torna-se mulher”. O conceito de gênero, portanto, se refere a um sistema de papéis
1
Ministério da Saúde. Cadernos juventude, saúde e desenvolvimento, pág.239
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e relações entre homens e mulheres, construído por meio de um processo permanente e que não é igual nas diversas culturas; irá diferir de uma sociedade para outra e pode ser modificado, dependendo da época. Segundo Fisher2, há milhões de anos, em sociedades africanas, as mulheres eram tão poderosas e sexualizadas como os homens; o erotismo fazia parte da vida cotidiana. Também no Antigo Egito, elas eram consideradas iguais aos homens, em todos os domínios. A civilização faraônica concedeu à mulher um status excepcional que as sociedades modernas relutam em conceder. De forma ampla, na atualidade, acontecem debates sobre as relações entre homens e mulheres. Já sabemos que o contexto social determinou a condição de desvalorização da mulher e apontou aos dois sexos como deveriam se comportar. Também mostrou que racionalidade, inteligência, força como sendo características masculinas e às mulheres atribuiu submissão, fraqueza e sentimentalismo. 2. Gênero e sexualidade As mulheres contribuíram, em muito, para transformar a sociedade. O direito ao voto, o acesso à instrução superior e a profissões anteriormente consideradas exclusivamente como masculinas foram alguns dos ganhos que afetaram a sexualidade feminina. A racionalização das diferenças entre os sexos deu início à condição de subordinação da mulher que, durante longos anos, viveu a sua sexualidade pautada em conceitos subordinados aos padrões sociais tidos como corretos para a sua conduta moral. A ela se recomendava recato e estimulava-se maior autonomia, mais liberdade e poder de decisão ao homem. O comportamento sexual de homens e mulheres também apontam diferenças significativas: com a chegada à adolescência, a liberdade sexual caracterizava a masculinidade. A dupla moral levou os homens a desvincularem o sexo do afeto e valorizarem o seu desempenho, enquanto a mulher buscava a integração de ambos. Conclui-se, portanto, que essa dicotomia influenciou, por muito tempo, na sexualidade e na comunicação dos pares, aumentando a diferença entre eles. 3. Gênero e gravidez A atividade sexual dos jovens, rigidamente mantida sob controle há algumas décadas, vem acontecendo com maior liberdade e mais cedo, nas últimas gerações. A mídia tem dado uma significativa contribuição para a erotização precoce de crianças e adolescentes; evidencia somente o prazer nas relações sexuais, não se referindo à gravidez como conseqüência do ato. A gravidez na adolescência não é um fato novo. Muitas de nossas avós casaram-se e foram mães nesta faixa etária; porém o contexto social era outro. Pesquisas apontam que, cada vez mais, um grande número de jovens é surpreendido por uma gravidez não planejada, mas é a mulher que arca com o fardo mais pesado - a gravidez acontece na barriga dela. Falar em gravidez é falar na mulher. Esta é uma associação comum, feita de maneira em geral. Por ser uma condição biológica particular à fêmea, foi, durante muito tempo, a ela atribuída a responsabilidade pela concepção. Os homens sempre se mantiveram à parte desta responsabilidade e da função de cuidar dos filhos, afinal “ educar e criar filho sempre foi coisa de mulher”. Esse conceito foi introjetado de tal forma pelos homens que passaram a acreditar que ele era verdadeiro. Para muitos homens, essas tarefas costumam “ferir” sua masculinidade e não estão relacionadas à paternidade. Diferentemente das mulheres, que são educadas para serem mães, os homens não têm oportunidade de pensar a respeito da paternidade. Quando uma mulher engravida, ocorrem mudanças relacionadas ao seu futuro. Uma vez grávida, três coisas poderão acontecer a ela: casar, abortar ou assumir o filho sozinha. Neste
2
Fisher, H. appud Lopes G. e Maia M. Manual básico. Projeto de educação para a vida familiar,1997
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último caso, a jovem, quando abandonada pelo parceiro, assume toda a responsabilidade pelo bebê e tem que decidir como conciliar estudo, trabalho e maternidade. Diversos estudos mostram que a gravidez na adolescência encontra-se altamente associada a um baixo nível de escolaridade. E, nesses casos, a evasão escolar ocorre com muita freqüência, por vergonha dos colegas, por não ter a jovem mãe quem cuide do bebê enquanto ela estiver na escola ou, ainda, por ter que ingressar no mercado de trabalho. A paternidade, quando assumida pelo jovem, também traz implicações presentes que acarretam alterações na sua vida futura. Muitas vezes o jovem é obrigado a interromper os estudos para assumir um emprego que possibilite o sustento da família, abandonando um projeto de vida, ou, pelo menos, alterando a trajetória de vida anteriormente traçada. Uma gravidez pode ter significado diferente para um e outro sexo. Para a jovem serve para testar seu potencial reprodutivo, transitar de um status para outro dentro da família, atingir a maturidade social, adquirir maior autonomia pessoal (mesmo que permaneça residindo com os pais). A fantasia de que o filho irá fazer com que o namorado permaneça ao lado da mulher não é rara. Para o jovem, pode significar um sinal de virilidade ou ainda o reconhecimento de que já é adulto. Ao longo da história, diversos fatos mostram que as mulheres estiveram empenhadas em diminuir a desigualdade entre os sexos. Conquistaram importantes vitórias na Constituição de 1988: a maternidade foi considerada uma função social, a licença maternidade, ampliada de 90 para 120 dias, criou-se a licença paternidade e estabeleceu-se o direito à creche aos filhos de trabalhadores de ambos os sexos. 4. Direitos e gravidez Uma vez deflagrado o processo reprodutivo humano, uma série de direitos e, em contrapartida, de deveres passam a fazer parte desta nova situação. Apenas para exemplificar, no âmbito internacional alguns desses direitos e deveres podem ser encontrados na própria Declaração Universal dos Direitos do Homem, reconhecida pelo Brasil. É importante que os jovens se conscientizem de que têm direitos e deveres inerentes à maternidade/paternidade. Devem ter a noção de que são colocados a seu alcance informações e métodos contraceptivos seguros, além de programas que promovam a educação de ambos os sexos. Homens e mulheres precisam estar igualmente capacitados para o planejamento familiar e para as responsabilidades inerentes à criação dos filhos. Assim, deve-se promover o desenvolvimento adequado da sexualidade responsável, que permita uma relação de igualdade e respeito mútuo. Deve-se, ainda, garantir a mulheres e homens o acesso tanto à informação quanto aos serviços necessários para que possam atingir uma boa saúde sexual, exigir seus direitos e exercer suas responsabilidades inerentes à reprodução, independentemente do gênero ao qual pertençam. Pontos para reflexão • • • •
Que tipo de discussões devem ser levadas à sala de aula para que se possa prevenir a educação sexista? Do ponto de vista socioeconômico, como são vistas, pelos alunos, as diferenças entre os gêneros? Como é vivenciada, no aspecto emocional, uma gravidez não planejada por adolescentes do sexo masculino e feminino? Refletir sobre a prontidão biológica dos adolescentes para a procriação e as impossibilidades financeiras, emocionais e sociais, desta faixa etária.
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Bibliografia ARGENTINA. Ministério da Saúde e Ação Social. Ministério da Cultura e Educação da Nação. Ministério da Educação da Província de Buenos Aires. Seminário sobre capacitação de formadores: programa geral. Buenos Aires: LUSIDA, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos juventude, saúde e desenvolvimento. Brasília,1999 CHRISTIAN, J. As egípcias. Rio de Janeiro: BCD, 1947. FISHER. Manual de capacitação para a vida familiar. São Paulo, 1996. CUNHA, M.C. Comportamento sexual: a revolução que ficou no caminho. São Paulo: Nobel, 1988. FNUAP. Conferência internacional sobre população e desenvolvimento. Nova Iorque: CIDP, 1995. TRINDADE, E.; BRUNS, M.A.T. Era isso o que eu queria? Um estudo da maternidade e da paternidade na adolescência. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, São Paulo, v.7, n.2, p.167-186, 1996.
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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA José Domingues dos Santos Junior1 Carla Magda Allan Santos Domingues2 Contexto histórico cultural A adolescência tem se constituído em importante objeto de preocupação, na atualidade, para várias disciplinas científicas, tendo em vista a grande expressão que passa a assumir no interior das transformações de diferentes ordens que caracterizam o mundo moderno. Concebida no início do século, no âmago das culturas ocidentais, a adolescência passa a se consolidar como uma fase específica da vida humana, à medida em que as mudanças sócioeconômicas promovidas pela industrialização e urbanização dão novo contorno à formação da sociedade, com destaque para os grupos de idade. Assim, emerge entre a infância e a idade adulta como um período intermediário, por configurar características próprias que a diferenciam dos demais períodos. Por não serem mais crianças e, ao mesmo tempo, ainda não terem se tornado adultos, com dada idade cronológica, os indivíduos começam a viver uma fase em transição. A adolescência passa, então, a ser referida não como uma fase de vivência e experiências próprias, identificadoras do ser humano num dado período, mas como fase de transição voltada exclusivamente para a idade adulta. Nesse contexto histórico, segundo DOMINGUES (1997), os adolescentes são percebidos como sujeitos sem identidade própria porque sua vivência e projeção para o futuro constituem-se em elementos para o estabelecimento da identidade adulta. Ao mesmo tempo são descaracterizados como crianças. Dada à expressão das mudanças biológicas, a adolescência passa a ser pensada tradicionalmente como a etapa cronológica, entre 10 a 19 anos. Tal tendência, que universaliza e destitui a adolescência não somente de seu caráter psicológico - mas também histórico-social - ainda predomina nos dias de hoje na pressuposição de que neste período, necessariamente, ocorrem de maneira simultânea os processos de diferentes ordens que caracterizam o “adolescer”. Contexto atual Ao ser reconhecida como uma fase transitória, começam a surgir significações para tal. Se, por um lado, é aceita a experimentação e a descoberta do novo como sendo peculiar à adolescência, por outro, espera-se do adolescente o desempenho de comportamentos e condutas inerentes a este período preparatório, e qualquer “desvio” nesta trajetória começa a ser objeto de preocupação social. Não obstante a modernização dos costumes tenha multiplicado as oportunidades e ambientes para novas vivências, estas possibilidades são ainda cercadas de limites e determinações para os adolescentes havendo, inclusive, diferenças de gênero para a definição das relações, nesta fase, uma vez que para a mulher adolescente essa limitação continua sendo maior. Ao invés de se tomar o fenômeno da adolescência no mundo atual como substantivamente diferente, dadas às transformações sócio-econômico-culturais por que passa a humanidade, a tendência observada por parte da sociedade é a de uma visão funcionalista e a-histórica, portanto, interpretando o comportamento adolescente sob parâmetros e valores tradicionais, onde o diferente e novo muitas vezes são conotados como desviantes, necessitando, pois, de controle social. Esses comportamentos passam, então, a ser objeto de preocupação da sociedade, emergindo a necessidade de se conhecer e identificar os problemas destes jovens, bem como a criação de uma estrutura institucional do tipo escolas e serviços de saúde voltados a atender esta população. 1
Médico Gineco-obstetra da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Professor da Escola Superior de Ciências da Saúde do Distrito Federal. 2 Socióloga, mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Epidemiologista da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
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Assim, a gravidez indesejada na adolescência, antes um problema familiar que era resolvido com um casamento às pressas, ou exílio temporário com parentes locais distantes, hoje ameaça o futuro da jovem e seu companheiro, se adolescente, passando a serem considerados os riscos físicos, emocionais e sociais decorrentes desta gravidez. A fecundidade na adolescência e suas conseqüências Segundo SOUZA (998), se ao longo das últimas décadas estamos acompanhando uma diminuição da taxa da fecundidade total no Brasil, no período da adolescência esta taxa vem apresentando um sentido inverso, apresentando um aumento da ordem de 26 % entre as taxas específicas de 1970 e 1991, como se observa na Tabela 1. Tabela 1- TAXAS ESPECÍFICAS DE FECUNDIDADE – BRASIL, 1970-91 GRUPO ETÁRIO 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 TFT
1970-75
1975-80
1981-86
1986-91 VARIAÇÃO 1970-91
0,065 0,201 0,229 0,174 0,112 0,051 0,013 4,222
0,08 0,213 0,226 0,173 0,117 0,053 0,011 4,361
0,074 0,171 0,182 0,121 0,067 0,026 0,006 3,230
0,087 0,162 0,143 0,094 0,055 0,024 0,006 2,853
26% -25% -60% -85% -105% -108% -128% -48%
FONTE: IBGE, Censos Demográficos Este aumento da fecundidade também tem sido observado entre as mulheres de 10 a 14 anos. Ao analisarmos o número de partos entre mulheres menores de 20 anos, realizados pelo Sistema Único de Saúde, que certamente expressam a maioria dos partos realizados no país, é possível observar o crescimento de cerca de 10 % do total de partos de mulheres de 10 a 14 anos no período de 1993 a 2002. Os partos abaixo de 15 anos correspondem a 5 % do total de partos de mulheres menores de 20 anos, em 2002, sendo que em 1993 esta proporção era de 4%. Tabela 2. Tabela 2- Número de partos de mulheres menores de 20 anos. Brasil; 1993 – 2002 IDADE
1993
%
1997
%
2002
%
10 –14 15 – 19 TOTAL
26.505 611.608 638.113
4% 96% 100%
33.435 686.906 720.341
4% 96% 100%
29.190 578.417 607.607
5% 95%
Fonte:
DATASUS/AIH
Os dados da PNAD, de 1995, mostram que em todo o Brasil aproximadamente um milhão de mulheres de 15 a 19 anos tiveram filhos, o que corresponde a 13% da população nesta faixa etária. Segundo CAMARANO (1998), “o aumento da fecundidade na adolescência não é um fenômeno tipicamente brasileiro ou mesmo dos países em desenvolvimento. Está ocorrendo também em países europeus e nos Estados Unidos. Dentro do território nacional, este processo tem acontecido diferentemente pelo espaço ou grupos sociais afetando as regiões mais pobres, áreas rurais e mulheres menos educadas”.
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Na tabela 3, observa-se que a fecundidade na faixa etária de 15 a 19 anos diminui à medida em que aumenta o nível de escolaridade. As mulheres com menos de 04 anos de estudo têm a fecundidade 2 vezes maior que aquelas com 8 anos de estudo e mais. Tabela 3 - Taxa de fecundidade de mulheres de 15 a 19 , por anos de estudo – Brasil; 2001 Grandes Regiões
Menos de 04 anos
4 a 7 anos
8 anos e mais
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste Brasil
3,3 3,3 2,6 2,9 2,8 3,2
2,7 2,6 2,4 2,6 2,3 2,6
1,8 1,7 1,5 1,6 1,7 1,6
Fonte: Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2001 Pesquisa realizada pela BENFAM, em 1997, mostrou que 51% das mulheres de 15 a 19 anos sem escolarização já haviam se tornado mães, enquanto que aquelas que tinham entre 9 a 11 anos de estudo proporção era de apenas 2%. Outro fato a ser considerado é que, ao engravidarem, estas adolescentes na maioria das vezes abandonam a escola. Portanto, a questão da maternidade tem conseqüências na escolarização, tanto para aquelas que não têm acesso ou para aquelas que, já inseridas no processo educacional, se vêem obrigadas a parar de estudar, uma vez que as escolas não estão preparadas para receber jovens com filhos, pois a estrutura física e grades de horário não contemplam aspectos da maternidade como por exemplo, a amamentação. Mulheres que não tiveram filhos apresentam uma freqüência à escola significativamente maior do que as que tiveram. Quanto maior for o tempo de interrupção da escolarização, maiores serão as conseqüências para as adolescentes, uma vez que dificultando seu retorno, cria-se uma defasagem idade-série e torna o ambiente e conteúdos escolares inadequados a esta estudante. Portanto, “por um lado filhos reduzem as chances de escolarização e, por consequência o nível de escolarização das mulheres e, por outro, um baixo nível educacional está associado a uma maior propensão a ter filhos, o que coloca as mulheres de 15 a 19 anos, que tiveram filhos, em um círculo vicioso” (SOUZA, 1998) . A inserção de todas as mulheres no mercado de trabalho é afetada por filhos. Entre as jovens, este fato ainda é mais acentuado. Ter filhos nesta idade implica uma desvantagem, à medida em que papéis de gênero limitam a capacidade das mulheres conduzirem simultaneamente atividades produtivas e funções reprodutivas, reduzindo suas possibilidades de adequação às exigências do mercado de trabalho. Fatores associados à ocorrência da gravidez na adolescência Quando analisamos os fatores envolvidos na gênese desse aumento de gestações entre as adolescentes, encontramos uma rede complexa e multicausal, apontando que este não é um problema específico da área da saúde, mas que envolve outros elementos como o sistema educacional, a estrutura familiar e religiosa, a própria perspectiva econômica do Brasil, além de algumas características específicas da adolescência. Dentre os fatores relacionados, pode-se apontar a necessidade de ampliação do número de profissionais sensibilizados e ou capacitados em atenção aos adolescentes (principalmente os profissionais do PACS/PSF) e da existência de um programa eficiente de planejamento familiar com incremento de acesso aos métodos contraceptivos, principalmente o condom. Outro aspecto que compete à saúde está relacionado à assistência ao pré-natal e ao parto. Este atendimento à população adolescente representa em torno de 25% do total das gestantes
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atendidas no Sistema Único de Saúde(SUS). A esta atenção, soma-se a assistência ao recémnascido e todas as ações geradas para a criança. É importante ressaltar que as adolescentes que estão engravidando precocemente não estão expostas apenas ao risco de uma gravidez indesejada, uma vez que elas estão vulneráveis à contaminação por alguma doença sexualmente transmissível e principalmente a AIDS. Segundo dados do Ministério da Saúde, 23.000 adolescentes de 10 a 24 anos estão infectados pelo vírus da AIDS, representando 13% da população atingida pela AIDS. Segundo projeções do Ministério da Saúde, 12.800 gestantes, entre 15 e 49 anos, estariam infectadas pelo vírus da AIDS, sendo que a maioria descobriu ser soropositiva durante a gravidez. Em relação às gestantes infectadas pelo HIV, as chances de uma jovem transmitir o vírus para o seu bebê são de 30%. Se for tomada a medicação adequada, disponível em toda a rede pública de saúde gratuitamente, este índice cai para 5%. Em relação aos aspectos biológicos, a idade da ocorrência da menarca vem diminuindo cerca de 4 meses a cada década, encontrando-se atualmente, na faixa de 12,5 a 13 anos. Sendo a menarca, em última análise, a resposta orgânica que reflete a interação dos vários segmentos do eixo neuroendócrino feminino, quanto mais cedo ocorrer, mais exposta estará a adolescente à gestação (VITALLE, 2003), associado ao início cada vez mais precoce das relações sexuais, ao conhecimento e não utilização adequada dos métodos contraceptivos, tanto por pouca disponibilidade dos mesmos na rede básica de saúde, como pela falta de condições financeiras para adquiri-los. Muitas vezes, o método contraceptivo pode estar disponível, mas o adolescente não sabe como usá-lo, corretamente. Este fato pode ser evidenciado, por exemplo, na colocação da camisinha e nas tomadas das pílulas, principalmente em relação ao intervalo entre as cartelas muitas adolescentes se confundem e iniciam erroneamente ou não respeitam o intervalo recomendado entre uma e outra cartela. O coito interrompido, apesar de ser muito utilizado na adolescência, também apresenta um grau enorme de dificuldade, pois pressupõe um controle da ejaculação e, como nesta fase é comum a ocorrência de ejaculações precoces, torna-se complexa sua utilização. O desconhecimento da maneira correta de utilizar os métodos, portanto, é responsável por uma boa parcela das "falhas" que lhe são atribuídas. O processo de formação dos professores, por sua vez, não têm contemplado o aprofundamento de temas relacionados à adolescência, quer seja inseridos no contexto de disciplinas que ensinem aspectos básicos sobre o crescimento e desenvolvimento físico e psicológico, quer seja na discussão de aspectos comportamentais desta faixa etária. A escola, portanto, tem um papel fundamental na formação dos jovens na atualidade, devendo contribuir de uma forma mais efetiva na formação das crianças e dos adolescentes, tanto no sentido da formação ampla dos jovens como cidadãos, incluindo no seu currículo escolar aspectos relacionados à adolescência como: sexualidade, métodos contraceptivos e cuidados com a saúde. Não só a priorização do acesso à escola, mas o aumento da escolaridade, em anos de estudos, é fundamental para dar uma perspectiva melhor para o desenvolvimento pessoal e profissional das adolescentes, uma vez que, segundo SOUZA (1998), os filhos reduzem a escolarização das mulheres, fazendo com que a taxa de freqüência à escola seja muito menor entre as mães adolescentes, fato que limita seu progresso escolar futuro. A família poderia funcionar como espaço de discussão de temas relacionados à sexualidade, de forma a desmistificar crenças e tabus que possam intervir na vivência natural da sexualidade, permitindo que os adolescentes possam desenvolver habilidades para expressar suas emoções, os seus sentimentos, podendo esclarecer suas dúvidas aprendendo, assim, a resistir às pressões do grupo e a defender os valores nos quais acreditam, fatores fundamental para que o adolescente possa adquirir um estilo de vida mais saudável. A maioria dos jovens colocam que seus pais têm dificuldade de discutir estes temas em casa. Por fim, dentro desta complexa rede de causalidade, relacionada à gravidez em adolescentes, as políticas públicas devem priorizar em suas ações a inclusão da população adolescente visando buscar soluções para os problemas que afligem a adolescência.
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Projeto de vida A gravidez precoce pressiona a constituição de uniões consensuais ou de casamentos. Ao constituírem uma nova família, as adolescentes tendem a se afastar da escola e do trabalho e passam a assumir os papéis de mãe e dona de casa. Segundo DONAS (1991), é durante a adolescência que o ser humano elabora seu projeto de vida e desenvolve as estratégias e ações, para que o seu "sonho" se torne realidade. Quem sou? Como quero ser? Casado? Quero ser advogado, enfermeiro, trabalhar numa oficina, ter meu próprio negócio? Quero ter uma casa com piscina ou morar numa cidade do interior ou numa praia? O autor enfatiza que este projeto de vida (o "sonho" do adolescente) será influenciado pelas possibilidades que o meio externo oferece e pelo próprio esforço do adolescente, para que se realize ou não. A gravidez não planejada, na adolescência, é considerada como um obstáculo e talvez um fator que pode desviar esta adolescente daquilo que tinha como projeto de vida. No entanto, parece que estamos diante da constatação de que a maioria das gravidezes nesta fase da vida são indesejadas. Alguns trabalhos demonstraram que as adolescentes têm reais aspirações reprodutivas, neste momento da vida. COATES et al. (1993), em estudo realizado na Santa Casa de São Paulo, apontaram que 47,1%, das 384 adolescentes primigestas, quando indagadas, responderam que desejaram ficar grávidas. SAKAMOTO et al. (1988), numa pesquisa realizada em 3436 domicílios do Município de São Paulo, relatam que 9% das adolescentes não utilizaram método contraceptivo algum, na sua última relação sexual, pois manifestavam desejo de engravidar. Segundo SANTOS Jr. (1998), parece que, entre as adolescentes entrevistadas em pesquisa realizada na Ceilândia - DF, existe o receio de ser estéril – o que evidencia o desejo inconsciente de ser mãe - levando-as a não utilizar corretamente os métodos contraceptivos a que têm acesso, apenas para testar sua fertilidade. Mesmo dentre aquelas adolescentes que já tinham um filho, em alguns casos, a segunda gravidez também foi desejada, ou seja, foi uma opção da adolescente ter mais filhos. As meninas que desejavam ter o filho e já se encontravam casadas ou em união consensual, demonstraram estar felizes, cumprindo o seu papel social, ou seja, ser mãe e dona de casa, talvez apontando que fosse este o seu projeto de vida. Outras afirmaram que, apesar do filho, vão perseguir seus "sonhos" (ser médica, policial, entre outras) e que a presença do filho não atrapalharia seus projetos, pelo contrário, só as estimularia a lutar mais por um futuro melhor, para ela e seu filho. Outras, no entanto, consideraram que terão que refazer seus projetos, em função da nova realidade. No entanto, para as adolescentes que ainda estavam grávidas no momento da pesquisa, pelo fato do bebê ainda não ter nascido, tinham uma dupla visão do que viria a ocorrer com seus projetos. Enquanto umas acreditavam que iriam conseguir concretizar seus sonhos, outras já começavam a desistir deles. Algumas reflexões merecem ser feitas. Por um lado, essas adolescentes têm dificuldade de uma melhor inserção no mercado de trabalho, devido aos seguintes fatores: baixa escolaridade, novas exigências de capacitação profissional, decorrentes do processo de modernização das sociedades atuais, falta de disponibilidade de tempo, em função da responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos. Por outro lado, muitas das adolescentes entrevistadas se mostraram felizes, pois tiveram o seu projeto de vida realizado, ou seja: casar e ter filhos. Portanto, a "opção de ser mãe" pode estar sendo imposta pelas conjunturas sociais dos grandes centros urbanos - cada vez mais crianças e adolescentes têm sido excluídos dos sistemas educacionais e formadores, bem como os de saúde, esporte, lazer, cultura, etc, limitando, assim, o horizonte futuro desta população. Diante destes fatos apontados, a gravidez precoce traz uma enorme desvantagem social às adolescentes, sendo por isso considerada como um dos grandes problemas a ser enfrentado no Brasil, neste início do século XXI.
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Referências Bibliográficas BEMFAM, Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, 1996. Rio de Janeiro: BENFAM, 1997 CAMARANO, A. A. Fecundidade e anticoncepção da população jovem. In: Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília: CNPD, 1998, pág, 109-133 COATES, V.; CORREA, M.M. Características de 462 adolescentes grávidas em São Paulo. In: Anais do V Congresso Brasileiro de Adolescência, p. 581-2, Belo Horizonte, 1993. DOMINGUES, C.M.A.S. Identidade e sexualidade no discurso adolescente. São Paulo, 1997 [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da USP]. DONAS, S. Marco epidemiologico conceptual da la salud integral del adolescente. Adolescencia y salud, terceira antologia, Programa de Atencion Integral del Adolescente Caja Constarricense de Seguro Social, San José, Costa Rica, 1991. SAKAMOTO, C.P.M.; FREIRE, H. S.; MORRIS, L. Investigação sobre saúde reprodutiva do jovem na cidade de São Paulo, São Paulo: CMI/ CDC, 1988. SANTOS Jr., J.D. Utilização de métidos contraceptivos na adolescência: uma opção? SãoPaulo, 1998 [Dissertação de Mestrado - Faculdade de Saúde Pública da USP]. SOUZA, M.M.C. Fecundidade e anticoncepção da população de 15 a 19 anos. In: Seminário de Gravidez na Adolescência. Rio de Janeiro, 1998, p. 74-90. VITALLE, M.S.S. Gravidez na Adolescência In:
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REPRODUÇÃO HUMANA ECOS A fecundação Para entendermos como acontece a fecundação é importante lembrarmos que, a não ser nos casos de fertilização in vitro ou de barriga de aluguel, é preciso que um homem e uma mulher tenham uma relação sexual e que cada um contribua com seu material genético, os gametas. A célula reprodutiva masculina - o espermatozóide -, e a feminina - o óvulo - são as responsáveis por esta contribuição. Cada uma delas contém 23 cromossomos. Os cromossomos são estruturas do núcleo das células que contêm todas as informações e instruções genéticas necessárias para o desenvolvimento de um novo ser humano. Cada cromossomo transmite os genes dos antepassados e suas características: cor da pele, altura, tamanho do pênis, tamanho dos seios, quantidade de pêlos, cor dos olhos, etc. Quando o espermatozóide e o óvulo se fundem, uma nova célula é criada, então, com 46 cromossomos. As células reprodutoras são diferentes de todas as outras células do corpo, pois são as únicas que contêm somente a metade do número de cromossomos que uma célula precisa ter. Os espermatozóides O espermatozóide é uma célula tão pequena que só é possível ser vista com a ajuda de um microscópio. Ele pode ser dividido em cinco partes: a cabeça, o pescoço, o meio, a cauda e o fim da cauda. A cabeça do espermatozóide é coberta por uma membrana que contém um líquido que dissolve a membrana que cobre o óvulo, para que o espermatozóide possa penetrar nele e é nela que estão contidos os 23 cromossomos, a contribuição genética do pai para a formação do bebê. O meio fornece a energia para a movimentação da cauda, para o espermatozóide se deslocar dentro dos órgãos reprodutores da mulher. A cauda possui centenas de fibras que dão ao espermatozóide a mobilidade e a rapidez necessárias para que ele possa nadar no líquido seminal. O espermatozóide tem, ainda, uma espécie de radar com a finalidade de ajudá-lo a encontrar o óvulo para a fertilização. O tempo de vida de um espermatozóide no corpo de uma mulher é de aproximadamente 72 horas. Em cada ejaculação são expelidos milhões de espermatozóides e, caso a mulher esteja no período fértil, é muito difícil que um deles não cumpra o seu papel. O óvulo Apesar de ser muito maior que um espermatozóide, o óvulo também é minúsculo. Desde o nascimento, a mulher já tem em seus ovários cerca de 400 mil óvulos. A maioria desses óvulos não vai ser fecundada nem amadurecer, permanecendo inativa dentro dos ovários. Cerca de 500 deles vão se desprendendo um a um a partir da primeira menstruação até a menopausa, o final da vida reprodutiva da mulher. Os ovários da mulher produzem, geralmente, somente um óvulo maduro por mês. A saída do óvulo é provocada pela ação dos hormônios. O óvulo parece dar um salto para fora do ovário, sendo colhido pelas franjas da extremidade das tubas uterinas, através de seus movimentos ondulatórios. Por ovulação entendemos a saída do óvulo de dentro do ovário. Depois que sai do ovário, o óvulo tem pouco tempo de vida. É durante este tempo que, se ele se encontrar com um espermatozóide, pode ser fecundado. A fecundação Durante uma relação sexual, os milhões de espermatozóides que o homem deixa na vagina sobem pelo útero à procura do óvulo. A fecundação se dá na porção da tuba uterina que fica mais próxima do ovário. Fundidos, óvulo e espermatozóide se transformam numa célula-ovo
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que, algumas horas depois, se divide em duas células menores. Mais tarde haverá outra divisão celular, depois outra e assim sucessivamente, até que cinco dias após a fertilização essa bola de células chega ao útero. As células do lado de fora da bola formarão a placenta e a membrana que protegerá o bebê dentro do útero. Já o pequeno grupo de células formado na parte de dentro da bola é que se desenvolverá num bebê. Daí por diante, o ovo se fixará no útero e ali vai se desenvolver durante 9 meses como se estivesse num ninho. Se não for fecundado, o óvulo morre e é reabsorvido pelo organismo ou expelido junto com as secreções vaginais. Gravidez e Nascimento Se, antes da relação sexual, o casal não conversou sobre métodos contraceptivos e nem tomou nenhuma precaução, poderá ocorrer uma gravidez. Após a fecundação, a célula-ovo se desloca até o útero onde se fixa e se desenvolve até o momento do parto. Nesse estágio, o ovo muda de nome: agora ele é um embrião. Quando completa um mês na barriga da mãe, mede cerca de um centímetro e meio, já tem cabeça, intestino, cérebro e células do aparelho reprodutor. No fim do segundo mês, muda novamente de nome, passa a se chamar feto e tem cerca de cinco centímetros. Mãos, pés, olhos e boca já estão formados. Quando completa três meses, a barriga da mãe fica mais visível. O feto começa a se mexer e já sabe abrir e fechar os olhos. Aos cinco meses, pesa cerca de meio quilo, tem uns 30 cm. de altura e alguns já são bem cabeludos. Nesse estágio, a mãe engorda bastante e os seus seios ficam mais volumosos. Dos seis meses em diante, o feto só cresce e engorda. No fim do oitavo mês, o bebê pesa mais ou menos três quilos. Quando o bebê está para nascer, o corpo dá alguns sinais avisando que está na hora do parto: ou a bolsa se rompe e deixa escorrer o líquido amniótico que protege o bebê, ou há uma expulsão do tampão de muco que fecha a entrada do útero durante a gravidez, ou a mulher começa a sentir uma dor semelhante à cólica. Essa dor se transforma em contrações (a barriga fica dura) que vêm em intervalos de tempo regulares cada vez menores. Essas contrações vão pressionar o útero e fazer o seu colo dilatar, isto é, aumentar de tamanho para que o bebê possa sair. Não dá para saber se o trabalho de parto vai ser longo ou curto, se vai doer muito ou pouco. Por isso, é muito importante que durante a gravidez a gestante aprenda a fazer exercícios de respiração e de relaxamento. Agora, nem sempre o parto é como foi descrito acima. Quando a posição do bebê não está correta (com a cabeça para baixo), quando a criança é grande demais, em caso de gêmeos, ou quando a mulher não tem dilatação, é melhor optar por uma cirurgia, a cesariana, para que nem a mãe nem o bebê sofram riscos. Numa cesariana, é feito, inicialmente, um corte na barriga, paralelo aos pêlos pubianos, e um outro no útero acompanhando o primeiro. Atenção! Assim que uma mulher descobre que está grávida, tem que iniciar o chamado acompanhamento pré-natal com um/a médico/a particular ou num posto de saúde. O pré-natal é um atendimento específico à gestante e tem como objetivo esclarecer as dúvidas e orientar a mulher sobre o desenvolvimento da gravidez e sobre o parto. Consiste em exames periódicos onde são verificados o estado geral da mulher, o desenvolvimento do bebê, que exames têm que ser feitos, quando vai fazê-los, as vitaminas que deverão ser tomadas... As complicações que poderão ocorrer durante a gravidez terão chance de serem detectadas e cuidadas a tempo se a mulher estiver fazendo acompanhamento pré-natal. (Fonte – Manual “Corpo, Matriz da Sexualidade” – ECOS)
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ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ABORTO EM ADOLESCENTES Maria Cecília Pereira da Silva Uma pesquisa realizada por Zenilda Vieira Bruno da universidade do Ceará, com 1200 adolescentes, aponta que apesar de aliviadas, 60% delas sentem-se culpadas e nervosas após o aborto. No Brasil, de um milhão de jovens, entre 10 e 19 anos, que ficam grávidas a cada ano, mais de 200 mil abortam, na sua maioria na clandestinidade. Em 1994, em São Paulo, um terço das mortes por complicações de aborto foi de garotas entre 15 e 19 anos. Dessas, 40% engravidam novamente após três anos da primeira gestação (Revista Cláudia, abril/97). Na polêmica discussão sobre o aborto, que envolve questões legais, religiosas, culturais e morais, a maioria das pesquisas se atém à luta pela descriminação do aborto e suas conseqüências, abordando pouco os aspectos psicológicos envolvidos nessa ação. E, ainda, a maior parte dos trabalhos relativos à adolescente privilegia a prevenção da gravidez indesejada à prevenção do aborto. Para tratar da prevenção da gravidez trabalha-se com as informações sobre contraceptivos, DST/Aids, etc. Quando lidamos com a prevenção do aborto, temos que enfocar os riscos envolvendo a saúde da mulher, a questão do prazer sexual, o que representa no imaginário da adolescente ter um filho, as condições necessárias para a vida sexual, o que leva a engravidar e as seqüelas físicas e emocionais ligadas ao aborto. Abordar os aspectos emocionais é sempre algo muito singular. Cada um reage emocionalmente de uma forma única, diante das situações conflitivas da vida, dependendo de sua história, recursos emocionais internos e do contexto em que se encontra. Neste sentido, não é possível padronizar reações emocionais, nem mesmo em relação ao aborto. Cinqüenta anos após a morte de Freud, que explicitou sua perplexidade diante de uma decisão tomada sem remorso nem hesitação em relação ao aborto (FREUD,1920), observamos no trabalho clínico as evidências em relação às conseqüências traumáticas dessa intervenção. Nossa tarefa, como educadores, é a de possibilitar que as adolescentes envolvidas possam agir conscientemente e assim assumir suas responsabilidades, aprendendo com essa experiência. Não é apenas a saúde mental da jovem grávida que está em jogo, mas a de cada ator dessa cena. A decisão de ter ou não o filho deveria ser prioritariamente da mulher, e do casal dentro de seus valores éticos, emocionais, morais e religiosos. Quando uma mulher está grávida ela vive, por um lado, inúmeras fantasias: de prazer, satisfação e plenitude. E, por outro, fantasias persecutórias: o medo de que todos os seus sonhos profissionais e de independência sejam naufragados, a angústia de não ter podido escolher o parceiro e o momento de ter um filho, as condições emocionais e econômicas de criá-lo, e o receio de produzir um filho imperfeito. Portanto, vários sentimentos ambivalentes serão envolvidos nessa decisão tais como: amor e ódio, vida e morte, culpa e desejo, fantasia e realidade, permeando a decisão de continuar ou interromper a gravidez. A intensidade dos transtornos emocionais, gerados pela situação do aborto, na própria jovem e na sua família, vai depender da condição emocional de cada adolescente de elaborar essa perda, esse luto. Se ela puder contar com uma família continente e de ajuda psicológica, a elaboração desse será de uma forma menos sofrida. Mas, na nossa realidade, nem sempre as adolescentes encontram o apoio dos pais. Os pais, por mais abertos e liberados que sejam, sempre representam para os filhos modelos ou parâmetros de valores morais. A decisão de optar ou não pelo aborto deveria ser tomada pela própria adolescente, assumindo os riscos e responsabilidades envolvidos, com ou sem apoio dos pais. Para isso, a adolescente deveria ter acesso à informação e espaços para refletir sobre tudo o que envolve sexualidade. Acredito que a melhor forma dos adolescentes incorporarem e elaborarem as informações sobre os métodos anticoncepcionais, DST/Aids e os tabus e preconceitos envolvidos na sexualidade, seja através de conversa com seu grupo de iguais, acompanhados de um adulto de confiança e capacitado para isso. Nossa cultura supervaloriza o papel da mãe e o aborto é um tabu, além de ser considerado um crime pela lei. A liberação sexual ainda está tomada por muitos preconceitos e é como se a adolescente, que tem vida sexual, se identificasse mais com o papel de prostituta do que com o direito de usufruir com o prazer da sexualidade. Engravidar, ser mãe, é uma forma aceita de legitimar a vida sexual, e uma maneira de aliviar a culpa e superar o preconceito de se sentir
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vulgar. Isso torna mais difícil a tomada de decisão pelo aborto. Se a adolescente não puder contar com uma ajuda terapêutica, antes e após o aborto,- como há nos serviços públicos na França e na Inglaterra -, se não puder elaborar todos esses sentimentos envolvidos na situação do aborto e tomar consciência, essa situação pode se repetir. O ato de gerar um filho está ligado simbolicamente à capacidade criativa do ser humano. Todo ato de abortar, sejam idéias, projetos, ou um filho, pode prejudicar a capacidade simbólica e criativa do indivíduo. Se a vivência do aborto não puder ser transformada emocionalmente, gera sentimentos de perda, aflição e angústia, criando um conflito não resolvido por anos. Pode provocar depressão, perda de auto-estima e rejeição do corpo feminino, que não deu a luz a uma criança, e a repetição de abortos. A capacidade da jovem decidir conscientemente vai depender de suas condições emocionais de discriminar a realidade, que, por sua vez, permitirá um sentimento de alívio, a possibilidade de elaboração e restauração desta perda, sobrevivendo dentro de si a capacidade criativa ( fertilidade, realização afetivo-pessoal e profissional). (Fonte – Boletim Nº 10 de maio/junho 97 –GTPOS)
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ABORTO NA ADOLESCÊNCIA, UMA OPÇÃO? Jose Domingues dos Santos Junior Silvia Cavalcantti A gravidez na adolescência é um dos grandes problemas de saúde pública tanto no Brasil como em muitos outros países, não importando ser este desenvolvido ou subdesenvolvido. No Brasil, estima-se que entre 20 a 25% das gestações ocorrem na faixa etária de 10 a 19 anos. Observa-se que nos últimos anos a taxa de gestações entre meninas de 15 a 19 anos temse mantido mais ou menos constante, mas vem aumentando na faixa etária de 10 a 14 anos. Tabela 1. Partos por Faixa Etária – Brasil, 1993 – 1997 ANO
1993 1994 1995 1996 1997
Totais de % de partos de adolescentes (todos os tipos) Outras idades partos no SUS 10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos (todos os tipos) 2.856.255 0,93 21,41 32,91 44,75 2.852.834 0,93 22,27 32,85 43,95 2.821.211 1,00 23,44 32,47 43,09 2.743.141 1,16 24,63 32,33 41,88 2.178.265 1,23 25,27 73,50 Fonte: Ministério da Saúde – DATASUS/FNS
Vários trabalhos têm abordado, em pesquisas qualitativas, se estas gestações em adolescentes seriam ou não planejadas e também se seriam ou não desejadas. Seguramente a grande maioria não foi planejada, mas fruto ou não da utilização inadequada ou não regular do preservativo, da tomada errada de um contraceptivo oral, da impossibilidade de conter fortes impulsos sexuais, da prova de amor àquele menino, e também do caráter de invulnerabilidade que os adolescentes acham que têm quando expostos a um risco. “O dano jamais acontecerá comigo” Se analisarmos uma relação sexual, podemos imaginar a ocorrência de uma gestação, que pode ser ou não desejada. Desta forma, podemos abalizá-la sobre outros aspectos. Após a confirmação da gestação as adolescentes terão comportamentos distintos frente a esse fato, que se resumem basicamente a duas situações: interromper a gestação, praticar um aborto e se livrar do problema ou prosseguir a gestação até o final e tornar-se mãe. Em nossa experiência pessoal, que é concordante com inúmeros estudos de outros autores, o que vai nortear a adolescente nesta tomada de decisão é, principalmente, seu projeto de vida atrelado às condições socioeconômicas. Em países como a Suécia, Noruega, Dinamarca e alguns estados dos Estados Unidos, onde o aborto é legal a grande maioria das adolescentes recorre à interrupção da gravidez pois tem projetos para suas vidas distintos de se tornarem mães ainda na adolescência e reúnem condições sócio econômicas para continuarem seus estudos, se profissionalizarem e terem profissão. Por outro lado, as adolescentes que optam pela maternidade, ou são conduzidas a esta decisão, como a grande maioria das mães adolescentes no Brasil, que possuem baixa escolaridade, em torno de 8 anos de estudos, disparidade entre idade cronológica e idade escolar; moram nas periferias de grandes centros urbanos ou em municípios pequenos e sem atividade econômica para gerar empregos e renda aos seus moradores. Suas avós e mães também foram mães na adolescência, e têm a maternidade como grande “projeto de vida” e ainda sentem-se realizadas ao assumirem o status de mãe e dona de casa. Como na maioria das vezes, essas condições econômicas não se alteram, estas meninas terão dificuldade para ter acesso à serviços de saúde com programa efetivo de planejamento familiar e desta forma, em curto intervalo de tempo, ela engravidará novamente, e depois novamente, até conseguir uma laqueadura tubária, após constituir prole de 3 ou 4 filhos. É nesse contexto que temos que discutir aborto em adolescentes. Como ele é ilegal no Brasil, “sabemos” (não temos dados devido a sua clandestinidade) que adolescentes com maior poder aquisitivo recorrem, com maior freqüência a abortos em clínicas que oferecem certa segurança, principalmente com relação à infecção e a privacidade.
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Já adolescentes que não podem recorrer a estas clínicas, por não terem condições econômicas , utilizam-se de outras formas para interromper a gestação. Muitas ainda se utilizam de uma técnica que se baseia no princípio da infecção. Quando uma pessoa “curiosa” introduz uma sonda de plástico ou outro instrumento, agulha de tricô por exemplo, no orifício do colo do útero, furando a bolsa na qual se encontra o embrião, bactérias que habitam a vagina invadem o útero e provocam uma infecção que leva a contração e eliminam o embrião. Não raro, esta técnica pode acarretar complicações sérias, como infecção generalizada (septicemia), em função da permanência de restos de membranas e de placenta, podendo culminar com uma histerectomia e até a morte. Atualmente tem-se utilizado, para realização de abortos um medicamento que tem ação em processos dispépticos do estômago e que, ao ser ingerido ou colocado no fundo da vagina, por mulheres gestantes, pode provocar contrações uterinas fortes, levando à abertura do colo uterino, sangramento e eliminação do embrião. Este medicamento não pode ser comercializado nas farmácias a não ser em condições especiais e com apresentação obrigatória de receita médica e justificativa do médico solicitante. Mas em todo o país, verifica-se a venda irregular sem receita médica, e a um custo de 20 a 30 vezes maior do que o valor real da medicação. Embora pareça mais simples e seguro, comparado ao “método que provoca a infecção”, a utilização desse medicamento, pode acarretar choque hemorrágico e até a morte, se a mulher não for conduzida a tempo a uma unidade de saúde. É importante ressaltar que não se sabe o número real de abortos provocados no país. Na adolescência, das 51.297 curetagens pós aborto ocorridas, em 1999, na rede SUS, faixa etária de 10 – 19 anos, provavelmente 30 % destes abortos ocorreram de forma espontânea. A literatura aponta que é em torno deste percentual que todas as gestações terminam, em aborto espontâneo e muitos necessitam vão necessitar da realização de curetagens, Tabela II. Tabela II. Realização de partos e curetagem pós aborto ocorridos, na rede SUS. na faixa etária de 10 – 19 anos, Brasil, 1999. IDADE PARTO 10-14 ANOS 31.734 15-19 ANOS 673.512 TOTAL 705.246 Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS
CURETAGEM PÓS ABORTO 2.813 48.484 51.297
Dráuzio Varela, em matéria na folha de São Paulo de 26 de agosto 2000, entitulado – “A questão do aborto”, coloca que “desde que a família tenha dinheiro para pagar, o aborto é permitido no Brasil. Se a mulher for pobre, porém, precisa provar que foi estuprada ou está a beira da morte para ter acesso a ele. Como conseqüência, milhões de adolescentes e mães de família, que engravidam sem querer, recorrem ao aborto clandestino, anualmente”.
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O QUE FAZER NA ESCOLA, ORIENTAÇÃO SEXUAL?
AFINAL?
EDUCAÇÃO
SEXUAL
OU
Maria Thereza Alves Conforto “Faça o necessário; depois o possível. De repente,você estará fazendo o impossível” Francisco de Assis 1.Compreendendo a sexualidade A proposta de se discutir o papel da escola nas questões que envolvem temas sexuais coloca-nos frente a frente com a necessidade de se conhecer mais sobre o assunto. Durante muito tempo, a sexualidade foi considerada de pouca importância para o desenvolvimento das pessoas e voltada para uma única finalidade: a reprodução. O assunto foi trazido aos debates, graças às mudanças socioculturais e aos estudos científicos que contribuíram para que essa importante dimensão humana ganhasse destaque. Muitos pesquisadores direcionaram estudos para o tema. Masters e Jonhson 1, em um de seus livros, “O Relacionamento Amoroso”, trouxeram para o meio acadêmico a proposta de que a sexualidade tem “um sentido mais amplo, uma vez que se refere a todos os fenômenos da vida sexual”. Constitui uma das dimensões do indivíduo: não se refere apenas ao seu potencial para reagir a estímulos eróticos. Desta forma, a sexualidade passou a ser entendida como um conjunto de fatos relacionados à vida sexual, que abrangem fenômenos biopsicossociais e espirituais dos indivíduos. É importante pensar no contexto em que a sexualidade é vivenciada hoje. As mudanças tecnológicas ocorridas no séc. XIX e a revolução sexual, no séc. XX, provocaram mudanças nos processos de socialização e de educação dos indivíduos, substituindo antigos enfoques na expressão da sexualidade e nas suas formas de vivência. As referidas mudanças proporcionaram a configuração do que seria a Educação Sexual. Na maioria das escolas, quem normalmente apresentava o conteúdo era o professor de biologia, que abordava o tema reprodução, com enfoque puramente biológico. Não raramente, as instituições de ensino mais liberais, que se dispunham a tratar da sexualidade, deparavam-se com a resistência dos pais e da sociedade, e o assunto era tratado como tabu. Entretanto, a escola se reconheceu como espaço socialmente legitimado e responsável e resolveu encarar o desafio. Passou a promover a educação sexual apesar das dificuldades: falta de material didático específico, resistência familiar e despreparo técnicocientífico dos professores. 2. Pais , escola e sexualidade A escola vem assumindo, cada vez mais, a educação das novas gerações, uma vez que os pais, devido à luta pela sobrevivência, estão levando seus filhos cada vez mais cedo às escolas. Estas têm, assim, como função essencial promover o processo formativo do cidadão – devem prepará-lo para viver em sociedade e instrumentalizá-lo para mudanças culturais, ou seja, educá-lo. Educar tem um sentido amplo, implicando em comprometimento não somente com a instrução, ou seja, com o mero repasse de informações, mas, sobretudo, com a formação integral do indivíduo. E foi a escola quem herdou esta missão que, anteriormente, era conferida à família. No passado, a sexualidade era ignorada tanto pelos pais quanto pelos professores. Crianças e adolescentes eram tratados como seres assexuados; falar sobre sexo nas salas de aula era considerado um estímulo à atividade sexual. O aluno, de sua parte, também não reivindicava este espaço. Não poderia ser diferente. Afinal, não se sabia fazer de outra forma, pois toda a sociedade encarava a sexualidade de forma pouco transparente. Em suma, o sexo era 1
Masters, W. e Johnson, V. O relacionamento amoroso,1981
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assunto a ser tratado entre quatro paredes. Em não se discutindo o assunto, imaginava-se que o conhecimento viria naturalmente, trazendo respostas às indagações. Essa alienação quanto à maturidade dos filhos, a ausência da educação sexual e a propagação de informações errôneas acarretaram conseqüências nas gerações seguintes. Na atualidade, o número crescente de casos de gravidez não planejada entre adolescentes, os casos de abuso sexual, o aumento das doenças sexualmente transmissíveis - inclusive a Aids - e o aumento do número de abortos demonstram a necessidade de se discutir abertamente o assunto. Nesse contexto, é que se ressalta a importância da implantação da orientação sexual nas escolas, contemplando-se, desta forma, o desenvolvimento global do ser humano. 3. Educação Sexual Mas afinal, o que é educação sexual? Como diferenciá-la da orientação sexual? Segundo o Guia de Orientação Sexual2, “educação sexual constitui-se no processo informal pelo qual aprendemos sobre a sexualidade ao longo da vida, seja através da família, da religião, da comunidade, dos livros ou da mídia.” Seriam, portanto, aquelas informações transmitidas pelos pais à criança, desde o nascimento, por meio de atitudes, gestos ou idéias e que permitem ao indivíduo modificar conceitos e comportamentos. Não há dúvida de que os melhores educadores sexuais seriam os próprios pais, porque a eles compete a maior parcela de responsabilidade na formação dos filhos. É a família que possui as funções de autoridade, controle e modelo social. Entretanto, como os pais, via de regra, têm dificuldades em falar sobre sexo com os filhos (dificuldades estas, na maioria dos casos, de cunho cultural), foi deixado a cargo da escola realizar esta tarefa. O grande desafio é capacitar-se para desenvolver o trabalho, uma vez que a educação sexual não pode ser dissociada da educação como um todo. Portanto, faz-se necessária a preparação dos professores, tornando-os bem informados, prontos e conscientes da importância de sua atuação na área da sexualidade. O reconhecimento, por parte de pais e professores, de que a educação sexual é indispensável na formação integral do indivíduo fez com que fossem implantadas diretrizes da pedagogia sexual nas escolas. 4. Orientação Sexual O Guia de Orientação Sexual3 nos diz que: “orientação sexual propõe-se a fornecer informações sobre sexualidade e organizar um espaço de reflexões, questionamentos sobre postura, tabus, crenças e valores a respeito dos relacionamentos e comportamentos sexuais (enfoque biopsicossocial).” A orientação sexual pode ser entendida como esclarecimentos e orientações dadas, objetivamente, à criança por outras pessoas, além dos pais. É um processo mais formal e sistematizado, oferecendo maiores informações e propondo a quebra de tabus e de preconceitos. Traz ainda o referido guia: “o trabalho de Orientação Sexual visa propiciar aos jovens a possibilidade do exercício de sua sexualidade de forma responsável e prazerosa. Seu desenvolvimento deve oferecer parâmetros para a discriminação de comportamentos ligados à sexualidade que demandam privacidade e intimidade, assim como reconhecimento das manifestações de sexualidade passíveis de serem expressas na escola 4.” Orientador sexual, portanto, é aquele educador que leva em conta o modo de vida dos alunos, seus valores e suas idéias para transmitir-lhes conhecimento na área da sexualidade. Além de se dispor a trazer informações científicas, oferece influência continuada sobre o educando e colabora efetivamente para sua formação como cidadão, para que este tenha uma vida melhor e mais saudável. 5. O Professor e a Orientação Sexual 2
Guia de orientação sexual. Diretrizes e metodologia. GTPOS ABIA ECOS .1994, pág.08. Guia de orientação sexual. Diretrizes e metodologia. GTPOS ABIA ECOS .1994, pág.08. 4 Idem pág.08. 3
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A orientação sexual, nos dias atuais, não pode ser ignorada pelas escolas. Embora ainda haja dificuldades para a implantação, sua relevância e necessidade já foram reconhecidas. Entretanto, quem é o profissional que atua hoje nas escolas? Estará ele capacitado para cumprir esta tarefa? Como a escola pode melhor promover a orientação sexual de seus alunos? O número de profissionais preparados para Orientação Sexual continua insuficiente, não obstante, seja grande o número de estabelecimentos de ensino que procuram promovê-la. Em sua formação, seja nos cursos de magistério ou nas universidades, os professores não recebem qualquer orientação em educação sexual. As famílias anteriormente ofereciam resistência à orientação sexual no âmbito escolar. Hoje, porém, esse quadro foi alterado e os pais modernos consideram-na importante, indispensável até, na formação integral do jovem. Em 1993, o Instituto Data Folha realizou uma pesquisa que indicou “que 86% dos pais de dez capitais do país se mostraram favoráveis à inclusão da orientação sexual nos currículos escolares5 . Entretanto, falar sobre sexo na escola continua uma tarefa complicada. A proposta de incluir temas sobre sexualidade no plano pedagógico da escola facilita o desenvolvimento das ações, na sala de aula, pelo professor. “Isso implica uma definição clara dos princípios que deverão nortear o trabalho de Orientação Sexual e sua explicação para toda a comunidade escolar envolvida no processo educativo dos alunos. Esses princípios determinarão desde a postura que se deve ter em relação às questões relacionadas à sexualidade e suas manifestações na escola, até os conteúdos a serem trabalhados com os alunos. A coerência entre os princípios adotados e a prática cotidiana da escola deverá pautar todo o trabalho”6 Nas séries iniciais, os temas podem ser abordados, com naturalidade, quando, por exemplo, estiver sob estudo o corpo humano. A observação do funcionamento corporal, das diferenças entre meninos e meninas, ou ainda a discussão de como os bebês nascem podem servir como ponto de partida. Estar atento ao nível de maturidade da turma é importante; ele indicará ao professor até que ponto ela poderá ir no aprofundamento dos temas. Perceber que é mais fácil lidar com coisas sobre as quais detemos maior conhecimento pode ser um dos caminhos para diminuir dificuldades. Buscar a capacitação profissional, ampliar a compreensão sobre a sexualidade, aprofundar conceitos, revisar valores e instrumentalizar-se com técnicas de dinâmica de grupo auxiliam na formação profissional dos professores. Contribuem, de outro modo, para diminuir a transmissão de preconceitos aos alunos. As dificuldades enfrentadas pelos pais não são menores. Falar com os filhos sobre sexualidade também requer preparação. Algumas das perguntas mais freqüentes são: Como falar? Quando começar? O que dizer? A educação sexual deve ser iniciada o mais cedo possível, pela família, dentro de uma atmosfera sexual positiva. Não há necessidade, nem seria adequado, determinar-se um espaço de tempo especial para esse começo. As crianças, pela observação das diferenças biológicas entre o homem e a mulher (genitálias externas, caracteres secundários), logo começam a formar sua identidade sexual. Quando um menino percebe que é biologicamente igual ao pai e diferente da mãe e da irmã, adquire, nesse momento, a compreensão de ser um macho. O mesmo processo acontece com as meninas, que se identificarão como fêmeas. A discussão de temas relacionados à sexualidade no seio da família pode vir a contribuir, em muito, com o estabelecimento de princípios morais de conduta social própria de cada indivíduo. A melhor maneira de a criança aprender sobre a sexualidade é por meio da observação da relação entre os pais. As atitudes do casal (a comunicação sem palavras) podem oferecer um modelo sexual sadio aos filhos e diante da curiosidade infantil acerca de temas sexuais, algumas observações simples facilitam o processo de esclarecimento: • encarar com naturalidade as perguntas feitas pela criança; • respeitar a curiosidade infantil; • responder aos questionamentos com segurança; • deixar espaço aberto para outras perguntas (não responder mais do que foi perguntado); • falar sempre a verdade; 5 6
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utilizar os termos corretos e adequados à idade da criança; reagir com naturalidade; não temer desconhecer a resposta (quando não souber, dizer que vai buscar a informação); não dar respostas prontas, mas ajudar a pensar;
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mais importante, expressar por meio da conduta, os valores morais que devem ser transmitidos aos filhos. Não se deve esquecer que a família e a escola devem estar unidas na tarefa; ambas têm o mesmo nível de responsabilidade quando se trata de orientação sexual e portanto devem estar articuladas na sua realização. A orientação sexual deverá fazer parte do Projeto Pedagógico da escola e desenvolvido pelos próprios professores, em suas turmas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais7 propõem que os temas sejam apresentados por meio da transversalidade dos conteúdos (isto é, presentes em todas as áreas do conhecimento). Uma vez discutidos, os assuntos devem voltar, com conteúdo mais aprofundado, todas as vezes que houver interesse, por parte dos alunos. Muitas escolas, por não se sentirem capacitadas para a discussão, convidam pessoas de fora do universo escolar (médicos, psicólogos, especialistas) para realizarem palestras aos alunos. A prática demonstrou que esse recurso é considerado ineficaz. Falar sobre sexualidade requer intimidade e ela só acontece entre pessoas conhecidas e confiáveis. Assim, aqueles profissionais podem contribuir, e muito, na capacitação dos professores para que estes possam, então, desenvolver ações com as crianças e com os adolescentes que objetivem a construção de uma visão positiva da sexualidade. A escola, ao oferecer a orientação sexual, estará contribuindo efetivamente para que seus alunos desenvolvam a comunicação clara nas relações interpessoais, elaborem valores a partir do pensamento crítico, compreendam o próprio comportamento e tomem decisões responsáveis a respeito de sua vida sexual, agora e no futuro. “A educação é um ato de amor, portanto um ato de valor, não pode temer o debate, a análise da realidade não pode fugir da discussão criadora sob pena de ser uma farsa. Creio que o principal objeto da educação deveria ser incitar os jovens a raciocinar sobre tudo o que lhes é apresentado. O importante é a independência do espírito”. (Bertrand Russell) Pontos para reflexão:
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Como fazer para família e a escola estarem integradas na promoção da Orientação Sexual? Como preparar professores para a inclusão de temas relacionados à sexualidade na transversalidade dos conteúdos?
Bibliografia BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1996. GUIA de orientação sexual: diretrizes e metodologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. LIMA, H. Educação sexual para adolescentes. 3.ed. São Paulo: Iglu, 1994. MIELNIK, I. Educação sexual na escola e no lar. São Paulo: Ibrasa, 1993. PORTUGAL. Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Educação sexual em meio escolar: linhas orientadoras. Lisboa, 2000 RIBEIRO, M. Educação sexual: novas idéias, novas conquistas. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993. TIBA, I. Adolescência o despertar do sexo. São Paulo: Gente, 1994.
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PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS EPIDEMIOLOGIA DA AIDS O Boletim Epidemiológico Nº 1, Ano XVI, apresenta os casos da doença notificados junto ao Ministério da Saúde, até o final de 2002. É notável a desaceleração nas taxas de incidência de aids no conjunto do País, a despeito da manutenção das principais tendências da epidemia: heterossexualização, feminização, envelhecimento e pauperização do paciente, aproximando-o cada vez mais do perfil socioeconômico do brasileiro médio. Também é importante registrar que a consolidação das informações, sua interpretação e análise não deixam – nem poderiam deixar – de refletir algumas dificuldades encontradas para a sua elaboração, devidamente clarificada nos comentários abaixo. Foram 257.780 os casos diagnosticados e notificados de Aids ao Ministério da Saúde desde o início da década de 80 até 31/12/2002. Desse total, 67,1% (172.858 casos) são de residentes na região Sudeste. Os estados de São Paulo (117.993 casos), Rio de Janeiro (36.462 casos), Rio Grande do Sul (21.611 casos), Minas Gerais (15.438 casos), Paraná (11.504 casos) e Santa Catarina (10.969 casos) concentram 83,0% do total de casos notificados desde o início da epidemia de HIV/aids. De forma semelhante, os 100 municípios com maior incidência acumulada de casos de Aids respondem por 76,8% do total de casos notificados: Itajaí (SC), Porto Alegre (RS) e Santos (SP) foram os municípios que alcançaram maiores taxas de incidência ao longo do tempo. Ainda no que diz respeito à distribuição espacial dos casos notificados, tomando-se o ano de 1999 como referência para esta análise, deve-se destacar as taxas de incidência observadas nos estados de São Paulo (27,2/100.000 hab.), Rio de Janeiro (23,6/100.000 hab.). Santa Catarina (23,1/100.000 hab.) e Rio Grande do Sul (22,4/100.000 hab.), muito superiores à média nacional de 14,8 casos por 100.000 habitantes. Se o ano base fosse 2001, o Rio Grande do Sul assumiria a liderança com taxa de 31,8/ 100.000 habitantes. Quanto às tendências temporais, chama a atenção a desaceleração nas taxas de incidência da aids no país como um todo a partir de 1999 (desaceleração média de 6,9% em relação a 1998), sendo que no estado de São Paulo esta desaceleração é observável já a partir de 1997 (-5,7% em relação a 1996) e no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a partir de 1998. Ao menos em parte, esta desaceleração pode ser decorrente do atraso e de outros problemas de notificação dos casos. De 1999 para 2000, apenas quatro estados apresentaram aceleração positiva das taxas de incidência. São eles: Roraima, Piauí, Paraná e Rio Grande do Sul. Quanto à distribuição dos casos segundo sexo e faixa etária, é digno de nota, e tem sido relatado em vários países do mundo, uma certa “feminização” e “envelhecimento” da epidemia de aids. Quanto à distribuição dos casos segundo faixa etária, observa-se um aumento persistente de importância de todas faixas etárias de 35 anos ou mais na última década, em ambos os sexos, com destaque para as faixas de 35 a 39 anos e 40 e 49 anos, sugerindo um certo “envelhecimento” da epidemia de aids no Brasil em ambos os sexos, ainda mais evidentes entre as mulheres. Considerando-se a razão de casos entre homens e mulheres, esse indicador variou de 6,5 casos entre homens para cada caso entre mulheres (em média) no período de 1980-1990 para 2.0:1 em 1999, 1.8:1 em 2000 e 1.7:1 em 2001, e isto em todas as faixas etárias. Particularmente na faixa etária de 13 a 19 anos, esta razão de casos entre homens e mulheres apresenta sinais de inversão: entre 1998 e 2001 (0.9:1, 0.9:1, 0.8:1 e 0.6:1, respectivamente). Quanto à distribuição dos casos de aids segundo categoria de exposição, a epidemia pelo HIV/aids vem crescendo consideravelmente entre heterossexuais, que passou a ser a principal modalidade de exposição ao HIV desde 1993 para o conjunto dos casos notificados, superando “homo e bissexuais”. Quando se analisa a distribuição dos 8.398 casos entre menores de 13 anos de idade segundo a categoria de exposição ao longo do tempo, observa-se um crescimento da ocorrência de casos de transmissão materno-infantil (7.488; 85,9% do total) e redução dos casos de hemofílicos/transfundidos (548; 6,3%). Se nos detivermos especificamente aos casos de aids em indivíduos com 13 anos de idade ou mais, podemos observar que, no sexo masculino, os casos com a subcategoria de
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exposição “heterossexual” somente superaram os de exposição “homossexual” somados aos “bissexuais” no ano de 2000, enquanto entre as mulheres esta categoria de exposição foi, sempre, a principal. A transmissão através do uso de drogas injetáveis, por outro lado, vem decrescendo ao longo dos últimos dez anos, após ter atingido o seu pico no início da década de 90 em ambos os sexos. Quanto à distribuição dos casos de aids segundo escolaridade, é possível afirmar que a epidemia de aids, no Brasil, mantém a tendência de pauperização já apontada em análises anteriores, no sentido de que, cada vez mais, o perfil dos casos notificados se aproxima do perfil socioeconômico da população em geral (58,9% de casos com 7 anos de estudos ou menos em 2000 contra 33,4% na década de 80). Com relação à letalidade, observa-se uma inflexão negativa (para menos) entre homens e mulheres, maiores ou menores de 13 anos, em meados da década de 90, principalmente entre 1996 e 1997, período que coincide com a garantia do acesso ao tratamento anti-retroviral de alta eficácia (Highly Active Antiretroviral Therapy – HAART). Contribuíram, para esta redução da letalidade da aids, ainda, o diagnóstico mais precoce dos casos de aids e da infecção pelo HIV e o acesso às profilaxias das infecções oportunistas. (Fonte- Boletim Epidemiológico da AIDS- Ministério da Saúde- Ano XVI Nº 01)
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SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA AIDS NO DISTRITO FEDERAL Luis Antônio Bueno Lopes O perfil epidemiológico da Aids no Distrito Federal nos últimos anos apresentou importantes mudanças. Os primeiros casos de aids registrados no Distrito Federal residiam, predominantemente, no Plano Piloto (Área Central), tinham nível de escolaridade elevado e comportamento homossexual ou bissexual. O uso de drogas injetáveis também foi um importante meio de transmissão do HIV nos primeiros anos da década de noventa. Posteriormente, houve uma inversão dessa situação, com a maior parte dos casos novos residentes em cidades-satélite, com nível de escolaridade mais reduzido e com comportamento heterossexual. Embora a maior parte dos casos tenha ocorrido em homens, registrou-se, proporcionalmente, maior crescimento entre as mulheres. A proporção Homem/Mulher passou de 8/1, em 1988, para 2/1, em 2002. Devido à maior eficácia do tratamento com anti-retrovirais, entre 1995 e 2001, a taxa anual de letalidade apresentou queda acentuada, de 31,9%, em 1995, para 7,1%, em 2002. A incidência anual teve rápida elevação até 1992, passando, então, a apresentar crescimento mais lento e, nos últimos anos, tendência à estabilização. A prevalência tem sido crescente desde o início da epidemia, pois o número de casos novos registrados tem sido superior ao número de óbitos. Em 31 de março de 2003 havia, segundo os registros da Secretaria de Saúde do DF, 3918 vivendo com HIV/Aids no Distrito Federal. As maiores incidências específicas de Aids por faixa etária têm ocorrido na faixa de 30 a 39 anos. Como o tempo decorrido entre o momento da infecção pelo HIV e o surgimento da Aids pode ser superior a 10 anos, é provável que a maior parte dos casos registrados tenha se infectado entre 20 e 29 anos. A partir de 1998, obteve-se importante redução da ocorrência de casos novos de crianças com infecção por HIV/Aids por transmissão vertical. O número de crianças infectadas por suas mães caiu de 17, em 1997, para 5, 3, 4 e 3, respectivamente, em 1998,1999, 2000 e 2001.
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VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE AO HIV/AIDS José Ricardo De Carvalho Mesquita Ayres Gabriela Junqueira Calazans Ivan França Júnior Introdução O ensaio que se segue é fruto de um processo de investigação conceitual e empírica que os pesquisadores que o assinam vêm desenvolvendo desde meados de 1995. Recompila-se aqui urna serie de achados e reflexões que foram sendo produzidos e divulgados em diversos fóruns ligados à saúde, educação e comunicação social, entre outros. Os objetivos da pesquisa e da presente sistematização de resultados é ode examinar criticamente a situação que tem levado os jovens a se tornarem um dos grupos mais atingidos pela epidemia de HIV/AIDS no Brasil e em diversas regiões do globo. Tal situação se refere não apenas à situação concreta dos adolescentes em contextos sociais que o expõem ao problema, mas também aos conceitos e práticas de que dispomos para apreender e intervir sobre a situação. Para desenvolver tal proposição, começaremos por discutir o emergente conceito de vulnerabilidade. A análise da construção desse conceito, tomada aqui em estreita relação com o conceito de risco e seus correspondentes práticos, nos permitirá ampliar as possibilidades de apreensão e discussão do nosso tema. Já de posse de uma compreensão mais clara do conceito, passaremos a aplicá-lo à situação específica dos adolescentes, tomando como base, além de dados epidemiológicos disponíveis, os resultados de uma pesquisa por nós desenvolvida junto a adolescentes da periferia Oeste da cidade de São Paulo. Por fim, trataremos de discutir, também baseados no conceito de vulnerabilidade, senão propostos, ao menos certos princípios que nos parecem fundamentais para lograrmos um enfrentamento mais efetivo do problema da prevenção do HIV/AIDS entre os jovens. Raízes Do Conceito Originário da área da advocacia internacional pelos Direitos Universais do Homem. o termo “vulnerabilidade” designa originalmente grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na promoção, proteção ou garantia de seus direitos de cidadania (Alves, 1994). A expressão penetra mais amplamente o campo da saúde a partir da publicação nos Estados Unidos, em 1992, do livro AIDS in the World, parcialmente editado no Brasil em 1993 (Mann et al., 1993). Com efeito. o conceito de vulnerabilidade especificamente aplicado à saúde pode ser considerado o resultado do processo de progressivas interseções entre o ativismo frente à epidemia da AIDS e o movimento dos Direitos Humanos, especialmente nos países do Norte, levando a vulnerabilidade a deslizar para o discurso da saúde pública e a ganhar aí as feições particulares que vamos discutir. É a partir da Escola de Saúde Pública de Harvard que se difunde mais amplamente a discussão da vulnerabilidade, por meio da proposta de um diagnóstico das tendências mundiais da pandemia no inicio dos 90 com base no conceito e, mais recentemente, aproximando-o da discussão dos Direitos Humanos (Mann et al., 1994, 1996). Mas em torno da vulnerabilidade aglutina-se hoje uma gama já bastante ampla e diversificada de proposições, algumas até divergentes em termos político-ideológicos e teórico-filosóficos. O que todas têm em comum é o interesse pela ampliação de horizontes que a vulnerabilidade imprime aos estudos, ações e políticas voltadas para o controle da epidemia. Como nos diz Parker (1996, p. 5): “Talvez a mais importante transformação isolada em nossa maneira de pensar sobre HIV/AIDS no início dos anos 90 tenha sido o esforço de superar essa contradição (entre ‘grupos de risco’ e ‘população geral’) pela passagem da noção de risco individual a lima nova compreensão de vulnerabilidade social, passagem crucial não só para nossa compreensão da epidemia mas para qualquer estratégia capaz de conter seu avanço”. A resposta que a vulnerabilidade vem tentando dar à necessidade de extrapolar a tradicional abordagem individualista das estratégias de redução de risco pode ser mais bem entendida no âmbito das diferentes etapas históricas de experiência com a epidemia e suas correspondentes formas de resposta científica e técnica. Sabemos como o conceito epidemiológico
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de risco vem ocupando um papel nuclear nessas respostas e como as diversas categorias que a partir dele foram plasmadas para prevenção e controle da epidemia, como ‘grupo de risco’ e “comportamento de risco” , tornaram-se o centro de importantes contradições e conflitos (Kalichman, 1993; Ayres, 1994; Camargo Jr, 1994; Castiel, 1996). Por isso mesmo, será a partir dele que iremos entender mais claramente o significado teórico e prático da vulnerabilidade. Vamos, então, fazer uma breve recuperação de como se caminhou do risco à vulnerabilidade nesses cerca de 15 anos de epidemia, tomando como base à periodização que Mann e colaboradores adotam no seu texto mais recente, “AIDS no mundo II” (1996). Período Da Descoberta: 1981 — 1984 Este período corresponde aos primeiros contatos com a “nova entidade clínica” que veio chamar a atenção dos serviços de assistência e, especialmente dos centros de investigação epidemiológica, com as primeiras notificações nos EUA e na França. O uso do instrumental epidemiológico mostrou ter uma importância fundamental frente à epidemia emergente, dando-se logo início a uma série de estudos que passaram a buscar ativamente os fatores de risco associáveis à nova doença. Ocorre que os fatores de risco utilizados para os primeiros estudos epidemiológicos operaram um deslocamento discursivo de implicações práticas extremamente relevantes. De simples categorias analíticas — cujo significado original na metodologia epidemiológica refere-se à construção de associações regulares e estatisticamente significantes entre características possivelmente implicadas na produção do agravo em estudo, portanto apenas elementos probabilísticos instrutores do raciocínio causal (Ayres. 1997) — o fator de risco transmutou-se no conceito operativo de grupo de risco. Difundindo-se amplamente, em especial através da grande mídia, e agora não mais como categorias analíticas abstratas mas como verdadeiras categorias ‘ontológicas', como identidades reais, os chamados grupos de risco tornaram-se a base das poucas e toscas estratégias de prevenção preconizadas pelas políticas de saúde na época, que se mostraram tão equivocadas e ineficazes do ponto de vista epidemiológico quanto incitadoras de profundos preconceitos e iniqüidades. Os quatro Hs (homossexuals, hemophiliacs, haitians e heroin-addicts) passam a ser o primeiro alvo das estratégias de prevenção, e de exclusão. A prevenção gravitou, nessa época. predominantemente em torno dos grupos de risco e do tema da abstinência e do isolamento: não ter relações sexuais, não doar sangue, não usar drogas injetáveis. As implicações morais e os resultados práticos dessas estratégias são já bastante conhecidos: estigmatização, preconceito, individualismo, insucesso. O isolamento laboratorial do HIV por Montaigner, em 1983, e por Gallo, em 1984, pode ser considerado um marco final desta etapa, tanto pelas novas possibilidades tecnológicas que se abrem a partir do fato mesmo do isolamento, como porque, à época da descoberta, o fenômeno epidêmico e seu impacto social já eram quantitativa e qualitativamente diversos o suficiente para caracterizar uma nova fase da experiência com a epidemia. Período Das Primeiras Respostas: 1985 — 1988 Agora já se estava claramente frente ao caráter pandêmico da AIDS. A epidemia não respeitava mais limites geográficos, etnia, orientação sexual, feições culturais etc, O caráter transmissível já estava bem delimitado e seu agente etiológico isolado, com todas as implicações que isto tem para as práticas de saúde pública: detecção de portadores sãos, diagnóstico precoce de doentes, possibilidade de screenings, monitoragem de clínicas sentinelas, investimentos no desenvolvimento de vacinas, desenvolvimento de drogas para tratamento específicos. O conceito de grupo de risco entra em franco processo de crítica, de um lado pela inadequação que a própria dinâmica da epidemia demonstrava, de outro, pelos severos ataques que recebeu dos grupos mais atingidos pela estigmatização e exclusão que carreava consigo, especialmente do organizado movimento gay norte-americano. As estratégias de abstinência/exclusão cedem lugar ás chamadas estratégias de redução de risco, baseadas na difusão de informação, controle dos bancos de sangue, estímulo e adestramento para o uso de condom e outras práticas de “sexo mais seguro”, testagem e aconselhamento e, finalmente,
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estratégias de redução de danos para usuários de drogas injetáveis, com a polemica introdução das práticas de distribuição ou troca de agulhas e seringas (Bastos, 1996; Fernandez, 1997). O conceito chave aqui, também em estreita relação com o discurso epidemiológico, passa a ser o de comportamento de risco. A superioridade desse novo conceito em relação ao seu predecessor é evidente. Ele tende a retirar o peso do estigma dos grupos nos quais primeiro foi detectada a epidemia, universaliza a preocupação com o problema e estimula um ativo envolvimento individual com a prevenção. Mas o comportamento de risco também mostrou limites importantes como elemento norteador de estratégias de conhecimento e intervenção na AIDS. A tendência a culpabilização individual é a sua outra face: quando o comportamento do individuo é trazido para o centro da cena, a conseqüência inevitável é que se atribua à displicência, para dizer o mínimo, a eventual falha na prevenção. Mais uma vez, é da interseção com o movimento social organizado, de sua experiência de reflexão e militância, que se levantam algumas das mais expressivas vozes a criticar esse conceito, O movimento pelos direitos das mulheres, especialmente, traz, com a noção de empowerment (Batliwala, 1994; Heyzer, 1996), uma perspectiva critica positiva para os modelos cognitivistas que embasam os conceitos e práticas ligados ao comportamento de risco. A discussão do empowerment, termo para o qual não temos tradução adequada, mas que poderia se aproximar de algo como “empoderamento”, deixa claro que a mudança para um comportamento protetor na prevenção da AIDS não é a resultante necessária de “informação + vontade”, mas passa por coerções e recursos de natureza cultural, econômica, política, jurídica e até policial, desigualmente distribuída entre os gêneros, países, segmentos sociais, grupos étnicos, faixas etárias (Gupta, 1996). Além dos ataques que vêm dos setores críticos, dentro e fora do meio técnico e acadêmico, a experiência que vai se acumulando com a implementação de programas de prevenção de base comportamental fortalece a percepção dos limites dessas estratégias. Ao relativo insucesso demonstrado pelas avaliações desses programas somou-se, por sua vez, a explosão da epidemia rumo aos setores mais socialmente “desempoderados”, ou vulneráveis — os mais pobres, as mulheres, os marginalizados, os negros, os jovens —com a chamada “pauperização da epidemia” (Granjeiro, 1994; Kalichman, 1994; Buchalla, 1995). O conjunto desses aspectos marca a passagem a urna nova fase de respostas à epidemia, iniciada no fim dos anos 80. Período Atual: 1989 Aos Dias Atuais Nesse último período, a experiência da epidemia atinge suas feições atuais, A AIDS é uma realidade mundial, que alcançou de modo explosivo, nos últimos anos o sul asiático, como as análises de vulnerabilidade previram no inicio da década. Ao mesmo tempo em que se espalha geograficamente, a epidemia reitera sua tendência a pauperização, difundindo-se rapidamente nas periferias e bairros pobres das grandes cidades. Com os avanços tecnológicos do período e as possibilidades abertas pelo isolamento do agente viral, progridem rapidamente os recursos diagnósticos, prognósticos e terapêuticos, embora as pesquisas no campo profilático encontrem ainda limites importantes. No campo da diagnose/prognose, a grande estrela é a técnica de contagem de carga viral, que atinge alta sensibilidade e um poder preditivo da suscetibilidade orgânica dos infectados ao adoecimento muito mais efetivo que a contagem de linfócitos CD4, recurso mais utilizado até então. No campo da terapêutica, a grande novidade é o chamado “coquetel”, a combinação de anti-retrovirais com diferentes mecanismos de intervenção sobre o ciclo de multiplicação do HIV; embora de uso ainda recente, o coquetel já apresenta impactos sobre a taxa de ocupação de leitos de AIDS nos hospitais e sobre a mortalidade dos doentes, com grande repercussão na mídia. Ambos, entretanto, têm um custo financeiro altíssimo, tornando-se interditados justamente para os mais vulneráveis à infecção e ao adoecimento. Esses sucessos obtidos na perspectiva clínica não corresponderam, como era de se esperar, a um efetivo controle da epidemia, que, ao contrário. continua em expansão, especialmente nos países e segmentos sociais mais pobres (UNAIDS, 1997), o que, por sua vez, traz consigo o problema de sua “banalização” (Kalichman, 1994), isto é, da convivência complacente com o problema por parte dos segmentos mais poderosos, do arrefecimento da reação social e o correspondente descaso dos formuladores de políticas. É então que ganham
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mais espaço as proposições que vinham defendendo estratégias de prevenção que não se restringiam à redução individual de riscos, mas apontavam as estratégias de alcance social, ou estrutural, como indispensáveis para o controle da epidemia. Entre estas destaca-se a importância fundamental da ação comunitária, dos movimentos sociais organizados, os quais, como a própria historia da epidemia foi demonstrando, são agentes privilegiados das mudanças estruturais necessárias para que os recursos disponíveis para o controle da infecção e da doença sejam justa e efetivamente explorados (Altman, 1995; Galvão, 1996). Se David Ho e o ‘coquetel’ de medicamentos foram a grande estrela na cobertura jornalística da Conferência de Vancouver, essa espécie de balanço da experiência dos anos 90, não sem excesso de otimismo dizer, lendo-se o relatório final do ‘Track D’, onde os trabalhos relativos à dimensão social do problema foram debatidos, que os acúmulos nesse campo também não foram pouco importantes, nem menos estimulantes suas conclusões: ‘Uma outra mensagem ainda que se fez ouvir clara e forte foi que programas com abordagens não-restritas ao HIV são cada vez mais sustentáveis. Uma atenção muito mais vigorosa aos fatores estruturais relacionados à vulnerabilidade e ao impacto do HIV foi evidenciada nas apresentações sobre ‘empowerment’ de comunidades, como populações indígenas, gays, usuários de drogas injetáveis, trabalhadoras do sexo e mulheres’ (Mane, 1996. p. 4). “Vulnerabilidade” é o termo-chave, no relatório acima. Toda vez que aí se buscou relatar ou propor aproximações teóricas ou intervenções não-restritas ao HIV, ao risco, ao comportamento individual, às abordagens biomédicas, foi “vulnerabilidade” o termo preferencialmente escolhido. Também Mann e colaboradores, no texto de 1996, deixam clara sua posição de que o período atual é marcado, no campo da prevenção, pela emergência desse novo conceito. É nesse contexto que o conceito de vulnerabilidade se desenvolve. Ele pode ser resumido justamente como esse, movimento de considerar a chance de exposição das pessoas ao adoecimento como a resultante de um conjunto de aspectos não apenas individuais mas também coletivos, contextuais, que acarretam maior suscetibilidade à infecção e ao adoecimento e, de modo inseparável, maior ou menor disponibilidade de recursos de todas as ordens para se proteger de ambos. Por isso as análises de vulnerabilidade envolvem a avaliação de três eixos interligados: 1. Componente individual: diz respeito ao grau e à qualidade da informação de que os indivíduos dispõem sobre o problema; a capacidade de elaborar essas informações e incorpora-las ao seu repertório cotidiano de preocupações; e, finalmente, às possibilidades efetivas de transformar essas preocupações em práticas. 2. Componente social: a obtenção de informações, as possibilidades de metabolizar essas informações e o poder de incorpora-las a mudanças práticas não depende só dos indivíduos, mas de aspectos como acesso a meios de comunicação, grau de escolaridade, disponibilidade de recursos materiais. poder de influenciar decisões políticas, possibilidade de enfrentar barreiras culturais etc. Todos esses aspectos devem ser, portanto, incorporados às análises de vulnerabilidade. 3. Componente programático: para que os recursos sociais de que os indivíduos necessitam para não se expor ao HIV e para se proteger de seus danos sejam disponibilizados de modo efetivo e democrático é fundamental a existência de esforços programáticos voltados nessa direção. Quanto maior for o grau e a qualidade de compromisso, recursos, gerência e monitoramento de programas nacionais, regionais ou locais de prevenção e cuidado relativos ao HIV/AIDS ,maiores serão as chances de canalizar os recursos sociais existentes, otimizar seu uso e identificar a necessidade de outros recursos, fortalecendo os indivíduos frente à epidemia. Note-se que as análises de vulnerabilidade não prescindem das análises epidemiológicas de risco. Estabelecer associações probabilísticas da distribuição populacional da infecção entre diferentes condições objetivas mensuráveis, tais como sexo, idade, profissão, práticas sexuais etc., seguirá sendo sempre uma importante fonte de informações e hipóteses. Contudo, se o risco passa de uma categoria analítica abstrata ao desenho de práticas de intervenção sem as necessárias mediações, ai ele se mostra não só insuficiente como, freqüentemente, prejudicial. As análises de associação probabilística precisam comparar variáveis o mais possível independentes entre si, já as categorias de intervenção, ao contrário, precisam incorporar da forma mais exaustiva possível as mútuas interferências, a resultante conjunta dos diversos fatores envolvidos. É aqui que a vulnerabilidade vem trazer contribuições fundamentais.
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Foram as análises de vulnerabilidade dos diferentes países, realizadas pela Coalizão Global de Políticas contra a AIDS no início dos anos 90, que identificaram a extrema suscetibilidade dos sul-asiáticos, numa época em que a incidência nessa região era ainda insignificante prognóstico confirmado pelo alarmante numero de casos observados atualmente. São análises desta mesma natureza que nos permitem compreender os caminhos que a epidemia tomou até aqui e nos anteciparmos a seus passos futuros. São elas que mostram que os adolescentes são um dos grupos que se encontram mais vulneráveis e. portanto, merecedores de esforços programáticos especiais (Ayres, 1996; Paiva, 1996; Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 1994). Por que estão vulneráveis? Como os programas podem fortalecer sua capacidade de resposta ao problema? É o que procuraremos discutir a seguir. Adolescência E Vulnerabilidade Que os jovens são um grupo que vem apresentando alta vulnerabilidade os números já provaram sem deixar dúvidas. Estima-se que cerca de 50% das novas infecções pelo Hiv no mundo estejam ocorrendo em faixas etárias próximas ao período “teen”, o que significa cerca de 8000 novos casos por dia (UNAIDS, 1997). É muito. Se considerarmos, ainda por cima, a potencial atividade sexual e reprodutiva desse grupo etário, então o problema epidemiológico torna-se ainda mais preocupante. Em São Paulo, a faixa etária de maior incidência de casos notificados ainda é a de 30 a 34 anos de idade. Contudo, no período de 1980 a 987 ela era seguida pela de 25 a 29 anos, em terceiro lugar vinha a de 35 a 39, só então a de 20 a 24 anos, com cerca de 60% do número de casos da primeira. Em 1996 a faixa de 20 a 24 anos já se encontra em segundo lugar em termos de incidência e com quase 90% do número de casos da faixa de 30 a 34 anos (Boletim Epidemiológico, 1997). E de onde vem essa vulnerabilidade? Terá o jovem alguma característica biológica que o torna mais suscetível? Não, Será mais irresponsável, ou terá menos amor à vida que outros grupos etários, por isso expondo-se mais ao vírus? Também soa muito improvável essa explicação. Então por que estarão os jovens efetivamente mais expostos, ou tendo menos chance de se proteger? Há já uma série de interessantes estudos sobre o assunto que merecem ser consultados pelo leitor interessado. Para fins da presente reflexão, vamos nos referir mais restritamente a uma investigação que temos desenvolvido na região do Butantã, periferia oeste da cidade de São Paulo. Examinando a questão nos três ângulos acima citados (vulnerabilidade individual, social e programática), vimos que, perpassando-os todos, três grandes aspectos de vulnerabilização do jovem são notáveis. 1. Há informação, mas pouca comunicação efetiva sobre o assunto. 2. Há importantes barreiras que limitam o acesso a meios de proteção, de ordem material e cultural. 3. A margem entre satisfação, necessidades e risco tem se tornado extremamente estreita. especialmente entre as camadas mais pobres, configurando um grave quadro de pobreza de alternativas. Quanto à informação, e quem tem tido oportunidade de trabalhar com os jovens dos grandes centros urbanos já deve ler percebido isto, eles sabem muito sobre AIDS, mas, ao mesmo tempo, o muito que sabem diz pouco respeito àquilo que sentem e vivem no seu cotidiano. HIV, AIDS, camisinha, agulhas, é como se tudo isso fosse o conteúdo de uma disciplina escolar, uma matéria a mais que se aprende na escola. O fato é que, quanto a processos comunicacionais, caminhamos muito pouco na prevenção voltada para os adolescentes. Aliás, isso não é novidade, Os únicos que em nossos dias tem conseguido abrangência e efetividade de comunicação com os jovens são os formadores de mercado consumidor. A AIDS deu uma visibilidade inquietante ao fato de que nossos fóruns de comunicação “oficial”, a conversa entre nossas instituições sociais e seus cidadãos sobre aquilo que é de seu interesse para além do consumo de bens e serviços lucrativos. não tem incluído efetivamente os mais jovens. O acesso a meios de proteção contra o HIV também é um problema. Tome-se como exemplo a camisinha, um dos mais básicos entre esses meios, O jovem pode comprar? Quanto mais pobres e mais jovens, menos terão dinheiro disponível para comprar a camisinha. Na
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hipótese de terem o dinheiro, onde poderão comprar essa camisinha sem que olhares maliciosos e/ou reprovadores os persigam? Bem, então é melhor distribuir a camisinha como política para o grupo, Mas onde? A escola vai distribuir? Isso não vai “estimular a sexualidade à flor da pele” dos alunos, como se costuma argumentar? As unidades de saúde podiam ser uma alternativa. Mas quais, com a rede pública progressivamente estrangulada de recursos? E de que forma, se é ainda tão raro encontrar serviços de saúde dispostos a se adaptar às particularidades dessa clientela? Os adolescentes também não estão, de um modo geral, incluídos nas políticas de saúde. Como uma espécie de decorrência inevitável dos dois aspectos anteriores, a felicidade está freqüentemente muito perto do perigo para os jovens. Frente a processos comunicacionais pobres e pouco sensíveis, falta de estímulos e suportes sociais de toda a ordem, carência e indisponibilidade de recursos materiais, vai se tornando uma utopia o uso do discernimento e do juízo para encontrar as melhores alternativas (as mais seguras, dizemos quanto à AIDS) para a satisfação de necessidades, porque as chances de fazê-lo ficam sempre na base do “é pegar ou largar”. Correr risco é a alternativa que sobra a quem está vulnerável. Uma cena construída a partir de relatos de uma jovem, entrevistada em nossa pesquisa sobre a vulnerabilidade dos jovens no Butantã, São Paulo, ilustra de forma emblemática essa situação de falta de alternativa: Fim de tarde de um dia quente de início de dezembro numa favela da periferia oeste da cidade de São Paulo. Joyce. 14 anos, está debruçada na frágil divisória de madeira que separa o barraco onde moro da ruela de barro que desce até a movimentada avenida de asfalto. No barraco de um cômodo, dentre os poucos móveis velhos, destaca-se a imagem sorridente de seu irmão mais novo, Pedro, fatalmente atropelado na avenida vizinha. O retrato pende da parede mais importante da casa, aquela onde também está apoiada a televisão, Do lado contrário do cômodo a presença (triste? frágil? ameaçadora?) do padrasto, bêbado, deitado no chão feito do mesmo barro da rua, entretido em dizer coisas sem sentido. Joyce está de costas para sua casa, de frente para a rua, separada dela pelo muro improvisado com tábuas que já tiveram antes alguma outra finalidade talvez mais nobre. De um lado, meio de longe, vê o prédio pichado da escola pública que chegou a freqüentar por algum tempo. De outro, mais distante ainda, o horizonte recortado de prédios, onde, em algum lugar estará sua mãe cuidando de outra casa, certamente maior e mais cheia de móveis. Entre os passantes, o olhar de Joyce encontra o de João, que desce para a avenida com a urgência alegre dos que querem aproveitar o resto de dia que é seu. João corresponde ao olhar sem diminuir os passos. Sorri. É retribuído. O olhar insistente de Joyce o persegue, quase pedinte. Desacelera o passo. Percebe a respiração de Joyce suspensa, segurando momentaneamente aquele sorriso bonito, que volta a se soltar quando ele resolve parar dar meia volta e ir ao seu encontro. Os dois conversam. Encontram muitas afinidades. O tempo parece parar e logo já se tocam os lábios, o corpo de João fazem-na perceber o seu próprio como poucas vezes antes, até que Joyce é “despertada” por gritos e insultos na voz trôpega e embrulhada do padrasto. Aquela “pouca vergonha” ali devia parar não queria saber de “puta se esfregando em outro macho na porta de sua casa”. João quer reagir, mas Joyce teme a conhecida violência do padrasto. Os dois, então, saem dali apressados. Já no escuro da noite procuram a escola vizinha, o pátio atrás de suas paredes pichadas. “Escola de pobre, qualquer um entra.” Entram, Ali permanecerão até quase o amanhecer Transam quase a noite toda. Joyce acha que nem chegou a pensar em, AIDS ou em camisinha. O efeito mais poderoso que a cena acima parece exercer é o de expor a fragilidade, a quase ingenuidade, de nossas habituais aproximações ao problema da AIDS no modelo da redução de riscos. Joyce não se enquadraria em nenhum dos grupos de risco mais alardeados pela literatura — seja aquela especializada, seja a grande mídia, que vem acompanhando de perto essa epidemia. Não é homossexual, não é usuária de droga injetável, não recebeu transfusão, não é filha de portadora do vírus, não á profissional do sexo. Poder-se-ia dizer, em contrapartida que Joyce e João adotaram um comportamento de risco naquela noite de dezembro. Nenhum podia ter certeza do estado sorológico do outro, no entanto, tiveram relações sexuais desprotegidas, Não usaram a camisinha, potencializando uma
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eventual transmissão de vírus HIV de um para outro, ou mesmo o intercâmbio de cargas virais, no caso de ambos já estarem infectados, o que também seria prejudicial para sua saúde. Contudo, examinando-se a situação concreta de Joyce e João, é lícito perguntar, em primeiro lugar: é possível dizer que esses jovens “adotaram” comportamento de risco? É razoável atribuir o risco de infecção que ambos correram à livre adoção de um comportamento inadequado? Qual é o sentido prático de reduzir toda a complexidade de influências e condições envolvidos na cena acima descrita apenas ao momento em que João e Joyce “decidem” ter relações sem camisinha? E mais: onde estava o verdadeiro risco para aqueles jovens, no virtual e incorpóreo vírus HIV ou na concreta ameaça da violência a que ambos estiveram expostos? Que significados positivos, afirmativos da vontade de viver, estão igualmente associados à arriscada transa nos fundos da escola? De que recursos Joyce e João efetivamente dispunham para encontrar uma alternativa à “escolha” entre a negação da vida, oferecida detrás da cerca de tábuas e o arriscado, mas vital, encontro para além dos muros da escola? Não se trata aqui, obviamente, de aceitar o risco como condição constitutiva da pobreza, da miséria, da falta de recursos, mas, ao contrário, trata-se de não se conformar com a falta de alternativa — da qual o risco dos comportamentos é, então, apenas uma expressão. Trata-se de recusar essa compreensão parcial e individualista das chances de infecção e morte pelo HIV como um risco que as pessoas “decidem” correr, seja lá por qual razão, e, por conseguinte, recusar também como estratégia exclusiva ou privilegiada de prevenção o “convencimento” de cada indivíduo de que “precisa agir de modo diferente”. É claro o que trabalhamos aqui é apenas uma cena. É uma situação extrema que com suas cores fortes ilustra outras mais comuns e menos visíveis, embora de natureza semelhante, especialmente entre os jovens. É a freqüentemente estreita associação do arriscado com o necessário, o necessário restrito a poucas alternativas possíveis, essas possibilidades condenadas a se repetirem como necessidade. Não existe mais verdade na perversa dialética de risconecessidade apontada na história de Joyce e João que na de centenas de outros personagens igualmente reais, como os casais que “não podem” falar da camisinha sem ameaçar a estabilidade (?!) de suas relações; como os usuários de drogas que não trocam suas seringas para permanecer na segurança (?!) do seu anonimato; como os jovens que não podem comprar camisinha sem levar junto olhares, julgamentos, cobranças; como os jovens que simplesmente não podem comprar camisinha, e que nem por isso vão ter menos necessidade de transar. Quando só se pode escolher entre ser feliz correndo risco ou não ser feliz, o que a grande maioria de nós “escolhe”? O ponto que desejamos enfatizar é que existe, nos três aspectos de vulnerabilização acima levantados, um mesmo pano de fundo: exclusão. Exclusão dos processos comunicacionais, exclusão dos espaços institucionais, exclusão da cidadania plena. A epidemiologia e seus constructos, como o risco, vem, assim, revelar uma situação de base, uma condição social de que a AIDS é apenas uma das conseqüências. Quantas mais não estarão ai já instaladas, sem condições, não obstante, de ter a mesma visibilidade de que a AIDS dispõe hoje? A exposição via drogas, por exemplo. Não nos aventuraremos aqui pelo terreno das drogas senão na condição de quase-leigos. posto que não trabalhamos especificamente a questão do uso de drogas, Nem, por outro lado, desejaremos falar dos determinantes do uso da droga em si mesmo, mas do uso que expõe ao HIV/AIDS. Serão esses danos todos inerentes às drogas? Serão distribuídos uniformemente por todos os que usam droga? Embora não se disponha de evidencias empíricas definitivas sobre o assunto, não será difícil influir, com os conhecimentos de que já se dispõe, que a resposta é negativa para ambas as questões. Longe de querer fazer a apologia da droga, e sem desconhecer a influencia do componente propriamente fármaco-químico das diversas substâncias sobre as possíveis conseqüências dos seus usos, parece claro que a ocorrência dos efeitos indesejáveis do uso de drogas é largamente proporcional ao grau de exclusão de seus usuários. É claro que as elites usam drogas e alguns de seus membros padecerão de danos severos, enquanto existirão alguns que, mesmo nos meios mais desfavorecidos, farão um uso pouco prejudicial. Como fenômeno coletivo, porém, a exclusão parece continuar sendo um potente determinante de vulnerabilidade aos danos decorrentes do uso da droga.
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Façamos uma analogia. Substituamos a camisinha por agulhas e seringas estéreis como recurso preventivo. Pronto, encontraremos aqui os mesmos aspectos de vulnerabilização acima discutidos, intensificados, porém, em sua manifestação. Informação/comunicação sobre o problema: praticamente não há. Fala-se muito de sexo seguro mas não de injeção segura, salvo raríssimas exceções. Acesso aos recursos necessários para a injeção segura? Se para a camisinha há obstáculos, imagine-se para agulhas e seringas! Finalmente, a referida margem de manobra entre prazer e risco torna-se ainda mais estreita, já que a situação de usuário de droga não é apenas limitada em suas diversas possibilidades de exercício, mas negada mesmo, é clandestina. Enquanto tal, o risco associado ao seu uso deixa de ser um mal a evitar e se torna um preço a pagar, inexoravelmente. Para Uma Estratégia De Redução De Vulnerabilidade Retomando a diferenciação acima realizada entre os três momentos representados pelos conceitos de grupo de risco, comportamento de risco e vulnerabilidade, vale lembrar que as perspectivas de intervenção orientadas por cada uma destas formas de apreender os processos de disseminação da epidemia são também diversas entre si. Como apontado anteriormente, ao conceito de grupo de risco correspondeu a estratégia de identificar esses grupos e “isolá-los” do ponto de vista epidemiológico (o que, como já sabemos, gera outros isolamentos nefastos e não alcança o êxito desejado). À noção de comportamento de risco correspondem as estratégias comportamentalistas de redução de riscos por meio da informação e adestramento de habilidades. Aqui, o problema ético e político é a responsabilização individual, e o limite técnico é a dificuldade de mudar comportamentos. Interferindo em apenas um dos elementos que determinam comportamentos, a informação, deixa-se de lado a motivação e o poder para efetivamente mudálos, largamente dependente de aspectos relacionais e estruturais. Bem, chegamos à vulnerabilidade. E então, que estratégia preventiva corresponderá formulação do problema da AIDS em termos de vulnerabilidade? Não teria sentido aqui definir: a estratégia é x ou y. Trata-se de uma formulação ainda relativamente nova, com poucos acúmulos. Isso torna mais difícil perceber o modo como ela pode instruir concretamente nossas intervenções. Em relação às demais já temos o beneficio do tempo. Práticas “isolacionistas” são muito antigas em saúde pública. Mesmo a novidade das oficinas de sexo mais seguro, instrumento básico dentro das estratégias de redução de risco, levaram cerca de dez anos para serem desenvolvidas e mais amplamente difundidas. Então seria pedir demais da vulnerabilidade que ela já trouxesse de imediato o caminho das pedras. Mas a razão mais relevante para não nos aventurarmos a definir aqui essas intervenções é relativa à própria substância do conceito. O enfoque da vulnerabilidade vem justamente situar na base de nosso raciocínio “diagnóstico” a importância da interação dos diferentes aspectos individuais, sociais e programáticos para a disseminação do vírus, conformando situações particulares e dinâmicas, e revela, como vimos, o papel decisivo desempenhado aí pelo problema da exclusão. Ora, definir a priori e tecnocraticamente o caminho a seguir seria, então, jogar fora toda a argumentação que viemos realizando até aqui. Como definir uma estratégia, se os contextos sociais e programáticos, às vezes dentro de uma mesma cidade, como é o caso de São Paulo, são tão diversos? Como apostar na autonomia dos adolescentes sem estabelecermos já de saída quais serão suas necessidades e, mais importante, quais serão os caminhos para satisfazê-las? Isto não significa que devamos nos calar, abrir mão de qualquer autoridade como técnicos e profissionais do campo. Até onde podemos enxergar, essa omissão só serviria para perpetuar as estruturas e práticas de exclusão. Mas é patente que precisamos rever nossas formas de intervenção (Ayres, 1996). Dois princípios fundamentais parecem destacar-se, nesse sentido. O primeiro deles é assumir nosso papei de interlocutores e não de tutores na relação adolescentes/AIDS, Ou seja, nós, como profissionais, detemos um conjunto de habilidades técnicas, experiência, acesso a instrumentos e informações que certamente podem servir aos interesses dos jovens. Mas se essas habilidades, experiências, instrumentos, informações precisarem de nossa presença permanente e vigilante para serem postas em ação de nada servirão, posto que isso é irrealizável. Qualquer estratégia de redução de vulnerabilidade precisará ter no técnico um ativo facilitador do acesso a esses recursos. Porém, se o próprio adolescente não identificar quais, quando e de que forma
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precisa deles, toda a nossa “sabedoria” instrumental será desperdiçada, como um tesouro enterrado em alguma praia da qual não se possui o mapa. Em segundo lugar, dado que a exclusão que tem tornado nossos jovens vulneráveis não é restrita a algum tipo de bem ou serviço em particular, mas, como vimos, estende-se como negação de uma cidadania ampla mesmo, limitando alternativas nos diversos campos da realização humana, uma estratégia de redução de vulnerabilidade não pode ater-se a uma única esfera da socialidade. Intersetorialidade da intervenção seria, assim, um segundo princípio geral. Como podemos desejar que o jovem tenha acesso à informação para a saúde se ele não tem acesso a uma educação que o habilite a buscar informação? Como é possível buscar educação se essa se torna incompatível com a sobrevivência material? Como é possível sobreviver materialmente sem saúde? Inúmeros outros círculos viciosos como esses podem ser identificados quando se trata de promover e proteger a saúde desses adolescentes. Os exemplos da camisinha e das agulhas e seringas o ilustram. Quantas diferentes áreas de intervenção estão (ou deveriam estar) implicadas para que se chegue efetivamente a desempenhar uma prevenção efetiva! Bem, não é difícil perceber que a possibilidade de pôr em prática esses dois princípios depende de um movimento que deve ser o norte e a medida das estratégias de redução de vulnerabilidade: resposta social. Por resposta social entendemos uma ativa e genuína preocupação das comunidades envolvidas com o problema em questão e a construção solidária e sustentada de formas realistas e efetivas para superá-lo. Com efeito, não há como sermos interlocutores se os interessados não procurarem o diálogo. Não há como sermos profissionais da prevenção se os jovens não buscarem ativamente as informações e os recursos de que precisam para avaliar o quê e como fazer para proteger a si e ao outro da AIDS e de demais danos do uso de drogas. Por outro lado, se esse diálogo permanece restrito à esfera da saúde exclusivamente, ou da educação, ou do bem-estar social, ou da comunicação, e assim por diante, qualquer iniciativa de colocar em ação essa condição de sujeito não irá muito longe, pois encontrará rapidamente barreiras de outra natureza para sua realização. Podemos então sintetizar os diferentes conceitos epidemiológicos discutidos e suas correspondentes estratégias de intervenção no Quadro 1. A melhor expressão para o que deve instruir qualquer intervenção prática no sentido de redução de vulnerabilidade será, portanto. não mais a abstinência ou o isolamento, que orientaram as estratégias baseadas exclusiva-mente na noção de grupo de risco, nem tampouco a idéia restrita de mudança de comportamento, das estratégias instruídas apenas pela noção de comportamento de risco. A idéia reguladora das estratégias de redução de vulnerabilidade é resposta social. Com efeito, só há uma maneira de transformar o conjunto de condições e comportamentos que estão na base do risco de exposição à infecção pelo HIV/AIDS: é a assunção, pelo conjunto dos sujeitos sociais envolvidos, do caráter coletivo da epidemia e do esforço necessariamente solidário requerido para sua superação. Somente no momento em que o jovem tiver, efetivamente. chances de ver aberturas possíveis para sua vida e sua felicidade onde a chance de se expor ao HIV não seja o imponderável ou uma fatalidade, e que ele poderá aglutinar desejos e esforços no sentido de evitar a AIDS. Conceito Grupo de risco Comportamento de risco Vulnerabilidade
Quadro 1 Problema-alvo Contato infectado – suscetível Exposição ao vírus Suscetibilidade de grupo
. Resultado esperado. Barreira à transmissão. Práticas seguras Resposta social
.
1 “Identidade sócio-cultural e saúde na adolescência: auto-representação e vulnerabilidade à epidemia de H IV/AIDS entre meninas e meninos da periferia da cidade de São Paulo”, financiado pela Fundação MacArthur , Programa de População.
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DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS ECOS Conceitos Gerais A expressão “Doenças Sexualmente Transmissíveis” ou DST é usada para denominar todas as infecções transmitidas através de contato sexual, durante relação oral, vaginal ou anal sem proteção. Algumas também o são da mãe para o filho, antes ou durante o parto, e por transfusões de sangue contaminado. A maioria das DST afeta o aparelho genital masculino e feminino, sendo por isto também chamadas de “infecções do aparelho genital”. As infecções do aparelho reprodutor feminino incluem as sexualmente transmissíveis e as devidas, por exemplo, ao aborto ou ao parto feito sem condições de assepsia. Algumas DST, como a sífilis, a hepatite B e a infecção pelo HIV, podem afetar outras partes do corpo humano, como os olhos, a boca, o sistema nervoso, o reto ou aparelho urinário. Pelo menos 20 agentes infecciosos podem ser causadores de DST. Alguns são vírus, como no caso da aids e do herpes e, até o momento, não são eliminados com medicamentos. Mas as DST mais comuns e mais conhecidas, como sífilis, gonorréia, cancro mole, infecções por clamídia e uretrites não gonocócicas, são causadas por bactérias e podem ser completamente curadas. O impacto da aids está enfatizando a necessidade de prevenir e tratar outras infecções que, como o HIV, são transmitidas durante a relação sexual sem proteção. Isto porque a presença de uma DST aumenta o risco de infecção ou de transmissão do HIV quando um dos parceiros está contaminado. A Organização Mundial de Saúde estima que, anualmente, no mínimo uma em cada dez pessoas sexualmente ativas adquire uma DST. As DST têm impacto muito grande sobre a saúde da população, especialmente entre as mulheres e os bebês recém-nascidos. Nos países em desenvolvimento, as pessoas, em geral, têm dificuldade em buscar tratamento; é comum os serviços de saúde não existirem no local, serem de difícil acesso, ou apresentarem atendimento inadequado. Manifestações Clínicas As Doenças Sexualmente Transmissíveis podem ser divididas, de acordo com a forma de se manifestarem, em quatro categorias principais: • Doenças que causam úlceras genitais: sífilis, cancro mole, linfogranuloma venéreo e herpes genital. • Doenças que provocam corrimento vaginal: candidíase vaginal, tricomoníase, vaginose bacteriana e cervicite gonocócica e não gonocócica. • Doenças que provocam corrimento uretral: uretrites gonocócica e não gonocócica.
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Doença que provoca verrugas genitais e/ou anais: condiloma acuminado.
A cadeia de transmissão Tão importante quanto conhecer as DST é compreender como a ação educativa pode contribuir para a interrupção da cadeia de transmissão. Exemplo 1: um dos fatores que mantém a cadeia de transmissão é o período que uma pessoa se mantém infectada. Quanto maior e sem tratamento, maior é a chance de transmitir para um/a parceiro/a sexual. No entanto, se esta pessoa for bem informada e motivada para cuidar de sua própria saúde, ela procurará o posto de saúde para o diagnóstico e tratamento correto da DST que ela apresenta. Exemplo 2: quanto maior o número de parceiros/as sexuais que uma pessoa tem e não se protege, maior é o risco dela transmitir ou adquirir uma DST. Assim, mais uma vez, o/a multiplicador/a pode auxiliá-lo/a a evitar as DST através da motivação para o uso de preservativos.
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QUADRO 1 - Doenças que provocam úlceras genitais
DOENÇAS Sífilis
Cancro Mole
Linfogranuloma Venéreo ou Genital
Herpes Genital
MANIFESTAÇÕES Ferida indolor nos órgãos genitais, 2 a 3 semanas após a relação sexual (vaginal, anal, oral). Gânglios (ínguas) na virilha. Manchas em várias partes do corpo. Manifestações neurológicas e/ou cardíacas, tardiamente. Feridas pequenas e dolorosas, 2 a 5 dias após a relação sexual. Gânglios na virilha que podem se tornar purulentos. Feridas pequenas nos órgãos genitais, que podem não aparecer. Gânglios na virilha, 7 a 30 dias após o contágio. 2 a 3 semanas após, os gânglios se rompem com eliminação de pus. Gânglios em torno do reto podem ser atingidos. Febre e dor muscular. Pequenas bolhas nos órgãos genitais com ardor e prurido.
ALERTA - A lesão inicial pode desaparecer sem tratamento, o que não significa cura. - Mulheres grávidas com sífilis passam a doença para os/as filhos/as. - Na mulher freqüentemente as lesões se localizam no colo do útero, sendo indolores e não perceptíveis para ela. - Quando não tratada, pode haver estreitamento do reto.
- Desaparecem sem tratamento após 7 a 10 dias, o que não significa cura. Reaparecem em situação de stress. - Transmissão apenas durante o período de manifestações. Atenção: As DST que provocam úlceras ou lesões aumentam em até 18% a possibilidade de contrair o HIV durante o sexo sem preservativos. Lesões são uma porta de entrada para o vírus.
QUADRO 2 - Doença que causa verruga
DOENÇA Condiloma Acuminado (verrugas genitais)
MANIFESTAÇÕES Verrugas nos órgãos genitais e/ou no ânus. 2 semanas a 8 meses após o contágio.
ALERTA - É importante realizar o tratamento precoce. - Sem tratamento, aumento de tamanho exige cirurgia para erradicar a lesão.
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QUADRO 3 - Doenças que provocam corrimento vaginal
DOENÇA Candidíase Vaginal
Tricomoníase
Vaginose Bacteriana
Cervicite Gonocócica e Não Gonocócica
MANIFESTAÇÕES Corrimento vaginal esbranquiçado ( “nata de leite”) Prurido na região genital Ardor ao urinar Corrimento bolhoso, abundante, amarelo ou amarelo-esverdeado, mal cheiroso. Prurido e/ou irritação da vulva. Ardência e/ou dor ao urinar. Aumento da freqüência da micção. Corrimento cremoso, homogêneo, acinzentado. Odor fético. Ardor durante a relação sexual. Inflamação e infecção do colo do útero. Corrimento amarelado ou esbranquiçado. Urgência urinária, com dor (às vezes)
ALERTA - Pode acentuar-se na gravidez, diabetes e na vigência do uso indiscriminado de antibióticos
- Sintomas pioram após relação sexual e na menstruação. - 50-80% das mulheres infectadas não apresentam sintomas significativos.
QUADRO 4 - Doenças que provocam corrimento uretral
DOENÇA
MANIFESTAÇÕES ALERTA Uretrite Gonocócica A mais freqüente das DST. Não tratamento provoca (Gonorréia) Maior incidência - 15 a 30 anos. esterilidade, manifestações 2-10 dias após a relação sexual, neurológicas (meningite), infecções ardência e dificuldade para urinar. nos ossos e coração. Corrimento amarelado ou esverdeado, ou com sangue, ou francamente purulento. Mais abundante pela manhã. Uretrite Não 8 a 10 dias após relacionamento Apenas o médico pode Gonocócica sexual. estabelecer a diferença entre as Corrimento discreto ou abundante, duas uretrites. O tratamento é às vezes semelhante à gonorréia. diferenciado. Leve ardência ao urinar. Texto extraído do Manual do Multiplicador - Prevenção às DST/Aids - PN DST/AIDS Ministério da Saúde - 1996.
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Aids e o Sistema de Defesa do Corpo O corpo humano possui alguns mecanismos de proteção que tentam impedir que agentes invasores (bactérias, fungos e outros parasitas) entrem no corpo e provoquem doenças. O sangue é de fundamental importância para o sistema de defesa, uma vez que fazem parte dele os glóbulos brancos que identificam, combatem e destroem estes organismos agressores que entram no corpo. Para cada uma dessas funções existe um tipo específico de glóbulo branco. Um desses tipos é o linfócito, que identifica cada agente estranho que entra no organismo e produz uma substância, o anticorpo, que destrói o invasor. Em relação ao vírus da aids, infelizmente, as coisas não funcionam desta forma. Depois de alcançar a corrente sangüínea, o HIV é praticamente indestrutível. Apesar do organismo produzir anticorpos anti-HIV, eles não têm força suficiente para eliminá-lo. O linfócito T4 é o alvo principal do HIV, e justamente ele é o responsável pela coordenação do sistema imunológico. Este linfócito possui receptores superficiais específicos, chamados CD4, onde o HIV se acopla como uma chave a uma determinada fechadura. O CD4 é uma proteína que fica do lado de fora na superfície externa de algumas células do sistema imunológico. O HIV é auxiliado pela GP120, que é uma outra proteína que fica do lado de fora do HIV e que permite que o vírus grude na superfície externa das células de defesa. Ao entrar nos linfócitos, o HIV transforma estas células em verdadeiras fábricas de vírus. Os linfócitos acabam sendo destruídos e novos vírus são liberados para atacar novos linfócitos, recomeçando, assim, todo o ciclo. Quanto mais linfócitos forem atacados, menor será a capacidade do organismo de se defender, deixando-o sem condições de reconhecer adequadamente os agressores. AIDS COMO SE TRANSMITE • Relações Sexuais O vírus é transmitido por relações sexuais vaginais, orais e anais, pois se encontra no sêmen e no fluido vaginal. Recomenda-se o uso da camisinha em todas as relações sexuais. • Uso de seringa contaminada O uso comunitário de seringas por usuários/as de drogas ou de seringas contaminadas pode transmitir o vírus, pois ele é encontrado também no sangue. Por esta razão, recomenda-se o uso só de agulhas e seringas descartáveis. Esta recomendação é válida também para quem faz acupuntura e para tatuagens. • Transfusão de sangue Se o/a doador/a estiver contaminado/a, seu sangue levará o vírus diretamente ao sangue da pessoa que o recebe. É importante certificar-se que toda pessoa doadora tenha seu sangue testado e que na bolsa usada para a transfusão conste o carimbo de TESTADO. • Transmissão vertical Este tipo de contaminação se dá de mãe para filho/a . Pode acontecer enquanto o bebê estiver na barriga da mãe, ou na hora do parto ou ainda através da amamentação. O ideal seria que tanto o homem quanto a mulher fizessem um teste anti-HIV quando planejassem ter um/a filho/a .
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NÃO SE TRANSMITE Respirando o mesmo ar Bebendo da mesma bebida Comendo da mesma comida Usando a mesma roupa Usando os mesmos talheres Abraço Aperto de mão Beijo/Beijo na Boca Carícias Usando o mesmo batom Picada de insetos Usando a mesma privada Nadando na mesma piscina Sentando no banco do ônibus Cuidando de pessoas contaminadas Repartindo sabonete Repartindo toalha
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Como o HIV entra no corpo humano? O HIV tem, na verdade, poucos recursos para entrar no corpo humano. Como já vimos, esse vírus tem atração especial pelos linfócitos, presentes em grande quantidade no sangue e nos fluidos sexuais. Esses são os veículos do HIV. Nesses líquidos, o vírus está alojado dentro dos linfócitos e, por isso, ele está com força total. O HIV também já foi encontrado, em quantidade mínima, no suor, na lágrima, na saliva e na urina, onde geralmente se encontra sob a forma de “vírus livre”, isto é, ele está fora do linfócito. Por isso, nesses líquidos o vírus é muito frágil, não tendo capacidade para infectar. Quando o HIV sai do corpo de uma pessoa, ele “precisa”, rapidamente, se alojar em um novo corpo para sobreviver. Sendo incapaz de penetrar na pele íntegra, o vírus necessita de “portas de entrada” que permitam seu contato com a corrente sangüínea de outra pessoa. Isso pode acontecer através de transfusão de sangue ou de agulhas e seringas contaminadas, ou através da mucosa, de feridas ou cortes na pele. (A mucosa é uma espécie de pele bem fininha que reveste partes específicas do corpo, tais como a boca, a vagina e o ânus.) Dessa forma, as principais formas de transmissão do vírus da aids ocorrem através do sangue e das relações sexuais. Transmissão através do sangue A transmissão do HIV através do sangue acontece quando o próprio sangue ou instrumentos infectados atingem a corrente sangüínea de outra pessoa. Esse tipo de transmissão pode ocorrer através: • da transfusão de sangue e de seus derivados; • da utilização de agulhas e seringas não esterilizadas; • da placenta, ou na hora do parto (transmissão vertical); • do uso de instrumentos médicos e dentários não esterilizados; • do transplante de órgãos, inclusive de córnea; • o sangue da menstruação contém HIV. Transfusão de sangue O que normalmente se chama transfusão sangüínea consiste na transferência do sangue em si ou de seus derivados para outra pessoa. Tais derivados, chamados hemoderivados, são as hemácias, o concentrado de fatores de coagulação, o soro sangüíneo e as plaquetas. Mesmo na época em que a aids não existia, a transfusão de sangue já era uma fonte de riscos para a saúde. Doenças como chagas, hepatite e sífilis eram transmitidas durante a transfusão, caso o sangue não tivesse sido submetido aos testes adequados pelo banco de sangue. Com o surgimento da aids, esse descuido levou muita gente à morte, principalmente os hemofílicos, que necessitam freqüentemente de transfusões de componentes sangüíneos. De acordo com as Normas de Vigilância Sanitária e Tratamento das DST e aids, “o sangue, a partir da notificação dos primeiros casos de aids transfusional, passou a ser um fato de grande repercussão social e de extrema ressonância no país. Os jornais denunciavam o comércio de sangue e a sociedade exigia do poder estatal uma intervenção efetiva. Na verdade, a aids transfusional disseminou grande medo na população e conseguiu aglutinar um amplo movimento de luta pela mudança da atividade hemoterápica. Os/As profissionais da área de saúde, que já tinham consciência de que os problemas existiam desde longa data, e que várias doenças eram transmitidas pelo sangue, uniram-se a esses movimentos, apresentando modelos de organização do sistema. Sem dúvida, a situação alarmante a que chegou a atividade hemoterápica no país decorreu, a partir de 1967, quando órgãos públicos passaram a comprar o produto em bancos de sangue particulares, gerando uma grande especulação e exploração com o produto.
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Bancos de coleta operavam sem ética, sem padrão técnico aceitável e sem fiscalização. O comércio de sangue explorava doadores/as voluntários/as, tornando o sangue um veículo transmissor de doenças. Em 1980, organizou-se o Programa Nacional de Sangue (Pró-Sangue), propondo uma reorganização da atividade hemoterápica no país. A partir daí, foram construídos hemocentros estaduais e deu-se início a uma política em que o Estado assumia parte da responsabilidade na execução da atividade hemoterápica. Em 1988, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de Sangue e Hemoderivado (PLANASHE) com o objetivo de suprir a carência de medidas no setor, e implementar mudanças. Pouco antes, em maio de 1987, o Ministro da Previdência e Assistência Social e da Saúde, através da Portaria Interministerial n.º 14 de 18/05/87, tornou obrigatório a testagem sorológica para a detecção do vírus HIV no sangue e hemoderivados adquiridos com recursos previdenciários. Em janeiro de 1988, foi finalmente sancionada a Lei n.º 7.649, de 25/01/88, que estabelecia a obrigatoriedade do cadastramento dos/as doadores/as de sangue, bem como, a realização de exames laboratoriais no sangue coletado, dentre eles o teste anti-HIV. A lei foi regulamentada pelo Decreto n.º 95.721, de 11/02/88. Mas, só em 09/08/89 foi expedida a Portaria n.º 721 do Ministro da Saúde, dispondo sobre normas técnicas para a coleta, processamento e transfusão de sangue, componentes e derivados (essa Portaria foi alterada pela n.º 1376 de 19/11/93, hoje em vigor), proibindo a doação de sangue gratificada, dando cumprimento parcial ao § 4º da Constituição Federal, recentemente promulgada.” (Legislação sobre DST/aids no Brasil, PN-DST/AIDS, Ministério da Saúde, 1995). Como se prevenir dos riscos da transfusão sangüínea Evitar as transfusões de sangue e de seus derivados, caso não haja certeza de que foram testados. Quando a cirurgia é marcada com antecedência, é possível conversar com os/as profissionais do serviço de saúde e encaminhar pessoas conhecidas para fazer a doação, as quais terão o sangue previamente testado. É possível também que a própria pessoa que vai se submeter à cirurgia doe seu sangue, que ficará reservado para ser transfundido, caso seja necessário. É fundamental conversar com parentes e amigos/as sobre o problema da transmissão do HIV por transfusão sangüínea, para que eles/as possam acompanhar e fiscalizar se o sangue foi realmente testado, caso a pessoa não possa fazê-lo pessoalmente. Denunciar os hospitais ou serviços de saúde que não estão tomando os cuidados necessários com o sangue ou com os materiais que utilizam (agulhas, seringas, instrumentos cirúrgicos, etc.), junto à comunidade ou grupos a que pertence, às organizações que trabalham com prevenção da aids e, se possível, também através do rádio, dos jornais e da televisão. No caso de transplante de órgãos, deve-se exigir o teste diagnóstico do/a doador/a, para garantir que não estejam infectados pelo HIV. Como se prevenir da transmissão através de agulhas e seringas Para o uso de medicamentos injetáveis, seja na farmácia, no hospital ou posto de saúde, ou em casa, deve-se exigir sempre seringas e agulhas descartáveis novas, ou certificar-se de que a agulha e a seringa de vidro foram devidamente esterilizadas. Pessoas que tomam drogas injetáveis também não devem compartilhar agulhas e seringas. Na verdade, a melhor forma de evitar a infecção pelo vírus da aids é parar de usar drogas, porque, além desse risco, seu uso continuado comprovadamente debilita o mecanismo de defesa do organismo. Quando isso não for possível, é indispensável usar agulhas e seringas descartáveis, ou desinfetá-las com hipoclorito de sódio. Transmissão através da relação sexual Os fluidos sexuais do homem e da mulher são ricos em linfócitos, células prediletas do HIV. Durante uma relação sexual, normalmente ocorre troca de fluidos sexuais entre as pessoas
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envolvidas. Se nesses fluidos houver a presença de microrganismos - vírus, bactérias ou fungos eles poderão ser transmitidos para a outra pessoa. Inclusive o HIV. Fluidos sexuais femininos e masculinos Os fluidos sexuais da mulher são a lubrificação, as secreções vaginais, o muco cervical e a menstruação. A lubrificação é o líquido viscoso e transparente que umedece a vagina e a vulva quando a mulher se excita. É uma reação parecida com a sensação de ver uma comida gostosa e ficar com água na boca. Assim, a lubrificação aparece quando há desejo sexual. Ao contrário da lubrificação, que está relacionada com o processo de excitação sexual, as secreções vaginais e o muco cervical são líquidos viscosos que mudam de aspecto durante as diferentes fases do ciclo menstrual, facilitando ou dificultando a passagem dos espermatozóides para o interior do útero. A menstruação é o sangue que se desprende do útero a cada ciclo menstrual, todos os meses. Os fluidos sexuais do homem são a lubrificação do pênis (que aparece quando o homem está excitado) e o esperma - líquido viscoso e leitoso que sai do pênis quando o homem ejacula que é formado por espermatozóides, líquido prostático e líquido seminal. Se o homem ou a mulher estiver infectado/a, todos esses fluidos conterão grandes quantidades do vírus da aids. Sexo vaginal O sexo vaginal é quando o pênis penetra na vagina. Se realizada sem o uso da camisinha, é uma prática muito arriscada para os dois parceiros, porque ocorre troca de fluidos. A vagina é recoberta de mucosa, rica em vasos sangüíneos e, portanto, em linfócitos, as células preferidas pelo vírus da aids. Dessa forma, o HIV consegue alcançar a corrente sangüínea mesmo que a mucosa não apresente nenhum problema. Além disso, a penetração do pênis causa pequenos arranhões, quase invisíveis, que facilitam a entrada do HIV na corrente sangüínea. Alguns estudos indicam ainda que a chance de infecção é maior durante o período menstrual, tanto para o homem como para a mulher. Qualquer infecção vaginal - como corrimentos, por exemplo - aumenta ainda mais o risco de transmissão. Em geral, essas infecções provocam um processo inflamatório na parede da vagina, tornando-se uma porta aberta para a entrada do vírus. Se a infecção for acompanhada por úlceras ou pequenas feridas, como na sífilis e no herpes, o risco será ainda maior. É bom destacar que as condições de saúde no Brasil são precárias e que as infecções vaginais são muito freqüentes. O coito interrompido (tirar o pênis da vagina antes de gozar) não elimina o risco, pois o líquido que sai do pênis durante a excitação também contém linfócitos, sendo, portanto, um bom veículo para o HIV. Sexo anal O sexo anal é quando o homem coloca o pênis no ânus da parceira ou do parceiro. É uma prática muito arriscada para as duas pessoas, quando realizada sem camisinha. O ânus e o reto (parte final do intestino) são recobertos por mucosa, rica em vasos sangüíneos e, portanto, em linfócitos (as células prediletas do HIV). Além disso, durante a penetração, a mucosa tem muitas chances de sofrer arranhões ou pequenos cortes (que muitas vezes nem são percebidos), facilitando a passagem dos vírus que podem estar presentes no esperma. A transmissão no sentido inverso (do ânus para o pênis), embora menos freqüente, também é possível, pois o pênis é recoberto por uma pele muito fina e sensível, que muitas vezes apresenta pequenos arranhões ou cortes imperceptíveis ou invisíveis que funcionam como porta de entrada para o vírus. Sexo oral
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A pessoa que tiver feridas na boca e beijar ou chupar o pênis, o ânus, a vagina ou a vulva de outra, correrá o risco de ser infectada pelo HIV. Essa prática, chamada sexo oral, é considerada de menor risco pela maioria dos estudos, quando comparada ao sexo anal e vaginal. A transmissão pode acontecer se os fluidos sexuais masculinos ou femininos (inclusive o sangue menstrual) estiverem infectados pelo HIV e entrarem em contato com a corrente sangüínea da outra pessoa, através de pequenas lesões, mesmo invisíveis, existentes na boca. O risco de transmissão no sentido inverso é praticamente inexistente, pois a possibilidade de o vírus contido na saliva penetrar na outra pessoa através das mucosas da vagina, do ânus ou do pênis é quase nula. Isso porque a saliva não é um bom veículo para o HIV. Como evitar a transmissão sexual da aids Mesmo em tempos de aids é possível manter a saúde sexual, buscando práticas de menor risco de transmissão do HIV, isto é, práticas que impeçam a troca de fluidos sexuais entre as pessoas. Para isso, podem ser utilizadas barreiras como as camisinhas masculina e feminina, além de outros materiais de látex. Além disso, práticas sexuais sem penetração, como a masturbação, também são seguras. A criatividade e a erotização de outras partes do corpo, além dos órgãos genitais, são bastante saudáveis para se manter a vida sexualmente ativa com tranqüilidade. Aids e Imunização Básica A norma técnica de vacinação do Ministério da Saúde orienta que todas as vacinas podem ser administradas para as crianças assintomáticas soropositivas para o HIV. Em relação às crianças que apresentam também algum sintoma indicativo de aids, devem-se administrar todas as vacinas do calendário nacional de imunizações, exceto a BCG-ID. Ações de Vigilância Atualmente, o acompanhamento da epidemia é feito principalmente através da análise dos dados relativos aos casos notificados de aids. Estes dados possuem o inconveniente de retratar os modos de transmissão da epidemia de oito a dez anos atrás (tempo aceito como período de incubação). A análise dos dados relativos aos/às portadores/as do HIV traduz um quadro mais atual e mais fiel, já que estes indivíduos se encontram mais próximos do momento em que ocorreu a infecção. O uso de preservativos em relações sexuais deve ser sempre incentivado como instrumento importante de proteção individual e sobretudo coletiva, no que diz respeito à transmissão sexual do HIV. Esclarecimentos sobre os riscos do compartilhamento de agulhas e seringas devem ser atividades prioritárias junto aos/às usuários/as de drogas injetáveis, assim como ensinar a limpeza caseira desses utensílios com água sanitária e incentivar o uso de agulhas e seringas descartáveis e individuais. Todos os casos confirmados de aids deverão ser notificados à Vigilância Epidemiológica de aids do Estado, que passará as informações ao Ministério da Saúde - Programa Nacional de Controle de DST/AIDS. Creches e Escolas Não existe nem risco de infecção por contato social nem cuidados específicos a serem tomados pelas entidades, devendo-se adotar as Precauções Universais, caso ocorra acidente com sangue. Se a criança desenvolver aids, a freqüência às escolas e creches dependerá do parecer do/a médico/a que faz seu acompanhamento. Com relação ao caso de crianças soropositivas para HIV, a freqüência deverá ser normal. O Conselho Federal de Medicina se posiciona de acordo com a Portaria Interministerial 796, de 29/5/92, resumidamente transcrita a seguir: “Considerando-se que a limitação ou a violação de direitos constitucionais à saúde, à educação e ao trabalho de pessoas infectadas pelo HIV não se justificam, resolvem: Art. 1º - Recomendar a observância das seguintes normas e procedimentos:
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a realização de teste sorológico compulsório, prévio na admissão ou matrícula de aluno, e a exigência de testes para manutenção da matrícula e de sua freqüência nas redes pública e privada de ensino em todos os níveis, são injustificadas e não devem ser exigidas; da mesma forma, não devem ser exigidos testes sorológicos prévios à contratação e manutenção do emprego de funcionários e multiplicadores do departamento de ensino; os indivíduos sorologicamente positivos, sejam alunos, multiplicadores ou funcionários, não estão obrigados a informar sobre a condição à direção, a funcionários ou a qualquer membro da comunidade escolar; não deve ser feita a divulgação de diagnóstico de infecção pelo HIV ou de aids entre alunos, multiplicadores ou funcionários por qualquer pessoa da comunidade escolar que tenha conhecimento do caso.
Art. 2º - Recomendar a implantação onde não exista, e a manutenção e ampliação onde já se executa, de projeto educacional enfatizando os aspectos de transmissão e prevenção da infecção pelo HIV e aids, dirigido a multiplicadores, pais, alunos, funcionários e dirigentes das redes oficial e privada de ensino em todos os níveis”. Os testes diagnósticos Existem diferentes tipos de teste para o diagnóstico da aids, sendo os mais conhecidos o ELISA e o Western Blot. Esses exames detectam no sangue a presença de anticorpos contra o HIV (anti-HIV), ou seja, identificam se a pessoa entrou ou não em contato com o HIV, através da presença de anticorpos. O ELISA é o mais utilizado por ser mais prático e de menor custo. Entretanto, esse teste às vezes detecta outros anticorpos parecidos com o anti-HIV, dando um resultado positivo para pessoas que não entraram em contato com o HIV. Esses casos são chamados “falsos positivos”. Por isso, quando o resultado do ELISA é positivo, deve-se repetir o exame, com duas amostras de sangue e de preferência com outra técnica: o Western Blot. Embora a produção de anticorpos anti-HIV ocorra nas primeiras semanas após o contato com o vírus, são necessários pelo menos 3 meses para que eles possam ser identificados pelos testes disponíveis. Isso porque, só após esse período, há concentração de anticorpos suficiente para serem identificados. O período em que os testes não conseguem identificar a presença de anticorpos é chamado de “janela imunológica”. Por isso, mesmo sem o saber, uma pessoa já pode estar carregando consigo o vírus da aids. Tomar cuidados para se proteger e proteger as outras pessoas é, portanto, vital. Transmissão Vertical Esse tipo de transmissão ocorre quando a mulher contaminada pelo HIV passa o vírus para o bebê durante a gestação (através da placenta), na hora do parto, ou ainda durante a amamentação (através do leite materno). Atualmente, a possibilidade de uma gestante infectada transmitir o vírus ao/a filho/a varia de 30% a 50%. Durante a gestação, o feto recebe da mãe todas as substâncias necessárias à sua sobrevivência através da placenta. Assim, os anticorpos produzidos pela mãe são transferidos para o feto. Quando a mãe é portadora do HIV, ela produz anticorpos anti-HIV, que também passam para o feto através da placenta. Entretanto, nem sempre o vírus consegue ultrapassar a barreira placentária. É por isso que muitos bebês de mães soropositivas apresentam um teste positivo até um ano e meio de idade, sem estarem infectados. O teste, nesse caso, estará identificando os anticorpos anti-HIV da mãe que passaram para o bebê. Existe muita controvérsia sobre qual o tipo de parto adequado para a gestante soropositiva. Alguns estudos indicam a cesariana como a melhor opção para evitar o contato do bebê com o canal vaginal da mulher.
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A transmissão através da amamentação pode se dar porque o leite materno é rico em linfócitos (as células preferidas do HIV). Portanto, hoje em dia, não se recomenda amamentar bebês com leite de outras mulheres, a não ser com a certeza de que a doadora não esteja infectada. Assim como os bancos de sangue, os bancos de leite devem tomar precauções para evitar a utilização do leite contaminado. A transmissão vertical está tendo cada vez mais importância nas estatísticas de infecção por HIV, devido ao aumento do número de mulheres contaminadas, que já está em duas mulheres para cada homem. Entre as mulheres mais jovens, de 15 a 25 anos, esta proporção já está equiparada, ou seja, para cada homem existe igualmente uma mulher contaminada. Com o aumento da gravidez na adolescência e com a gravidez cada vez mais precoce, podemos deduzir facilmente que estas meninas não estão se protegendo nem da gravidez e que, portanto, também não estão se prevenindo da aids, o que resulta em mais jovens grávidas e portadoras do HIV. E a possibilidade cada vez maior do nascimento de bebês também portadores. Acontece que os estudiosos já concluíram que se mulher grávida faz tratamento com AZT durante o pré-natal e durante o parto, a possibilidade de transmissão pode cair, reduzindo a possibilidade de transmissão para até 8%. Por isso seria muito importante que, apesar de não ser obrigatório , todas as mulheres que pretendem engravidar fizessem o teste de HIV, para decidir com segurança se querem correr o risco, bem como as que já estão grávidas também fizessem o teste no início do pré-natal, para decidir sobre o tratamento e assim diminuir a possibilidade de transmissão para o bebê. É importante colocar que nem todos os médicos alertam para esta necessidade, porque este exame não é obrigatório ou por não estarem devidamente informados a respeito dos novos procedimentos para diminuição do risco da transmissão vertical. Neste caso, seria recomendável que a própria mulher solicitasse o teste. Alternativa de Amamentação Os Municípios podem obter leite artificial para as crianças de mães soropositivas, desde que seja incluído no seu Plano Municipal de Combate às Carências Nutricionais, estabelecido pelo novo modelo de financiamento de saúde, o Piso de Atenção Básica (PAB). Conforme Portaria n° 2409 do Ministério da Saúde, de 23 de março de 1998, é possível obter-se um adicional de até 50% para aplicação nas ações nutricionais consideradas epidemiologicamente relevantes. Dessa forma, os recém-nascidos, filhos de mães soropositivas, podem ser beneficiados com esse adicional, conforme cálculo estimativo de gestantes infectadas pelo HIV no município. Os recursos financeiros para incentivos às ações de combate às carências nutricionais serão repassadas aos municípios habilitados em qualquer uma das condições de gestão estabelecidas pelo Sistema Único de Saúde NOC SUS 01/96) e integrado ao Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Deverá ser elaborado um plano para combate às carências nutricionais do município de acordo com anexo lll da Portaria 2409. O plano deverá ser aprovado, em primeira instância, pelo Conselho Municipal de Saúde e pela Comissão de Intergetores (CIB). A disponibilização de alternativas de aleitamento materno é uma das ações que podem reduzir a infecção pelo HIV entre a população infantil, pois é mais do que comprovado a ocorrência do vírus no leite humano, bem como a sua transmissão por essa via, o que torna desaconselhável o aleitamento materno para os bebês de mães soropositivas. (REDE NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS EM HIV/AIDS N° 28/1998.) (Fonte - Manual DST/AIDS da Ecos. São Paulo. 1998.)
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REDUÇÃO DE DANOS Aline de Melo Soares Cecília de Farias Franco Vicença Paula Soares Querrer Redução de Danos é uma estratégia de Saúde Pública que contempla dois aspectos da sociedade atual: o consumo de drogas e a disseminação do vírus da aids (HIV/AIDS). A estreita relação entre estas duas questões criou a necessidade de uma nova abordagem que possibilitasse lidar de uma maneira mais humana e real com o binômio drogas/aids. Conceitua-se, pois, Redução de Danos como “uma tentativa de minimizar as conseqüências adversas do consumo de drogas do ponto de vista de saúde e de seus aspectos sociais e econômicos sem, necessariamente, reduzir este consumo.” Wodack e Sauders – 1995. A abordagem em relação ao uso de drogas, ao invés de trabalhar com conceitos já estabelecidos de “mundo das drogas” ou “luta contra as drogas”, conceitos estes que instigam condenações moralistas e preconceituosas, levando ao estigma e marginalização dos usuários, compreende o uso de drogas como uma questão muito maior, que leva em conta, além do aspecto pessoal, valores sociais estabelecidos. Do ponto de vista individual, há que se considerar os diferentes modos de consumo; as razões, valores, crenças e rituais relacionados a este consumo; os estilos de vida possíveis de serem vivenciados; e, do ponto de vista social, as variáveis sócioculturais, os aspectos psicossociais, econômicos, geográficos e comerciais. Neste enfoque, o uso de drogas deixa de ser visto como uma questão de polícia, para ser visto como uma questão da comunidade, que envolve a sociedade como um todo. Propõe-se um debate público e aberto que trabalhe com informações objetivas e verídicas; a criação de programas educativos que promovam a prevenção primária (para quem ainda não usa), secundária (para evitar a progressão do uso) e tratamento (para quem deseja parar de usar); e uma política pertinente que previlegie os direitos humanos de todo e qualquer cidadão. Para que isso aconteça, torna-se necessário uma mobilização da sociedade, através de seus segmentos organizados (associações esportivas, religiosas, comunitárias, de classes, etc.), instituições especializadas, governamentais e não governamentais e de organismos internacionais. Diante da constatação da necessidade, ou mesmo do desejo, de algumas pessoas continuarem a usar drogas, principalmente sob forma injetável, e do avanço da disseminação do HIV, do vírus das Hepatites B e C e de outras doenças de transmissão sanguínea e sexual entre esta população específica e sua rede de socialização, é que as ações de Redução de Danos incluem, além da troca de seringas, orientação e aconselhamento sobre o uso abusivo de drogas e sobre a transmissão do HIV; prevenção da transmissão sexual através da distribuição de preservativos e orientação sobre sexo seguro; estímulo ao uso individual do equipamento de injeção e encaminhamento dos usuários aos serviços de saúde. Intervenção Com Usuários de Drogas Injetáveis -Udi Projeto de Redução de Danos do Prd/Df O Projeto de Redução de Danos do DF – PRD/DF – ligado à Gerência de DST/AIDS da SES, iniciou suas atividades práticas em janeiro de 1999. Procurou seguir as diretrizes emanadas do Ministério da Saúde, cujo enfoque assemelha-se ao dos países que adotam políticas de Redução de Danos, sobretudo países da Europa e Austrália. Preconizam a prevenção da disseminação do HIV/AIDS e do vírus da Hepatite C entre usuários de drogas injetáveis–UDI. Poderíamos, contudo, perguntar: por que eleger esta população, UDI, como foco de atenção? Primeiramente porque, nesta época, no Brasil, com pequenas variações estaduais, em torno de 25% dos pacientes com aids apresentavam como forma de contaminação o compartilhamento de seringas. Além disto, os usuários de drogas injetáveis constituíam um grupo até então pouco conhecido em relação a hábitos e comportamentos. Não entravam nas estatísticas das áreas de saúde ou de outras que prestam atendimento ao público. Enfim, enquanto categoria, se é que assim se pode dizer, constituíam um grande enigma. Como abordar, então, estas pessoas tão pouco evidentes para a sociedade?
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Um grande avanço que a Redução de Danos trouxe foi chamar a atenção para a importância da parceria com pessoas que tivessem inserção entre a população alvo, UDI; que falassem a mesma linguagem, fossem aceitos como iguais e que acreditassem na possibilidade de se promover saúde para quem continuasse a se drogar. Este era o perfil do agente de saúde, a quem se configurou chamar de Redutor de Danos e que, muitas vezes, era um usuário de drogas. Sua missão seria estimular uma mudança de comportamento entre a clientela visada. Tal mudança consistia em não compartilhar seringas, em adotar cuidados de higiene na aplicação das drogas e um certo controle sobre o uso. Para tanto é necessário que se forneça os insumos para o assim chamado “uso limpo”: seringas descartáveis, que devem ser devolvidas após serem utilizadas, como garantia de retirada de circulação; frasco individual para diluição, “swab” para limpeza da pele, água destilada e garrote. Concomitante, a oferta de preservativos, pois não se pode deixar de considerar a transmissão por via sexual. Ao iniciarmos as atividades aqui em Brasília defrontamo-nos, inicialmente, com duas dificuldades: a primeira delas foi como fazer com que o próprio usuário acreditasse que as mudanças propostas fossem possíveis? Pessoas, quando excluídas socialmente, passam a não mais acreditar em si próprias; e não acreditam em mais ninguém. Sentem-se continuamente ameaçadas, e adotam uma postura de defesa permanente; não é sem motivo que assumem esta postura. Existe, realmente, uma ameaça constante, que está na percepção da ilegalidade de seus atos. Neste caso, qualquer aproximação de um estranho significa perigo. Quando se convive com uma situação de exclusão permanente, a contra-partida é excluir o outro que me exclui, reforçando, ainda mais, a vivência da exclusão. Este é um fator a ser superado para a criação do vínculo com o usuário de drogas. Somente o trabalho persistente, com presença rotineira no campo, sempre no mesmo dia da semana, no mesmo horário, viabiliza a aproximação. Quando isso acontece, tornase possível uma troca, uma interação. É o primeiro passo para a aceitação de que ele, cliente do programa, é uma pessoa importante, que tem direito à saúde. Neste momento é fundamental a presença do Redutor de Danos no campo, que acaba por servir de espelho. Outra dificuldade foi, e até certo ponto continua sendo, a interface com a polícia. As ações de RD são voltadas para usuários de drogas e acontecem, na maioria das vezes, em locais de uso e, até mesmo, de tráfico. Para nós, parece ser um tráfico pequeno, feito predominantemente pelos assim chamados “aviões” (traficantes de pequenas quantidades que fazem chegar, diretamente ao usuário, a droga por ele consumida). E onde há uso e/ou tráfico de drogas, há polícia. Como conviver com esta situação, como estabelecer a interface? Um procedimento que temos adotado, e que tem dado certo até então, é procurar compreender que cada um está exercendo seu papel. Enquanto nós, da área de saúde, promovemos ações que visam prevenir danos decorrentes do uso de drogas, reconhecemos que a polícia atua na repressão, que é uma outra abordagem em relação à questão das drogas na sociedade. Muitas vezes clientes do programa demandam encaminhamentos para submeterem-se a tratamentos e, até mesmo, para tentarem parar de usar drogas. Acontece também de recebermos convites para falar sobre prevenção ao uso de drogas, ainda que não seja esta a proposta da Redução de Danos. . Compreender que estas quatro abordagens: Repressão, Prevenção, Tratamento e Redução de Danos estão interligadas, e podem ocupar espaços comuns, tem sido importante. Ainda em relação à polícia temos o cuidado de, ao iniciar o trabalho em uma nova área, fazer um contato com o comandante do batalhão local. Divulgamos o programa e pedimos colaboração no entendimento de que trabalhamos com insumos de promoção de saúde e não de incentivo ao uso. Ao longo destes quase quatro anos de trabalho temos observado: • O usuário de drogas, mesmo quando muito comprometido, é passível de apresentar mudanças de comportamento, readquirir sua auto-estima e se reintegrar socialmente. Para que isso ocorra é necessário que ele se sinta ouvido, respeitado enquanto indivíduo e tenha acesso a serviços públicos que possibilitem exercer seus direitos de cidadão. Enfatizamos, principalmente, a importância do ingresso à escola, à profissionalização e ao trabalho. Talvez essa seja a maior dificuldade neste caminho de reintegração social. É freqüente o usuário ter, no tráfico, sua forma de sustento. A Redução de Danos, indiretamente, acaba por desestimular esta prática. O que fazer, como se manter quando se parou de usar, ou quando se faz um uso sob controle? Como sensibilizar a família, quando essa estiver presente, para colaborar neste processo?
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Como promover o retorno à escola sem que persista a questão do estigma e do preconceito? Apesar da ênfase inicial de Redução de Danos ter sido voltada para usuários de drogas injetáveis, não foi possível deixar de olhar os usuários de outras drogas. Embora não compartilhem seringas, expõem-se a riscos na prática do sexo sem proteção, no exercício do sexo como profissão quando sob efeito de drogas e em outras situações mais. A redução de danos acontece de acordo com a situação com a qual nos deparamos no campo. Foi necessário ampliar as ações para outras populações também expostas a riscos. O uso de drogas se inicia numa fase cada vez mais precoce, de maneira recreativa ou já de uma forma pesada. O aparecimento de derivados da cocaína, como a merla e o crack têm, em muito, contribuído para o grave comprometimento da saúde do usuário; tanto nos aspectos físicos e emocionais quanto sociais. Constata-se a associação entre o uso de drogas e a prostituição, principalmente entre adolescentes. Nestes casos, a falta de cuidados em relação à prática do sexo seguro é mais freqüente; provavelmente relacionado, também, às próprias características desta fase, quando a percepção de risco se faz mais distante e a responsabilidade ainda não se encontra bem desenvolvida. Outro fator de risco importante é quando o sentimento permeia a relação sexual; é comum, como prova de amor e confiança, o não uso do preservativo com aquele que é eleito para a relação de afeto. Observamos, ainda, uma constante migração das populações vivendo em situação de risco, o que dificulta o estabelecimento de vínculo com serviços que se mantêm fixos. Clientes que habitualmente abordamos numa determinada área, de repente desaparecem, vindo a ser encontrados, tempos depois, em lugares distantes do inicial.
Diante de exposto, reconhecemos a importância do estabelecimento de parcerias com outras entidades que trabalhem com populações em situação de risco. Da mesma forma que estas populações tecem entre si uma rede que inclui uso/tráfico de drogas, prostituição, evasão escolar, não participação no mercado de trabalho, situações essas que acabam por reforçar a exclusão social, o movimento inverso, que conduza ao resgate da cidadania, com acesso a equipamentos sociais, reintegração à família e à sociedade, só será possível através de uma rede de proteção que possibilite que isso aconteça. (Participação no Seminário da Gerência de DST/AIDS – dezembro de 2002)
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PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS REDES SOCIAIS: UMA NOVA FORMA DE PREVENIR Paulina Vieira Duarte Déborah de Oliveira Cruz Introdução O conceito de rede social “como um conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros indivíduos” (BARNES, 1987) vem se ampliando dia a dia, na medida em que se percebe o poder da cooperação como atitude que enfatiza pontos comuns em um grupo para gerar solidariedade e parceria. O homem, como ser social, estabelece sua primeira rede de relação no momento em que vem ao mundo. A interação com a família lhe confere o aprendizado e a socialização, que vão se estendendo para outras redes sociais. É através da convivência com grupos e pessoas que se moldarão muitas das características pessoais determinantes da sua identidade social. Surgem neste contexto, o reconhecimento e a influência dos grupos como elementos decisivos para a manutenção do sentimento de pertinência e de valorização pessoal. Todo indivíduo carece de aceitação e é através da vida em grupo que ele irá externar e suprir esta necessidade. Os vínculos estabelecidos tornam-se intencionais, definidos por afinidades e interesses comuns. O grupo, então, passa a influenciar comportamentos e atitudes funcionando como ponto em uma rede de referência composta por outros grupos, pessoas ou instituições, cada qual com uma função específica na vida da pessoa. Na prática, estas interações positivas e negativas são constitucionais. O ambiente poderá intensificá-las ou diminuí-las, de acordo com o surgimento de novos interesses e necessidades. É o equilíbrio dessas interações que vai determinar a qualidade das relações sociais e afetivas do indivíduo com os pontos de sua rede, quais sejam: a família, a escola, os amigos, os colegas de trabalho, dentre outros. Assim, o indivíduo pode constituir e ou fazer parte de uma rede cujo padrão de interação poderá ser: • positivo – privilegiando atitudes e comportamentos que valorizam a vida. • negativo – marcado por atitudes e comportamentos de agressão à vida. É importante salientar que o padrão de interação nem sempre se dá de forma estanque. Dificilmente uma pessoa irá se relacionar de forma totalmente negativa ou positiva. Objetivos das Redes Sociais • • • • •
Favorecer o estabelecimento de vínculos positivos através da interação entre os indivíduos; Oportunizar um espaço para reflexão, troca de experiências e busca de soluções para problemas comuns; Estimular o exercício da solidariedade e da cidadania; Mobilizar as pessoas, grupos e instituições para a utilização de recursos existentes na própria comunidade; Estabelecer parcerias entre setores governamentais e não-governamentais, para implementar programas de orientação e prevenção pertinentes a problemas específicos apresentados pelo grupo.
A construção da rede somente poderá ser concretizada na medida em que se associam os princípios da responsabilidade pela busca de soluções com os princípios da solidariedade. É preciso que cada cidadão busque, dentro de si, o verdadeiro sentido da gratificação pessoal através da participação.
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Ao profissional compete potencializar a força natural dos indivíduos e da comunidade em ações para a formação e fortalecimento de redes voltadas à garantia de acesso aos direitos sociais e ao exercício da cidadania. Características a serem identificadas e desenvolvidas no trabalho de rede Acolhimento - capacidade de acolher e compreender o outro, sem impor ou impor-se quaisquer condições ou julgamentos; Cooperação - demonstração do real interesse em ajudar e de compartilhar na busca das soluções; Disponibilidade - demonstração e associação a um compromisso solidário; Respeito às diferenças étnicas, religiosas, econômicas e sociais - reconhecimento e consideração pela diversidade; Tolerância – capacidade de suportar a presença ou interferência do outro sem sentimento de ameaça ou invasão; Generosidade – demonstração de um clima emocional de afetos positivos (apoio, carinho, atenção, "dar" sem exigir retorno). Na figura abaixo, um exemplo da articulação de características.
C o o p e ra ç ã o
A c o lh im e n to
R e s p e ito à s d ife re n ç a s
D is p o n ib ilid a d e G e n e ro s id a d e T o le râ n c ia As Redes Sociais e a prevenção ao uso de drogas O uso de drogas tem se revelado importante problema de saúde pública com enorme repercussão social e econômica para a sociedade contemporânea. Não obstante os esforços do poder público e da sociedade civil na busca de alternativas, o aumento do consumo e a precocidade com que os jovens vêm experimentando variados tipos de drogas, alertam especialistas numa direção comum: É preciso prevenir! Prevenir no sentido de educar o indivíduo para assumir atitudes responsáveis na identificação e no manejo de situações de risco que possam ameaçar a opção pela vida. Esta visão de prevenção enfatiza a adoção da educação não apenas como um "pacote" cumulativo de informações sobre drogas, mas como um processo contínuo de aprendizagem voltado ao desenvolvimento de habilidades psicossociais que permitam ao indivíduo um crescimento social e afetivo equilibrado.
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A articulação de diferentes pontos da rede social pode otimizar espaços de convivência positiva que favoreçam a troca de experiências na identificação de situações de risco pessoal e possíveis vulnerabilidades sociais, observando que, segundo a Organização Mundial de Saúde OMS, está mais sujeito a usar drogas quem: • não tem informações adequadas sobre as drogas • está insatisfeito com sua qualidade de vida (falta ou excesso) • é pouco integrado na família e na sociedade • tem fácil acesso às drogas Alguns fatores de risco e proteção ao uso de drogas RISCO PROTEÇÃO Ambiente familiar negativo ou confuso. Presença de vínculos positivos na família. Uso abusivo ou dependência química nos Presença marcante dos pais na vida, nos pais. interesses e na definição de regras de comportamento e convivência dos filhos. Indiferença ou pouco monitoramento por parte Desempenho escolar satisfatório. dos pais na vida dos filhos. Problemas de aprendizagem rendimento escolar. Ligação com pessoas que problemas de comportamento.
e
baixo Adoção de regras sociais convencionais quanto às drogas e seu consumo.
apresentam Participação em grupos ou comunitárias de socialização.
associações
Dificuldade de acesso às drogas. Fonte: Slobda & David, 1997. A participação comunitária O impacto da participação num projeto social transcende o suprimento de carências, pois a vivência comunitária é veículo para a ampliação da visão de mundo, a geração de conhecimentos, o exercício da cidadania e a transformação social. Na ação comunitária, a ideologia preponderante é a cooperação, cuja força se dá no estabelecimento de uma corrente solidária na qual cada pessoa é importante na sua necessidade ou na sua disponibilidade para ajudar. As soluções participativas mobilizam as ações de responsabilidade partilhada, a formação e o estreitamento de parcerias e a otimização dos recursos já existentes na comunidade, possibilitando o desenvolvimento de trabalhos nos três níveis de prevenção ao uso de drogas: Prevenção Primária numa abordagem que valorize a vida para: • evitar o uso experimental. • diminuir o uso esporádico. Prevenção Secundária como forma de resgatar aqueles comprometimento no desempenho dos seus papéis sociais para: • diminuir o uso regular. • evitar o uso abusivo.
que
já
tem
algum
Prevenção Terciária como elemento facilitador da reinserção social através do: • tratamento para abuso e dependência. O Programa Social da Mangueira é exemplo vivo de que ações comunitárias podem integrar inúmeros pontos de uma rede de referência que vai além de evitar o envolvimento de crianças com o crime e as drogas. Ele confere aos participantes melhoria real de escolaridade,
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empregabilidade e condições de saúde, tudo isso associado ao livre exercício da criatividade através da educação, da arte, da cultura e do esporte. Veja destaque abaixo. Programa Social da Mangueira Para afastar suas crianças e adolescentes do envolvimento com as drogas e com a marginalidade, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no município do Rio de Janeiro (RJ), decidiu implantar, em 1987, o Projeto Olímpico. Idealizado pelo professor Francisco de Carvalho, aproveita os atrativos que o esporte exerce sobre os jovens como instrumento de integração social e desenvolvimento físico e psíquico. Oferece-lhes oportunidades de crescimento pessoal e profissional, além de ajudá-los na conquista de uma saúde melhor. O projeto inicial englobou outros, que tinham caráter semelhante, e todos juntos compõem o Programa Social da Mangueira: Projeto Olímpico Primeiro a ser implantado, funciona na Vila Olímpica. Seus participantes têm recebido inúmeras medalhas e troféus. O candidato a uma vaga tem que estar matriculado e freqüentando a rede pública de ensino. As modalidades oferecidas são: atletismo, ginástica rítmica e olímpica, futebol de campo, futebol de salão, voleibol, basquete, handebol e natação. Projeto Educação
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Envolve sete subprojetos: CIEP "Nação Mangueirense" - Oferece ensino fundamental da 5 a a 8a séries e ensino médio, além de inúmeras oficinas desportivas e culturais, como capoeira, ginástica rítmica, informática, natação e outras. O índice de escolaridade no Morro da Mangueira subiu, num período de dez anos, de 40% para 95%. CAMP - Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro – Objetiva preparar adolescentes para o mercado de trabalho. O aluno recebe aulas de iniciação ao trabalho, telemarketing, orientação sexual, higiene e saúde, português e matemática. Já beneficiou cerca de cinco mil jovens, através de convênios com aproximadamente 170 empresas. Orquestra Afro-Brasileira - Formada por 100 músicos de 7 a 16 anos, que contam com bolsa de US$ 50 por mês. As atividades enfatizam a percussão e a profissionalização. Busca-se atenuar o problema da violência, utilizando uma prática democrática de ensino em que os alunos percebem os benefícios da convivência pacífica. Faz apresentações em todo o País e já gravou um CD. Informática - Destina-se a crianças que já tenham cursado a 6a série. Os alunos aprendem DOS, Windows, Word, Excel e Internet, durante cinco meses. Oficinas Profissionalizantes - Criadas para atender pessoas entre 14 e 50 anos, através de seus cursos de cabeleireiro, estética facial e corporal e de etiqueta. Mangueira do Amanhã - É uma escola de samba composta por crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, nos mesmos moldes da Mangueira. A proposta é manter as crianças em contato permanente com suas raízes e tradições. Clube Escolar Mangueira - Oferece a alunos da rede municipal, mesmo àqueles de fora da comunidade, 21 oficinas gratuitas, ministradas por 13 professores.
Projeto Resgate da Cidadania •
Castelo Branco-Mangueira - Parceria em que a universidade presta diversos serviços à comunidade, tais como jurídicos, de assistência social, esportivos, recreativos e culturais.
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Barracão Mangueira - Instalado no centro da cidade, acolhe crianças, adolescentes e idosos moradores de rua. Oferece oficinas que buscam a reintegração dessas pessoas às famílias e à sociedade.
Projeto Saúde Criado em parceria com a iniciativa privada, o Posto de Saúde oferece assistência odontológica para crianças, clínica médica, pediatria, ginecologia e laboratório de análises clínicas, além de atividades especiais com gestantes, mulheres na menopausa e hipertensos. Registra dois mil atendimentos mensais. Fonte: Síntese do texto de: Antônio José Faria da Costa e Janaína Valéria de Mattos, publicado no DICAS: http://federativo.bndes.gov.br/dicas/F04%20-20mangueira.htm Bibliografia ARATANGY, L.R. Desafios da convivência - pais e filhos. São Paulo, Gente, 1998. BARNES, J.A. Redes Sociais e processo político. In: Antropologia das sociedades contemporâneas. São Paulo, Global, 159-194, 1987. DUARTE, Paulina. Reinserção Social. Curso Nacional de aprendizado a distância. Secretaria Nacional Antidrogas e Universidade de São Paulo FALEIROS, V.P. Estratégias em serviço Social. São Paulo, Cortez, 2001. GOVERNO FEDERAL, Estudo Qualitativo: as redes sociais e as representações de risco entre usuários de drogas injetáveis. Série Avaliação - Projeto Ajude Brasil. Disponível em: www. aids.gov.br/final/biblioteca/avaliacao6/ajude_71.htm-19kMIRANDA, C.F; MIRANDA, M.L. Construindo a relação de ajuda. Belo Horizonte, Crescer, 1983. OPAS, Redes locales frente à la violencia familiar. Série: Violência Intrafamiliar y salud. Documento de Análise nº 2. La asociación de solidariedad para países emergentes. Peru, junho de 1999. SLOBDA, Z; DAVID, S.L. Preventing drug use among children and adolescents: a research-based guide. National Institute on Drug Abuse - NIDA. nº 99, 1997. Disponível em: www. nida.nih.gov/prevention/prevopen.html Endereços Eletrônicos Para Pesquisa E Informação: http://www.sp.senac.br/redessociais http://www.telesp.com.br/fundacao/not_social.htm http://www.fundabrinq.org.br/peac/ Filmes Indicados "A corrente do bem", 2000. Direção: Mimi Leder "Todos os corações do mundo", 1995. Direção: Murilo Salles
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FAMÍLIA: PRIMEIRO PASSO PARA A PREVENÇÃO Maria do Perpétuo Socorro Miranda Torres1 “... As pessoas devem ser educadas para a vida, porque aí os ensinamentos vão lhes valer para sempre...” Domenico Masi Pesquisa do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná(1998), nos mostra que dos 900 jovens entre 14 a 20 anos entrevistados, 44% (397) apontam a família como fator mais influente na sua formação. A seguir a escola 37,6%, a TV 13,4% e a religião 4,6%. Isso demonstra a importância da família. E, seja qual for o tipo de organização que ela tenha, têm condições, poder e competência para construir uma família de qualidade. Ao pensar nessa premissa estamos afirmando que ela é o primeiro passo para a prevenção e que não existe local melhor para realizarmos ações preventivas, pois ela é o lugar por excelência para se educar para a vida. Mas, para consolidarmos essa idéia, precisamos acreditar que a família tem competência e capacidade de promover mudanças verdadeiras no seu sistema e no sistema social. Temos uma forte tendência a acreditar que jovens problemáticos são um resultado da família, que ela seria a causadora do problema ou pelo menos, um fator de risco. Isto porque, algumas idéias pré-concebidas dificultam nossa percepção do lado saudável da instituição familiar. Necessário é, então, refletirmos sobre algumas dessas idéias negativas, tais como: “a família acabou e a sociedade não mais teria necessidade dela” “a família atual é muito diferente daquela de nossos pais e avós. Hoje prepondera o individualismo” “a família é um lugar onde se gesta muita neurose” “a família é um verdadeiro inferno porque ali há muitas brigas” “a família é uma instituição falida”.......... e por aí adiante. Aceitar esses conceitos assim, como verdades, sem avaliá-los, é perigoso e pode ser fatal. Sendo assim, proponho o aprofundamento da discussão acerca do papel da família no contexto social e suas propriedades. Para tanto, exporemos nesse texto algumas concepções teóricas sobre ela, abordaremos a sua relação com o uso de drogas, mostrando algumas pesquisas, e para concluir traremos algumas orientações que podem ajudar as famílias no enfrentamento do problema, a descobrir e potencializar suas capacidades bem como criar seus próprios instrumentos para agir de forma preventiva. Conceito de Família Segundo Raquel Soifer família pode ser definida como estrutura social básica, com um jogo diferenciado de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado, em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual se vai desenvolvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a situação narcísica(relação eu comigo) e transformar-se em um adulto capaz(relação eu com o outro). Outros autores afirmam que a família é a base da sociedade e garantia de uma vida social equilibrada, célula sagrada que deve ser observada. Daniel Goldeman define a família como sendo a nossa primeira escola de aprendizado emocional, o que vem ao encontro do que afirma o psicólogo Ivan Capellato em um de seus artigos que: a família é a única instituição afetiva, pois nela os laços são construídos através do afeto. Com base nessas afirmações, podemos dizer que a família é a matriz onde o indivíduo forma sua identidade e por ela filtra a cultura, as normas e as regras éticas da sociedade em que vive. E que a família é o primeiro espaço de convivência humana.
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Psicóloga, psicodramatista.
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Objetivo da família A família persegue como objetivo primordial a defesa da vida por meio do processo de educação, dando primazia ao ensino das ações tendentes a preservar a vida, em ampla gama que abrange desde as noções relacionadas com o cuidado físico, o desenvolvimento da capacidade de relacionamento familiar e social, a aptidão para atividade produtiva e para a inserção profissional, e a transmissão e a criação de normas culturais destinadas à convivência em geral. Funções da Família Podemos sintetizar as funções básicas da família em duas : ensino e aprendizagem. Durante os primeiros anos de vida o ensino cabe totalmente aos pais, ao passo que corresponde às crianças a função de aprender. A partir da entrada na escola fundamental, os filhos começam a trazer ensinamentos obtidos na escola, que transmitem aos pais. Tal situação começa a se ampliar na escola secundária e através da frequência a outros ambientes, nos quais os adolescentes vão aprendendo noções relacionadas com o progresso científico. A partir da primeira juventude, a relação ensino-aprendizagem se equilibra entre pais e filhos, por partes iguais, como é de praxe em todo relacionamento humano. As áreas abrangentes das funções de ensinar, que a família exerce, são: • Ensinar o cuidado físico; • Ensinar as relações familiares; • Ensinar a atividade produtiva e recreativa; • Ensinar as relações sociais; • Ensinar as relações afetivas; • Ensinar a inserção profissional (relações de trabalho); • Ensinar como formar e consolidar uma nova família. Tipos de famílias Existe hoje uma família ou existem vários tipos dela? Estudando esta questão fundamental, a Organização das Nações Unidas - ONU concluiu que somos, hoje, no mundo, 6 bilhões de pessoas que vivem em famílias. Estes diferentes tipos de famílias, inclusive, dificultam definir-se precisamente família, hoje. A partir, então, de seus levantamentos da realidade em todo mundo, a ONU concluiu que podemos classificar as formas de família, hoje, em 12, a partir das ligações, a saber: Formas De Família Nuclear Biológico Social Monoparental Adotiva* In vitro**
Extendida Três gerações Parentesco Tribal Poligamia
Reorganizada Recasada*** Vivendo em comunidade Mesmo gênero**
Nota: *nos países onde a adoção é legal **reconhecida legalmente, hoje, em um limitado número de países ***o divórcio é aceito em muitos países. Fonte: Nações Unidas, “Family, Challenges for the future” Entendendo a família de hoje
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Frente a esta apresentação, qual seria a idéia de família saudável e a função dos pais para que se consiga isso? Uma vez que poucos homens e mulheres não têm uma clareza sobre se querem ou não ser pais antes de formar uma família. Ouvimos muitas frases como essa: “que bom seria se todo filho viesse com um manual de instruções”. Assim todos os pais saberiam lidar com os comportamentos, por vezes, rebelde, contestador, birrento e outros tantos difíceis de lidar na infância ou na adolescência . Educar filhos é uma área cheia de dúvidas e incertezas e até hoje ninguém conseguiu definir uma fórmula certa de educar os filhos. Já se foi do autoritarismo à liberdade incondicional. Atualmente, a grande maioria dos educadores apostam em uma nova tríade amor ,limite e informação. O diálogo aberto é a poderosa arma na educação, pois ele proporciona à relação pais e filhos mais confiança e maior proximidade, podendo assim orientá-los sobre como lidar com os problemas comuns da fase da adolescência como sexualidade, uso de drogas, violência e outros Mas a família, hoje , passa por alguns desafios, e o maior deles que ela enfrenta é a velocidade das mudanças e de como conviver satisfatoriamente com elas criando recursos para sobreviver e, construindo, ao mesmo tempo, um ambiente de paz, harmonia, alegria, felicidade e amor em casa, ou seja, viver com “qualidade de vida em família”. Então, o que fazer? Para refletir sobre essa questão, é preciso atentar para alguns pontos: • Primeiro, considerar que a família é um sistema vivo, onde cada membro tem sua função, desempenha um papel específico e essencial ao funcionamento do todo. • Segundo, que ela se move através do tempo e vivencia ciclos diferentes que se caracterizam de acordo com o momento em que se encontra, iniciando com a formação do sistema marital (momento quando o homem e a mulher se casam). Depois, com o nascimento dos filhos, forma-se o sistema parental (relacionamento pais e filhos). Em seguida, com o crescimento destes, a família vive um período de adolescência. Chega o momento onde o filho adulto busca sua realização no meio social e sai de casa ou casase e, a família encontra-se na meia idade período denominado ninho vazio. Finalmente, vivencia sua velhice que é considerado o último ciclo vital da família. Em cada um desses ciclos a família precisaria se reorganizar para enfrentar tais períodos, no mínimo, com consciência e depois, se possível, com tranqüilidade para aceitá-los. • Terceiro que é na família- e só dentro dela- que segundo Ivan Capellato, o sujeito humano vai ter a chance de aprender o “jogo da afetividade”. Isto é, vai aprender a amar e a odiar, a rir e chorar e assim, passar por todas as fases do desenvolvimento humano de maneira mais adequada. Todo ser humano em crescimento precisa de uma referência afetiva, e ela tem que vir de alguém que o tenha desejado e possa, assim, cuidar dele. A afetividade é um jogo de presença e ausência. E, assim, vamos modificando as nossas relações afetivas, os nossos sentimentos e emoções e aprendendo a amar- brigando, separando- percebendo a falta, desejando estar novamente juntos, percebendo o quanto gostamos e voltando! É assim que a relação familiar se organiza: através desse universo de sentimentos e emoções que vão aparecendo, sucedendo e transformando. Portanto, para uma saudável relação afetiva, é importante que aprendamos a simbolizar o amor, a raiva, o medo, o ciúme, a inveja, a dor,etc.. E é dentro da família que isso é possivel. As vezes, por falta de conhecimento, criticamos a família porque ali é um verdadeiro “inferno”! Mas esse inferno é bom, é necessário. Pois é na presença do ser amado que não só vivemos uma relação de amor mas vivemos, também, uma relação de ciúme, de inveja, de raiva e tem que ser assim para que possamos nos desenvolver afetivamente e crescer no amor. • Por último, é importante atentar, segundo Daniel Goldeman, que hoje não basta os pais educarem bem seus filhos dando-lhes uma boa formação escolar e incutindo-lhes sólidos princípios éticos. As famílias de hoje também precisam se ocupar com algumas questões mais básicas de sobrevivência. Como podemos imunizar nossos filhos contra a epidemia de violência que vem grassando entre a juventude? Como podemos convencêlos a adiar o início da atividade sexual até terem maturidade suficiente para fazer escolhas responsáveis e seguras? Como incutir-lhes uma dose suficiente de respeito próprio para que não abusem de drogas nem de álcool? Como afastar-lhe do consumismo dando-lhes condições de enfrentar a crise econômica e buscar novas
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formas de escapar desta falta de perspectiva de crescimento que hoje se apresenta? Parece difícil ? complicado? Mas não o é se pensarmos que esses aspectos apresentados são apenas portas e que devemos abrí-las!
As pesquisas sobre o uso de drogas e a família Apesar de todas essas perguntas estarem intrinsecamente ligadas uma na outra a partir de agora vamos nos ocupar mais com uma dessas questões acima, que é a que envolve pais e filhos na situação do uso de drogas. Iniciaremos mostrando algumas pesquisas que trazem dados importantes que ajudarão a refletir sobre a influência da família junto aos filhos na questão do uso de drogas e depois como a família pode prevenir o uso e abuso de drogas na adolescência. Em 2001, a Universidade de Brasília - UNB realizou uma pesquisa que mostra que meninas usam drogas tanto quanto meninos ou mais que eles. Outra informação é que 9,9% dos alunos e 14,4% de alunas da rede pública consumiram droga uma vez na vida. e que 18% de alunos e 16,7% de alunas da rede particular consumiram droga uma vez na vida. Sendo que a droga mais consumida pelas meninas são as lícitas como as anfetaminas e os meninos consumiram mais drogas ilícitas, como a maconha e a merla. Quanto ao álcool, as meninas consomem mais que os meninos, seja nas escolas públicas ou privadas. O estudo, ainda, revela que o álcool é uma droga familiar. Do total de 5504 alunos e alunas entrevistados, 78% disseram que tomaram bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, no entanto, um número significativo 37,7% começou a beber dentro de casa, sendo que 21% por incentivo de familiares. Do período de 1989 a 1993, na pesquisa realizada pelo CEBRID, o número de jovens que fizeram uso pesado do álcool (20 vezes ou mais por mês) cresceu 50%. Um outro estudo realizado pelo IBOPE, a pedido da Associação Parceria Contra as Drogas, em 1999,em que foram entrevistado 700 jovens de 9 a 21 anos, de 5 capitais, mostrou que 35% dos entrevistados disseram que a principal razão para procurar as drogas é fugir de problemas familiares. O que comprova que a família tem uma forte ascendência sobre o comportamento dos filhos e que vínculos familiares fortes e o exemplo dos pais influenciam para que crianças e jovens tenham menos chances de se envolverem com drogas. É preciso chamar atenção que tanto pais influenciam filhos como filhos influenciam os pais , é uma via de mão dupla. Esta co-responsabilidade faz cair por terra a idéia que filho usuário de drogas é o único responsável pelos males da família e da socidade, transformando-o, assim, em vilão da história, em fator de risco para os outros e, os outros (família e sociedade) se tornando vítimas dessa situação. Isso retrata bem o que o psicanalista Richard Bucher denominou de paradigma do maniqueísmo, isto é, a fábula do bandido e mocinho, que é colocado muito na prática nessa situação de uso de drogas , para “resolver” ou “descartar” o incômodo problema na família, tirando a parcela de culpa dos pais e colocando somente nos filhos. Para que isso não aconteça dessa forma, é preciso que tenhamos maior clareza e entendimento que, quando um indivíduo recorre às drogas, isso não é fruto de uma decisão consciente e voluntária: não se torna um dependente quem quer, tampouco alguém se torna marginalizado ou excluído da convivência familiar, escolar ou comunitária por vontade própria. Mas sim, por circunstâncias desfavoráveis, em conseqüência de contingências infelizes na interação familiar, de condições adversas de vida ou de desestruturações internas de personalidade, da capacidade adaptativa ou da intolerância em face das limitações existenciais contra as quais se esbarra. Resumindo, o uso abusivo de drogas depende do encontro de 3(três) fatores: a pessoa(corpo, genética e a personalidade), o momento sócio-econômico-familiar-cultural em que o indivíduo vive e o produto (tipo de droga, quantidade usada, freqüência do uso e o fácil acesso) para que desencadeem o processo de dependência química. Outra pesquisa, de nível internacional, reuniu a Fundação Oswaldo Cruz representando o Brasil, a Universidade do País Basco da Espanha e a Universidade de Los Andes da Colômbia. E mostrou que o usuário de drogas não se forma na rua. A tendência ao vício começa a ser
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desenvolvida dentro de casa. Segundo os estudos, a qualidade de vida familiar é o que dita o comportamento futuro do jovem em relação aos tóxicos. E como estamos exatamente discorrendo sobre a importância da família na prevenção a elas, refletiremos, agora, o que se pode fazer nesse sentido.
Orientações para as famílias Para começar, uma boa educação é sim a melhor proteção contra os males da vida, especificamente das drogas. Esta última pesquisa traz uma novidade, ela não só analisou a questão pelo ângulo do usuário, mas estudou, também, os jovens que não consomem entorpecentes. A questão é “o que faz com que essa garotada, mesmo submetida a diversos apelos, não se sinta atraída pelas drogas?”, a resposta, tanto no Brasil quanto na Colômbia ou na Espanha, é que nos lares em que há afeto, diálogo e aconchego, os filhos não sentem necessidade de buscar refúgios em drogas. Depois de analisar a rotina dessas famílias, os pesquisadores concluíram que ATENÇÃO, ORIENTAÇÃO e CARINHO - cuidados cada vez mais raros nas relações familiares do mundo moderno - são antídotos naturais contra o vício. Um exemplo disso, consta na pesquisa “Drogas, Indivíduo e Família Responsável”, realizada no Brasil e coordenada pela mestre em saúde pública, Zélia Caldeira que aplicou e estudou o tema em jovens das comunidades carentes. Nela, um dos entrevistados contou que o pai várias vezes foi atrás dele para evitar que se envolvesse com traficantes. E a coordenadora comenta que bastou a preocupação do pai para desestimular o filho a procurar drogas. Os especialistas, da pesquisa realizada na Colômbia, relacionaram, ainda, alguns tópicos os quais sugerem aos pais experimentarem para ajudá-los a evitar que seus filhos consumam drogas. São eles: CONVIVÊNCIA - participe mais das atividades da garotada. Isso reforça as relações familiares; DIÁLOGO - ache tempo para conversas e consultas freqüentes sobre qualquer assunto; AFETO - abrace, beije e incentive os filhos mesmo em público. Manifestação de carinho são sempre bem vindas; REGRAS CLARAS - imponha limites. Quando fizer alguma proibição, não deixe dúvidas sobre suas razões; EXEMPLO - álcool e cigarro são drogas lícitas. Evite consumi-las, se não quiser estimular os filhos em fazer o mesmo; AGREGAÇÃO - faça com que o ambiente familiar seja atrativo e aconchegante. Isso reduz a influência negativa que pode vir de outros grupos; PREVENÇÃO/INFORMAÇÃO - explique sempre aos filhos quais são os riscos do uso de drogas; PARTICIPAÇÃO - tome decisões em conjunto. Assim todos percebem que suas opiniões e pontos de vista são respeitados; AUTONOMIA - incentive a responsabilidade de cada um. Mais autonomia significa maior capacidade de decisão; VALORES - estimule princípios espirituais em contraposição aos valores materiais; MODELO - cuide para que sua relação com os filhos seja fundamentada na confiança e no respeito. Isso cria um modelo de comportamento para eles. Todos esses tópicos nos remete de novo a voltarmos para o aconchego, ao lugar que nos nutre que é a família. E, saber que para construir uma família é preciso pensar bem se existe um lugar real para um filho em nossas vidas, porque filho precisa de tempo dos pais, de paciência, de limites, de regras e de amor....... muito amor! E amar um filho, é compreender que ele é um sujeito em evolução e não uma coisa pronta; é estar presente na vida deles; é cuidar-se(manter-se vivo e com saúde) para mostrar ao filho que a vida é sempre preciosa. Enfim, quando os pais trazem ao mundo um filho - sem pedir permissão- , eles precisam mostrar a esse filho que a vida “vale a pena” e, para isso, têm que se
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amarem para poder amar, cuidar-se para poder cuidar e, principalmente, pensar que ninguém se torna “pronto para viver” se não se sentir amado.
Bibliografia SOIFER, Raquel – Psicodinamismo da Família com crianças: terapia familiar com técnica de jogo, Petrópolis – RJ., Editora Vozes, 1992. GOLDEMAN Daniel — Inteligência Emocional, Rio de Janeiro-RJ. , Editora Objetiva, 1996 REVISTA DOIS PONTOS, reportagem de Nye Ribeiro Silva – “Educação e limites no exercício do amor” entrevista com o Dr Ivan Capelatto, jul/agol 996. SOUZA, Ana Regina Gomes e SOUZA, José Mendo Mizael — Família, Liberdade e Participação, texto apresentado no XXXVI Congresso Nacional de Pais do Brasil: Do Ontem ao Amanhã — A família rumo ao ano 2000 —1997 PEREIRA, Cláudia Márcia — “A visão sistêmica da Família em seu ciclo vital com ênfase na adolescência” ,Distrito Federal, 1999- monografia final do curso de Formação em Terapia FamiliarCentro de Estudos de Psicodrama de Brasília-CEPB CARLINI, E. A.; CARLINI-CONTRIM, B.;SILVA-FILHO, AR.; BARBOSA, M.T.S. — lI Levantamento nacional sobre o uso de psicotrópicos entre estudantes de 1º e 2º graus — 1989. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas — CEBRID — Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, 1990 GALDURÕZ,J.C.F.; NOTO,A. R. ,CARLINI,E.Ã. —IV Levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras — 1997. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas —CEBRID — Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, 1997 ASSOCIAÇÃO PARCERIA CONTRA AS DROGAS —Relatório da Pesquisa realizada pelo IBOPE, 1999. BUCHER, Richard (org) — Prevenção ao uso indevido de drogas.2a ed. Brasilia; Editora Universidade de Brasília, volume 1,1991 REVISTA VEJA- “Drogas: Receita para fugir do Abismo” editada em 12/01/2000 CALDEIRA,Zétia(coord) — Pesquisa “Drogas, Individuo e Família Responsável» — Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.
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A FAMÍLIA, O ADOLESCENTE E O USO DE DROGAS Valdir Craveiro Bezerra Ana Carolina Bessa Linhares Doutor, Me Ajude,. Atenda Meu Filho Que Está Usando Drogas Quando os pais9 nos procuram pedindo ajuda para um filho10 adolescente que está vivendo uma situação especial de uso de drogas, eles fazem um pedido para atendermos seu filho. e não se sentem incluídos nessa consulta ou nesse pedido de ajuda. Em geral o filho não está pedindo ajuda, nem acha o uso de drogas um problema. Na conversa com os pais, o adolescente argumenta que estes não sabem de nada, que maconha por exemplo, não faz mal, não atrapalha, faz até bem à saúde sendo usada como remédio no tratamento do glaucoma, no tratamento da AIDS, e outros argumentos veiculados na imprensa falada e escrita. Contra argumenta que o cigarro e a cerveja que o pai usa fazem mais mal a saúde que seu “baseado”. Tem convicção de que deixa de usar drogas quando quiser, pois não é dependente, e como prova de que não traz problemas para a saúde, usa o tempo que ele já faz uso, geralmente de dois a três anos, para justificar. Os pais, embora percebam e sintam claramente a gravidade dos problemas que o uso de drogas traz para o filho e para a família , sentem-se impotentes, incompetentes, culpados, e sobretudo ficam confusos e divididos entre o certo e errado, e não sabem mais que atitudes devam tomar. Esta confusão é sustentada, complicada , alimentada e ampliada por alguns fatores sociais e culturais tais como: • Uma banalização do uso de drogas por vários seguimentos sociais como bandas de música e movimentos artísticos, algumas defesas calorosas e públicas e o argumento que “todo mundo um dia vai experimentar”, ou que esse uso faz parte da fase da adolescência e que portanto vai passar. No entanto, trabalhos epidemiológicos como o de Carline (1997) mostram que a média brasileira de “experimentação” (uso na vida) foi de: 0,7% para .cocaína, 3,4% para maconha, 17,3% para inalantes. Esses dados negam esta generalização, exceto quanto ao álcool que foi de 77,5% dos adolescentes estudantes pesquisados. • A ambigüidade social criminaliza algumas drogas e legaliza outras com argumentos falsos e moralistas. Esta separação de drogas lícitas e ilícitas não tem qualquer relação com o mal que possam causar, pois ambas são prejudiciais à saúde. Esta separação está mais ligada a antigas razões políticas e econômicas. As lícitas são as drogas que eram usadas pelos colonizadores como o álcool e o tabaco, e as ilícitas aquelas usadas pelos colonizados como ópio, maconha e coca. Portanto o uso das últimas é proibido por questões políticas e econômicas do colonizador sobre o colonizado, desconsiderando totalmente a questão do ponto de vista da saúde (Bezerra, 1998). Muitos pais entram em pânico, porque descobriram que a filha usa maconha, no entanto, não demonstram a mesma preocupação com um adulto da família ou mesmo com o filho que faz uso sistemático de álcool. Ambas situações são preocupantes. • Argumentos racionais e simplistas que deslocam essa questão complexa das drogas somente para a área da saúde física e a área jurídica, sem levar em conta que o uso de drogas pelo filho envolve sobretudo os aspectos afetivos e emocionais entre os membros da família. Os primeiros e principais problemas que surgem, e que devem preocupar os pais, não estão na esfera da saúde, mas no distanciamento afetivo entre pais e filhos, nas dificuldades de comunicação que contaminam outros aspectos da dinâmica familiar, e na esfera social, pelo fato do adolescente ser lançado num contexto marginal que permeia o uso de drogas ilícitas, sendo este meio mais nocivo que o próprio uso da droga em si.(BEZERRA, 1998); 9
Nos referimos sempre a “pais” considerando ambos quando vivem juntos e/ou a um dos dois quando a família for uniparental. 10 Filho será o termo genérico usado tanto para o sexo masculino como para o sexo feminino.
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Informações e posições contraditórias entre profissionais. sobre o uso de drogas, que vão depender da experiência, do tempo desta experiência, e principalmente do modelo teórico-ontológico dos profissionais envolvidos. Encontramos posições variadas tais como; “o adolescente só pára se ele de fato quiser ser ajudado”, “não adianta proibi-lo de usar drogas, pois ele tem que descobrir outros prazeres para substituir a droga”, “todos os adolescentes experimentarão drogas de qualquer maneira”.
Coragem, Nós Vamos Entrar Nesse Barco Com Vocês ! A família sempre foi vista como fator de risco ou como causa dos problemas dos filhos. Inúmeros artigos procuram associações do tipo causa-efeito que expliquem o uso de drogas do filho com: o alcoolismo de um dos pais (CHASSIN et all 1993; ULLMAN & ORENSTEIN, 1994); com a transmissão genética familiar, (BIERUT et all 1998; MERIKANGAS et, all 1998;) com a separação dos pais (.NURCO et all, 1996), com a estrutura e relação afetiva familiar (METZIER et all, 1994; SOKOL-KATZ & ULBRICH, 1992; WALSH, 1995). Poucos estudos na literatura têm olhado para as contribuições da família (RUTTER,1985; WALSH, 1996; WERNER, 1993). A experiência clínica nos conduziu a considerar a família não como um entrave, um problema ou um fator complicador que deveria ficar fora do processo, mas como uma forte aliada, como o principal instrumento no processo de resgate do adolescente vivendo a situação especial de uso de drogas. Embora pareça tão desprovida de recursos, é na família que encontramos a solução para seu problema. Para uma família pedir ajuda a um profissional é necessária muita coragem. Em primeiro lugar porque o uso de drogas é mal visto, estigmatizado, considerado falta de vergonha e de caráter, e denigre tanto o indivíduo quanto à família. Em segundo lugar, a criminalização do uso de algumas drogas faz do pedido de ajuda uma denúncia. Quando corajosamente os pais ou outros adultos pedem ajuda para um filho adolescente, em geral já faz algum tempo desde quando algum membro da família percebeu e preocupou-se com o uso, até o momento que ela chega a nós pedindo ajuda. E isso é positivo porque indica que a família já usou vários recursos e fez várias tentativas de resolução com os instrumentos que dispunham e que funcionaram para resolver outras dificuldades encontradas na história de vida familiar. Somente quando elas esgotam seus recursos pedem ajuda aos ditos especialistas.. É assim que entendemos essa demanda da família, e comunicamos a ela que estamos muito orgulhos da confiança que elas nos depositam. Mas não aceitamos atender seu filho, principalmente no início, porque não acreditamos na sua incompetência enquanto pais. Aceitar e nos responsabilizarmos pelo tratamento de seu filho, confirma a idéia de que eles são incompetentes e de que somos nós, os especialistas, que iremos resolver o problema. Se recebêssemos seu filho, a família sairia aliviada, ‘meu filho está sendo tratado’, porém eles não aprenderiam a resolver e enfrentar os problemas que estão vivendo, nem assumiriam sua participação tão indispensável nesse processo. Certamente creditariam a nós os resultados e continuariam a se sentir incompetentes e culpados em relação às dificuldades do filho e portanto despreparados para lidar com eles. Devolvemos essa confiança acreditando que eles fizeram o melhor que eles podiam até o momento e que esgotando seus recursos vieram nos pedir ajuda para que, junto a nós e a outras famílias, possamos formar uma rede e procurarmos alternativas para uma questão tão complexa e difícil para eles pais, para nós profissionais e para toda a sociedade. A Família É Competente Acreditamos de fato, que a família tem competência para resolver o problema do uso de drogas do filho, só não sabe que tem. Nenhum profissional conseguirá estabelecer um vínculo tão poderoso com este adolescente, como o vínculo entre o filho e os pais.. Os vínculos dos pais com os filhos são mais poderosos em operar mudanças que qualquer vínculo terapêutico ou de autoridade constituída. São vínculos com história de vida com um tempo de no mínimo a idade do filho. É esta crença do profissional que vai confirmar a família como capaz e competente e vai torná-la poderosa em promover mudanças verdadeiras em todo o sistema familiar. Se esta família
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não for confirmada como capaz, o que de fato é, ficará mergulhada numa crença de fracasso e de incompetência tão grande, que dificilmente terá condições de ajudar o filho, e tentará de todos os modos transferir esta competência para o profissional, que se não for ‘esperto’, será seduzido pelo brilho do poder de curar e cairá na armadilha mais antiga e perigosa para nós. Não podemos esquecer que mesmo que o pai deste adolescente seja um alcoólatra, é o único pai que ele tem, e se devolvermos a dignidade a este homem, confirmando-o como pai, o pouco que ele fizer pelo filho, terá um efeito maior que qualquer efeito provocado por uma “intervenção maravilhosa” realizada por um “terapeuta fantástico”. Sem esta crença na competência da família, na qual esta se fia e se agarra, o profissional jamais conseguirá fazer uma parceria com esta família, parceria esta fundamental e vital para o sucesso desta grande aventura, que é ajudar este adolescente a parar com o uso de drogas. O que propomos é uma inversão total para a família , que no seu desespero se acha incompetente, e principalmente para o profissional que se formou e está acostumado a ser visto como aquele que vai resolver os problemas, as doenças. Acreditamos que nós profissionais possamos ser mais eficientes quando conseguimos esta parceria com a família e agimos como facilitadores, potencializadores de suas capacidades e instrumentos. É tão difícil para a família acreditar que é ela que tem os instrumentos para fazer o filho parar com o uso de drogas, como para o profissional descer do pedestal onde foi colocado pela família, que acaba funcionando como uma armadilha para ambos. O primeiro passo deste processo é convencer a família de que vamos atendê-los e não ao seu filho, por dois motivos. Primeiro porque quem pede ajuda são os pais, apesar de ser o filho quem tem o problema, e quem sofre não é o adolescente, mas a família. A demanda vem distribuída, e se a família ainda acredita que é o profissional que vai ‘resolver’ o problema, insistirá em pedir ajuda para o filho que por si só não pede. Nossa conduta é reforçar e confirmar esses pais ainda mais como competentes. Basta a crueldade de nossa sociedade que põe na família toda a culpa. O segundo motivo, é que vemos na prática, que um usuário de drogas por mais consciência e informação que tenha sobre os malefícios que esta causa, e sempre eles têm, e mesmo que perceba seu sofrimento e o sofrimento da família, é muito, muito difícil vencer sozinho a relação estabelecida com a droga. Esperar que “ele queira ser ajudado” para fazermos algo por ele, é o mesmo que insistirmos em ‘dar na chave’ para dar a partida num caminhão que só pega ‘no tranco’ isto é, sendo empurrado. Esta postura de cobrar ao usuário que assuma a responsabilidade de parar com o uso de drogas, é o que mais retarda o processo de fazer o filho parar de usar drogas. Construindo Parceria Com A Família Quando as famílias nos procuram elas vêm com muita mágoa do filho. A pergunta que sempre se faz é: “Como um garoto tão bom, tão atencioso, inteligente, amigo, tão querido pôde cair nessa? Como pôde fazer isso com sua família ? Que vergonha, meu Deus!”. Esta mágoa provocada pelo medo de perda, pelos sentimentos de culpa, de incompetência, de fracasso, leva a uma frustração muito grande. Quando a dinâmica familiar chega a este ponto, o canal de comunicação com o filho está totalmente desgastado ou já quase inexistente. A construção desta parceria consiste primeiro em preparar os pais trabalhando esses sentimentos que funcionam como ‘um freio de mão’ no processo de mudança: A mágoa provocada pelo comportamento do filho pelo uso de drogas, leva os pais a tratarem o filho e a droga como a mesma coisa. Aquele filho antes maravilhoso, cheio de futuro, de prováveis sucessos, é reduzido a um ‘maconheiro’, a um ‘drogado’. Quando os pais referem-se ao filho, o confundem com a droga e é inevitável o atrito. Eles esquecem todo o bom comportamento anterior ao uso de drogas do filho, e este é reduzido ao comportamento ‘marginal’ do uso de drogas. Por esta razão, não é fácil convencer os pais de que não podem confundir o filho, com o comportamento apresentado por este, em uso de drogas, mesmo que seja o filho que esteja agindo assim. Para o sucesso de nosso trabalho, é de suma importância os pais realizarem esta separação. Separar o filho, aquela criança maravilhosa que os pais têm em seus corações, do comportamento atual provocado pelo uso de drogas, é o que vai permitir a criação de um canal de comunicação com amorosidade, condição sine qua non, para a promoção da parada do uso de drogas do filho. Para facilitar esta “ginástica mental”, usamos a idéia da droga como um “encosto”,
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um espírito mal. Explicamos aos pais que, o que não presta é a droga, não o filho, que continua aquela criança amorosa de antes. A droga se apossa do filho feito um ‘encosto’, e este passa a ter o comportamento daquele ‘espírito mal’ que é a droga. Por mais que queira, que tenha boas intenções, o filho não consegue resistir ao ‘encosto-droga’. A droga estabelece uma relação de dependência com o filho tão grande, que como um ‘encosto’, acabam sendo confundidos um com o outro. Para afastarmos o filho das drogas, temos que trazê-lo cada vez mais para perto de nós, e não tentar afastar a droga, o ‘encosto’, batendo no filho, pois assim o ‘encosto’ gruda mais ainda. Para nós, a maneira mais prática de fazer isto é abraçando o filho tão apertado que não sobre espaço para a droga ficar entre eles, pais e o filho. Nesse processo, o objetivo é que os pais percebam que o filho continua sendo seu filho, aquela pessoa maravilhosa que sempre tiveram, e que estão momentaneamente (comparando com a eternidade) separados pelos sentimentos de fracasso, de impotência, da quebra de respeito levando a uma comunicação com agressividade, associados com o uso de drogas do filho. Só não podem esquecer que é seu filho e que eles são seus pais. O medo de perda provoca uma resistência inicial a qualquer mudança que possa levar a saída do filho de casa. Quando pequenos, os limites são claros e precisos e os filhos não estão em condições de questionar em função de sua total dependência. Quando crescem ou adolescem, por esta dependência não existir mais em sua totalidade, temos um sentimento que, se pusermos limites que eles não aceitem, eles podem ir embora. Diante disso, os pais passam cada vez menos a por limites, chegando ao ponto de aceitar todas as imposições do filho e perdem a função de protetor. Num processo gradual, os filhos deixam a escola, se distanciam da família, trocam velhos amigos por amigos do meio das drogas, cometem delitos, e impotentes diante disso podemos perdê-lo de vez para as drogas, para um traficante, para uma bala perdida. O caminho mais fácil para perdermos um filho é termos medo de perdê-lo. O que os pais não podem esquecer é que o amor que os liga aos filhos aponta para os dois lados, isto é, dos filhos para os pais também. O que pode estar existindo é a não manifestação deste amor, o que é verdade para ambos os lados. O sentimento de impotência como decorrência desta perda dos limites, dificulta os pais de assumirem a responsabilidade total sobre a parada do uso de drogas do filho. Na grande maioria, os pais acreditam que a parada do uso de drogas depende da boa vontade e da determinação do filho. Eles dizem, se desculpabilizando, que não foram eles que levaram seu filho a usar droga, que eles proporcionaram tudo para que ele fosse normal, desde as condições materiais até emocionais e afetivas, e que se seu filho não quiser parar de usar, ninguém poderá fazer nada por ele. A questão é que não basta ele querer parar de usar drogas. Não depende de sua boa vontade. Não esqueçamos que “o caminho do inferno está cheio de boas intenções”. Os filhos freqüentemente afirmam que param quando quiserem Mais se deixarmos por conta de sua própria boa vontade, deixaremos uma responsabilidade enorme em suas mãos. Mãos jovens demais para uma responsabilidade tão grande. Felizmente essa responsabilidade é nossa enquanto pais e adultos, pois somos maduros, experientes e capazes o suficiente para enfrentarmos com determinação essa tarefa. Devemos assumir que a decisão do filho parar de usar drogas é nossa , não importando se o mesmo vai ajudar ou não. O sentimento de culpa vem muitas vezes disfarçado de cansaço e de um não querer mais lutar pelo filho. A pergunta que os pais mais nos fazem é: “onde é que eu errei?.” Este sentimento de culpa, herança de nossa sociedade judaica-cristã especializada em apontar o errado, o pecado, o mal feito, esquece totalmente e completamente o positivo, o certo, o bom. Nós vamos para o céu não por termos feito muitas coisas boas, mas por não termos pecados. Da mesma maneira a família vivencia o uso de drogas do filho. Até o momento estavam acertando, tinham um filho maravilhoso, e faziam coisas boas e certas. De repente a culpa aniquila tudo de positivo que eles fizeram e já conseguiram na educação dos filhos. Além disso, o filho que até então era maravilhoso e querido é reduzido a um drogado. A comunicação é feita em torno das cobranças, das drogas, da culpa, gerando raiva, impedindo soluções. Proporcionar a família fazer um resgate de tudo de bom que já viveram, do filho maravilhoso que eles têm e com isso perceberem que acertaram mais que erraram, vai favorecer o restabelecimento de uma comunicação entre pais e filhos. Criando Um Canal De Comunicação, De Amorosidade
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Após convencer a família de assumir a responsabilidade de fazer o filho parar com o uso das drogas, o próximo passo é criar um canal de comunicação onde os pais possam conversar com o filho, sem os vícios anteriores de culpa, cobrança, raiva, depreciações e mágoas, que só servem para provocar distâncias, dificultando qualquer comunicação. A característica básica deste canal é a amorosidade. Tudo que é comunicado ao filho como a preocupação, os limites, as regras,. são permeados por esta amorosidade. Embora os pais tenham muito amor pelos filhos, no cotidiano não expressam sua amorosidade. Usando a racionalidade, sem aproximar o discurso da afetividade, o pai pode dizer ao filho: “Você não vai nessa festa, porque com certeza vai fumar maconha e se juntar com seus amigos drogados”. Utilizando um canal de amorosidade evitando justificativas racionais e falando de seus sentimentos na primeira pessoa, a mesma intervenção poderia ser: “Eu não quero que você vá nesta festa, porque amo muito você e vou ficar extremamente preocupado com a possibilidade de você fumar maconha, pois certamente encontrará seus amigos e será muito difícil para você dizer não”. É sair de uma comunicação racional, onde o embate de opiniões encontra um terreno fértil e interminável que acaba em agressões, para uma comunicação emocional, onde os pais falam dos seus sentimentos, do sofrimento diante do risco de perder o filho para as drogas, não fornecendo espaço para discussões. É abandonar o foco das drogas e centrar no filho. Sair da visão: ‘meu filho tem um problema (as drogas)’, para: ‘meu filho tem uma grande dificuldade em relação às drogas’. A partir deste salto, os pais investirão no filho e não nas drogas. Na nossa experiência com o grupo de pais de filhos vivendo uma situação especial de uso de drogas, o Grupo Multifamília, a maneira mais prática de promovermos a criação deste canal de amorosidade é provocando uma aproximação através do abraço e da declaração de amor ao filho. O abraço por si só não é terapêutico, mas é veículo para o estabelecimento de um vínculo de amorosidade. Por isso, temos que fazer algumas considerações a respeito desse abraço: SE CRESCER, PERDE O COLO - Com muita freqüência, na entrada da puberdade os filhos perdem o colo, os abraços, o contato físico com os pais. É um processo de afastamento dos dois lados. Por um lado, as mudanças físicas como as curvas, seios, cheiros, músculos, deixam os pais um pouco sem jeito no contato físico com os filhos, até então quase que assexuados, ou considerados como tais, e de uma hora para outra ‘sem percebermos’, temos uma mulher ou um homem, ‘sexuados’ em casa. A evitação do contato é quase certa. Para superar esta barreira ‘sexuada’, o que não é fácil, os pais continuam abraçando os filhos como se ainda fossem suas criancinhas, e os infantilizam durante o abraço com expressões do tipo: “meu bebê”, “meu filhinho”, e outras expressões, no intuito às vezes de serem mais afetivos, e menos “físicossexuados”. Por outro lado, o filho que está adolescendo , quer ser confirmado como adulto e muitas vezes também confunde o crescimento e autonomia, que deve ser conquistada, com o afastamento físico e emocional dos pais. Nossa cultura popular ajudada pelas teorias psicológicas do início do século, principalmente de influência psicanalítica, tem criado no imaginário da população que o adolescente para crescer tem que se afastar dos pais. Dessa forma, autonomia está associada com rompimento .Para nós, contudo, crescimento também está profundamente associado com capacidade e maturidade para estabelecer e manter os vínculos afetivos. Essa aprendizagem se faz fundamentalmente dentro do espaço familiar. Em todas as culturas, a família dá a seus membros o cunho da individualidade. A experiência humana de identidade tem dois elementos: um sentido de pertencer e um sentido de ser separado. A família é a matriz da identidade onde esses elementos se misturam. (PACCOLA, 1994). O processo de individuação pelo qual o adolescente passa , tem como significado encontrar sua individualidade, de sentir-se um sujeito único portador de uma personalidade dentro do seu espaço familiar, e ocorre ao mesmo tempo em que o processo de pertencimento que é o sentimento de fazer parte de uma família sem perder sua identidade. Esses processos ocorrem simultaneamente, pois quanto mais eu sou autônomo e me sinto confirmado na minha subjetividade, mas eu posso pertencer a uma família sem ter receio de perder minha identidade. Portanto precisamos entender que pais e filhos precisam dar continuidade à expressão da amorosidade no período da adolescência , confirmando para ambos a continência que o contato corporal assegura e fortalecendo o vínculo amoroso que deve vigorar durante toda nossa existência. E SE ME REJEITAR ? - Outro fator que dificulta este abraço, é o medo dos pais de não serem correspondidos e de se sentirem rejeitados. É importante os pais perceberem que abraçarão os filhos, não por eles filhos, mas por eles pais, pois estão construindo um canal de
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comunicação de amorosidade com o filho, para através de este canal trabalharem a parada do uso de drogas do filho. Um bom treino é começar abraçando uma árvore muito bonita, sentindo toda a emoção desta interação com a natureza.. A árvore nada faz e o homem não se sente rejeitado por isso.. Se o filho recusa o abraço, não importa, a missão do pai é consegui-lo, mesmo quando este estiver dormindo. O processo é mais importante que os resultados imediatos. E SE EU NÃO TIVER VONTADE? - Na coleção das dificuldades em abraçar o filho, uma outra questão levantada pelos pais é de que somente devem abraçar o filho quando sentirem vontade. Eles alegam que o abraço deve ser espontâneo. A questão é que não podemos esquecer que o abraço aqui é usado como um veículo para criar um canal de comunicação. Ele não está sendo apenas uma expressão afetiva, mas tem uma intenção, uma estratégia, um objetivo certo. Quando orientamos os pais em abraçar os filhos no mínimo três vezes ao dia, (como uso de antibiótico) orientamos que não esqueçam da intenção, e no momento do abraço mentalizem: “estou criando um canal de comunicação de amorosidade com você”. Esta mentalização é importante porque lembra constantemente aos pais seu objetivo e impede que este abraço se reduza a uma manifestação afetiva que pode trazer tanto sentimentos positivos, mas com muita freqüência, todas as mágoas e outros sentimentos que podem comprometer a estratégia. O abraço não pode ser espontâneo, tem que ser estratégico. Declarando E Formalizando Posições Esta etapa que apresentaremos de forma sintética, faz parte do processo de instrumentalização dos pais, e portando não é o objetivo principal deste trabalho. Junto à criação do canal de comunicação de amorosidade com o filho, é de suma importância que os pais tomem algumas posições diante do uso de drogas do filho. Estas posições tomam forma de declaração para toda a família. Todos os membros da família devem participar do processo, porque todos estão implicados, fazem parte da mesma família, e o processo de mudança vai favorecer a todos os filhos e principalmente ao casal, que com muita freqüência apresenta um problema subjacente ao do filho. Solicitamos aos pais que através de uma reunião familiar formal, apresentem para todos os membros da família estas declarações, e as assumam como suas decisões e não dos profissionais envolvidos no processo. DECLARAÇÃO DE AMOR INCONDICIONAL AO FILHO. - “Nós te amamos muito e não vamos abrir mão de você para droga nenhuma, para traficante nenhum e para onde você for, iremos te buscar”. Esta deve ser a primeira declaração, pois vai nortear e dar sentido a todas as outras. Não importa se o filho acredite, aceite ou faça chacotas. Na nossa experiência, quando eles fazem isto, é porque tanto os filhos quanto os pais não sabem o que fazer com os sentimentos gerados por esta declaração, às vezes, há muito tempo esquecida. Esta declaração arrasta todo e qualquer diálogo para este canal de comunicação de amorosidade, saindo do racionalismo das idéias.. DECLARAÇÃO DE INTOLERÂNCIA AO USO DE DROGAS - “Não toleramos em nossa família o uso de drogas, e faremos o possível e o impossível para você parar seu uso, porque te amamos muito”. Esta segunda declaração deixa claro que só há uma opção que é a parada do uso de drogas. Costumamos dizer que o adolescente tem duas opções: Ou ele pára de usar drogas ou ele pára de usar drogas, e só pode escolher uma das duas. Ela também abre espaço para todas as atitudes que os pais devam tomar que impeçam que o filho faça uso de drogas. Os pais devem vasculhar o quarto do filho na procura de incensos, papelotes, drogas, que devem ser jogados no vaso e dado descarga e depois comunicados ao filho. DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE - “Estamos assumindo diante de você o compromisso de fazê-lo parar de usar droga, e que para isso faremos o possível e o impossível”. Deixar a responsabilidade de parar com o uso sobre o adolescente é uma sobrecarga muito grande para ele. Nós acreditamos que ele tem a maior boa intenção, mas como já afirmamos, de boa intenção o inferno está cheio. Nosso filho é um adolescente em dificuldade , e precisa que os pais, e nós adultos tomemos essa atitude de responsabilidade, e de compromisso diante de um problema tal como o uso de drogas., que requer maturidade, segurança, experiência , firmeza, compromisso Por mais que os pais tenham dificuldades, e todos os adultos têm, estão muito mais preparados do que esse adolescente para assumir essa responsabilidade.
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DECLARAÇÃO DE NÃO COMPACTUAR COM SEGREDOS – “Não guardaremos segredos de seu uso de drogas, e compartilharemos com todas as pessoas que possam nos ajudar nesse processo” O segredo alimenta o tráfico, protege o traficante, e mantém o uso de drogas pelo adolescente. O único beneficiário do segredo é o traficante. A quebra do segredo visibiliza uma situação de dificuldade e promove uma tomada de posição, um enfrentamento da situação em relação à família .É nesse momento ou algum momento após, que os pais procuram ajuda para enfrentar esse problema. A quebra do segredo também além de dar início ao processo de parada de uso de drogas pelo adolescente, vai bloquear o contato com o traficante e paralisar a rede do tráfico. Se mantivermos segredo diante do uso do filho, seremos jogados na lógica perversa do tráfico. Encobriremos nosso filho e ele vai continuar a fazer uso da droga. Ele pode usar nosso medo e nossa vergonha para ficarmos calado, para fugir das nossas decisões .É importante fazermos um cerco, criarmos uma rede de apoio e não poderemos criá-la se fizermos segredo da situação e não pedirmos colaboração e ajuda. A revelação, o jogo aberto protege os pais pois permite a estes tomar decisões que, com certeza, protegerão seu filho de situações de risco. Finalizando A Título De Começo De Processo Nós apresentamos o início de um processo, que é o de seduzir a família para participar, assumir com a responsabilidade de juntos, família e profissionais, promoverem a parada do uso de drogas do filho. É importante deixar claro que o que apresentamos aqui é somente parte desse trabalho, visto que o acompanhamento e instrumentalização é um processo muito mais extenso e complexo e envolve outras etapas que não serão apresentadas nessa publicação. A continuidade desse trabalho é o que ocorre no que intitulamos Grupo multifamília e que consiste em acompanhar os pais nesta aventura até a parada do uso de drogas, dando apoio em suas recaídas, trabalhando o uso da autoridade em vez do poder, comemorando as pequenas vitórias como grandes sucessos, e o tempo todo encontrando nas dificuldades dos pais as soluções para seus problemas. Valdir Craveiro Bezerra - Hebeatra (Clínico de Adolescentes), Gestalt Terapeuta, Terapeuta de Família e Coordenador do ADOLESCENTRO – FHDF Ana Carolina Bessa Linhares – Psicóloga, Psicoterapêuta de Adolescentes, Terapeuta de Família, Facilitadora de Biodança, Mestranda em Psicologia Clínica da UnB, Coordenadora de Pesquisa e Treinamento do ADOLESCENTRO – FHDF Valdir Craveiro Bezerra & Ana Carolina Bessa Linhares SQS 407 Bloco Q Aptº 105 CEP 70.256-170 - Brasília – DF E-mail
[email protected] &
[email protected] Bibliografia BEZERRA, V.C., (1998) Adolescentes, drogas e família. Anais do 55º Curso Nestlé de Atualização em Pediatria: 235-239. Brasília – DF. BIERUT LJ, DINWIDDIE SH, BEGLEITER H, CROWE RR, HESSELBROCK V, NURNBERGER JI JR, PORJESZ B, SCHUCKIT MA, REICH T (1998) Familial transmission of substance dependence: alcohol, marijuana, cocaine, and habitual smoking: a report from the Collaborative Study on the Genetics of Alcoholism. Arch Gen Psychiatry 1998 Nov;55(11):982-8 CHASSIN, L.., PILLOW, D.R., CURRAN, P.J., MOLINA, B.S.G., BARRERA Jr., M. (1993). Relation of parental alcoholism to early adolescent substance use: A test of tree mediating mecanisms. Journal of Abnormal psychology; 102(1): 3-19. MERIKANGAS KR, STOLAR M, STEVENS DE, GOULET J, PREISIG MA, FENTON B, ZHANG H, O'MALLEY SS, ROUNSAVILLE BJ (1998) Familial transmission of substance use disorders. Arch Gen Psychiatry 1998 Nov;55(11):973-9 METZIER-CW; NOELL-J; BIGLAN-A; ARY-D; SMOLKOWSKI-K. (1994). The social context for risk sexual behavior among adolescentes J. Behav. Med. Aug; 17(4): 419-38
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A PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO DE DROGAS NA ESCOLA Sandra Scivoletto Rita de Cássia Ferreira Prevenção na Escola As ações preventivas que a escola pode adotar são orientadas a partir de cinco pontos de atenção. Esses pontos não são excludentes entre si, constituem guias de ação e sua combinação e adaptação são altamente desejáveis para melhor servir à realidade local. São eles: • conhecimento científico; • educação afetiva; • oferta de alternativas ao uso de drogas; • educação para a saúde; • modificação das condições de ensino. Modelo de conhecimento científico Propõe o fornecimento de informações sobre drogas de modo imparcial e científico. A partir das informações, os jovens podem tomar decisões conscientes e bem fundamentadas sobre as drogas. Exemplo: oficinas e debate com profissionais de saúde; promover trabalhos de pesquisa e palestras; filmes e teatro sobre o tema. A disponibilidade da droga é um fator quase que determinante na prevalência de consumo desta entre os adolescentes. Os jovens consomem o que está à mão, o mais disponível; eles querem obter o efeito, “o barato da droga”, independente de que tipo seja. Daí o consumo elevado, nesta faixa etária, de drogas obtidas em casa (cola acrílica, esmalte, benzina, alguns medicamentos, chás, entre outras). Modelo de educação afetiva Este modelo parte da observação de que os jovens mais bem estruturados e menos vulneráveis, do ponto de vista psicológico, estão menos sujeitos a se envolver no uso problemático de drogas. Trata-se de um conjunto de procedimentos que devem ser iniciados na mais tenra infância, e que visa a melhorar ou a desenvolver no jovem: • a auto-estima; • a capacidade de lidar com a ansiedade e a frustração; • a habilidade de decidir e interagir em grupo; • a comunicação verbal; • a capacidade de resistir às pressões de grupo. Exemplo: serviços de orientação educacional para desenvolver a afetividade e a autoestima. A família tem papel fundamental na formação do adolescente e a preparação da adolescência saudável se inicia na infância. A criança precisa aprender a lidar com limites e frustrações. Crianças que crescem num ambiente com regras claras, geralmente são mais seguras, pois sabem o que devem ou não fazer para agradar. Quando se defrontam com um limite, devem aprender a lidar com esta frustração, desenvolvendo recursos próprios para superá-la. Na adolescência, sem a proteção da família, o adolescente desafiador e imediatista, que não sabe lidar com frustrações, apresenta maior risco para desenvolver uso indevido de substâncias. É importante que os pais de Educação Infantil sejam esclarecidos sobre a necessidade de já começarem a atuar preventivamente, refletindo e revendo suas posturas. O programa de prevenção na escola pode ser estimulante nesta caminhada, especialmente nesta fase da vida destes jovens pais, ávidos por orientações e “dicas”.
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Modelo de oferta de alternativas ao uso indevido de drogas Esse modelo trata da oferta de sensações proporcionadas por outros meios que não o consumo de drogas e ligadas à expansão da mente, ao crescimento pessoal, à excitação, ao desafio e ao alívio do tédio. Essas sensações poderiam ser proporcionadas se os jovens pudessem participar de atividades como: • criação e gestão de atividades empresariais; • orientação escolar para os alunos mais jovens; • práticas esportivas desafiadoras; • atividades artísticas variadas. Enfim, atividades que possibilitem ao jovem encontrar “aquilo em que ele é bom”. Todos têm a necessidade de um “rótulo”, uma identidade social. Muitas vezes, a droga aparece como esta identidade. Para que o jovem a deixe, é preciso ter “outro rótulo” disponível, outra atividade com a qual ele se identifique – que lhe traga realização e um papel social (ou na sua turma). Exemplo: torneios esportivos, criação e gestão de hortas comunitárias ou cooperativas de produtos ou serviços. Quanto ao desempenho escolar, um exemplo é o de monitoria ou ajuda mútua, com alunos mais adiantados auxiliando os mais atrasados. É importante ressaltar que o bom desempenho escolar não deve ser a única obrigação do jovem, ou sua principal responsabilidade. É fundamental que ele tenha alternativas e opções de atividades com as quais possa se identificar. Modelo de educação para a saúde A proposta central é colocar a educação a serviço de uma vida saudável. Podem ser desenvolvidas ações para orientar o jovem a ter uma alimentação adequada, para atividades que não promovam estresse, para uma vida sexual segura e até para a escolha correta da pessoa que dirigirá o carro num passeio de grupo. Esse conjunto de ações compreenderia, ainda, a orientação sobre os riscos do uso de tabaco, de álcool e das demais drogas. Trata-se de um modelo que pretende não só a formação de um cidadão consciente da realidade, inclusive em relação aos riscos existentes no mundo que o cerca, mas também com capacidade de escolher uma vida mais saudável para si e para sua comunidade. O ponto principal é que nosso cérebro não trabalha com negativas. É fácil entender: se falarmos, “não pense em amarelo”, em que cor você pensou? Na prevenção ocorre o mesmo: ao invés de falarmos não às drogas, é mais importante dizer SIM À SAÚDE! É através deste enfoque positivo, da busca pela vida, pela saúde e pelo saudável que o jovem poderá se identificar com as ações preventivas e ver que é possível ter muita diversão e prazer sem as drogas, através de atividades que lhe permitam construir algo, produzir, criar e, principalmente, preservar o vigor e energia tão característicos desta fase da vida. Com isto, poderão aproveitar por muito mais tempo, e não apenas enquanto são jovens. Exemplo: discussão de temas mais gerais, como poluição, trânsito ou perigo atômico; participação ativa em campanhas relacionadas à saúde, etc. Modelo de modificação das condições de ensino A vivência escolar é essencial para um desenvolvimento sadio do adolescente e do adulto. Assim, a preocupação recai na formação integral do jovem, não apenas na prevenção ao uso abusivo de drogas. As estratégias resultam em ações de prevenção à delinqüência, às doenças mentais, a comportamentos de risco, enfim, visam o jovem saudável. As iniciativas devem ser intensas e duradouras, acompanhar a criança desde a idade pré-escolar e envolver não só os pais, mas também a comunidade. O vínculo é o principal fator capaz de influenciar o jovem no momento da escolha: experimentar ou não experimentar droga? A possibilidade de frustrar aquela pessoa que lhe serve de modelo, o medo do afastamento e da perda de alguém importante do ponto de vista afetivo podem representar o principal contrapeso à curiosidade do jovem em relação aos efeitos da droga.
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Esse modelo tem seis orientações básicas, que podem ser aplicadas em conjunto.
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Modificação das práticas de ensino Inclui várias iniciativas, como mudar as formas de ensinar, tornando-as mais prazerosas e eficientes, ou alterar o conteúdo curricular da escola para aproximá-lo mais da realidade do aluno. As aulas menos formais, que possibilitam o contato mais particularizado professor-aluno, podem ser mais motivadoras no processo de aprendizagem, além de propiciar o contato preventivo individualizado, respeitando o amadurecimento de cada aluno.
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Melhoria da relação professor-aluno Trata-se de oferecer maior oportunidade ao estudante para manifestar suas dúvidas e anseios. Enfatiza o diálogo aberto e o respeito mútuo. É através do contato informal que o vínculo surge e que ocorrem as ações preventivas mais espontâneas e de maior impacto. •
Melhoria do ambiente escolar Procura-se mudar o ambiente da escola, dando mais espaço de participação aos estudantes, aos pais e à comunidade no planejamento e no processo de decisão.
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Incentivo ao desenvolvimento social Orientação bastante parecida com a anterior, enfatiza as relações sociais entre os próprios alunos e propõe atividades que incentivem a preocupação de uns com os outros, a cooperação, a solidariedade, entre outros.
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Oferta de serviços de saúde Serviços oferecidos gratuitamente dentro da escola,para atender às necessidades dos adolescentes. Por exemplo, iniciativas para solucionar problemas de aprendizagem, de alimentação, de estresse ou de orientação sexual. Mostrar que a preocupação é com a saúde, não apenas com a droga.
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Envolvimento dos pais em atividades curriculares Serviço que procura aumentar a participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Pode ser prestado na forma de acompanhamento das tarefas de casa ou nas oficinas de pais, convidado pela escola para participar das questões ligadas ao relacionamento entre pais e filhos e ao desempenho escolar. Através da aproximação com a escola, o pai se aproxima do filho, há melhora do vínculo entre eles, que é um dos principais fatores envolvidos na prevenção a alterações de comportamento na adolescência. Exemplos: • • • • •
Inovações para integrar o aluno à sua comunidade, como programas de visitas a museus, a supermercados, a instituições como corpo de bombeiros, sedes de governos etc. Para melhorar a relação professor-aluno, pode-se fazer discussões sobre drogas e doenças sexualmente transmissíveis, ou ainda filmes e peças de teatro. Para melhorar o ambiente escolar, pode-se fazer reuniões para criar ou melhorar uma sala de leitura aberta à comunidade, ou instalar um serviço para divulgar informações de interesse geral, como oferta e procura de emprego para os jovens. No campo social, pode-se criar campanhas para arrecadação de fundos, para ajudar pessoas carentes ou vítimas de catástrofes. Na área de saúde, a escola pode organizar reuniões com a presença de médicos, dentistas ou nutricionistas.
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Pode-se envolver os familiares dos alunos em atividades para reforço escolar ou de incentivo à melhoria do relacionamento escola-comunidade. O principal é ter criatividade e desenvolver o maior número de atividades diferentes, respeitando as possibilidades e necessidades de cada comunidade. Quanto maiores as possibilidades de identificação positiva do jovem com uma atividade, maiores os fatores protetores dos desvios de comportamento. Bibliografia ABERASTURY, A e KNOBEL, M. Adolescência normal. Porto Alegre. Artes Médicas, 1981. ADIALA, J. C. O problema da maconha no Brasil: ensaio sobre racismo e drogas. Rio de Janeiro: Iuperj. 1986, (Série Estudos, 52). CARLINI-COTRIM, B.; GALDURÓZ, J. C.; NOTO, A. R.; PINSKY, I. A mídia na fabricação do pânico de drogas: um estudo no Brasil. Comunicação e Política, nº 1, v. 2, p. 217-230, 1994. CARLINI-COTRIM, B. Drogas na escola: prevenção, tolerância e pluralidade. In: ADIALA J. G. (Org.): Drogas na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus.1998. CARLINI-COTRIM, B. Movimentos e discursos contra as drogas nas sociedades ocidentais contemporâneas. Revista da Associação Brasileira de Psiquiatria, nº 17, v. 3, p. 93-101, 1995. CARLINI-COTRIM, B. A escola e as drogas: o Brasil no contexto internacional. Tese de Doutoramento, Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. CARLINI-COTRIM, B.; ROSEMBERG, F. Os livros didáticos e o ensino para a saúde: o caso das drogas psicotrópicas. Revista de Saúde Pública, nº 25, v. 4, p. 299-305, 1991. CARLINI-COTRIM, B.; PINSKY, I. Prevenção ao abuso de drogas na escola: uma revisão da literatura internacional recente. Cadernos de Pesquisa, nº 69, p.48-52, 1989. Droga vira tema de concurso para diretores. Estado de São Paulo. 15 de abril de 2001. http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2001/04/15/cid330.html HENMAN, A. A guerra às drogas é uma guerra etnocida. Religião e Sociedade, v.10, p. 37-48, 1983. KANDEL,D.B. e LOGAN, J.A Patterns of drug use from adolescence to Young adulthood: I. Periods of risk for initiation, continued use, and discontinuation. Am. J. Public Health, 74 (7): 660666, 1984. LAMBERT, Milton Santo. Drogas. Mito e Realidade. Ed. Medsi, 2001. MARLATT, G. A. Redução de Danos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. MONTEIRO, M.G. Young people and substance use: a menval- create, use and evaluate educational materials and activities. Mentall Foundation, WHO Departament on Substance Abuse, 1999. NIDA, Prevention brochure, EUA, 2001. PATTO, M. H. S. Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T.A Queiroz, 1993. PIERUCCI, A. F. As bases da nova direita. Novos Estudos CEBRAP, nº 19, p. 26-45, 1987. PROJETO APRENDIZ. Dossiê: Drogas, educação e juventude. Disponível em: http://www.uol.com.br/aprendiz/index.html REVISTA EDUCAÇÃO. Baseado em quê? Ano 28 nº 250, fev/2002. SCIVOLETTO, S. Abuso e Dependência de Drogas. In: SAITO, MI & SILVA, L.E.V.(eds.): Adolescência- Prevenção e Risco. São Paulo: Atheneu, 2001 , p. 365-385,. TIBA, I. Ensinar Aprendendo- Como Superar os Desafios do Relacionamento Professor-Aluno em tempos de Globalização. São Paulo: Gente, 1999. VELHO, G. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. WODARSKI, J.S.; FEIT, M.D. Adolescent substance abuse na empirical- based group preventive health paradigm. New York: The Haworth Press, 1999.
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ORIENTAÇÕES PARA TRABALHO COM CRIANCAS E ADOLESCENTES SOBRE PREVENCAO AO USO DE DROGAS NA ESCOLA Maria do P. Socorro M. Torres Ivanilde Alves Prevenção integral Para falar em prevenção precisamos clarear que “prevenção não e só repasse de informações para evitar que o fato aconteça”. é atuar em, com, e sobre o contexto social onde estão inseridas as pessoas, e na formação dos indivíduos envolvidos nesse contexto antes que os mesmos tornem-se vítimas potenciais dos problemas objeto da prevenção. Então, como fazer isto? isso se consegue, segundo o especialista Luis C. Restrepol, promovendo a coletivização dos interesses, experiências e conhecimentos; fortalecendo a cooperação; estimulando e ampliando as relações sócio-afetivas; fomentando a liderança , a organização e a participação comunitária e impulsionando as parcerias entre instituições e comunidades. Hoje em dia, as drogas estão presentes em toda a sociedade , manifestando-se, particularmente nas escolas, que portanto, não podem ficar alheias a realidade da existência das drogas no dia-a-dia das crianças e dos adolescentes. Nesse sentido, é necessário que a escola reveja alguns aspectos como: • a escola é um espaço privilegiado para se desenvolver atividades educativas; • a função da escola é mais que informativa, é formadora de cidadãos afetivos e socialmente integrados; • os profissionais de educação não são meros passadores de informação, mas sim agentes preventivos em potencial que devem reconhecer os limites do educador e fazer encaminhamentos a outros segmentos da sociedade, quando necessários; • implantação e implementação de programas de prevenção devem ser inseridos no projeto pedagógico da escola dentro de decisões políticas, utilizando um conjunto de medidas para impedir ou mesmo reduzir o problema; • centralização de suas ações na formação integral do ser humano, valores, motivação, alternativas de lazer ,esporte e arte, ou seja, um estilo de vida isento de drogas. Assim, segundo Ligia Aratangy, um projeto de prevenção ao uso de drogas além de garantir aos alunos informações corretas, isentas de preconceitos, deve contemplar a vertente emocional da questão, acolher as características próprias da infância, a inquietação da adolescência, sem abrir mão de estabelecer limites claros e não arbitrários. Uma educação preventiva e abrangente é um componente essencial do modelo a ser adotado por uma escola, desde a educação infantil até o ensino médio. Devem ser apresentar mensagens coerentes e positivas que promovam a saúde, estimulem hábitos saudáveis, ensinem o respeito às leis que proíbem drogas, ensinem à resistência à pressão de grupos e que promovam atividades livres de drogas, de forma contínua . A experiência dos últimos anos mostra que as melhores atividades educacionais envolvem o desenvolvimento da auto-estima, habilidades de solucionar problemas e apresentação de informações atuais, corretas e científicas. No bojo do processo de execução dessas atividades, devemos lembrar que o jovem só se aproxima das drogas na busca do prazer que elas proporcionam. Frente a isto, devemos contrapor essa busca com ações que causem a eles o mesmo efeito, como atividades artísticas e desportivas desenvolvidas pela escola. Como fazer? É essencial conhecer melhor a percepção do público- alvo sobre o tema, por meio de uma avaliação diagnóstica. Depois, deve-se considerar: • a realidade de cada grupo;
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•
questionar as verdades e preconceitos individuais;
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inserir a questão do uso de drogas numa visão ampla, que transcenda o âmbito individual da liberdade de escolha, inserindo-a na questão da cidadania, ética, relações afetivas, adolescência, valores, resoluções de conflito, problemas sociais e outros.
Da Educação Infantil até a 4ª série do Ensino Fundamental Nesse período, devemos planejar atividades que auxiliem as crianças no desenvolvimento das habilidades de vida, como: • • • • • • • • • • •
percepção de si mesmo e do outro; conhecimento das partes do corpo; auto-estima e auto-imagem; habilidades de cooperação e solidariedade; amizade; identificação dos sentimentos e de como os mesmos afetam o comportamento; responsabilidade pelos próprios atos; pedir ajuda diante de problemas e dificuldades; capacidade de resolução de problemas; tomada de decisão; avaliação de credibilidade das informações de estranhos;
•
distinção de pessoas confiáveis ou não.
Além disso, os professores devem levar em consideração a idade real e o nível de desenvolvimento dos alunos. Nessa fase, as crianças em sua maioria conhecem remédios, porem elas têm pouco ou nenhum envolvimento com drogas, embora algumas vivam em ambientes onde elas são usadas e podem estar expostas a sérios problemas como a violência e negligência. Em sua maioria, as crianças já ouviram falar sobre drogas na tv, ou conhecem adultos que bebem ou fumam, e têm curiosidade a respeito do assunto. Com relação às drogas as crianças devem saber: • • • •
diferenciar remédios de drogas legais; saber de quem podem receber remédios; ter noção de que a maioria das pessoas não faz uso de drogas; ter cuidados com o corpo;
•
ter noções básicas sobre os malefícios do álcool e do cigarro no organismo.
De 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental e Ensino Médio Nesse período onde se inicia a adolescência devemos considerar a existência de: • • • • • • • •
e surge posteriormente a fase adulta
um período de mudanças físicas, psíquicas e de relacionamentos; busca de identidade fora do contexto familiar; questionamentos sobre valores, crenças e velhas maneiras de resolver as coisas; imediatismo de ações; desejo de pertencer a um grupo; super valorização da aparência, tamanho e forma de várias partes do corpo; poucas informações corretas e apropriadas sobre sexualidade e drogas; atração pelo perigo e por experimentar coisas novas;
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• •
pensamento abstrato; preocupação com o futuro;
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oscilações de humor (da agressividade à depressão).
Nessa fase, geralmente os adolescentes já têm um envolvimento direto ou indireto com drogas legais ou ilegais, e o trabalho de prevenção deve ter uma abordagem que inclua os seguintes itens: •
• • • • •
compreensão da linguagem e do ritmo do grupo, visto que o adolescente se comunica por uma linguagem implícita e própria do seu modo de ser, nem sempre entendida pelo adulto; reflexão para que o jovem entenda como as decisões tomadas agora podem ter implicações a longo prazo; informações sobre os perigos que as drogas legais e ilegais representam para um corpo em crescimento; conteúdos de prevenção inseridos de forma ampla em todas as matérias (interdisciplinaridade); participação dos pais e professores, trabalhando juntos como modelos de comportamentos; mudanças de valores, hábitos, atitudes, promovendo a auto-estima , valorização da vida , vínculos saudáveis, responsabilidades, limites e disciplina ; alternativas de prazer, levando os jovens a adotarem hábitos de vida saudáveis; resistência às pressões de grupo para experimentar drogas; estabelecimento de um clima de confiança entre professores, alunos e pais; reconhecimento da importância da família e dos laços familiares e de amizades; identificação e avaliação crítica das mensagens enganosas e danosas da mídia;
•
conhecimento dos efeitos das drogas sobre o crime e a economia
• • • • •
Diante das sugestões e orientações da metodologia de trabalho em prevenção ao uso de drogas com crianças, adolescentes e adultos jovens, podemos afirmar que a escola é um espaço livre e privilegiado para o desenvolvimento de ações preventivas e integrada. Devem-se ,então, discutir e elaborar estratégias de informação, orientação e intervenção em que participem alunos ,pais , professores e a comunidade escolar em geral Necessariamente a intervenção preventiva não precisa visar só o estudante. ela pode e deve tentar também modificar o ambiente em que ele vive, visto que, uma escola inadequada e omissa, pode constituir um fator propiciador do abuso de drogas, deslocando a discussão para o campo da política educacional e do questionamento pedagógico. Bibliografia Ministério da Educação dos Estados Unidos – Manual Aprendendo a Viver Livre de Drogas – um modelo de currículo para a prevenção; publicado pelo U.S. Departament of Education Aquino,julio groppa(org.) - Drogas na escola- alternativas teóricas e práticas, Summus Editorial,sp, 1998 Ministério da Saúde – Manual do Multiplicador :Adolescente- Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids – Brasília,1997
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DROGAS: CLASSIFICAÇÃO E EFEITOS NO ORGANISMO Dr.Sérgio Nicastri Introdução Neste capítulo, discutiremos as principais drogas utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental, no psiquismo (daí o termo drogas psicotrópicas). Essas drogas, em particular, também são conhecidas como substâncias psicoativas. Uma droga não é por si só boa ou má. Existem substâncias que são usadas com a finalidade de produzirem efeitos benéficos, como o tratamento de doenças, sendo consideradas medicamentos. Por outro lado, existem substâncias que provocam malefícios à saúde e são chamados de venenos ou tóxicos. É interessante que uma mesma substância pode funcionar como um medicamento em algumas situações ou como tóxico em outras. Vale lembrar que nem todas as substâncias psicoativas têm a capacidade de provocar dependência. Como exemplo, diversos medicamentos utilizados no tratamento de depressão e quadros psicóticos não apresentam potencial de induzir dependência. Por outro lado, alguns medicamentos que não são vistos como “psiquiátricos” têm propriedades psicotrópicas e podem produzir abuso e dependência. Mesmo substâncias aparentemente inofensivas e presentes em muitos produtos de uso doméstico podem ter essa capacidade. As substâncias listadas pela Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID10), em seu Capítulo V (Transtornos Mentais e de Comportamento) incluem: • álcool • opióides (morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas) • canabinóides (maconha) • sedativos ou hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos) • cocaína • outros estimulantes (incluindo a cafeína) • alucinógenos • tabaco
•
solventes voláteis
Existem diversas formas de classificar as drogas (Desse ponto em diante, por razão de simplicidade, o termo droga refere-se exclusivamente às substâncias psicoativas): Classificação das Drogas do Ponto de Vista Legal Drogas Lícitas • •
Existem as que podem ser livremente obtidas. Algumas estão submetidas a determinadas restrições (como o caso de alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial).
Drogas Ilícitas •
Proibidas por lei.
Uma classificação de interesse didático é a que se baseia nas ações aparentes das drogas sobre o sistema nervoso central (SNC), conforme as modificações observáveis na atividade mental:
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1. Drogas Depressoras da Atividade Mental 1.1 Álcool As propriedades euforizantes e intoxicantes são conhecidas desde tempos pré-históricos e praticamente todas as culturas têm ou tiveram alguma experiência com sua utilização. É seguramente a droga psicotrópica de uso e abuso mais amplamente disseminados em grande número e diversidade de países na atualidade. A fermentação produz bebidas com concentração de álcool de até 10% (proporção do volume de álcool puro no volume total da bebida), sendo obtidas concentrações maiores por meio de destilação. É utilizado sobretudo em função de sua ação euforizante em doses baixas e capacidade de diminuir as inibições, facilitando a interação social. Há uma relação entre os efeitos do álcool e dos níveis da substância no sangue (que variam em função do tipo de bebida utilizada, da velocidade do consumo e da presença de alimentos no estômago, além de possíveis alterações no metabolismo da droga por diversas situações - por exemplo, na insuficiência hepática, onde a degradação da substância é mais lenta). Níveis de Álcool no Sangue Baixo Desinibição do comportamento. Diminuição da crítica; Hilaridade e labilidade afetiva (a pessoa ri ou chora por motivos pouco significativos). Certo grau de incoordenação motora. Prejuízo das funções sensoriais.
Médio Maior incoordenação motora (ataxia). A fala torna-se pastosa, havendo dificuldades de marcha e aumento importante do tempo de resposta (reflexos mais lentos). Aumento da sonolência, com prejuízo das capacidades de raciocínio e concentração.
Alto Podem surgir náusea e vômitos. Visão dupla (diplopia), acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma), podendo ocorrer hipotermia e morte por parada respiratória.
O álcool induz tolerância e síndrome de abstinência. A abstinência pelo álcool ocorre em diversos graus de severidade, sendo caracterizada por:
• • •
Tremores Irritabilidade Insônia
•
Sinais de hiperatividade autonômica: sudorese, taquicardia, hipertensão.
•
Pode ocorrer convulsões e, nas formas mais graves o chamado delirium tremens: Confusão mental com alucinações (são clássicas as do tipo visual, com visões de pequenos insetos) Quadros de agitação.
• • • • •
Conseqüências clínicas do uso crônico de álcool incluem: Gastrite, Pancreatite, Diversas formas de hepatopatia, Alterações hematológicas associadas ou não a deficiências de folato ou vitamina B12, Neuropatias,
•
•
Alterações do SNC e do coração
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1.2 Barbitúricos São drogas que causam tolerância, sobretudo quando o indivíduo utiliza doses altas desde o início e chega a provocar síndrome de abstinência quando da sua retirada. Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porém a dose para causar seus efeitos terapêuticos desejáveis não é muito distante da dose tóxica ou letal. O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todas as drogas indutoras de sono é muito diferente do sono “natural” (fisiológico). Os principais efeitos são: • A diminuição da capacidade de raciocínio e concentração. • Sensação de calma, relaxamento e sonolência. • Os reflexos tendem a ficar mais lentos.
•
• •
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Com doses um pouco maiores, a pessoa sente-se como que embriagada, a fala fica pastosa e há dificuldades na marcha. Com doses tóxicas, os principais efeitos são: Começam a surgir sinais de incoordenação motora, Ocorre uma acentuação importante da sonolência (até o coma), podendo haver morte por parada respiratória. Em geral, são utilizados atualmente na prática clínica para indução anestésica (tiopental) e como anticonvulsivantes (fenobarbital). 1.3 Benzodiazepínicos
Este grupo de substâncias começou a ser usado na Medicina durante os anos 60, possuindo similaridades importantes, em termos de ações farmacológicas, com os barbitúricos, com a vantagem de uma maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica é muitas vezes maior que a dose terapêutica. Essas drogas dificultam processos de aprendizagem e memória, alterando também funções motoras e prejudicando atividades como dirigir automóveis e outras que exijam reflexos rápidos. As doses tóxicas dessas drogas são bastante altas, mas pode ocorrer intoxicação se houver uso concomitante de outros depressores da atividade mental, principalmente álcool ou barbitúricos. O quadro de intoxicação é muito semelhante ao causado por barbitúricos. Existem centenas de compostos comerciais disponíveis, que diferem somente em relação à velocidade e duração total de sua ação, sendo que alguns são melhor utilizados clinicamente como indutores de sono, enquanto que outros são empregados no controle da ansiedade ou como anticonvulsivantes. Exemplos de benzodiazepínicos: diazepam, lorazepam, bromazepam, midazolam, flunitrazepam, clonazepam, além de diversas outras substâncias. 1.4 Opióides A ação deve-se à sua capacidade de imitar o funcionamento de diversas substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e encefalinas. Ações: • Depressores da atividade mental, mas possuem ações mais específicas, tais como analgesia e inibição do reflexo da tosse. • Causam efeitos somáticos como: • Contração pupilar (miose) importante. • Diminuição da motilidade do trato gastrointestinal. • Efeito sedativo, prejudicando a capacidade de concentração, torpor e sonolência.
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•
• •
Deprimem o centro respiratório, de modo que a respiração torna-se mais lenta e superficial, até a parada respiratória, perda da consciência e morte.
Uso clínico: remédios para controlar a tosse, antidiarréicos e analgésicos potentes. Exemplos de opióides: morfina, heroína, codeína, meperidina e propoxifeno. 1.5 Solventes ou Inalantes
Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação (de segundos a minutos), sendo também de curta duração, predispondo o usuário a aspirações repetidas, com conseqüências às vezes desastrosas. Os efeitos: Primeira Fase
Segunda Fase
Terceira Fase
Quarta Fase
A pessoa fica Predomínio da A depressão se A depressão tardia, eufórica, com depressão do SNC, aprofunda, com redução ocorre inconsciência, diminuição de tornando-se o indivíduo acentuada do alerta, podendo haver inibição de confuso, desorientado, incoordenação ocular, convulsões, coma e comportamento, podendo também incoordenação motora morte. ocorrer alucinações sendo que as auditivas e visuais; alucinações tornam-se mais evidentes; Quadro de uso crônico: o uso continuado dessas substâncias pode levar à destruição de neurônios, causando danos irreversíveis no cérebro, assim como lesões do fígado, rins, nervos periféricos e medula óssea. Um outro efeito, ainda pouco esclarecido, dessas substâncias (particularmente dos compostos halogenados, como o clorofórmio) é sua interação com a adrenalina, aumentando sua capacidade de causar arritmias cardíacas, o que pode provocar morte súbita. Síndrome de abstinência: Embora haja tolerância, até hoje não temos uma descrição característica da síndrome de abstinência relacionada a este grupo de substâncias. 2. Drogas Estimulantes da Atividade Mental 2.1 Anfetaminas O mecanismo de ação: é aumentar a liberação e prolongar o tempo de atuação de alguns neurotransmissores utilizados pelo cérebro (a dopamina e a noradrenalina). Efeitos: Em pessoa que utiliza essas substâncias: • Uma diminuição do sono e do apetite; • Fala mais rápido; • Sente-se cheia de energia e menos fatigável, muitas vezes realizando esforços excessivos, o que pode ser prejudicial;
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•
Observam-se também dilatação pupilar (midríase);
• •
Taquicardia; Elevação da pressão arterial em conseqüência do uso dessas drogas.
Doses tóxicas: Esses efeitos anteriores acentuam-se, o indivíduo tende a ficar mais irritável e agressivo, podendo surgir idéias de que outras pessoas estão tramando contra si (delírios persecutórios) e alucinações. Também é possível a ocorrência de convulsões. Abstinência: É bem estabelecido que essas drogas induzem tolerância, sendo menos claro se ocorre uma verdadeira síndrome de abstinência. São freqüentes os relatos de sintomas depressivos (falta de energia, desânimo, perda da motivação), por vezes bastante intensos, ao se interromper o uso dessas substâncias. Uso Clínico: Dentre outros usos, destaca-se sua utilização clínica como moderadores de apetite (“remédios de regime”). 2.2 Cocaína Mecanismo de Ação no SNC: Muito semelhante ao das anfetaminas, mas a cocaína atua ainda sobre um terceiro neurotransmissor, a serotonina, além da noradrenalina e da dopamina. No passado, era usada como anestésico local, hoje obsoleto. Efeitos: • Um início rápido e uma duração breve, mais intensos e fugazes quando a via de utilização é a intravenosa ou quando o indivíduo utiliza o “crack” • Sensação intensa de euforia e poder, além de: • Um estado de excitação, • Hiperatividade, • Insônia, • Falta de apetite, • Perda da sensação de cansaço. Abstinência: Não são descritos nem tolerância, nem uma síndrome de abstinência inequívoca, mas o aumento progressivo das doses consumidas pelos indivíduos é observado freqüentemente. Crack: Os indivíduos que o utilizam desenvolvem dependência severa rapidamente, muitas vezes em questão de poucos meses ou mesmo algumas semanas de uso. Com doses maiores, são observados outros efeitos, tais como irritabilidade, agressividade e até delírios e alucinações, que caracterizam um verdadeiro estado psicótico (a psicose cocaínica). Também podem ser observados aumento da temperatura e convulsões (freqüentemente de difícil tratamento, podendo levar à morte, se forem prolongadas). Ocorrem ainda uma dilatação pupilar (midríase), elevação da pressão arterial e taquicardia que pode levar a uma parada cardíaca por fibrilação ventricular, sendo uma das possíveis causas de morte por superdosagem.
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Interessante: Mais recentemente e de modo cada vez mais freqüente, têm-se verificado alterações persistentes na circulação cerebral em indivíduos dependentes da droga. Existem evidências de que a cocaína seja um fator de risco para o desenvolvimento de infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais – AVCs – em indivíduos relativamente jovens. Rabdomiólise (degeneração irreversível da musculatura) em usuários crônicos de cocaína também já foi descrito. 3. DROGAS PERTURBADORAS DA ATIVIDADE MENTAL 3.1 Maconha Efeitos Psíquicos Agudos:
Efeitos Psíquicos Crônicos:
Podem ser descritos em alguns casos Uso continuado interfere com a como uma sensação de bem-estar, capacidade de aprendizado e memorização, acompanhada de calma, relaxamento, menos podendo induzir um estado de síndrome fadiga e hilaridade, enquanto que outras amotivacional. pessoas experimentam angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o auto-controle e ansiosas, com tremores e sudorese. Há uma perturbação na capacidade de calcular o tempo e o espaço, além de um prejuízo de memória e de atenção. Com doses maiores ou dependendo da sensibilidade individual, podem ocorrer perturbações mais evidentes do psiquismo, com predominância de delírios e alucinações. Efeitos Físicos Agudos: • •
Hiperemia conjuntival; Diminuição da produção da saliva (sensação de secura na boca); Taquicardia (podendo-se chegar a freqüências de 140 batimentos por minuto ou mais).
•
Efeitos Físicos Crônicos: Problemas respiratórios são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é muito irritante, além de conter alto teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele existir uma substância chamada benzopireno. Ocorre ainda uma diminuição (de até 50-60%) na produção de testosterona dos homens, podendo haver infertilidade.
3.2 Alucinógenos Alucinógenos Propriamente Ditos ou Alucinógenos Secundários, como no Alucinógenos Primários caso dos ANTICOLINÉRGICOS Capazes de produzir seus efeitos Capazes de induzir efeitos alucinógenos psíquicos em doses que praticamente não em doses que afetam de maneira importante alteram qualquer outra função no organismo. diversas outras funções. Plantas com Propriedades Alucinógenas • •
Cogumelos (Psylocibe mexicana) que produza psilocibina, Jurema (Mimosa hostili) que sintetiza a dimetiltriptilina ou DMT.
•
Caapi e a chacrona (Banisteriopsis caapi e Psychotryia virides) respectivamente plantas utilizadas conjuntamente sob a forma de uma
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bebida que é ingerida no ritual do Santo Daime ou Culto da União Vegetal e várias outras seitas. 3.2.1 LSD Dentre as substâncias alucinógenas sintetizadas artificialmente a principal é a dietilamida do ácido lisérgico (LSD). É uma das substâncias mais potentes com ação psicotrópica que se conhece. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas. Efeitos: Dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também do ambiente em que se deu a experiência. • Distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados); • Fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem forma ou cor); • Perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecendo horas ou metros assemelhando-se a quilômetros); • Alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis, mas também podem deixar o usuário extremamente amedrontado. • Estados de exaltação coexistem com muita ansiedade, angústia e pânico e são relatados como boas ou más “viagens”. Delírios Delírios de Grandiosidade
Delírios Persecutórios
Efeitos Quando o indivíduo julga-se com capacidades ou forças extraordinárias, sendo capaz de, por exemplo, atirar-se de janelas, acreditando que pode voar; avançar mar adentro, crendo que pode caminhar sobre a água; ficar parado em frente a um carro numa estrada, julgando ter força mental suficiente de pará-lo. Como por exemplo, o indivíduo acreditando ver à sua volta indícios de uma conspiração contra si, pode até agredir outras pessoas numa tentativa de defender-se da “perseguição”.
Outros Efeitos Tóxicos: Há descrições de pessoas que experimentam sensações de ansiedade muito intensa, depressão e até quadros psicóticos por longos períodos após o consumo do LSD. Uma variante desse efeito é o “flash back”.
Efeitos no resto do organismo
Descrição: Após semanas ou meses depois de uma experiência com LSD, o indivíduo volta a apresentar repentinamente todos os efeitos psíquicos da experiência anterior, sem ter voltado a consumir a droga, com conseqüências imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam sendo procurados ou esperados, podendo surgir em ocasiões bastante impróprias. • Aceleração do pulso; • Dilatação pupilar; • Episódios de convulsão já foram relatados, mas são mais raros.
Tolerância
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Desenvolve-se muito rapidamente com o LSD, mas também há um desaparecimento rápido do mesmo com a interrupção do uso da substância. Não há descrição de uma síndrome de abstinência se um usuário crônico deixa de consumir a substância, mas ainda assim pode ocorrer a dependência. Quando, por exemplo, as experiências com o LSD ou outros perturbadores do SNC são encaradas como “respostas aos problemas da vida” ou “formas de se encontrar”, que fazem com que a pessoa tenha dificuldades em deixar de consumir a substância, freqüentemente ficando à deriva no dia-a-dia, sem destino ou objetivos que venham enriquecer sua vida pessoal. Importante: O Ministério da Saúde do Brasil não reconhece nenhum uso clínico dos alucinógenos, sendo sua produção, porte e comércio proibidos no território nacional 3.2.1 ECSTASY (3,4-metileno-dioxi-metanfetamina ou MDMA): É uma substância alucinógena, mas que guarda relação química com as anfetaminas, apresentando também propriedades estimulantes. Seu uso é freqüentemente associado a certas subculturas, tais como alguns jovens freqüentadores de danceterias ou boates. Tem havido relatos de casos de morte por hipertermia maligna, em que a participação da droga não é completamente esclarecida (possivelmente estimulando hiperatividade e reduzindo a sensação de sede ou, talvez, induzindo um quadro tóxico específico). Também existem suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico de neurônios produtores de serotonina. 3.3 Anticolinérgicos Efeitos sobre o psiquismo: Aparecem quando utilizados em doses relativamente grandes e provocam alterações de funcionamento em diversos sistemas biológicos, sendo portanto drogas pouco específicas. Efeitos Psíquicos Alucinações e delírios, sendo comuns as descrições pelas pessoas intoxicadas de sentirem-se perseguidas, de verem pessoas ou animais, etc. Esses sintomas dependem bastante da personalidade do indivíduo, assim como das condições ambientais onde ocorreu o consumo dessas substâncias. Os efeitos são em geral bastante intensos, podendo durar até 2 ou 3 dias. Efeitos Somáticos das Anfetaminas Midríase, boca seca, aumento da freqüência cardíaca, diminuição da motilidade intestinal (até paralisia)e dificuldades para urinar. Em doses elevadas, podem produzir grande elevação da temperatura (até 40-41ºC), com possibilidade de ocorrerem convulsões. Nessa situação, a pessoa apresenta-se com a pele muito quente e seca, com uma hiperemia principalmente localizada no rosto e no pescoço.Exemplos de drogas desse grupo: algumas plantas, como certas espécies do gênero Datura (conhecidas como saia branca, trombeteira ou zabumba, que produzem atropina e escopolamina) e certos medicamentos, como o tri-hexafenidil, a diciclomina e o biperideno. 4. Outras Drogas Tabaco: Um dos maiores problemas de saúde pública em diversos países do mundo, o cigarro é uma das mais importantes causas potencialmente evitáveis de doenças e morte. Efeitos • Doenças cárdio-vasculares (infartos, morte súbita e AVCs ou “derrames”)
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Doenças respiratórias (enfisema, asma, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica) Diversas formas de câncer (pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, rim, bexiga e útero) Funções reprodutivas: redução da fertilidade, prejuízo do desenvolvimento fetal, aumento de riscos para gravidez ectópica e abortamento espontâneo
“Fumantes passivos” A nicotina é a substância presente no tabaco que provoca a dependência, mas não está associada a todos os problemas de saúde provocados pelo cigarro. Nicotina não parece ser cancerígena, embora esteja implicada nas doenças cárdiocirculatórias. Ações Psíquicas da Nicotina São complexas, com uma mistura de efeitos estimulantes e depressores. São descritos aumento da concentração e da atenção, redução do apetite e redução da ansiedade. Tolerância A nicotina induz tolerância e se associa a uma síndrome de abstinência que apresenta alterações do sono, irritabilidade, diminuição da concentração e ansiedade. Cafeína: É um estimulante do SNC menos potente que a cocaína e as anfetaminas. O seu potencial de induzir dependência vem sendo bastante discutido em tempos recentes. Foi cunhado o termo cafeinismo. Esteróides Anabolizantes Possuem efeitos euforizantes para alguns usuários, mas essa não é geralmente a principal razão de sua utilização. Muitos indivíduos que consomem essas drogas são fisioculturistas, atletas de diversas modalidades ou indivíduos procurando aumentar sua massa muscular e que podem desenvolver um padrão de consumo que se assemelha ao de dependência. Efeitos Adversos Diversas doenças: cárdio-vasculares, alterações no fígado (incluindo câncer) e alterações nos músculos esqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões, interrupção precoce do crescimento). 5. Drogas “Leves” e “Pesadas”: Será Que Isso Existe? Tolerância e Síndrome de Abstinência Durante alguns anos, foi muito importante entender a ocorrência simultânea destes dois fenômenos. Esses fenômenos sugerem a ocorrência de uma adaptação do organismo do usuário à ação constante da droga sobre ele. Dessa forma, seria razoável falar numa “dependência física” (adaptações do organismo às ações de uma droga; esse organismo passaria a necessitar “fisicamente” da presença da droga para poder funcionar bem). Essa teoria é muito convincente para explicar como alguns indivíduos tornam-se tão obcecados pelo consumo de certas drogas, apesar de todos os prejuízos que esse comportamento muitas vezes acarreta. Conclusão
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Nessa unidade, descrevemos alguns dos efeitos das diversas drogas sobre o organismo. Esses efeitos podem ser agrupados, para fins práticos, em efeitos agudos (que ocorrem durante o uso da substância) ou crônicos (conseqüências que ocorrem mesmo algum tempo depois do uso da substância, geralmente após uso prolongado). Os efeitos das drogas também podem ser separados em efeitos somáticos (efeitos sobre o organismo) e efeitos psíquicos (modificações do estado da mente do usuário, provocadas pela droga). Os usuários procuram geralmente os efeitos psíquicos agudos das drogas, muitas vezes prazerosos. Como vimos, esses efeitos freqëntemente não dependem só da substância consumida, mas do contexto em que a substância é usada, das expectativas que o usuário tem com relação à substância. Os efeitos prazerosos nem sempre ocorrem (como relatam muitos usuários de maconha) ou as sensações provocadas pela droga podem ser desagradáveis (como nas “más viagens” dos alucinógenos). De toda forma, mesmo quando ocorrem, os efeitos prazerosos não vêm sozinhos: uma série de efeitos colaterais indesejáveis também são produzidos. Nem sempre o usuário tem noção desses efeitos negativos. Muitos indivíduos que abusam de álcool, por exemplo, não sentem nada de errado com sua saúde, mas descobrem doenças no fígado ou em outros órgãos ao passarem por avaliações médicas de rotina. Outros indivíduos passam do uso ocasional para o uso freqüente de substâncias psicoativas, podendo desenvolver quadros de dependência. Essa progressão nem sempre é percebida pelo indivíduo. Quantos fumantes não se consideram dependentes do cigarro, dizem “eu paro quando eu quiser”, numa ilusão de controle? Eles, muitas vezes, nunca querem parar de fumar e nunca o fazem. A questão do envolvimento de pessoas com álcool e outras drogas vai além da simples busca dos efeitos dessas substâncias. Diversas causas para o uso de drogas podem ser consideradas: a disponibilidade dessas substâncias, a imagem ou as idéias que as pessoas fazem a respeito das drogas, características de personalidade, uso de substâncias por parte de familiares ou amigos e assim por diante. Muito além de um problema “médico” ou “um caso de polícia”, os problemas relacionados ao consumo excessivo de álcool, o uso de tabaco e outras drogas são questões que abrangem toda a sociedade. Bibliografia ANDRADE, A.G.; NICASTRI, S.; TONGUE, E. Drogas: Atualização em Prevenção e Tratamento – Curso de Treinamento em Drogas para Países Africanos de Língua Portuguesa . São Paulo: Lemos, 1993. BEEDER, A.B.; MILLMAN, R.B. Patients with psychopatology. IN: LOWINSON, J.H.; RUIZ, P.; MILLMAN, R.B.; LANGROD, J.G. (Eds.). Substance Abuse: a Comprehensive Textbook –3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. p. 551-562. GALLOWAY, G.P. Anabolic-androgenic steroids. IN: LOWINSON, J.H.; RUIZ, P.; MILLMAN, R.B.;LANGROD, J.G. (Eds.). Substance Abuse: a Comprehensive Textbook – 3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. p. 308-318. GREDEN, J.F.; WALTERS, A. Caffeine. IN: LOWINSON, J.H.; RUIZ, P.; MILLMAN, R.B.; LANGROD, J.G. (Eds.). Substance Abuse: a Comprehensive Textbook – 3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. p. 294-307. LEITE, M.C.; ANDRADE, A.G. et al. Cocaína e Crack: dos Fundamentos ao Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. MASUR, J.; CARLINI, E.A. Drogas – Subsídios para uma Discussão. São Paulo: Brasiliense, 1989. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Tradução de Dorgival Caetano, com a colaboração de Maria Lúcia Domingues e Marco Antônio Marcolin. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993. SCHMITZ, J.M.; SCHNEIDER, N.G.; JARVIK, M.E. Nicotine. IN: LOWINSON, J.H.; RUIZ, P.; MILLMAN, R.B.; LANGROD, J.G. (Eds.). Substance Abuse: a Comprehensive Textbook – 3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. p. 276-294. Texto revisado, originalmente publicado para o curso “Tratamento das Dependências Químicas” Presidência da República/Gabinete de Segurança Institucional SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas
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TRATAMENTO Içami Tiba TRATA-SE, MAS NÃO SE
CURA
O vício adormece dentro do usuário. O corpo não esquece a sensação de prazer. Ele a deixa registrada, e a busca desse prazer pode ser acionada a qualquer instante. A maioria dos usuários passa pela experiência de sair de casa disposto a não utilizar a “maldita droga” e amanhecer arrependido por tê-la usado. O vício desperta porque seu sono se torna superficial ou porque o estímulo para acordar é muito forte. Não é falta de personalidade ou de força de vontade. Tudo começa quando se está bebericando com os amigos. Toma alguns inocentes copos de cerveja, que não acredita ser droga. Ora, a cerveja contém álcool, que, mesmo em pequenas doses, deprime o superego e o controle dos impulsos. A ordem interna de não usar a “maldita droga” é desmanchada pelo álcool, junto com o superego. Se naquela hora, sentir a vontade de usar a “maldita”, fará isso sem restrições. A tal droga passou a ser a “bendita”. Talvez nem chegue a pensar no que está prestes a fazer. O superego somente volta a funcionar quando o efeito do álcool passa, ou seja, na manhã seguinte. Aí vem o arrependimento. DESPERTADORES DO VÍCIO Cada usuário precisa conhecer os despertadores do vício para poder controlá-lo melhor. Os mais comuns são: Uso associado a alguma atividade. Por exemplo, acender um cigarro e entrar no carro. Cada vez que entrar ali, automaticamente o cérebro associará a idéia de fumar e, mesmo sem ter vontade, a pessoa acaba acendendo um cigarro. Beber cerveja ao encontrar os “colegas da garrafa”. Cada vez que estiver com os amigos, virá a vontade de beber. O encontro servirá de aperitivo para a bebida. Acender um baseado quando está sozinho em casa, após voltar do colégio, com a tarde pela frente, sem ter o que fazer ou se a tarefa for chata (estudar, por exemplo). Tornar-se-á irresistível acender “unzinho” principalmente se vier um “amigo estudar junto”, já “despertado” para a maconha. Ver apetrechos de uso, passar pelo local onde utilizou ou comprou a droga. No caso da cocaína, a visão da seringa pode estimular o vício de se injetar. Só de passar por um ponto de venda de crack, um usuário terá o vício despertado. TRATAMENTOS MÉDICOS E PSICOLÓGICOS Os jovens, em geral, são rebeldes ás clássicas psicoterapias, mas quando usam drogas, as resistências pioram e acabam criando verdadeiras batalhas em casa para não irem às consultas. As alegações mais comuns são, entre outras:”Não sou louco para ir a psiquiatra, os loucos são vocês”, “Não sou viciado, paro quando eu quiser”, “Não vão gastar dinheiro à toa!”. Quando há comprometimento psicológico ou físico, a consulta especializada se faz necessária. Cabe ao profissional – médico, psiquiatra, psicólogo – especializado fazer um bom diagnóstico e estabelecer um procedimento adequado. Os especialistas estão mais capacitados a utilizar, se necessário, medicamentos específicos. Há muito progresso no campo medicamentoso terapêutico. Novidades surgem a toda hora, entretanto sua validade deverá ser confirmada pelo profissional escolhido. Um exemplo é o surgimento do ReVia ( cloridrato de naltrexona), que reduz a vontade de beber, porque impede a liberação da dopamina e da betaendorfina no cérebro, quando a pessoa consome álcool. Sem essas substâncias opióides atuando nos neurônios, a sensação de prazer provocada pela bebida desaparece e, conseqüentemente, também a força do vício. O ReVia é diferente do antietanol porque este não diminui a vontade de beber, mas provoca reações violentas no organismo se a pessoa simultaneamente consumir álcool. Com medo, o paciente não bebe.
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A automedicação geralmente é prejudicial, pois pode ser simplesmente sintomática e não terapêutica. O pior é quando essa automedicação se transforma em novo vício. Além de não resolver o problema original, agora se tem um vício a mais... ONDE OBTER APOIO Uma das grandes forças de grupos de auto-ajuda como AA (Alcoólicos anônimos), os NA (Narcóticos Anônimos) e os do Amor Exigente é o cuidado constante que os usuários de drogas e os familiares devem ter, cientes de que a qualquer momento o vício pode ser despertado e recomeçar tudo outra vez, como se nem tivesse parado. Para os AA, todo o dia é um novo dia de luta e cada momento merece atenção especial, pois, se nesse instante falhar a máxima “Hoje não vou beber mais”, tudo terá de recomeçar do zero... Para chegar-se a essa máxima, busca-se um crescimento interior guiado pelos Doze Passos, pelos quais se admite a própria vulnerabilidade ao álcool e se pratica uma singela oração: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”. No Amor Exigente, são Dez Princípios que estimulam as famílias dos usuários de drogas a serem firmes e conscientes na luta contra as drogas. A mensagem principal ao filho usuário é “nós o amamos, mas não aceitamos o que você faz.” SÓ A INTERNAÇÃO NÃO RESOLVE Em casos graves, quando o usuário está muito comprometido, a internação hospitalar é necessária e fundamental para dar início à recuperação, neste sentido os hospitais funcionam bem. Depois da alta, o apoio de grupo de auto-ajuda é excelente. Os “padrinhos” que adotam o novo usuário cuidam dele como se fosse um filho. A única obrigação desse “filho” é ligar para o “padrinho” quando a vontade de usar a droga começar a ser despertada. É a força da coletividade agindo sobre o indivíduo necessitado. Não há psicoterapias nem internações que garantam uma proteção tão grande e tão empenhada quanto a que esses grupos oferecem. E, se houver, pode se tornar inviável para a maioria da população, pelo seu alto custo. Eu acrescento a todos esses grupos uma contribuição: “O único controle que temos sobre as drogas é não usá-las” (Texto extraído do livro –“Anjos Caídos” de Içami Tiba São Paulo, Editora Gente, 1999)
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EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE EDUCAÇÃO E SAÚDE José Ivo Pedrosa Educação e Saúde representam a conjunção de dois conceitos bastante abrangentes em suas significações. Entretanto, mesmo que às vezes nós não consigamos definir com clareza, educação e saúde ganham expressão concreta nas práticas nas quais se busca a construção de vínculos afetivos e compromissos com a comunidade e com as pessoas, valorizando suas vivências, experiências e conhecimentos. Dessa forma, as práticas de saúde, pautadas na troca de saberes entre profissionais e comunidade e na construção coletiva de conhecimentos que conscientizem as comunidades e as pessoas a modificarem seus hábitos de vida tendo em vistas a adoção de comportamentos saudáveis, representam práticas de educação e saúde. Este entendimento de educação e saúde tem uma importância muito grande na medida que sugere que tais práticas não podem ser impositivas, justificadas somente pelo saber técnicoacadêmico; não podem ser isoladas do contexto social no qual acontecem; não podem ser unilaterais, pois as pessoas só aderem a determinadas mudanças quando conscientes; e não podem ser isoladas e distantes de outras práticas que acontecem em outros espaços como as escolas, os clubes, os grupos, no trabalho, etc. Entendendo que nossas práticas produzem saúde, as ações educativas são voltadas para a promoção da saúde, ou seja, uma educação voltada para a VIDA que fortaleça de forma positiva os determinantes da saúde como moradia, lazer, cuidados com o corpo, alimentação sadia, meio ambiente, desenvolvimento das habilidades e potencialidades dos indivíduos e a ação da comunidade. Assim, a prática de educação e saúde não se limita somente a dizer o que é considerado certo ou o que é considerado ideal para não ficar doente, e a criticar aqueles que não seguem os princípios que nós, os profissionais, aprendemos em nossa formação e depois repassamos àqueles para os quais dedicamos nossa tarefa. A educação e saúde da qual falamos compreende o ser humano em todas as suas dimensões: física, mental, espiritual, afetiva e cognitiva. Portanto, ao desenvolver uma ação educativa não se pode isolar o homem de sua família, de seu grupo, de suas condições de vida, pois corremos o risco de ficar repetindo palavras que a população não entende o significado, nas quais não encontra justificativa para mudar suas atitudes. O profissional que trabalha com educação e saúde, na verdade é qualquer pessoa ou profissional que, junto com o OUTRO, constrói uma explicação para os problemas e estratégias para enfrentá-los. Assim, compreender o que o OUTRO pensa e sabe é um passo fundamental para que a educação e a saúde sejam um diálogo e não uma imposição. Quando trabalhamos com grupos específicos da população, como os adolescentes, é preciso que a interação que acontece entre os sujeitos dessa prática (os adolescentes e os profissionais) seja comunicativa. Para tanto é necessário apreender os significados que os jovens atribuem à vida, como e com que se identificam, quais suas aspirações em relação ao futuro, quais seus desejos e as representações que elaboram sobre as coisas e as pessoas com quem convivem. A comunicação que ocorre representa um outro passo fundamental para nossa prática. Outra coisa importante no desenvolvimento dessas práticas é a avaliação que fazemos do seu conteúdo, seus objetivos, do material utilizado e da metodologia empregada no sentido de apreender se o que estamos fazendo terá algum efeito ou se apenas cumprirá o ritual “burocrático” de prescrever o que deve e o que não deve ser feito por parte da população. E, a avaliação não deve ser vista como um bicho de sete cabeças ou como uma auditoria que nos pune ou recompensa pelo trabalho realizado. A avaliação deve ser sempre uma constante e se aproxima mais das reflexões que fazemos a respeito do sentido daquilo que fazemos como profissionais e como pessoas. Finalmente, as práticas de educação e saúde devem representar estratégias, instrumentos e dispositivos voltados para a autonomia dos sujeitos, entendendo autonomia enquanto
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construção, posto que diz respeito à capacidade que se tem de governar a si próprio. Capacidade esta que requer certo grau de independência e determinação. Do ponto de vista da promoção da saúde esta autonomia se aplica ao indivíduo, à comunidade e à sociedade. Implica também reflexão e tomada de decisão. Manifesta-se na forma como se lida com necessidades e potencialidades, com as impressões, sentidos e significados que vão sendo dados ao mundo, de uma maneira mais geral, e às condições materiais de que se dispõe, de uma forma mais específica. Ela se expressa nas escolhas, no julgamento e nas resoluções que se toma concretamente, no cotidiano, e que vão estar relacionadas aos processos de vida, de trabalho e de saúde das pessoas, das famílias, das comunidades. 11
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Brasil/Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde (documento para discussão). Brasília, 2002.
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AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE : REPENSANDO PARADIGMAS Ana da Costa Polonia12 Élioenai Dornelles Alves2 O tema ‘ações educativas em saúde’ vem se constituindo em um elemento de direcionamento, questionamento e de reflexões quando se trata de promoção, prevenção ou de saúde integral do ser humano, independente do grupo etário a que pertença. As políticas públicas, as instituições de ensino, de saúde e até mesmo, as diferentes formas de inserção da pessoa em sua comunidade e no mundo do trabalho, torna-se hoje, uma preocupação constante entre os governantes, em nível estadual, nacional e internacional. Como lidar com os desafios e os problemas oriundos desta sociedade globalizada? Como promover a otimização de recursos econômicos, sociais, educacionais, de saúde, familiares, da comunidade, em prol da maximização de condições para o desenvolvimento das populações e dos grupos? Quais a possibilidade e as possíveis formas de intervenção para promoção de suas condições evolutivas? São questionamentos constantes entre os profissionais das mais diversas áreas de conhecimento. Nesse sentido, é imprescindível que os profissionais que trabalham com a saúde e os diferentes aspectos do desenvolvimento humano, em um nível mais direto ou mais indireto, na constituição de programas ou mesmo em diferentes espaço de intervenção, busquem formas de propiciar dinâmicas de atendimento que estejam em consonância, com a etapa evolutiva e com os paradigmas que norteiam o seu trabalho. Assim, para se apreender as suas concepções básicas, é preciso entender a sua noção conceitual. Podemos definir paradigmas, como marcos téoricos-metodológicos que objetivam interpretar, apreender um dado fenômeno ou realidade, e servem também de modelos de resolução de problemas dentro de uma comunidade científica, como destaca Gialdino (conforme citado por Silva, 1998). O paradigma compreende então, um conjunto de crenças e valores que se dirigem à construção de seus pilares e, para Guba e Lincon (conforme citado por Silva, 1998), se estabelecem sobre três pressupostos: (a) ontológico que reflete natureza da realidade investigada e da sua multiplicidade; (b) epistemológico que representa a maneira que se estabelece a relação entre o fenômeno investigado e como este é percebido pelo investigador, subentendendo-se conhecimentos e teorias; e (c) metodológico enfatizando a forma, instrumentos e estratégias para apreender e abordar de maneira mais significativa o fenômeno selecionado. Para Barbier (2002), o paradigma da complexidade se distingue do paradigma da simplicidade, porque este último, isola os aspectos inerentes aos ser, separando-os em unidades. O seu referencial, em ciências humanas, desconsidera a pessoa e a sua unidade biológica, psicológica, social, econômica, cultural, familiar, grupal e até mesmo as condições históricas e temporais em que a pessoa vive, e da sociedade em transformação. Os contextos onde o sujeito está inserido e as formas de interação com estes, são vistas de maneira isolada e parcial. Ampliando esta concepção, Bronfenbrenner (1977,1986,1992) resgata o papel ativo, interativo e protagônico do indivíduo, em que ele é o agente de mudança, o núcleo do processo, rompendo com algumas premissas em que o indivíduo apenas sofre as influências do ambiente, mas que é também por aquele modificado. Na concepção de Bronfenbrenner (Polonia, Dessen & Pereira-Silva, 2003), o desenvolvimento representa uma transformação que atinge a pessoa, mas não de caráter passageiro e nem pertinente somente à situação ou aquele contexto, significa uma reorganização que se procede de maneira continuada dentro da unidade tempo-espaço. Esta modificação se realiza no nível das ações e também, das percepções da pessoa, nas suas atividades e na sua interação com o seu mundo. As mudanças que atinge as propostas da ciência contemporânea, apontadas por Morin, Prigogine e Stengers, Esteves de Vasconcellos (conforme citado por Filho, 1998), frente aos modelos de complexidade crescente, são aglutinadas em: (a) da dimensão da simplicidade à questão da complexidade, onde se difunde que as noções lineares e simplificadas não podem ser 12
Professora conveniada da SEEDF/Assistente, Mestre em Psicologia, Membro do Nespron/UNB, doutoranda em Psicologia/UNB. 2 Professor Adjunto, Doutor, Livre Docente, Coordenador do Nespron/UNB, Pesquisador do CNPq.
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aplicadas ou empregadas para compreender fenômenos humanos, psicológicos, sociais dentre outros; (b) o questionamento da homeostase, no sentindo de que há uma ordem fixa, causal e determinada, substituindo-a por modelos que retratam inderterminações, imprevisibilidade, além da auto-organização; e (c) da noção de objetividade à intersubjetividade, frente à questão epistemológica do conhecimento e dos sujeitos cognoscentes que se entrelaçam e permeiam as diferentes realidades e relações que são co-construídas e re-significadas dentro de um tempoespaço. Esta matriz paradigmática rompe com a noção de fragmentação do sujeito, e o contextualiza, considerando suas expectativas, sonhos, hábitos, condições de vida, processos familiares e afetivos, outros grupos que participa. Moreno, Serrano e Garcia (1995) destacam que o paradigma de saúde integral, abrange uma visão de unicidade, uma perspectiva sistêmica considerando a multidimensionalidade do sujeito, os contextos em que ele protagoniza, e os temas presentes na sua experiência. O próximo item, discute as matrizes que estabelecem os pilares da promoção, sua dimensão científica e seus fundamentos práticos. Matrizes da Promoção A promoção da saúde se estabelece dentro de uma proposta holística, coordenando as perspectivas sistêmicas e bioecológicas, em que o sujeito e o ambiente estão em constante interação, e as influências culturais, sociais, simbólicas além de crenças, valores e atitudes que se inter-relacionam e são elementos que afetam o desenvolvimento do sujeito e do seu ambiente físico e social. Assim, ao se trabalhar com a pessoa em desenvolvimento, o profissional deve conhecer seu escopo de atividades, o limite e possibilidades do seu papel com a finalidade de estruturar as intervenções, nos mais diversos contextos sociais. O desdobramento destas condições fomenta a participação ativa dos indivíduos e dos grupos, tendo como referência o protagonismo, propiciando com esta atitude, o desencadear das competências necessárias à função de agente de mudança social, na comunidade envolvida. Neste sentido, Czresnia (1999) enfatiza que, a promoção articula esforços individuais e coletivos para lidar com a complexidade que norteia a questão da saúde em seus aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, relacionais e também, de valores, crenças, atitudes e elementos que são idiossincráticos das populações. Nesta dimensão, a promoção da saúde deve respeitar e a dinâmica dos grupos e dos sujeitos que os constituem, propiciar uma linguagem científica acessível e respeitar os seus referenciais e experiências da comunidade. A base desta atividade conjunta deve acontecer de forma lúdica, com espaços para ação-reflexão-ação. O campo relaxado, as atividade grupais, o trabalho com a auto-estima, aliados à capacidade de escolha consciente e com diferentes recursos pedagógicos, dentre eles, teatro, jogos, colagem e jornais, são instrumentos que facilitam a aprendizagem e as mudanças relacionadas às noções de saúde, cuidados, etc. Paulatinamente, os aspectos de responsabilidade, auto-cuidado, a educação comumicativa, aliados à visão da coletividade e universalidade de direitos, deveres e ética são valores que vão impregnar e alavancar as mudanças esperadas. Ao se enfocar as diversas populações e seus constituintes multiculturais, os estudiosos e os profissionais que lidam com a saúde, no seu aspecto dinâmico, integralizador e de desenvolvimento, devem conhecer aspectos peculiares da sua evolução, como os campos cognitivos, afetivos, familiares, culturais, seus sonhos, suas expectativas para o futuro e o mundo do trabalho. Como Gonzáles-Rey (2003) ressalta, compreender a questão subjetiva do sujeito, significa considerar a sua trajetória histórica, sua singularidade, a sua diversidade e a forma que ele se expressa e protagoniza seu espaço na sociedade. Frente à estes conhecimentos sobre a pessoa, seu contexto, suas características biopsicológias, a matriz que deve permear o centro destes trabalhos deve objetivar a promoção, que segundo Restrepo (2001a) direciona-se a uma prática e envolve ações que se estabelecem, considerando as necessidades e as aspirações da pessoa, não se limitando a conter e interromper uma dado problemas ou enfermidade. Seu escopo de ação transcende o limite da melhoria, visando atingir toda a população e seu bem estar de maneira global. Dentro do escopo da promoção, a visão sistêmica, incorporando a integralidade e a complexa relação do desenvolvimento do sujeito e de seu ambiente, abarca em seus projetos,
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questões éticas, valores, situações concretas, engajamento ativo e a construção dinâmica do conhecimento. Uma perspectiva de atuação em rede, suscita e ancora a noção de interdependência entre as comunidades, os profissionais e os espaços institucionais, bem como, o emprego das metodologias participativas que visam a interação e a mobilização social. As condições estruturais e as maneiras de implementar a ações de promoção em saúde, são enfocadas e analisadas no próximo tópico. Condições essenciais para o estabelecimento de ações de promoção em saúde Para o efetivo estabelecimento de condições de promoção de saúde, algumas matrizes se estruturam, dimensionam as condições de realização, transformação de práticas e perspectivas de trabalho. Muito mais do que uma prática ou teoria, pode ser considerada uma filosofia e um redimensionamento de uma abordagem holística em saúde. Isto implica em uma percepção diferenciada e multidisciplinar de intervenção, de mediação de repertórios, indicando a construção de uma consciência ética, profissional e política dos envolvidos. Sob este prisma, alguns requisitos são essenciais para subsidiar ações, projetos e programas voltados à promoção, que são abordados a seguir, de acordo com Restrepo (2000a), Moreno, Serrano e Garcia (1995): (a) adotar a visão interdisciplinar no tocante ao fenômeno da saúde, não se restringindo a noção de “cura” ou sob a visão de uma única disciplina ou domínio de conhecimento, mas assegurar uma visão integrada e inter-relacionada entre as diversas ciências e os aspectos da saúde; (b) adoção de uma abordagem multimetodológica possibilita o emprego de seletos instrumentos, técnicas e recursos a fim de auxiliar, deflagrar e construir um campo de compreensão sobre a questão da promoção de saúde. Tais instrumentos, permitem o levantamento de dados, análises e resultados associados aos mecanismos de avaliação mais condizentes, com a visão complexa e diferenciada do fenômeno em questão. Com estes dados pode se constituir em informações mais realistas sobre a população em questão, propiciar intervenções e adoção de políticas mais coerentes com as necessidades, demandas e hábitos, que podem atuarem como incrementos ou barreiras à construção de repertórios mais salutares; (c) emprego de metodologias participativas que visem estimular, propagar e multiplicar os conhecimentos e atitudes saudáveis, realizando a aproximação teórico-prática. Com estes recursos pedagógicos, amplia-se os resultados, difunde-se noções básicas de saúde, como também comportamento e atitudes salutares, de maneira mais pragmática, criando-se um espaço onde as pessoas e comunidades possam experenciar efetivamente, o viver saudável, dentro dos parâmetros de eqüidade social; (d) constituição de uma equipe multiprofissional, responde e permite diferentes óticas, análises e apreensão do fenômeno saúde, considerando a importância de cada profissional na colaboração e visão da integralidade do sujeito e das inter-relações entre o sujeito e o seu ambiente. Neste item, deve se destacar a necessidade de uma formação continuada, com o intuito de atualização dos profissionais, em nível de ações integradas e complementares, como também, a necessidade de construção de perspectivas e atuação, em rede, no tocante a evolução e desenvolvimento de grupos. (e) articulação intra e intersetorial para a constituição de uma rede de comunicação, ações e análises, em nível micro e macro, objetivando a otimização dos setores, instituições, organizações e da comunidade, voltadas à saúde plena e bem estar da população. O indivíduo e o grupo transformam-se em protagonistas e a partir dos conhecimentos técnicos-científicos, organizam-se, mobilizam-se e modificam o seu meio ambiente e as pessoas com que interagem. O co-construir, a co-responsabilidade são processos que estão inseridos no seu desenvolvimento, como o estímulo a autonomia, a capacidade de resolução de problemas de forma criativa, o fomento a captação de recursos materiais e humanos e o reconhecimento do espaço da comunidade como fonte constante de mobilização e ressonância do trabalho. (f) conhecimento e práticas científicas, fazem-se necessárias a sedimentação de noções básicas e conceituais, no emprego de terminologias, que fomentem e subsidiem a pesquisa, a elaboração de programa e projetos políticos-institucionais, em nível internacional, nacional e local
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que desembocam no arcabouço teórico, metodologias, instrumentos, procedimentos e mecanismos de avaliação condizentes, eficientes e capazes de captar a realidade de um grupo, país e cultura. Esta elaboração e estruturação do conhecimento cientifico, acumulado e em constante atualização, fomenta o intercâmbio permanente, considerando as peculiaridades dos grupos e culturas, respeitando-se crenças, valores e os recursos disponíveis para a superação das dificuldades, reconhecimento dos pontos fortes, das similaridades e diferenças entre eles; (g) políticas públicas que integrem os conhecimentos oriundos das pesquisas, das mais diversas fontes, como da universidade, das instituições, da comunidade gerando necessidades sociais de participação, espaço de lutas e níveis diferenciados de engajamento social, histórico, e que possibilitam mudanças importantes nos sujeitos e na sociedade. Além disso, esta políticas devem refletir a articulação, a instrumentação e consecução de objetivos que advém de dados empíricos, e de uma reflexão maior sobre a realidade do viver saudável; (h) construção de uma rede de comunicação e intercâmbio de experiências, conhecimentos, recursos físicos e humanos que deflagrem de maneira mais compacta e ao mesmo tempo mais rápida, às ações em educação para a saúde, são proposta essenciais. Os recursos tecnológicos como a internet, os sites da web, teleconferências, o espaço virtual e publicações diversas como livros, artigos, jornais funcionem como formas de divulgação e difusão dos conhecimentos e das informações que mobilizem e sistematizem a compreensão sobre os diferentes aspectos da saúde. É de fundamental importância, espaços de intercâmbios, de formação continuada, de produção e de oficinas, congressos, encontros com diferentes objetivos que de maneira singular possam difundir e estabelecer contatos e visões diversificadas sobre a saúde e seus paradigmas. Este universo de discussões, experiências e de trocas é benéfico a formação e ao constituição do campo das ações educativas em saúde. O item a seguir, enfoca o paradigma da prevenção, suas concepções, fundamentos e seus formas de intervenção e implementação, nos grupos sociais. Matrizes da Prevenção A abordagem preventiva tem se delineado e se redimensionado frente às diferentes correntes do pensamento humano, as transformações e descobertas na área da tecnologia, da informação, da ciência correlacionando-se com as concepções de homem-sociedade-mundo. No espaço da saúde, prevenir antes que remediar subsidiou os enfoques e metodologias que direcionou os modelos de saúde. A preocupação do impacto das mudanças sociais, econômicas, históricas e temporais na vida dos sujeitos impulsionou os cientistas sociais a compreenderem os seus efeitos sobre a saúde física, mental e nos contextos onde a pessoa encontra-se inserida (Caplan, 1980). O termo prevenção pode ser considerado, “...polissêmico que só ganha sentido quando relacionado a um contexto teórico de intervenções, variáveis conforme a natureza do problema tratado. Prevenir é agir de modo a baixar a probabilidade de ocorrência de um acontecimento, e limitar suas conseqüências humanas e sociais.” (Doron & Parot, p. 607, 1998) Dentro desta perspectiva, os esforços concentram-se em criar espaços e construir filosofias, programas, projetos e instrumentais que possam influenciar e reduzir significativamente os problemas. As premissas básicas da prevenção se sustentam sob dois pilares: a análise e modificação do ambiente social, e a “construção de competências”, atingindo um maior número de pessoas, subgrupos ou populações. Enfatiza-se a bidirecionalidade nas relações sujeito e ambiente, reconhecendo a interdependência e as influências mútuas na construção de uma vida mais saudável e do bem estar geral do homem-ambiente. As noções de universalidade e de coletividade estão subjacentes, na medida em que, se sublinham ações conjuntas e coordenadas dos grupos e dos profissionais para a superação dos problemas que afetam a saúde integral. A proposta se escalona na compreensão da inter-relação do sujeito e dos diversos contextos em que a pessoa em desenvolvimento participa, nos níveis micro, das interações face-à-face até os mais distantes, no nível macro, onde os valores, crenças, oportunidades e atitudes influenciam as demandas e os comportamentos. Portanto, estes processos se estabelecem em um tempo histórico onde ocorrem as transformações normativas e não normativas na pessoa, e tais fatores não podem ser ignorados para estabelecer políticas, programas e projetos interventivos.
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Para Cowen (1992), os modelos adotados em programa de prevenção, voltados à área de saúde mental, se estruturam em dois núcleos críticos, que enfocam: (a) recursos limitados, direcionados mais especificamente, às condições adversas, e que apresentam problemas e perspectivas mais resistentes à mudança, onde os profissionais e seus esforços se dirigem apenas ao núcleo do problema, sem entretanto ampliar o seu escopo de atuação e especialmente, fomentar repertórios mais diversificados e envolver outros membros e contextos de desenvolvimento; e (b) parcos recursos acondicionados e distribuídos a uma pequena populaçãoalvo, e não acessíveis a um segmento maior da sociedade. O enfoque em uma população-alvo limitada, descreve como as política públicas, ainda se focalizam nas condições de ‘reparar’, e não em difundir repertórios preventivos às populações que podem apresentar as mesmas condições de risco. Como sublinha Larcharité (2000), é imprescindível a ampliação dos modelos de compreensão do fenômeno, por exemplo o da negligência com criança, e favorecer às famílias e à população em geral, condições de resolução destes problemas e não se basear somente, no controle social. É pertinente, criar espaços de construção de uma rede social de apoio, envolvendo não apenas os profissionais de saúde e de educação, mas, a comunidade local, pesquisadores, políticos, governo, em uma perspectiva de responsabilidade social e de mobilização frente aos problemas encontrados. Dimensões e tipos de ações em prevenção Dependendo da evolução de um dado acontecimento, transtorno ou mesmo de uma doença, os mecanismos de intervenção ganham sua particularidade e estratégias peculiares para impedir sua difusão ou reduzir sua força sobre o indivíduo, grupo ou sociedade. A prevenção pode se caracterizar por aspectos promotores, protetores e também de redução de riscos, preconizando paradigmas que viabilizem a mobilização de atitudes, comportamentos e práticas mais salutares (Alves & Polonia, 2001). Ao se propor ações de cunho preventivo, deve-se analisar, primeiramente, a origem e a natureza do problema, a história de vida dos envolvidos, a progressão dos acontecimentos, as conseqüência em nível evolutivo para as pessoas e para os contextos, identificando-se as influências sobre os padrões interacionais e os efeitos de suas repercussões. Paralelamente, é imprescindível alicerçar-se sobre bases teóricas, metodológicas e estratégias de intervenção condizentes com a realidade. Portanto, ao se selecionar mecanismos e estratégias preventivas, é sine qua non vislumbrar os diferentes graus ou manifestações do problema, da doença ou do sofrimento, evitando visões superficiais e precipitadas. Outrossim, uma boa caracterização do problema de forma sistêmica e ecológica, permite selecionar e adotar as ações, mais adequadas com os tipos diferenciados de prevenção. O espectro dos modelos e estilos de intervenções são classificadas, mediante as condições e a progressão do problema ou da enfermidade. Assim, encontra-se três enfoques que são: a) prevenção primária: neste modelo conceitual predomina a visão comunitária. Buscandose, consistentemente, a redução de novos focos, em um grupo ou população identificada, considerando a sua penetração e a disseminação. Objetiva-se, em um certo período de tempo, modificar as condições que propiciam o aparecimento do problema para que sejam minimizada ou interrompidas, antes que disseminem para outros grupos ou mesmo que possam se cristalizar. Seu enfoque não se caracteriza por atingir um indivíduo, mas, efetivamente, alcançar grupos ou populações. Por isso, Caplan (1980) preconiza e desmistifica que este enfoque comunitário, em nenhuma hipótese, se contrapõe ao atendimento individual, pelo contrário, reforça uma maior responsabilidade pelo bem estar de todos, já que este indivíduo é representativo, isto é, uma amostra dentro de um grupo. Ainda, sobre este tipo de prevenção, deve-se enfatizar que os esforços se concentram na redução da sua futura incidência em grupos não-disfuncionais, mas que são considerados como casos em potencial. Seu caráter prospectivo, demanda uma política de desenvolvimento humano, onde a educação e saúde, encontram-se como parceiras constantes e estratégicas, no seio da sociedade.
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Reforçando esta noção, a prevenção primária, de acordo com J. Selosse (conforme citado por Doron & Parot, p. 607, 1998), “visa reduzir a taxa de incidência dos distúrbios psicossociais numa população circunscrita, procurando diminuir a probabilidade de seu aparecimento por meio de uma ação sobre o ambiente, sobre as situações e sobre os recursos dos indivíduos, através de uma estratégia de ações ecológicas proativas”. Depreende-se dessa formulação que, na prevenção primária, predominam ações gerais que extrapolam grupos disfuncionais e que se endereçam, também, `aquelas pessoas e grupos que não foram ainda afetados ou mesmo, a uma parcela da população que está manifestando o distúrbio. Com este enfoque, é fundamental que o trabalho se expanda progressivamente e fomente orientações antecipatórias que perdurem no comportamento dos indivíduos, destacandose e que estes também possam ser agentes promotores de saúde. Como exemplo, pode-se destacar, a ausência de programas direcionados à aposentadoria e a prevenção da ‘Síndrome de Burn-out’ que atinge a classe dos professores, no nosso país. b) prevenção secundária: seu propósito primeiro é a redução de distúrbios e disfunções que estão em progressão, em um dado grupo ou população, onde o seu objetivo precípuo é identificar, antecipadamente, o problema, estimulando-se estratégias que bloqueiem, interrompam e minimizem os seus efeitos ou sua duração, restringindo significativamente, a sua difusão. Estas estratégias têm um cunho eminentemente reativo, isto é, investem em ações imediatas e em esforços concentrados que visam atingir o estágio inicial do transtorno ou problema. Temos como ilustração, o controle das doenças sexualmente transmissíveis e da Aids, na população sexualmente ativa. c) prevenção terciária: dirige-se ao tratamento, à reeducação e à reabilitação do sujeito, e tem por finalidade, a redução do problema que se encontra instalado e em progressão. O seu pilar reeducativo, disponibiliza esforços para a obtenção de conhecimentos científicos e práticas diferenciadas e eficientes, que realmente possam administrar o transtorno e, concomitantemente, construir repertórios que evitem a sua reincidência. A mobilização de intervenções em rede de apoio social, subsidiados com aspectos psicossociais voltados para a autonomia, a auto-estima, o auto-conceito e projetos futuros, abrem horizontes para a promoção de novas competências e habilidades para lidar com situações ansiogênicas, estressantes e inesperadas. Em tais casos, podemos observar a questão do alcoolismo no trabalho, havendo um declínio sensível da produção e atenção do trabalhador, as agressões intra-familiares oriundas deste problema, tanto quanto, a ocorrência de acidentes grave nas estradas. Para Lascoumes (1997) a prevenção terciária pode se denominada como a “prevenção da reincidência”, na medida em que, busca-se evitar o ancoramento do indivíduo na disfunção ou transtorno, como a cristalização dos problemas e a sua expansão para outros ambientes e pessoas que participam do seu cotidiano. Deve-se ressaltar que, os tipos de prevenção são nuances de seu emprego. Eles não se contrapõem e tampouco, são excludentes e podem, conforme o objetivo e as políticas adotadas, serem desencadeados em um mesmo projeto ou programa. O enfoque da prevenção terciária, por exemplo, no atendimento direto aos grupos de usuários de drogas injetáveis pode e deve incluir a família, havendo investimentos do poder público na região ou localidade onde essas drogas são comercializadas e temos, então, um programa que envolve os três tipos de prevenção. Em síntese, a prevenção implica numa variedade de estratégias, em diferentes atividades, não ficando restrita aos profissionais da área médica, mas sobretudo deve incluir em suas ações as comunidades e outros profissionais que lidam com a população, compreendendo uma prisma interdispiciplinar e multidisciplinar do fenômeno em questão. Essa atuação em rede, encadeia, coordena e articula os serviços disponíveis, além de envolver os profissionais e a comunidade, estimulando os esforços concentrados e articulados, para interromper a incidência, o encadeamentos e a comorbidade destes transtornos, doenças ou acontecimentos existentes, ou que tem certa probabilidade aparecerem na sociedade. No próximo item, discute-se a relação entre estes duas matrizes paradigmáticas em saúde e em educação, destacando-se momentos compartilhados e independentes, no seu emprego.
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Promoção e prevenção relações paradoxais ou complementares? As aproximações, semelhanças, intersecções e características particulares presentes, nos marcos teóricos, metodológicos, de aplicação e de instrumentalização, no campo da prevenção e promoção, são conhecimentos estratégicos na formulação planos, programas, políticas e considerações de fundo ético para implementar e otimizar o desenvolvimento humano e do ambiente que rodeia. Tanto à promoção de saúde quanto à prevenção, se caracterizam como funções complementares que podem ser acionadas de modo diferente, dependendo da necessidade, da constituição e características dos grupos e a incidência de determinados problemas ou transtornos. O escopo da prevenção se dirige a problemas específicos manifestados em um grupo da população ou em sua parcela, sob o enfoque de risco, sendo seu principal compromisso e intenção, provocar sua redução ou erradicar o problema. Emerge na promoção, o enfoque na saúde integral, sendo todos os sujeitos da população, alvos de sua ação e protagonistas, em potenciais. Esta universalização dos atores sociais, os torna agentes inerentes e responsáveis por modificações na questão do desenvolvimento saudável, pois, não há a busca específica de um problema, todos se tornam sujeitos e objetos, nesta matriz. De forma estratégica, a perspectiva de otimizar a saúde e disseminar o desenvolvimento de comportamentos saudáveis para a melhora da qualidade de vida, está presente no seu eixo de atuação. A diversidade na aplicação e no emprego dos conceitos de promoção e prevenção em saúde e o reconhecimento de suas diferenças, não se traduzem em incompatibilidades, mas em uma visão que há peculiaridades de trabalho, de instrumentalização e de operacionalização. Diferenças entre estes dois vetores, enriquecem e demonstram a complexidade da condição humana, da realidade co-construída no horizonte de uma perspectiva integral de saúde. Elas são fatores de implementação de ações e educação em saúde, mas é de extrema importância distingui-las, pois seu emprego eficaz, possibilita sucesso nos diferentes níveis de atividades e de intervenção, seja na elaboração de programas e projetos institucionais, comunitários, públicos dentre outros. O reconhecimento das diferenças, a identificação e limites de cada modelo, nos seus campos conceituais e metodológicos, são requisitos para a distribuição de recursos técnicos e financeiros de maneira mais viável, bem como a sua potencialização e difusão para os grupos. Então este conhecimento, proporciona uma reflexão sobre as posturas, os programas e os modelos de intervenção adotados, e formas condizentes de avaliação, gerando novos artefatos profissionais e epistemológicos que desencadeiem um real intercâmbio social, sem dicotomizar sujeitos e objetos de investigação, em suas experiências e práticas em educação e saúde. Com fins didáticos, apresenta-se um quadro comparativo, elaborado por Restrepo (2001), onde se destacam os campos conceituais, as formas e as atividades interligadas à matriz da promoção e da prevenção. Todavia, o quadro síntese se apresenta como um indicador e não com uma função de determinação de ação para o profissional.
Promoção e Prevenção: aspectos gerais3 3
Quadro adaptado e apresentado na Capacitação de Instrutores para Promoção da Saúde em Ação Antidrogas.
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Promoção Prevenção atuação sobre os Objetivos determinantes da saúde integral; - redução dos fatores de risco - criar opções saudáveis e e da doenças; de fácil acesso as populações - proteger os sujeitos contra risco específicos. Primária - pessoas ou grupos de riscos - dirigem-se à todos os em relação às doenças ou Ações sujeitos, aos grupos especiais e as problemas; condições relacionadas com a Secundária saúde integral; pessoas, grupo ou doentes sistemas múltiplos, que não apresentem sintomas interdependentes e a processo evidentes do problema; sociais, culturais, políticos que Terciária influenciam a qualidade de vida e - indivíduos que apresentam a saúde dos povos. o problema já instalado, objetivando reduzir, minimizar sua incidência ou morte. Primária modelos clássicos de saúde pública e medicina preventiva com - modelos sócio-políticos, ênfase nos fatores de risco; ecológicos e sócio-culturais, Secundária assegurando a articulação entre modelo de identificação Modelos eles. antecipada dos riscos e também práticas clinicas preventivas; Terciária - modelo de práticas clinicas preventivas e de reabilitação. Primária interventores sociais: - grupos de interventores políticos, comunitários, educadores, que apresentam diferenciada profissionais de saúde, fomentando Papel dos capacidades, envolvendo a ações educativas e promovendo interventores comunidade, grupos políticos, competências sociais à população; profissionais de saúde e de Secundária educação, como também identificação na população ou voluntários que se interessam pelo grupos que apresentam um dado problemas, enfocando programas problemas, mediante ao manejo eminentemente educativos com o clínico e capacitação técnica a fim de desenvolvimento de capacidades romper e minimizar a difusão dos e competências sociais nos efeitos nocivos; indivíduos e na população em Terciária geral. - redução do problema na população que já apresenta o problema. Restrepo, Agenda para la acción en promoción de la salud, 2001 b.
O paradigma da complexidade se articula com uma visão interdisciplinar da ciências e da multidimensionalidade do fenômeno humano, coerente com abordagem holística e sistêmica onde há intersecção de fatores biológicos, ambientais, psicológicos, econômicos, sociais dentre outros
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que interferem no desenvolvimento e na formação de atitudes, hábitos e competências que construam espaços salutares de relação e de educação em saúde. Para Gonzáles- Rey (2003) a teoria contribui para o desvelamento de um fenômeno ou ampliação de um conhecimento, quando permite avanços dentro de seu marco, quando instiga o diálogo e o confronto com a realidade, dimensionando os dados empíricos e a sua expressão dialógica como outros campos de conhecimento, sem determinar formas universais e inflexíveis do seu enfoque. Pode-se aproximar e complementar esta assertiva, buscando-se no principio da reintrodução do conhecimento em todo o conhecimento, discutido por Morin e Le Moige (2000), onde problemática principal da teoria científica que repousa em um eterna reconstrução/tradução por um espírito/ cérebro que representa uma cultura ou grupos, em um tempo histórico e uma sociedade determinada. As reflexões as transformações esperadas, nestes paradigmas, subsidiam próximo momento deste artigo. Reflexões e dimensões na mudanças de perspectiva em ações em saúde Os paradigmas e modelos que embasam as ações educativas em saúde, devem ser analisados, apreendidos e investigados pelos profissionais, de maneira crítica e reflexiva, considerando a realidade do seu espaço de trabalho, as condições reais dos recursos disponíveis, além da problemática em questão, como as características idiossincráticas da população e do tempo histórico. “Para se chegar ao conhecimento é necessário um método, que permita desvendar por trás das aparências, o fenômeno tal qual realmente é, suas contradições e o que o determina, que leva a apresentar-se da maneira que o faz.” (Kahhale, Peixoto & Gonçalves, 2002 ,p. 69). Adotar uma postura ética frente ao conhecimento, ao fenômeno e à realidade, e aos envolvidos nesta jornada, deve ser um compromisso dos profissionais, em qualquer área de conhecimento, no seu trabalho investigativo, perseguindo da validade à utilidade, na transição de uma epistemologia individual para a social, como destacada por Gergen (conforme citado por Filho,1998). Cano (conforme citado por Oliveira, 1999) corrobora esta proposição, indicando que uma das principais funções e papel da ciência e, dos cientistas, é a transformação do conhecimento científico produzido em conhecimento científico produtivo, e seus impactos, contribuições e significações na sociedade, promovendo a evolução do homem, em todos os seus aspectos. Contudo, uma postura que não assegura esta condição, isola o conhecimento científico das práticas sociais. Assim, Morin e Le Moinge (1999/2000), criticam a hipertrofia do pensamento contemporâneo, ainda voltado ao paradigma positivista, com imersões simplistas e unitárias sobre os problemas da modernidade. E eles postulam que, pensar a complexidade, é um dos grandes desafios epistemológicos e metodológcos que atingem a nosso modo de compreender, relacionar, apreender e interpretar as dimensões da nossa realidade. A comunicação educativa aproxima e interconecta o mundo social com o mundo subjetivo dos afetos. Isso ilustra que a promoção e a prevenção não devem apenas, se estruturarem em uma base técnico-científica, mas aglutinar e incorporar, no seu espaço de ação, o diálogo social, a dimensão afetiva, a autonomia, e a cidadania e o direito universal. Frente à esta críticas, as teorias que fragmentam e dissociam o homem, sua experiência e seus saberes necessitam ser revistas e re-analisadas, no seu fundamento e no espaço que ocupam no mundo contemporâneo. A abordagem bioecológica de Bronfenbrenner (Bronfenbrenner & Ceci, 1994, Bronfenbrenner, 1999), rompe com esta tradição e adota em seu modelo de pesquisa em desenvolvimento, a perspectiva bidirecional, onde as influências mútuas entre a pessoa, o processo, o contexto e o tempo (PPCT), são fontes constantes e interligadas de suas investigações. Bronfenbrenner (1977,1976/ 1996) postula a necessidade de se compreender os processos e fenômenos do desenvolvimento através do intercâmbio, constante entre indivíduo e ambiente. No seu paradigma ecológico, o sujeito e o ambiente estão em íntima relação mediante ao proximal. As características da pessoa, como disposições, recursos bioecológicos representam habilidades, competências e vivências empregada para lidar com as demandas do ambiente físico e social. Os contextos, como o microssistema (família, escola, grupos, vizinhança) envolve as interações face-à-face, e o mesossistema (família-escola, escola-grupos, família-vizinhança) que representa a inter-relação de pelo menos dois microssistemas, em que influências de um contexto
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transita para o outro, de forma incontestável .O exossistema envolve um ou mais ambientes onde o sujeito em desenvolvimento não se encontra diretamente em interação, mas onde acontecimentos o afetam ou são afetados, por aquilo que acontece no ambiente onde ele se encontra, por exemplo, o trabalho dos pais influenciando na criança ou os acontecimentos da sala de aula que atingem a família. O macrossistema envolve elementos da cultura, grupos e subgrupos que atingem todos os outros em virtude da sua ressonância na relações interpessoais e práticas cotidianas. O cronossistema, marca a passagem e modificações temporais na sociedade e na pessoa que atingem o seu desenvolvimento, seja ele em um curto período de tempo, como a família enfrentando os problemas com seus adolescentes envolvidos com a experimentação de maconha, ou na sociedade que adota modelos de promoção de saúde (Bronfenbrenner & Ceci, 1994, Bronfenbrenner, 1999). Este modelo apresenta metodologias e noções básicas que estão afinadas com os conceitos de promoção da saúde e também da prevenção, possibilitando uma visão mais holística e complexa do fenômeno humano. “Nenhuma sociedade pode se sustentar muito tempo, a menos que seus membros tenha aprendido as sensibilidades, motivações e habilidades envolvidas na ajuda e no atendimento aos outros seres humanos”. Bronfenbrenner (1979/1996, p. 43). Bibliografia Alves, E. D. & Polonia, A. C. (2001). Promoção e prevenção: caminhos diferentes ou similares? Em E. D. Alves, E. C. Araújo & S. F. L. Silva (Orgs.) Anais do Curso de Capacitação Instrutores para a Promoção de Saúde em Ações Antidrogas (pp.18-29). Brasília: Senad.. Barbier, R. (2002). A pesquisa-ação. (L. Didio, Trad.) Série Pesquisa em Educação.. Brasília: Plano. Bronfenbrenner, U. (1977). Toward an experimental ecology of human development. American Psychologist, 32, 513-531. Bronfenbrenner, U. (1986). Ecology of the family as a context for human development: Research perspectives. Developmental Psychology, 22, 723-742. Bronfenbrenner, U. (1992). Ecological system theory. Em R. Vasta (Org.), Six theories of child development (pp.187-243). London: Jessica Kingsley. Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. (M.A.Veríssimo, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho originalmente publicado em 1979). Bronfenbrenner, U. (1999). Environments in developmental perspective: Theoretical and operational models. Em S.L. Friedman & T.D. Wachs (Orgs.), Measuring environment across the life span: Emerging methods and concepts (pp. 3-28).Washington, DC: American Psychological Association. Bronfenbrenner, U. & Ceci, S. (1994). Nature-nurture reconceptualized in developmental perspective: A bioecological model. Psychological Review, 101, 568-586. Caplan, G. (1980). Princípios de psiquiatria preventiva. Rio de Janeiro: Zahar. Cowen, E. L. (1992). Primary prevention research: barriers, needs and oportunities. Journal of Primary Prevention, 2, 132-137. Czeresnia, D. (1999). The concept of heath and the differences between prevention and promotion. Cadernos de Saúde Pública, 15, 20-30. Doron, R. & Parot, F. (1998). Dicionário de Psicologia. São Paulo: Ática. Filho, E. J. S. (1998). Novos paradigmas da psicologia e das terapias psicológicas pós modernas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 14, 85-93. González-Rey, F. L. (2003). Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. (R. S. Guzzo, trad.). São Paulo: PioneiraThompson Learning. (Sem data de publicação do original). Kahhale, E. M. P., Peixoto, M. G. & Gonçalves, M. G. (2002). A produção do conhecimento nas revoluções burguesas: aspectos relacionados à questão metodológica. Em E. M. P. Kahhale (Org.) A diversidade teórica da psicologia: uma construção teórica (pp.17-73).São Paulo: Cortez. Larcharité, C. (2000). L’intervention en négligence: repères cliniques. Paidéia: Cadernos de Psicologia e Educação, 9, 23-29. Moreno, E. M., Serrano, C. S. & García, L. T. (1995). Lineamientos para la programación de la salud integral del adolescente. Em M. Maddaleno, M. M. Munist, C. V. Serrano, T. J. Silber, E. N. S. Ojeda & J. Nunes (Eds.) La salud del adolescente y del joven (pp.238-343), Publicación Científica no.552. Washington, DC: Organización Mundial de la Salud.
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EXERCÍCIOS FÍSICOS E SAÚDE Sergio C. Neves Jr.1 Por que praticar exercícios físicos? O que devo praticar? Todas estas e muitas outras dúvidas permeiam a mente de inúmeros interessados em melhorar sua saúde com um mínimo de mudanças em seu estilo de vida. O ser humano tem como dádiva a capacidade de movimentar-se, e desta forma tem como necessidade estar em constante movimento. As atividades físicas sempre fizeram parte da vida do ser humano, sendo uma necessidade para a vida. Caçar, pescar, correr, nadar, andar, plantar; antes da industrialização, o homem vivia em constante movimento, sendo as atividades físicas necessidades primárias. Hoje, com a industrialização e modernização, tornamo-nos indivíduos menos ativos em busca do comodismo, do conforto: vidro elétrico, controles remotos, elevadores, compras por Internet, vídeo games, televisão e etc. Sem refletirmos sobre a perda do movimento, abrimos mão desta dádiva, em razão da maior desculpa, “a falta de tempo”. Caso queiramos ganhar tempo, devemos investir no movimento de nossos corpos, pois o sedentarismo aumenta o risco de morte em 25% e aumenta a probabilidade de se contrair as denominadas doenças silenciosas, ou ainda, as doenças crônicodegenerativas, levando o indivíduo a menor expectativa de vida, além das restrições e dependências. As doenças como a diabetes, obesidade, osteoporose, hipertensão, cardiopatias, câncer entre outras, podem ser evitadas ou amenizadas pela prática de exercícios físicos. Mesmo quem as tem deve procurar exercitar-se constantemente, a fim de evitar o seu agravamento. Os exercícios físicos tendem a aumentar nossa resistência física, força muscular, flexibilidade, humor, entre muitos outros benefícios. Com a melhora de nossa capacidade funcional, aumentamos nossa disposição para realizar trabalho, podendo este ser em prol de nosso lazer ou sustento. É bem verdade que o homem tem vivido mais, várias pesquisas relatam este fato; no entanto devemos refletir em que condições estamos vivendo mais. A tecnologia aliada à medicina intervencionista e epidemiológica vem intervindo na morte, proporcionando maior expectativa de vida; no entanto, estamos nos tornando incapazes e, em muitos casos, dependentes. Isso é viver mais? Viver mais é envelhecer mantendo nossas capacidades funcionais, permitindo-nos estar inseridos de forma participativa em nossa comunidade, sociedade, enfiem no mundo, independentemente de nossa idade. A idade representada por números, denominada como cronológica, é apenas uma referência do tempo de nossa existência no mundo. Dois indivíduos com a mesma idade cronológica de 70 anos podem ter capacidades funcionais diferentes. Como assim? É fácil. O Sr. Felicivaldo, com seus 70 anos (idade cronológica) vem a algum tempo praticando seus exercícios físicos matinais. Ele se encontra cheio de vitalidade, e todos que o conhecem comentam que ele parece ter uns vinte anos a menos. Já o Sr. Intrevaldo, com seus 70 anos, não pratica e nunca praticou exercícios físicos, e por tal razão, quando sai de casa quase não se agüenta. Ele se encontra com pouca vitalidade e todos que o conhecem mencionam como envelheceu. O Sr. Felicivaldo conseguiu envelhecer menos, mesmo tendo a mesma idade do Sr. Intrevaldo. A esta idade chamamos de idade biológica ou ainda idade funcional. Uma pessoa de 70 anos pode ter a idade biológica de 50 anos. O Sr. Felicivaldo conseguiu diminuir 20 anos de idade devido aos efeitos da prática de seus exercícios físicos ao longo de sua vida. Isto é fato científico. Devemos lembrar que um indivíduo com seus 25 anos (idade cronológica) pode ser considerado mais velho que um senhor de 60 anos (idade cronológica), levando-se em consideração a idade biológica. Isto irá depender de seus hábitos de vida e de que tipo de investimento realizou ao longo de seus anos em prol de sua saúde. Existe hoje um consenso mundial sobre a importância da prática de exercícios físicos como promotor da saúde em todas as faixas etárias. Baseado neste consenso, exercitar-se é o melhor investimento. No entanto, todo bom investimento nos exige algum esforço. Abra uma 1
Graduado em Educação Física, especializado em Treinamento de Força Muscular. UEF – RJ, Mestrando em Gerontologia – UNB – DF.
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poupança saúde, a cada dia coloque 30 minutos de exercícios físicos em seu cofre. No final de alguns anos seu cofre, ou melhor, seu corpo estará cheio de saúde. Faça do seu presente um presente, para o seu futuro. São muitas as modalidades esportivas à disposição dos interessados. Temos que ter em mente que o exercício que iremos incorporar aos nossos hábitos de vida diária deve nos interessar, estar de acordo com nossas necessidades e expectativas, respeitando nossos limites biológicos e sócio-culturais. Aos adultos sedentários é recomendado no mínimo 30 minutos de atividades físicas diárias, podendo ser cumulativas ao longo do dia. O Sr. Felicivaldo, por exemplo, caminha 15 minutos pela manhã, 10 minutos à tarde, e mais 5 minutos no fim da tarde, quando vai buscar seu neto no colégio. Ele totalizou 30 minutos de caminhada no dia, cumprindo sua meta. As atividades físicas devem ser de intensidade moderada para que possam proporcionar melhora na aptidão física. Recomenda-se que os exercícios sejam realizados com uma freqüência mínima de 3 vezes na semana, devendo ser aumentados para a freqüência de 5 vezes na semana ou mais. Pessoas que necessitam realizar controle do peso devem exercitar-se pelo menos durante 60 minutos por dia, com atividades vigorosas. As crianças e jovens devem exercitar-se pelo menos por 20 minutos, com atividades vigorosas, durante 3 vezes na semana. Devemos nos lembrar de que os exercícios devem ser começados de forma suave, aumentando sua intensidade ao longo das próximas semanas, quando se estará mais familiarizado com esta prática. Use e abuse da água antes, durante e após o exercício. Use roupas leves nos dias de calor, e nos dias de frio, roupas mais quentes como um moletom, mas que permitam o corpo respirar. Procure alongar-se antes e depois dos exercícios e lembre-se de que o alongamento não é para arrancar um braço ou perna, ele deve ser realizado de forma bem suave e sem grande esforço. Use, se possível, calçado adequado a fim de proteger os pés e proporcionar maior conforto e segurança. Evite alimentar-se na hora em que estiver começando a se exercitar; procure de preferência alimentar-se no mínimo 1 hora antes, ou, caso prefira, ao término dos exercícios, com alimentos leves, denominados carboidratos simples (sucos, frutas, bebidas repositoras, sopas e etc), sendo estes essenciais. Lembre-se que o descanso e a boa alimentação são necessários para que o corpo possa realizar as reformas internas, com a intenção de aumentar suas capacidades físicas. Portanto, nada melhor do que uma boa noite de sono e uma alimentação qualitativa. Abaixo estão relacionadas algumas atividades consideradas moderadas e vigorosas pela OMS: TIPOS DE ATIVIDADES FÍSICAS MODERADA VIGOROSA Pedalar de bicicleta Pedalar de bicicleta ladeira acima Jardinagem Futebol Nadar Ginástica Atividades de casa Prática de esportes Caminhada rápida Corrida Descer escadas Subir escadas Lavar chão e janelas Basquetebol Dançar Dançar acelerado Antes de começar seu programa de atividades físicas, procure seu médico para realizar uma avaliação médica; posteriormente, faça uma avaliação física junto ao seu professor de educação física. Desta forma, o programa de atividades físicas que você irá realizar, será sob medida, diminuindo os riscos do excesso e produzindo o estímulo necessário para a melhora de suas capacidades físicas e de sua saúde. Devemos ressaltar que o treinamento de força muscular e o treinamento aeróbico são primordiais em todo e qualquer programa de atividades físicas. A prática de atividades físicas é um direito fundamental do indivíduo.
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OS PROBLEMAS NUTRICIONAIS DO BRASIL Margarete Alcântara da Fonsceca Ariosa Nos últimos quarenta anos, o Brasil vem se desenvolvendo rapidamente em vários setores. Isto traz conseqüências para a saúde e qualidade de vida da população, inclusive no modo como as pessoas adoecem e morrem. A pobreza e a miséria são ainda problemas que afligem grande parte da população do nosso país. Ambas trazem consigo uma série de doenças nutricionais que se caracterizam por falta de nutrientes. As doenças carenciais que mais atingem as pessoas são: desnutrição calóricoprotéica, anemias, hipovitaminose A e a falta de Iodo. Além dessas, algumas doenças chamadas oportunistas encontram o organismo do indivíduo fragilizado e sem imunidade suficiente, se instalam e depletam ainda mais sua saúde. Podemos citar como exemplo a pneumonia, parasitoses, diarréia, bronquite e outras infecções. Na intenção de se combater os problemas relacionados com a fome no início do século, em virtude das guerras e de dificuldades econômicas, surgiu o conceito de Segurança Alimentar. No Brasil, na década de 80, a Segurança Alimentar tinha como objetivos : • controlar a produção de alimentos que abastecia a população: • garantir acesso ao alimento (por questão de distância ou de renda disponível); • distribuição e posse de terras; • gerenciamento no surgimento de doenças carenciais ou crônicas não transmissíveis relacionadas à insegurança alimentar; • divulgação de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis. Hoje, a segurança alimentar mantém estes objetivos específicos, na intenção de proporcionar o direito à alimentação adequada em quantidade e qualidade a todos os cidadãos. Na prática, para que isto aconteça, é necessário que o governo e a sociedade exerçam uma parceria em suas ações de modo que seja difundido este direito dentro das comunidades, mas também delimitando o papel de cada um dentro deste contexto. Desta forma, são necessários alguns conhecimentos básicos de alimentação e nutrição, a serem divulgados à sociedade. É o que vamos discutir. ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Uma alimentação equilibrada é aquela que contém diferentes alimentos em quantidade suficiente para o crescimento e manutenção do organismo. A alimentação influencia diretamente na saúde, no trabalho, no estudo, no lazer e no tempo de vida das pessoas. Alimentar-se é o ato voluntário de fornecer alimentos ao organismo. A nutrição se inicia depois que os alimentos entram no organismo e são transformados em nutrientes. São nutrientes: glicídios, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e água. Cada alimento possui um determinado nutriente em maior quantidade, o que possibilita classificá-lo em grupos. CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS GRUPO DOS ALIMENTOS ENERGÉTICOS : são aqueles que dão energia para todas as atividades de nosso corpo, para desempenho das atividades físicas e promoção do crescimento e desenvolvimento. São eles: pães, biscoitos, torradas, cuscuz, tapioca, beiju, farinhas, arroz, macarrão, milho, cará, batatas, inhame e as gorduras, preferencialmente vegetais: de milho, de soja, de canola, azeite e outros. GRUPO DOS ALIMENTOS CONSTRUTORES: são alimentos que fornecem principalmente proteínas para o corpo, que as utiliza na construção de tecidos, hormônios, enzimas, músculos e anticorpos ( células de defesa). Estes alimentos podem ser de origem animal
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ou vegetal. Fontes animais: carnes, ovos, leite e derivados. Fontes vegetais: leguminosas ( feijões, soja, ervilha, lentilha, grão de bico) . GRUPO DE ALIMENTOS REGULADORES: são alimentos que fornecem as vitaminas, os minerais e água . Estas substâncias agem regulando o funcionamento do organismo, promovendo melhor rendimento no trabalho celular, melhor percepção e condução neurológica, manutenção de temperatura, etc. São eles: as frutas, as verduras, cereais integrais, leguminosas, leite, ovos. Cada grupo de vitaminas tem funções específicas no organismo, que podemos agrupar da seguinte forma: TABELA DE VITAMINAS Grupo
Vitaminas Complexo B
Hidrossolúveis C A Lipossolúveis
D E K
Função Ativadoras do aproveitamento dos nutrientes, protetoras do sistema nervoso e sanguíneo. Antioxidante celular, cicatrização de tecidos
Fonte Cereais integrais, ovos, folhosos, laticínios , feijões, frutas. Frutas e verduras cruas: acerola, tomate, goiaba, pimentão, laranja, limão. Protetora de tecidos, do aparelho Fígado, cenoura , leite e respiratório e dos vasos sangüíneos derivados, abóbora, folhosos verde –escuros. Fixa o cálcio nos ossos Laticínios, cereais, óleo de fígado de bacalhau , peixes, fígado, ovos. Antioxidante celular , protetora de Óleos vegetais, ovos, glóbulos vermelhos peixes, folhosos verdes, feijões, cereais integrais. Mecanismo da coagulação Folhas verdes, couve-flor, sanguínea cereais.
Tabela de minerais Minerais Cálcio Fósforo Ferro Iodo Sódio Potássio Zinco Magnésio
Função Forma o tecido ósseo, atua no funcionamento muscular. Participa na geração de energia celular. Compõe a hemoglobina e é importante no processo respiratório. Compõe os hormônios tireoidianos. Mantém o equilíbrio da água no corpo. Auxilia o sódio no balanço de líquidos do corpo. Forma enzimas e hormônios que participam do crescimento e produção de energia. Fundamental para o desenvolvimento dos ossos e dentes, para produção de proteínas e caracteres genéticos hereditários (DNA). Converte o açúcar em energia. Atua no tratamento de distúrbios comportamentais.
Fontes Leite, peixes, folhas verdes, ovos, feijões e sementes Carne, leite, cereais, ovos. Fígado, carne vermelha, vegetal verde escuro, feijão. Frutos do mar, peixes, sal iodado. Carnes, leite, queijos, sal. Batata, feijões, banana, leite, carnes. Cereais integrais, feijões, ovos, peixes, carnes. Cereais em grãos, amêndoas, nozes, aveia, banana, espinafre, leite desnatado, frutos do mar.
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Alimentação Equilibrada Para manter a alimentação saudável é importante que seja observada a quantidade e a qualidade dos alimentos. Em relação a quantidade utilizada em geral, deve-se consumir um alimento de cada grupo alimentar (energéticos, reguladores e construtores) por refeição. RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES PARA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL: • • • • •
Mastigar bem os alimentos. Preferir os alimentos ricos em fibras: verduras e legumes crus e frutas com casca. Nas refeições, comer primeiro os vegetais. Usar alimentos assados, cozidos ou grelhados. Evitar frituras e retirar peles e couros. As carnes e queijos devem ser magros, o leite e o iogurte, desnatados. Beber bastante água durante o dia (cerca de 8 copos de água por dia). Usar açúcar com moderação, podendo substituir por adoçante. Utilizar óleo vegetal (soja, milho, girassol), em pequena quantidade. Evitar fazer “regimes” ou “dietas” de revista ou transmitida por amigos. Preferir temperos naturais (alho, cebola, ervas). Controlar o uso de sal. Procurar atingir e/ ou manter o peso. Distribuir os alimentos em 5 a 6 refeições por dia. Evitar bebidas alcoólicas, sucos artificiais e refrigerantes.
• • • • • • • • •
RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES PARA O CONTROLE DO PESO USAR À VONTADE Alface, agrião, broto de feijão, etc. Repolho, palmito, abobrinha, aipo, chicória, cebola, coentro, cebolinha, salsa, espinafre Hortelã, jiló, couve, couve-flor, pimentão, pepino, rabanete, tomate, maxixe. Limão, mostarda, alho. Chás: Erva-doce, hortelã, capim-santo, camomila, etc. CONTROLAR Arroz, macarrão, farinhas. Batatinha, batata-doce, batata-baroa, cará, inhame, mandioca. Pão, pão integral, torradas, biscoito de sal. Cuscuz, pipoca, canjica, pamonha de sal, tapioca (beiju). Feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja. Abóbora, cenoura, chuchu, quiabo, vagem, beterraba. Frango, miúdos, ovos, carne bovina e peixes. Leite, queijos, iogurte, requeijão. Todas as frutas. Alimentos industrializados. Óleo, margarina, manteiga, azeite. Café. Evitar Carne de porco e seus derivados (banha, toucinho, lingüiça, salame, mortadela, presunto, etc).
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Creme de leite, nata, manteiga, queijo curado. Frituras, pele de frango e couro de peixe. Coco e leite de coco. Açúcar, rapadura, mel/ melado, doces em geral, caldo-de-cana, balas/ bolos, chocolates, refrigerantes, sorvetes, bebidas alcoólicas, biscoitos e pães doces. Orientações Nutricionais para Gestantes Para os específicos sintomas que podem vir a ocorrer com a gestação, segue as devidas recomendações: Para evitar a anemia por falta de ferro: •
• •
Consumir alimentos ricos em ferro como: carnes e vísceras (fígado, miúdos, rins, coração), vegetais verde-escuros (cheiro-verde, coentro, salsa, hortelã, acelga, agrião, brócolis, couve, beldroega, orapronóbis), semente de abóbora, feijão ou ervilha ou lentilha ou grão-de-bico ou soja. Consumir pelo menos 3 porções de frutas ao dia, junto com almoço e jantar, preferindo as ricas em vitamina C: laranja, tangerina, limão, acerola, mamão, abacate, caju, goiaba, manga, etc. Evitar consumir no almoço e jantar os seguintes alimentos: café, chá mate ou preto, leite e derivados, farelos, ovos e refrigerantes.
Náuseas e vômitos: • • •
Iniciar a primeira refeição do dia com alimentos mais secos (biscoito, pães, beiju, torradas). Evitar beber líquidos durante as refeições. Evitar deitar logo após as refeições.
• • • • •
Evitar doces concentrados. Evitar café, chá preto e mate, refrigerantes, álcool e fumo. Evitar comida muito condimentada. Evitar deitar logo após as refeições. A azia pode ser aliviada ingerindo água gelada.
Azia:
Prisão de ventre: • • • •
Usar 1 a 2 vezes ao dia alimentos integrais (arroz integral, aveia, pão integral). Aumentar o consumo de vegetais e frutas (quando possível com casca e bagaço). Aumentar o consumo de água. Evitar o excesso de biscoitos, massas e alimentos açucarados.
Gestante com baixo peso: • •
Acrescentar óleo cru (1 colher de sobremesa 2 vezes por dia) na comida já servida no prato. Procurar nutricionista para orientação individual.
Gestante obesa: •
Diminuir o óleo para fazer a comida.
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• • •
Diminuir o consumo de açúcar. Não “beliscar” durante as refeições. Diminuir o consumo de massas (ex.: arroz, macarrão, pão, mandioca, batatas, farinhas, etc).
Orientações Nutricionais para o 1º ano de Vida • • •
•
Amamente seu filho exclusivamente ao seio até o 6º mês de vida. O uso de chupetas, chás e água (especialmente se oferecidos em mamadeiras e chucas) são prejudiciais a uma boa amamentação. Começar a introduzir alimentos, observando os seguintes pontos: • - Não usar liquidificador; utilizar garfo para amassar bem os alimentos. • - Usar copo (ou caneca) e colher para oferecer os alimentos. Não usar mamadeira. • - Não assoprar a comida, nem levar a colher do bebê à sua boca. • - Preparar os alimentos perto do horário das refeições. • - Os temperos naturais podem ser usados na comida de sal (por exemplo: alho, cebola, cheiro-verde, tomate). • - Evitar os sucos. Oferecer frutas amassadas ou em pedaços. • - Não deixar a criança “beliscar”, respeitando os horários das refeições. • - Quando a comida for recusada, a melhor opção é não forçar. Aguardar o próximo horário de refeição. • - Oferecer ao bebê água filtrada ou fervida nos intervalos das refeições. Alimentos que devem ser evitados: açúcares, doces em geral, chocolates, refrigerantes, salgadinhos, sucos em pó, biscoitos recheados, balas, frituras, carnes gordas, alimentos muito salgados, enlatados, embutidos, chá mate e preto.
Orientações Nutricionais para Adolescentes Meninos e meninas bem alimentados nessa fase serão adultos saudáveis. Todo adolescente precisa de alimentação reforçada para: fornecer combustível para atividade muscular; promover seu crescimento; garantir seu bem-estar. Uma alimentação balanceada, junto com a atividade física, proporciona ganho de massa muscular e manutenção de peso saudável. USE MENOS Refrigerantes Sorvetes e doces Frituras Balas, bombons chocolates Sanduíches
e
PREFIRA ESTES Água e sucos naturais Frutas e verduras Grelhados e cozidos Cereais, pães e biscoitos integrais Refeições completas
Importante: As refeições devem ser realizadas em horários regulares e em ambiente tranqüilo. Orientações Nutricionais para Hipertensos • • • •
Diminuir o uso de sal no preparo dos alimentos. Não colocar o saleiro na mesa. Evitar bebidas alcoólicas, café, chá preto e mate. Preferir chá de erva-doce, capimsanto, hortelã, erva cidreira, camomila, etc. Ler atentamente o rótulo dos produtos industrializados, verificando se contêm sódio (sal). Fazer, com orientação, exercícios físicos regularmente.
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Orientações Nutricionais para Diabéticos • • • • •
Usar diariamente alimentos ricos em fibras como verduras e legumes crus; frutas com casca e bagaços; aveia, arroz integral, feijão. Não deixar de fazer as refeições prescritas. Usar produtos dietéticos com cautela e sob orientação. Ler atentamente os rótulos dos produtos industrializados, verificando se contém açúcar (sacarose, glicose, glicose de milho, glucose, xarope de glicose, açúcar mascavo ou invertido). Fazer exercícios regularmente, sob orientação.
Orientações Nutricionais para o Idoso Os princípios gerais para o planejamento da alimentação do idoso não são diferentes daqueles estipulados para os adultos. De forma geral, os alimentos que irão compor as refeições devem ter bom valor nutricional, serem saborosos e apresentarem consistência e temperatura adequadas ao seu estado de saúde. A partir de 60 anos, podemos observar as seguintes modificações: • Diminuição da secreção salivar, que dificulta a mastigação e deglutição dos alimentos; • Doenças periodontais, que transformam o ato de mastigar um ato doloroso e difícil; • Diminuição da secreção de ácido clorídrico, que acarreta dispepsia e redução na absorção de cálcio e ferro; • Diminuição da atividade da lactase e outras enzimas digestivas, que também acarretam dispepsia; • Diminuição da sensibilidade de receptores associados ao controle da sede, que tem como conseqüência a redução da ingestão de água. • Outras causas associadas às alterações acima citadas podem comprometer ainda mais o estado nutricional do idoso, como: • - Perda de rendimentos, pobreza; • - Isolamento social; • - Falta de informação sobre uma nutrição balanceada; • - Distúrbios mentais; • - Incapacidade física que compromete a compra e preparo de alimentos; • - Alcoolismo; • - Surgimento ou agravamento de doenças; • - Interação droga X nutrientes. Quanto maior a variedade de alimentos, maior será a possibilidade do idoso de receber todos os nutrientes necessários para a manutenção da saúde. ENERGIA- deve ser estimado em relação a idade, sexo, tamanho corporal, clima, atividade física e surgimento de doenças. Em função do metabolismo basal estar diminuído, há redução de necessidade energética nesta etapa da vida. PROTEÍNAS- a massa muscular do idoso é menor, pois à medida que o indivíduo envelhece, o conteúdo total de proteínas diminui. É recomendado o consumo de proteínas de boa qualidade, ou seja, que contenha todos os aminoácidos essenciais.
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GORDURAS- as necessidades são semelhantes às dos adultos, devendo-se diminuir a ingestão de gorduras saturadas encontradas nas carnes gordas, pele de aves, leite e queijos gordos, leite de coco, dendê, manteiga, margarina e alimentos fritos. As melhores fontes de gorduras são as de origem vegetal tais como óleo de milho, soja, canola, girassol, azeite de oliva, usadas no preparo de alimentos e nas saladas. VITAMINAS E MINERAIS- variando o consumo de frutas, verduras, legumes e grãos, as necessidades destes nutrientes estarão sendo atendidas. *Fontes de nutrientes nas paginas 224 e 225.
Orientação nutricional na Osteoporose A osteoporose é uma doença que se caracteriza pela perda progressiva da massa óssea tornando os ossos enfraquecidos, predispostos à fratura. Existem dois períodos na vida das pessoas no qual o risco de desenvolver osteoporose é maior: • Após a menopausa nas mulheres; • Em ambos os sexos depois dos 70 anos de idade. • • • • •
Recomendações para evitar a osteoporose: Caminhar pelo menos 3 vezes por semana, no mínimo 30 minutos; Expor-se ao sol antes das 10 horas ou após as 16 horas; Dieta rica em cálcio; Evitar fumo, álcool e café em excesso; As mulheres, ao chegarem à menopausa, devem procurar orientação médica para iniciarem prevenção contra osteoporose;
O alimento natural com maior quantidade de cálcio é o leite. Seus derivados, como queijos e coalhada, também são ricos em cálcio e devem fazer parte da nossa alimentação. Outros alimentos que contêm cálcio, porém em menor quantidade, são os vegetais de folhas verde-escuras, como: brócolis, couve-manteiga, agrião, acelga e escarola, além de peixes com espinhas (sardinha, salmão e piramutaba). Bibliografia ALMEIDA , M . S.S. Papel da alimentação na Gênese da Obesidade. In : CONGRESSO BRASILEIRO DE OBESIDADE , 04 , 1999, GOIÂNIA. Resumo de Conferências. Goiânia , 1999,166p.73. BRASIL . MINISTÉRIO DA SAÚDE .Antropometria – Manual de Técnicas e Procedimentos . Goiânia –1996. MAHAN , L. K . Krause : Alimentos , Nutrição e Dietoterapia .Ed. Roca Ltda . São Paulo , 1995. SUPLICY , M . L Prevenção de Obesidade : Estratégias . In : CONGRESSO BRASILEIRO DE OBESIDADE , 04, 1999 , GOIÂNIA . Resumo de Conferências . Goiânia , 1999 , 166 p . p .95.
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VACINAÇÃO Lívia Romero Sant`Anna Ivone Perez de Castro Informações Sobre Vacinação Introdução: O objetivo básico da vacinação é proteger o indivíduo contra algumas doenças que, quando adquiridas, podem causar danos e até levar à morte . Um exemplo é a poliomielite, que deixou várias crianças com seqüelas paralíticas graves. A vacinação deve ser feita o mais precoce possível, sendo que algumas vacinas são administradas logo ao nascimento. São elas, as vacinas BCG ( contra tuberculose ) e a vacina contra hepatite B. O Programa Nacional de Imunização ( PNI) que disciplina e organiza as ações de vacinação, executado em todo território nacional, estabelece como prioritário a administração, no primeiro ano de vida, das seguintes vacinas: • Vacina contra Hepatite B, • Vacina BCG que protege contra tuberculose. • Vacina Tetra valente que protege contra difteria, tétano e pertussis / coqueluche ( DTP) e contra infecções invasivas( meningite, pneumonias, etc ) causadas pelo Haemophilus influenza tipo b (Hib). • Vacina contra poliomielite que protege contra esta doença . • Vacina Tríplice viral que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. • Vacina contra febre amarela. Para gestante e mulher em idade fértil ( 12 a 49 anos ) é preconizada a administração da vacina dupla adulta (dT) , com finalidade principal de controlar o tétano neonatal. Esta vacina está indicada , também, para todo adulto em especial alguns grupos de risco ( escolares, trabalhadores rurais, da construção civil, agricultores, aposentados e outros ), objetivando o controle do tétano acidental e da difteria. Ainda para a mulher em idade fértil e puérpera (mulher que acabou de dar a luz ) é preconizada a vacinação contra rubéola, caso não tenha sido vacinada contra esta doença. As pessoas de 60 anos ou mais devem receber as seguintes vacinas : vacina contra pneumococo, vacina contra influenza ( gripe ), dupla adulta ( dT) e vacina contra febre amarela. Deve-se frisar que o objetivo final da vacinação , administração de uma vacina ou mais, não é apenas a proteção do indivíduo contra determinada doença, não é somente possibilitar a imunidade individual. Na realidade, a vacinação busca, principalmente, produzir imunidade coletiva ,isto é, as pessoas imunizadas ( todas da comunidade que podem ser vacinadas ) protegem as demais pessoas que não foram ou não podem ser imunizadas . Isto irá permitir o controle, eliminação ou erradicação da doença. No Distrito Federal ( DF ) existe o Programa de Imunização, situado na Secretaria de Estado da Saúde , que coordena as ações de vacinação em todo DF. O sistema de saúde do DF é composto pelas Regionais de Saùde que possuem hospitais, policlínicas, unidades mistas, centros e postos de saúdes urbanos e rurais. As coordenações regionais de saúde coordenam e executam as ações de vacinação em sua área de abrangência. Nos hospitais e centros de saúde existem salas de vacinação. Como Fazer Para Se Vacinar? A sala de vacina dos Centros de Saúde é o local que o adolescente deve procurar, caso deseje avaliar sua situação vacinal e complementar o esquema de vacina. Caso o adolescente tenha cartão de vacina deverá levá-lo para verificação das vacinas que já foram administradas e para anotar as que foram aplicadas no dia da consulta.
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Se o adolescente não tiver o cartão de vacina, deverá procurar a sala de vacinas, e o profissional de saúde que o atender aplicará as vacinas necessárias, anotando-as em um cartão. Este será entregue ao adolescente para que o guarde. As vacinas administradas são registradas em formulários próprios da Unidade de Saúde e no cartão de vacinação. Este cartão é um documento pessoal importante e deve ser conservado e apresentado oportunamente para a avaliação do esquema , atualização e registro das doses aplicadas. CONSERVE SEU CARTÃO DE VACINA E LEVE-O A CADA CONSULTA MÉDICA Existem, na rede pública, os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais ( CRIEs) que são salas de vacinas que possuem vacinas especiais indicadas para pessoas em determinadas doenças e situações ( imunodeficiência adquirida SIDA, problemas cardíacos, hepáticos e renais graves; diabetes mellitus, anemia falciforme, leucemia, abuso sexual, reações alérgicas graves a algumas vacinas, etc). Estes pacientes para serem vacinados com estas vacinas especiais, deverão ter encaminhamento do médico ou enfermeira contendo o nome das vacinas a serem administradas e a indicação das mesmas. No Distrito Federal são quatro CRIEs situados na Vigilância Epidemiológica e Imunização dos Hospitais Regionais da: Asa Norte, Asa Sul, Ceilândia e Taguatinga. Conheça O Calendário De Imunização: Programa De Imunização Calendário de Imunização Distrito Federal Idade Ao nascer* 1 mês 2 meses 4 meses 6 meses 12 meses 15 meses 10 - 11 anos** Puérpera 60 anos e +
Vacinas BCG + Hepatite B Hepatite B Tetravalente (Hib + DTP) + Poliomielite Tetravalente (Hib +DTP) + Poliomielite Tetravalente (Hib + DTP) + Poliomielite + Hepatite B Tríplice Viral (T.V.) + contra febre amarela Tríplice (DTP) + Poliomielite Contra febre amarela + Vacina dupla tipo adulto (dT)*** Tríplice Viral (T.V.) Contra pneumococo e contra influenza****
∗ Se o BCG não tiver sido administrado na maternidade (primeiros dias de vida), deverá ser aplicado na primeira visita à unidade de saúde. ** Reforço de dez em dez anos durante toda a vida. *** Em gestantes , o reforço será administrado após 5 anos da última dose. **** Vacinação anual. BSB 25/07/2003
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O Que São As Vacinas E Como Agem: Quando ocorre exposição natural aos vírus ou bactérias, o organismo produz anticorpos ( proteínas especiais) que o protege contra infecção. Sempre que o organismo entrar em contato com estes microorganismos, estes anticorpos são reestimulados. É o mecanismo conhecido como memória imunológica ,ou seja , a habilidade do organismo de responder aos vírus ou bactérias freqüentemente, e que se mantém por muitos anos. Eventualmente os vírus e/ou bactérias podem vencer o mecanismo de defesa do organismo, causando doenças graves e até mesmo a morte. Mas a proteção contra algumas doenças pode ser adquirida de outra forma, ou seja, pela vacinação. A vacina contém um ou mais agentes imunizantes sob diversas formas: bactérias ou vírus atenuados, vírus inativados, bactérias mortas, produtos e componentes de agentes infecciosos purificados e/ou modificados quimicamente ou geneticamente. A vacina contém, também: líquido de suspensão ( água destilada, solução salina) , conservantes, estabilizantes e antibióticos e adjuvantes ( composto contendo alumínio ). Como as vacinas contêm versões mortas ou enfraquecidas de vírus ou bactérias, elas preparam o organismo para lutar contra as doenças. Quando entram no seu corpo, assim como na infecção natural, você passa a produzir anticorpos e estes se tornam parte permanente do sistema imune do organismo, a isto denominamos “ memória imunológica “. Assim, se ocorrer exposição natural ao vírus ou bactérias selvagens, os anticorpos protegerão contra as doenças. Deve-se frisar: o que está na vacina é forte apenas para promover a resposta do organismo para produzir anticorpos, mas muito mais fraco que o vírus ou bactéria em seu estado natural ou “ selvagem” e logo o vírus/bactéria vacinal, na maioria das vezes, não produz a doença . Se uma parcela suficiente da população é vacinada contra uma infecção, a doença não poderá se espalhar dentro da comunidade, isto é conhecido como” imunidade de comunidade “ ou imunidade de rebanho”. O Que São E Quais São As Doenças Imunopreviníveis: São doenças que podem ser evitadas quando o individuo é vacinado contra elas. São elas: • Poliomielite: conhecida como paralisia infantil, é uma doença infecciosa e transmissível. É causada por um micróbio chamado poliovírus que ataca o sistema nervoso. Existem três tipos de poliovírus: o tipo 1, o tipo 2 e o tipo 3. O tipo 1 é o mais relacionado com as formas paralíticas graves da doença e com epidemias. Em geral, quando o poliovírus entra no organismo de uma pessoa, causa apenas uma infecção localizada na garganta ou intestino e nem é percebida pela pessoa. É a chamada forma inaparente, que ocorre em nove a cada dez indivíduos infectados. Outras vezes o individuo apresenta, uns sete dias depois: febre, dor de cabeça, dores na barriga e nos músculos (principalmente nas pernas). A pessoa vomita e sente mal-estar geral. Muitas vezes a doença fica só nisso, caracterizando a forma febril não paralítica. Em alguns casos porém, o polovírus invade o sistema nervoso, causando paralisias flácidas que permanecem pelo resto da vida. A ocorrência de paralisias é mais freqüente nas pernas e unilateral, mas podem ser afetados até os músculos da respiração, levando à morte. Tanto o adulto como a criança podem ter poliomielite.. No Brasil , até o ano de 1989 essa doença atacava mais crianças que tinham menos de cinco anos de idade. A doença é transmitida por contato direto, ou seja, ingerindo água ou alimentos contaminados pelas fezes com poliovírus. As más condições habitacionais e de saneamento básico, a higiene pessoal precária e o elevado número de crianças numa mesma habitação, constituem fatores que favorecem a transmissão dos poliovírus. • Tuberculose: é uma doença infecciosa transmissível , causada por uma bactéria- o bacilo da tuberculose.É transmitida de pessoa a pessoa através das gotículas de secreção expelidas dos doentes bacilíferos no ato de falar, tossir, espirrar. Em geral, a infecção inicial produz o complexo primário da tuberculose pulmonar que é assintomática
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e auto limitada na maioria das crianças. A doença se manifesta, no início, com febre persistente e perda de peso constante. Quando não tratada, um a seis meses após a infecção inicial, podem aparecer algumas manifestações como aumento dos ganglios mediastinais, cervicais ou outros e complicações hematogênicas, meningite tuberculosa, tuberculose miliar ( disseminação local em pulmão com aspecto de grão de milho) e outras que são consideradas graves, sendo a meningite tuberculosa a mais séria de todas. Hepatites Virais: é uma doença infecciosa ,transmissível, que atinge o fígado e é causada por vírus. Entre os mais conhecidos estão os vírus A, B, C, D e E. As hepatites A e C se transmitem por via fecal-oral, ou seja, de pessoa a pessoa resultando de contaminação fecal e ingestão oral de alimentos e água contaminados. As hepatites B,C e D são transmitidas pelo contado com sangue contaminado ( transfusões , feridas e injeções ) e através da atividade sexual. A hepatite D só ocorre em pacientes com infecção pelo vírus B ( sintomático ou portador ). Os viciados em drogas pelo uso endovenoso e também aqueles com atividades heterosexuais e com múltiplos parceiros são de alto risco para hepatite B. As gestantes infectadas pelo vírus B podem transmiti-lo ao seu bebê durante o parto e, mais raramente, ainda no útero: este pode tornar-se portador crônico. As manifestações da doença podem incluir febre, ictericia ( pele amarelada), mal estar geral, anorexia (falta de apetite) , vômitos, cansaço, dor abdominal na altura do fígado, fezes claras e urina escura. Algumas pessoas não apresentam manifestações clínicas. A importância em saúde pública se dá pelo elevado risco do desenvolvimento de cirrose e carcinoma do fígado, tardiamente em pacientes que se infectaram pelo vírus da hepatite B. Difteria: também conhecida como “crupe” , é uma doença infecciosa, transmissível, grave, causada por uma bactéria que se encontra nas vias áereas superiores ( amigdalas, faringe, laringe ) ou na pele.A transmissão ocorre por meio das gotículas de saliva expelidas ao tossir, espirrar ou falar, ou por contato com objetos contaminados pelas secreções dos doentes. Os portadores sadios, ou seja, as pessoas que têm a bactéria e não apresentam sintomas, são também fontes de transmissão da doença. Esta inicia-se como se fosse um resfriado, com dor de cabeça e garganta, surgindo a seguir placas acinzentadas que se instalam na maioria das vezes no nariz e garganta.. As placas impedem a passagem do ar do nariz aos pulmões deixando o paciente asfixiado , podendo levá-lo à morte. Tétano: é uma doença neurológica muito grave , causada pela toxina do bacilo tetânico, um micróbio que vive na terra, na poeira da rua e nas fezes de pessoas e animais.. O tétano não se transmite de uma pessoa para outra, mas qualquer pessoa ao se ferir com pregos, latas velhas , arame, etc, pode contrair a doença.. Mesmo os ferimentos causados por objetos que parecem limpos, como agulha, tesoura ou espinho de planta, podem conter a bactéria tetânica. A doença, tétano acidental, se manifesta por rigidez muscular, principalmente o do queixo, e o doente não consegue abrir a boca e nem engolir. Surgem, também, contrações musculares desencadeadas por estímulos luminosos, sonoros ou manipulação do doente. O tétano neonatal é uma doença infecciosa aguda grave, não contagiosa, que acomete o recém-nascido o mesmo apresenta dificuldade para mamar, choro constante, rigidez da musculatura, podendo levar à morte. O modo de transmissão do tétano neonatal é por contaminação do coto umbilical, devido a cuidados inadequados, quando se utilizam substâncias e instrumentos contaminados com esporos. Coqueluche: conhecida como “ tosse comprida”, ou “tosse brava” é causada por uma bactéria ( Bordetella pertussis ), é transmitida pelo contato direto da pessoa doente por meio de gotículas de secreção ou por objetos recém contaminados. É uma doença infecciosa transmissível , que compromete especificamente o aparelho respiratório e o doente apresenta febre , mal estar geral, coriza e tosse seca com surtos cada vez mais freqüentes e acompanhados de um ruído característico chamado “guincho”.
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Sarampo: doença infecciosa transmissível, muito contagiosa, causada pelo vírus do sarampo. É transmitido diretamente de pessoa a pessoa, por meio das secreções nasofaríngeas expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, falar ou respirar. A doença se caracteriza por um quadro inicial de tosse, coriza nasal, conjuntivite ( irritação e secreção nos olhos ), e fotofobia seguidos de febre e manchas avermelhadas no corpo ( exantema ) . Estas se iniciam na face, geralmente atrás da orelha, e se estendem pelo corpo em dois a três dias. É uma doença grave, deixa o organismo fraco, o que facilita o aparecimento de complicações oculares, auditivas, neurológicas, respiratórias, digestivas, podendo causar seqüelas importantes: cegueira, surdez, etc. O problema fica mais grave quando a criança já é fraca e desnutrida, podendo nesta situaçao morrer. Rubéola: é uma doença exantemática aguda, de etiologia viral, que apresenta alta contagiosidade, acometendo principalmente crianças. Clinicamente se manifesta por febre baixa, manchas avermelhadas que se iniciam no rosto e se propagam para o corpo e gânglios atrás da orelha. Quando adquirida na gravidez, acarreta inúmeras complicações para o feto ( aborto e natimorto ) , como também, para o recém nascido ( surdez, problemas cardíacos, lesões oculares e outras) senão conhecida como a síndrome da rubéola congênita. A doença é transmitida de pessoa a pessoa, por meio de contato direto com as secreções
nasofaríngeas de pessoas infectadas.
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Febre amarela: é uma doença infecciosa aguda de curta duração e de gravidade variável. A doença é súbita, com febre dor de cabeça, prostração e vômitos. A forma grave se caracteriza por manifestações de insuficiência hepática e renal, que podem levar à morte. Apresenta-se sob duas formas distintas : a febre amarela silvestre e a urbana. A febre amarela silvestre ocorre acidentalmente pela penetração do homem nas áreas onde o vírus circula entre hospedeiros naturais ( macacos principalmente ) e onde existe o vetor silvestre ( mosquito ). A febre amarela urbana não ocorre no Brasil desde 1942. A transmissão da febre amarela se dá pela picada do mosquito que , previamente, foi infectado ao picar um doente ( paciente que tem o vírus da febre amarela ). No caso da febre amarela urbana, o mosquito é o Aedes aegypti e da febre amarela silvestre os da espécie Haemagogus. • Meningites: é uma infecção das meninges. O quadro clínico da meningite por Haemophilus influenza tipo b não difere das meningites causadas por outros microorganismos . O início , geralmente, é súbito, com febre, cefaléia intensa, náuseas, vômitos e rigidez de nuca. Ocorre principalmente nos quatro primeiros anos de vida e a transmissão se dá de pessoa a pessoa, por meio de gotículas e secreções da nasofaringe. • Raiva: é uma doença que acomete o cérebro causando o que denominamos encefalite aguda e fatal. Os primeiros sintomas são: ansiedade, dor de cabeça, febre, mal-estar, formigamento e sensação de anestesia, relacionados com o local do ferimento. Evolui para a morte por paralisia dos músculos respiratórios, sendo que a doença dura em média de cinco a sete dias. É transmitida pelo contato com a saliva do animal infectado pelo vírus da raiva , principalmente por intermédio da mordedura e arranhadura. Também ocorre pela lambedura de ferimentos ou mucosas. A transmissão homem a homem não foi confirmada, mas é possível, a partir da presença do vírus na saliva. Bibliografia Manual de Normas de Vacinação, Ministério da Saúde, FUNASA, Brasília, Junho 2001. Manual de Procedimentos para Vacinação; Ministério da Saúde, FUNASA, Brasília, Novembro 2001. ABC das Vacinas Infantis, CDC, Departament of Health and Human Services.
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CÂNCER E SEUS FATORES DE RISCO I.N.C.A O que é câncer O Câncer é caracterizado por alterações que determinam um crescimento celular desordenado e não controlado pelo organismo, comprometendo tecidos e órgãos. O Câncer não é uma doença única e sim um conjunto de mais de 100 doenças diferentes. A vários diferentes tipos de câncer correspondem vários diferentes tipos de células do corpo. Como se comportam as células As células alteradas passam então a se comportar de forma anormal. Multiplicam-se de maneira descontrolada, mais rapidamente do que as células do tecido à sua volta, invadindo-o. Geralmente, têm capacidade para formar novos vasos sanguíneos que as nutrirão e manterão as atividades de crescimento descontrolado. O acúmulo dessas células forma os tumores malignos. Adquirem a capacidade de se desprender do tumor e de migrar. Invadem inicialmente os tecidos vizinhos, podendo chegar ao interior de um vaso sangüíneo ou linfático e, através desses, disseminar-se, chegando a órgãos distantes do local onde o tumor se iniciou, formando as metástases. Dependendo do tipo de célula do tumor, alguns formam metástases mais rápido e mais precocemente, outros as fazem bem lentamente ou até não as fazem. As células cancerosas são, geralmente, menos especializadas nas suas funções do que as suas correspondentes normais. Conforme as células cancerosas vão substituindo as normais, os tecidos invadidos vão perdendo suas funções. Por exemplo, a invasão dos pulmões gera alterações respiratórias, a invasão do cérebro pode gerar dores de cabeça, convulsões, alterações da consciência etc. Como o organismo se defende Sem dúvida, o sistema imunológico desempenha um importante papel nesse mecanismo de defesa. Ele é constituído por um sistema de células distribuídas numa rede complexa de órgãos, como o fígado, o baço, os gânglios linfáticos, o timo e a medula óssea, e circulando na corrente saguínea. Esses órgãos são denominados órgãos linfóides e estão relacionados com o crescimento, o desenvolvimento e a distribuição das células especializadas na defesa do corpo contra os ataques de “invasores estranhos”. Dentre essas células, os linfócitos desempenham um papel muito importante nas atividades do sistema imunológico, relacionadas às defesas no processo de carcinogênese. Cabe aos linfócitos a atividade de atacar as células do corpo infectadas por vírus oncogênicos (capazes de causar câncer) ou as células em transformação maligna, bem como de secretar substâncias chamadas de linfocinas. As linfocinas regulam o crescimento e o amadurecimento de outras células e do próprio sistema imune. Acredita-se que distúrbios em sua produção ou em suas estruturas sejam causas de doenças, principalmente do câncer. ALGUNS MITOS SOBRE O CÂNCER •
O Câncer é hereditário?
A doença em si não é herdada. No entanto, mutações que ocorrem em células reprodutivas, tais como espermatozóides ou óvulos, podem passar de pais para filhos. Dessa forma, uma pessoa que herda mutação em genes específicos para o câncer, podem desenvolver a doença mais facilmente e em idades mais jovens do que a de uma pessoa que nasceu sem esse tipo de mutação. É o caso do retinoblastoma, um tipo de câncer de olho que ocorre em crianças. Além disso, existem alguns fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação dos carcinógenos ambientais, o que explica por que algumas delas desenvolvem câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno.
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O Câncer é contagioso?
Não. Mesmo os cânceres causados por vírus não são contagiosos como um resfriado ou sarampo, isto é, não passam de uma pessoa para a outra por contágio. No entanto, alguns vírus oncogênicos, ou seja, capazes de produzir câncer, podem ser transmitidos através de contato sexual, da placenta, de transfusões de sangue de má qualidade ou de agulhas contaminadas. Como exemplo temos o vírus da hepatite B (câncer de fígado) e o HTLV - I* (linfoma). *HTLV-I:Human T-lymphotropic virus type I •
O Câncer é incurável?
Não. De forma geral, acredita-se que o câncer é sinônimo de morte, e que seu trabalho raras vezes leva à cura. Atualmente muitos tipos de câncer são fáceis de serem curados, desde que tratados em estágios iniciais, mostrando a importância do diagnóstico precoce. Mais da metade dos casos de câncer são curáveis. •
Todo tumor é Câncer?
Não. Nem todo tumor é câncer. A palavra tumor ou tumoração é definida como qualquer aumento de volume desenvolvido numa parte qualquer do corpo, o que não significa câncer. Quando o tumor se dá por crescimento do número de células, ele é chamado neoplasia - que pode ser benigna ou maligna. As neoplasias benignas têm seu crescimento de forma organizada, em geral lento e com limites bem nítidos. Não invadem os tecidos vizinhos e não desenvolvem metástases. Por exemplo, uma verruga comum ou um cisto são tumores benignos. O que causa câncer As causas de câncer são múltiplas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente, e as internas, na maioria das vezes geneticamente pré-determinadas, relacionam-se com a capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, dando início a transformações malignas nas células normais. A maioria dos casos de câncer (80%) está relacionada ao meio ambiente, no qual encontramos um grande número de fatores de risco. Quando falamos em meio ambiente nos referimos ao meio em geral (água, terra e ar), ao ambiente de consumo (alimentos, medicamentos, fumo, álcool e produtos de uso doméstico), ao ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins) e ao ambiente cultural (estilo e hábitos de vida). As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os “hábitos” e o “estilo de vida” adotados pelas pessoas, podem determinar diferentes tipos de câncer. Entre eles o tabagismo aparece como um dos mais importantes, estando diretamente relacionado com o câncer, principalmente de pulmão. A destruição da camada de ozônio é um exemplo de alteração ambiental provocada pelo homem que contribui diretamente no surgimento do câncer de pele, pois este órgão fica mais exposto à radiação solar. 1- TABAGISMO O tabagismo representa o maior fator evitável de câncer e de outras doenças como as cardiovasculares e pulmonares. A consumo dos derivados do tabaco são atribuídas: 30% das mortes por câncer; 25% das mortes por infarto do coração; 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite e enfisema); 25% das mortes por acidente vascular cerebral (derrame). Esse quadro resulta da ação de cerca de 4700 substâncias químicas diferentes encontradas na fumaça do tabaco, principalmente a nicotina, o monóxido de carbono e o alcatrão. A nicotina causa dependência, pelos mesmos mecanismos de cocaína, maconha e álcool. Além disso, devido aos efeitos vasoconstrictores, e a sua capacidade de elevar as lipoproteínas de
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baixa densidade e de aumentar a adesividade plaquetária, contribui para a formação de trombos, arterosclerose e infarto do miocárdio. O monóxido de carbono, ao se ligar fortemente com a hemoglobina, forma a carboxihemoglobina, contribuindo para diminuição da oxigenação dos tecidos, e potencializando a ação cardiovascular da nicotina. O alcatrão concentra quarenta e três substâncias comprovadamente cancerígenas para o homem. Por ser um potente carcinógeno, a fumaça do tabaco causa câncer, principalmente, nos locais por onde passa, como a boca, faringe, laringe e pulmões. As substâncias cancerígenas da fumaça, absorvidas pelo sangue, atingem a circulação e excreção, órgãos mais distantes, o que explica a relação do tabaco com os cânceres de bexiga, rins, pâncreas e colo de útero. Principais tipos de cânceres relacionados ao tabagismo Os tipos de câncer que incidem com maior frequência em fumantes são o câncer de pulmão, boca, laringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo do útero. Vale ressaltar que o câncer de pulmão, em 90% dos casos provocado pelo tabagismo, ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer no sexo masculino, na maioria dos países desenvolvidos, e no Brasil. Além disso, os riscos de câncer pulmão em fumantes leves (1 a 9 cigarros por dia), é em média 6 vezes maior do que em não fumantes, o que indica que o tabagismo é um grande risco, mesmo quando a exposição é relativamente baixa. 2 - HÁBITOS ALIMENTARES Pesquisas mostram uma relação entre o que nós comemos e bebemos e o risco de desenvolvermos vários tipos de câncer, principalmente câncer de mama, de cólon (intestino grosso), de reto, de próstata, de esôfago e de estômago. Através de estudos epidemiológicos observou-se que uma alimentação pobre em fibras, com altos teores de gorduras e altos níveis calóricos (hambúrguer, batata frita, bacon etc.), está relacionada a um maior risco para o desenvolvimento de câncer de cólon, de reto, de mama e de próstata. Também se observou que a obesidade está relacionada com um aumento no risco para desenvolvimento de câncer de útero (encométrio), de vesícula biliar, de mama e de cólon. A qualidade dos alimentos consumidos com mais freqüência pode favorecer ou bloquear a carcinogênese. A seguir, veremos os tipos de alimentos que favorecem o risco de desenvolver câncer, e os que protegem: •
FATORES DE RISCO ALIMENTARES
- Alimentos salgados e picles O sal marinho comumente usado para salgar alimentos como carnes e peixes e para fazer picles, apresenta vários contaminantes, dentre eles nitratos e nitritos. - Churrascos e defumados Os defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida. - Gorduras Uma dieta rica em gordura aumenta a concentração de bile ácida e ácidos graxos ionizados, o que provavelmente provoca danos na mucosa do intestino, promovendo a carcinogênese.
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- Alimentos mofados Grãos e cereais, se armazenados em locais inadequados e úmidos, podem ser contaminados pelo fungo Aspergillus flavus, o qual produz a aflatoxina, que é uma substância cancerígena,. •
FATORES DE PROTEÇÃO ALIMENTARES
- Vitaminas e micronutrientes Radicais livres são moléculas geradas no próprio organismo como resultado do metabolismo, ou de agressões externas como fumaça do tabaco, poluentes, pesticidas etc. Essas moléculas são responsáveis por muitas das alterações envolvidas no processo de carcinogênese. Vitamina C, vitamina E, betacaroteno, flavonóides, selênio dentre outros encontrados em frutas, verduras, legumes apresentam efeito antioxidante, isto é, impedem a formação de radicais livres. Portanto, uma alimentação rica nesses componentes pode bloquear e até mesmo reverter os estágios iniciais do processo de carcinogênese. - Fibras O consumo de alimentos ricos em fibras como verduras, frutas, legumes e cereais auxilia na redução do tempo de permanência de substâncias cancerígenas no intestino grosso, além de reduzir a absorção de gorduras. - Orientações alimentares Comer diariamente alimentos integrais e 5 ou mais porções de frutas, legumes e verduras. Reduzir o consumo de gordura para no máximo 30% do total de calorias ingeridas diariamente: limitar consumo de carnes vermelhas, frango com pele, frituras, manteiga e leite integral. Manter o peso ideal através da combinação de exercícios físicos e da moderação do consumo de calorias. Reduzir o consumo de alimentos tipo salames, salsichas, presuntos, defumados e salgados. Evitar o consumo de alimentos mofados, e aqueles em que foram empregados pesticidas. No Brasil, observa-se que os tipos de câncer que se relacionam aos hábitos alimentares estão entre as seis primeiras causas de mortalidade por câncer. O perfil de consumo de alimentos que contêm fatores de proteção está abaixo do recomendado em diversas regiões do país. A ingestão de fibras também é baixa no Brasil, onde se observa coincidentemente, uma significativa frequência de câncer de cólon e reto. O consumo de gorduras é elevado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ocorrem as maiores incidências de câncer de mama no país. O câncer de estômago ocupa o primeiro lugar em mortalidade entre homens, em algumas regiões do Brasil, sendo São Paulo, Fortaleza e Belém as cidades onde o câncer de estômago atinge os mais altos níveis de frequência. Estudo realizado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) em 1996, sobre o consumo de alimentos no Brasil, evidenciou que de uma maneira geral, existe uma forte tendência da população, especialmente dos jovens, em substituir o tradicional padrão alimentar (arroz e feijão) rico em fatores de proteção, por alimentos tipo fast food (salsichas, hamburgers, presunto, batata frita) rico em fatores de risco de câncer. Provavelmente isso resulta de mudanças sociais que favorecem o consumo de alimentos fora de casa, somadas ao estímulo publicitário para o consumo desses tipos de alimentos, que têm altos valores calóricos. Esses fatores, juntamente com a adoção de estilo de vida mais sedentário, têm favorecido a obesidade, principalmente entre os jovens, que passam a compor crescentemente os grupos de risco não só de câncer como de doenças cardiovasculares.
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3 - CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL O consumo de bebidas alcóolicas representa a 2ª causa de morte evitável, logo após o tabagismo. Dependendo da quantidade ingerida e da suscetibilidade individual, o consumo de bebidas alcóolicas pode causar vários problemas de saúde, como cirrose hepática, enfraquecimento do miocárdio (músculo do coração), hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (derrame) e vários tipos de câncer. Mesmo o consumo moderado de bebidas alcoólicas pode interferir com efeito de diversos medicamentos ou aumentar seus efeitos colaterais. Por ser uma droga potente, o álcool é capaz de causar dependência química em indivíduos suscetíveis, levando ao alcoolismo. O consumo de álcool também está envolvido em mais da metade dos acidentes fatais de trânsito. Além disso, também está relacionado com acidentes de trabalho, homicídios, suicídios, faltas do trabalho, violências praticadas na família e seu abandono, entre outros problemas sociais. O álcool consumido pelo homem é o etanol (álcool etílico) obtido a partir da fermentação de produtos naturais. Os vinhos são obtidos da fermentação da uva, a cerveja provém da fermentação de grãos de cereais. São as chamadas bebidas alcoólicas fermentadas. Com a destilação de bebidas fermentadas são obtidas as bebidas alcoólicas destiladas (cachaça, rum, gim, uísque etc.) que têm maior concentração de etanol. Um copo de cerveja (350ml) contém 10 a 14g de etanol, um cálice de vinho (120mgl) contém 10 a 12g, e uma dose de destilados (45mg) contém 11 a 14g. Consumo e relação com o câncer O consumo excessivo de álcool predispõe a maior risco de câncer: • • • •
Boca - 9 vezes maior 35 vezes maior (álcool + tabaco) fígado - 50% maior mama - 60% maior em mulheres
Existem atualmente suficientes evidências sobre o potencial carcinogênico do álcool para o homem. Os mecanismos pelos quais as bebidas alcoólicas podem causar câncer ainda não são claros. A ação carcinogênica do álcool é atribuída principalmente a um de seus metabólitos, o acetaldeído, que tem a capacidade de causar mutações no DNA das células com as quais entra em contato. Por outro lado, características individuais, que determinam uma maior velocidade de transformação de etanol em acetaldeído no organismo, podem em parte, explicar porque algumas pessoas desenvolvem câncer e outras não como resultado da exposição prolongada e excessiva ao álcool. 4 - EXPOSIÇÃO EXCESSIVA À RADICAÇÃO SOLAR A exposição excessiva ao sol é uma das principais causas de câncer de pele, que é afetada principalmente pela radiação solar na faixa do ultravioleta. De acordo com o comprimento de onda, os raios ultravioleta (UV) podem ser classificados em UVA, UVB e UVC. Os UVB são responsáveis por queimaduras solares, câncer de pele e lesões destrutivas das camadas mais profundas da pele, que levam ao envelhecimento cutâneo. Os UVA também penetram profundamente a pele, causando alterações que contribuem para o envelhecimento precoce e potencializam o efeito carcinogênico dos UVB. Já os UVC não alcançam a superfície da terra, não tendo, portanto, efeitos sobre a pele. A camada de ozônio é o filtro solar natural que absorve, ainda na atmosfera, os raios UVB e UVC. Como os UVA não são absorvidos por essa camada, atingem plenamente a superfície do planeta. Devido à destruição da camada de ozônio, uma maior frequência de casos de câncer de pele vêm ocorrendo, principalmente nos países situados próximos ao Equador, entre os quais se inclui o Brasil.
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Os tipos de câncer de pele relacionados à intensidade da exposição à radiação solar são os basocelulares e espinocelulares. Quanto ao tipo melanoma, estudos epidemiológicos têm sugerido que o risco é influenciado mais por exposição intermitente ao sol, especialmente na infância, do que por exposição cumutativa, como ocorre com os tipos basocelular e espinocelular. Como se proteger As pessoas que se expõem ao sol de forma prolongada e frequente, por atividades profissionais e de lazer, constituem o grupo de maior risco de contraírem câncer de pele, principalmente se forem do tipo de pele clara, sensível, que se queima com facilidade e não consegue “pegar” um bronzeado. Sob circunstâncias normais, as crianças se expõem anualmente ao sol três vezes mais que os adultos. Pesquisas indicam que a exposição cumutativa e excessiva durante os primeiros 10-20 anos de vida aumenta muito o risco de câncer de pele, mostrando ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos efeitos nocivos do sol sobre esse órgão. Para a prevenção não só do câncer de pele como também das outras lesões provocadas pelos UV, é necessário evitar a exposição ao sol sem proteção. É preciso incentivar o uso de chapéus, guarda-sóis, óculos escuros e filtros solares durante qualquer atividade ao ar livre e evitar exposição em horários em que os raios utravioleta são mais intensos, ou seja, das 10 às 16 horas. É recomendado que durante a exposição ao sol sejam usados filtros com FPS de 15 ou mais. Também devem ser tomadas precauções na hora de se escolher um filtro solar, no sentido de se procurarem os que protegem também contra os UVA. Os filtros solares devem ser aplicados antes da exposição ao sol e reaplicados após nadar, suar e se secar com toalhas. 5 - RADIAÇÕES IONIZANTES A carcinogênese por radiação ionizante é um problema do século XX. O raio X, descoberto no final do século XIX, passou a ser largamente empregado em medicina. As primeiras evidências do seu efeito carcinogênico sugiram quando antigos radiologistas, que não tomavam medidas de proteção, apresentaram uma alta frequência de câncer de pele e leucemias. Outra grande evidência surgiu com o emprego da energia nuclear para explosões atômicas, como as de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Todos os estudos em sobreviventes desses bombardeios demonstravam o efeito carcinogênico desta radiação por meio da observação do aumento da incidência de cânceres, tais como leucemias e de tumores de estômago, pulmão, trato urinário, entre outros. Outras informações sobre a carcinogenicidade das radiações ionizantes foram obtidas por intermédio da exposição ocupacional de, por exemplo, mineradores de urânio e operários de indústrias nucleares. Por ser, muitas vezes, a melhor alternativa econômica, ou em eficiência, as inúmeras aplicações das radiações ionizantes tendem a crescer, tanto na área da medicina como na industrial. Isso torna extremamente importante a garantia do uso correto dessas técnicas, de modo a se preservar a saúde do homem e do meio ambiente. 6 - EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL Localização do câncer Pulmão, pleura
Substância Asbesto
Pele, pulmões Bexiga Medula óssea
Derivados do petróleo Aminas aromáticas Benzeno
Exemplos Telha de amianto, cimento, tubulações Fuligem, alcatrão Tintas e agrotóxicos Petroquímica, Siderúrgica, indústrias químicas
Um grande número de substâncias químicas usadas na indústria são consideradas fatores de risco de câncer de trabalhadores de várias ocupações. Esse risco se torna bem maior quando o trabalhador também é fumante, pois o fumo interage com a capacidade cancerígena de muitas dessas substâncias.
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A poluição do ar no ambiente de trabalho é um fator importante para o câncer ocupacional, uma vez que as pessoas respiram esse ar durante, pelo menos, oito horas por dia. Algumas substâncias como o asbesto, encontrado em materiais como fibras de amianto ou cimento, as aminas aromáticas, usadas na produção de tintas e agrotóxicos agem preferencialmente sobre a bexiga, enquanto os hidrocarbonetos aromáticos, encontrados na fuligem, parecem agir sobre as células da pele e sobre as vias respiratórias e pulmões. O benzeno, que pode ser encontrado como contaminante na produção de carvão, em indústrias siderúrgicas, e é usado como solvente de tintas e colas, atinge principalmente a medula óssea, podendo provocar leucemia. O quadro acima mostra os principais tipos de ocupação de risco relacionados ao agente cancinogênico e as principais localizações de câncer ocupacional. Outros cancerígenos passam pela circulação do sangue, atingindo primeiramente o fígado, onde suas moléculas são quebradas quimicamente, dando origem a novas substâncias (metabólitos) muitas vezes mais tóxicas que as substâncias originais. O câncer devido a exposições ocupacionais geralmente atinge regiões que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas, seja durante a fase de absorção (pele, aparelho respiratório) ou de excreção (aparelho urinário), o que explica a maior freqüência de câncer de pulmão, de pele e de bexiga nesse tipo de exposição. • • • • • • •
A prevenção do câncer de origem ocupacional deve abranger: A remoção da substância cancerígena do local de trabalho; O controle da liberação de substâncias cancerígenas resultantes de processos industriais para a atmosfera; O controle da exposição de cada trabalhador e o uso rigoroso dos equipamentos de proteção individual (máscaras e roupas especiais); A boa ventilação do local de trabalho, para se evitar o excesso de produtos químicos no ambiente; O trabalho educativo, visando aumentar o conhecimento dos trabalhadores a respeito das substâncias com as quais trabalham, além dos riscos e cuidados que devem ser tomados ao se exporem a essas substâncias; A eficiência dos serviços de medicina do trabalho, com a realização de exames periódicos em todos os trabalhadores; A proibição do fumo nos ambientes de trabalho, pois, como já foi dito, a poluição tabagística ambiental potencializa as ações da maioria dessas substâncias.
Para isso, faz-se necessário o envolvimento de órgãos governamentais para a criação de leis que proíbam a exposição a qualquer concentração de substâncias que, comprovadamente, provoquem câncer no homem, que abriguem os empregadores sobre os riscos a que estão expostos, que mantenham um programa de exames médicos periódicos e que determinem a adoção de programas de proteção individual, indicando os equipamentos de proteção mais adequados, sua vida útil, seu modo de utilização etc. 7 - HÁBITOS SEXUAIS E CÂNCER Certas características de comportamento sexual aumentam a chance de exposição a vírus carcinogênicos sexualmente transmissíveis. A precocidade do início da vida sexual (antes dos 18 anos de idade), a falta de higiene, e a multiplicidade de parceiros, tanto da mulher como do seu companheiro, estão relacionados a um maior risco de câncer do colo uterino. Esses fatos sugerem que os hábitos sexuais contribuem para a propagação de agentes sexualmente transmissíveis, capazes de induzir o câncer. Eis alguns tipos de vírus potencialmente oncogênicos e sexualmente transmissíveis. Eis alguns tipos de vírus com potencial carcinogênico que podem ser transmitidos sexualmente: • O herpesvírus II e o papilomavírus (HPV) estão relacionados ao câncer do colo uterino;
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O vírus HIV*, associado a outros tipos de vírus, como o citomegalovírus e os herpesvírus I e II, podem desencadear o aparecimento de sarcoma de Kaposi, câncer de língua e de reto, respectivamente, em pacientes portadores de AIDS; O vírus HTLV-I associa-se à leucemia e ao linfoma de linfócitos T; O vírus da hepatite B relaciona-se ao câncer de fígado.
8 - HORMÔNIOS, FATORES REPRODUTIVOS E CÂNCER A baixa taxa de câncer de mama entre homens, a presença de receptores hormonais em uma grande proporção de tumores de mama, e a resposta do tumor de mama à terapia hormonal com drogas que bloqueiam receptores estrogênicos, reforçam o papel dos hormônios no desenvolvimento do câncer de mana feminino. Estudos apontam como fatores de risco de câncer de mama a menarca precoce, a menopausa tardia, a baixa paridade e a obesidade na menopausa. Por outro lado a ooforectomia (retirada dos ovários), o exercício físico e a amamentação parecem ter efeito protetor. A reposição de estrógeno é com frequência usada para o controle de sintomas da menopausa. No entanto, várias pesquisas evidenciam associação entre câncer de endométrio (útero) e reposição de estrogênio em mulheres na pós menopausa. Os dados demonstram que o risco desse tipo de câncer aumenta com a duração desse tratamento. Por outro lado, o efeito protetor da progesterona no que se refere ao desenvolvimento do câncer de endométrio, tem levado a sua inclusão nas formulações contendo estrogênio. Os conhecidos benefícios da reposição hormonal após a menopausa, para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares e prevenir a osteoporose têm estimulado a sua utilização. Considerando que a doença cardiovascular é a principal causa de morte entre mulheres após a menopausa, é fundamental que os benefícios da reposição hormonal sejam bem ponderados, e que seu uso seja feito sob rigoroso acompanhamento médico. (Extraído do manual” Falando sobre Câncer e seus fatores de risco- Instituto Nacional do Câncer INCA e Ministério da Saúde)
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VOCÊ ESTÁ QUERENDO PARAR DE FUMAR? I.N.C.A Para aqueles que não fumam, parar de fumar pode parecer algo simples. Basta querer. Muitas vezes esta decisão é adiada para evitar o desconforto de ficar sem o cigarro. Outras, por acreditar que é possível para a qualquer momento. Podemos ainda buscar o momento ideal ou esperar que a vontade e a certeza de querer parar de fumar apareçam! Alguns dados para você refletir São cerca de 4720 substâncias tóxicas existentes na fumaça do cigarro que trazem riscos à saúde do fumante. Além das mais conhecidas como a nicotina, alcatrão e monóxido de carbono, a fumaça contém também substâncias radioativas, como polônio 210 e cadmio (encontrado em baterias de carro) Mas será tão fácil assim? Mas você pode argumentar “ Muitas pessoas fumam e não adoecem. Outros não fumam e adoecem.” O importante é entender o que é se expor a riscos. Por exemplo, se você atravessar uma rua movimentada de olhos fechados, poderá chegar ao outro lado sem se machucar- mas seu risco de ser atropelado é bem maior do que se você atravessar de olhos abertos na faixa de pedestres. Da mesma forma, se você fuma, está se arriscando mais do que aqueles que não fumam. O que acontece de bom, se você parar? Estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fumantes, apresentam um risco:
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10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão: 5 vezes maior de sofrer um infarto: 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar: 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral. Além destes riscos as mulheres fumantes devem saber que o uso de anticoncepcionais associados ao cigarro aumenta em 10 vezes o risco de sofrer derrame cerebral e infarto. Grávidas fumantes aumentam o risco de ter aborto espontâneo em 70%; perder o bebê próximo ou depois ao parto em 30%; o bebê nascer prematuro em 40% e ter um bebê com baixo peso em 20%. Fumar é um risco que podemos evitar. Ao parar de fumar seu corpo vai recebendo benefícios constantes. Veja só: • • • • • • • •
Após 20 minutos, a pressão sangüínea e a pulsação voltam ao normal. Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza Após 12 a 24 horas, seus pulmões já funcionam melhor Após 2 dias, seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar degusta melhor a comida Após 3 semanas, você vai notar que sua respiração se torna mais fácil e a circulação melhora. Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio já foi reduzido à metade Após 5 a 10 anos, o risco de sofrer por infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.
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Dando o primeiro passo para ser um não fumante. O mais importante é escolher uma data para ser o seu primeiro dia sem cigarro. Este dia não precisa ser um dia de sofrimento. Faça dele uma ocasião especial e procure programar algo que goste de fazer para se distrair e relaxar. Você pode escolher duas formas para parar de fumar: • A parada imediata - Esta deve ser sempre a primeira opção. Você deixa de fumar de uma só vez, cessando totalmente de uma hora para outra. • A parada gradual – Você pode utilizar este método de duas formas: 1º- Reduzindo o número de cigarros. Para isso, é só contar o número de cigarros fumados por dia e passar a fumar um número menor a cada dia. 2º - Adiando a hora em que começa a fumar o primeiro cigarro do dia. Você vai adiando o primeiro cigarro por um número de horas pré-determinado a cada dia até chegar o dia em que você não fumará nenhum cigarro. Se você escolher a parada gradual, não deverá gastar mais que duas semanas neste processo. Mais atenção! Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Eles fazem tanto mal à saúde quanto os outros cigarros. Cuidado com métodos milagrosos para deixar de fumar. Se tiver dúvidas, procure orientação médica. Somente um médico poderá avaliar a utilização de outros métodos, como, por exemplo, adesivos de nicotina. Muitos fumantes acreditam que só poderão parar de fumar se reformularem totalmente sua vida, e ficam imaginando que vai ser tão difícil que é melhor nem tentar. Parar de fumar, significa uma mudança radical em sua vida? Você não precisa tornar-se um atleta, passar a ser vegetariano radical ou ter uma vida sem amigos e divertimentos. Mas por que não aproveitar a oportunidade para rever a sua rotina e fazer algumas mudanças para melhor? Geralmente abusamos de alimentação desequilibrada e bebidas alcoólicas, levamos uma vida sedentária e acreditamos que os riscos de adoecer estão sempre muito distantes. Repense sua rotina. Pense no que seria possível fazer para mudar sua rotina. Buscar atividades diferentes pode ajudar quando se está parando de fumar. Para quebrar as associações que existem entre fumar e a sua rotina, é necessário planejar atividades para “ colocar no lugar do cigarro”. Você deve manter seus prazeres e lazeres – sem cigarro. Nesse período inicial, contudo, é melhor evitar certas situações até que você se sinta fortalecido para lidar com elas. Portanto, evite lugares com muitos fumantes. Invista em seu preparo físico. Procure iniciar caminhadas, de preferências em lugares agradáveis. Se não gosta de caminhar, procure algum exercício ou esporte que lhe agrade. Preencha seu tempo com algo que você realmente goste de fazer. Dance, pratique jardinagem, cozinhe pratos diferentes, vá ao cinema, ao teatro, aos museus, ouça música, namore, leia, bata papo com os amigos, etc. o importante é movimentar-se, cuidando do corpo e da mente.
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Fique de olho na alimentação! Se a fome aumentar, não se assuste, é normal um ganho de peso de até 2 quilos, pois seu paladar vai melhorando e o metabolismo se normalizando. De qualquer forma, procure não comer mais do que o de costume. Evite doces e alimentos gordurosos. Mantenha uma dieta equilibrada com alimentos de baixa caloria, frutas, verduras, legumes, etc. Para distrair a fome, você pode comer balas ou chicletes dietéticos. Beba sempre muito líquido, de preferência água e sucos naturais. Evite tomar café e bebidas alcoólicas. Eles podem ser um convite ao cigarro. Procure trocá-los por chá e coquetéis sem álcool ( como de frutas e tomate) Lidando com a vontade de fumar. A pessoa que fuma fica dependendo da nicotina que é considerada uma droga. E daquelas bastante poderosas, pois atinge o cérebro em apenas 7 segundos. É normal, portanto, que os primeiros dias sem cigarro sejam os mais difíceis. O que pode acontecer quando você deixa de fumar? Ao parar de fumar, você pode se sentir ansioso, com dificuldades de concentração, irritado, ter dores de cabeça e sentir aquela vontade intensa de fumar. Cada pessoa tem uma experiência diferente. Uns sentem mais desconforto, outros não sentem nada. Mas não desanime, tudo isso vai desaparecer no máximo em duas semanas. Prepare-se para não voltar a fumar e cuidado com as armadilhas! Nos momentos de estresse, quando perdemos alguém querido, passamos por dificuldades financeiras, problemas no trabalho, rompemos um relacionamento, a resposta automática pode ser o cigarro. Procure se acalmar e entender que momentos difíceis sempre vão ocorrer e fumar não vai resolver seus problemas Se sentir muita vontade de fumar, para ajudar, você poderá chupar gelo, escovar os dentes a toda a hora, beber água gelada ou comer uma fruta. Mantenha as mãos ocupadas com um elástico, pedaço de papel, rabisque alguma coisa ou manuseie objetos pequenos. Não fique parado- converse com um amigo, faça algo diferente, distraia sua atenção . Evite o primeiro cigarro e você evitará todos os outros Exercício, um recurso saudável para relaxar: •
Respiração profunda – Respire fundo pelo nariz e vá contando até 6. Depois deixe o ar sair lentamente pela boca até esvaziar totalmente os pulmões. • Relaxamento muscular – Você pode esticar seus braços e suas pernas até sentir os músculos relaxarem. • Relaxamento mental – Na hora em que a vontade de fumar apertar procure desviar o pensamento para situações boas que você tenha vivido ou queira que aconteça. Tente fechar os olhos e lembrar de uma música que você goste e que lhe acalme. Alguns ex-fumantes acabam voltando a fumar por estarem se sentindo tão bem que acham que podem fumar apenas um cigarro- ou só acender o cigarro do amigo. Mesmo uma só tragada pode levar você a uma recaída. Portanto, todo o cuidado é pouco... Recompense sempre o seu esforço Diariamente, guarde o dinheiro que você gastaria com o cigarro e conte-o no final de cada semana. Pegue o dinheiro que economizou e compre um presente para você ou para quem você gosta. Se preferir, saia para fazer um programa diferente.
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Se você não conseguir se segurar e fumar, não desanime! A recaída não é um fracasso. Comece tudo novamente e procure ficar mais atento ao que fez você voltar a fumar. O mais importante é não usar a recaída como justificativa para continuar a fumar. Dê a si mesmo quantas chances forem necessárias até você conseguir. (Fonte – Texto extraído da cartilha “Você está querendo parar de fumar?” – Elaborado pelo INCA – Instituto Nacional do Câncer)
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CONCEITOS BÁSICOS SOBRE HANSENÍASE Disney Antezana Roseane Pereira de Deus Maria Madalena Introdução A hanseníase , também conhecida como lepra, é causada pelo Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, que tem preferência por pele e nervos. Há referências da hanseníase desde a antigüidade e naquela época não se conhecia o ciclo natural da doença, nem existiam medidas eficazes para o seu controle. Optava-se então pelo isolamento dos pacientes que na sua maioria apresentavam deformidades e seqüelas decorrentes do acometimento neurológico. Atualmente, muitos conhecimentos existem sobre este agravo e estão disponíveis medidas efetivas para o seu controle, dentre elas o tratamento efetivo e, conseqüentemente, a sua cura. Desta forma, podem ser evitadas as deformidades e seqüelas responsáveis pelo estigma que ainda existe em relação à hanseníase e que hoje não tem fundamentação científica, em função dos avanços ocorridos neste século. Situação Epidemiológica O Brasil está incluído entre os 16 países com maior endemicidade no mundo, sendo que em termos numéricos é superado apenas pela Índia e, em relação ao coeficiente de prevalência, ocupa o primeiro lugar. Considerando a existência da Poliquimioterapia e os benefícios daí decorrentes, a Organização Mundial da Saúde propôs em 1991 que esforços fossem realizados para conseguir a “Eliminação da Hanseníase como problema de Saúde Pública até o ano 2005”, ou seja, pretendese reduzir a prevalência a 1 caso por 10.000 habitantes. Nesse contexto, o Brasil vem reestruturando o Programa Nacional de Controle de Hanseníase, inclusive incorporando atividades novas, tais como ampla divulgação e realização de Campanhas de Intensificação, com o objetivo de: • Detectar casos novos; • Recuperar casos em abandono de tratamento; • Divulgar que existe tratamento e cura. A introdução e a expansão de um novo esquema terapêutico a partir de 1991, a POLIQUIMIOTERAPIA (PQT), para todos os casos diagnosticados, em curto espaço de tempo possibilitará a aproximação da meta almejada. Em 1998/99, diante dos desafios para a implantação efetiva do Sistema Único da Saúde SUS, a problemática da hanseníase foi amplamente discutida nos 3 níveis do governo (federal, estadual e municipal) e foi consenso que, no âmbito do SUS, o atendimento ao paciente portador de hanseníase faz parte da atenção básica à saúde e portanto deve ser realizada em todas as Unidades de Saúde no contexto do atendimento integral ao paciente. No Distrito Federal, a meta de eliminação de Hanseníase é 2005. Aspectos Epidemiológicos • •
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Agente etiológico: Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen; Transmissão: a principal fonte de infecção é o homem e o contágio dá-se através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas suscetíveis. A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a porta mais provável de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas superiores, o trato respiratório. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato direto e prolongado com a pessoa doente não tratada. Período de incubação: em média de 5 anos, podendo variar de 2 a 7 anos;
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A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades e de ambos os sexos.No entanto, grande parte da população (em torno de 90%) tem uma resistência natural ao bacilo. Além das condições individuais, outros fatores relacionados aos níveis de endemias e às condições sócioeconômicas desfavoráveis, assim como condições precárias de vida e de saúde e o elevado número de pessoas convivendo em um mesmo ambiente influem no risco de adoecer. Aspectos Clínicos O diagnóstico da hanseníase não é difícil. Basta que todos estejam atentos aos sinais e sintomas da doença: • Lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade • Acometimento de nervo (s) com espessamento neural • Baciloscopia (exame da linfa) positivo Diagnóstico Clínico O diagnóstico, portanto, é clinico e baseia-se na identificação desses sinais e sintomas. Uma vez diagnosticado, o caso de hanseníase deve ser classificado, operacionalmente, para fins de tratamento. Esta classificação também é feita com base nos sinais e sintomas da doença: • Paucibacilares (PB): casos com até cinco lesões de pele • Multibacilares (MB): casos com mais de cinco lesões de pele. Diagnóstico Laboratorial • Baciloscopia é o exame microscópico em que se observa o Mycobacterium Leprae • Biópsia de pele, auxilia o diagnóstico em caso de dúvida. Diagnóstico Diferencial A principal diferença entre a hanseníase e outras doenças dermatológicas é que as lesões de pele da hanseníase sempre apresentam alteração de sensibilidade( dormência). As demais doenças não apresentam esta alteração. Tratamento O diagnóstico precoce da hanseníase e o seu tratamento adequado evitam a evolução da doença, conseqüentemente impedem a instalação das incapacidades físicas por ela provocadas. O tratamento é ambulatorial nos serviços de saúde, com uma associação de medicamentos de eficácia comprovada, a POLIQUIMIOTERAPIA -PQT. A regularidade ao tratamento é fundamental para o êxito da terapêutica. A prevenção de deformidades é atividade primordial durante o tratamento e em alguns casos até mesmo após a alta. É importante que o paciente conheça os diferentes aspectos da doença, para que o mesmo possa realizar os autocuidados, que são essenciais para evitar seqüelas da doença. O aprendizado do auto-cuidado é arma valiosa para evitar seqüelas da hanseníase. Na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, existem 43 unidades (04 Hospitais e 39 Centros de Saúde) com o Programa de Controle de Hanseníase implantado. Nessas Unidades, o paciente encaminhado é atendido sem necessidade de agendamento. Todos os casos suspeitos devem ser encaminhados para essas Unidades, onde são realizadas as atividades que dizem respeito ao diagnóstico, tratamento específico, acompanhamento e adoção de medidas de controle. O tempo de tratamento para as formas Paucibacilares é em média de 6 meses e para as formas Multibacilares é de 12 meses. Durante este tempo, a cada mês o paciente deverá comparecer à Unidade para receber o medicamento e uma dose supervisionada, e nessa ocasião, o profissional de saúde vai acompanhar a evolução do paciente.
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Investigação Epidemiológica dos Casos A partir do diagnóstico de um caso de hanseníase, deve ser feita, de imediato, a sua investigação epidemiológica, que tem o objetivo de romper a cadeia da doença procurando identificar a fonte de contágio do doente, descobrir novos casos de hanseníase entre as pessoas que convivem ou conviveram com o doente no mesmo domicílio, nos últimos cinco anos, (contatos intra domiciliares) e prevenir a contaminação de outras pessoas. Os contatos intra domiciliares correm um maior risco de serem contaminados do que a população em geral.Por isto a vigilância deste contatos é muito importante. O exame dermatoneurológico dos contatos permitirá diagnosticar a ocorrência ou não da doença o mais precocemente, já que quanto mais cedo for o diagnóstico e tratamento mais rápido é a cura. Deve-se ressaltar que é nos exames dos contatos intradomiciliares que se detecta o maior número de casos de hanseníase. Após o exame dermatoneurológico, os contatos serão encaminhados para a sala de vacinação a fim de receber a vacina BCG. Caso o paciente tenha a cicatriz da vacina, receberá uma dose, senão, deverá ser vacinado de imediato com a 1ª dose e 6 meses depois com a 2ª dose. A vacina BCG aumenta a resistência do organismo à hanseníase, evitando o surgimento de formas graves da doença. Critérios para Alta O paciente obtém alta por cura ao completar as doses preconizadas, não necessitando ficar sob vigilância do serviço de saúde. Pacientes da forma paucibacilar farão 6 doses de PQT em até 9 meses de tratamento e os pacientes da forma multibacilar farão 12 doses de PQT em até 18 meses. O esclarecimento e a cooperação do paciente são fatores primordiais para o sucesso do tratamento e prevenção de incapacidades, aliados a um atendimento adequado e oportuno nas Unidades de Saúde. Educação em Saúde É uma ação realizada por toda a equipe de saúde. No diagnóstico, inicia-se pela atenção eficiente e humanizada ao paciente desde o exame dermatoneurológico, passando pelo resultado do diagnóstico, dando ao paciente oportunidade de se expressar e garantindo a informação. Durante o tratamento, é importante discutir o porquê da necessidade de seguir corretamente o esquema poliquimioterápico, esclarecer sobre os efeitos dos medicamentos, estados reacionais, tempo gasto para a cura, auto-cuidado como forma de evitar deformidades e instalação de incapacidades. No momento da alta por cura, explicar o significado desta alta, esclarecendo dúvidas e enfatizando a necessidade de retorno imediato ao Serviço de Saúde em caso de estado reacional após cura, evitando assim possíveis seqüelas. Para o controle da hanseníase é indispensável a participação, nos Serviços de Saúde, do paciente e organizações comunitárias. Internamente deve-se articular com os demais setores para o atendimento integral do paciente.
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Conclusões A hanseníase ainda hoje representa um grave problema de Saúde Pública no Brasil. Além dos agravantes inerentes a qualquer doença de origem sócio-econômica, ressaltamos a repercussão psicológica gerada pelas incapacidades físicas advindas da doença, quando não diagnosticada precocemente. Estas incapacidades constituem, na realidade, a grande causa do estigma e isolamento do paciente na sociedade. A Hanseníase tem tratamento e cura. “É inaceitável que uma doença que tem cura, esteja até hoje deixando milhares de brasileiros com incapacidades físicas permanentes” (Fonte – Manual de prevenção de Incapacidades – Ministério da Saúde, Brasília , 2001 e Guia para o Controle da Hanseníase –Ministério da Saúde, Brasília, 2002)
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TUBERCULOSE Maristela dos Reis Luz Alves A Tuberculose é uma doença infecciosa causada pelo “Bacilo de Koch”. Afeta principalmente os pulmões, mas pode comprometer outros órgãos como: os gânglios, rins, ossos, meninges, etc. É também considerada uma doença oportunista porque acomete principalmente pessoas com baixa resistência imunológica. Estima-se que 1/3 da população mundial esteja infectada pelo Bacilo de Koch, porém, somente 5 a 10% desta poderá adoecer ao longo da vida. No caso da AIDS, o paciente, por estar imunologicamente comprometido, tem risco de adoecer em cerca de 10% ao ano. O álcool, o diabetes e outras situações que comprometem as defesas do organismo têm risco aumentado para tuberculose em relação à população em geral. A transmissão da tuberculose se dá de uma pessoa doente para outra sadia, através da tosse, espirro ou fala, porém, só ocorre quando o doente for portador de Tuberculose Pulmonar (forma mais freqüente), estiver eliminando bacilos para o exterior (BK+) e não tiver iniciado o tratamento. Com o uso regular da medicação recomendada, a transmissão é reduzida paulatinamente e, ao final de poucos dias (mais ou menos 15 dias), torna-se insignificante. E, conforme a evolução satisfatória, o portador poderá retornar as suas atividades habituais. Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, uma fonte de infecção poderá infectar, em média, de 10 a 15 pessoas que com ela tenham tido contato próximo, contínuo, em ambiente desfavorável – onde concentra aglomerado de pessoas em locais fechados, com pouca ventilação e/ou iluminação. Não há importância na transmissão da doença os bacilos depositados em roupas, lençóis, copos e outros objetos, pela dificuldade em se dispersarem por aerossóis. O principal sintoma da Tuberculose Pulmonar é a tosse por mais de três semanas, que pode evoluir para escarros sanguinolentos e hemoptise. A tuberculose se manifesta por uma síndrome infecciosa de curso crônico, com febre baixa; é uma doença que consome, debilitando e emagrecendo as pessoas. Nas formas extra-pulmonares, o quadro clínico varia conforme a localização e a gravidade do caso. A tuberculose pode acometer uma pessoa em qualquer idade, porém é muito comum na faixa etária de 15 a 50 anos de idade. Além das pessoas portadoras de tuberculose, são alvos de nossa preocupação os sintomáticos respiratórios (pessoas que tossem por mais de três semanas), os contatos de portadores de tuberculose e as pessoas que possuem imunodeficiência. Estas pessoas têm atendimento com agenda aberta em 40 unidades de saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal para investigação de diagnóstico de tuberculose. As crianças e os idosos são pessoas especiais para a atenção de todos em relação ao risco de adoecer por tuberculose, desenvolver a forma grave da doença (meningite ou disseminada) e morrer por esta causa. O diagnóstico de casos suspeitos de tuberculose deverá ser fundamentado nos sinais e sintomas clínicos, exames bacteriológicos, radiológicos e outros, se necessário. Uma vez confirmado o diagnóstico de Tuberculose, a avaliação dos contatos (pessoas que convivem com o doente) é importante para observar o risco de outras pessoas adoecerem. É importante adotar medidas de prevenção ou identificar e tratar precocemente os doentes. O tratamento adequado dos portadores bacilíferos é a atividade prioritária no controle da tuberculose, pois permite rapidamente reduzir o risco de transmissão da doença. No Distrito Federal, a medicação é administrada de forma intermitente, três vezes por semana ( 2ª, 4ª e 6ª feiras), a partir de 2º mês. A tuberculose tem cura, desde que o paciente tome a medicação de forma correta. A prática do aconselhamento para adesão ao tratamento e o tratamento diretamente observado são estratégias que têm, dentre outras propostas, garantido a cura efetiva da tuberculose. Não pode haver interrupção do tratamento que dura 06 (seis) meses, pelo risco de indução da resistência do bacilo ao medicamento. Esta resistência proporciona o aparecimento da forma crônica da doença. De um modo geral, a Tuberculose pode ser prevenida a partir da melhoria das condições de vida da população: a alimentação saudável aumenta a resistência das pessoas que, mesmo infectadas, terão menor risco de adoecerem; a moradia adequada reduz o risco de contágio da doença. Por outro lado, aglomerados de pessoas em espaços mal ventilados, sem acesso à luz solar, aumentam o risco de contágio. As medidas de proteção individual contra a tuberculose são: a vacinação e a quimioprofilaxia. A vacina BCG ( Bacilo Calmette-Guerin) é obrigatória no Brasil para todas as
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crianças menores de 01 ano de idade, como dispõe a Portaria nº 452, de 06/12/76, do Ministério da Saúde. Ela induz a resistência do indivíduo à doença e previne contra as formas graves da tuberculose, como as disseminações hematogênicas e a meningoencefalite ( em 86% dos casos), mas não evita a infecção tuberculosa. A quimioprofilaxia é indicada para as pessoas que, tendo se infectado pelo bacilo de Koch, estão sob risco de adoecer. Referências Bibliográficas: BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro de Referência Professor Hélio Fraga. Cartilha educando o cidadão sobre a tuberculose. Brasília. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro de Referência Prof. Hélio Fraga. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Controle da tuberculose: uma proposta da integração ensino-serviço. 5.ed. Rio de Janeiro: FUNASA/CRPHF/SBPT, 2000. 236p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual técnico para o controle da tuberculose: cadernos de atenção básica. 6.ed. Brasília: Ministério da Saúde/Secretaria de Políticas de Saúde/Departamento de Atenção Básica, 2002. 62p.
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DENGUE Lígia Maria Paixão Silva ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS Descrição A Dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de evolução favorável na forma clássica, e grave quando se apresenta na forma hemorrágica. Dengue clássica: febre alta (39º a 40º), de inicio abrupto, seguida de cefaléia, mialgia, prostação, artralgia, anorexia, astenia, dor retroorbital, náuseas, vômitos exantema, prurido cutâneo. Hepatomegalia dolorosa pode ocorrer, ocasionalmente, desde o aparecimento da febre. Alguns aspectos clínicos dependem da idade do paciente. Desse modo, dor abdominal generalizada tem sido observada mais freqüentemente entre crianças e manifestações hemorrágicas, como: petéquias, epistaxe, gengivorragia e metrorragia tem sido relatadas mais freqüentemente entre adultos, ao fim do período febril. A doença tem duração de 5 a 7 dias, mas o período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física, e prolongar-se por várias semanas. Febre Hemorrágica da dengue (FHD): os sintomas Iniciais são semelhantes ao do Dengue Clássico, porém há um agravamento do quadro, no terceiro ou quarto dias de evolução, com aparecimento de manifestaç5es hemorrágicas e de colapso circulatório. A fragilidade capilar é evidenciada pela positividade da prova do laço*. Outras manifestações hemorrágicas incluem petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia, hemorragia em diversos órgãos (gastrintestinal, intracraniana etc.), e hemorragia espontânea pelos locais de punção venosa. Nos casos graves de FHD, o choque geralmente ocorre entre o 3º e 7º dias de doença, geralmente precedido por dor abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória. E de curta duração e pode levar ao óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida após terapia antichoque apropriada. Caracteriza-se por pulso rápido e fraco, com diminuição da pressão de pulso e da pressão arterial, extremidades frias, pele pegajosa e agitação. Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. Agente Etiológico A Dengue é hoje a mais importante arbovirose que afeta o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo, especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti principal mosquito vetor. É um vírus RNA, arbovírus do gênero Flavivírus pertencente à família Flaviviridae. São conhecidos quatro sorotipos: Den 1, Den 2, Den 3 e Den 4. A susceptibilidade ao vírus da dengue é universal. A imunidade é permanente para um mesmo sorotipo (homóloga), podendo ser infectado por qualquer um dos outros sorotipos. A imunidade cruzada (heteróloga) existe temporariamente Modo de Transmissão A transmissão se faz pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti no ciclo, homem Infectado - Aedes aegypti infectado— homem suscetível. Após um repasto de sangue com presença de vírus e o período de incubação extrínseca, o mosquito estará apto a transmitir o vírus. O homem, após receber a picada infectante, leva de 3 a 15 dias (geralmente de 5 a 6 dias) para apresentar os primeiros sintomas.
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Período de Incubação Varia de 3 a 15 dias, sendo em média de 5 a 6 dias Período de Transmissibilidade Começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o 6º dia de doença (período de viremia). Diagnóstico Laboratorial Específicos • •
Isolamento do vírus: identifica presença de vírus nos tecidos. A coleta deve ser realizada entre o 1º e 5º dia do início dos sintomas. Sorológico: identifica a presença de anticorpos da classe IgM e IgG para o vírus da dengue. A coleta deve ser realizada a partir do 7º dia do início dos sintomas.
Tratamento •
Dengue Clássico: a medicação 4 sintomática, com analgésicos e antitérmicos (paracetamol e dipirona). Devem ser evitados os salicilatos, já que seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas. Recomenda-se a Ingestão de líquidos e repouso. Orientar o paciente quanto ao possível aparecimento de sinais de alerta da FHD devendo este procurar a Unidade de Saúde imediatamente, caso esses sintomas se tornem presentes.
II - VIGILANCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos
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Evitar a ocorrência das infecções pelo vírus da dengue em áreas livres de circulação; Detectar precocemente as epidemias; Controlar as epidemias em curso; Reduzir o risco de transmissão de dengue nas áreas endêmicas;
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Reduzir a letalidade de FHD/SCD, mediante diagnóstico precoce e tratamento oportuno e adequado.
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PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO PLANEJAMENTO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO Não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar Thiago de Mello Qualquer projeto surge de uma idéia que brota ao mesmo tempo na cabeça e no coração de quem a pensa. Nasce, geralmente, da observação da realidade e se alimenta da visão que projetamos no futuro, na qual essa realidade se apresenta transformada. Uma visão de futuro corresponde ao desejo de uma transformação que cremos ser possível alcançar um dia. Essa visão impulsiona nossas ações, organiza nossas forças, orienta nossos passos e contém um sonho. Sonha-se o que parece impossível, O sonho pode estar mais adiante do que é possível atingir, pois o olhar ultrapassa o alcance das mãos. Uma visão positiva de futuro põe em movimento nossa capacidade de enfrentar e ultrapassar situações adversas. Todo projeto é alimentado por uma visão de futuro, mas precisa estar embasado na realidade para que um dia o sonho se concretize. O olhar que se debruça sobre essa realidade fotografa o momento, o tempo, o espaço, a história, o que as pessoas pensam, temem, acreditam, desejam, sabem e desconhecem. A esta fotografia chamamos diagnóstico. O diagnóstico é a primeira etapa de um planejamento, pois se quem planeja não busca conhecer o contexto e as pessoas-alvo do seu trabalho — o que pensam, onde vivem, o que desejam e do que precisam —, corre o risco de não atender a seus desejos e necessidades. O diagnóstico pode ser realizado de diversas maneiras: desde uma simples observação, uma conversa, visitas às famílias, levantamento de dados já existentes ou não, até técnicas mais sofisticadas, como uma pesquisa cientificamente estruturada. O diagnóstico é permanente, vai emergindo desde o primeiro momento do planejamento e é revisto periodicamente através do acompanhamento e da avaliação. O importante no diagnóstico é que os dados colhidos auxiliem a conhecer melhor o problema e o contexto no qual o trabalho será realizado. De posse dos dados coletados, segue-se a análise e a reflexão sobre os mesmos, para se chegar ao entendimento detalhado da situação, de modo a decidir qual o rumo a ser tomado e que objetivos perseguir para resolver e ou enfrentar as necessidades diagnosticadas. Certamente, vários problemas serão apontados, mas, para que o trabalho possa surtir resultados, é preciso priorizar, ou seja, escolher dentre as necessidades levantadas aquelas que estão mais ao alcance de nossa intervenção. A segunda etapa do planejamento é a definição dos objetivos —aonde se quer chegar. Os objetivos que viermos a estabelecer devem ser claros e precisos, porque são eles que irão apontar a direção do nosso trabalho. Definidos os objetivos, passamos à terceira etapa do planejamento, que denominamos meta, que é a quantificação dos objetivos. A meta estabelece o número de adolescentes a serem atendidos, quantos educadores serão necessários para cobrir esse atendimento e em que tempo será realizado o trabalho. A quarta etapa do planejamento é chamada estratégia e define como fazer para se alcançar os objetivos propostos, ou seja, trata-se da operacionalização do trabalho. Na estratégia, são definidos os passos a serem seguidos, os métodos e as técnicas a serem utilizados nas atividades e as responsabilidades de cada um. A quinta etapa do planejamento trata dos recursos de que se pode utilizar para a realização das atividades. É o levantamento de tudo o que é necessário para que o trabalho seja realizado, incluindo os recursos da comunidade e as possíveis parcerias. Pesquisando a comunidade, é possível descobrir recursos que até então eram desconhecidos. O educador deve tentar aproveitar ao máximo aquilo que efetivamente existe no ambiente ao seu redor. Para tanto, necessita se aproximar e estabelecer canais de entendimento e troca com moradores, profissionais e instituições presentes no contexto.
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•
Recursos humanos: pessoas envolvidas no trabalho — educadores, adolescentes, pessoal de apoio e suas atribuições. • Recursos físicos: local para a realização do trabalho — a sala, a luminosidade, a ventilação. Esse levantamento permite antever as facilidades e ou dificuldades que enfrentaremos ao realizar certas atividades, como, por exemplo, desenvolver um trabalho corporal com 20 adolescentes num espaço limitado. Neste caso, a atividade precisa ser adaptada às possibilidades que o espaço oferece. • Recursos materiais: papel, lápis, quadro, giz, mesa, cadeira, gravador, TV, vídeo etc. E importante listar o material necessário — o que está à disposição, o que é preciso adquirir e suas respectivas quantidades. • Recursos financeiros: refere-se ao dinheiro de que se pode dispor para a compra de material no desenrolar do trabalho, para pagamento de pessoal, alimentação, transporte, espaço físico etc. A sexta etapa do planejamento é o cronograma. Para sua montagem, é preciso conhecer o tempo disponível para a realização do trabalho, distribuindo-se por esse tempo as atividades escolhidas para se atingir os objetivos propostos. A última etapa do planejamento é a avaliação. A avaliação, apesar de ser colocada como uma etapa final, acompanha todo o trabalho como prática contínua e sistemática. É uma importante ferramenta pedagógica e componente de capacitação dos participantes do projeto. Cada atividade realizada, ao ser avaliada, permite não só verificar se o que foi planejado tem trazido resultados, se os objetivos estão sendo atingidos, que mudanças podem ser observadas, se é necessário replanejar, mas também estimula o crescimento e a autonomia dos envolvidos. A avaliação deve abranger, como as outras etapas do planejamento, processos participativos englobando todas as instâncias do trabalho. O enfoque da avaliação deve ser sempre o aprimoramento da ação social. Todo planejamento deve ser participativo, flexível, coerente e claro. Participativo porque deve expressar o desejo dos envolvidos, contendo opiniões, idéias e sugestões discutidas entre todos. Flexível porque deve permitir modificações e adequações ao longo do processo. Coerente porque todas as etapas devem estar alinhadas com a filosofia e os objetivos do projeto. Claro porque precisa ser do entendimento de todos. O que expusemos até aqui é o básico para qualquer planejamento. Numa instituição, há vários níveis de planejamento: o planejamento geral da entidade, o planejamento de cada programa a ser desenvolvido na entidade e o planejamento de cada encontro/atividade a ser realizado no contexto de cada projeto. Projetos de desenvolvimento pessoal e social de adolescentes geralmente fazem parte de programas institucionais mais amplos. Constituem, juntamente com a educação básica e a formação profissional, os alicerces do novo paradigma da educação de jovens para a vida. É importante que o educador conheça os objetivos e metas da entidade para melhor localizar-se no projeto de desenvolvimento pessoal e social em que atua, compreendendo o alcance deste na realidade mais ampla e no contexto institucional em que está inserido. Planejamento De Um Projeto De Desenvolvimento Pessoal E Social De Adolescentes O conteúdo deste manual é fruto da sistematização de três experiências de desenvolvimento pessoal e social realizadas com adolescentes de comunidades populares. A análise e reflexão do material resultante dessas experiências apontaram necessidades comuns, demandas básicas e temas coletivos através dos quais podemos responder às questões trazidas por esta população, seguindo sempre o objetivo geral que guia o trabalho de desenvolvimento pessoal e social de jovens: construir e ou fortalecer nos adolescentes a auto-estima, buscando o autoconhecimento e o exercício dos direitos e deveres, de modo a facilitar a inserção no coletivo, percebendo-se como agente de transformação social, responsável e consciente dos seus próprios limites e possibilidades.1 Apresentamos a seguir, de forma esquemática, as etapas do planejamento que nortearam essas experiências, acompanhadas de questões que podem auxiliar o educador na construção do seu projeto de desenvolvimento pessoal e social de adolescentes.
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1ª Etapa — Diagnostico Quem é o grupo a ser trabalhado? • • • • • • • •
De quantos adolescentes se compõe; De onde vêm; Que idade têm; Qual o sexo; Qual a escolaridade; Onde estudam; Se trabalham e em que; Que necessidades do grupo são mais urgentes.
Nesta etapa, é fundamental ter clareza quanto às características, necessidades, direitos e deveres prioritários do grupo, para que possam ser definidas as temáticas a serem trabalhadas no projeto de desenvolvimento pessoal e social de jovens que está sendo planejado. Embora existam temáticas básicas que devem constar de qualquer planejamento, o diagnóstico pode apontar outras a serem incluídas no processo de desenvolvimento pessoal e social daquele grupo.13 2ª Etapa — Objetivos O que se deseja alcançar? • • •
Onde queremos chegar; O que pretendemos com nossa intervenção; Que resultados almejamos.
O objetivo geral que deve ser buscado num projeto de desenvolvimento pessoal e social de adolescentes é a construção da cidadania através da mudança da relação do jovem consigo mesmo, com o outro, com os grupos dos quais participa e com o ambiente no qual está inserido. Cada educador deverá desdobrar o objetivo geral em objetivos específicos, que orientarão as ações do projeto. As questões apresentadas acima poderão ajudá-lo nessa tarefa. 3ª Etapa — Meta Quantos vamos atender e em que tempo? • • •
Quantos adolescentes serão beneficiados pelo trabalho; Quantos educadores serão envolvidos; Em que espaço de tempo o projeto será executado.
A meta estabelece concretamente o que se pretende atingir. Define o tempo e orienta a previsão dos recursos necessários para a execução do trabalho.
13
Objetivo construído nos encontros com os educadores popa/ares.
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4ª Etapa — Estratégia Como fazer para alcançar os objetivos? • • • • • •
Que passos o trabalho deve seguir. Qual a metodologia a ser utilizada nas atividades. Como será feita a divisão de papéis. Que responsabilidades caberão a cada um. Que temáticas respondem às necessidades diagnosticadas. Quais as atividades a serem vivenciadas a partir das temáticas priorizadas.
A estratégia descreve os procedimentos que o facilitador realizará com o grupo para atingir os objetivos. Fazem parte da estratégia: a escolha de temas e dinâmicas, a delimitação das responsabilidades e a definição de uma metodologia coerente com a visão de homem e de mundo que se pretende alcançar. Nesta etapa, é fundamental definir que temáticas serão trabalhadas a partir das necessidades priorizadas para o grupo na fase do diagnóstico. Logo, para planejar o trabalho, o facilitador deve tê-las como suporte, fazendo as adaptações necessárias ao seu grupo, baseandose nas informações que possui sobre o mesmo e sobre a comunidade à qual pertence. Contudo, é importante lembrar que o planejamento não é estático e que a escolha das temáticas deve ser revista e reavaliada a partir dos encontros iniciais e no processo de execução de cada projeto. Todas as temáticas selecionadas deverão estar relacionadas entre si. Não há necessidade de se esgotar cada uma para se iniciar a subseqüente. Existem temáticas imprescindíveis a todo trabalho coletivo, pois preparam o grupo, criando as condições de afetividade e confiança necessárias para o aproveitamento das atividades. Identidade, Integração, Comunicação e Grupo são temáticas que devem estar presentes em qualquer planejamento de um projeto de desenvolvimento pessoal e social de jovens. Elas sustentam todo o processo e fornecem subsídios ao educador para perceber necessidades que não são expressas claramente no diagnóstico inicial, mas que se revelam nas vivências realizadas. A metodologia a ser utilizada num projeto de desenvolvimento pessoal e social com jovens deve ser participativa, permitindo a todos os componentes do grupo vivenciar as atividades, valorizando as experiências, emoções e sentimentos de cada um, construindo um novo saber coletivo e promovendo mudanças. Planejar a estratégia dá maior segurança ao facilitador na execução das atividades, porque orienta seu desempenho e ajuda a controlar algumas das interferências que podem acontecer durante o processo. As interferências mais comuns no trabalho com grupos de adolescentes costumam ser: responsabilidades não definidas, limites mal-estabelecidos, falta de recursos necessários à operacionalização do trabalho, reações familiares às mudanças dos filhos e entraves institucionais diversos. 5ª Etapa — Recursos Quais os recursos de que dispomos? • • • • •
Que espaço será utilizado; Que materiais temos disponíveis; Que materiais precisamos adquirir; Que recursos financeiros são necessários; Que pessoas serão envolvidas nas atividades.
Incluir o levantamento dos recursos no planejamento é dar contorno e limite à ação. Esta etapa precisa ser minuciosamente detalhada e deve estar integrada às demais para evitar
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surpresas e aborrecimentos durante a realização das atividades, como, por exemplo, vir a faltar material no momento em que o facilitador executa uma atividade com o grupo. 6ª Etapa — Cronograma Qual o tempo disponível para o trabalho? • • • •
Quantos meses; Quantos encontros; Quantas horas para cada encontro; Que temáticas serão desenvolvidas em cada encontro.
Cronograma e estratégia estão intimamente ligados. O cronograma organiza a estratégia num tempo. O tempo estabelecido para o projeto e o possível para o grupo. Para realizar um projeto de desenvolvimento pessoal e social na sua totalidade, sugerimos um período de dois anos com um encontro semanal de três horas. Nem sempre essas são as condições encontradas pelo facilitador. Assim, é preciso ter conhecimento do tempo total de que dispõe e das necessidades mais urgentes do grupo, para priorizar temáticas e distribui-las pelo número de encontros estabelecidos. Algumas vezes, o tempo previsto mostra-se insuficiente ou excessivo. Vivenciando com o grupo as atividades planejadas, o facilitador entra em contato com o ritmo e as possibilidades efetivas dos adolescentes, verificando se o tempo estabelecido está, de fato, apropriado ao desenvolvimento da estratégia. Modelos de cronograma são sugeridos no final deste texto. 7ª Etapa — Acompanhamento E Avaliação O que conseguimos? O que manter? O que modificar? • • • • • • •
De que formas avaliar o trabalho; Com quem avaliar; Que objetivos foram alcançados; Quais as mudanças observadas nas pessoas envolvidas e no ambiente; Quais as dificuldades e facilidades encontradas no processo; Que modificações são necessárias; Que providências tomar para que essas modificações ocorram.
Como o trabalho com seres humanos jamais caminha numa linha reta, cabe ao facilitador realizar um acompanhamento contínuo e sistemático do projeto, não só para aprimorá-lo, como também para não se distanciar dos objetivos propostos. O objetivo maior do acompanhamento de um projeto de desenvolvimento pessoal e social de jovens é verificar como a ação está acontecendo, compreender o seu funcionamento e analisar a necessidade ou não do replanejamento. O acompanhamento é feito pelos facilitadores do grupo e, havendo possibilidade, por alguém de fora do trabalho, o que amplia o olhar sobre o processo, inclusive observando a ação dos facilitadores, no sentido de apoiá-los na análise e aprimoramento de sua prática. O acompanhamento fornece elementos para a avaliação. Na verdade, acompanhamento e avaliação estão tão intimamente ligados que muitas vezes torna-se difícil estabelecer os limites de um e de outro. A avaliação é um corte dado no processo, para que possamos analisar de forma crítica o quanto caminhamos, onde houve tropeços, em que direção estamos seguindo e que mudanças se fazem necessárias. A avaliação é um momento mais específico e pontual do que o acompanhamento e necessita da definição de indicadores que possam mostrar o resultado e o alcance do trabalho desenvolvido, permitindo que os resultados sejam comparados. Os indicadores devem ser variados e vão informar se você está se aproximando ou se já chegou aonde pretendia, o quanto o
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sonho está perto ou se já se tornou realidade. Os indicadores só podem ser definidos a partir dos objetivos estabelecidos para o trabalho nos seus diversos níveis — do projeto, das temáticas, dos encontros e das atividades. Os indicadores para cada temática deverão estar relacionados aos objetivos apresentados na descrição das dinâmicas que desenvolvem cada tema. Caso o facilitador estabeleça outros objetivos e crie atividades diferentes, precisa definir novos indicadores. Para medir esses indicadores, é preciso que o facilitador utilize instrumentos adequados. À sua disposição se encontram vários tipos de instrumentos. Os mais comuns são: entrevista, observação, questionário, redação e produção grupal. É importante que se compreenda a avaliação e o acompanhamento como um meio de fortalecer e aprimorar a prática dos educadores, não se tratando de julgamento ou fiscalização. A comparação entre os objetivos inicialmente propostos e os resultados efetivamente alcançados nos dá uma referência mais clara do quanto realizamos. É importante salientar que num projeto de desenvolvimento pessoal e social, as possibilidades de resultados e crescimento são infinitas. Portanto, muitas vezes ultrapassam ou se afastam do que foi planejado. Um resultado diferente daquilo que se esperava não significa, necessariamente, um fracasso. É preciso refletir e analisar esse resultado sob vários aspectos para compreendê-lo. Por outro lado, quando se trata de avaliar mudanças de comportamentos e atitudes, os resultados nem sempre são imediatos e não dependem apenas do trabalho do facilitador, podendo ocorrer algum tempo após a atividade. Questões mais amplas do que as situações internas do grupo precisam ser consideradas numa avaliação. Por exemplo: a reação dos pais às mudanças que percebem em seus filhos, iniciativas tomadas pelos adolescentes na sua vida cotidiana, mudanças de atitudes dentro e/ou fora do grupo — escola, comunidade etc. Esses dados nos informam sobre os resultados alcançados além do espaço grupal, refletindo-se em outros ambientes e em outras circunstâncias. Quando o projeto estiver ligado a uma instituição, é imprescindível realizar reuniões periódicas com seus representantes, para informar sobre o andamento do trabalho, os passos que estão sendo operacionalizados, as dificuldades encontradas, os resultados obtidos. Da mesma forma, antes de iniciar o trabalho com os adolescentes é importante reunir os pais ou responsáveis, discutindo com eles a filosofia do projeto, os objetivos, as temáticas que se pretende utilizar com seus filhos. Os pais devem participar do planejamento, expressando suas opiniões acerca das necessidades da família dos adolescentes e da comunidade e suas expectativas em relação ao projeto. O local, dia e horário dos encontros do grupo devem ser do conhecimento dos responsáveis. O apoio e acompanhamento dos pais é fator fundamental para o desenvolvimento do trabalho. É recomendável obter-se o consentimento da família por escrito para a participação do adolescente no projeto ao final deste texto. Havendo disponibilidade de tempo, é interessante que a equipe técnica visite as famílias para estabelecer um contato mais próximo, estimulando o interesse dos pais, e abrindo espaços de diálogo, para que percebam a sua importância no processo. A experiência com grupos de desenvolvimento pessoal e social de jovens tem mostrado o quanto a família necessita, também, de um trabalho que a ajude a compreender e respeitar as mudanças ocorridas nos seus filhos. A abertura desse espaço de troca entre o educador e a família, na tentativa de, juntos, compreenderem o adolescente em desenvolvimento, proporciona condições favoráveis à revisão de posturas e à aproximação entre pais e filhos. Contudo, a inclusão dos pais no planejamento e avaliação de um projeto de desenvolvimento pessoal e social deve ser discutida inicialmente com os adolescentes, para não se sentirem expostos ou ameaçados. Embora o projeto deva ser construído e acompanhado participativamente, a forma como essa interação vai se processar dependerá da realidade de cada grupo. Planejamento Dos Encontros Na preparação de cada encontro, é necessário levar em consideração o tempo e o espaço disponíveis, o número de participantes, os objetivos que se pretende alcançar ao seu final para, então, escolher as dinâmicas a serem utilizadas.
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Os encontros iniciais (os dois ou três primeiros) permitem delinear um retrato do grupo, do seu ritmo, possibilidades e necessidades. A partir desse retrato, é possível escolher com mais propriedade as dinâmicas adequadas ao desenvolvimento das temáticas. Todo encontro segue uma estrutura fundamental: dinâmica de aquecimento, dinâmica principal, dinâmica de fechamento. Esta estrutura está sempre combinada entre si, em função da dinâmica principal. Por sua vez, a dinâmica principal é definida de acordo com a temática que está sendo trabalhada. A dinâmica de aquecimento deve ser curta, mobilizando o grupo para a temática principal e sensibilizando os participantes. A dinâmica principal necessita de um tempo mais longo, pois seus conteúdos devem ser aprofundados, discutidos e concluídos. Vai exigir do facilitador uma atenção maior, pontuações relativas às questões individuais e grupais e cuidados para não se desviar dos objetivos propostos, a não ser se detectar uma necessidade real do grupo. A dinâmica de fechamento tem por finalidade concluir o encontro de forma afetiva, conectando os pontos abordados. É recomendável alternar dinâmicas calmas com outras movimentadas, assim como variar as diversas formas de expressão — corpo, palavra (escrita e falada), desenho etc. Cada encontro deve tratar apenas de uma temática, sendo que cada temática geralmente necessita de vários encontros para ser trabalhada com profundidade. Contudo, no decorrer do processo as temáticas se inter-relacionam, sendo importante que o facilitador esteja atento para fazer as articulações necessárias. O final deste texto, traz sugestões de ficha para o planejamento e registro de cada encontro, respectivamente, com a intenção de facilitar a execução e acompanhamento do trabalho. Por acompanhamento dos encontros entendemos a observação, reflexão e análise dos movimentos e atitudes diante das atividades propostas e realizadas — falas, gestos, silêncios, brincadeiras, queixas e ausências dos participantes. O registro de cada encontro permite ao facilitador a reflexão sobre os pontos mais importantes surgidos durante as atividades. Enquanto registra, o facilitador é levado a resgatar os sentimentos revelados e os conteúdos expressos, as atitudes dos participantes e os fatos ou falas que lhe chamaram mais a atenção. De posse desses dados, é possível realizar a avaliação do encontro e o planejamento do subseqüente. Há duas formas de anotar os acontecimentos e as falas do grupo.Ou durante o próprio encontro ou imediatamente após. No caso de dois facilitadores, um anota e o outro coordena, podendo haver um rodízio destes papéis. Quando se anota durante os encontros, alguns cuidados se fazem necessários: • comunicar ao grupo que, durante os encontros, será feito o registro dos mesmos. Este registro permanecerá de uso exclusivo dos facilitadores e terá o objetivo de possibilitar a compreensão e a avaliação do processo grupal; • não interromper quem fala para pedir que repita algo dito anteriormente a fim de se anotar o que foi perdido; • não se preocupar se algumas palavras ou frases deixaram de ser registradas, pois uma leitura das anotações feitas, imediatamente após o encontro, permite completar a idéia geral do que foi dito; • procurar ser fiel ao que está sendo dito, evitando interpretações ou julgamentos. Quando se anota após o encontro, é importante observar o seguinte: •
havendo mais de um facilitador, o registro deve ser feito em conjunto, para que se completem as observações; • é muito útil ter-se um roteiro de registro para se padronizar as observações, facilitando a análise e avaliação das mesmas. Roteiro para sugestão dos encontros, final deste texto, encontram-se sugestões de roteiro. Além das falas, é importante observar e anotar as atitudes dos adolescentes consideradas relevantes para a avaliação, na chegada, durante o encontro e ao término do mesmo. Esta observação inclui brincadeiras feitas, valores contidos nas falas, preconceitos, atitudes agressivas
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ou de solidariedade, gestos, novidades trazidas para o grupo, o entrosamento entre os participantes, entre participantes e facilitadores e outros dados que chamem a atenção. É interessante observar palavras-chaves que poderão nos levar ao “tom” e aos assuntos que mais mobilizaram o grupo durante uma atividade e ou período de trabalho. Também a avaliação de cada participante sobre si mesmo é um aspecto fundamental no processo: • • • • • •
Como estou me sentindo no grupo? Como está minha relação com os demais? Que contribuição tenho dado para o crescimento do grupo? Que expectativas trago? Que qualidades preciso fortalecer em mim? Que desafios preciso enfrentar?
Tais questões devem ser respondidas pelos adolescentes no próprio grupo e pelos facilitadores nas reuniões de equipe técnica. A auto-avaliação pode ser feita no final de cada encontro ou periodicamente, facilitando o acompanhamento dos jovens e do processo grupal. No final do texto, encontra-se uma sugestão de ficha de avaliação dos encontros para ser preenchida pelos adolescentes após um período de trabalho (cerca de oito encontros/dois meses). Essa ficha pode servir de modelo para várias outras que o facilitador venha a criar, de modo a atender mais adequadamente ao que deseja avaliar num projeto de desenvolvimento pessoal e social. No processo de acompanhamento e avaliação, alguns procedimentos são utilizados além dos registros dos encontros: reuniões de equipe técnica, reuniões com avaliador externo, reuniões com pais e responsáveis, dentre outros. A equipe técnica é constituída pelo conjunto de facilitadores, que deve reunir-se sistematicamente para discutir o processo grupal, analisar a própria atuação junto aos adolescentes, construir e avaliar cada encontro. A avaliação do encontro serve como orientação para a elaboração do subseqüente, indicando as modificações a serem feitas para responder às necessidades surgidas no grupo ou determinar mudanças de rumo no planejamento original. Lembramos a importância do (re) planejamento conjunto, discutido previamente pela equipe, para que haja consenso e assimilação dos objetivos. Sugerimos o uso de ficha de planejamento, final deste texto, para facilitar a montagem do encontro. O mais importante deste capítulo é que você, facilitador, passe a acreditar que o planejamento é o suporte do seu trabalho. Sem ele, perdem-se a linha mestra e os instrumentos para perceber o crescimento do grupo e o seu próprio. Embora inicialmente possa parecer que o planejamento traz a idéia para um lugar tão concreto que retira dela o encanto do sonho, somente planejando podemos considerar a realidade e dar forma e contorno às idéias e aos sonhos. O planejamento não é uma camisa-de-força em que o sonho se encerra. Ele possibilita que a nossa visão do futuro se torne realizável. Sem o planejamento, estamos sempre partindo do zero. O planejamento permite escrever uma história. A história dos caminhos possíveis na busca da aventura de construir, compartilhar e criar uma sociedade mais justa, humana e solidária. Sonhar é preciso, transformar é possível. (Fonte – Manual “Aprendendo a Ser e a Conviver” – Margarida Serrão e Maria Clarice Baleeiro – Fundação Odebrech – Editora FTD)
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APÊNDICE 1 Modelo de cronograma AÇÕES Reuniões com a equipe técnica Reuniões de pais Encontros com o grupo
MAR
ABR
MAI
1º a 5, 10 ,17, 24 e 31 5 8, 15, 22 e 29
-
10
JUN
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Encontro de Encerramento
Meses Março
Datas Temáticas Atividades (aquecimento, principal, fechamento) 8 15 22 29
Identidade Identidade Integração Identidade
Nome com movimento / Meu crachá Nome desenhado / Carícia dos nomes Cumprimento criativo / Apresentando-se ao grupo / Carrosel musical Descobrindo nomes / Minha bandeira pessoal
Abril
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APÊNDICE 2 Termo de Autorização para os Responsáveis
Termo de Autorização Eu, ____________________________________________,portador(a) da carteira de identidade nº__________________________________, responsável pelo(a) adolescente______________________________ Estou plenamente consciente dos objetivos, atividades e conteúdos do Projeto________________________________
desenvolvido
por_____________________________ autorizo o seu engajamento no mesmo. Estou ciente de que a presente autorização se estende aos encontros do grupo e às demais atividades a serem desenvolvidas como parte do processo educativo do projeto, não cabendo qualquer forma de vínculo empregatício. ______________,_______/______/________. Local e data _____________________________________ Assinatura
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APÊNDICE 3 Ficha de Planejamento dos Encontros
Projeto:_________________________________________________ Facilitadores:_____________________________________________ Encontro nº:____________________________Data:____/____/_____ Objetivos:________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Tempo Duração Hora
Atividade
10’
14:00’
Apresentação dos facilitadores Reconhecimento do espaço
10’
14:10’
40’ 15’ 1h30’
14:20’ 15:00’ 15:15’
Cumprimento criativo Lanche Nome desenhado
15’
16:45’
Fechamento do encontro: - Dizer o sentimento do momento - Dizer algo para o grupo
Material
Gravador Fita com música animada
Observações Caminhar em silêncio/olhar /ouvir/cheirar/tocar Caminhar em silêncio/olhar /ouvir/cheirar/tocar Dinâmica página 103
Papel ofício Lápis de cera
Dinâmica página 87 Sentados em circulo, trocar impressões e sentimentos.
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APÊNDICE 4 Roteiro para registro dos encontros Modelo 1
Projeto:____________________________________________________________ Encontro nº:______________________________________Data:______________ Facilitadores:________________________________________________________ Temática:___________________________________________________________ Dinâmicas trabalhadas;________________________________________________ Objetivos:___________________________________________________________ Nº de participantes do grupo:_______Presentes no encontro:________________
I O olhar do facilitador sobre o grupo 1. Integração entre os participantes
2. Interesse pelo trabalho
3. Participação nas atividades
4. Momentos fortes do encontro
5. Dificuldades encontradas pelo grupo
6. Conteúdos trazidos pelo grupo
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II O olhar do facilitador sobre si mesmo 1. O que mais chamou a minha atenção
2. O que aprendi com o grupo
3. Dificuldades encontradas na aplicação das dinâmicas
III Encaminhamento a seguir
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Modelo 2
Projeto:____________________________________________________________ Encontro nº:______________________________________Data:______________ Facilitadores:________________________________________________________ Temática:___________________________________________________________ Local:______________________________________________________________ 1. Nº de participantes:_____________________ (Masc.:______ Fem.:__________) 2. Objetivos do encontro:_______________________________________________ _____________________________________________________________________ 3. Atividades realizadas Duração ____________________________________________ _________________ ____________________________________________ _________________ ____________________________________________ _________________ ____________________________________________ _________________ 4. Desenvolvimento do processo grupal: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 5. Temáticas emergentes nas discussões: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 6. Sugestões e comentários dos adolescentes: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 7. Avaliação das técnicas aplicadas: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 8. Dificuldades encontradas: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 9. Fatores positivos: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Assinatura dos facilitadores: __________________________________ __________________________________ Em _______/_______/_______
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APÊNDICE 5 Ficha de Avaliação dos Encontros
Período de ________ a _________ Encontro(s) nº(s):________________ 1.Nesse(s) encontro(s), aprendi
2.O que aprendi serve para
3.Participando desse(s) encontro(s), me senti
4.Do que menos gostei
5.Do que mais gostei
6.Minha relação com as pessoas do grupo
7.Espero que
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AVALIAÇÃO Sebastião Rocha Os processos de aprendizagem e de formação humana são constituídos por dimensões de natureza diversa, afetivo-emocional, cultural, social, simbólica, cognitiva, ética, estética entre outras. É nas interações que estabelece com seu meio, que o ser humano vai se apropriando dos sistemas simbólicos, das práticas sociais e culturais do grupo. Como podemos medir, mensurar ou aferir concretamente se os programas e projetos estão atingindo os objetivos propostos? Nesse sentido encontramos no trabalho realizado pela equipe de educadores do CPCD– Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento - Curvelo/MG, sob a Presidência de Sebastião Rocha, a Construção de Indicadores de Projetos IQP. IQP – Indicadores de Qualidade de Projeto A equipe de educadores do CPCD sempre trabalhou seus programas de educação popular e de desenvolvimento comunitário, assim como seus projetos específicos – “Sementinha”, “Ser Criança”, “Bornal de Jogos”, “Fabriquetas Comunitárias”, “Agentes Comunitários de Educação”, etc. – como processos de permanente apreensão, compreensão e devolução. Uma das maiores dificuldades que enfrentávamos era em relação ao quesito “indicadores de avaliação” dos nossos projetos. Este problema (que não era só nosso, mas ainda aflige e compromete o trabalho das ONG e da grande maioria dos projetos sociais e de intervenção comunitária) passou a ser um desafio permanentemente enfrentado pela equipe. Entre as muitas questões que formulávamos, destacamos algumas: • Se entre os objetivos específicos de nossos projetos apareciam “desenvolvimento de auto-estima”, “socialização”, “aprendizagem lúdica”, “alegria”, “prazer”, etc. como podíamos medir (mensurar ou aferir) concretamente o alcance (ou não) destes objetivos? Se houve aumento ou diminuição da auto-estima? o grau e a qualidade de socialização alcançada? os indicadores de felicidade? etc. Não havia indicadores elaborados e concretos para medir os chamados “objetivos intangíveis”. Por outro lado, havia (e ainda há) por parte das agências financiadoras de projetos, uma crítica à falta de critérios palpáveis e tangíveis nos projetos sociais. E para se defender, a maioria das ONGs se escondia atrás do discurso dos “objetivos intangíveis” dos projetos sociais. Resolvemos encarar de frente este desafio. Foi por isso que começamos a construir os nossos próprios indicadores. Num primeiro momento, e lá se vão alguns anos, buscamos, junto com os educadores, na observação diária e sistemática de nossas crianças e jovens, os pequenos avanços e respostas (sorriso X choro, envolvimento X desinteresse, limpeza X sujeira, delicadeza X agressividade, etc.). Estas questões surgiam em nossas memórias de campo e relatórios técnicos e avaliações. Aos poucos, fomos formando uma massa crítica, constituída de elementos que apontavam (indicavam) se os objetivos propostos estavam ou não sendo alcançados e como. Surgiram assim o que denominamos de os “micro-indicadores”. À guisa de exemplo; são indicadores de auto-estima: o cuidado com o corpo (cabelos penteados, constância dos banhos, uso de batom, etc), o cuidado com as roupas e os objetos pessoais, as pequenas vaidades, a busca de uma melhor estética, a expressão de opinião e de gostos, o protagonismo na roda, a disponibilidade para ajudar e participar de ações coletivas, a relação sorriso X choro, etc.
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Questionário IQP (Pais, Comunidade) 1. Apropriação (Equilíbrio entre o desejado e o alcançado) a) As crianças se sentem donas do projeto? b) Como falam do projeto? 2. Coerência (Relação teoria/prática) a) O que as crianças levam do projeto para casa? b) As crianças incorporam (a metodologia) a idéia do projeto? 3. Cooperação (Espírito de equipe, solidariedade) a) As crianças são competitivas? b) Como é a convivência entre as crianças aqui, em casa e na escola? 4. Criatividade (Inovação – animação - recreação) a) As coisas feitas aqui, são criativas? b) Existem novidades? c) Os educadores e as crianças se preocupam em ser criativos, inovadores? 5. Dinamismo (Capacidade de auto-transformação, segundo as necessidades) a) A comunidade ajuda a resolver os problemas no Projeto? b) Como é a participação da comunidade? 6. Eficiência (Identidade entre o fim e a necessidade) a) As coisas do projeto são bem utilizadas? 7. Estética (Referência de beleza) a) O projeto é um lugar bonito? b) O que mais chama a atenção? (Bom ou ruim) 8. Felicidade (Sentir-se bem com o que temos e somos) a) As crianças gostam do projeto? b) As crianças são felizes aqui? Há preocupação com a alegria? c) O que as crianças falam do projeto em casa?
a) b) c) d)
9. Harmonia (Respeito mútuo) Como é a convivência das crianças em casa, e na escola? Em que o projeto contribui para o relacionamento em casa? Em que mudou a relação dos pais com as crianças? As crianças falam o que pensam? O que acha disso?
10. Oportunidade (Possibilidade de opção) a) A partir do projeto, a vida das crianças tem novas possibilidades? O que muda? b) Quais são as expectativas? 11. Protagonismo (Participação nas decisões fundamentais) a) Os pais participam do que acontece no projeto? Como? b) Vocês ajudam a resolver os problemas no projeto? 12. Transformação (Passar de um estado a outro melhor) a) Houve mudança de comportamento? b) Qual a influência do Projeto “Ser Criança” na vida das crianças/comunidade?
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PLANEJAMENTO Helvécio Bueno Introdução Inicialmente sugerimos uma breve reflexão sobre o papel do Departamento de Recursos Médico-Assistenciais da FHDF com seus sete Núcleos Normativos, Serviço de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração e Coordenação de Saúde Mental, sua importante contribuição para o adequado funcionamento da rede de serviços e para a saúde da população do Distrito Federal e de fora dele. Não se reduz a saúde a um conjunto de intervenções de promoção, prevenção ou recuperação da saúde, ofertadas pela SES/FHDF, e sim a saúde expressa em qualidade de vida de uma população, num dado espaço e num dado momento. Saúde será, portanto, a resultante da ação articulada de diferentes setores, partindo de um eixo integrador dos setores sociais com as políticas econômicas. O entendimento dessa real dimensão da saúde não deve, contudo, implicar a negação de que ela abriga um componente de serviços assistenciais que, sem perder o referencial macro e as interfaces que guarda com as outras políticas sociais, deve ser tratado nas suas especificidades de modo que cada contribuição individual, programada e avaliada conduza às modificações necessárias para que o setor cumpra o seu papel para a melhoria de qualidade de vida da população. Todo planejamento deve partir do conhecimento do grupo alvo das ações, delimitado geograficamente (área de abrangência) e num momento determinado. Tendo em vista a natureza e a finalidade do trabalho que cada um realiza, pode-se ter objetivos (metas) bem definidos, quantificados e com tempos previstos para alcance a curto, médio e longo prazo. Todo trabalho deve ser cuidadosamente registrado para que possa ser acompanhado e avaliado de forma contínua e efetiva. Esta avaliação deve obrigatoriamente ser divulgada a todos os envolvidos, àqueles responsáveis por ações que se integram e aos níveis hierárquicos superiores. Muitas vezes temos falhado na retroalimentação das fontes de informação, o que leva ao desestímulo o profissional de linha de frente. Algumas informações transformadas em indicadores (de estrutura, processo, resultado e impacto) devem também ser divulgadas para o público em geral, pois só assim vamos instrumentalizar a comunidade para o real exercício do controle social. O Processo do Planejamento A necessidade de se implementar um processo de planejamento em qualquer instituição ou empresa, pública ou privada, justifica-se pelas seguintes condições:
• • •
RECURSOS ESCASSOS NECESSIDADES MÚLTIPLAS DEFINIÇÃO DE PRIORIDADES
I – Conceito Atual Planejamento é um processo dinâmico que se desenvolve por intermédio de etapas que se sucedem em ciclos completos, numa tentativa de aproximações sucessivas ao modelo de mudança proposto. II – Objetivos do Planejamento • • • • •
Adequar as ações às reais necessidades/problemas da comunidade. Orientar a execução do Plano de Saúde. Facilitar a tomada de decisões. Distribuir com maior racionalidade os recursos disponíveis. Ampliar a margem de eficiência e eficácia dos serviços.
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• • •
Organizar e prestar os serviços de maneira mais equitativa. Predizer necessidades futuras pela medição das tendências. Conseguir mudanças que melhorem os níveis de saúde da comunidade.
III - Etapas do Planejamento • • • •
Diagnóstico ou avaliação da situação. Programação (plano de trabalho). Execução. Avaliação.
IV – Diagnóstico • • • • • • •
Política de Saúde Situação Epidemiológica Situação do Serviço Finalidade Capacidade instalada (Estrutura e Pessoal) Identificação dos problemas Levantamento dos recursos existentes
V – Programação • • • •
Definição de Prioridades (Abertura Programática) Critérios Políticos (política de saúde) Critérios Técnicos (magnitude, transcendência, vulnerabilidade e factibilidade) Critérios administrativos
VI - Elementos da Programação •
Objetivo Geral Quantificado e com prazo de realização definido. • Objetivos Específicos Que levem ao alcance do objetivo geral, também quantificados e com prazos definidos. • Atividades (ações) Relação de tarefas para alcançar cada um dos objetivos específicos. Para cada atividade, colocar os recursos necessários, período de realização e resultados esperados. VI – Execução •
Nesta etapa, é preciso coordenar e orientar os esforços da equipe para a realização das tarefas propostas.
VII – Avaliação •
Componente inseparável do processo de planejamento e que permeia todas as suas etapas. • Especificar o objeto da avaliação e a finalidade. • Apoio informativo (dados e fontes). • Verificar a coerência (consonância da programação com os objetivos da instituição). • Verificar a pertinência (consonância com os problemas prioritários) • Verificar os resultados e o impacto
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VII- Objetos Da Avaliação • • •
ESTRUTURA Recursos Distribuição Utilização
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PROCESSO (dinâmica) Funcionamento Tecnologia Qualidade
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RESULTADOS Melhorias observadas nas unidades, na instituição, no setor e na saúde da comunidade. Indicadores – identificar e aplicar indicadores de estrutura, processo, resultado e de impacto.
VIII – Formulários 1. Plano Anual de Ação: Neste formulário, começamos com a descrição da situação atual da área de atuação em termos epidemiológicos, políticos e organizacionais. Depois listamos os cinco principais problemas identificados. Nos itens seguintes, colocamos nossa visão de futuro ou objetivo geral, seguido dos objetivos específicos respectivos. A seguir, identificamos as principais parcerias intra e inter setoriais e finalizamos com uma listagem de no máximo 10 indicadores, abrangendo estrutura, processo, resultados e, se possível, algum impacto das atividades previstas. 2. Cronograma de Acompanhamento da Execução das Ações: Quadro descritivo para cada objetivo específico e as atividades necessárias para seu alcance. Cada atividade deve ser seguida de um ponto para marcar o mês proposto para seu início, um traço durante sua realização e uma barra vertical no término previsto. Para permitir o acompanhamento das atividades propostas, os quadros mensais correspondentes deverão ser preenchidos com as cores verde, amarela e vermelha, sendo o vermelho para as ações ainda não iniciadas, o amarelo para aquelas em andamento e o verde para as já concluídas. Sua atualização deve ser mensal para permitir as correções necessárias. (Organizado por Helvécio Bueno – Secretaria de Saúde do DF) PLANO ANUAL DE AÇÃO
ANO:
Instituição/Setor: Área Técnica/Programa/Projeto: I: Síntese da Situação Atual de Desenvolvimento da Área: (Epidemiológica, Política e Organizacional) II: Seleção dos Principais Problemas (máximo 5 em ordem decrescente de prioridade) III: Objetivo Geral (situação desejada) IV: Objetivos Específicos (máximo 5, relacionados com os problemas indicados) V: Ações (Preencher quadro anexo) VI: Parcerias Intra e Inter institucional (em ordem decrescente de prioridade) Intra Institucional Inter Institucional VII: Indicadores (estrutura, processo, resultado e impacto) no máximo 10
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Planejamento De Ações Instituição/ SetorÁrea Técnica/Programa/SetorObjetivo GeralObjetivo Específico ATIVIDADES 1.1.1 1.1.2 1.1.3.
jan
fev
març
abr
mai
jun
jul
agos
set
out
nov
dez
Obs- Descrever as atividades para cada um dos objetivos específicos.
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