O Bagulho é Doido, Tá Ligado?

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O bagulho é doido, tá ligado ? Uma Pequena viagem pelo mundo da Cultura Por Julio Dias

É possível que você esteja pensando: “o que esse cara quer com esse papo de cultura? Cultura não é aquilo que dizem que a gente deveria ter, conhecimentos sobre isso e aquilo...? Ah, isso já tô cansado de saber ...” Bem, essa é uma primeira idéia sobre cultura, a primeira noção que as pessoas entendem sobre o seu significado. Quer dizer, nesse caso, que a pessoa que tem cultura é aquela que tem um bom conhecimento sobre arte e cultura, história, filosofia, ciências, política, economia, etc. Mas essa definição de cultura, no sentido de culto, não é o mais importante sobre o assunto. Inclusive, se você chegou até aqui e já está abandonando o texto, saiba que isso também é uma determinada cultura, mas para saber o porquê, terá de mudar de idéia e acompanhar até o final essa pequena viagem pelo mundo da cultura. Então vamos lá! Em primeiro lugar podemos dizer, com absoluta certeza, que toda pessoa tem uma cultura. Seja culta, “inculta”, formada nisso ou naquilo, com tantos cursos disso ou daquilo, falando duas, três línguas, mal falando o português ou mesmo não sabendo ler nem escrever, todo mundo tem uma cultura. Sim, todos têm uma cultura por que nasceram num determinado lugar e aprenderam com suas famílias, com os vizinhos, amigos, conhecidos, a ver o mundo de um determinado jeito, a fazer e a dizer determinadas coisas de uma forma particular, daquele lugar, diferente de outras pessoas nascidas e criadas em outros lugares, compartilhando, portanto, determinada linguagem (ainda que uma linguagem apenas oral...) e cultura com as demais pessoas da comunidade onde vivem. Assim, existe uma grande cultura brasileira, mas também existe uma cultura paranaense, de todo o estado do Paraná, e ainda uma cultura do povo do litoral paranaense. E muitas, muitas outras... Vamos pensar em alguns exemplos sobre culturas regionais. Aqui no Paraná e principalmente em Curitiba, o mais importante ingrediente que vai dentro do pão do cachorro-quente chama-se ‘vina’. O nome ‘vina’ vem do idioma alemão, da palavra wienwürst, que significa salsicha de Viena. Há muitos anos atrás os curitibanos consumiam a salsicha de Viena importada, e com o tempo deixaram de pronunciar o complicado nome alemão e a falar e escrever apenas ‘vina’, abrasileirando o nome, trocando o ‘w’ pelo ‘v’ e introduzindo o

‘a’ no final da palavra. Assim, é só em Curitiba e outras partes do Estado que salsicha se chama vina. No resto do país, salsicha. Essa é uma diferença entre culturas, ou seja, os nomes diferentes com os quais as pessoas de lugares distantes chamam uma mesma coisa. Outro exemplo: aquele alimento que aqui chamamos aipim, em São Paulo é chamado mandioca e em todos os estados do nordeste chama-se macaxeira. Para a palavra garoto ou menino, o paranaense tem por adjetivo ‘piá’ e o gaúcho ‘guri’. Em certos lugares de Santa Cataria chama-se cartão telefônico de ‘pastilha de prosa’, helicóptero de ‘avião de rosca’ e lagartixa de ‘jacaré de parede’. Ainda falando sobre comida, aquele pão que aqui chamamos ‘pão francês’, em Porto Alegre chamam de ‘cacetinho’... E assim poderíamos falar de vários exemplos, de muitas coisas iguais, mas com diferentes nomes em muitos lugares. A cultura de um determinado povo também envolve os costumes, crenças e jeitos ou maneiras específicas de se fazer coisas que em outros lugares são feitas, pensadas e sentidas de diferentes formas. Em Curitiba, por exemplo, um costume tradicional, antigo, é o velório feito na própria casa do falecido. Em vários outros lugares, ao contrário, as famílias levam os seus mortos para serem velados na capela de uma Igreja. Se existem culturas diferentes num mesmo país, de um país para outro as diferenças culturais podem ser ainda maiores. Nos países do ocidente, que herdaram a base da cultura greco-romana e judaicocristã, como o Brasil, os velórios e enterros são ocasiões tristes, onde parentes, amigos e admiradores sofrem e choram a perda do ente (A palavra ‘ente’ significa o mesmo que ‘ser’) querido. No Japão, ao contrário, a morte de um parente ou amigo é ocasião de festa, pois lá eles acreditam que a pessoa foi, de verdade, para um mundo melhor. Aqui no Brasil, por exemplo, antes de um encontro amoroso, as pessoas passam na farmácia e compram um preservativo, para se protegerem de doenças sexualmente transmissíveis. Já em Lisboa ou no Porto, em Portugal, pede-se um ‘durex’. Preservativo ou camisinha se chama ‘durex’ em Portugal porque foi o primeiro produto produzido naquele país pela empresa multinacional Durex, e vendido com a marca do fabricante (Durex) estampada na embalagem. Da mesma forma, aqui no Brasil conhecemos ‘lâmina de barbear’ pelo nome ‘gilete’, pois foi o primeiro produto lançado aqui pela Gillete. Por isso, em Portugal, durex virou sinônimo de preservativo e no Brasil lâmina de barbear. Apesar de falarmos a mesma língua, o português. Aqui no Brasil quando alguém solta um arroto na mesa durante uma refeição, é considerado mal educado, “porco”. Mas em certos países do oriente médio falta de educação é não arrotar bem alto após as refeições, pois o arroto depois da comida é a forma socialmente aceita, naquela cultura, para se demonstrar que a comida estava boa! Bem, vamos mais adiante. Cultura, como vimos até aqui, é um universo do sentir, do comunicar e do fazer próprios de um determinado povo. Até aí, tudo bem, mas tem o seguinte: esse

universo cultural está em constante mudança, ele muda com o passar do tempo. Duvida? Então pergunte ao seu avô ou sua vó como era o namoro deles! Com toda certeza você vai se espantar se fizer uma comparação com o namoro dos jovens de hoje (Sem levar ao pé da letra, lembre-se daquele funk: ‘Beijo na boca é coisa do passado / Agora a moda é namorar pelado...’) Sim, cultura é algo mutante, sempre em transformação. Pense numa coisa: se os seus pais curtiam rock na juventude, vamos falar do rock nacional, e se isso foi lá pelos anos 80, então eles ouviam Barão Vermelho, Titãs, Chico Cience e Nação Zumbi, Ira!, Legião Urbana...Era um tipo de rock diferente que o de hoje, com uma pegada e letras mais fortes, mais para a contestação social, o protesto, embora também cantasse o romance...Ou então, se são mais velhos e viveram a juventude no final dos anos 60 eles dançavam ao som do rock-romance-rebelde-sem-causa de Celi Campelo e depois Roberto Carlos...ou se formaram a juventude roqueira dos 70, curtiam Rita Lee e os Tuti-Fruti, Raul Seixas e Secos & Molhados, O Terço... Em cada época, um tipo de rock diferente, com ritmos, temas de letras, linguagem e equipamentos diferentes...E é muito provável que seus pais nunca tenham ouvido falar ou escutado CPM22, Charlie Brown Jr, Detonautas ou do Marcelo D2 e Racionais MC. É isso: rock também é cultura e mudou muito com o tempo! E o rap só veio a partir dos anos 90 porque nasceu da necessidade de se falar dos tempos de hoje e de uma forma diferente, discursiva...Vamos lá! Aumente o (((SOM))) ! Obs: você pode escutar essas músicas pela rádio uol (www.uol.com.br) e ver várias outras letras pelo www.mpbnet.com.br . ANOS 60 : “Se você quer brigar / E acha que com isso estou sofrendo / Se enganou meu bem / Pode vir quente que eu estou fervendo / Pode tirar o seu time de campo / Que o meu coração é do tamanho de um trem / Iguais a você já apanhei mais de cem / Pode vir quente que eu estou fervendo...” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos) ANOS 70: “Ela nem vem mais pra casa, Doutor / Ela odeia meus vestidos / Minha filha é um caso sério, Doutor / Ela agora está vivendo com esse tal de / Roque enrow, roque em---------row / Ela não fala comigo, doutor / Quando ele está por perto / É um menino tão sabido, Doutor / Ele quer modificar o mundo / Esse tal de / Roque enrow / Ro----quem é ele?...” (Rita Lee e Paulo Coelho) ANOS 80: “ Desde pequenos nós comemos lixo, comercial, industrial / Mas agora chegou nossa vez / Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês / Somos os filhos da revolução / Somos burgueses sem religião / Nós somos o futuro da nação / Geração Coca-Cola !...” (Geração Coca-Cola / Legião Urbana /Renato Russo) Agora um grande parêntese: (Preste atenção nas letras desses três rocks e você vai perceber que eles tratam de temas bem diferentes, característicos das épocas em que foram feitos. O primeiro fala de romance sob o ponto de vista do playboy dos anos 60. O

segundo diz respeito ao conflito entre gerações com uma tônica dos anos 70. O terceiro fala de dominação cultural e da luta contra essa dominação, tema bem comum aos 80...) Então tá. Comida é cultura, música é cultura, namoro também é cultura. Sim, tudo o que não é natural, como a nossa respiração, circulação sanguínea, carga genética...Tudo que não pertence ao mundo da natureza (reflita: nós temos um pé na natureza e outro na cultura...), mas pertence exclusivamente ao mundo dos homens, é cultura. Mas de onde veio a cultura? Cultura tem história... O prato típico do Rio de Janeiro é a feijoada e o do Paraná é o barreado. No caso da feijoada fica claro que o significado da palavra é uma comida que tem por base o feijão. Já o barreado deve o nome ao fato de que na origem as panelas de barro que cozinhavam o barreado eram fechadas por um ‘barreado’, uma mistura de farinha e água, durante o tempo que durava o cozimento, a preparação do barreado. Mas de onde vieram esses pratos, essas comidas? Não foram inventados ontem, no programa da Ana Maria Braga... A origem da feijoada é do tempo da escravidão. O feijão era alimento barato e as carnes salgadas da feijoada eram a sobra, aquilo que os senhores de escravos não comiam. Assim, a alimentação dos escravos era basicamente constituída pelo feijão e restos de carnes. A feijoada era uma comida de escravos. Só muito tempo depois da abolição da escravatura é que a feijoada se transformou num prato típico, passando a freqüentar também a mesa de todas as classes sociais, inclusive dos ricos. O barreado era a comida dos bandeirantes, aqueles que no início da colonização do Paraná, que nem existia ainda como Estado, subiam e desciam a serra do mar à procura de ouro e de índios para o trabalho escravo, bem antes do Brasil imperial e muito antes da República, séculos atrás. Era um cozido bem simples de carnes salgadas, feito em panelas de barro enterradas, com fogo de lenha. Levou muito tempo para que o barreado se transformasse numa comida típica de todos os paranaenses... Podemos dizer que as músicas típicas do Paraná e do Rio de Janeiro são o fandango e o samba. O samba só começou a se popularizar a partir da década de 1930, mas o primeiro samba gravado em disco de 78 rotações, ‘Pelo telefone’, de Sinhô e Donga, é de 1917. Bem antes que o samba existisse, no Rio de Janeiro e em outros lugares, coube aos lundus, música popular criada por negros libertos, e depois a outros gêneros musicais populares como o chorinho, fazer a crônica e a crítica do cotidiano. Podemos dizer que o samba seguiu esse caminho anos depois e até hoje vive como música popular brasileira porque se recria, se refaz. Ao contrário, o fandango se manteve extremamente apegado às suas tradições de origem, sem interagir com o cotidiano da história e talvez por conta disso não transformou-se em música popular contemporânea (dos dias de hoje). Virou folclore. Entretanto, o fandango influenciou alguns gêneros da música popular chamada sertaneja, feita e tocada hoje em dia. Esses dois gêneros musicais não caíram do céu e não surgiram no ano passado ou num dia desses num programa do Faustão. O

fandango é uma tradição cultural trazida pelos imigrantes portugueses da ilha dos Açores, que aqui se enraizou. O samba é uma mistura de ritmos de percussão africanos com melodia européia, que se originou no Rio e também na Bahia, nas comunidades pobres dos morros, no início do século passado, e demorou bom tempo pra que fosse tocado em rádio e gravado em discos, os antigos LPs (vinil, como chamamos hoje). Assim, não é difícil entendermos que toda e qualquer cultura também pertence a um determinado tempo histórico. Agora acho que já temos uma boa idéia do que é cultura de um modo geral e como criação humana e dinâmica, que se auto-modifica com o cotidiano das relações sociais, e que tem uma origem, uma história. Mas cultura tem, também, várias outras dimensões. Existe a cultura do rock, do rap, do samba, da literatura, cultura filosófica, gastronômica, cultura popular, erudita, cultura de massas e várias outras, que possuem significados vivos, referem-se à realidades sociais dos mais diferentes contextos. Medir o mundo da cultura, dimensioná-lo por sua quantidade de manifestações na história, é coisa impossível. Tudo o que pensarmos, em termos de realização humana, pode ser definido como cultura, desde os tratados de medicina da antiguidade clássica até os últimos estudos sobre medicina molecular, as ciências naturais desde a invenção do fogo até o debate científico pós-física quântica, mais a informática, robótica, nano ciência... (Opa! Mais um parêntese: nanociência é a base da nanotecnologia, ciência e técnica de produzir mecanismos muito pequenos, microscópicos, imperceptíveis a olho nu, microengrenagens desenvolvidas para equipamentos de alta tecnologia)...as artes desde a pintura rupestre até o complexo universo artístico da atualidade, envolvendo as artes plásticas, música, o teatro, a literatura, o cinema, uma inimaginável história dos costumes, da consciência, da sexualidade, da alimentação, etc, etc, etc e muitos etecétaras mais... O importante mesmo é captarmos cultura como realidade humana abrangente e viva em cada época, como um todo complexo que se produz e se reproduz enquanto existência humana a partir da base mais elementar da sobrevivência, a alimentação, até a teoria, o raciocínio abstrato mais complexo que o homem possa produzir. Acredito que você tenha assistido ao filme “2001, uma odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick. Mas se não assistiu, não tem problema. Pense que você está no cinema agora: na primeira cena do filme, vemos um homem pré-histórico golpeando um animal feroz com um grande osso. Após matar o animal ele para por um instante, como quem está pensando sobre o que acabou de fazer, e em seguida, num êxtase de euforia, começa a berrar de contentamento e joga o osso para o alto com muita força. Ele tinha inventado a primeira ferramenta, uma arma, e o sua alegria era exatamente por isso! A câmara então muda de tomada e passa a focalizar o osso girando e subindo pelo céu, de baixo para cima...depois o osso começa a cair...o diretor do filme nos faz acompanhar o movimento,

dando a entender que o tempo está passando, os séculos correndo...e antes que ele chegue ao chão, Kubrick muda a cena novamente e coloca o espectador numa outra realidade: um homem pilotando uma espaçonave no infinito espaço! A idéia que essas imagens procuram nos transmitir é que a cultura humana está diretamente ligada ao desenvolvimento das ferramentas e das técnicas de produção desenvolvidas pelos homens, com as quais transformamos o mundo e pelas quais somos também constantemente transformados. Bem, nesse caminho de pensamento sobre a cultura, fatalmente chegaremos ao seguinte ponto de interrogação: os homens, quero dizer, nós mesmos, construímos nossa cultura livremente ou ela nos é imposta sem que a gente perceba? Será que somos sujeitos ou objetos da cultura que nos envolve? A cultura é que nos domina ou somos nós que a dominamos? A letra de uma música da MPB dos anos 70, Roda Viva, do Chico Buarque de Holanda, fala um pouco sobre o assunto: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu / A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu / A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá / Roda mundo, roda-gigante, roda moinho, roda pião / O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração...” ( Agora já daqui de dentro: essa letra do Chico também tem outro sentido. Seu tema principal é a resistência democrática contra o regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Entretanto, sua linguagem é cifrada, disfarçada, fala por códigos para escapar à censura que controlava todos os meios de comunicação daquela época). Essa é uma questão interessante a ser pensada, por duas circunstâncias centrais: 1) quando nascemos não escolhemos o mundo cultural que vamos viver, com o qual vamos interagir; 2) a maior parte da cultura que produzimos não é intencional, mas é o resultado de nossas relações interpessoais, sociais, que estabelecemos durante o processo de produção e reprodução de nossa existência. Ou seja, o mundo que descobrimos pelos anos da infância e da adolescência já é algo dado, coisa já pronta e estabelecida, ao qual nos vamos incorporando sem questionamentos e logo somos engolidos pela pressão da subsistência, do trabalho, da comida, do casamento, dos filhos...de forma que acabamos por reproduzir essa existência cultural como coisa imutável, coisa “natural”. É claro que não reproduzimos exatamente a cultura de nossos avós e mesmo de nossos pais. Cada nova geração acaba criando certo jeito próprio de ser, diferente das gerações anteriores. Mas no essencial ...”ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...” Como dizia aquela letra do Belchior, nos anos 70. Mas vamos ainda um pouco mais fundo! No século passado vários pensadores desenvolveram as noções, os conceitos de ‘Cultura de massas’ e ‘Indústria cultural’. A idéia é basicamente esta: a grande massa do povo não entende, não assimila a chamada cultura erudita, a cultura letrada, mas sim um grande caldo cultural chamado

cultura de massas, onde convivem elementos progressivos e outros retrógrados, conservadores...Assim, cultura de massas é música popular, o cinema de ação ou comédia, os programas de televisão, novelas, programas de rádio, jogos de computador,etc...Como o capitalismo, por sua natureza, transforma todas as coisas do mundo em negócio, também a cultura virou um meio de ganhar dinheiro e surgiu a grande indústria cultural, que produz cultura em série, para um grande mercado consumidor (no qual você está incluído ou incluída!). Produz novelas para serem assistidas, CDs, games, DVDs, shows, etc, etc. E, principalmente, “produz” certo “gosto” ou perfil popular de consumo adequado aos produtos, às mercadorias a serem vendidas, consumidas. Explico melhor: a indústria cultural não produz apenas, digamos, o CD ou o DVD do Fábio Junior, mas produz também consumidores para esse CD ou DVD, por meio de uma grande ação de propaganda pela mídia, na TV, nos jornais, rádios, sites e outros. Digerindo isso, então tente pensar nos produtos culturais que você consome e pergunte o que levou você a comprar tal produto. Será que você consumiu determinado produto cultural unicamente pelo seu gosto pessoal ou foi a propaganda utilizada para a venda desse mesmo produto o que levou você a consumi-lo? Inclusive o seu gosto musical ou de alguém que você conheça, é produto de uma escolha livre ou fruto de uma determinada história de vida imposta por circunstâncias alheias à sua escolha? Você já havia pensado nisso? Então pense. Tenho certeza que você não encontrará dificuldades para entender o que os especialistas querem dizer com a expressão ‘dominação cultural’... O resultado desses questionamentos será, fatalmente, o seguinte: depois de pensar bastante você chegará à conclusão de que a maioria das coisas que você consome, como cultura, comida, equipamentos, roupas, não são decorrência de um gosto e de sua vontade única e independente, de um livre arbítrio absoluto, mas é sim imposta em grande medida pela cultura dominante, uma cultura de massas... Se você refletir sobre o as coisas que aqui tratamos, você pode desenvolver uma visão e uma atitude crítica perante a cultura de massas na qual você está inserido. E pode procurar conversar com seus amigos sobre essas idéias e quem sabe realizar alguma atividade envolvendo outras pessoas. Isso só depende de você... Mas tem ainda outra história: a realidade da vida é sempre a origem das idéias e não o contrário! Não são as idéias que fazem o mundo, mas o mundo, a realidade econômica, social e cultural de cada época histórica é de onde partem as idéias, inclusive as idéias que tentam explicar o mundo... E essa realidade é sócio-cultural, é história viva...é feita por muitas pessoas que interagem no trabalho, na escola, no lazer...enfim, é o produto de uma coletividade e só pode ser transformada coletivamente...mas ai, já começa outra história... Assim, chegamos ao fim dessa breve viagem, na expectativa de termos conseguido, eu e você, dialogar sobre o mundo e, dessa forma, sobre nós mesmos, questionando, fazendo perguntas sobre

nossa cultura, essa ‘Aldeia global’ em que vivemos. Ah, sim, parabéns por ter chegado até aqui!!! Agora sim você tá de boa!!! Mandou Bem!!! Saiba então que a preguiça de ler é também uma preguiça do pensar... E que tal atitude não é uma escolha livre feita por aqueles que abandonaram o texto logo nas primeiras linhas. É sim uma tendência da cultura de massas, da cultura dominante que constantemente leva as pessoas a acreditarem que não precisam pensar, porque o mundo já foi pensado antes, por outros, e está pronto a felicidade geral (!!!), como pretende aquele samba do Zéca Pagodinho: “...deixa a vida me levar / vida leva eu... Será? O bagulho é doido, tá ligado? Não tá?! Então decifra-o, ou ele te devora !!!

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