BORGES, Jorge Luis. O Aleph, S�o Paulo: Editora Globo. 2001 Contam os homens dignos de f� (por�m Al� sabe mais) que nos primeiros dias houve um rei das ilhas da Babil�nia que reuniu os seus arquitetos e magos e lhes mandou construir um labirinto t�o complexo e sutil que os var�es mais prudentes n�o se aventuravam a entrar nele, e os que nele entravam se perdiam. Essa obra era um esc�ndalo, pois a confus�o e a maravilha s�o atitudes pr�prias de Deus e n�o dos homens. Com o correr do tempo, chegou � corte um rei dos �rabes, e o rei da Babil�nia (para zombar da simplicidade do seu h�spede) fez com que ele penetrasse no labirinto, onde vagueou humilhado e confuso at� ao fim da tarde. Implorou ent�o o socorro divino e encontrou a sa�da. Os seus l�bios n�o pronunciaram queixa alguma, mas disse ao rei da Babil�nia que tinha na Ar�bia um labirinto melhor e que, se Deus quisesse, lho daria a conhecer algum dia. Depois regressou � Ar�bia, juntou os seus capit�es e alcaides e arrasou os reinos da Babil�nia com t�o venturosa fortuna que derrubou os seus castelos, dizimou os seus homens e fez cativo o pr�prio rei. Amarrou-o sobre um camelo veloz e levou-o para o deserto. Cavalgaram tr�s dias, e disse-lhe: "Oh, rei do tempo e subst�ncia e s�mbolo do s�culo, na Babil�nia quiseste-me perder num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; agora o Poderoso achou por bem que eu te mostre o meu, onde n�o h� escadas a subir, nem portas a for�ar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros que te impe�am os passos." Depois, desatou-lhe as cordas e abandonou-o no meio do deserto, onde morreu de fome e de sede. A gl�ria esteja com Aquele que n�o morre.