Nova Versão Para O País Das Maravilhas

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26o Festi va l de Da nç a de Join v ille

21 de j u l ho de 2008

Fotos fabrício Porto/ND

Caderno Especial

Mariana Pereira H

Articulações viram dança

[email protected]

C

omo seria o País das Maravilhas de Alice aos 24 anos? O Grupo Gaia, de Porto Alegre, procurou responder a este questionamento com o espetáculo Alice (Adulto), apresentado sábado na Mostra Contemporânea do Festival de Dança. A apresentação ocorreu na Moom Art and Music. A pista de dança transformou-se em palco para receber os dançarinos em uma peça de teatro musicada surpreendente. “É como um musical”, explica Alessandra Chemello, integrante do grupo e coreógrafa. “Sempre tivemos vontade de trabalhar essa personagem e em 2005 iniciamos o projeto”. A primeira versão foi infantil, “O buraco de Alice”, conta.

O resultado, após árdua pesquisa, é uma apresentação de ritmo frenético e envolvente, repleto de simbolismo. Alice diminui, passa por uma portinha e mergulha em um universo encantado, encontra personagens como o coelho e o gato, de sorriso enigmático. Em se-

gundos, bolas brancas são lançadas do alto, enquanto bailarinos quicam como bolas. Em outro momento, bailarinas semi-nuas sincronizam movimentos, como se estivessem se maquiando, em um divertido jogo de erros. Na platéia, olhares atentos e curiosos acompanhavam a trajetória da menina, agora mulher. Há momentos em que o conceito de tempo é distorcido, com movimentos em câmera lenta ou pausas, acompanhando o download musical. A trilha sonora também chamava a atenção pela versatilidade. De Roberto Carlos a Madonna. Três momentos do espetáculo Alice (Adulto), do Grupo Gaia, na Moom

Dando continuidade à Mostra Competitiva da noite de sábado, a dança invadiu outro espaço alternativo. Sentados em semi-círculo, em cadeiras ou sobre um tapete, a platéia acompanhou a performance de três bailarinos do Ney Morais, grupo de dança de Caxias do Sul, em “Inferência”. A apresentação metalingüística é uma demonstração de um estudo realizado pelo coreógrafo Ney Morais sobre as articulações. Apagadas as luzes, o bailarino Douglas Gonçalves dos Reis, de apenas oito anos, desenhava bonecos e os projetava por meio de um retroprojetor assinalando as articulações. Depois imitava movimentos e improvisava, imitado sempre por sua própria sombra em um jogo de luzes que abria espaço para um bailarino dar prosseguimento. A idéia era justamente essa, representar a evolução da infância para a fase jovem e madura, para representar o desenvolvimento psicomotor. Douglas Gonçalves dos Reis (alto) e Ney Moraes, na coreografia Inferência

2/3 Fotos Rogério souza jr./ND

Programação Mostra Competitiva Onde: Arena do Centreventos Horário: a partir das 19h Balé clássico de repertório – Variação feminina (sênior) H Ballet Paula Gasparini (SP) – Coppélia (3o ato) H Balé Jovem do Centro Cultural Gustav Ritter (GO) - Coppélia (3o ato) H Kleine Szene Grupo de Dança (SP) – Le Jardin Animee-Medora H Harmonia Studio de Dança (MG) – Dom Quixote H Ballet Tania Suares (MG) – Bodas de Aurora H Otto Studio Art (PR) – Talismã H Especial Academia de Ballet (SP) – Esmeralda H Conservatório Brasileiro de Dança (RJ) – Esmeralda Balé clássico de repertório – Gran Pas-de-Deux (sênior) H Escola Dançar (ES) – Coppélia H Ballet Tania Suares (MG) – Chamas de Paris H Conservatório Brasileiro de Dança (RJ) – Arlequinade H Grupo Jovem Cadência (SP) – Coppélia H Academia de Ballet Elisa (SP) – Paquita Balé clássico de repertório – Pas-de-Trois (sênior) H Especial Academia de Ballet (SP) – O Oceano e as Pérolas H Academia de Ballet Elisa (SP) – Pas de Trois de Paquita Balé clássico de repertório – Conjunto (sênior) H Gr. Juvenil da Fundação de Artes de São Caetano do Sul (SP) – Lê Jardin Animmé H Conservatório Brasileiro de Dança (RJ) – La vivandiere Jazz – Conjunto (avançada) H Grupo Cristina Cará (SP) – Tudo É Jazz H Avançado do Studio de Dança Luciana Junqueira (SP) – Sem Palavras para Definir... Sentir E Só H Grupo de Dança Fernando Lima (SC) – Into The Light H Grupo de Dança Adriana Alcântara (SC) - “Entre Olhares...Seduction...” H Galpão 1 Erika Novachi Grupo de Dança (SP) – “Um Leve Tocar da Brisa em Seu Rosto ... É a Saudade que te Beija em Silêncio H Balé Marta Bastos (RJ) – Jazz, Swing, Puro Prazer H Grupo de Dança Roseli Rodrigues (SP) – Fôlego H Grupo de Dança Univali (SC) – Adoculare H Studio de Dança Vanessa França (SP) – Duques e Duquesas

Meia Ponta Onde: Teatro Juarez Machado Horário: das 14 às 16h

Despojados e descolados tiveram espaço sábado e domingo, no Festival de Dança, durante o Encontro das Ruas

Balé clássico – Solo feminino (infantil) H Escola Dançar (ES) – Naya H Balé Infantil Agepel (GO) – Brincando no Picadeiro H Ballet Marcia Lago (SP) – Bonequinha H Academia de Ballet Elisa (SP) – Tarantelle H Escola de Dança Spinelli (RJ) – Petit Danceuse Balé Clássico – Conjunto (infantil) H Corpo de Baile Infantil da Escola de Arte Veiga Valle (GO) – Peter Pan e Fadas Sininhos H Grupo Infantil da Fundação das Artes de São Caetano do Sul (SP) – Tal Qual Uma Gata H Balé Infantil Elias Moreira (SC) – No Mundo do Ballet H Adriana Paula Balé (SP) – Passeio Matinal H Balé Infantil Agepel (GO) – Só Uma Batucada H Ballet Silvana Franzoi (SP) – Petit Chérie H GR. Infantil-Esc.Munic. Ballet (SC) – Fadas H Especial Academia de Ballet (SP) - Reminiscencias de 1832 H Escola Municipal de Nova Lima (MG) - Lembrando o Jardim da Bela Adormecida H Balé Jovem de São Vicente (SP) – Espanhola H Ballet Adriana Assaf (SP) – Fanfarra H Escola de Ballet Julia Pyles (SP) – Colombinas Danças Populares – Conjunto (infantil) H Grupo de Dança da Academia Corpo Livre (SC) – Festa da Uva H Adriana Paula Balé (SP) – Crianças na Vila H Grupo Júnior Sheilas Ballet (SP) – Lettle Naipes Palcos abertos H Docol – Distrito industrial – 14h15 às 14h45; 15 às 15h30 H Feira da Sapatilha, no Expocentro Edmundo Doubrawa - 11 às 12h; 13 às 13h30; 14 às 15h30; 16 às 17h30 H Praça Nereu Ramos – Centro – 12 às 13h; 13h30 às 14h30; 15 às 16h; 16h30 às 17h30 H Shopping Americanas – Anita Garibaldi – 13 às 14h; 17 às 18h H Shopping Cidade das Flores – Centro – 15 às 16h; 16h30 às 17h30 H Shopping Mueller – Centro – 11h30 às 12h30; 15 às 16h; 17h30 às 18h30 H Supermercados Giassi – América – 17 às 18h

EXPEDIENTE Reportagem: Cleiton Bernardes, Mariana Pereira, Sérgio Almeida e Rosana Rosar. Fotografia: Iran Correia, Fabrício Porto, Joyce Reinert e Rogério Souza Jr. Revisão: Solange Silva. Diagramação: Marcelo Duarte.

N

Juliano Nunes H [email protected]

ão só de spray é feito o grafite. Que o diga Paulo Cesar Oliveira, o Auma, que topa usar qualquer coisa para grafitar. Tem gente contra, mas Auma não liga. Neste fim de semana, ele foi um dos artistas a mostrar seu trabalho durante do Encontro das Ruas, promovido pelo Festival de Dança no colégio estadual Germano Timm, ao lado do Centreventos. Enquanto no ginásio do colégio centenas de pessoas assistiam outras mostrando o resultado de anos de treinamento de dança ao som de hip hop, do lado de fora alguns grafiteiros expunham suas telas, pintadas principalmente com sprays. O grande rosto sobre um fundo preto, assinado por Auma, tinha algo de diferente. “Tem gente que usa até estilete e cotonete, o que importa é o efeito”. Se ele chama de grafite o que

faz? “Considero arte, só isso. Aí as pessoas chamam como quiser. A tua vida na rua alimenta teu estilo”. Pode até pintar sem autorização, desde que não prejudique ninguém. Entre grafiteiros não existe consenso sobre qual é o espaço do grafite. Ao mesmo tempo em que uns participam de badaladas exposições, como os artistas “osgemeos” e Nunca, outros acham que grafite é para subverter, para não se curvar a autorizações. Auma desenha desde criança. Descobriu seu próprio traço aos pouquinhos. A graduação em artista plástico trouxe lucidez. O artista, que já fez histórias em quadrinhos, dá aulas de desenho e pintura e faz parcerias com empresas para pintar. Mora em Curitiba. Já grafitou vagões de trem – com autorização. Só não quer ver sua arte associada a coisas como cigarro, bebida alcoólica ou política partidária.

Co O su no

Fotos Fabrício Porto/ND

JOINVILLE, SEGUNDA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2008

om spray, Paulo Cesar Oliveira, ou Auma, mostra ua arte ao estilo das ruas o Festival de Dança

Palhaço Tampinha, a perna-de-pau Widny Neves e o malabarista Douglas Tangara, da Companhia do Circo Roiter Neves

Rosana Rosar H [email protected]

O gaúcho Willian Rocha Pinheiro em performance ao som do hip hop, sábado no Germano Timm

Metade da vida dançando O gaúcho Willian Rocha Pinheiro passou a última metade da vida dançando hip hop. “Um amigo me convidou para treinar e gostei”. Com 18 anos, mora hoje em Balneário Camboriú e participa de competições, como o Festival de Dança de Joinville. No Encontro das Ruas, era um dos que entravam na roda, pegavam o ritmo, giravam pelo chão e faziam coisas que só joelho bom pode fazer. Tudo observado por gente em pé ou deitada no chão, no colo de outras, com mochilas espalhadas. O ginásio do colégio esqueceu a disciplina da educação formal para abrigar a arte das ruas.

As crianças puderam pintar desenhos em grandes folhas de papéis, brincar nos balanços do parquinho e assistir espetáculos artísticos na Rua da Dança, numa extensão da arena do Centreventos Cau Hansen, onde ocorrem as apresentações da mostra competitiva do Festival de Dança de Joinville. Um espaço democrático para a arte foi montado durante todo o dia de ontem na rua Leite Ribeiro, na Estação Ferroviária. Durante a manhã, o céu nublado intimidou o público, que chegou aos poucos e se encantou com as exibições de danças como a do ventre, com o grupo curitibano Damballah. A Companhia do Circo Roiter Neves, de Joinville, participou do evento passeando entre o público com o palhaço Tampinha, 15 anos, a perna-de-pau Widny Neves, 20 anos, e o malabarista Douglas Tangara, 50 anos. O grupo de dança inclusiva Seg, do projeto social Chai, com portadores de deficiência, se apresentou com a coreografia “Anjo” e atraiu todos os olhares para o palco montado na rua. A coreógrafa Juliana Crestani contou que eles farão apenas essa exibição durante o festival. “Trabalhamos com laboratório de movimentos há dois anos e, por causa disso, conseguimos ensaiar a coreografia em um mês. Recebemos o convite para estar aqui e aceitamos”, explicou. As bailarinas da Escola de Dança Cristina Rocha, de Boa Vista, Roraima, se arrumaram para a apresentação ao lado da Estação. É a primeira vez que Jéssica Ribeiro, 17 anos, vem a Joinville. “Tenho cinco colegas que já vieram pra cá em outros festivais. Viemos para dançar nos palcos abertos”, explicou. Uma exposição fotográfica, uma mostra de curtas e atividades interativas com os gêneros hip hop e sapateado também fizeram parte da programação do evento, que proporcionou um domingo de arte e dança aos moradores da região Sul da cidade. De hora em hora, ônibus saíram do Centreventos até a Rua da Dança, para que todos tivessem oportunidade de passar o domingo na Estação.

Apresentação da coreografia “Anjo”, dos cadeirantes da companhia Seg

Jéssica Ribeiro e as bailarinas da Escola de Dança Cristina Rocha, de Boa Vista, Roraima

A vez dos pequenos • Durante o 26

Festival de Dança, crianças e pequenos dançarinos observam os movimentos dos mais experientes nos palcos abertos e nas mostras competitivas. Nas tardes de hoje e amanhã, essas cenas irão se inverter. Os bailarinos mais experientes observarão os novos talentos entre dez e 12 anos, que participam da mostra não competitiva Meia Ponta, no Teatro Juarez Machado. Grupos, solistas, duos e trios se apresentam nos gêneros balé clássico, balé cláso

sico de repertório, danças populares, sapateado, jazz e dança de rua, das 14 às 16 horas. Na quarta (23), as coreografias premiadas com menção honrosa voltam ao palco, às 15 horas. Na banca, as bailarinas Cecília Kerche e Christiane Matallo, e as professoras Luciana Paludo, Maria Antonieta Spadari e Carmen Hoffmann, farão indicações e críticas aos trabalhos dos jovens artistas. As 23 coreografias que receberem menção honrosa estarão aprovadas para participar dos Palcos Abertos. (Rosana Rosar)

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JOINVILLE, SEGUNDA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2008

No clima

É o reconhecimento de um trabalho árduo. A organização foi muito feliz na escolha. Assim como o festival, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil é da cidade e para a cidade. Pavel Kazarian, supervisor-geral da ETBB, com um português cada vez mais fluente, sobre a participação do Bolshoi na Noite de Gala

[email protected]

Em casa

Na tarde de sábado, o empresário Ony Bogo recepcionava mais uma vez seu amigo Luiz Cavalcanti, da Rommel & Halpe. Luiz tem uma forte ligação com o Festival, já que nas primeiras edições sua empresa foi uma das patrocinadoras e incentivadoras. Desde a primeira edição, a Rommel & Halpe marca presença no evento. Ony aproveitou a oportunidade para levar Luiz ao Mercado Público. Enquanto colocavam a conversa em dia, a dupla saboreava os petiscos da Mercearia Sofia, de Therence Mir.

A diva Cecília Kerche desfila, no início da tarde desta segunda-feira, na Feira da Sapatilha. Ao lado de Ana Botafogo, Cecília é, sem dúvida, o nome feminino da dança brasileira. Em Joinville, além do carinho que tem pelo evento, é idolatrada. Ela autografa posters a convite da Só Dança.

Na faixa

“É um sonho. Uma emoção indescritível. Maravilhoso”.

Margit Olsen, comentando a sensação de, após tantos anos, ver o festival chegar ao patamar que chegou

A Rommel & Halpe, de Luiz, trouxe como convidados para o 26o Festival de Dança de Joinville três estrelas da dança para workshops na Feira da Sapatilha. Com enorme ligação e simpatia com o evento, ontem foi a vez de sapateador Steve Harper falar e mostrar um pouco de sua técnica. Na tarde de hoje, é a vez do mestre da dança de salão Carlinhos de Jesus. E, na quarta-feira, o coreógrafo da Rede Globo Fly, fala sobre hip hop. Os workshops iniciam às 17 horas.

Na Feira da Sapatilha, Nathalia França, Nycole Gonçalves, Leticya Rosa Uller, Jéssica Gomes, Lizandra Carvalho e Vanessa Vicent, da Cia. de Dança Paulo Cezar Ramos, de São Francsico do Sul Max Schwoelk/Divulgação/ND

fotos Max Schwoelk/Divulgação/ND

Haroldo Marinho

Saudosismo

fotos Max Schwoelk/Divulgação/ND

Grande sacada da organização do Festival de divulgar o evento por meio de banners instalados nos pontos de ônibus. Uma mídia limpa e que ajuda a colocar a cidade no espírito, informando a grande massa da cidade sobre as atrações e as noites especiais.

Compasso

Laisi Corsani e Paula Cristine, conferindo a balada da Moom, durante o Festival

A bailarina Ana Botafogo, Ely Diniz, presidente do Instituto Festival de Dança e, ao fundo, o dinamarquês de nascimento e cônsul da Noruega, Jens Olesen, nos corredores do Centreventos Cau Hansen

Dueto

Os remanescentes dos anos em que o festival era muito amador reclamam que sentem falta da aura que pairava sobre Joinville naqueles tempos. As tardes de paquera e curtição na Casa da Cultura. Os pedidos de carona rumo ao Ivan Rodrigues. Porém, não poupam elogios à organização e profissionalismo dos dias atuais. O evento pode ter perdido em charme e tirou aquela proximidade dos bailarinos com a comunidade. Mas, muito em função do crescimento da cidade e da pressa das pessoas. Até mesmo o período de férias encurtou nesta década de Festival no Centreventos. Tirando a oportunidade daqueles que participam do evento, de desfrutarem de um tempo maior em Joinville.

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