NEOPLASIAS DA CAVIDADE BUCAL em cães e gatos
Introdução
As neoplasias na cavidade bucal constituem o quarto local mais freqüente nos cães e gatos.
As neoplasias da cavidade bucal são mais freqüentes nos animais do que no homem, porém são mais difíceis de serem diagnosticadas, sendo uma importante patologia, não somente pela incidência, como pelo tipo de lesão que causam, com alta morbidade.
Já nos animais, existe influência naqueles que vivem em centros urbanos e estejam em contato com os agentes carcinogênicos.
Ocorrência
Espécies mais afetadas: O cão e o gato acometidos;
são
os
mais
- Raças de cães mais predispostas : Pointer, Weimaraner, Boxer e Cocker Spaniel. - Idade: mais freqüente acima de 8 anos de idade.
Os cães de raça de pequeno porte apresentam predisposição para o melanoma; raça de grande porte para o fibrossarcoma.
Os machos são mais atingidos do que as fêmeas, somente variando a proporção de cada tipo de neoplasia. Os locais mais freqüentes são a gengiva, lábio, tonsila e palato.
Os gatos apresentam carcinoma epidermóide.
predisposição
para
Características dos neoplasmas
Tumores orais são localmente invasivos, atingindo os tecidos ósseos. Com exceção do melanoma, os tumores malignos raramente apresentam metástases locais (linfonodos cervicais) ou a distância (pulmões).
O curso clínico da neoplasia é importante para avaliarmos sua evolução, mesmo sendo de difícil quantificação.
Neoplasmas podem ser: -FULMINANTE: quando o aparecimento da moléstia é súbito, com rápida fase de crescimento;
-PROGRESSIVO: moléstia;
significa
a
contínua
piora
da
-ESTÁVEL: quando a neoplasia estabiliza em fase de crescimento, sem progressão, com exibição de sintomas clínicos; -QUIESCENTE: quando em algum estágio da neoplasia os sintomas clínicos são imperceptíveis.
Classificação das neoplasias
As neoplasias são classificadas de acordo com a origem dos tecidos embrionários.
De maneira genérica, dividimos basicamente em neoplasias malignas e benignas.
As
doenças da cavidade bucal manifestam-se por alterações morfológicas variáveis. Os tumores têm características que os distinguem.
Classificação quanto ao tamanho:
PÁPULAS: lesão circunscrita sólida e elevada, cujo tamanho varia de milímetros a 1 cm de diâmetro;
NÓDULO: lesão circunscrita sólida, situada na superfície ou na profundidade variando de 1 a 3 cm de diâmetro;
Quanto à aderência
SÉSSIL: quando apresenta base igual ou maior do que o tamanho da formação;
PEDUNCULADO: quando possuem haste delgada, unindo o tumor a tecidos circunjacentes.
NEOPLASIAS BENIGNAS
PAPILOMATOSE ORAL:
-
Mais comum. Acomete animais jovens e/ou imunossuprimidos. Etiologia : vírus Papovaviridae. Características: formações vegetantes, friáveis, de coloração desde vermelha até acinzentada, variando de acordo com a queratinização no epitélio de revestimento. Tratamento: excisão cirúrgica, ou a crioterapia.
-
-
NEOPLASIAS MALIGNAS
MELANOMA:
É o tumor maligno mais freqüente em cães de pequeno porte.
Alta incidência: animais idosos, acima de dez anos.
O local mais atingido é a gengiva.
Sua característica macroscópica: é de coloração enegrecida, acastanhada ou não pigmentada; é normalmente ulcerado, séssil e invasivo, com evolução de caráter fulminante.
Melanoma Exames radiográficos: evidenciam invasão dos ossos caracterizada por lise; metástase pulmonar é freqüente. As metástases em linfonodos cervicais são comuns. Raramente acomete os gatos. Prognóstico de reservado a mau: Tratamento: realização de cirurgia radical através de ressecções do osso circunjacente.
CARCINOMA EPIDERMÓIDE Segundo tumor mais freqüente nos cães e o mais comum nos gatos. Origem é do epitélio bucal. Incidência: animais acima de oito anos de idade. Apresentação: Formação ulcerada, séssil, com crescimento geralmente lento e com invasão óssea local. Metástases: Pode ocorrer para tonsilas e linfonodos cervicais; raramente atingem os pulmões.
FIBROSSARCOMA Incidência: Cães de grande porte e jovens adultos; Raros em gatos. Apresentação: Coloração esbranquiçada, ulcerada, firme, séssil e de crescimento mais lento. Localização: mucosa labial, palato duro e gengiva. Localmente Invasivo; metástase pulmonar é rara.
OSTEOSSARCOMA Ocorrência: animais jovens, de grande porte idade de 4 anos. Localmente Invasivo com destruição óssea, metástases locais ou pulmonares são raras. Tratamento: Cirúrgico: retirada de todo segmento ósseo invadido e mais 1 cm de tecido adjacente sem alteração clínica aparente, como margem de segurança.
NEOPLASIAS ODONTOGÊNICAS:
FIBROMA ODONTOGÊNICO PERIFÉRICO
-Há relatos de desenvolvimento de malignização de 30% desse último para carcinoma. Há autores que consideram o épulis acantomatoso como um ameloblastoma central ou periférico
Épulis
São tumores do ligamento periodontal, sendo neoplasias benigna odontogênicas, mais freqüente.
Normalmente apresentam-se junto ao colo dentário, como formação firme, densa e normalmente não ulcerada.
Radiograficamente: aumento de volume, que às vezes poderá ter pequenas calcificações, contudo sem destruição óssea.
Raça mais predisposta: Boxer.
Características Histológicas: acantomatoso.
Fibromatoso,
das
ossificante
e
ODONTOMA
São neoplasias que se assemelham embriologicamente aos dentes.
Podem ser completos e compostos.
Apresentação: forma de massas ou dentículos.
Ocorrem: animais jovens.
Há concomitância com dentes não erupcionados (inclusos).
Prognóstico: Bom
Tratamento: Excisão cirúrgica
CEMENTOMA: É
uma formação limitada, com uma porção do cemento na coroa ou a raiz de um dente normal.
Desenvolve-se
durante crescimento embriológico e crescimento contínuo.
o tem
AMELOBLASTOMA
Neoplasias invasivas originadas da lâmina dental, normalmente na região de incisivos inferiores. O local mais atingido é a gengiva.
Incidência: cães entre oito e treze anos.
Radiograficamente: Osteólise em região periodontal, com áreas multilobuladas e reabsorção junto a raiz.
Anteriormente acantomatoso
denominado
de
épulis
Formações orais não-neoplásicas: -
HIPERPLASIA GENGIVAL:
-
Denominada para descrever lesões proliferativas benignas da gengiva.
Raças acometidas: Boxer, Collie, animais adultos.
São lesões nodulares, às vezes generalizadas, que podem ter como etiologia a inflamação periodontal crônica.
Alguns patologistas consideram a hiperplasia gengival como sinônimo de épulis, pelas suas características idênticas.
COMPLEXO GRANULOMA OSINOFÍLICO
Em felinos: são por úlceras múltiplas ou únicas, inicia nos lábios superiores, rostralmente, ou úlceras isoladas, firmes, no palato ou faringe.
Em cães: Huskies e semelhantes,na língua.
O Husky Siberiano: adquire a moléstia entre 1-3 anos, com maior freqüência.
Diagnóstico: biópsia e exame histológico.
Tratamento: prednisolona (oral ou intra-lesional),
Tratamento local por irradiação, cirurgia ou criocirurgia.
Malamutes,
surgem
lesões
Sinais e sintomas
Os proprietários boca de seus freqüência.
deveriam examinar a mascotes com mais
Sinais Clínicos: - o próprio tumor (aumento de volume), - hemorragia local, - Dor, odor fétido, sialorréia intensa, - contorno facial alterado, anorexia, - fraturas patológicas da mandíbula maxila.
e
Características Clínicas
Quando ocorre envolvimento da maxila em tumores invasivos, há também comprometimento da cavidade nasal e o animal apresenta epistaxe e espirros.
É necessário proceder a minucioso da cavidade orofaríngea e linfonodos cervicais. Examinar linfonodos sempre.
Muitas lesões da cavidade oral são de origem inflamatória e não neoplásica.
As neoplasias além de causarem lesões locais poderão produzir “síndromes paraneoplásicas”, que são complicações sistêmicas da neoplasia.
Dependendo do tipo da neoplasia e do local primário, teremos determinada síndrome. A anemia e caquexia decorrem de quase todas as neoplasias, além da coagulação intravascular disseminada nos hemangiossarcomas.
Diagnóstico
Antes de qualquer intervenção terapêutica ou cirúrgica, deveremos fazer estudo pormenorizado do paciente para que seja detectada e determinada a natureza e extensão do processo neoplásico e fornecer o prognóstico preciso.
A anamnese deve ser minuciosa, abordando o surgimento, evolução, crescimento da formação bucal e tratamentos anteriores. Após realizar o exame clínico criterioso, avaliando tamanho, local, aderência, consistência, invasibilidade, úlceras e comprometimento de linfonodos cervicais, poderão ser solicitados exames radiográficos de crânio e tórax para avaliação de alterações ósseas e de metástases em pulmão.
Caso necessário, conforme a paraneoplásica, procede-se à laboratoriais.
presença da síndrome realização de exames
De
posse da análise de todos os dados acima, conseguiremos avaliar o estágio clínico da moléstia neoplásica, podendo fornecer o prognóstico e o tipo de terapia que será utilizada.
Tratamento
Existem vários métodos de terapia para o tratamento das neoplasias da cavidade oral, sendo o mais utilizado e com melhores resultados, o tratamento cirúrgico.
Ele tem grande valia, porque além da remoção da formação, pelos procedimentos cirúrgicos com bisturi, eletrocirurgia ou criocirurgia, teremos a obtenção do tecido para o diagnóstico histológico.
Tratamento
Todo o tumor sólido, com margens definidas e sem invasão óssea, poderá ser excisado com auxílio do bisturi e até mesmo através da eletrocirurgia, que promove a ressecção e hemostasia. Nos tumores malignos, a ressecção em bloco é fundamental.
Embora a invasão aos tecidos adjacentes possa não ser clinicamente detectável pelos exames convencionais, normalmente ela existe. Para que o prognóstico seja favorável, isto é, a probabilidade de recidiva seja menor, faz-se ressecção radical de parte do osso afetado.
Nos tumores malignos de diâmetro grande (maiores do que 2 cm) e invasivos, grandes porções da maxila ou mandíbula devem ser removidas, dando ampla margem de segurança.
Em casos de invasão do canal mandibular, toda a hemimandíbula deve ser removida, através de desarticulação da A.T.M. e secção a nível da sínfise.
Também nas neoplasias malignas de maxila, grandes segmentos ósseos devem ser excisados.
Em ambos os casos, três artérias devem ser individualizadas e ligadas: a infra-orbitária, a palatina maior e a alveolar inferior.
Em pacientes anêmicos ou com alterações cardiovasculares, exige-se transfusão sangüínea concomitante e em certos casos ligadura transitória da artéria carótida, pois existe grave hemorragia, mesmo com a ligadura dos referidos vasos, na maxila.
Criocirurgia A
criocirurgia é útil na remoção de lesões da cavidade oral, porque não requer anestesia geral e tem bons resultados em lesões pequenas.
Quimioterapia A
quimioterapia é pouco utilizada em neoplasias da cavidade bucal, exceto para casos de linfossarcoma, que possui boa resposta ao tratamento.
Lembrando-se dos efeitos colaterais dos quimioterápicos, devemos monitorizar o animal.
Radioterapia
A radioterapia é outra modalidade terapêutica, porém devido ao custo dos equipamentos e à natureza altamente especializada, sua utilização está confinada as instituições hospitalares humanas, de ensino e pesquisa.
É mais utilizada em fibrossarcoma oral e neoplasias odontogênicas (adamantinoma e odontoameloblastoma).
Hipertermia A
hipertermia é o método mais recente que tem ação local e sistêmica. Muitas vezes é utilizada com a radioterapia para obter melhores resultados.
Conclusão
Em neoplasias da cavidade bucal quando utilizamos mais de uma terapia estaremos não somente retirando a formação, como impedindo a recidiva e curando o paciente da formação neoplásica; porém a associação de terapias parece ser fundamental para a obtenção do sucesso.
Bibliografia Durall, I.: Criocirugía: tratamiento con oxido nitroso hiperseco en dermatología canina. Tesis para el doctorado en Veterinaria. Barcelona,1989. Evans, A. et al: A trial for 13-cis-retinoic acid for treatment of squamus cell carcinoma and preneoplasic lesions of the head in cats. Am Vet Res 46:2553, 1985. Greiner, T. R., Liska, W. D., Withrow, S. J.: Cryosurgery. Vet. Clin. North Am. 5:565-581, 1975. Mangieri, J.: Carcinoma escamocelular (C.E.C.) cutáneo en cabeza de felinos. Revista científica de A.N.C.L.I.V.E.P.A.RS. Nº7, pag. 6, Brasil 1996.