Objetivo: Esse artigo tem como objetivo apresentar os achados científicos de forma compactada, com foco nos aspectos mais relevantes no que concerne na visualização do paciente portador de transtorno alimentar como um todo, englobando conceitos da Nutrição, Medicina, Psiquiatria e Psicanálise. (Development and multi-site validation of a new condition-specific quality of life measure for eating disorders Carol E Adair*1, Gisele C Marcoux1, Brian S Cram1,2, Carol J Ewashen3) Numa sociedade incrivelmente obcecada pela aparência, as desordens alimentares, incluindo anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN) e outras não especificadas (incluindo o transtorno da compulsão alimentar) representam um serio problema de saúde no que se refere a crianças, jovens e adultos de ambos os sexos. A prevalência aumentada de hábitos dietéticos pouco saudáveis, que elevam o risco de desenvolvimento de transtornos alimentares, é também alarmante. “Ego – syntonicity” ocorre quando o comportamento doentio é inicialmente consoante com os objetivos e desejos do individuo (por exemplo: ele/ela pode se sentir no controle e orgulhoso por alcançar o desejo de perda de peso e também por terem recebido elogios por isso) Ele/ela ira negar ou será incapaz de compreender os efeitos negativos do comportamento. (Transtornos alimentares: fundamentos históricos Eating disorders: historical background Táki Athanássios Cordása e Angélica de Medeiros Claudino) Anorexia nervosa: Etimologicamente, o termo anorexia deriva do grego “an-”, deficiência ou ausência de, e “orexis”, apetite. Também significando aversão à comida, enjôo do estômago ou inapetência. Já a denominação mais específica “anorexia nervosa” surgiu com William Gull a partir de 1873, referindo-se à “forma peculiar de doença que afeta principalmente mulheres jovens e caracteriza-se por emagrecimento extremo[...]” cuja “falta de apetite é [...]decorrente de um estado mental mórbido e não a qualquer disfunção gástrica[...]”.Em seu livro “Holy Anorexia”, Bell3 (1985) relata o comportamento anoréxico realizado por 260 santas italianas (que teriam vivido entre 1200 e 1600) aparentemente em resposta à estrutura social patriarcal a qual estavam submetidas, e conhecido como “anorexia sagrada”. Embora não se possa afirmar que a atual concepção de anorexia nervosa esteja relacionada aos casos de “anorexia sagrada”, em virtude de documentação falha e incerteza quanto às reais motivações, sentimentos e crenças das santas, alguns paralelos são evidentes: ambas não toleram as conseqüências do “comer”, ambas representam “estados ideais” (beatitude na Itália medieval e magreza no ocidente atual) e evitação da sexualidade, do egoísmo e do alimento. Em ambos os quadros se descrevem excesso de atividades, perfeccionismo, constante vigilância, desinteresse por relacionamentos comuns, auto-suficiência e preferência por cuidar dos outros ao invés de serem cuidadas. A partir de 1914, ocorre uma mudança marcante na compreensão da anorexia nervosa, que passa a ser vista como uma doença puramente orgânica (somática) quando Simmonds descreveu um caso fatal de caquexia, no qual a autópsia revelou atrofia do lobo anterior da hipófise. A anorexia nervosa passou a ser confundida com a Doença de Simmonds (hipopituitarismo) com sérias implicações terapêuticas. O restabelecimento do conceito clássico de anorexia nervosa só ocorre após, aproximadamente, trinta anos quando Sheehan & Summers11 (1949) apontam que, apesar de existirem sintomas comuns entre os dois quadros, não havia evidências clínicas de redução da função hipofisária nem anormalidades histológicas significativas da glândula na anorexia nervosa.
Outra forma de se conceber a anorexia nervosa foi como variante de outras doenças psiquiátricas, principalmente da histeria, 13 da esquizofrenia,14 do transtorno obsessivo15 e da doença afetiva.16 Na década de 1970, começam a surgir critérios padronizados para o diagnóstico da anorexia nervosa com base nos distúrbios psicobiológicos e psicopatológicos, desenvolvidos para atender tanto as necessidades clínicas como as de pesquisa.18,19 De modo geral, os critérios ressaltaram: a perda considerável de peso, a preocupação mórbida com o risco de engordar, alterações na percepção corporal e disfunções endócrinas (ex. amenorréia), aspectos concebidos como diagnósticos de anorexia nervosa pelos atuais sistemas classificatórios. Bulimia nervosa: Desde a primeira descrição da Bulimia Nervosa (BN) por Gerald Russell (1979), o conhecimento deste quadro como entidade nosológica distinta tem avançado rapidamente, graças à proliferação de grupos de pesquisa em vários países. Este fato é, principalmente, reflexo da importância clínica e epidemiológica que a BN vem demonstrando, superando em número de publicações, o interesse pela sua “irmã mais velha”, a Anorexia Nervosa. O vômito auto-induzido é extremamente comum, sendo encontrado em até 95% dos pacientes, provavelmente pelo seu efeito de redução imediata da ansiedade. É interessante lembrar que o comportamento de forçar o vômito é muito antigo e pode ser encontrado precocemente na história de diferentes povos da Antiguidade. Os romanos criaram o vomitorium, que lhes permitia alimentar-se em excesso durante os banquetes, e posteriormente vomitar em local reservado para esta finalidade, às vezes usando uma pena de ave para estimular o reflexo do vômito na garganta. O termo bulimia tem uma história muito antiga; deriva do grego “bous” (boi) e “limos” (fome), designando assim um apetite tão grande que seria possível a um homem comer um boi, ou quase. Entre os séculos XV e XVIII, diferentes variantes do termo, como os derivados do latim “bulimus” e “bolismos” ou do francês “bolisme”, com o mesmo significado anterior, foram empregados na literatura médica na Inglaterra, França, Alemanha e Polônia. Inicialmente descrito entre pacientes com anorexia nervosa e posteriormente entre obesos (anos 50), em meados da década de 70, pesquisadores identificaram sintomas bulímicos entre mulheres jovens de peso normal. A perda de peso mínima ou ausente refere Russell, caracterizaria os piores medos das pacientes tornando- se realidade. Nomes diferentes já foram dados ao quadro, incluindo hiperorexia nervosa, bulimarexia, bulivomia, síndrome do caos alimentar, bulimia e, finalmente, Bulimia Nervosa, termo hoje, de aceitação geral. (Position of the American Dietetic Association: Nutrition intervention in the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa, and other eating disorders. J Am Diet Assoc. 2006 Dec;106(12):2073-82) A terapia nutricional que é provida pelo nutricionista depende das necessidades individuais e da situação do tratamento. Primeiro, o nutricionista avalia o estado nutricional do individuo, base de conhecimento, motivação, alimentação atual e status comportamental. O nutricionista desenvolve a parte nutricional do plano de tratamento em colaboração com a equipe e de acordo com os objetivos do paciente para recuperação. O nutricionista então implementa o plano de tratamento e dá suporte ao paciente para o cumprimento das metas estabelecidas no plano de tratamento. Se possível, o nutricionista estabelece uma relação de confiança com o paciente e tem contato continuo com ele durante o curso do tratamento. Se isso não é possível, o nutricionista encaminha o paciente a outro profissional, assim como quando o paciente esta passando de cliente interno para externo. O nutricionista monitora os eletrólitos, sinais vitais, peso, ingestão nutricional e comportamento alimentar. Os principais problemas do tratamento são a educação
nutricional, planejamento de refeições, estabelecimento de modelos regulares de ingestão e desencorajamento quanto à dieta. Tratamento nutricional efetivo deve fazer uso de técnicas de terapia comportamental.
(A abordagem familiar no tratamento da anorexia e bulimia nervosa ALICIA WEISZ COBELO1 MARIA OLÍMPIA SAIKALI2 ESTER ZATYRKO SCHOMER3) As famílias que convivem com o transtorno alimentar, como qualquer outra família que traz em seu bojo uma disfunção, encontram-se empobrecidas nas histórias que contam sobre si mesmas. Geralmente, estão aprisionadas nos problemas que a anorexia ou a bulimia promovem em suas pautas conversacionais, isto por anos, às vezes, e acabam por rotular-se através desses problemas. Tais rótulos trazem o grave perigo de descarregar a “culpa” no paciente identificado, e as conversações podem ficar limitadas a um só tema – o transtorno alimentar. O indivíduo é o grande problema de quem se fala, se esconde ou se controla e que faz sofrer o restante da família. Ao longo de todos estes anos (AMBULIM) que vimos compartilhando as narrativas destas famílias, temos podido perceber as profundas dificuldades, presentes em quase todos os seus membros, acerca da aceitação da própria imagem corporal, inseguranças quanto ao valor de si mesmo perante a comunidade em que estão inseridos e a indefinição de objetivos pessoais. Em suas falas, pode-se perceber, constantemente, a intolerância para com as diferenças individuais dentro da família nuclear como um todo. Essas pacientes usam o corpo para cenário de suas necessidades, desejos, proibições e condenações; as terapêutico caberia transformar isto em palavras e se libertar para relacionamentos mais adequados.