Minha biblioteca Pátria e lar do pensamento, porto do coração. Minha loja de sonhos, mercado de emoções onde faço pelas madrugadas a minha "feira" para reabastecer meu espírito de realidades e ficções e sobreviver. Aí estão as prateleiras sortidas, estoques inesgotáveis de fantasias a experiências para a minha fome de conhecimentos, minha sede de descobertas, minhas ânsias de beleza. É só estender a mão e colher o livro como um fruto maduro que lentamente degusto e, milagrosamente, permanece inteiro, íntegro, intacto entre folhas e flores e surpreendentemente se renova e multiplica em inusitados sabores. Minha biblioteca parque de papel e palavras onde me perco em andanças e onde me reencontro em tantos caminhos desconhecidos, bosque de tantos livros, como as árvores com quem Beethoven conversava em seu bosque de Bonn. Meus livros, companheiros pacientes e silenciosos com quem dialogo horas sem conta, que não discutem, não alteiam a voz em tantas discordâncias inevitáveis, e humildemente se fecham e se recolhem a um simples gesto meu de impaciência, cansaço ou de sono. Minha biblioteca, abrigo certo oásis de águas e sombras no imenso deserto, que me faz decolar de tantas realidades e planar como uma asa-delta sozinho, sobre paisagens insuspeitadas.
Minha biblioteca, pousada no caminho onde me sento, a pensar, e onde chego a esquecer que há um mundo rosnando ameaças ao redor, e adormeço como um menino feliz.. (Poema de JG de Araujo Jorge do livro "Tempo Será" – 1986 )