Meio Filtrante Reuso E Chuva

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Data da impressão: 12/5/2009 19:25:26

Sustentabilidade e economia com o reúso de água Sistemas de reúso de água passam a fazer parte das plantas de diversos empreendimentos imobiliários como uma solução ambiental e econômica por Tiago Dias

A probabilidade de escassez de água limpa, a elevação dos custos de energia não-renovável, a crescente demanda da sociedade por uma atitude responsável quanto ao impacto ambiental e a sustentabilidade fizeram surgir um novo cenário no ramo imobiliário. Os recentes lançamentos na área vêm agregando ao pacote de segurança e conforto, uma nova opção, antes vista como mero luxo, mas que agora já é questão importante a ser avaliada em edificações: sistema de reúso de água. Essa solução faz parte de um cenário aquecido desde 2007 com o boom do mercado imobiliário, que abrangeu também o segmento que presta serviços, o volume de operações de créditos, os lançamentos e, consequentemente, a procura por imóveis e condomínios – números que, segundo especialistas, ainda têm muito a crescer –, com ecoficiência. Quem afirma isso é o Supervisor Comercial da Acqua Máxima Tratamento e Filtração, Jefferson A. Bega: “A procura por sistemas de tratamento e reúso de água vem apresentando crescimento significativo, alavancado principalmente por administradores e organizações de condomínios empresariais e residenciais, onde o volume de água consumido é alto. Na maioria das vezes, os investimentos em sistemas de reúso são recuperados em curto prazo”, opina. Processo de reutilização O processo de reúso da água é, por definição, o uso do recurso hídrico por mais de uma vez no mesmo processo ou em procedimentos diferentes. Quando a água é separada por instalações hidráulicas específicas nas edificações, facilita-se o tratamento, pois há diferença entre as fontes. As águas servidas são as que já foram utilizadas nas atividades humanas e podem ser classificadas como águas cinzas.

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Segundo Jack Malcolm Sickermann, Diretor do consórcio Acquasave/3P Technik, empresa que trabalha com sistemas de captação e reaproveitamento da água de chuva, é através dessas águas que se faz possível o tratamento. “As águas cinzas são provenientes do chuveiro, da pia do banheiro, do tanque e da máquina de lavar roupa ou louça. Essas águas podem ser reusadas para limpeza, irrigação e descarga sanitária”.

Esse tipo de água costuma vir com sabão, sólidos suspensos, matérias orgânicas e até bactérias. Há também as águas negras, provenientes do vaso sanitário e da pia da cozinha, repletas de material orgânico e bactérias com potencial patogênico. “Em princípio, as águas cinzas seriam mais facilmente recuperadas em estações de tratamento. Além disso, existe apelo “cultural” de que essas águas não estariam contaminadas com coliformes termotolerantes (ou coliformes fecais), uma vez que não recebem fezes ou urina. Mas alguns autores de trabalhos científicos encontraram grandes quantidades desses organismos em águas cinzas, provavelmente provenientes das máquinas de lavar e do chuveiro”, explica José Orlando Paludetto Silva, Diretor Comercial da Astor, especializada em engenharia e serviços para saneamento. A água de chuva é aproveitada nas mesmas aplicações e ainda mais para alimentar sistemas de climatização, caldeiras e reserva contra incêndio. Inicialmente, há até diferença entre a água cinza depois de tratada e a água pluvial. A utilização algumas vezes é a mesma, o que difere é a definição da origem e a maneira de manuseio e tratamento. Vale lembrar que qualquer água reutilizada é estritamente voltada para fins não-potáveis. “Para isso, as estações de tratamento destinadas ao reúso devem, fundamentalmente, remover a carga orgânica, os sólidos em suspensão e os organismos patogênicos. Muito semelhante ao que o tratamento de esgotos convencional deve fazer, só que com grau de tratamento maior”, esclarece José Orlando. Contudo, há dois tipos de água de reúso, como explica Marcelo Zanini, da Biosistemas Ambiental, empresa que trabalha com sistemas de tratamento de água e efluentes líquidos: “Há o reúso direto e o reúso indireto, onde, após tratada, a água é enviada ao rio ou lago, onde ocorre autodepuração natural. Desse lugar, a água pode ser captada e reusada novamente”. Aplicações Os empreendimentos residenciais Valville I e II, no Município de Santana de Parnaíba, em São Paulo, trazem em seus projetos a mata nativa ao redor da construção e ETE para atender a todo o condomínio (cerca de 1.730 habitantes), comágua de reúso para regas de jardim e limpeza em geral, tanto para o condomínio, como para as próprias residências. A outra parte é descartada no rio. Após o tratamento, a água é enviada para o reservatório central, que possui célula exclusiva para reúso, como explica Elso Vitoratto, Engenheiro responsável pelo projeto: “A partir daí, essa água passa para rede própria, abastece as residências que possuem reservatórios específicos, e será distribuída para descarga em bacia sanitária, irrigação de áreas verdes, lavagem de pisos e para construção civil”, diz (ver fluxograma abaixo). No caso do Centro Empresarial e-business Park, localizado na zona oeste da cidade de São Paulo, a AcquaBrasilis, que trabalha com estações de tratamento, projetou e implantou o sistema de tratamento e uso de água pluvial. “Com a economia proporcionada pela captação de água de chuva através do telhado, em dois anos será possível pagar os custos do projeto. A meta é consumir a água de chuva tratada, de nove a dez meses por ano, conforme previsto pela AcquaBrasilis”, diz o Eng. Paulo Roberto Belluco, do Departamento de Propriedade do e-business Park.

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Segundo a Engenheira Sibylle Muller, titular da empresa responsável pelo projeto, na primeira etapa de uso de águas pluviais do e-business Park, aproveitou-se uma balança de caminhões, sem uso, transformando-a em cisterna para coleta de águas pluviais, com capacidade de 42 m3. “Ao lado da cisterna, também enterrado, está o recinto onde há equipamentos do sistema de tratamento da água da chuva”, diz. A vazão gerada pelo sistema de tratamento da água da chuva, neste caso, é de 4,0 m3/h e será utilizada para abastecimento do carro pipa do próprio empreendimento, para posterior rega dos jardins. A captação das águas pluviais é feita a partir da área de telhado de aproximadamente 1,5 mil m2, gerando volume disponível de água tratada de aproximadamente 1,6 mil m3/ano. A economia potencial da estação pode chegar a até R$ 28,8 mil por ano, considerando o custo atual do m3 de água da Sabesp. “Devemos iniciar, em breve, a instalação da segunda etapa do projeto de aproveitamento das águas de telhados. A água coletada em parte das grandes coberturas das empresas instaladas no e-business Park, será tratada pela AcquaBrasilis e direcionada para descarga dos vasos sanitários, garantindo redução de consumo e ganhos na sustentabilidade ambiental do empreendimento”, destaca Sibylle. O centro empresarial também capta água de remediação, com origem no subsolo, que passa por processo de reciclagem. “Devido à qualidade do sistema de tratamento que damos a essa água, a Cetesb liberou seu uso para regade jardim”, diz Paulo Roberto. A busca por economia, aliada aos cuidados ambientais, faz com que o centro ainda planeje implantar mais cinco sistemas separados de captação de água de chuva dos telhados, como forma de obter recursos hídricos em vários pontos do condomínio. Processos Os usuários da água de reúso em meios urbanos são, geralmente, leigos nos assuntos técnicos. Por conta disso, os sistemas de tratamento estão cada vez mais automatizados. Segundo José Orlando, na Austrália as estações de tratamento com tecnologia MBR (Membrane Bio Reactors, ou Bio-reatores de Membranas) para residências são instaladas em 4 horas, e a manutenção deve ser feita a cada três meses. Lá, o sistema tem status de eletrodoméstico. “No Brasil ainda estamos começando, mas o que parecia futurologia, já é realidade. Afinal, compramos filtros de água no supermercado com tecnologias avançadas da engenharia sanitária, como a microfiltração, carvão ativado granular, ozonização, ultravioleta etc.”, compara.

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Enquanto essa cultura não se solidifica em terras brasileiras, já existem diversas tecnologias, cada qual com uma forma de tratamento diferente. Em tese, pelo menos, todas elas recebem o esgoto, retiram carga orgânica, cor e turbidez, desinfetam e distribuem a água. Entre os processos mais conhecidos e utilizados estão: Água pluvial: “Para o aproveitamento de águas pluviais, recomenda-se a remoção de sólidos grosseiros, filtração e desinfecção. No caso de águas cinzas, recomenda-se o tratamento biológico para redução da carga orgânica, filtração e desinfecção. Há também, empresas que oferecem tratamento físico-químico para reúso de águas cinzas”, diz Sibylle. Jefferson, da Acqua Máxima, detalha o que há dentro do sistema para este processo: “Armazenamento de água, filtração por filtro bolsa e cartucho, desinfecção e proteção por gerador de ozônio ou bomba dosadora de cloro”, enumera. MBR: Variação do sistema de lodos ativados, a MBR, utiliza todas as vantagens dos sistemas biológicos para a remoção de matérias orgânicas e nutrientes, associadas aos sistemas de separação por membranas – geralmente de ultrafiltração – , para a separação total de sólidos e retenção de patógenos. “Os sistemas MBR, largamente difundidos na Europa e EUA, apresentam ainda vantagens de menor área para a instalação e possibilidade de automatização total”, diz José Orlando. Sistemas biológicos e físico-químicos: O princípio de tratamento é a adição de produtos químicos em reatores específicos, para que estes oxidem a matéria orgânica dos efluentes. Citando como exemplo o sistema instalado nos Edifícios Valville, o sistema de tratamento escolhido foi o processo biológico e físico-químico, constituído das seguintes unidades: - Pré-tratamento: Sistema de pré-tratamento de esgoto bruto. “O esgoto bruto proveniente da rede coletora será recebido no pré-tratamento contendo gradeamento, caixa de retenção de areia, medidor de vazão – parshall e caixa de gordura. Após o pré-tratamento, o esgoto é enviado por gravidade para o tratamento biológico”, explica Elso Vitoratto, engenheiro responsável pelo projeto. - Tratamento secundário: O processo segue com o tanque de reator anaeróbio, tanque anóxico, o módulo com dois filtros biológicos aeróbios e decantador secundário (em concreto), com sistema de tratamento químico para remoção de fósforo. - Terceira etapa do tratamento: Filtro de areia e sistema de desinfecção, com cloro e adição de corante na fração de água de reúso encaminhada para o reservatório; ou então com carvão ativado, filtro bag e cartucho, gerador de ozônio ou cloração para realizar a desinfecção. “Até essa etapa, a água encontra-se pronta para o reúso em sistemas de aplicações menos nobres. Para uso em áreas específicas ou níveis de exigências de pureza, utiliza-se ultrafiltração, abrandadores automáticos, desmineralização por resinas de troca iônica e osmose reversa”, detalha Douglas Silveira Moraes, Gerente de Produto da Tech Filter Tratamento e Filtração, que trabalha com sistemas compactos do tipo horizontal, onde há decantador primário, reator aeróbio com aeradores submersos e decantador secundário para clarificação. “Trata-se do sistema tradicional de lodos ativados, que atinge alta eficiência em remoção de carga orgânica e ocupa espaço pequeno,

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podendo ser instalado facilmente. Ainda usamos tratamento preliminar com gradeamento para remoção de sólidos grosseiros, e caixa de separação de areia, óleos e graxas. Para obter as condições de reúso, usamos sistemas de filtração para polimento dos sólidos e desinfecção por ozônio, ultravioleta ou mesmo cloro”, explica. Sistemas de tratamento de água para poços Presente ainda em diversos hotéis, hospitais, restaurantes, condomínios e residências, o poço artesiano apresenta contaminantes na água, como sólidos em suspensão, bactérias, dureza (cálcio e magnésio), ferro e manganês. O mais indicado é realizar a filtração e o tratamento antes do reservatório. “A configuração do sistema de tratamento oscila de acordo com a característica da água do poço. Para qualquer dimensionamento do sistema de tratamento, é imprescindível uma completa análise físico-química e bacteriológica da água na saída do poço, para identificar os contaminantes”, esclarece Jefferson A. Bega, Supervisor Comercial da Acqua Máxima Tratamento e Filtração. Os principais problemas encontrados com o uso da água de poço são: - Entupimentos e corrosão de tubulação; - Incrustação em sistemas de aquecimento de água (caldeiras, aquecedores, lavadoras, duchas ou chuveiros); - Manchas em roupas, pisos, revestimentos e sanitários. Economia Fora eventuais vazamentos, o maior desperdício de água é no banheiro, com as durações dos banhos e as descargas de vasos sanitários. Supondo que uma residência tenha quatro pessoas, a descarga sanitária é acionada em média 16 vezes ao dia. Se a bacia de 30 litros fosse substituída por outra de 6 litros, no fim do mês haveria economia de 11.560 litros, equivalente a redução de 80% no consumo. Conforme pesquisa divulgada recentemente pela H2C - Consultoria e Planejamento de Uso Racional da Água, o brasileiro gasta cerca de cinco vezes mais do que o volume indicado como suficiente pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 40 litros diários por pessoa. Em média, cada pessoa consome 200 litros/dia. O impacto desses números nos reservatórios, represas, rios e lagos é enorme. Quanto à economia, José Orlando, da Astor, diz que depende do padrão de consumo da residência. “Existem vários estudos que indicam economias de 30% em apartamentos de classe baixa ou média, onde o grande consumo de água potável é nos vasos sanitários e chuveiros; e 70% em condomínios de alto padrão com campos de golfe, por exemplo, onde há grande utilização de água para irrigação”, exemplifica. “Geralmente, em São Paulo, para sistemas de reúso de água cinza, consegue-se o retorno do investimento em períodos menores do que em 12 meses. Para sistemas de aproveitamento de águas pluviais, o período de retorno é variável, em função da sazonalidade das chuvas, que varia de local para local, da área de cobertura de captação, do tamanho do reservatório e do consumo de água não potável previsto”, explica Sibylle, da AcquaBrasilis. Dependendo do processo e do local onde será aplicado, os resultados podem ser maiores, segundo Marcelo Zanini, da Biosistemas Ambiental: “Pode-se chegar ao fechamento completo de circuito, ou seja, economia de 100%, mas somente em casos muito especiais”. Leis Os brasileiros vêm prestando atenção a esse tipo de serviço, mas a inclusão ainda é mínima. O problema está na ausência de normas e leis. Pensando nisso, a Fiesp, em parceria com a Sinduscon - Sindicato da Indústria da Construção Civil e a ANA – Agência Nacional dasÁguas, lançou o “Conservação e Reúso da Água em Edificações”, manual para quem quer saber mais e implantar sistemas no ramo, disponível gratuitamente para download em www.fiesp.com.br e no Portal da Revista Meio Filtrante: www.meiofiltrante.com.br. Jack comenta que pelo menos a questão da água pluvial já é discutida em lei. Isso, mesmo que não seja algo específico para o uso em residências e edifícios, não deixa de ser um bom começo. “A água de chuva deve, por lei, ser retida em SP, RJ e outros municípios (Lei das Piscininhas), e quem tiver que cumpri-la terá que fazer uma cisterna de qualquer maneira, o que ajudará a recuperar o custo extra”, explica. Douglas comenta que, aliado com os órgãos fiscalizadores ambientais, o aumento da poluição nos rios e corpos d’água trará a tendência de reutilização cada vez mais em voga. “Para residências que estão perto de redes coletoras de esgoto, a exigência praticamente não existe, pois a responsabilidade do tratamento é da concessionária, mas mesmo assim tem aumentado o interesse para o reaproveitamento. Aos que não contam com a rede de coleta, o tratamento é obrigatório e, neste caso, o reúso interessa mais, por proporcionar economia a longo prazo”, opina.

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